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INTRODUÇÃO Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos ... - USCS

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evista Vol. 8 - N o 14 - 1 o Semestre 2006 Caderno de Gestão e Regionalidade<br />

<strong>INTRODUÇÃO</strong><br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. <strong>Roberto</strong> <strong>Elísio</strong> <strong>dos</strong> <strong>Santos</strong><br />

ENTREvISTa<br />

<strong>Prof</strong>a. Sonia Maria Franco Xavier<br />

O PROCESSO DA LIDERANÇA E O PROCESSO DE MUDANÇA –<br />

UM ESTUDO Na FORD DO BRaSIL<br />

valter Mazini e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Eduardo de Camargo Oliva<br />

OS BENEFÍCIOS DO SISTEMa COOPERaTIvO PaRa OS PEQUENOS EMPREENDEDORES<br />

Elcio Piazzi Carvalho vanderlei e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. antonio Carlos Gil<br />

INvESTIGaÇÃO SOBRE aS vaNTaGENS E DESvaNTaGENS DO vaLOR<br />

LIBERDaDE aPLICaDO EM SaLa DE aULa<br />

Silvestre Braguini FIlho, Marcel Cortez alvez, Rosana aparecida Pivatto e<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. René Henrique Götz Licht<br />

REFLETINDO SOBRE aS POSSIBILIDaDES DE NEGóCIO a PaRTIR Da<br />

COMUNIDaDE PORTUáRIa SaNTISTa<br />

Rodrigo Nunes de Oliveira e <strong>Prof</strong>a. Maria Cidália Ferreira<br />

SEMINáRIO aBERTO<br />

Produção cultural do aBC e identidade regional<br />

PaLESTRa<br />

<strong>Prof</strong>. Moises ari Zilber<br />

RESENHa:<br />

LICHT, René Henrique G. ÉTICa ORGaNIZaCIONaL: BUSCa DE UM MODELO<br />

COMPREENSIvO PaRa COMPORTaMENTOS MORaIS MODaL NaS EMPRESaS.<br />

São Caetano do Sul: IMES [dissertação de doutorado], 1996<br />

Paulette alberis a. Mello<br />

Gestão & Regionalidade - Vol. 8 - N o 14 - 1 o Semestre 2006 - ISSN 1809-1644


<strong>INTRODUÇÃO</strong><br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. <strong>Roberto</strong> <strong>Elísio</strong> <strong>dos</strong> <strong>Santos</strong><br />

eNTRevIsTa<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia Maria Haas<br />

eNsINO FUNDaMeNTaL: DO FUNDeF aO FUNDeb<br />

<strong>Prof</strong>. Expedito Nunes e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Antonio Carlos Gil<br />

as OPeRÁRIas DO abC: ReesTRUTURaÇÃO PRODUTIva, ReLaÇÕes De<br />

GÊNeRO e PaRTICIPaÇÃO sINDICaL<br />

Ivete Garcia e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Luis Paulo Bresciani<br />

as MULHeRes Da seGURaNÇa URbaNa: a GUaRDa CIvIL MUNICIPaL<br />

FeMININa De saNTO aNDRÉ<br />

Heleni B. F. de Paiva Lino; <strong>Prof</strong>a. <strong>Dr</strong>a. Carla Cristina Garcia e<br />

<strong>Prof</strong>a. <strong>Dr</strong>a. Priscila Ferreira Perazzo<br />

IMPORTÂNCIa CResCeNTe Das aLIaNÇas esTRaTÉGICas NO aMbIeNTe<br />

COMPETITIVO ATUAL – CASO: JOINT VENTURE LG.PHILIPS DISPLAYS<br />

Cynthia Hisako Sakaguchi Ito e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Sérgio Crispim<br />

seMINÁRIO abeRTO<br />

Municipalização do Ensino Fundamental: Desafios e Perspectivas<br />

resenha:<br />

DI AGUSTINI, Anapatrícia Morales Vilha. O UsO Da INTeRNeT COMO<br />

INSTRUMENTO DO COMPOSTO DE MARKETING – UM ESTUDO EXPLORATÓRIO<br />

NAS INDÚSTRIAS PRODUTORAS DE AUTOMÓVEIS DA REGIÃO DO ABC<br />

São Caetano do Sul: IMES [dissertação de mestrado em Administração], 2001<br />

Esmeralda Vicente<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

4<br />

5<br />

7<br />

16<br />

24<br />

2<br />

49<br />

67


Ao ultrapassar o sexto ano de publicação ininterrupta, este caderno de pesquisa<br />

se renova, tanto no que concerne ao nome – que passa a ser Caderno de Gestão & regionalidade<br />

PMa-IMes, em consonância com a linha que norteia o Programa de Mestrado em<br />

Administração da Universidade IMES – quanto ao formato, que deixa de ser revista e tornase<br />

caderno.<br />

No entanto, a missão deste caderno segue inalterada: é o espaço para os textos acadêmicos<br />

produzi<strong>dos</strong> por alunos e professores do Programa de Mestrado em Administração<br />

da Universidade IMES. As pesquisas realizadas e as reflexões teóricas (sejam voltadas para as<br />

questões da inovação, da gestão ou <strong>dos</strong> fenômenos da regionalidade), assim como as transcrições<br />

de seminários e debates – feitas com auxílio de alunos de graduação que participam<br />

<strong>dos</strong> projetos de pesquisa de Iniciação Científica – ocorri<strong>dos</strong> na instituição são registradas e<br />

divulgadas nas páginas desta publicação.<br />

Esta edição destaca o processo de municipalização do ensino fundamental, tema do<br />

Seminário Aberto realizado em 17 de maio deste ano, no Campus II da Universidade IMES, o<br />

artigo escrito pelos professores Antonio Carlos Gil e Expedito Nunes e a entrevista concedida<br />

pela professora Célia Maria Haas, que também fala sobre os novos cursos da Universidade<br />

IMES na área de Educação.<br />

Duas pesquisas que têm como objeto de estudo mulheres que exercem atividades<br />

profissionais resultaram em artigos publica<strong>dos</strong> neste número. A primeira, elaborada pela<br />

mestranda Ivete Garcia e pelo professor Luis Paulo Bresciani, aborda as operárias da Região<br />

do Grande ABC, no contexto da reestruturação produtiva. Já a Guarda Civil Municipal Feminina<br />

de Santo André foi o foco do trabalho desenvolvido pela aluna do PMA, Heleni de<br />

Paiva Lino e pelas professoras Priscila Ferreira Perazzo e Carla Cristina Garcia.<br />

Completam a edição, o artigo sobre a importância das alianças estratégicas – desenvolvido<br />

pela aluna Cynthia Hisako Sakaguchi Ito e pelo professor Sérgio Crispim –, que<br />

trata da joint venture Phillips LG.Displays, e a resenha escrita pela mestranda Esmeralda<br />

Vicente sobre a dissertação de mestrado de Anapatrícia Di Agustini a respeito do uso da internet<br />

como instrumento do composto de Marketing, apresentada ao PMA da Universidade<br />

IMES, em 2001.<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. rOBerTO eLÍsIO DOs sanTOs<br />

<strong>Prof</strong>essor do Programa de Mestrado em Administração,<br />

editor do Caderno de Gestão & regionalidade PMa-IMes e<br />

coordenador operacional das publicações acadêmicas da Universidade IMES<br />

4 <strong>INTRODUÇÃO</strong>


PersPeCTIVas Para a eDUCaÇÃO<br />

a coordenadora <strong>dos</strong> cursos de educação da<br />

Universidade IMes, professora Célia Maria<br />

haas tem formação na área de Pedagogia,<br />

com licenciatura plena em Docência das Matérias<br />

Pedagógicas do ensino Médio e com<br />

habilitação em Orientação escolar. após<br />

alguns anos atuando na educação básica,<br />

na modalidade de ensino supletivo e com<br />

uma longa experiência em trabalhos comunitários,<br />

na educação de jovens e adultos<br />

e na Febem, fez mestrado em educação na<br />

área de história e Filosofia da educação, na<br />

PUC-sP e, na seqüência, doutorou-se também<br />

em educação, mas na área de supervisão<br />

e Currículo, também na PUC-sP. na<br />

entrevista concedida ao Caderno de Gestão<br />

& Regionalidade 1 , a professora fala sobre a<br />

municipalização do ensino fundamental, a<br />

diferença entre o ensino público e o privado<br />

e sobre os novos cursos ofereci<strong>dos</strong> pela<br />

Universidade IMes.<br />

P – O que vem a ser a municipalização do<br />

ensino fundamental?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - A municipalização do ensino<br />

fundamental faz parte das reformas do Estado<br />

e está justificada pelo movimento em<br />

direção à descentralização da Educação.<br />

As justificativas para a formulação da política<br />

descentralizadora são as necessidades<br />

de superação das seqüelas decorrentes do<br />

longo período de regime autoritário, a falta<br />

de investimentos em educação básica e<br />

os alarmantes altos índices negativos educacionais.<br />

A Constituição Federal de 1988<br />

possibilitou aos municípios criarem seus<br />

próprios sistemas de ensino, atribuindo a<br />

eles autonomia relativa na formulação de<br />

políticas educacionais para a educação infantil<br />

e para o ensino fundamental.<br />

Tornar o ensino fundamental uma<br />

responsabilidade das prefeituras, e não<br />

mais do governo estadual, tem como objetivo<br />

aumentar a participação <strong>dos</strong> cidadãos<br />

na elaboração, implementação e avaliação<br />

do processo de ensino-aprendizagem.<br />

P – Para que serve?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - Para assegurar a universalização<br />

do acesso ao ensino fundamental e gratuito<br />

em qualquer idade e sua progressiva extensão<br />

aos demais níveis da educação básica.<br />

1 Entrevista realizada pelo aluno de Iniciação Científica, Eduardo Veríssimo Chaves.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

Tem também como objetivo aumentar<br />

a participação <strong>dos</strong> cidadãos na elaboração,<br />

implementação e avaliação do processo<br />

ensino-aprendizagem. Outro, é o de aproximar<br />

diretores, professores, pais e alunos da<br />

administração do sistema de ensino.<br />

P – Quais os pontos positivos e negativos<br />

desta iniciativa?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - De modo geral, podemos<br />

apontar como aspectos positivos a descentralização<br />

da gestão da educação e,<br />

principalmente, do ensino fundamental,<br />

aproximando pais, professores e alunos, a<br />

possibilidade de um acompanhamento e<br />

avaliação mais próximos e reais, impondo<br />

às instituições um diálogo com os maiores<br />

interessa<strong>dos</strong>: pais e alunos.<br />

Os aspectos negativos dizem respeito<br />

a uma adequada forma de investimento<br />

e controle destes recursos. A decisão<br />

do município em investir na educação<br />

e, sem dúvida, a dificuldade de municípios<br />

sem recursos.<br />

O processo de municipalização do<br />

ensino fundamental ganhou maior velocidade<br />

com o advento do Fundef – Fundo de<br />

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino<br />

Fundamental e Valorização do Magistério.<br />

O objetivo que se buscou alcançar<br />

com o Fundef foi o de tornar mais efetiva<br />

a cooperação entre diferentes níveis de<br />

governo, no provimento de recursos e nas<br />

responsabilidades assumidas, em relação à<br />

universalização e à qualidade desse nível<br />

de ensino obrigatório.<br />

P – Existe diferença entre o ensino público<br />

e o ensino privado? se sim, quais?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - Os dois segmentos, público<br />

e privado, apresentam diferenças e semelhanças.<br />

Ambos devem cumprir a responsabilidade<br />

social, formando o cidadão. Ambos<br />

seguem a legislação, que disciplina cada<br />

grau de ensino. Ambos devem submeter-se<br />

ao controle e avaliação regular do Estado e<br />

ambos são avalia<strong>dos</strong> pela sociedade.<br />

A diferença está nos modelos de<br />

gestão de cada segmento. O sistema público<br />

é regido e administrado pelo Estado e/<br />

ou município. O ensino privado é administrado<br />

pela instituição mantenedora, uma<br />

administração presente, que depende de<br />

resulta<strong>dos</strong> positivos para sua manutenção.<br />

5


Estes resulta<strong>dos</strong> dizem respeito aos resulta<strong>dos</strong><br />

econômico-financeiros e à satisfação<br />

<strong>dos</strong> alunos e pais.<br />

P – Um aluno da rede pública está melhor<br />

qualificado que um aluno da rede particular?<br />

Como?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - Os alunos podem e devem ser<br />

muito bem qualifica<strong>dos</strong> em qualquer <strong>dos</strong><br />

segmentos. É responsabilidade das instituições<br />

escolares garantirem a adequada formação<br />

de seus alunos. A opção por um ou<br />

outro segmento é de responsabilidade <strong>dos</strong><br />

pais e feita conforme suas possibilidades e<br />

seus objetivos.<br />

P – Como se poderia melhorar o ensino no<br />

país - nas organizações públicas e privadas?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - Entre inúmeras outras possibilidades,<br />

destaco o investimento responsável<br />

<strong>dos</strong> recursos já defini<strong>dos</strong> pelas legislações<br />

específicas. A qualificação continuada<br />

<strong>dos</strong> professores e, sem dúvida, uma cobrança<br />

<strong>dos</strong> pais e alunos.<br />

P – Comente sobre a iniciativa da Universidade<br />

em promover cursos de Letras.<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - A formação de professores<br />

sempre será uma necessidade. E formações<br />

feitas com qualidade são muito bemvindas.<br />

O IMES não oferecia, até agora,<br />

cursos na área de formação de professores.<br />

Como uma instituição vinculada ao<br />

município de São Caetano e com uma longa<br />

história de bons serviços educacionais,<br />

era hora de ampliar sua atenção, cuidando<br />

de um aspecto importante, a formação<br />

de docentes. E é necessário destacar que<br />

a formação continuada <strong>dos</strong> professores é<br />

uma exigência constante e imposta pela<br />

velocidade da sociedade moderna. Caberá<br />

ao IMES fazer a sua parte, participando<br />

na formação e qualificação <strong>dos</strong> professores<br />

que querem iniciar na carreira ou<br />

querem buscar novos conhecimentos. E<br />

a Licenciatura em Letras traz ainda a formação<br />

em língua estrangeira, oferecendo<br />

a opção entre Língua Inglesa e Língua<br />

Espanhola. O projeto pedagógico do curso<br />

propõe também preparar o professor<br />

para as novas linguagens, enfatizando a<br />

área de educação e comunicação. É sempre<br />

importante lembrar que vivemos o<br />

tempo da internet, da televisão e, portanto,<br />

do ensino a distância.<br />

6 ENTREVISTA<br />

P – Quais os cursos que a universidade irá<br />

criar na área de Letras?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - O IMES oferece os cursos de<br />

graduação em Letras, modalidade licenciatura,<br />

com habilitações em Língua Portuguesa<br />

e Língua Inglesa e respectivas Literaturas,<br />

e em Língua Portuguesa e Língua<br />

espanhola e respectivas Literaturas.<br />

P – Qual é sua expectativa, como coordenadora<br />

do curso?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - A nossa expectativa é fazer<br />

um curso de sucesso. Formar professores<br />

com características inovadoras, professores<br />

empreendedores e, assim, contribuir para<br />

fazer da educação municipalizada espaços<br />

de formação de cidadãos felizes.<br />

P – Qual o objetivo <strong>dos</strong> cursos?<br />

<strong>Prof</strong>a. Célia - O curso de Letras deve ser um<br />

centro de qualidade, associando docência,<br />

pesquisa e extensão, contribuindo para o<br />

desenvolvimento da educação e da ciência.<br />

Portanto, visa à formação lingüística, literária,<br />

semiótica, humanística e pedagógica de<br />

futuros professores, pesquisadores, tradutores,<br />

críticos literários, revisores de textos, roteiristas,<br />

assessores e secretários de empresas,<br />

entre outras atividades, os quais se habilitarão<br />

em Português, Inglês e Espanhol.<br />

São objetivos: enfatizar a competência<br />

comunicativa e as habilidades lingüísticas<br />

tanto em língua materna quanto<br />

em língua estrangeira, em termos de recepção,<br />

produção, tradução e interpretação<br />

de texto; desenvolver a percepção das<br />

várias linguagens que, em interação com<br />

a linguagem verbal, apresentam-se constantemente<br />

como informações a serem decodificadas<br />

na realidade em que vivemos;<br />

construir uma compreensão sociocultural e<br />

uma postura crítico-reflexiva em relação às<br />

linguagens estudadas e às línguas e suas<br />

respectivas literaturas; despertar interesse<br />

pela pesquisa científica nas áreas correspondentes<br />

às disciplinas focalizadas no<br />

curso e nas suas interfaces com áreas do conhecimento<br />

afins; capacitar futuros professores<br />

a atuar no ensino fundamental (5 a à<br />

8 a séries) e médio, e no ensino instrumental<br />

de língua, garantindo-lhes o detalhamento<br />

de conteú<strong>dos</strong> específicos atualiza<strong>dos</strong> e de<br />

técnica de ensino compatíveis com a realidade<br />

multissígnica que o mercado de trabalho<br />

oferece.


ensInO FUnDaMenTaL: DO FUnDeF aO FUnDeB<br />

<strong>Prof</strong>. Expedito Nunes* e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Antonio Carlos Gil**<br />

resUMO aBsTraCT<br />

Neste ensaio, o autor analisa<br />

a municipalização do ensino fundamental<br />

no Brasil. Este processo foi iniciado<br />

em 1996, com a constituição do<br />

Fundef - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento<br />

do Ensino Fundamental<br />

e pode ser avaliado como positivo,<br />

sobretudo porque um grande número<br />

de municípios obteve ganhos financeiros,<br />

num processo crescente de<br />

distribuição. Mas muitos problemas<br />

não puderam ser soluciona<strong>dos</strong>. Tanto<br />

é que o governo federal já propôs a<br />

criação de um novo fundo, o Fundo<br />

de Manutenção e Desenvolvimento<br />

do Ensino Básico (Fundeb).<br />

PaLaVras-ChaVe: ensino fundamental,<br />

municipalização, Fundef.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

In this essay, the author analyses<br />

the municipalization of elementary<br />

school in Brazil. This process has begun<br />

in 1996, with the creation of Elementary<br />

School Development and Maintenance<br />

Found (Fundef), and it can be<br />

evaluated as being positive, mainly<br />

because a great number of cities have<br />

got financial gains on an increasing<br />

redistribution process. But many problems<br />

couldn’t be solved. That’s why the<br />

federal government has already proposed<br />

the creation of a new Found,<br />

the Primary School Development and<br />

Maintenance Found (Fundeb).<br />

KeYWOrDs: elementary school,<br />

municipalization, Fundef.<br />

* Mestre em Administração pela Universidade IMES.<br />

** Docente do Programa de Mestrado em Administração da Universidade IMES.<br />

7


1. InTrODUÇÃO<br />

Os problemas sociais decorrentes<br />

do déficit educacional verificado no Brasil<br />

nas últimas décadas têm levado inúmeros<br />

atores educacionais a se manifestar cobrando<br />

das autoridades públicas soluções<br />

para esses problemas. Em resposta a essa<br />

demanda, o governo federal constituiu<br />

pela Emenda Constitucional n o 14/96, e<br />

regulamentou pela Lei n o 9.424/97 o Fundo<br />

de Manutenção e Desenvolvimento do<br />

Ensino Fundamental e de Valorização do<br />

Magistério (Fundef), efetivamente implantado<br />

em 1 o de janeiro de 1998.<br />

A principal inovação do Fundef<br />

consistiu na mudança da estrutura de financiamento<br />

do ensino fundamental no<br />

país, ao vincular a esse nível de ensino uma<br />

parcela <strong>dos</strong> recursos constitucionalmente<br />

destina<strong>dos</strong> à Educação. A Constituição de<br />

1988 vincula 25% das receitas <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong><br />

e municípios à Educação. Com a Emenda<br />

Constitucional n o 14/96, 60% desses recursos<br />

– que representam 15% da arrecadação<br />

global de esta<strong>dos</strong> e municípios – ficam<br />

reserva<strong>dos</strong> ao ensino fundamental. Além<br />

disso, o Fundef introduz novos critérios de<br />

distribuição e utilização de 15% <strong>dos</strong> principais<br />

impostos de esta<strong>dos</strong> e municípios, promovendo<br />

a sua partilha de recursos entre<br />

o governo estadual e seus municípios, de<br />

acordo com o número de alunos atendi<strong>dos</strong><br />

em cada rede de ensino.<br />

Instituído para durar dez anos,<br />

o Fundef contabiliza muitos ganhos, inclusive<br />

um prêmio conferido pela Unesco,<br />

em 2000. Em menos de oito anos, muitos<br />

municípios ajustaram-se a ele com sucesso<br />

apreciável. Há consenso entre os analistas<br />

que o Fundef representou algum progresso<br />

em todas as regiões do país, já que contribuiu<br />

para a redução de desigualdades nos<br />

municípios mais pobres e nas regiões mais<br />

atrasadas. De fato, o Fundef incentivou o<br />

aumento do número de matrículas no ensino<br />

fundamental, melhorou os salários <strong>dos</strong><br />

professores, favoreceu a implantação de<br />

planos de carreira municipais, estimulou a<br />

oferta de vagas e permitiu a capacitação<br />

de professores leigos.<br />

Mas seu sucesso não tem sido igual<br />

em to<strong>dos</strong> os municípios. Além <strong>dos</strong> prejuízos<br />

decorrentes de fraudes e de má gestão<br />

<strong>dos</strong> recursos, as peculiaridades de muitos<br />

municípios e regiões não têm contribuído<br />

para o seu pleno sucesso. Alguns estu<strong>dos</strong><br />

mostram como a descentralização determinada<br />

pelo Fundef, na verdade, distribuiu<br />

encargos aos municípios, sem a garantia<br />

de uma correspondente fonte estável de<br />

financiamento (MARTINS, OLIVEIRA, BUE-<br />

NO, 2004). Tanto é que antes mesmo de<br />

completar o decênio, o governo federal já<br />

elaborou projeto de criação de novo fundo<br />

de financiamento, que abarca agora toda a<br />

educação básica: o Fundo de Manutenção e<br />

Desenvolvimento da Educação Básica e de<br />

Valorização <strong>dos</strong> <strong>Prof</strong>issionais da Educação<br />

