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Cad Pesq 9_FINAL.pmd - USCS

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guerra e a década de 1970. Em parte, isto se explica<br />

pelo fato de elas terem concentrado as indústrias que formaram<br />

o núcleo dinâmico da segunda revolução industrial,<br />

sendo, portanto, área de investimentos das grandes<br />

empresas capitalistas, multinacionais e nacionais. Em<br />

muitas destas cidades, estruturou-se o tripé formado pelas<br />

indústrias de bens de consumo duráveis (automobilística<br />

e eletroeletrônica), bens de capital (especialmente a indústria<br />

de máquinas e equipamentos) e alguns segmentos<br />

estratégicos dos bens intermediários (química, petroquímica,<br />

aço, carvão).<br />

No interior das fábricas instaladas nas cidades<br />

industriais, reproduziu-se em larga escala o modelo da<br />

produção em massa. Como se sabe, as principais características<br />

desse modelo são: padronização de produtos,<br />

intercambialidade de peças e componentes, linha de<br />

montagem, forte controle de tempos e movimentos, rígida<br />

divisão do trabalho, hierarquia e elevados estoques. A<br />

combinação destes elementos resultou em acentuado<br />

crescimento da produção e da produtividade.<br />

ábricas de grande porte dominaram o ambiente<br />

urbano das cidades industriais. Produção em grandes<br />

montantes exigia grandes e pesadas plantas fabris, pois<br />

várias fases da produção seriam ali desenvolvidas. A<br />

magnitude das fábricas explicava-se também pela alta<br />

verticalização3 da produção, uma vez que elas produziam<br />

grande parte dos componentes dos produtos finais<br />

que seriam ofertados no mercado. Não raro fases da<br />

produção dos insumos eram ali também realizadas. De<br />

resto, era necessário manter estoques elevados de<br />

insumos e produtos finais, pois isto garantiria que<br />

eventuais oscilações de quantidade demandadas pelo<br />

mercado seriam rapidamente atendidas.<br />

Os altos níveis de produção requeriam, por sua<br />

vez, a contratação de grandes contingentes de força-detrabalho.<br />

Por isso, as cidades industriais atraíram levas de<br />

imigrantes de diferentes locais e mesmo países, o que<br />

acabou por dar a elas um caráter multirracial e heterogêneo.<br />

Constituiu-se a partir daí uma cultura industrial, moldada<br />

em costumes, tradições e “know how” característicos de<br />

cidades operárias. Nas cidades industriais, a socialização<br />

assentou-se na crença de que a mobilidade e o sucesso de<br />

indivíduos e grupos aconteceriam por meio do trabalho.<br />

3 Verticalização ocorre quando uma empresa controla<br />

diversas fases da cadeia produtiva, desde a extração da<br />

matéria-prima até o produto final.<br />

30<br />

CADERNO DE PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO/IMES<br />

3 ALGUMAS CONTRADIÇÕES DA<br />

CIDADE INDUSTRIAL<br />

Rolnik (1998) afirma que “a indústria é ao<br />

mesmo tempo inferno e espetáculo”. É espetáculo, entre<br />

outros, porque, como vimos, possibilitou, por meio da<br />

imigração de pessoas das mais variadas origens, o surgimento<br />

de uma população heterogênea e o intercâmbio<br />

de diferentes culturas. Mas também, inferno, porque<br />

trouxe em seu bojo a semente da violência, da segregação<br />

e do conflito.<br />

Uma segunda contradição importante repousou<br />

no excessivo grau de dependência da cidade e de suas outras<br />

atividades (comércio, serviços, agropecuária) em relação<br />

à performance da grande indústria. Não seria equivocado<br />

afirmar que, quando a grande empresa industrial<br />

ia bem, a comunidade também progredia; se a grande<br />

empresa ia mal, a comunidade igualmente decaía. Em<br />

muitas das cidades industriais, isto acabou prejudicando<br />

processos de desenvolvimento em diversas áreas importantes,<br />

como o turismo e os serviços especializados.<br />

De modo análogo, foi precária a integração entre<br />

a grande empresa e os canais clássicos de inovações da<br />

comunidade, como as universidades, os centros de<br />

pesquisa e as associações profissionais. Em geral, as<br />

atividades de pesquisa e desenvolvimento da grande<br />

empresa multinacional ocorreram de modo hermético<br />

para a comunidade, isto é, aconteceram por dentro das<br />

próprias estruturas internas da empresa. Como conseqüência,<br />

foi baixo o grau de difusão das inovações sobre<br />

o restante da estrutura econômica da cidade. Isto, como<br />

se verá adiante, terá repercussões importantes quando<br />

da fase de crise e do debate das alternativas de retomada<br />

do desenvolvimento.<br />

As cidades industriais também foram palco de<br />

grandes conflitos sociais, que, nos países europeus e nos<br />

EUA, resultaram na estruturação de uma espécie de pacto<br />

social calcado em círculo virtuoso de prosperidade (mais<br />

produção, mais empregos, melhores salários, mais<br />

consumo, mais produção...) e em um conjunto de programas<br />

sociais de ajuda aos desempregados (seguro<br />

desemprego, previdência social etc.), que constituem o<br />

“Welfare State”. Vale dizer, os anos dourados foram<br />

também anos de melhoria da qualidade de vida das<br />

camadas mais pobres, ainda que em proporções não<br />

necessariamente iguais aos das camadas mais altas.<br />

N. 9 – 2. semestre de 2003

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