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O TEATRO LIBERTÁRIO DE SYLVIA ORTHOF - UEM

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estação de trens, a Estação Leopoldina. Outra característica humorística da locomotiva é<br />

que todas as vezes que ela fica nervosa ela apita. Além disso, ela é uma mãe ridícula,<br />

que se diz preocupada porque o filho não faz tudo exatamente como ela quer. Por outro<br />

lado, o filho faz a delícia das crianças ao dar sua réplica:<br />

Mãe... minha roda ta doendo,<br />

a rosca está apertada,<br />

minha junta está cansada,<br />

eu não gosto da estrada...<br />

Puf... puf... pof... pof! (p. 8)<br />

Ele mostra que é preguiçoso e dengoso, encontra desculpas para não andar nos<br />

trilhos, como as crianças dão desculpas para não cumprir suas obrigações mais chatas.<br />

O conflito mãe/filho fica já estabelecido e a simpatia do público recai sobre o<br />

filho vagão, que é criança, o mais fraco e o mais simpático. Eles continuam em disputa<br />

quando a personagem Estação interfere aconselhando um tratamento psicológico com<br />

um especialista analista de sistema ferroviário:<br />

Ih, é um tratamento maravilhoso! Todo feito em sistema<br />

moderno: ele deita o vagão num divã e começa a analisar... é<br />

ótimo! Tem dado muito bom resultado até com pessoas –<br />

“gente”! E a senhora sabe que se vagão já da trabalho...<br />

imagina “gente”.. Porque gente não tem rosca pra apertar... É<br />

tudo sem variedade técnica.. Quem sabe a senhora leva o<br />

vagão ao analista? (p. 9)<br />

Nesta fala Sylvia brinca com as complicações psicológicas dos seres humanos e<br />

até com a psicanálise. E as discussões, sempre divertidas, prosseguem com a mãe dando<br />

ordens e fazendo exigências e o filho a reclamar, enquanto a Estação tenta conciliar as<br />

partes. Até que a locomotiva resolve, por sua própria conta dar vitaminas para o menino<br />

vagão tomar. E o texto segue em sua irreverência:<br />

LOCOMOTIVA – Meu filhinho, espinafre tem muito ferro.<br />

Foi o veterinário de engrenagens metálicas do hospital<br />

siderúrgico que receitou!<br />

ZÉ VAGÃO – Não fala difícil, que eu sou criança!<br />

LOCOMOTIVA – Mas meu filho, minha vida, esperança<br />

minha, as palavras difíceis fazem parte dos remédios... A<br />

gente ouve, lê, já vai acreditando. Veja, eu sou uma mamãe<br />

locomotiva muito prevenida! Viajo sempre levando<br />

remedinhos para qualquer necessidade. Veja! (abre uma<br />

bolsa que leva consigo e tira algumas bulas de remédios)<br />

ZÉ VAGÃO – Mas isso não é remédio... é só papelzinho que<br />

vem dentro das caixas dos remédios...<br />

LOCOMOTIVA – (eufórica) – Pois é, são as partes mais<br />

sensacionais dos remédios! As únicas nas quais eu acredito!<br />

Eu não acredito em remédios, mas acredito em bulas! (p. 15)<br />

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