(Fundeb). Esse projeto, apresentado como<br />

uma Proposta de Emenda Constitucional,<br />

foi debatido por entidades representativas<br />

em nível estadual e municipal e enviado ao<br />

Congresso Nacional para apreciação.<br />

2. a MUnICIPaLIZaÇÃO DO ensInO nO<br />

BrasIL<br />

A discussão a respeito da municipalização<br />

do ensino não é nova. Já esteve<br />

presente em debates ocorri<strong>dos</strong> logo após<br />

o Ato Adicional de 1834, que delegou às<br />

províncias a prerrogativa de legislar sobre<br />

a educação primária (SUCUPIRA, 1996), em<br />

reformas verificadas em vários esta<strong>dos</strong> ainda<br />

na Primeira República (NAGLE, 1974) e<br />

no Manifesto <strong>dos</strong> Pioneiros, de 1932. Foi,<br />

porém, com a proposta de Anísio Teixeira<br />

(1957), que o tema da municipalização do<br />

ensino passou a ser mais intensamente debatido.<br />

Segundo esse educador, a educação,<br />

por sua natureza, é um processo que<br />

envolve grande autonomia <strong>dos</strong> seus participantes<br />

e quanto menor for a unidade de<br />

serviços a administrar, tanto melhor será a<br />

administração e mais se evitarão os males<br />

irremediáveis do processo de mecanização<br />

das macroorganizações. Assim, enquanto<br />

não se puder estabelecer a unidade distrital,<br />

a unidade municipal constituirá a<br />

melhor unidade administrativa do sistema<br />

escolar brasileiro. Admitia ainda Teixeira<br />

que a escola estava sendo concebida<br />

como uma comunidade integrada dentro<br />

da comunidade maior da cidade, da vila<br />

ou do povoado. Assim, a administração<br />

local concorreria para tornar possível essa<br />

integração, tornando a escola a instituição<br />

fundamental da comunidade, servindo-a<br />

e dela se servindo para a vitalidade<br />

e riqueza <strong>dos</strong> seus processos educativos. O<br />

professor, de nomeação local e lealdade<br />

ARTIGO


local, deixaria, portanto, de ser “o estranho,<br />

a autoridade consular e passageira,<br />

um quase hóspede da comunidade, para<br />

se sentir responsável e integrante dessa<br />

comunidade”.<br />

Na década de 1980, houve o incentivo<br />

de participação <strong>dos</strong> municípios, em<br />

programas de parcerias. Multiplicaram-se os<br />

convênios entre esta<strong>dos</strong> e municípios, com<br />

vistas ao transporte de alunos, à merenda<br />

escolar, às construções escolares. Iniciou-se,<br />

assim, o processo de municipalização do ensino<br />

pré-escolar.<br />

A Constituição de 1988, promulgada<br />

após a redemocratização do país,<br />

deu destaque à universalização do ensino<br />

fundamental e à erradicação do analfabetismo.<br />

Em seu artigo 211, parágrafo 2 o , a<br />

Constituição propõe que os “municípios<br />

atuem prioritariamente no ensino fundamental<br />

e pré-escola”.<br />

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacional, aprovada em 1996, por sua<br />

vez, firmou em seu artigo 11 as incumbências<br />

<strong>dos</strong> municípios em relação aos seus<br />

sistemas de ensino. Num parágrafo único,<br />

mantém a possibilidade da integração do<br />

município ao sistema estadual ou de compor<br />

com o estado um sistema único de<br />

educação básica. Dessa forma, a responsabilidade<br />

do município passou a ser a de<br />

oferecer a educação infantil em creches e<br />

pré-escolas e, prioritariamente, o ensino<br />

fundamental, permitindo a atuação em<br />

outros níveis somente quando estiverem<br />

atendidas plenamente as necessidades de<br />

sua área de competência e com recursos<br />

acima <strong>dos</strong> percentuais mínimos, vincula<strong>dos</strong><br />

pela Constituição Federal à manutenção e<br />

desenvolvimento do ensino.<br />

Foi, porém, com a aprovação da<br />

Emenda Constitucional n o 14, em 12 de<br />

setembro de 1996, que foi dado o passo<br />

inicial para a implantação de um novo<br />

sistema regimental sobre o ensino fundamental<br />

no país.<br />

. a eMenDa COnsTITUCIOnaL n o 14 e O<br />

Fundef<br />

A Emenda Constitucional n o 14 alterou<br />

os parágrafos do artigo 211, que passaram<br />

a ter a seguinte redação:<br />

“Art. 211 – A União, os esta<strong>dos</strong>, o Distrito<br />

Federal e os municípios organi-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

zarão em regime de colaboração seus<br />

sistemas de ensino.<br />

Parágrafo 1 o – A União organizará o sistema<br />

federal de ensino e o <strong>dos</strong> Territórios,<br />

financiará as instituições de ensino públicas<br />

federais e exercerá, em matéria educacional,<br />

função redistributiva e supletiva,<br />

de forma a garantir equalização de oportunidades<br />

educacionais e padrão mínimo<br />

de qualidade do ensino mediante assistência<br />

técnica e financeira aos esta<strong>dos</strong>, ao<br />

Distrito Federal e aos municípios.<br />

Parágrafo 2 o – Os municípios atuarão<br />

prioritariamente no ensino fundamental<br />

e na educação infantil.<br />

Parágrafo 3 o – Os esta<strong>dos</strong> e o Distrito Federal<br />

atuarão prioritariamente no ensino<br />

fundamental e médio.<br />

Parágrafo 4 o – Na organização de seus<br />

sistemas de ensino, os esta<strong>dos</strong> e os municípios<br />

definirão formas de colaboração,<br />

de modo a assegurar a universalização do<br />

ensino obrigatório”.<br />

Esta emenda também incluiu uma<br />

alínea, no inciso VII do artigo 34 da Constituição,<br />

que trata das situações excepcionais<br />

de intervenção da União nos esta<strong>dos</strong>, ou<br />

<strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> nos municípios, que passou a<br />

vigorar nos seguintes termos:<br />

“Art. 34 – A União não intervirá nos esta<strong>dos</strong><br />

nem no Distrito Federal, exceto para:<br />

(...)<br />

VII – Assegurar a observância <strong>dos</strong> seguintes<br />

princípios constitucionais:<br />

(...)<br />

e) Aplicação do mínimo exigido da receita<br />

resultante de impostos estaduais,<br />

compreendida a proveniente de transferências,<br />

na manutenção e desenvolvimento<br />

do ensino”.<br />

Definiu-se, assim, o poder da<br />

União em intervir nos esta<strong>dos</strong> e Distrito<br />

Federal, caso não fosse cumprida a obrigatoriedade<br />

de aplicar o mínimo exigido de<br />

receita na manutenção e desenvolvimento<br />

do ensino. Além disso, a Emenda criou,<br />

como fonte adicional de financiamento do<br />

ensino fundamental público, a contribuição<br />

social do salário-educação, a ser recolhida<br />

pelas empresas, na forma em que dispor a<br />

lei. E, mediante alterações no artigo 60 do<br />

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,<br />

instalou o Fundo de Manutenção e<br />

9


Desenvolvimento do Ensino Fundamental e<br />

de Valorização do Magistério ou Fundef.<br />

A Emenda Constitucional n o 14<br />

foi regulamentada pela Lei 9.424, de 24<br />

de dezembro de 1996, que, por sua vez,<br />

teve como regulamento o Decreto 2.264,<br />

de 1997.<br />

O Fundef, que começou a funcionar<br />

em janeiro de 1998, é um fundo instituído<br />

em cada estado da Federação e no<br />

Distrito Federal, cujos recursos devem ser<br />

aplica<strong>dos</strong> exclusivamente na manutenção<br />

e desenvolvimento do ensino fundamental<br />

público e na valorização de seu magistério.<br />

Em cada estado, o Fundef é composto<br />

por recursos do próprio estado e<br />

de seus municípios, sendo constituído por<br />

15% do:<br />

·<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Fundo de Participação do Estado<br />

(FPE);<br />

Fundo de Participação <strong>dos</strong> municípios<br />

(FPM);<br />

Imposto sobre Circulação de Mercadorias<br />

e Serviços (ICMS);<br />

Recursos relativos à desoneração de<br />

exportações, de que trata a Lei Complementar<br />

n o 87/96;<br />

Imposto sobre Produtos Industrializa<strong>dos</strong>,<br />

proporcional às exportações<br />

(IPI-exp).<br />

Os recursos do Fundef, constituí<strong>dos</strong><br />

na forma acima, são redistribuí<strong>dos</strong><br />

automaticamente aos esta<strong>dos</strong> e seus municípios,<br />

proporcionalmente ao número<br />

de matrículas no ensino fundamental das<br />

respectivas redes de ensino, constantes do<br />

Censo MEC do ano anterior.<br />

Para consecução de seus objetivos,<br />

a Lei 9.424/96 determinou a criação <strong>dos</strong><br />

Conselhos de Acompanhamento e Controle<br />

Social do Fundef, instituí<strong>dos</strong> em cada esfera<br />

de governo, tendo por atribuição acompanhar<br />

e controlar a repartição, a transferência<br />

e a aplicação <strong>dos</strong> recursos do Fundo.<br />

Esses Conselhos são compostos de pelo<br />

menos quatro membros, representando a<br />

Secretaria Municipal de Educação ou órgão<br />

equivalente, os professores e diretores das<br />

escolas públicas de ensino fundamental, os<br />

pais de alunos, os servidores das escolas e,<br />

se houver no município, um representante<br />

do Conselho Municipal de Educação.<br />

A Lei estabelece também que os<br />

municípios devem dispor de um Plano de<br />

10 ARTIGO<br />

Carreira e Remuneração do Magistério, com<br />

o objetivo de regulamentar as condições de<br />

carreira, estabelecendo a evolução funcional<br />

e respectivos critérios de promoções.<br />

4. aVaLIaÇÃO DO Fundef<br />

Segundo avaliação do Ministério<br />

da Educação (1998-2000), o Fundef representou<br />

uma autêntica revolução no atendimento<br />

ao ensino fundamental nas redes<br />

públicas do país, especialmente pelo seu<br />

critério redistributivo de recursos. De acordo<br />

com seus relatórios, o modelo tornou<br />

possível direcionar os recursos reserva<strong>dos</strong><br />

à Educação para onde, de fato, estavam os<br />

alunos. A partir da instituição do Fundo, movimentaram-se<br />

recursos <strong>dos</strong> governos com<br />

maior capacidade financeira e/ou com um<br />

baixo nível de participação no atendimento<br />

escolar para os municípios em situação inversa.<br />

No primeiro ano de funcionamento<br />

do Fundef, em 1998, 2.703 municípios obtiveram<br />

ganhos financeiros, em um processo<br />

crescente de redistribuição. Em 2001, 3.404<br />

municípios foram beneficia<strong>dos</strong>, obtendo<br />

uma receita adicional de R$ 2,9 bilhões. A<br />

reserva de 60% <strong>dos</strong> recursos do Fundo para<br />

a remuneração do Magistério representou<br />

aumentos significativos nos salários <strong>dos</strong><br />

professores em efetivo exercício da docência<br />

no ensino fundamental. Entre dezembro<br />

de 1997 e junho de 2000, o aumento médio<br />

na remuneração <strong>dos</strong> professores foi de<br />

29,6%, com destaque para algumas regiões,<br />

como o Nordeste, onde os docentes do ensino<br />

fundamental foram beneficia<strong>dos</strong> com<br />

um aumento médio de 59,6%, aí incluídas<br />

as redes municipais e estaduais. Com o crescimento<br />

de suas receitas, os municípios nordestinos<br />

se destacaram no aumento concedido<br />

aos professores, atingindo uma média<br />

de 70,2%, no mesmo período. Aliado ao aumento<br />

no número de alunos matricula<strong>dos</strong><br />

nas redes públicas do país – de 30,5 milhões<br />

de alunos em 1997, para 32,5 milhões em<br />

2000 – cresceu o número de professores atuando<br />

neste nível de ensino, com um aumento<br />

de 10%, representando 127 mil novos<br />

postos de trabalho para o Magistério.<br />

A despeito, porém, <strong>dos</strong> reconheci<strong>dos</strong><br />

méritos da proposta de municipalização<br />

do ensino fundamental, constata-se que a<br />

implantação do Fundef tem trazido problemas<br />

para muitos municípios. Tais problemas<br />

colocam em risco a própria aplicação da lei


e o seu propósito, que é o de estabelecer a<br />

eqüidade na aplicação <strong>dos</strong> recursos públicos<br />

destina<strong>dos</strong> ao financiamento da educação<br />

municipal. Em alguns municípios, a municipalização<br />

ocorreu em ritmo acelerado a<br />

partir de 1997. Esses municípios assim procederam<br />

porque tinham a expectativa de<br />

que passariam a ter mais recursos para desenvolver<br />

suas políticas sociais. Mas isto não<br />

está acontecendo em muitos desses municípios.<br />

O que vem ocorrendo, de fato, é a<br />

transferência de encargos do estado para os<br />

municípios, que passam, conseqüentemente,<br />

a ter maiores dificuldades em relação<br />

ao financiamento e ao gerenciamento da<br />

educação fundamental, comprometendo a<br />

qualidade do ensino.<br />

Outro problema que se tornou<br />

evidente com a municipalização foi a saída<br />

abrupta do governo do estado na oferta da<br />

educação infantil e de classes de suplência<br />

da 1 a à 4 a séries, muitas vezes, com o simples<br />

fechamento de turmas no final do ano<br />

letivo, deixando a população sem a oferta<br />

de educação para esses segmentos. Essa situação,<br />

por sua vez, vem gerando pressões<br />

sobre as prefeituras, para a oferta desse serviço.<br />

Dessa forma, as prefeituras, que foram<br />

obrigadas a assumir o ensino fundamental<br />

para não perder recursos, são agora obrigadas<br />

a assumir, também, a oferta da educação<br />

infantil e das turmas de suplência da 1 a<br />

à 4 a série, acarretando, com isso, a elevação<br />

de suas despesas com educação. Essa elevação<br />

tem levado ao comprometimento de<br />

outros itens orçamentários, gerando novos<br />

problemas de investimento em outras áreas<br />

sociais, levando a um círculo vicioso de causa<br />

e efeito.<br />

Ainda um outro problema decorrente<br />

do processo de municipalização a que<br />

os municípios estão sujeitos é o aumento expressivo<br />

de novos funcionários municipais.<br />

Problema que se torna mais complexo quando<br />

se considera que a maioria <strong>dos</strong> servidores<br />

traz do estado o seu tempo de serviço e que<br />

muitos trabalharão no município não mais<br />

que cinco ou dez anos e, em seguida, serão<br />

aposenta<strong>dos</strong> pelo Tesouro municipal, o que<br />

poderá tornar inviável a administração a<br />

médio ou longo prazo.<br />

Pode-se perceber, claramente, que,<br />

por trás da idéia de se estabelecer uma eqüidade<br />

na distribuição <strong>dos</strong> recursos públicos<br />

– que é muito nobre – assiste-se a uma transferência<br />

de obrigações de outras esferas da<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

Federação para os municípios, sem a devida<br />

transferência de recursos. Dessa maneira, os<br />

municípios, que são os entes públicos mais<br />

suscetíveis às pressões populares por mais<br />

serviços, além de terem escassas possibilidades<br />

de alterar sua política de arrecadação,<br />

tornam-se ainda mais penaliza<strong>dos</strong>.<br />

A maior virtude da municipalização<br />

está em seu caráter local e comunitário. No<br />

entanto, para que ela se torne eficaz, é necessário<br />

que a sociedade local seja capaz de<br />

exercer seu direito à informação e à participação.<br />

Que ela possa participar do processo<br />

de formulação e avaliação das políticas educacionais<br />

e da fiscalização de sua execução.<br />

Esta presença da sociedade exige, portanto,<br />

a incorporação de categorias e grupos sociais<br />

envolvi<strong>dos</strong> direta ou indiretamente no<br />

processo educativo, e que, freqüentemente,<br />

têm sido excluí<strong>dos</strong> das decisões, tais como<br />

os funcionários e professores, os pais e os<br />

próprios alunos. Isto implica, de certa forma,<br />

tirar <strong>dos</strong> governantes e <strong>dos</strong> técnicos da<br />

área o monopólio de determinar os rumos<br />

da educação no município. Quanto mais<br />

representatividade houver, maior será a capacidade<br />

de intervenção e fiscalização da<br />

sociedade civil.<br />

Esta participação da sociedade local<br />

nem sempre ocorre, o que torna difícil o<br />

êxito da municipalização. Somando-se a isso<br />

o fato de o processo vir penalizando muitos<br />

municípios, é natural que alguns deles estejam<br />

inclina<strong>dos</strong> a rejeitar a municipalização.<br />

A opção de integração ao sistema estadual,<br />

no entanto, não significa para o município<br />

abrir mão de seus deveres em relação à educação<br />

e às escolas, mas sim à perda parcial<br />

de sua autonomia nesse setor. O município<br />

não pode, sob qualquer pretexto, eximir-se<br />

das responsabilidades relativas ao ensino<br />

fundamental, até mesmo porque, de qualquer<br />

maneira, a manutenção das instituições<br />

de educação infantil continuará a cargo<br />

da esfera municipal. Com efeito, deixar<br />

simplesmente que o governo estadual ou<br />

federal assuma ou realize atividades de âmbito<br />

local ou regional, significa, na realidade,<br />

uma renúncia à autonomia municipal.<br />

Ou, em outras palavras: retirar <strong>dos</strong> cidadãos<br />

a possibilidade de intervir diretamente nas<br />

ações públicas que lhes dizem respeito.<br />

Para Ângela Maria Martins (2002),<br />

pesquisadora da Fundação Carlos Chagas,<br />

a municipalização do ensino, permitiu a<br />

relocação do centro de poder e tornou as<br />

11


secretarias municipais mais visíveis. Uma<br />

das principais justificativas para a municipalização<br />

foi a de que tanto professores e<br />

diretores como os próprios pais <strong>dos</strong> alunos<br />

tinham uma relação distante com o governo<br />

estadual e, ao tornar o município responsável<br />

pela educação, eles estariam mais<br />

próximos da administração. Com o Fundef,<br />

as negociações passaram a ocorrer diretamente,<br />

pois os integrantes do processo estão<br />

mais próximos.<br />

Ainda, de acordo com a pesquisadora,<br />

um <strong>dos</strong> principais benefícios do Fundef<br />

é que os professores se sentem mais<br />

cuida<strong>dos</strong> e seguros, com maior suporte para<br />

aplicar o seu trabalho. Mas, por outro lado,<br />

a municipalização criou uma instabilidade<br />

profissional para os professores. Aqueles<br />

que reivindicam melhores salários correm o<br />

risco de serem transferi<strong>dos</strong> para escolas distantes<br />

de suas residências ou de serem demiti<strong>dos</strong>.<br />

Assim, à medida em que se encurtou<br />

a proximidade com o poder, aumentou<br />

a vulnerabilidade do profissional.<br />

Arelaro (1999) constata que o Estado<br />

de São Paulo, apesar do alto nível de<br />

escolarização é o Estado com menor índice<br />

de municipalização. Nesse sentido, formula<br />

a hipótese de que os municípios encontram-se<br />

num estado de desconfiança e que,<br />

sem terem alguma segurança quanto à<br />

concretização das propostas atuais do governo<br />

federal para a reforma tributária e<br />

o compromisso efetivo das três esferas, em<br />

relação ao ensino fundamental e ao analfabetismo,<br />

não estarão dispostos a avançar<br />

nessa questão.<br />

Rosar e Sousa (1999), após analisarem<br />

a política de municipalização no Estado<br />

do Maranhão, admitem que a concretização<br />

dessa política tenha produzido mais efeitos<br />

publicitários do que melhoras significativas<br />

na qualidade <strong>dos</strong> serviços educacionais ofereci<strong>dos</strong><br />

