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O TEATRO LIBERTÁRIO DE SYLVIA ORTHOF - UEM

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uxas não existem, mas metem medo, e, ainda por cima, Jubilosa está ali, presente,<br />

para fazer esta afirmação e é uma bruxa que não mete medo.<br />

Mas Jubilosa não é só alegria, tem seus problemas também. Com as dificuldades<br />

da personagem Sylvia faz uma crítica social. A bruxa conta que vem sofrendo<br />

discriminação racial. Que há um movimento querendo impedir que as bruxas apareçam<br />

em peças infantis e que isso a levou ao desemprego. Reclama também dos críticos, diz<br />

que tem recebido acusações inclusive uma tão séria, tão feia que ela não tem nem<br />

coragem de dizer. Diante disso a Locomotiva fica curiosa, tampa os ouvidos do filho e<br />

pede que a outra revele o teor da acusação:<br />

JUBILOSA – Eles disseram, os professores, em congresso:<br />

eram dois mil trezentos e vinte e sete professores de literatura<br />

infantil, eles disseram que eu sou... Posso dizer mesmo?<br />

LOCOMOTIVA – Fala depressa, senão eu me arrependo. Eu<br />

sou uma locomotiva muito vivida, pode falar. Nada mais me<br />

choca, mas fala depressa, senão eu posso perder a coragem de<br />

ouvir... É palavrão, é?<br />

JUBILOSA – Depende do ponto de vista. Eu acho que é.<br />

LOCOMOTIVA – Pííííííí! Já estou nervosa, fala depressa!<br />

JUBILOSA – Um, dois, três: os professores me chamaram<br />

de... “anti-pedagógica”!<br />

LOCOMOTIVA – Francamente, Dona Bruxa Jubilosa, a<br />

senhora deveria respeitar a minha condição. Eu sou uma<br />

senhora de família, ouviu? Oh! Pííííííííí!<br />

Quanto mais indignada fica a locomotiva mais irônica é a cena. Sylvia, mais<br />

uma vez, se utiliza do humor para questionar a instituição estabelecida. As duas<br />

personagens continuam sua disputa, se agridem mutuamente, cansam, cada uma cede<br />

um pouco e acabam fazendo as pazes. A locomotiva segue seu caminho pelos trilhos,<br />

mas Jubilosa sempre volta para provocar, ora disfarçada de burro, ora de jabuticabeira.<br />

O tempo passa e a peça termina com Zé Vagão crescido, pai de família,<br />

reclamando de seus pequenos filhos vagões. E a mãe Locomotiva, bem, a mãe virou<br />

avó. E como toda avó só quer saber de mimar os seus netinhos. Jubilosa volta como<br />

uma linda borboleta:<br />

JUBILOSA – Eu sou o que voa e avoa!<br />

A história é uma só:<br />

toda mãe que é briguenta<br />

vira uma boa vovó.<br />

Todo trilho quando cresce<br />

envelhece<br />

e veste um paletó.<br />

Nesta história sempre igual,<br />

sou a falta de moral.<br />

Sou um pássaro<br />

borboleta,<br />

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