Cad Pesq 9_FINAL.pmd - USCS
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por exemplo, a região do Grande ABC, isso eu chamaria<br />
de processo de conscientização acerca da regionalidade.<br />
C.P.: Qual é a importância da regionalidade em<br />
um mundo globalizado como o de hoje?<br />
J.K.: Eu diria que a partir da década de 1970,<br />
muitas que eu chamaria de cidades-região e conurbações<br />
quase nunca conseguiram abrangência da regionalidade.<br />
Muitas dessas regiões, a partir daquela década,<br />
conscientizaram-se da importância de atuar em conjunto.<br />
Então, as regiões italianas, espanholas e francesas<br />
começaram a trabalhar e a desencadear um processo de<br />
articulação público-privado, a tentar trabalhar temas<br />
transversais como desenvolvimento econômico, meio<br />
ambiente, revitalização sócio-econômica e a própria<br />
qualidade de vida. Então, esse processo, tanto em cidades<br />
européias como também de alguma forma nas cidades<br />
norte-americanas, o processo de regionalidade surgiu com<br />
bastante ênfase, mundialmente. Eu diria que essa<br />
tendência do novo regionalismo tem suas particularidades<br />
em cada região. Europa não é Brasil, assim como<br />
o Brasil não é Europa. Exemplos europeus não são<br />
semelhantes aos norte-americanos, mas há essa tendência,<br />
uma conscientização de atores públicos e privados<br />
que fazem parte de uma mesma região que enfrenta<br />
problemas de potenciali-dades na globalização no cenário<br />
internacional.<br />
C.P.: O que falta para as pessoas criarem um<br />
sentimento de regionalidade da região do ABC?<br />
J.K.: A região do Grande ABC avançou<br />
substancialmente neste aspecto a partir da década de<br />
1990, com a criação do Consórcio Intermunicipal. Em<br />
seguida, foram criados o órum de Cidadania do Grande<br />
ABC e a Câmara Regional do ABC. Mais recentemente,<br />
também foi fundada a Agência de Desenvolvimento.<br />
Eu diria que a grande conquista desse processo de<br />
regionalidade no ABC foi colocar na rua um sistema<br />
de gestão participativo envolvendo todos esses atores,<br />
sindicalistas, empresas, governos locais e governos<br />
sociais. No entanto há uma certa fragilidade. Em<br />
primeiro lugar, precisa-se do apoio das esferas supralocais,<br />
de o governo estadual apoiar isto, ou seja, amarrar<br />
de forma mais concreta os projetos da região do Grande<br />
ABC e avançar de alguma forma na institucionalização<br />
de um sistema de governantes metropolitano. Também<br />
8<br />
CADERNO DE PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO/IMES<br />
o governo federal é importante nessa retomada do<br />
debate sobre a governança metropolitana. Isso, hoje,<br />
ainda representa uma fragilidade e tomara que isso<br />
melhore, mas é um envolvimento em termos de<br />
arcabouço institucional, financiamento tanto das demais<br />
esferas do governo na estruturação do tema de<br />
governança metropolitana. Outro problema eu diria é<br />
que este processo de regionalidade precisa de uma certa<br />
profissionalização em termos de estruturas profissionais<br />
mais fortes. Tanto agências como Consórcio<br />
ainda dependem muito de um grau de voluntarismo de<br />
contrapartida muito grande dos governos. Isso faz com<br />
que esses organismos estejam extremamente acessíveis<br />
para o ciclo político. <strong>Cad</strong>a vez que você tem uma<br />
eleição, esse processo de articulação regional enfrenta<br />
uma certa fragilização. Na medida em que você consegue<br />
profissionalizar isso, garantir uma estrutura operacional<br />
mais forte, claro que não vai fugir do ciclo político,<br />
sempre vai ter isso, mas o foco técnico vai sobreviver a<br />
esses ciclos políticos. Então, isso é outra fragilidade<br />
que a regionalidade tem.<br />
C.P.: Qual é o objetivo do Laboratório Regional<br />
do IMES?<br />
J.K.: Em primeiro lugar, fazer com que a<br />
Universidade se aproxime mais desse processo real com<br />
avanços, retrocessos, mas é um processo sócio-econômico<br />
extremamente rico da regionalidade. A Universidade<br />
precisa interagir com esse processo que vem<br />
ocorrendo na sociedade. Esse é o primeiro objetivo do<br />
próprio Laboratório, fazer com que a Universidade<br />
quebre um pouco o seu isolamento, criar laços mais<br />
orgânicos com articulação nacional. Já o segundo ponto<br />
é que o Laboratório pretende fazer um elo com a<br />
graduação, com algumas coisas que estamos discutindo<br />
no programa de mestrado, vinculando isso com<br />
preocupações num curso de graduação. O Laboratório<br />
tem esse papel de fazer com que a Universidade interaja<br />
mais intensamente com a sociedade e criar um elo entre<br />
o curso de graduação com o mestrado. É também um<br />
espaço de aglutinação das várias agências. Nós já<br />
organizamos um debate sobre crédito, estamos<br />
organizando um que vai falar sobre a questão logística<br />
no ABC. Enfim, é um espaço para o debate, reflexão,<br />
que interage com a sociedade regional, e envolve os<br />
alunos de mestrado com os de graduação, além de<br />
N. 9 – 2. semestre de 2003