à população. A ações mais visíveis,<br />

como melhoria na infra-estrutura de algumas<br />

escolas, a distribuição de livros didáticos<br />

e ações de capacitação, encobrem a ausência<br />

de preocupação com os aspectos mais<br />

especificamente pedagógicos, como o currículo,<br />

o perfil do profissional da educação,<br />

sua qualificação, remuneração e carreira.<br />

Veiga e Costa (2000), analisando<br />

o processo de municipalização do ensino<br />

fundamental em Minas Gerais, reconhecem<br />

que o impacto do Fundef sobre a reconfiguração<br />

da oferta da rede pública de ensino é<br />

12 ARTIGO<br />

impressionante. No entanto, atentam para<br />

possíveis riscos, decorrentes principalmente<br />

do caráter um tanto abrupto do processo<br />

de municipalização. Dadas as diferentes<br />

capacidades <strong>dos</strong> municípios, um processo<br />

pouco cuida<strong>dos</strong>o pode resultar em soluções<br />

de continuidade ou perda de qualidade no<br />

atendimento, principalmente no caso <strong>dos</strong><br />

municípios mais frágeis economicamente,<br />

nos quais há maior concentração de pobreza<br />

e baixa concentração de recursos humanos<br />

qualifica<strong>dos</strong> na rede. Assim, a ausência<br />

de um planejamento adequado para estabelecer<br />

o ritmo do envolvimento da rede<br />

municipal na oferta e do tipo de apoio demandado<br />

por municípios específicos para<br />

enfrentar os desafios da universalização da<br />

oferta pode ter resulta<strong>dos</strong> perversos, inclusive<br />

o de se traduzir em aumento de disparidades<br />

entre os municípios, em lugar de sua<br />

redução, como seria desejável.<br />

Fica claro, portanto, que o processo<br />

de municipalização não se faz sem problemas.<br />

Lima (1994) lembra que, nas duas<br />

últimas décadas do século XX, a descentralização,<br />

a autonomia e a participação foram<br />

utilizadas como estratégia política para<br />

transferir a responsabilidade pela Educação<br />

para instituições não-estatais. Para ele:<br />

“a autonomia (mitigada) é um instrumento<br />

fundamental de construção de um espírito<br />

e de uma cultura de organização-empresa;<br />

a descentralização é congruente com a «ordem<br />

espontânea» do mercado, respeitadora<br />

da liberdade individual e garante a eficiência<br />

econômica: a participação é essencialmente<br />

uma técnica de gestão, um fator de<br />

coesão e de consenso” (p. 22).<br />

Anísio Teixeira (1959) já acentuava<br />

que sem raízes locais, sem individualidade,<br />

as escolas se fazem o joguete <strong>dos</strong> interesses<br />

do professorado, já que ele próprio também<br />

é desenraizado e sem lealdades locais.<br />

Oliveira (1999) considera que não<br />

perder os recursos do Fundef é algo desejável<br />

e que vem dando oportunidade para<br />

se criar artifícios para burlar a lei, como a<br />

criação de alunos e funcionários fantasmas.<br />

Ressalta, ainda, que a indução à municipalização<br />

não considera a questão <strong>dos</strong> recursos<br />

humanos em condições de gerir, com sucesso,<br />

um sistema de ensino e teme que parte<br />

dessa gestão possa cair nas mãos de escritórios<br />

de assessoria, nas mãos de editoras, nas<br />

mãos de sistemas de comunicação, nas mãos<br />

de empresas particulares.


Para Mendes (2001), o Fundef parece<br />

ter atingido seus principais objetivos, ao<br />

exercer importante impacto sobre o ensino<br />

fundamental, principalmente por meio da<br />

elevação do grau de escolaridade <strong>dos</strong> professores,<br />

do aumento da duração <strong>dos</strong> turnos<br />

de aula, do total de alunos matricula<strong>dos</strong>,<br />

do número de professores em atividade,<br />

bem como da redução do atraso escolar ao<br />

substituir prioridades, além de estimular a<br />

municipalização do ensino. Além de ter havido<br />

progresso <strong>dos</strong> indicadores em todas as<br />

regiões do país, houve também uma nítida<br />

minimização das desigualdades nacionais,<br />

com os municípios de regiões atrasadas e de<br />

baixo ICV tendo uma melhor performance<br />

relativa. Mas, para esse autor, também há<br />

evidências de que é justamente nesses municípios,<br />

em especial naqueles que recebem<br />

recursos complementares da União, que se<br />

concentram as fraudes e a má gestão <strong>dos</strong> recursos<br />

do Fundef, o que constitui indicação<br />

para que haja um maior direcionamento<br />

<strong>dos</strong> sistemas de fiscalização, <strong>dos</strong> programas<br />

de treinamento e da gestão municipal patrocina<strong>dos</strong><br />

pelo governo federal.<br />

Convêm ressaltar também que<br />

indícios de fraude no uso <strong>dos</strong> recursos do<br />

Fundef geraram preocupação no meio político,<br />

a ponto de a Comissão de Educação da<br />

Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> instalar uma subcomissão<br />

para estudar o assunto. O relatório<br />

produzido listou irregularidades, como desconsideração<br />

de orientações do Tribunal de<br />

Contas; desconhecimento de princípios básicos<br />

de gestão financeira e de técnica orçamentária;<br />

desvio de finalidade <strong>dos</strong> recursos,<br />

sem que se caracterize apropriação indébita;<br />

atraso no pagamento de professores; prestação<br />

de serviço de qualidade inadequada,<br />

como, por exemplo, transportar alunos em<br />

carrocerias de caminhão; aplicação de menos<br />

de 60% <strong>dos</strong> recursos do Fundef em salários<br />

de professores e na formação de professores<br />

leigos; pagamentos de multa, de taxas<br />

e de juros, provenientes de movimentação<br />

da conta bancária, com recursos do Fundef;<br />

inexistência ou não aplicação de plano de<br />

cargos e carreira de professores e de funcionários;<br />

inexistência, falta de condições de<br />

trabalho ou irregularidades na nomeação<br />

<strong>dos</strong> membros do Conselho do Fundef; licitação<br />

viciada ou fraudada; emissão de notas<br />

fiscais frias; superfaturamento de obras e de<br />

serviços; obras ou serviços fantasmas; cadastros<br />

fictícios de alunos, de professores e de<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

escolas; apropriação indébita de recursos do<br />

Fundef (MENDES, 2000).<br />

5. a CrIaÇÃO DO Fundeb<br />

O Poder Executivo encaminhou ao<br />

Congresso Nacional Proposta de Emenda<br />

Constitucional (PEC) que cria o Fundo de<br />

Manutenção e Desenvolvimento da Educação<br />

Básica (Fundeb). Este fundo prevê o<br />

aumento <strong>dos</strong> recursos aplica<strong>dos</strong> pela União,<br />

esta<strong>dos</strong> e municípios na educação básica pública<br />

e melhorarias na formação e no salário<br />

<strong>dos</strong> profissionais da educação (MINISTÉRIO<br />

DA EDUCAÇÃO, 2005).<br />

Com duração de 14 anos (2006-<br />

2019), o Fundeb atenderá os alunos da educação<br />

infantil, do ensino fundamental e médio<br />

e da educação de jovens e adultos e será<br />

implantado de forma gradativa nos quatro<br />

primeiros anos. O objetivo é atender, no<br />

quarto ano de vigência, 47,2 milhões de<br />

alunos, com investimentos públicos anuais<br />

de R$ 50,4 bilhões, <strong>dos</strong> quais R$ 4,3 bilhões,<br />

provenientes da União.<br />

De acordo com a proposta, a União<br />

complementará os recursos quando, nos esta<strong>dos</strong><br />

e no Distrito Federal, o valor anual por<br />

aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente.<br />

No atual Fundef, o Ministério<br />

da Educação investe, em média, R$ 570 milhões/ano<br />

para a complementação do fundo.<br />

Com o Fundeb, haverá muito mais recursos<br />

da União para a educação básica. Em quatro<br />

anos, o investimento federal será crescente,<br />

até chegar a R$ 4,3 bilhões anuais em 2009.<br />

Do montante do Fundeb, inclusive<br />

da complementação da União, pelo menos<br />

60% <strong>dos</strong> recursos são para o pagamento <strong>dos</strong><br />

salários <strong>dos</strong> profissionais do Magistério, em<br />

exercício. Assim, além de garantir mais recursos<br />

para a remuneração <strong>dos</strong> professores,<br />

o Fundeb também se propõe a melhorar a<br />

infra-estrutura das escolas e a abrir mais vagas<br />

para crianças e jovens na sala de aula.<br />

Segundo justificativa do Ministério<br />

da Educação, o Fundeb lança um novo olhar<br />

sobre a escola pública. Diferentemente do<br />

Fundef, que destina recursos somente para<br />

o ensino fundamental, o Fundo da Educação<br />

Básica, além do fundamental, também<br />

investirá na educação infantil, no ensino<br />

médio e na educação de jovens e adultos. O<br />

novo fundo atenderá, em suas necessidades<br />

específicas, diversas realidades <strong>dos</strong> alunos,<br />

por série, idade e locais onde estudam.<br />

1


O atual Fundef trabalha com quatro<br />

faixas de valores por aluno/ano. O Fundeb<br />

terá 11 faixas: educação infantil, 1 a à 4 a<br />

série urbana, 1 a à 4 a série rural, 5 a à 8 a série<br />

urbana, 5 a à 8 a série rural, ensino médio<br />

urbano, ensino médio rural, ensino médio<br />

profissionalizante, educação de jovens e<br />

adultos e educação especial, além de educação<br />

indígena e de quilombolas.<br />

A cesta de impostos <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>,<br />

do Distrito Federal e <strong>dos</strong> municípios que vão<br />

financiar o Fundeb é composta por 20% de<br />

vários tributos: Fundo de Participação <strong>dos</strong><br />

esta<strong>dos</strong> (FPE), Fundo de Participação <strong>dos</strong> municípios<br />

(FPM), Imposto sobre Circulação de<br />

Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre<br />

Produtos Industrializa<strong>dos</strong> proporcional às<br />

exportações (IPI-exp), Imposto sobre Transmissão<br />

Causa Mortis (ITCMD), Imposto sobre<br />

Propriedade de Veículos Automotores (IPVA),<br />

Imposto sobre Renda e Proventos incidentes<br />

sobre rendimentos pagos pelos municípios,<br />

Imposto sobre Renda e Proventos incidentes<br />

sobre rendimentos pagos pelos esta<strong>dos</strong>,<br />

cota-parte de 50% do Imposto Territorial<br />

Rural (ITR) devida aos municípios. A União<br />

complementará os recursos nos esta<strong>dos</strong> que<br />

não alcançarem o valor mínimo nacional por<br />

aluno/ano, fixado para cada exercício.<br />

A Proposta de Emenda Constitucional<br />

que cria o Fundeb foi debatida com<br />

os esta<strong>dos</strong> e municípios, por meio das suas<br />

entidades representativas como o Consed<br />

(Conselho Nacional <strong>dos</strong> Secretários Estaduais<br />

de Educação) e a União Nacional <strong>dos</strong><br />

Dirigentes Municipais de Educação (Undime)<br />

e com outras entidades que congregam<br />

profissionais de educação, e foi enviada<br />

ao Congresso Nacional, em 14 de junho<br />

de 2005.<br />

A proposta de criação do Fundeb<br />

já recebeu diversas críticas. Uma delas é a<br />

de que o projeto que prevê a criação do<br />

fundo deixou de fora as creches públicas,<br />

que atendem crianças de até três anos. O<br />

trabalho dessas instituições é considerado<br />

imprescindível pela própria Lei de Diretrizes<br />

e Bases da Educação, formulada pelo<br />

MEC. É na creche – através de brincadeiras<br />

e de contato com colegas – que uma criança<br />

se prepara para a alfabetização e o ensino<br />

formal. Dessa forma, o Fundeb, como<br />

já fez o Fundef, continuaria excluindo 11,3<br />

milhões de crianças menores de 3 anos. Isso<br />

é crítico porque o atendimento em creches<br />

é considerada a etapa mais precária<br />

14 ARTIGO<br />

do ensino público. Segundo o Movimento<br />

Interfóruns de Educação Infantil do Brasil<br />

(Mieib), só uma em cada nove crianças com<br />

menos de três anos está matriculada em<br />

creches. E o público mais carente fica de<br />

fora. Apenas 8% das crianças nas creches<br />

vêm de famílias pobres, com renda inferior<br />

a meio salário-mínimo (COTES, 2005).<br />

A Conferência Nacional de municípios<br />

(2005) também já apresentou críticas<br />

à Proposta de Emenda Constitucional.<br />

Segundo documento elaborado por essa<br />

instituição, por não estarem claramente<br />

defini<strong>dos</strong> os pesos atribuí<strong>dos</strong> a cada etapa<br />

da educação básica, o processo de fixação<br />

de valores por aluno diferenciado, para a<br />

redistribuição desses recursos, poderá implicar<br />

conflitos federativos nos quais os<br />

municípios historicamente têm sido prejudica<strong>dos</strong>.<br />

Essa proposta de fundo único<br />

representará repasse de recursos do ensino<br />

fundamental que são de responsabilidade<br />

<strong>dos</strong> municípios para financiar o ensino médio,<br />

de responsabilidade <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>. Pelas<br />

simulações realizadas pela CNM, quase metade<br />

<strong>dos</strong> municípios terá prejuízo, em favor<br />

<strong>dos</strong> governos estaduais.<br />

A Campanha Nacional pelo Direito<br />

à Educação, que representa cerca de 120<br />

instituições, também já encaminhou críticas<br />

ao Fundeb. Em nota, as entidades afirmam<br />

que o texto a ser encaminhado ao Congresso<br />

“não responde aos desafios coloca<strong>dos</strong> na implementação<br />

do Plano Nacional de Educação<br />

(PNE)”. O documento enumera quatro pontos<br />

em que considera a proposta do governo<br />

limitada: a) a exclusão das creches (para<br />

crianças de zero a três anos) na distribuição<br />

da verba do Fundeb; b) a falta de definição<br />

de um custo-aluno baseado na qualidade; c)<br />

a retirada do percentual fixo de 10% de participação<br />

da União para complementar os recursos;<br />

d) a ausência de um piso salarial para<br />

os professores (ENTIDADE, 2005).<br />

6. COnsIDeraÇÕes FInaIs<br />

Não há como subestimar o Fundef,<br />

sobretudo porque constitui a efetivação de<br />

uma das mais significativas propostas no<br />

campo da educação fundamental. Também<br />

não há como deixar de apoiar a criação do<br />

Fundeb, proposta que se originou da análise<br />

<strong>dos</strong> erros e acertos do Fundef. Mas para que<br />

essa iniciativa possa ter sucesso, é imperioso<br />

que seja debatida não apenas por organis-


mos oficiais e entidades representativas de<br />

professores, como também por outras organizações<br />

e movimentos da sociedade civil.<br />

Mais do que em qualquer outro<br />

momento de nossa história, a sociedade civil<br />

vem se organizando, não apenas com o objetivo<br />

de reivindicar, mas também de mostrar<br />

sua indignação com o comportamento<br />

de políticos que se valem da máquina pública<br />

com propósitos que não têm a coragem<br />

reFerÊnCIas BIBLIOGrÁFICas<br />

ARELARO, Lisete Regina Gomes. A municipalização<br />

do ensino no Estado de São Paulo:<br />

antecedentes históricos e tendências. In:<br />

OLIVEIRA, Cleiton de et al. Municipalização<br />

do ensino no Brasil. Autêntica: Belo Horizonte,<br />

1999.<br />

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para análise de irregularidades do Fundo de<br />

Manutenção e Desenvolvimento do ensino<br />

Fundamental e de Valorização do Magistério<br />

(Fundef). Deputado Gilmar Machado.<br />

Brasília, 2001 (mimeo).<br />

Entidade entregará ao governo documento<br />

com críticas ao novo fundo. Folha online-educação.<br />

14 jun. 2005. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 26 ago. 2005.<br />

CONFERÊNCIA NACIONAL DE municípios.<br />

CNM e Famurs apresentarão proposta alternativa<br />

para o Fundeb. agência de notícias.<br />

19 jul. 2005. Disponível em: http://www.cnm.<br />

org.br. Acesso em: 23 ago. 2005.<br />

COTES, Paloma. Menor não entra. Época. N.<br />

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LIMA, Licínio C. Modernização, racionalização<br />

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BUENO, Maria Sylvia Simões (orgs.). Descentralização<br />

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ensino: problemas e perspectivas. Rio de<br />

Janeiro: DP&A, 2004.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

de confessar. Considerando, pois, que a efetivação<br />

do Fundeb implica o uso de vultosos<br />

recursos, é imperioso que se criem mecanismos<br />

que possibilitem a maior transparência<br />

possível na sua utilização. E esta tarefa não<br />

pode ser confiada exclusivamente a órgãos<br />

atrela<strong>dos</strong> ao aparelho de Estado. É imperioso<br />

que a sociedade civil possa não apenas<br />

acompanhar, mas efetivamente controlar o<br />

uso desses recursos.<br />

MARTINS, A. M. (coord.) O Processo de municipalização<br />

no estado de são Paulo: mudanças<br />

institucionais e atores escolares. São<br />

Paulo: Fundação Carlos Chagas/FAPESP. Relatório<br />

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MENDES, Marcos. Descentralização do ensino<br />

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em: 6 jun. 2001.<br />

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financiamento que alcança toda a educação<br />

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NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira<br />

República. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974.<br />

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al. Municipalização do ensino no Brasil. Autêntica:<br />

Belo Horizonte, 1999.<br />

ROSAR, Maria de Fátima Felix, SOUSA, Miriam<br />

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no Estado do Maranhão: alguns aspectos<br />

contraditórios. In: OLIVEIRA, Cleiton de<br />

et al. Municipalização do ensino no Brasil.<br />

Belo Horizonte: Autêntica, 1999.<br />

TEIXEIRA, Anísio. A municipalização do ensino<br />

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Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 27, n. 66,<br />

abr./jun. 1957. p. 22-43.<br />

15


as OPerÁrIas DO aBC: reesTrUTUraÇÃO PrODUTIVa,<br />

reLaÇÕes De GÊnerO e ParTICIPaÇÃO sInDICaL<br />

Ivete Garcia* e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Luis Paulo Bresciani**<br />

resUMO aBsTraCT<br />

As décadas de 1980 e 1990<br />

significaram um período de grandes<br />

mudanças políticas e sociais, com o<br />

surgimento do “novo sindicalismo”.<br />

No Grande ABC, havia intensa mobilização<br />

da classe trabalhadora, segmentos<br />

da Igreja Católica, movimentos<br />

populares e sociais. Nosso objetivo é<br />

destacar a participação das mulheres<br />

operárias nesse período. Tal resgate<br />

contribui para desvendar sua atuação<br />

como protagonistas nesse processo,<br />

discutindo-se a relação entre o processo<br />

de trabalho industrial e a baixa<br />

participação das operárias no movimento<br />

sindical.<br />

O método passa por referencial<br />

que discute as inovações tecnológicas,<br />

os processos industriais e a participação<br />

das mulheres enquanto força<br />

de trabalho no movimento operário.<br />

Passa também pelo diálogo com as<br />

comissões de mulheres <strong>dos</strong> principais<br />

sindicatos do Grande ABC (Químicos,<br />

Metalúrgicos e Costureiras), compondo<br />

uma reflexão exploratória sobre a<br />

organização e a gestão das relações<br />

de trabalho das mulheres, analisando<br />

as dificuldades, limites e avanços nos<br />

acor<strong>dos</strong> coletivos.<br />

PaLaVras-ChaVe: relações de gênero,<br />

reestruturação produtiva, trabalho<br />

feminino.<br />

16 ARTIGO<br />

The 80’s and 90’s meant a<br />

great political and social changes<br />

period, with the rise of “New Syndicalism”.<br />

In Grande ABC region, there<br />

was intense worker’s class mobilization,<br />

social and popular movements<br />

and segments of Catholic Church. Our<br />

goal presenting this research is to<br />

highlight the participation of female<br />

workers during this period. This recovery<br />

contributes to show women’s<br />

participation on this process, discussing<br />

the relation between the process<br />

of industrial work and the low participation<br />

of female workers in the labor<br />

union movement.<br />

The method acts as a referential<br />

to discuss technological innovation,<br />

industrial processes and women participation<br />

as workforce on labor union<br />

movement. It also includes conversations<br />

to women boards of the main<br />

labor unions in Grande ABC region<br />

(chemical, metallurgical and textile),<br />

taking us to an explorative thought<br />

about organization and management<br />

of women work relations, analyzing<br />

the difficulties, limits and advances in<br />

collective agreements.<br />

KeYWOrDs: gender relations, productive<br />

restructuring, women work.<br />

* Socióloga, mestranda em Administração pela Universidade IMES; presidente da Câmara Municipal de<br />

Santo André (2003/2004) e vice-prefeita de Santo André (2005-2008).<br />

** Engenheiro de produção, doutor em Política Científica e Tecnológica, professor do Programa de Mestrado<br />

em Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (IMES); diretor adjunto de<br />

Desenvolvimento Industrial da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).


1. reesTrUTUraÇÃO PrODUTIVa e reLa-<br />

ÇÕes De GÊnerO<br />

Reestruturação produtiva pode<br />

ser definida como um processo de mudanças<br />

tecnológicas (automação, informática,<br />

microeletrônica, novos modelos de gerenciamento)<br />

para atingir maior flexibilidade<br />

e integração do sistema produtivo, visando<br />

aumentos de produtividade e/ou competitividade.<br />

De acordo com Almeida Neto (2003,<br />

p. 60-61), são características das indústrias<br />

que adotaram tal processo:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

e)<br />

f)<br />

g)<br />

h)<br />

Integração de fluxos produtivos (internos<br />

e externos), utilizando-se de méto<strong>dos</strong><br />

específicos (just-in-time, kanban) e<br />

também da informática e telemática<br />

para a gestão de informações;<br />

Elevado grau de automação flexível,<br />

utilizando-se de equipamentos CNC,<br />

controladores lógico-programáveis, sistemas<br />

CAD/CAM e robôs, entre outros;<br />

Terceirização das atividades de apoio<br />

à produção;<br />

Redução <strong>dos</strong> níveis hierárquicos;<br />

Intensificação de programas de treinamento<br />

(operacional e comportamental)<br />

para seus funcionários;<br />

Implantação de grupos de trabalho e/<br />

ou células de produção que exploram<br />

atividades polivalentes com (ou sem)<br />

determinado grau de autonomia na<br />

condução <strong>dos</strong> processos produtivos;<br />

Em determina<strong>dos</strong> casos, a reaproximação<br />

entre concepção e execução<br />

do trabalho;<br />

Atenção à qualidade tanto do produto<br />

quanto do processo de trabalho,<br />

com base em sistemas e normas de<br />

qualidade (ISO 9.000 e ISO 14.000).<br />

Tais modelos de organização do trabalho<br />

visam, evidentemente, à melhoria do<br />

desempenho do sistema produtivo. Muitas<br />

das empresas que aderem aos novos méto<strong>dos</strong><br />

de produção parecem somente buscar uma<br />

expressiva redução de custos sem considerar<br />

a necessidade de tornarem-se competitivas<br />

mediante inovações tecnológicas. Nesta linha<br />

de raciocínio, ressaltamos ser fundamental a<br />

implantação de mudanças também nas práticas<br />

de organização e gestão do trabalho, de<br />

maneira a garantir a integração <strong>dos</strong> trabalhadores<br />

nos grupos de qualidade, valorizando e<br />

considerando suas sugestões. Destaca-se tam-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

bém o investimento em qualificação, observando<br />

inclusive a necessidade do ensino básico,<br />

na busca de uma estabilização da força<br />

de trabalho, uma atenção, portanto, maior<br />

aos trabalhadores, os grandes conhecedores<br />

de cada detalhe do processo de produção, e<br />

podem dar uma grande contribuição ao processo<br />

de inovação no interior da empresa.<br />

Com o advento <strong>dos</strong> novos modelos<br />

produtivos percebemos também a proliferação<br />

de estu<strong>dos</strong> acadêmicos, publicações e<br />

pesquisas produzidas por uma gama diversificada<br />

de autores, que, na sua grande maioria,<br />

ignoram as relações de gênero na esfera<br />

do trabalho. Conforme Helena Hirata (1998),<br />

os impactos da reestruturação produtiva ganham<br />

dimensões diferenciadas para homens<br />

e mulheres: para as mulheres, a existência de<br />

postos de trabalho qualifica<strong>dos</strong> está diretamente<br />

associada à precarização do conjunto<br />

da força de trabalho feminina. A introdução<br />

de novas tecnologias tanto pode incorporar<br />

parte do trabalho feminino como também<br />

pode reforçar a marginalização das mulheres<br />

não-qualificadas, dificultando ainda mais<br />

sua entrada no mercado de trabalho formal.<br />

Em contrapartida, os postos de trabalho mais<br />

complexos são em número bastante limitado<br />

e preenchi<strong>dos</strong> majoritariamente por homens;<br />

muitas vezes o seu aperfeiçoamento não se<br />

traduz em mudanças significativas para as<br />

mulheres, particularmente no que diz respeito<br />

a uma maior ênfase na qualificação. Nesse<br />

sentido, muitas vezes, os sistemas produtivos<br />

mais automatiza<strong>dos</strong> e integra<strong>dos</strong> não se diferenciam<br />

do modelo taylorista-fordista, pois as<br />

práticas de organização e gestão continuam<br />

conduzindo trabalhadores e trabalhadoras a<br />

uma maior intensificação do trabalho, com<br />

conseqüências prejudiciais à saúde.<br />

No que se refere às mulheres,<br />

nota-se que, em muitas situações de trabalho,<br />

as mesmas estão mais sujeitas às cadências<br />

e ritmos que os homens; nesse sentido,<br />

as mulheres continuam exercendo tarefas<br />

monótonas e repetitivas, sob o rigor, cada<br />

vez mais intenso, do controle de tempo e<br />

da implantação de normas disciplinares nas<br />

linhas de montagem.<br />

Também as políticas de recursos<br />

humanos das empresas são voltadas exclusivamente<br />

para o aumento de produtividade,<br />

não considerando as mulheres tanto no<br />

planejamento como no desenvolvimento de<br />

políticas de valorização e profissionalização,<br />

como destaca Abramo (1997). Para as em-<br />

17


presas as mulheres sempre “estão de passagem”,<br />

meramente rotuladas como “reprodutoras”.<br />

Por tal motivo, muitas mulheres<br />

na década de 1980 omitiam seu estado civil<br />

e/ou condição de maternidade para adentrar<br />

ou permanecer no mercado de trabalho,<br />

perdendo os benefícios a que teriam<br />

direito seus filhos e filhas.<br />

A referida pesquisa de Abramo<br />

(1997) sobre estratégias gerenciais dirigidas<br />

ao trabalho feminino (em indústrias metalúrgicas<br />

e alimentícias) constata que as políticas<br />

são limitadas e, quando existem, estão<br />

focadas na diminuição <strong>dos</strong> problemas entre<br />

a articulação da vida doméstica e o trabalho<br />

remunerado, focalizando creches, licenças<br />

maternidade e paternidade, ou doença <strong>dos</strong><br />

filhos. De acordo com a autora, a maioria<br />

das indústrias limitava-se então, a cumprir<br />

minimamente a legislação existente sobre o<br />

tema, sem preocupar-se com o debate ou a<br />

implantação de novos benefícios.<br />

As iniciativas de programas dirigi<strong>dos</strong><br />

à incorporação da mulher aos novos<br />

modelos produtivos e a conseqüente<br />

promoção do seu desenvolvimento profissional<br />

são ainda raras. Neste contexto,<br />

consolida-se uma divisão sexual de papéis,<br />

configurando-se uma situação de desigualdade<br />

em relação aos homens, no mercado<br />

de trabalho, além de maior vulnerabilidade<br />

ao desemprego, instabilidade, menores salários,<br />

e dupla jornada com a sobreposição<br />

de atividades domésticas e profissionais.<br />

1 ARTIGO<br />

A compreensão sobre a divisão sexual<br />

de trabalho ultrapassa os muros das fábricas<br />

e exige explicação mais ampla, pois as<br />

relações de poder que ocorrem dentro das<br />

indústrias são realidade também no interior<br />

da família, bem como nas relações sociais e<br />

políticas. Por um lado, o aprendizado através<br />

do trabalho doméstico não é considerado<br />

para a participação mais efetiva da mulher<br />

no mercado de trabalho. Por outro, o trabalho<br />

feminino é preferido nas fábricas para o<br />

cumprimento de afazeres que, supostamente,<br />

demandam destreza, disciplina, rapidez,<br />

esforço, atenção, paciência e minúcia.<br />

No que diz respeito ao trabalho<br />

feminino ainda, retomando-se o foco do<br />

trabalho desenvolvido por Quadros (1995)<br />

sobre a capacitação tecnológica limitada da<br />

indústria brasileira, lembramos o argumento<br />

do autor sobre a cristalização de práticas<br />

empresariais convencionais de organização<br />

e gestão do trabalho, que restringem a integração<br />

<strong>dos</strong> trabalhadores no processo de<br />

aprendizagem tecnológica e inovação.<br />

No caso das mulheres, o vínculo<br />

entre tecnologia, estratégias de acumulação,<br />

e a exigência de determina<strong>dos</strong> níveis<br />

de qualificação em boa medida dificultam<br />

sua permanência no mercado de trabalho.<br />

Outro aspecto a ser ressaltado é a desigualdade<br />

salarial existente entre homens e<br />

mulheres exercendo a mesma função, desigualdade<br />

intensificada no decorrer do tempo,<br />

e comprovada pelo quadro abaixo, com<br />

da<strong>dos</strong> recentes do Censo 2000.<br />

Valor do rendimento médio e mediano <strong>dos</strong> responsáveis pelos domícilios<br />

particulares permanentes, por sexo do responsável - Censo 2000<br />

municípios<br />

Valor do rendimento mensal do responsável pelos<br />

domicílios, por sexo, do responsável (em R$)<br />

Médio Mediano<br />

Masculino Feminino Diferença<br />

(em %)<br />

Masculino Feminino<br />

Diferença<br />

(em %)<br />

Estado de São Paulo 1.167 784 32,8 600 400 33,3<br />

região do Grande aBC 1.12 64 42,6 720 400 44,4<br />

Santo André 1.340 747 44,3 800 423 47,1<br />

São Bernardo do Campo 1.389 829 40,3 800 476 40,5<br />

São Caetano do Sul 1.997 977 51,1 1.100 570 48,2<br />

Diadema 783 492 37,2 560 350 37,5<br />

Mauá 785 482 38,6 600 320 46,7<br />

Ribeirão Pires 968 589 39,2 675 370 45,2<br />

Rio Grande da Serra<br />

Fonte:IBGE/Censo 2000.<br />

637 420 34,1 500 300 40,0


2. sInDICaTO e reLaÇÕes De GÊnerO<br />

Hirata (1998) destaca ainda que a<br />

problemática envolvendo mulher e trabalho<br />

aparece timidamente no Brasil, no final<br />

da década de 1970, com destaque para um<br />

campo restrito em alguns sindicatos de São<br />

Paulo, articulando três fatores centrais:<br />

a.<br />

b.<br />

c.<br />

A mudança na composição da força<br />

de trabalho;<br />

Desenvolvimento de novas práticas<br />

nos movimentos operário e sindical;<br />

A emergência <strong>dos</strong> movimentos populares<br />

de mulheres e de uma corrente<br />

feminista de influência no país.<br />

Neste período, o trabalho industrial<br />

é marcado por dupla mudança: o aumento<br />

global da porcentagem de operárias<br />

e a modificação na distribuição das mulheres<br />

nos diversos ramos industriais, conforme os<br />

da<strong>dos</strong> nacionais relativos à Pesquisa Nacional<br />

por Amostra de Domicílios PNAD (IBGE),<br />

de 1999.<br />

Paticipação da mão-de-obra feminina no setor<br />

industrial em são Paulo.<br />

1980<br />

1970<br />

24,5%<br />

18,8%<br />

Segundo os indicadores sistematiza<strong>dos</strong><br />

pelo Dieese (2001) na publicação intitulada<br />

“A situação do trabalho no Brasil”,<br />

verifica-se o crescimento da participação feminina<br />

na PEA brasileira. De 30,9% em 1973<br />

(cerca de 11 milhões de mulheres), o percentual<br />

eleva-se para 41% em 1999, correspondendo<br />

a 32,8 milhões de trabalhadoras<br />

(DIEESE, 2001:104-5). Em seis regiões metropolitanas<br />

(Belo Horizonte, Distrito Federal,<br />

Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo),<br />

cujos indicadores de desemprego são levanta<strong>dos</strong><br />

pela entidade, encontrava-se praticamente<br />

a metade dessa população (16,2<br />

milhões de trabalhadoras), representando<br />

44,6% da PEA (DIEESE, 2001:107).<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

Todavia, os da<strong>dos</strong> relativos às pesquisas<br />

de emprego e desemprego do Dieese<br />

nessas regiões metropolitanas apontavam<br />

uma situação mais crítica sob a perspectiva<br />

feminina. As mulheres representavam<br />

43,2% (5,6 milhões) do contingente de trabalhadores<br />

ocupa<strong>dos</strong> em 1999, e 50,5% <strong>dos</strong><br />

desemprega<strong>dos</strong> (1,65 milhão de trabalhadoras),<br />

com taxas de desemprego situadas<br />

entre 20% e 30%, superando em cerca de 5<br />

pontos percentuais as taxas masculinas nas<br />

respectivas regiões metropolitanas, e em 3<br />

pontos percentuais as taxas médias (DIEESE,<br />

2001:109-11).<br />

De acordo com a entidade, essas<br />

“altas taxas de desemprego feminino resultam,<br />

em grande parte, da dificuldade imposta<br />

pelas empresas para contratá-las. Os<br />

empresários, com freqüência, alegam altos<br />

custos relaciona<strong>dos</strong> à manutenção de mulheres<br />

no emprego devido ao risco de engravidarem...<br />

Colocam obstáculos também<br />

frente à obrigatoriedade de concederem<br />

alguma flexibilidade nos horários da mãe<br />

para que possam amamentar seus filhos nos<br />

seis primeiros meses de vida, e (...) arcar com<br />

os custos de manutenção de creche onde as<br />

crianças fiquem no horário de trabalho da<br />

mãe” (DIEESE, 2001:111).<br />

O levantamento da situação das<br />

mulheres no mercado de trabalho – condições<br />

de trabalho e salários, principalmente<br />

– ficou relegado a um plano secundário,<br />

diante das principais reivindicações daquele<br />

momento, o que pode ter contribuído para<br />

o aprofundamento da invisibilidade do trabalho<br />

feminino. Do mesmo modo, a organização<br />

tradicional do processo de trabalho,<br />

combinada com a exclusão das mulheres do<br />

mercado formal, pode ter sido reforçada<br />

pelas diretorias sindicais, majoritariamente<br />

masculinas, e sem uma política claramente<br />

elaborada que incorporasse as mulheres no<br />

cotidiano sindical. Se não havia incentivo<br />

ou suporte para o envolvimento de mulheres<br />

nas atividades sindicais dentro das fábricas<br />

(através das CIPAs e das comissões de<br />

fábricas), ainda mais restrito se mostrava o<br />

acesso aos cargos de direção <strong>dos</strong> sindicatos,<br />

reforçando-se a divisão sexual do trabalho,<br />

e mitigando a luta pela igualdade de oportunidades<br />

entre homens e mulheres.<br />

As limitadas participação e intervenção<br />

das mulheres no movimento sindical,<br />

inclusive nas mesas de negociação coletiva,<br />

podem ter concorrido para relegar a<br />

19


um plano inferior a discussão sobre as condições<br />

do trabalho feminino, que poderia<br />

possibilitar mudanças tanto nos processos<br />

de trabalho como no conjunto de direitos.<br />

Portanto, é importante destacar<br />

que as mulheres carregam consigo uma história<br />

de exclusão e de restrito acesso à vida<br />

pública. Um aspecto dessa exclusão é a invisibilidade<br />

de sua história de vida, das relações<br />

de poder que as envolvem, e do próprio<br />

trabalho feminino. Maria Valeria Pena<br />

(1981, p. ) mostra que essa dificuldade de se<br />

reconhecer as mulheres como atrizes políticas<br />

é histórica, lembrando que a dominação<br />

masculina na família e a limitação da participação<br />

feminina foram asseguradas pelo<br />

Estado, através da instituição do Código Civil,<br />

em 1915, e pela Consolidação das Leis<br />

do Trabalho, em 1943. O Estado brasileiro<br />

agiu para regular e disciplinar as relações de<br />

produção e organizou o seu discurso sobre<br />

a mulher através da legislação, delimitando<br />

sua participação nas organizações sindicais<br />

e partidárias, bem como situando, naquele<br />

momento, o trabalho doméstico e a reprodução<br />

como principais funções da mulher<br />

na sociedade fabril.<br />

O destaque de Elizabeth Lobo<br />

(1991, p.) ao episódio da discussão sobre<br />

a revogação do trabalho noturno das<br />

mulheres na década de 1970, no Sindicato<br />

<strong>dos</strong> Metalúrgicos de São Bernardo do<br />

Campo e Diadema, também demonstra a<br />

grande distância entre os discursos e as<br />

práticas sindicais. Através da sua imprensa<br />

sindical, o Sindicato <strong>dos</strong> Metalúrgicos<br />

de São Bernardo e Diadema, afirma que<br />

”não vê nenhuma razão que justifique a<br />

intensificação da exploração da mulher<br />

pelo aumento de sua jornada de trabalho<br />

e colocando-a no exercício de atividades<br />

inadaptadas à sua constituição física, num<br />

momento em que homens lutam para melhorar<br />

suas condições de emprego e seus<br />

salários. É como se enviassem as mulheres<br />

à fábrica e os mari<strong>dos</strong> ficassem em casa.<br />

Uma estúpida inversão de papéis” (Tribuna<br />

Metalúrgica, abril de 1977).<br />

Daí nossa preocupação em voltar<br />

os olhos ao trabalho feminino e às trabalhadoras<br />

operárias, destacando algumas experiências.<br />

Dentre essas, vale nos determos no<br />

processo de trabalho da empresa Valisère<br />

na sua relação com o Sindicato das Costureiras<br />

do ABC, cuja diretoria é composta por 16<br />

pessoas – das quais 14 são mulheres e dois<br />

20 ARTIGO<br />

homens, e onde as mulheres ocupam os cargos<br />

de maior destaque.<br />

Quanto ao processo de trabalho na<br />

referida empresa, a partir de entrevista com<br />

a Diretoria do Sindicato, verifica-se que, a<br />

partir de 1989, passou do sistema individual<br />

para células de produção. No processo individual,<br />

cada trabalhadora controlava a sua<br />

produção, isto é, cada uma fazia uma parte<br />

do trabalho, já no sistema atual, o trabalho<br />

é realizado por um grupo (em média de<br />

dez mulheres), que num trabalho coletivo,<br />

concluem todas as etapas de produção, cuja<br />

produtividade é mensurada por grupo e não<br />

individualmente. O salário é composto de<br />

duas variáveis: uma remuneração fixa igual<br />

(piso salarial) para todas as trabalhadoras e<br />

um prêmio de produção (com base nas metas<br />

de produção alcançadas pelo grupo).<br />

Na opinião da diretora do sindicato,<br />

tal sistema de produção gera conflitos<br />

internos no grupo, pois as trabalhadoras<br />

assumem simultaneamente o trabalho e<br />

o gerenciamento da célula de produção,<br />

fiscalizando inclusive umas às outras. Por<br />

exemplo, quando uma trabalhadora precisa<br />

faltar para levar o filho ao médico, sua ausência<br />

é cobrada pelas demais, pois o grupo<br />

acaba perdendo.<br />

Já na opinião de uma operária da<br />

fábrica, o sistema de produção em células é<br />

positivo, uma vez que possibilita que algumas<br />

trabalhadoras, que teriam dificuldades<br />

em atingir a meta no sistema individual,<br />

possam, assim, melhorar sua remuneração:<br />

“...a gente, pegando com garra, consegue<br />

tirar mais” (sic). Por outro lado, ela também<br />

menciona que tem mulheres que são “moles<br />

e atrapalham o grupo” (sic).<br />

A representante do sindicato destacou<br />

o fato da empresa já ter definido<br />

previamente suas metas de produção mensal,<br />

quando esta meta está próxima de ser<br />

alcançada, diminui-se o ritmo para que os<br />

grupos não ultrapassem o limite idealizado.<br />

Ressaltamos nesse fato, que o poder de decisão<br />

quanto à produtividade – ao contrário<br />

do que parece – não está sob o controle das<br />

trabalhadoras.<br />

A posição do Sindicato, quanto<br />

à remuneração por prêmios de produção,<br />

sempre foi contrária (tanto no sistema individual,<br />

como no sistema de células de<br />

produção), por entender que ambos exigem<br />

um ritmo muito intenso de trabalho<br />

que resulta em doenças ocupacionais (es-


tresse, LER, varizes, problemas na coluna,<br />

entre outras). Essa questão foi objeto de<br />

muitas manifestações do Sindicato, inclusive<br />

com propostas de inclusão de cláusulas<br />

nos Acor<strong>dos</strong> Coletivos – sem muitos avanços<br />

até o momento.<br />

Outro fato, levantado pela diretora<br />

do Sindicato, são as denúncias de assédio<br />

moral:<br />

“A humilhação que as trabalhadoras<br />

passam é muito grande, muitas vezes,<br />

elas têm dores, mas não revelam, com<br />

medo de perder o emprego. Porque,<br />

logo que a empresa percebe que está<br />

ficando com problemas de saúde, ela<br />

demite, antes que o diagnóstico seja<br />

doença ocupacional e entrem em processo<br />

de tratamento”.<br />

Destaca ainda que as encarregadas<br />

amedrontam as operárias, colocando<br />

sempre a possibilidade de uma substituição<br />

imediata, quando adoecerem – uma constante<br />

pressão psicológica:<br />

“A Valisère é uma fábrica de lesionadas,<br />

as pessoas saem daqui, muitas<br />

vezes, doentes e não arrumam outro<br />

emprego”.<br />

Uma iniciativa importante, mencionada<br />

pela diretora, foi um estudo realizado<br />

pelo Dieese (década de 1990) para detectar<br />

os problemas decorrentes desse sistema de<br />

produção na Valisère, e subsidiar as intervenções<br />

do Sindicato 1 . Além <strong>dos</strong> fatos expostos,<br />

convém acrescentar o exemplo da Linha<br />

Marítima (roupas de praia da Valisère), que<br />

utiliza o mesmo processo de células de produção,<br />

adicionando um outro incentivo que<br />

é o sistema da bandeira, pelo qual a célula<br />

que atinge a meta de produção levanta uma<br />

bandeira, visível por toda a fábrica, provocando<br />

disputa e concorrência entre as trabalhadoras,<br />

e agravando ainda mais os problemas<br />

anteriormente aponta<strong>dos</strong>.<br />

Dos 186 cargos de direção do Sindicato<br />

<strong>dos</strong> Metalúrgicos do Grande ABC, apenas<br />

oito são ocupa<strong>dos</strong> por mulheres. Considerando<br />

que, na categoria, o percentual<br />

de mulheres é de 10%, uma representação<br />

claramente insuficiente. A diretora deste<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

sindicato mostrou-se otimista quanto ao aumento<br />

da participação feminina na próxima<br />

direção do sindicato, que tem trabalhado na<br />

implantação de uma política sindical específica<br />

para incentivo ao envolvimento das mulheres<br />

nas várias instâncias sindicais (CIPA,<br />

Comissão de Fábrica, Sindicato), destaca ainda<br />

que tem percebido resulta<strong>dos</strong> positivos, e<br />

que “...pela experiência aprendemos que é<br />

importante envolver os companheiros, que<br />

não podem ficar alheios ao movimento”.<br />

Quanto aos problemas específicos<br />

das mulheres metalúrgicas, destacou: dupla<br />

jornada de trabalho, responsabilidade<br />

com o cuidado <strong>dos</strong> filhos e filhas, precárias<br />

condições de trabalho, doença ocupacional<br />

(LER), ritmo acelerado de trabalho e falta<br />

de investimento das empresas na qualificação<br />

das trabalhadoras. No que se refere<br />

aos avanços conquista<strong>dos</strong>, estão restritos ao<br />

auxílio creche (para crianças de até um ano<br />

de idade) e um dia remunerado para exame<br />

médico preventivo (câncer ginecológico).<br />

Em conversa com as dirigentes<br />

do Sindicato <strong>dos</strong> Químicos do ABC, percebe-se<br />

que a participação das mulheres na<br />

direção do sindicato também é pequena;<br />

eis que, <strong>dos</strong> 47 diretores, apenas cinco são<br />

mulheres. A situação das trabalhadoras<br />

da categoria química não é diferente das<br />

demais: pouca participação feminina nos<br />

cargos de direção, o trabalho das mulheres<br />

nas empresas é marcado por atividades<br />

repetitivas (baixos salários e pouca qualificação),<br />

incidência considerável de doenças<br />

profissionais (LER) e poucos avanços<br />

nos Acor<strong>dos</strong> Coletivos – no que se refere<br />

às cláusulas específicas do trabalho feminino.<br />

Vale destacar uma ação eficaz que<br />

garantiu a manutenção do emprego das<br />

trabalhadoras da Kolynos – num momento<br />

de inovação tecnológica, onde a intenção<br />

da empresa era substituir o trabalho feminino<br />

pelo masculino, a partir da chegada<br />

de novas máquinas.<br />

Os registros acima vão, deste<br />

modo, ao encontro das análises de Bresciani<br />

e Tadashi Oda (2003) sobre a categoria<br />

metalúrgica, e de Schutte e Coelho (2003),<br />

a respeito da categoria química no ABC, no<br />

que concerne à existência de cláusulas relacionadas<br />

ao trabalho feminino nas pautas e<br />

acor<strong>dos</strong> coletivos nos referi<strong>dos</strong> segmentos.<br />

1 Esse processo está documentado no artigo Vestuário: uma luta contra o tempo, publicado pelo<br />

Dieese.<br />

21


Schutte e Coelho (2003:52-3)<br />

concluem:<br />

“No que diz respeito às questões de<br />

raça e gênero, (...) que esses temas<br />

não foram trata<strong>dos</strong> como questões<br />

prioritárias. (...) Na questão da mulher<br />

trabalhadora, faltou uma presença de<br />

mulheres líderes na diretoria na militância<br />

[sic] que pudessem insistir nesse<br />

ponto. Não obstante, a realidade em<br />

várias empresas, como a questão das<br />

LER/Dort entre as mulheres da Kolynos,<br />

suscitou respostas específicas.<br />

Contudo, nos acor<strong>dos</strong> por empresa<br />

não houve nenhuma atenção para<br />

essa questão, embora nas negociações<br />

da convenção coletiva se tenha avançado<br />

bem além <strong>dos</strong> direitos garanti<strong>dos</strong><br />

na lei, como comprovam as conquistas<br />

relativas à extensão do direito ao auxílio-creche<br />

– que é uma grande preocupação<br />

das mulheres trabalhadoras<br />

jovens com filhos recém-nasci<strong>dos</strong> –, à<br />

licença para empregada adotante, à<br />

garantia de emprego após aborto e à<br />

proibição de discriminação salarial em<br />

razão de raça e sexo”.<br />

Apesar dessa consideração, os autores<br />

notam que “a ênfase na saúde e na<br />

organização do tempo de trabalho permitiu<br />

ao Sindicato contrapor-se à ideologia<br />

com a qual as empresas querem impor<br />

sua reestruturação, classificando qualquer<br />

oposição por parte <strong>dos</strong> sindicatos como<br />

conservadora e retrógrada”, apontando<br />

a resistência das empresas para negociar<br />

mudanças orientadas à geração de empregos<br />

e à melhoria das condições de trabalho<br />

(Schutte e Coelho, 2003:53).<br />

Em relação aos metalúrgicos, Bresciani<br />

e Oda (2003:58-9) registram as cláusulas<br />

mais relevantes inscritas no acordo das<br />

montadoras e relacionadas à questão de<br />

gênero: auxílio-creche, licença para mulheres<br />

adotantes, e recomendação de maiores<br />

oportunidades para garotas aprendizes nos<br />

cursos do Senai realiza<strong>dos</strong> junto às empresas;<br />

além disso, a convenção reproduz itens<br />

constitucionais como a licença-maternidade<br />

e garantia de emprego à gestante. Uma<br />

22 ARTIGO<br />

série de outros itens incluí<strong>dos</strong> na pauta de<br />

2001 da Federação <strong>dos</strong> Metalúrgicos cutista<br />

em São Paulo, todavia, segue ausente das<br />

convenções coletivas 2 .<br />

. COnsIDeraÇÕes FInaIs<br />

O Grande ABC é considerado<br />

como a principal região industrial do país,<br />

e também uma referência de luta e resistência<br />

de trabalhadores e trabalhadoras na<br />

conquista de direitos. Com muita luta, as<br />

mulheres têm ampliado seu espaço de participação<br />

na sociedade.<br />

No entanto, esse avanço não foi<br />

significativo no movimento sindical do Grande<br />

ABC, que ainda convive com uma parcela<br />

muito pequena de mulheres nas suas direções.<br />

Essa participação acanhada se reflete<br />

nos Acor<strong>dos</strong> Coletivos, onde as principais<br />

reivindicações das mulheres são pouco consideradas,<br />

ou sequer citadas, comprovando<br />

a invisibilidade do trabalho e da presença<br />

das mulheres. As exigências, o rigor na avaliação<br />

das mulheres que poderiam compor<br />

instâncias de direção e responsabilidade é<br />

sempre muito maior que aqueles destina<strong>dos</strong><br />

aos homens. Nos sindicatos em que tradicionalmente<br />

os homens compõem a maioria<br />

das instâncias de direção, as mulheres sempre<br />

são avaliadas na sua competência para<br />

tarefas sindicais.<br />

Essa realidade se traduz dentro das<br />

fábricas, onde as mudanças na organização<br />

do trabalho e os impactos da reestruturação<br />

produtiva têm sido acompanha<strong>dos</strong> de uma<br />

precarização da força de trabalho feminino.<br />

Nesse sentido, a automação e o sistema justin-time<br />

se aproximam da organização taylorista/fordista,<br />

pois continuam conduzindo<br />

trabalhadores e trabalhadoras a uma maior<br />

intensificação do trabalho com conseqüência<br />

inclusive para a saúde das mulheres que<br />

estão mais sujeitas que os homens a cadências<br />

e ritmos.<br />

Em especial, a introdução de novas<br />

tecnologias tanto tem incorporado parte<br />

do trabalho feminino como reforçado a<br />

marginalização das mulheres não-qualificadas.<br />

As eventuais estratégias gerenciais de<br />

valorização e profissionalização voltadas à<br />

mulher são limitadas e, quando existem,<br />

2 Dentre outras, o conjunto inclui a igualdade de oportunidades, a equivalência salarial para a<br />

mesma função, o impedimento ao controle de fertilidade por parte da empresa, a extensão para<br />

os homens da licença para adotantes.


estão focadas na diminuição <strong>dos</strong> problemas<br />

entre a articulação da vida doméstica<br />

e o trabalho remunerado.<br />

Considerando o avanço das inovações<br />

tecnológicas, acompanhadas por uma<br />

mudança na organização e nos processos de<br />

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Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

trabalho, é fundamental reavaliar-se as políticas<br />

existentes e propor alternativas que<br />

promovam a igualdade de oportunidade,<br />

entre homens e mulheres, numa responsabilidade<br />

partilhada entre sindicatos, empresários<br />

e poder público.<br />

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São Paulo: Dieese, 1994.<br />

2


as MULheres Da seGUranÇa UrBana: a GUarDa<br />

CIVIL MUnICIPaL FeMInIna De sanTO an<strong>Dr</strong>É<br />

Heleni B. F. de Paiva Lino*; <strong>Prof</strong>a. <strong>Dr</strong>a. Carla Cristina Garcia** e<br />

<strong>Prof</strong>a. <strong>Dr</strong>a. Priscila Ferreira Perazzo***<br />

resUMO aBsTraCT<br />

A presença feminina nas polícias<br />

brasileiras teve início no Brasil em<br />

1955, quando foi instituído um corpo<br />

de guardas civis, incorporado em 1970<br />

à Polícia Militar do Estado de São Paulo.<br />

Com objetivo de cobrirem áreas de<br />

atuação em que o policiamento repressivo<br />

encontrava dificuldades, como<br />

crianças e i<strong>dos</strong>os abandona<strong>dos</strong> ou, mulheres<br />

e adolescentes autores de infrações.<br />

Foram incorporadas à instituição<br />

por serem dóceis, versáteis e de melhor<br />

trato com a população. Seguindo a<br />

mesma concepção da Polícia Militar,<br />

a Guarda Civil Municipal de Santo André,<br />

em 1989, incorporou ao seu efetivo<br />

a presença feminina. Examinar o seu<br />

cotidiano, as relações de gênero, a sua<br />

percepção acerca da discriminação é o<br />

escopo do texto apresentado.<br />

PaLaVras-ChaVe: polícia, relações de<br />

gênero, gestão de segurança pública.<br />

24 ARTIGO<br />

Women presence in Brazilian<br />

police has begun in 1955, when<br />

a group of civil guards was incorporated,<br />

in 1970, to the Military Police<br />

of São Paulo. Aiming to cover areas of<br />

performance where the repressive police<br />

met difficulties, as aged and children<br />

abandoned, women and adolescents<br />

authors of infractions, women<br />

were incorporated to the institution<br />

once they were docile, versatile and<br />

of better treatment with the population.<br />

Following the same thought<br />

of the Military Policy, the Municipal<br />

Civil Guard of Santo André, in 1989,<br />

incorporated its cash to the women<br />

presence. Examining their daily routine,<br />

gender relations and perception<br />

about discrimination is the target of<br />

this present paper.<br />

KeYWOrDs: police, gender relations,<br />

public security management.<br />

*Mestranda em Administração da Universidade IMES e professora de Direito Constitucional e Direito do<br />

Trabalho da UNIA.<br />

**Doutora em Ciências Sociais, com pós-doutorado em Sociologia Política no Instituto Mora/México;<br />

professora da Universidade IMES e da PUC-SP.<br />

***Doutora em História e professora do PMA da Universidade IMES.


1. InTrODUÇÃO<br />

A presença feminina nas policias<br />

brasileiras não é recente. Em 1955, o Estado<br />

de São Paulo instituiu um corpo feminino<br />

de guardas civis que, em 1970, foi incorporado<br />

à Policia Militar do Estado. Embora<br />

a base legal para a admissão de mulheres<br />

tenha sido estabelecida ainda no período<br />

autoritário, por meio de portarias do Estado-Maior<br />

do Exército, a criação efetiva<br />

<strong>dos</strong> corpos femininos quase sempre ocorreu<br />

durante a fase de abertura política ou<br />

mesmo após a redemocratização do país.<br />

Desse modo, somente nos anos 1980, com<br />

o fim da ditadura militar, houve a efetiva<br />

incorporação de mulheres nas polícias de<br />

diversos esta<strong>dos</strong> da nação, “visando originalmente<br />

cobrir certas áreas de atuação<br />

em que o policiamento essencialmente repressivo,<br />

estaria encontrando dificuldades<br />

no trato com crianças abandonadas, ou<br />

com mulheres e adolescentes autores de<br />

infrações” (Soares, 2004, p.1).<br />

Deve-se ressaltar, no entanto, que<br />

sua participação no contingente total das<br />

PMs é de apenas 6%, enquanto, na Polícia<br />

Federal, é de 10% e, nas guardas municipais,<br />

é de 11%, alcançando 19% nas Polícias Civis.<br />

Alguns estudiosos apontam o<br />

fato de que tal incorporação não respondeu<br />

a uma demanda da sociedade, como<br />

no caso das Delegacias Especiais da Mulher<br />

ou na Polícia Civil, resultado de iniciativas<br />

e cobranças do movimento feminista, que<br />

tinha como finalidade dar atendimento<br />

especializado, prestado, sobretudo, por<br />

policiais civis femininas, às mulheres vítimas<br />

de violência:<br />

“Não há registro de mobilização social<br />

equivalente, no que se referem as<br />

PMs: nem demanda de serviços específicos<br />

que seriam mais bem desempenha<strong>dos</strong><br />

por mulheres, nem pressões<br />

para a democratização de um espaço<br />

profissional até então exclusivamente<br />

masculino. Tudo indica que a inclusão<br />

do contingente feminino teve origem<br />

em motivações internas nas próprias<br />

policias militares e/ou nos respectivos<br />

governos estaduais, antes, que em<br />

apelos diretos da sociedade civil ou<br />

da chamada opinião pública” (Soares<br />

e Musumeci, 2005, p.16).<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

Para Soares e Musumeci (2005),<br />

havia, aparentemente, um desejo de “humanizar”<br />

a imagem da polícia, fortemente<br />

associada à ditadura – desejo que teria levado,<br />

por exemplo, à introdução de disciplinas<br />

de direitos humanos nos currículos<br />

policiais. Por outro lado, mesmo com a<br />

redemocratização política do país, o aparelho<br />

de segurança pública não passava (e<br />

não passou até hoje) por nenhuma mudança<br />

paradigmática em sua estrutura, que associasse<br />

a incorporação de mulheres a um<br />

processo mais amplo de reformas. Apesar<br />

<strong>dos</strong> intensos debates, não houve ainda projetos<br />

que consiguissem adequar as polícias<br />

à democracia que, segundo Luiz Eduardo<br />

Soares (2000), foi a única das instituições<br />

nacionais que não foi reformada após o<br />

fim da ditadura.<br />

De acordo com Soares e Musumeci<br />

(2005), na falta de uma elaboração explícita,<br />

pode-se inferir algumas motivações<br />

subjacentes, examinando-se as listagens<br />

das atividades previstas para os efetivos<br />

femininos das polícias da maioria <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>.<br />

Não se trata necessariamente das tarefas<br />

de fato desempenhadas pelas mulheres,<br />

mas sim do que se idealizou para elas<br />

como possível e desejável:<br />

“Trabalho preventivo e assistencial<br />

junto a crianças e adolescentes, mulheres<br />

e i<strong>dos</strong>os; atendimento e condução<br />

de alcoólatras, droga<strong>dos</strong> e<br />

mendigos; policiamento ostensivo em<br />

portos, aeroportos e terminais rodoviários;<br />

policiamento de trânsito; policiamento<br />

de áreas comerciais e turísticas;<br />

patrulha de grandes eventos;<br />

trabalhos comunitários e assistenciais<br />

em geral; revista de mulheres detentas<br />

ou suspeitas e de visitantes do<br />

sexo feminino em estabelecimentos<br />

penais; serviços internos de secretaria,<br />

telefonia, arquivo, recepção etc.<br />

(Soares e Musumeci, 2005, p.17).<br />

Segundo as pesquisadoras, a missão<br />

das mulheres policiais seria, assim,<br />

funcionar como uma espécie de cartão de<br />

visita, que, sem alterar paradigmas, sinalizasse<br />

mudanças e modernização. A autora<br />

ressalta ainda, na lista de atividades acima,<br />

o trabalho assistencial junto a comunidades,<br />

a crianças e adolescentes, a mulheres e<br />

i<strong>dos</strong>os, a mendigos e bêba<strong>dos</strong> etc.<br />

25


“Por reafirmar estereótipos de gênero<br />

– vocação assistencialista das mulheres;<br />

associação entre ‘sexo frágil’<br />

e atendimento aos fragiliza<strong>dos</strong>, esse<br />

tipo de trabalho talvez tenha sido<br />

percebido como um outro campo<br />

estratégico de relações públicas, de<br />

‘suavização’ ou humanização da imagem<br />

da polícia, sem que para tanto<br />

fosse necessário alterar a cultura institucional<br />

hegemônica ou as práticas<br />

tradicionais de policiamento” (Soares<br />

e Musumeci, 2005, p.19).<br />

Diante do quadro exposto, cabe<br />

perguntar que papel as mulheres policiais<br />

realmente vêm desempenhando nestes<br />

últimos anos? Sua presença provocou<br />

mudanças significativas na estrutura da<br />

corporação? As resistências internas vêm<br />

sendo superadas? Que balanço, em suma,<br />

pode-se fazer da participação feminina<br />

nessas instituições?<br />

Nesse sentido, propõe-se nesse artigo<br />

apontar o cotidiano de trabalho das<br />

guardas civis femininas na cidade de Santo<br />

André, identificar as relações de gêneros<br />

entre os guardas e anunciar, mais que concluir<br />

ou solucionar, os problemas existentes<br />

no interior da corporação e que se refletem<br />

nas posições de gestores e sociedade<br />

civil sobre a segurança pública na cidade e<br />

sua descentralização do poder do Estado.<br />

2. a GUarDa CIVIL MUnICIPaL (GCM) e a<br />

QUESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA<br />

A primeira polícia municipal no<br />

Brasil surgiu em 1842, no antigo município<br />

neutro da corte – cidade do Rio de Janeiro<br />

– com a denominação de Corpo das<br />

Guardas Municipais Permanentes. Em São<br />

Paulo, com a finalidade de garantir a segurança<br />

pública, Joaquim Floriano de Toledo,<br />

presidente da Província, criou as guardas<br />

municipais em março de 1866. No século<br />

XX, com o aumento da violência na cidade<br />

de São Paulo, o governo de Carlos de Campos<br />

editou a Lei n o 2.142, de 22 de outubro<br />

de 1926, criando a Guarda Civil nos moldes<br />

da polícia de Londres, uniformizada e hierarquizada,<br />

mas tipicamente civil, voltada<br />

para o patrulhamento das ruas e para o<br />

trato com o público.<br />

Aprovada na capital paulista, passou<br />

a ser padrão para outras cidades bra-<br />

26 ARTIGO<br />

sileiras. Garantida por lei, perdurou até<br />

a década de 1960, sendo posteriormente<br />

extinta pelo Decreto Lei n o 1.072, de 30<br />

de dezembro de 1969, durante o governo<br />

militar. No Estado de São Paulo, a Guarda<br />

Civil foi, então, em 1970, unificada à Força<br />

Pública, dando origem à Polícia Militar do<br />

Estado de São Paulo. Com o fim da ditadura<br />

militar, em 1986, a cidade de São Paulo<br />

criou a Guarda Civil Metropolitana nos moldes<br />

da antiga Guarda Civil (Braga,1999).<br />

De toda forma, as municipalidades<br />

buscaram, por muito tempo, absterem-se<br />

da gestão da segurança pública, atribuindo<br />

esta função aos governos <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>. No<br />

entanto, o recrudescimento da violência e<br />

da criminalidade no espaço urbano, seja<br />

nas metrópoles ou nas cidades de pequeno<br />

e médio porte, provocou a discussão da<br />

segurança pública na agenda <strong>dos</strong> governos<br />

municipais. Os gestores locais, premi<strong>dos</strong><br />

pelas comunidades, passaram a constituir<br />

e fortalecer as guardas municipais, bem<br />

como reivindicar mudanças constitucionais,<br />

com o objetivo de estender prerrogativas<br />

das polícias do Estado para as guardas <strong>dos</strong><br />

municípios, qual seja, o poder de polícia.<br />

Segundo da<strong>dos</strong> da Fundação Seade<br />

e Assembléia Legislativa de São Paulo<br />

(1999), só o Estado de São Paulo, em 1997,<br />

já possuía 176 municípios com guardas municipais.<br />

A Região Metropolitana de São<br />

Paulo, em 2001, de seus 39 municípios,<br />

23 já tinham guarda municipal, segundo<br />

da<strong>dos</strong> do Fórum Metropolitano de Segurança<br />

Pública, estes, avalia<strong>dos</strong> pelo Plano<br />

Nacional de Segurança Pública (2004), sem<br />

metas, identidade institucional, relacionamentos<br />

sistêmicos com as forças estaduais<br />

da segurança pública e sem uma política<br />

que as constitua como protagonistas da segurança<br />

municipal.<br />

Com limitações constitucionais<br />

para atribuições de polícia preventiva e ostensiva,<br />

em função do inciso 8 o do artigo<br />

144 da Constituição Federal, a prática das<br />

corporações vem demonstrando o contrário:<br />

esta corporação encontra-se na condição<br />

de integrar o sistema de segurança pública,<br />

se aprovada pelo Congresso Nacional<br />

a Emenda Constitucional n o 534/2002, já<br />

aprovada em primeiro turno pelo Senado<br />

Federal.<br />

Nos últimos anos, as cidades brasileiras<br />

vêm aumentando seu contingente civil<br />

de segurança pública. O país conta hoje


com mais de 300 guardas civis municipais,<br />

alocando cerca de 60 mil guardas.<br />

Ora considerada como servidora<br />

pública na proteção e bens de serviços do<br />

município, ora como a verdadeira polícia<br />

municipal, a instituição têm se defrontando<br />

com uma real crise de identidade e de<br />

natureza gerencial. A presença feminina,<br />

gradualmente inserida na instituição, demonstrou<br />

que também não foram superadas<br />

na corporação as desigualdades nas<br />

relações de gênero.<br />

. a GUarDa CIVIL MUnICIPaL eM sanTO<br />

an<strong>Dr</strong>É e a InCOrPOraÇÃO Das MULheres<br />

Em Santo André, a Guarda Civil<br />

Municipal foi criada pela Lei n o 6.125, em<br />

31 de maio de 1985, com o objetivo de<br />

praticar a vigilância noturna e diurna <strong>dos</strong><br />

logradouros públicos e suas repartições, subordinando-se<br />

ao Departamento de Trânsito<br />

da cidade. Por sua vez, adquiriu organização<br />

administrativa própria somente em<br />

1991. Mesmo assim, desde 1989, a GCM de<br />

Santo André contou com efetivo trabalho<br />

de segurança e colocou a primeira mulher<br />

no comando das guardas da cidade.<br />

A ascensão feminina na Guarda<br />

Civil Municipal firmou-se a partir de 1998,<br />

quando o número de mulheres contratadas<br />

passou para 30 guardas femininas, chegando<br />

a 96, em 2004, em um universo masculino<br />

de 341 guardas.<br />

A região do Grande ABC, englobando<br />

as sete cidades de Santo André, São<br />

Bernardo do Campo, São Caetano do Sul,<br />

Diadema, Mauá, Rio Grande da Serra e Ribeirão<br />

Pires, contava no início da década<br />

de 2000 com 1.754 guardas municipais,<br />

dentre eles, 300 mulheres.<br />

A entrada das mulheres na GCM de<br />

Santo André acompanhou as propostas das<br />

policias militares de humanizar o tratamento<br />

com seu público, acreditando que, por suas<br />

características dóceis e versáteis, as mulheres<br />

poderiam lidar melhor com os munícipes.<br />

4. A PESQUISA<br />

Foram entrevistadas 12 guardas<br />

femininas da corporação andreense, que<br />

responderam cada uma, a um questionário<br />

de 11 perguntas acerca de temas, como<br />

tempo de serviço, as condições das mulheres<br />

na corporação e o tratamento recebido<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

em função do gênero e, ainda, sobre direitos<br />

femininos e ampliação <strong>dos</strong> poderes das<br />

guardas civis municipais. As entrevistadas<br />

foram selecionadas por José Renato da<br />

Silva, comandante da Guarda Civil Municipal<br />

e responderam ao questionário em 15<br />

de abril de 2004, comparecendo à Câmara<br />

Municipal de Santo André. Por terem sido<br />

encaminhadas para tal finalidade, apresentaram-se<br />

fardadas e desarmadas.<br />

Da tabulação desse levantamento,<br />

pode-se apreender que as mulheres entrevistadas<br />

estavam com entre 30 e 39 anos de<br />

idade, a maioria casada e com filhos, cujo<br />

tempo de serviço nessa corporação variava<br />

de 3,5 a 13 anos. O principal motivo relatado<br />

que as levara a ingressar na GCM foi<br />

a busca de emprego estável, pois encontravam-se<br />

desempregadas à época em que<br />

prestaram concurso.<br />

Ao serem questionadas sobre a<br />

forma como a população andreense as recebe<br />

nas ruas, foram unânimes em afirmar<br />

que os munícipes consideram as guardas<br />

femininas como um “avanço” ou “evolução”<br />

da corporação. Também recebem<br />

sempre, o que chamam de elogios à mulher,<br />

ao sexo ou ao corpo, não tendo caráter<br />

erótico, sensual ou libidinoso, mas<br />

sempre relaciona<strong>dos</strong> à atuação profissional,<br />

salientando objetivos, como “mais<br />

educadas, dedicadas, delicadas e pacientes<br />

no serviço”, em relação ao tratamento <strong>dos</strong><br />

guardas homens com a população.<br />

Por nossa indagação, foi unanimemente<br />

rechaçado pelas guardas femininas<br />

o fato de as mulheres prestarem serviço<br />

diferenciado <strong>dos</strong> homens na Guarda Civil.<br />

Consideram-se aptas ao mesmo serviço, recebendo<br />

o mesmo treinamento, que lhes<br />

permite a mesma competência e eficiência<br />

na prestação. Consideram-se, também,<br />

“mais preparadas” para o trabalho, pois:<br />

“Na cidade de São Paulo, foi feita uma<br />

pesquisa que comprova que as mulheres<br />

são mais eficazes, mais solidárias<br />

e, no horário de alto risco, são mais<br />

ágeis, embora menos precipitadas e<br />

quase nunca efetuam disparos acidentais,<br />

isso é coisa de homem” (Rosseti,<br />

25 anos, três anos de corporação).<br />

A associação da mulher ao papel<br />

de mãe de família, de dona de casa,<br />

tem sido entrave aos direitos da mulher<br />

27


no mercado de trabalho. A dupla jornada<br />

diária dedicando-se aos serviços domésticos<br />

de sua casa e aos serviços profissionais<br />

da corporação – objeto de enfrentamento<br />

do Plano Nacional de Políticas para as<br />

Mulheres, lançado em 2004, pela Secretaria<br />

Especial de Políticas para as Mulheres,<br />

do Governo Federal do presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva – é anunciada pelas<br />

guardas, ao terem sido questionadas sobre<br />

como conciliam a vida profissional<br />

de agente de segurança e a condição de<br />

mulher e mãe. Identificam as dificuldades<br />

de conciliação desses papéis, mas se<br />

atribuem o rótulo de “supermulheres”,<br />

por conseguirem suprir as necessidades<br />

profissionais e familiares, gerando-lhes<br />

internamente uma sensação de vitória e<br />

importância, permitindo-lhes sentimentos<br />

de orgulho pessoal.<br />

Outro fator de indagação de nossa<br />

pesquisa diz respeito a aparência física<br />

e à questão estética. Desde os gregos, a<br />

estética passou a fazer parte das idéias delimitadoras<br />

de um espaço ideal de atuação<br />

social, levando a mulher a adotar e aceitar<br />

no seu corpo “os critérios de comportamento<br />

cultural chama<strong>dos</strong> estéticos, ensinando,<br />

que é preciso obedecer” (Chaves,<br />

1986, p. 276).<br />

Entre as mulheres da Guarda Civil<br />

Municipal, a aparência também representa<br />

um importante elemento nas suas<br />

relações cotidianas. Os padrões de beleza<br />

vigentes parecem interferir nas condições<br />

de trabalho, quando aquelas consideradas<br />

as mais bonitas são convidadas a<br />

participar de eventos publicitários da corporação,<br />

obtendo também privilégios na<br />

escala de serviço:<br />

“Em toda área, a beleza conta. Se<br />

um chefe precisa de uma secretária e<br />

aparece uma gordinha com experiência<br />

e uma morena com curvas salientes,<br />

saradona, de quem será o cargo?<br />

Óbvio, será da saradona” (sic) (Paula,<br />

32 anos, três anos de corporação).<br />

Dentre as várias condições<br />

de trabalho das mulheres na<br />

corporação de vigilância, a que<br />

imediatamente salta aos olhos, diz<br />

respeito à discriminação de gênero<br />

sofrida por suas profissionais.<br />

2 ARTIGO<br />

As condições de trabalho, do ponto<br />

de vista feminino são muito difíceis, a começar<br />

pela carga horária para um trabalho realizado<br />

em pé, sob sol forte, particularmente<br />

nos perío<strong>dos</strong> menstruais, isso, aliado a outros<br />

problemas, como a dificuldade de encontrar<br />

nas ruas banheiros minimamente decentes.<br />

As inovações nos uniformes de<br />

segurança não respeitam o corpo feminino,<br />

mesmo com o incentivo de ingresso<br />

de mulheres na corporação. Os coletes à<br />

prova de bala normalmente apertam os<br />

seios. Em perío<strong>dos</strong> de menstruação, em<br />

que o corpo da mulher sofre um inchaço,<br />

ficando também mais sensível à dor, esses<br />

coletes, por serem muito justos e costura<strong>dos</strong><br />

no mesmo formato para o corpo masculino,<br />

acabam por machucar as guardas.<br />

O tamanho desproporcional do coldre, associado<br />

ao peso da arma, também causa<br />

dores na bexiga, rins e útero. As calças <strong>dos</strong><br />

uniformes não possuem bolsos para carregarem<br />

absorventes higiênicos. Para as<br />

mulheres grávidas, não existe fardamento<br />

diferenciado. Em relação à fisiologia<br />

feminina, esta é levada em consideração,<br />

dependendo da sensibilidade do superior<br />

hierárquico. Alguns deles, consideram a<br />

tensão pré-menstrual, o período menstrual<br />

e as decorrências da gravidez como empecilho<br />

à execução do trabalho.<br />

Das 12 respostas obtidas à verificação<br />

desse fator cotidiano, pôde-se apurar<br />

quatro comportamentos existentes no<br />

relacionamento entre guardas homens e<br />

mulheres. Alegaram serem tratadas com<br />

indiferença, com rispidez, com discriminação<br />

ou de forma “boa” (expressão que foi<br />

interpretada como cordial). No entanto,<br />

pode-se perceber que a pesquisa indicou,<br />

conforme aponta o gráfico abaixo, a percepção<br />

de que o relacionamento entre sexo<br />

na Guarda Civil Municipal de Santo André<br />

é profundamente marcado pela forma de<br />

discriminação de gênero.<br />

relacionamento com o sexo masculino<br />

A - Indiferença<br />

B - Discriminação<br />

C - Com Rapidez<br />

D - Boa


No questionário, fora relatado<br />

que, com a chegada de um maior número<br />

de mulheres na corporação, desencadeouse<br />

ali um ambiente de certa hostilidade<br />

entre os guardas de sexos diferentes, revelando-se<br />

ora de forma velada, ora explicitamente,<br />

mas sempre demonstrando que o<br />

relacionamento entre mulheres e homens<br />

nesse tipo de organização é permeado de<br />

ações discriminatórias, conforme descreve<br />

uma das guardas entrevistadas:<br />

“Fomos recebidas com discriminação,<br />

pois os guardas masculinos achavam<br />

e diziam que lugar de mulher era no<br />

tanque e no fogão, que não tínhamos<br />

capacidade e nem competência<br />

para fazer o mesmo serviço que<br />

eles” (s/nome, 28 anos, quatro anos<br />

de corporação).<br />

Apesar de formalmente assentada<br />

na missão de “proteger e servir”, o que se<br />

privilegia na identidade policial militar são,<br />

sobretudo, as virtudes “másculas” e “guerreiras”:<br />

“bravura”, “heroísmo”, força física,<br />

aptidão para o risco, virtudes de que as<br />

mulheres estariam, por hipótese, desprovidas.<br />

Como indica Jacqueline Muniz:<br />

“Idealizado pelos PMs da ponta da<br />

linha como uma espécie de ‘terra de<br />

machos’, o mundo das ruas é descrito<br />

como um tipo de realidade que não<br />

se deixa comover pelas virtudes culturais<br />

atribuídas ao signo feminino.<br />

Nesse território simbólico interpretado<br />

como sórdido, violento, insensível<br />

e, por tudo isso, masculino, parece só<br />

haver lugar para a disputa entre os<br />

destemi<strong>dos</strong> ‘mocinhos’, que integram<br />

o ‘bonde do bem’ e os ‘bandi<strong>dos</strong>’ e<br />

desregra<strong>dos</strong>, que compõem o ‘bonde<br />

do mal’. Esse tipo de gramática<br />

<strong>dos</strong> papéis de gênero, em boa medida<br />

conservadora e estereotipada,<br />

encontra-se disseminada no interior<br />

da tropa. Dela resulta o discurso que<br />

pressupõe a inadequação das mulheres<br />

para as tarefas de policiamento<br />

e prescreve para elas outros tipos de<br />

serviços, quase sempre burocráticos<br />

e muito distantes das atividades de<br />

rua” (Muniz, apud Soares e Musumeci,<br />

2005, p. 87).<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

Para esta autora, essa ideologia<br />

estabelece um enfraquecimento da qualidade<br />

de “ser policial” entre os que estão<br />

aptos ao confronto e os que se dedicam a<br />

prevenir, proteger e mediar, quer sejam<br />

mulheres ou homens. O policiamento comunitário,<br />

por exemplo, é visto, muitas vezes,<br />

como espúria “feminização” do trabalho,<br />

como atividade cosmética, despida da<br />

virilidade própria da profissão, não raro os<br />

estereótipos de gênero são explicitamente<br />

aciona<strong>dos</strong> na resistência interna a essas e<br />

outras inovações.<br />

Se o relacionamento entre servidores<br />

homens e mulheres vem sendo marcado<br />

pela discriminação de gênero, que<br />

encontra en<strong>dos</strong>so numa mentalidade tradicionalmente<br />

machista por parte <strong>dos</strong> guardas,<br />

no relacionamento entre as mulheres<br />

também se evidencia a mesma mentalidade,<br />

contudo marcada por comportamentos<br />

ciumentos, competitivos, desagregadores,<br />

oriun<strong>dos</strong>, em especial das guardas mais antigas<br />

da corporação:<br />

“Nosso relacionamento em geral é<br />

bom, mas existe certa discriminação<br />

das mais antigas com as mais novas”<br />

(Lourenço Rosseti, 25 anos, três anos<br />

de corporação).<br />

(...) Apesar da hostilidade de alguns<br />

guardas masculinos, prefiro trabalhar<br />

com eles, as mulheres guardas são muito<br />

melindrosas, querem espaço” (Paula,<br />

32 anos, três anos de corporação).<br />

(...) As GCMFs são muito competitivas<br />

e, devido a isso, geram muitos atritos.<br />

Muitas vezes, o rostinho mais bonito<br />

é o que prevalece e não o profissionalismo”<br />

(Guerra, 38 anos, quatro<br />

anos de corporação).<br />

De to<strong>dos</strong> estes relatos, pode-se, em<br />

uma primeira análise, concluir que, não havendo<br />

política institucional de gênero, nem<br />

um ideal defendido especificamente pelas<br />

mulheres, por meio de mecanismo de afirmação<br />

coletiva de identidade, a imagem da<br />

GCMFs torna-se imprecisa, individualizada<br />

e sujeita também a avaliações individuais,<br />

baseadas na experiência empírica, quase<br />

sempre mediada por pré-noções, idealizações<br />

ou mecanismos de resistência.<br />

29


“Se tivéssemos que definir dois extremos<br />

entre os quais oscilam essas avaliações,<br />

o primeiro seria o en<strong>dos</strong>so puro<br />

e simples <strong>dos</strong> estereótipos de gênero,<br />

como em alguns trechos de entrevistas<br />

já cita<strong>dos</strong> anteriormente, que destinam<br />

à mulher um lugar “natural” nos serviços<br />

internos, e o outro seria a negação<br />

pura e simples de qualquer diferença”<br />

(Soares e Musumeci, 2005, p.111).<br />

Questionou-se também as entrevistadas<br />

sobre a ampliação <strong>dos</strong> poderes<br />

das GCMs. Pelas respostas, entende-se que<br />

as guardas civis femininas não visualizam<br />

claramente essa ampliação de poderes e,<br />

se de fato isso ocorrer, deverá haver restrições<br />

de poderes. No entanto, são mais<br />

contundentes ao afirmar a quase impossibilidade<br />

disso ocorrer, pois a Polícia Militar<br />

não permitirá tal ampliação:<br />

“Existe um empecilho muito grande<br />

que é a Polícia Militar, e de quem vai<br />

controlar esse poder para que não<br />

fuja das rédeas do Estado” (Maria, 43<br />

anos, quatro anos de corporação).<br />

Da análise do I Seminário Regional<br />

das Guardas Municipais Femininas, realizado<br />

em 28 de novembro de 2003, que<br />

teve como objetivo avaliar a participação<br />

feminina nos quadros da política de segurança<br />

local, pôde-se verificar que a indefinição<br />

acerca do papel constitucional<br />

<strong>dos</strong> Guardas Civis Municipais evidenciouse<br />

de forma mais aguda quando voltada<br />

para o papel da mulher nessa instituição<br />

e do difícil relacionamento entre homens<br />

e mulheres numa corporação histórica e<br />

tradicionalmente organizada em torno<br />

das características masculinas. O cotidiano<br />

de trabalho dessas mulheres é regido pelas<br />

relações de gênero que se estabelecem<br />

entre os guardas e com seus comandantes.<br />

Se a atuação da GCM na cidade já impõe<br />

uma discussão acerca da gestão municipal<br />

de segurança pública, a atuação da GCMF<br />

polemiza ainda mais a discussão e permite<br />

resgatar práticas de trabalho policial ainda<br />

mais violentas e discriminadoras.<br />

É importante lembrar que a polícia<br />

brasileira seguiu o modelo político de<br />

organização policial presente na França e<br />

em Portugal, estes não estão a serviço do<br />

0 ARTIGO<br />

público, mas do Estado e <strong>dos</strong> grupos dominantes,<br />

no sentido de fortalecer o uso<br />

privado da violência contra a sociedade,<br />

vigiando para que qualquer ameaça considerada<br />

subversiva ao poder público fosse<br />

contida pela força da opressão (Paixão,<br />

1991). A conseqüência desse modelo de policia<br />

gerou no Brasil a desconfiança recíproca<br />

entre policiais e cidadãos. A reação do<br />

cidadão comum frente à polícia soma-se ao<br />

sentimento de medo, mesmo por pessoas<br />

que, em princípio, nada teriam a temer.<br />

A própria formação praticada<br />

nas escolas da Polícia Militar, encontramse<br />

alicerçadas na ideologia do exército,<br />

reproduzindo em sua organização as<br />

mesmas existentes no Exército Brasileiro,<br />

segundo os princípios de território a ser<br />

atacado ou defendido.<br />

Coronel Carlos Alberto de Camargo,<br />

ex-comandante geral da Polícia Militar<br />

do Estado de São Paulo, em seu livro Estética<br />

Militar (1997), defende que os militares<br />

constituem uma instituição separada do<br />

povo, destinada a corrigi-lo e a pôr ordem<br />

na vida coletiva. Como se nota:<br />

“Nas instituições policiais brasileiras<br />

ainda prevalece a cultura policial tradicional<br />

de viés “bélico”, com foco<br />

quase exclusivo na ação reativa e repressiva,<br />

com baixíssimo investimento<br />

em inteligência, pouco ou nenhum<br />

treinamento <strong>dos</strong> agentes de ponta<br />

em técnicas de mediação de conflitos,<br />

nenhuma ênfase no uso comedido<br />

da força e da autoridade, pouca<br />

ou nenhuma preocupação com a legalidade<br />

e a legitimidade do trabalho<br />

de polícia” (Soares e Musumeci,<br />

2005, p. 82).<br />

Nesse contexto, as atividades cotidianas<br />

de preservação da ordem pública,<br />

não gozam do mesmo status que as<br />

ações repressivas.<br />

Pode-se deduzir daí a enorme dificuldade<br />

que as mulheres ainda terão de<br />

enfrentar para se afirmarem como policiais<br />

ou guardas, uma vez que lhes coube<br />

a tarefa de prevenir, cuidar e orientar, sem<br />

que essa tarefa fosse assumida institucionalmente<br />

como referência de um novo modelo<br />

de polícia e policiamento.


eFerÊnCIas BIBLIOGrÁFICas<br />

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manual de criação, organização e manutenção,<br />

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Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999.<br />

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Centro de Aperfeiçoamento e Estu<strong>dos</strong> Superiores<br />

da Polícia Militar do Estado de São<br />

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Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.<br />

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de São Paulo. Cadernos do Fórum são Paulo<br />

Século 21 – Caderno 7: Segurança. São<br />

Paulo: Assembléia Legislativa, 1999.<br />

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PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA<br />

MULHERES - Secretaria Especial de Políticas<br />

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Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLI-<br />

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Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,<br />

2005.<br />

1


IMPOrTÂnCIa CresCenTe Das aLIanÇas esTraTÉGICas<br />

NO AMBIENTE COMPETITIVO ATUAL –<br />

CasO: JOINT VENTURE LG.PhILIPs DIsPLaYs<br />

Cynthia Hisako Sakaguchi Ito* e <strong>Prof</strong>. <strong>Dr</strong>. Sérgio Crispim**<br />

resUMO aBsTraCT<br />

O atual ambiente competitivo,<br />

caracterizado por um mundo<br />

altamente globalizado, tecnologias<br />

dinâmicas e pela rápida velocidade<br />

das mudanças tem revolucionado o<br />

mundo <strong>dos</strong> negócios, fazendo com<br />

que as empresas busquem constantemente<br />

alternativas para se manterem<br />

competitivas no mercado. Na última<br />

década, houve uma considerável ampliação,<br />

no cenário internacional, <strong>dos</strong><br />

processos de fusões e aquisições, assim<br />

como de alianças estratégicas e parcerias<br />

com a finalidade de adaptação ao<br />

novo cenário. Um desses processos é<br />

a joint venture. Apesar da crescente<br />

popularidade, as joint ventures tornaram-se<br />

uma forma de organização<br />

muito complexa e problemática. Em<br />

um estudo sobre joint ventures formadas<br />

entre 1924 e 1985, Harrigan<br />

constatou que apenas 46% tiveram<br />

êxito. Nesse contexto, a LG.Philips<br />

Displays mostra-se um estudo de caso<br />

interessante, mesmo porque é uma<br />

empresa que se originou de outras<br />

duas, de culturas diferentes (a LG é<br />

uma empresa de origem coreana e<br />

cultura oriental, enquanto a Philips<br />

é de origem holandesa e cultura ocidental),<br />

e tem obtido sucesso desde a<br />

sua formação.<br />

PaLaVras-ChaVe: aliança estratégica,<br />

joint venture, mercado competitivo.<br />

* Aluna do PMA da Universidade IMES.<br />

* <strong>Prof</strong>essor do PMA da Universidade IMES.<br />

2 ARTIGO<br />

The current competitive environment<br />

characterized by a highly<br />

globalized world, dynamic technologies<br />

and the fast speed of changes, has<br />

revolutionized business world, leading<br />

companies to frequently search<br />

for alternatives, to keep competitive<br />

in the market. In the last decade,<br />

there was a noticed amplification,<br />

on international scene, of merging<br />

and acquisitioning processes, as well<br />

as strategical alliances and partnerships<br />

with the purpose of adaptation<br />

to this new scene. One of these processes<br />

is the joint venture. Despite<br />

the increasing popularity, joint ventures<br />

have become a complex and<br />

problematic kind of organization. On<br />

a study about joint ventures created<br />

between 1924 and 1985, Harrigan noticed<br />

that only 46% had succeeded.<br />

In this context, LG.Philips Displays reveals<br />

to be an interesting study case,<br />

even because it is a company originated<br />

from other ones, which had<br />

two different cultures (LG is a Korean<br />

company with oriental culture, while<br />

Philips is a Dutch company with occidental<br />

culture) and has gotten success<br />

since this joint.<br />

KeYWOrDs: strategical alliance, joint<br />

venture, competitive market.


1. InTrODUÇÃO<br />

O mercado atual está cada vez<br />

mais competitivo e a natureza competitiva<br />

de muitas empresas do mundo passa por<br />

mudanças cada vez mais aceleradas e profundas.<br />

E, como o cenário competitivo do<br />

século XXI não se satisfaz com ações convencionais<br />

de economias de escala ou orçamentos<br />

volumosos de publicidade, e nem<br />

administradores convencionais, há uma exigência<br />

de administradores com uma mentalidade<br />

que valoriza a flexibilidade, inovação,<br />

integração, frente aos desafios que<br />

surgem num ritmo de mudança constante.<br />

Essas mudanças no cenário e no<br />

ambiente atual são causadas, principalmente,<br />

por dois fatores: surgimento de<br />

uma economia e tecnologia globalizadas e<br />

as rápidas mudanças tecnológicas.<br />

Segundo Hitt (2002), a economia<br />

globalizada é aquela na qual os bens,<br />

serviços, pessoas, habilidades e idéias movimentam-se<br />

livremente através das fronteiras<br />

geográficas e, esta, está em fase de<br />

constante expansão, o que implica em uma<br />

maior complexidade para o contexto competitivo<br />

de uma empresa.<br />

A tecnologia está provocando<br />

significativas mudanças na natureza da<br />

concorrência, por meio, basicamente, de<br />

três tendências: a crescente taxa de mudança<br />

e disseminação tecnológica, a era<br />

da informação e o aumento na intensidade<br />

do conhecimento necessário para as<br />

empresas atualmente.<br />

Com um cenário competitivo cada<br />

vez mais dinâmico e desafiador, as empresas<br />

utilizam com maior freqüência estratégias<br />

cooperativas como meio para sobreviverem.<br />

Nos últimos anos, tem-se presenciado<br />

um número crescente de alianças e<br />

fusões entre empresas em todo o mundo.<br />

Há diariamente anúncios de novos elos,<br />

parcerias ou alianças. Seja qual for o nome<br />

que tenham, esses relacionamentos entre<br />

empresas envolvem parceiros de várias partes<br />

do mundo e cobrem uma certa amplitude<br />

de funções e atividades.<br />

As alianças estratégicas, principais<br />

formas de parceria estratégica, são parcerias<br />

entre empresas, em que seus recursos,<br />

capacidades e competências são compartilha<strong>dos</strong><br />

para chegarem a um objetivo comum,<br />

que pode ser um produto, serviço ou<br />

processo. Fusões e aquisições podem ser<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

vistas separadamente ou como formas de<br />

alianças estratégicas.<br />

Segundo Hooley e Saunders<br />

(2001), as joint ventures são um tipo de<br />

aliança estratégica em que propriedades<br />

de um projeto ou operação são compartilhadas<br />

entre as empresas em questão.<br />

Dado o exposto, este artigo propõe-se<br />

a estudar a joint venture das empresas<br />

LG e Philips e, com isso, proporcionar<br />

a contextualização do cenário competitivo<br />

atual, a revisão nos conceitos de alianças<br />

estratégicas entre empresas e conhecer um<br />

processo de formação e manutenção de<br />

uma joint venture, assim como os fatores<br />

que levaram à sua formação e os resulta<strong>dos</strong><br />

obti<strong>dos</strong> desde a sua formação .<br />

A escolha da joint venture LG.Philips<br />

Displays deveu-se ao fato de que ela proporciona<br />

um estudo de caso interessante porque<br />

é uma empresa que se originou de duas<br />

empresas multinacionais reconhecidas mundialmente<br />

e de culturas diferentes. A LG é<br />

uma empresa de origem coreana e cultura<br />

oriental, enquanto a Philips é de origem holandesa<br />

e cultura ocidental.<br />

Nos próximos itens, trataremos<br />

<strong>dos</strong> referenciais conceituais utiliza<strong>dos</strong> para<br />

o estudo proposto neste artigo, em seguida,<br />

a partir do item 5, faremos uma análise<br />

das empresas LG, Philips e da joint venture<br />

LG.Philips Displays, os fatores e resulta<strong>dos</strong><br />

levanta<strong>dos</strong>, assim como as conclusões deste<br />

estudo.<br />

2. CenÁrIO DO sÉCULO XXI<br />

No cenário do século XXI, as empresas<br />

deparam-se com o desafio de desenvolver<br />

um nível ideal de globalização, que<br />

gere concentrações adequadas das operações<br />

locais e globalizadas para a empresa.<br />

Segundo Klotzle (2002), num<br />

mundo globalizado, o incremento da competitividade<br />

tornou-se questão de sobrevivência<br />

para as empresas, independente do<br />

ramo em que elas atuam. A globalização<br />

não só exige presença nos merca<strong>dos</strong>-chave,<br />

mas também aumento da produtividade,<br />

redução <strong>dos</strong> custos, melhoria da qualidade<br />

<strong>dos</strong> produtos, investimentos na qualificação<br />

<strong>dos</strong> funcionários e desenvolvimento<br />

de novas tecnologias; entretanto, muitas<br />

vezes, o incremento da competitividade e<br />

a onipresença em diversos merca<strong>dos</strong> são<br />

atividades muito onerosas para a maioria


das empresas. Poucas delas têm a capacidade<br />

de duplicar as suas cadeias de valores<br />

em tão diferentes lugares. Isso faz com que<br />

atividades de colaboração com outras empresas<br />

tenham de ser levadas em consideração,<br />

ou seja, a utilização de atividades de<br />

parceria é a maneira encontrada pelas empresas<br />

não só para sobreviverem no mercado,<br />

como também para aumentarem a sua<br />

competitividade.<br />

A taxa de mudança da tecnologia<br />

e a velocidade com que novas tecnologias<br />

são disponibilizadas e adotadas têm<br />

aumentado substancialmente nos últimos<br />

anos.<br />

No que diz respeito à fonte de<br />

vantagem competitiva, o índice atual de<br />

difusão tecnológica enfraquece a proteção<br />

das patentes com que as empresas se cercavam<br />

anteriormente.<br />

Os últimos anos foram palco de<br />

mudanças dramáticas a tecnologia da informação.<br />

Microcomputadores, telefones<br />

celulares, inteligência artificial, realidade<br />

virtual e bases de da<strong>dos</strong> de grande porte<br />

são alguns exemplos de como a informação<br />

é utilizada de mo<strong>dos</strong> diferentes em decorrência<br />

<strong>dos</strong> desenvolvimentos tecnológicos.<br />

Segundo Hitt, Ireland e Hoskisson<br />

(2002), atualmente, as empresas estão ingressando<br />

na construção de redes eletrônicas<br />

capazes de conectá-las a clientes, emprega<strong>dos</strong>,<br />

vendedores e fornecedores. O<br />

comércio eletrônico possui uma diferente<br />

forma de concorrência e requer uma abordagem<br />

de liderança diferente. Tanto o ritmo<br />

de mudança na tecnologia da informação<br />

quanto sua disseminação continuarão<br />

aumentando. A proliferação mundial de<br />

poder de processamento de da<strong>dos</strong> a custo<br />

relativamente baixo e a conexão dessa<br />

capacidade em âmbito globalizado, pelas<br />

redes de computadores, combinam-se para<br />

aumentar a velocidade e a disseminação das<br />

tecnologias da informação. Desse modo, o<br />

potencial competitivo das tecnologias da<br />

informação está se tornando viável para as<br />

empresas em todo o mundo, e não apenas<br />

para as grandes empresas da Europa, Japão<br />

e América do Norte.<br />

A combinação de internet e da<br />

rede mundial (Web) cria uma infra-estrutura<br />

que permite o fornecimento de informações<br />

aos computadores em qualquer<br />

lugar do mundo. O acesso a quantidades<br />

significativas de informações relativamen-<br />

4 ARTIGO<br />

te baratas gera oportunidades estratégicas<br />

para muitas indústrias e companhias.<br />

Ainda segundo Hitt, Ireland e<br />

Hoskisson (2002), o conhecimento representa<br />

a base da tecnologia e da sua aplicação.<br />

No cenário competitivo atual, o conhecimento<br />

está se tornando cada vez mais<br />

uma fonte valiosa de vantagem competitiva.<br />

Por esse motivo, muitas empresas lutam<br />

para converter o conhecimento acumulado<br />

de cada um de seus funcionários em um patrimônio<br />

corporativo. A probabilidade de<br />

obtenção da competitividade estratégica<br />

no cenário competitivo do século XXI é ampliada<br />

quando a empresa conscientiza-se<br />

de que a própria sobrevivência depende de<br />

sua habilidade de capturar inteligência e<br />

transformá-la em conhecimento útil, difundindo-o<br />

rapidamente por toda a companhia.<br />

As empresas que aceitam esse desafio<br />

mudam o seu enfoque, passando a explorar<br />

a informação, em vez de simplesmente<br />

obtê-la, para alcançar uma vantagem competitiva<br />

em relação aos seus concorrentes.<br />

. esTraTÉGIas e VanTaGens COMPeTI-<br />

TIVas<br />

Frente a este cenário atual, as<br />

empresas necessitam estar atentas a seu<br />

posicionamento, suas estratégias e suas<br />

competências essências, para que consigam<br />

alcançar vantagem competitiva em relação<br />

aos seus concorrentes e se mantenham<br />

competitivas no mercado.<br />

O posicionamento competitivo da<br />

empresa é uma declaração <strong>dos</strong> merca<strong>dos</strong>alvo<br />

(onde a empresa irá competir) e da<br />

vantagem diferencial (como a empresa irá<br />

competir). O posicionamento é desenvolvido<br />

para que as metas traçadas pela estratégia<br />

central sejam atingidas.<br />

A escolha <strong>dos</strong> merca<strong>dos</strong>-alvo deve<br />

levar em conta vários fatores, que podem<br />

ser dividi<strong>dos</strong> em duas categorias: levantamento<br />

da atratividade do mercado e avaliação<br />

<strong>dos</strong> pontos fortes atuais e potenciais<br />

da empresa para atender àquele mercado.<br />

A vantagem diferencial pode ser<br />

criada com base em qualquer ponto forte<br />

ou nas competências específicas da empresa<br />

em relação à concorrência. Os fatores<br />

fundamentais que devem ser leva<strong>dos</strong> em<br />

conta na criação da vantagem estão no<br />

fato de que ela deve ser um valor para o<br />

cliente e que empregue, ao mesmo tempo,


uma aptidão para empresa que seja difícil<br />

de ser copiado pela concorrência (Hooley;<br />

Saunders, 1996).<br />

A essência da formulação de uma<br />

estratégia competitiva é relacionar uma<br />

companhia ao seu meio ambiente, assim<br />

como às forças sociais e econômicas. A<br />

meta da estratégia competitiva para uma<br />

unidade empresarial em uma indústria<br />

é encontrar uma posição dentro dela em<br />

que a companhia possa melhor se defender<br />

contra as forças competitivas do ambiente<br />

externo ou influenciá-las a seu favor.<br />

Segundo Porter (1997), as cinco<br />

forças competitivas são: entrada, ameaça<br />

de substituição, poder de negociação <strong>dos</strong><br />

compradores, poder de negociação <strong>dos</strong><br />

fornecedores e rivalidade entre os atuais<br />

concorrentes. Essas forças refletem o fato<br />

de que a concorrência em uma indústria<br />

não está limitada aos participantes estabeleci<strong>dos</strong>.<br />

Clientes, fornecedores, substitutos<br />

e os entrantes potenciais são to<strong>dos</strong> concorrentes<br />

para as empresas, podendo ter<br />

maior ou menor importância, dependendo<br />

das circunstâncias.<br />

Ainda segundo Porter (1999), o<br />

conjunto das forças competitivas em uma<br />

indústria determina até que ponto o influxo<br />

de investimento ocorre e direciona o retorno<br />

para o nível da taxa de mercado livre e,<br />

assim, a capacidade das empresas de manterem<br />

retornos acima da média. Este conjunto<br />

de forças também determina a intensidade<br />

da concorrência na indústria, bem como<br />

a rentabilidade, sendo que as forças mais<br />

acentuadas predominam e tornam-se cruciais<br />

na formulação de estratégias.<br />

No contexto dinâmico e imprevisível<br />

atual, a competência no processo de<br />

formulação de estratégias é fundamental,<br />

podendo ser tratado nos mesmos moldes<br />

que caracterizam a competência individual:<br />

saber agir, saber mobilizar recursos,<br />

integrar saberes múltiplos e complexos, saber<br />

aprender, assumir responsabilidade e<br />

ter visão estratégica (Fleury; Fleury, 2000).<br />

A palavra competência pode ter<br />

vários significa<strong>dos</strong>, dependendo do seu uso:<br />

no senso comum é utilizada para designar<br />

pessoa qualificada para realizar algo; no<br />

mundo do trabalho, assume significa<strong>dos</strong> liga<strong>dos</strong><br />

às características das pessoas (input)<br />

e das tarefas (output), como o conjunto de<br />

conhecimentos, habilidades, atitudes que<br />

afetam a maior parte do trabalho de uma<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

pessoa, e que se relacionam com o desempenho<br />

no trabalho.<br />

Uma competência essencial pode<br />

estar relacionada ao domínio de qualquer<br />

estágio do ciclo de negócios, sendo que<br />

esse conhecimento deve estar associado<br />

a um processo de aprendizagem que seja<br />

sistemático, envolvendo a inovação e capacitação<br />

de recursos humanos. A definição<br />

para uma organização que aprende enfatiza<br />

sua capacidade de adaptação às mudanças,<br />

de forma criativa e produtiva.<br />

Segundo Hitt (2002), as competências<br />

essenciais emergem com o tempo por<br />

meio de um processo organizacional para<br />

acumular e aprender a dispor os diferentes<br />

recursos e capacidades. Na condição de<br />

capacidade de adotar medidas de ação, as<br />

competências essenciais são atividades que<br />

a empresa executa especialmente bem, em<br />

comparação aos concorrentes, e adiciona<br />

valor ímpar a seus bens e serviços por um<br />

logo período.<br />

Nem to<strong>dos</strong> os recursos e capacidades<br />

de uma empresa são bens que possuem<br />

valor competitivo e o potencial para<br />

servir de fonte de vantagem competitiva.<br />

Determina<strong>dos</strong> recursos e capacidades podem<br />

causar incompetência pelo fato de representarem<br />

áreas competitivas nas quais<br />

a empresa é fraca em relação aos concorrentes.<br />

Desse modo, determina<strong>dos</strong> recursos<br />

e capacidades podem dificultar ou evitar<br />

o desenvolvimento de uma competência<br />

essencial. As empresas que carecem de capital<br />

financeiro, por exemplo, podem tornar-se<br />

incapazes de adquirir as instalações<br />

ou recrutar pessoal dotado das habilidades<br />

necessárias à fabricação de produtos que<br />

gerem valor ao cliente. Nessa situação, o<br />

capital financeiro seria um ponto fraco.<br />

Munida de um entendimento profundo de<br />

seus recursos e capacidades, as empresas<br />

devem identificar oportunidades no ambiente<br />

externo, que podem ser exploradas<br />

por meio de suas capacidades, enquanto<br />

evitam a atuação da concorrência em suas<br />

áreas mais fracas.<br />

Para Hitt, Ireland e Hoskisson<br />

(2002), não existe vantagem competitiva<br />

que dure para sempre. Com o passar do<br />

tempo, as empresas concorrentes utilizarão<br />

seus próprios recursos, capacidades<br />

e competências essenciais para elaborar<br />

proposições diferentes, porém eficazes<br />

e capazes de gerar vantagens competiti-<br />

5


vas. Desse modo, devido ao fato de que a<br />

vantagem competitiva não ser sustentável<br />

de modo permanente, as empresas devem<br />

explorar suas vantagens atuais, enquanto<br />

utilizam simultaneamente os seus recursos<br />

e capacidades para formar novas competências<br />

essenciais que possam servir como vantagens<br />

competitivas relevantes no futuro.<br />

Ainda segundo Hitt, Ireland e<br />

Hoskisson (2002), a vantagem competitiva<br />

é criada quando os recursos e capacidades<br />

forem valiosos, raros, dispendiosos para<br />

imitar e insubstituíveis. Quando estes quatro<br />

critérios menciona<strong>dos</strong> forem atendi<strong>dos</strong>,<br />

os recursos e capacidades se transformarão<br />

em competências essenciais.<br />

4. FUSÕES, AQUISIÇÕES E ALIANÇAS ES-<br />

TraTÉGICas<br />

Dentre as características das fusões<br />

e aquisições de empresas está à busca<br />

de uma maior participação em mercado<br />

concorrente. Seria uma forma de estratégia<br />

das empresas em atingir a economia<br />

global estendendo sua atuação. Essa estratégia<br />

foi destacada por Yoshino e Rangan,<br />

sendo que, segundo eles, as empresas<br />

multinacionais e nacionais vêm percebendo<br />

igualmente que, não só é viável basear-se<br />

na competência de outras empresas<br />

do mundo para concorrer com maior eficácia,<br />

como, freqüentemente, é necessário.<br />

Um número cada vez maior de empresas<br />

vem procurando construir redes externas<br />

de alianças nacionais e internacionais para<br />

complementar suas redes internas de subsidiárias<br />

nacionais e internacionais.<br />

João Bosco Lodi, argumentou sobre<br />

algumas das razões quanto a essa onda<br />

de fusões que está ocorrendo atualmente:<br />

“Não faltam os argumentos a favor.<br />

A globalização <strong>dos</strong> merca<strong>dos</strong>, a saída<br />

para além das fronteiras nativas à<br />

busca de melhora de ganhos, velocidade<br />

de mudança tecnológica, escala<br />

das comunicações mundiais, marcas<br />

compatíveis num mercado multilingual,<br />

fragilidade das empresas nas<br />

economias emergentes, eliminação<br />

de gestores incompetentes” (LODI,<br />

J.B, 1999).<br />

O secretário-geral da Unctad, o<br />

embaixador brasileiro Rubens Ricupero<br />

6 ARTIGO<br />

observou a influência da globalização no<br />

processo de fusões de empresas. De acordo<br />

com Ricupero:<br />

“As operações internacionais de compra<br />

e venda de empresas, envolvendo<br />

grandes corporações transnacionais e<br />

gigantescas somas de dinheiro, são<br />

uma das faces mais visíveis da globalização.<br />

E, como no caso da globalização,<br />

de nada adianta opor-se ao processo.<br />

O que é preciso é estabelecer<br />

normas que, de algum modo, compensem,<br />

para a sociedade, a eventual<br />

redução da concorrência, decorrente<br />

do gigantismo das novas corporações<br />

transnacionais” (http: //jt. com.br/editoriais/00/10/08/artigos002.html).<br />

Outros autores também se manifestaram<br />

sobre a globalização, do ponto<br />

de vista da presença das multinacionais na<br />

economia mundial. Segundo Banas (1996), a<br />

grande vantagem dessas companhias reside<br />

na globalização de suas operações, que lhes<br />

permite o abastecimento nos lugares mais<br />

favoráveis (os mais baratos) no mundo inteiro,<br />

ficando livres de pressões locais.<br />

A globalização possibilitou às empresas<br />

se organizarem e expandirem seus<br />

negócios pelo mundo todo, e isso, segundo<br />

alguns autores, pode torna-se um grande<br />

perigo para o sistema capitalista. Num<br />

primeiro instante, pode até ser vantajoso<br />

aos consumidores finais, uma vez que as<br />

empresas ganham em escala, aumentam a<br />

qualidade e melhoram o serviço para ganhar<br />

mercado, o que reflete na diminuição<br />

<strong>dos</strong> custos e <strong>dos</strong> preços <strong>dos</strong> produtos finais.<br />

Entretanto, no futuro, com o domínio do<br />

mercado por poucos grupos, limitam-se as<br />

opções de escolha.<br />

De acordo com Anita Kon (1994),<br />

a centralização do capital resulta da luta<br />

da concorrência em busca do barateamento<br />

das mercadorias que, por sua vez, depende<br />

do aumento da escala de produção<br />

e da produtividade. O alto grau de centralização<br />

acaba por resultar em um número<br />

reduzido de empresas em determinado setor<br />

de produção, acirrando a concorrência<br />

e tornando mais vantajoso o caminho da<br />

combinação entre as empresas, ou seja, do<br />

surgimento <strong>dos</strong> cartéis, trustes e fusões.<br />

Esse perigo ao sistema capitalista,<br />

que é o sistema da economia mundial, foi


observado por Gunter Keseberg (2000), sócio<br />

diretor da filial brasileira da consultoria<br />

alemã Roland Berger. Ele afirma que, além<br />

do controle do mercado, a concentração<br />

das empresas tende a colocar em xeque o<br />

próprio sistema econômico mundial.<br />

É importante mencionar que,<br />

num primeiro momento, as fusões ocorreram<br />

em países desenvolvi<strong>dos</strong>, onde se<br />

concentram as principais empresas e o<br />

maior mercado consumidor mundial, para<br />

depois passarem a ocorrer também nos<br />

países em desenvolvimento. Essa forma<br />

de aumentar a participação em outros<br />

merca<strong>dos</strong> pode, com o tempo, diminuir o<br />

número de empresas em setores específicos<br />

da economia.<br />

Um <strong>dos</strong> grandes problemas dessas<br />

fusões de empresas internacionais é que a<br />

transferência de controle de uma empresa<br />

não significa necessariamente aumento de<br />

capacidade produtiva.<br />

Em muitos casos, a nova controladora<br />

é uma empresa dominante do mercado<br />

mundial e, desse modo, sua presença no<br />

mercado local pode significar uma competição<br />

desnivelada.<br />

Como foi dito anteriormente, embora<br />

a definição de aliança estratégica não<br />

seja uniforme, podemos dizer que se trata<br />

de um acordo, por meio do qual duas ou<br />

mais empresas ou organizações passam a<br />

trabalhar juntas, formal ou informalmente,<br />

combinando seus recursos e técnicas, de<br />

forma a obter ganhos de inovação, produtividade<br />

e eficiência, visando a conquista<br />

de novos nichos de mercado.<br />

Estes acor<strong>dos</strong> de cooperação parcial<br />

que as empresas podem formar para<br />

melhorar seu desempenho em merca<strong>dos</strong><br />

internacionais representam a forma mais<br />

prudente de internacionalização.<br />

Sem montar uma nova empresa, as<br />

partes concordam em colaborar em produtos<br />

específicos e em merca<strong>dos</strong> para mútuos<br />

benefícios. Como os riscos são limita<strong>dos</strong> ao<br />

projeto em questão, esta é uma maneira segura<br />

para aprender uns com os outros.<br />

Segundo, HITT, IRELAND e<br />

HOSKISSON (2002), as alianças estratégicas<br />

são parcerias entre empresas, em que seus<br />

recursos, capacidades e competências essenciais<br />

são combina<strong>dos</strong> para perseguirem<br />

interesses mútuos ao projetar, manufaturar<br />

e distribuir bens ou serviços. Elas são formas<br />

explícitas de relações entre empresas<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

e podem surgir de três diferentes formas:<br />

joint ventures, aliança estratégica acionária<br />

e aliança sem participação acionária.<br />

Na aliança estratégica acionária,<br />

os sócios possuem diferentes porcentagens<br />

de capital social, num novo empreendimento.<br />

As alianças estratégicas acionárias<br />

são consideradas mais eficientes para<br />

transferir know-how entre as empresas,<br />

porque estão mais próximas do controle<br />

hierárquico do que as alianças sem participação<br />

acionária.<br />

As alianças sem participação acionária<br />

são formadas por meio de acor<strong>dos</strong><br />

contratuais realiza<strong>dos</strong> para que uma empresa<br />

forneça, produza ou distribua os bens<br />

e serviços de uma outra empresa, sem haver<br />

compartilhamento do capital social. Uma<br />

vez que não envolvem a formação de uma<br />

empresa separada ou de investimentos no<br />

capital social, as alianças estratégicas sem<br />

participação acionária são menos formais e<br />

exigem menos compromissos da parte <strong>dos</strong><br />

sócios do que os outros tipos de alianças<br />

estratégicas. Os atributos das alianças sem<br />

participação acionária as tornam inadequadas<br />

para projetos complexos, em que<br />

o sucesso deve ser influenciado pela transferência<br />

eficiente de conhecimento tácito<br />

entre os sócios.<br />

A joint venture é uma aliança estratégica<br />

na qual duas ou mais empresas<br />

criam uma empresa independente combinando<br />

partes de seus ativos. As joint ventures<br />

são eficientes para estabelecer relações<br />

de longo prazo e transferir conhecimento<br />

tácito, uma importante fonte de vantagem<br />

competitiva. As joint ventures mais comuns<br />

são as em que as empresas possuem uma<br />

porcentagem igual das ações.<br />

É importante que consideremos os<br />

pontos fortes e fracos desses diferentes graus<br />

e tipos de parcerias em desenvolver alianças<br />

estratégicas apropriadas, e que reconheçamos<br />

que em redes de realidade pode haver<br />

uma mistura de estilos de parceria.<br />

Aliança estratégica é uma força<br />

competitiva principal, a qual em alguns<br />

setores como linhas aéreas, computação e<br />

telecomunicações estão substituindo competição<br />

convencional entre companhias<br />

individuais, Entretanto, os casos e estu<strong>dos</strong><br />

disponíveis para informação sugerem que<br />

enquanto os ganhos potenciais podem ser<br />

altos, alianças e redes estratégicas carregam<br />

riscos enormes.<br />

7


É importante ressaltar que, ao<br />

considerarem a estratégia de aliança, gerentes<br />

deveriam concentrar-se na questão<br />

das competências essenciais trazidas para<br />

a aliança por cada parceiro, nos benefícios<br />

e vulnerabilidades associa<strong>dos</strong> a foco<br />

e terceirização, e nas capacidades que a<br />

empresa tem de gerenciar sua estratégia<br />

em um ambiente organizacional diferente.<br />

Essas capacidades gerenciais devem contemplar<br />

as questões que incluem: entender<br />

os motivadores fundamentais favorecendo<br />

estratégias colaboradoras; a escolha de<br />

parceiros; os facilitadores e componentes<br />

importantes para a colaboração efetiva; a<br />

habilidade para definir e avaliar efetividade<br />

de rede em atingir metas de marketing;<br />

e a capacidade de uma rede oferecer uma<br />

vantagem ao cliente, na qual a estratégia<br />

da empresa é baseada.<br />

Alianças estratégicas, fusões, aquisições<br />

e redes estratégicas não são soluções<br />

para to<strong>dos</strong> os problemas estratégicos, mas<br />

trazem um desenvolvimento importante<br />

com muitos benefícios potenciais. Porém,<br />

eles também trazem muitos riscos estratégicos<br />

e vulnerabilidades e exigem novas<br />

habilidades gerenciais.<br />

Considerando os casos das alianças,<br />

fusões e aquisições de empresas, podese<br />

perceber que a cultura organizacional<br />

resultante nem sempre tem uma identidade<br />

clara. Isto acontece porque as organizações<br />

que passam por esses processos são<br />

multiculturais e a união entre elas pode gerar<br />

uma perda de identidade de ambas as<br />

empresas e uma dificuldade para construir<br />

a nova cultura.<br />

Cerca de 50% <strong>dos</strong> processos de<br />

fusões e aquisições não originam empresas<br />

eficientes por causa das diversidades culturais<br />

e a da dificuldade de se unir empresas<br />

de culturas diferentes, como será exposto<br />

no próximo tópico.<br />

Com o passar do tempo, as interações<br />

entre as pessoas que pertencem à<br />

organização e também as relações que são<br />

mantidas entre a organização e o ambiente<br />

externo com fornecedores, distribuidores,<br />

clientes causam impactos na cultura<br />

essencial da organização.<br />

4.1 JOINT VENTURES<br />

É uma sociedade entre duas empresas,<br />

de nacionalidades diferentes, fre-<br />

qüentemente estabelecendo uma nova<br />

entidade jurídica autônoma separada das<br />

duas anteriores que continuam a operar em<br />

seus respectivos países. Neste caso, ocorre a<br />

criação de uma nova empresa, com vida jurídica<br />

própria.<br />

Uma joint venture pode ser totalmente<br />

montada a partir do nada em um<br />

país, ou ainda pode ser baseada em ativos<br />

que uma das empresas porventura tenha<br />

em um dado país. Neste caso, ocorre também<br />

uma transferência de cultura de uma<br />

das empresas que participam da joint venture<br />

para a nova empresa.<br />

As joint ventures apresentam riscos<br />

culturais menores do que os das fusões<br />

e aquisições internacionais, pois as empresas<br />

decidem, através de acor<strong>dos</strong>, com que<br />

ativos elas desejam ingressar para a formação<br />

da nova empresa.<br />

A literatura tem constatado que<br />

as joint ventures administradas por uma<br />

das partes têm mais chances de sucesso que<br />

aquelas que repartem a administração.<br />

Algumas vantagens da joint venture<br />

são:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Alta capacidade de superar barreiras<br />

de entrada;<br />

Baixo risco político e econômico;<br />

Alta capacidade de adaptação ao<br />

mercado local;<br />

Baixo conhecimento do mercado externo<br />

requerido;<br />

Alto conhecimento do mercado estrangeiro<br />

ganho;<br />

Alto grau de controle das atividades<br />

de marketing;<br />

Alto potencial absoluto de vendas.<br />

Como desvantagens, podemos citar:<br />

·<br />

• Alto nível de investimento de recursos<br />

financeiros e de pessoal requerido;<br />

•<br />

Alto potencial para criar competidores.<br />

5. as eMPresas LG, PhILIPs e LG.PhILIPs<br />

DIsPLaYs<br />

As três empresas apresentam diferenças<br />

marcantes, com relação às estratégias<br />

de mercado adotadas, desenvolvimento<br />

tecnológico, processos, estruturas<br />

e pessoas. As posturas adotadas frente aos<br />

clientes externos, como fornecedores, parceiros<br />

e clientes finais, e internos, como os<br />

ARTIGO


funcionários, diretores e acionistas, e também<br />

frente aos principais concorrentes e às<br />

mudanças conjeturais, impactaram diretamente<br />

na cultura das organizações.<br />

A cultura oriental influenciou a<br />

cultura da empresa LG, que apesar de ser<br />

muito conservadora e hierárquica, é orientada<br />

ao desenvolvimento tecnológico e a<br />

processos, enquanto a cultura ocidental<br />

influenciou a Philips, que é orientada ao<br />

mercado e ao relacionamento com os clientes.<br />

A LG.Philips Displays é muito recente,<br />

mas mostra uma tendência de integração<br />

das duas culturas.<br />

Neste sentido, é muito importante<br />

entender como as empresas que formaram<br />

a joint venture nasceram e se desenvolveram<br />

no cenário mundial. Além disso,<br />

serão descritos os principais merca<strong>dos</strong> de<br />

atuação e os produtos e serviços comercializa<strong>dos</strong><br />

pelas empresas em estudo.<br />

5.1 LG<br />

A holding LG Corp. foi consolidada<br />

em primeiro de março de 2003 e é formada<br />

por 49 empresas, divididas em quatro<br />

segmentos de negócios. Estas empresas<br />

trabalham com a identidade da marca LG e<br />

também com a mesma filosofia.<br />

As diferentes organizações têm o<br />

mesmo objetivo, de serem as melhores em<br />

seus segmentos. A seguir, são relacionadas<br />

todas as empresas que fazem parte da<br />

LG Corp. e estão divididas por segmento<br />

de atuação:<br />

a) Química e Energia<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

LG Chem Ltd.<br />

LG Household & Health Care Ltd.<br />

LG Life Sciences Ltd.<br />

LG Petrochemical Co., Ltd.<br />

LG Siltron Inc.<br />

LG MMA Corp.<br />

LG-Dow Polycarbonate Ltd.<br />

LG-Caltex Oil Corp.<br />

LG-Caltex Gas Co., Ltd.<br />

KukDong City Gas Co., Ltd.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

LG Energy Co., Ltd.<br />

LG Power Co., Ltd.<br />

Seorabul City Gas Co., Ltd.<br />

Haeyang City Gas Co., Ltd.<br />

Clean Energy Technologies, Inc.<br />

b) Eletrônica e Telecomunicações<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

LG Electronics<br />

Hiplaza<br />

LG N-Sys<br />

LG Philips LCD<br />

LGIBM PC<br />

LG Innotek<br />

LG Micron<br />

LG TeleCom<br />

DACOM<br />

Powercomm Corporation<br />

Dacom IN<br />

DacomMultimedia Internet<br />

DACOM Crossing<br />

Korea Internet Data Center<br />

Customer Interaction Center Korea<br />

Inc<br />

LG CNS<br />

LG Industrial Systems<br />

LG Cable<br />

LG-Nikko Copper<br />

c) Financeira<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

d) Serviços<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

LG Investment & Securities Co., Ltd.<br />

LG Investment trust Management<br />

Co., Ltd.<br />

LG Futures Co., Ltd.<br />

LG Card Co., Ltd.<br />

Bumin Mutual Savings Bank<br />

LG International Corp.<br />

LG Engineering & Construction Corp.<br />

Hanmoo Development /<br />

InterContinental Hotels Seoul<br />

LG Mart Co., Ltd.<br />

LG MRO Co., Ltd.<br />

Konjiam Leisure Co., Ltd.<br />

LG Home Shopping Inc.<br />

LG Sports Ltd.<br />

LG Economic Research Institute<br />

LG Academy<br />

9


américas África<br />

europa e rússia<br />

40 ARTIGO<br />

Oriente Médio Ásia<br />

EUA África do Sul Alemanha Arábia Saudita Austrália<br />

Argentina Costa do Marfim Áustria Irã Cazaquistão<br />

Brasil Tunísia Espanha Israel China<br />

Chile França Jordânia Coréia<br />

Colômbia Grécia Emira<strong>dos</strong> Árabes Filipinas<br />

México Holanda Guam (EUA)<br />

Panamá Hungria Hong Kong<br />

Peru Inglaterra Índia<br />

Display<br />

Digital<br />

Plasma<br />

Projetor<br />

LCD<br />

TV de<br />

Projeção<br />

TV LCD<br />

As 49 empresas estão distribuídas em diferentes países, conforme mostrado a seguir:<br />

No Brasil, desde 1997, a LG Electronics<br />

possui dois complexos industriais,<br />

localiza<strong>dos</strong> em Manaus (AM) e Taubaté<br />

(SP), que produzem diversos modelos de<br />

eletroeletrônicos, como TVs convencionais,<br />

de plasma, LCD e de projeção, videocassetes,<br />

condicionadores de ar, aparelhos de<br />

DVD, monitores e telefones celulares. A<br />

Áudio Televisores<br />

Mini<br />

System<br />

TaBeLa: LG nO MUnDO<br />

Cinemaster DVD<br />

Flatron<br />

Itália Indonésia<br />

Polônia Japão<br />

Portugal Malásia<br />

Romênia Paquistão<br />

Rússia Cingapura<br />

Suécia Sri Lanka<br />

Turquia Tailândia<br />

Ucrânia Taiwan<br />

TaBeLa: MerCaDO LG<br />

Vídeo/<br />

DVD<br />

Vídeo-<br />

cassete<br />

eletro-<br />

domésticos<br />

Ar-condicionado<br />

Informática<br />

Vietnã<br />

subsidiária brasileira faturou R$ 1,2 bilhão<br />

em 2002.<br />

A unidade de negócios Digital Display<br />

and Media (DDM) oferece produtos com<br />

tecnologia digital de ponta, como TV digital,<br />

incluindo plasma e LCD, além de produtos digitalmente<br />

integra<strong>dos</strong>. Os produtos comercializa<strong>dos</strong><br />

pela LG Electronics no Brasil são:<br />

Telecomunicações<br />

Monitores Celulares<br />

Dispositivos<br />

Ópticos


5.2 PHILIPS<br />

Fundada por Gerard Philips, no dia<br />

15 de maio de 1891, na cidade holandesa<br />

de Eindhoven, a Philips cresceu rapidamente<br />

com o passar <strong>dos</strong> anos, passando de uma<br />

empresa familiar a um <strong>dos</strong> mais poderosos<br />

grupos multinacionais do mundo. Também<br />

no Brasil, onde chegou em 1924, a Philips<br />

viveu um momento de grande crescimento,<br />

a partir da década de 1950.<br />

O faturamento anual da Philips no<br />

Brasil gira em torno de US$ 1,5 bilhão, sendo<br />

que as exportações superam anualmente<br />

a casa de US$ 200 milhões. Na região da<br />

América Latina, que reúne 18 países sob o<br />

comando da Philips brasileira, o movimento<br />

das vendas supera os US$ 3 bilhões. As<br />

Divisões de Produtos da Philips são:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Consumer Electronics (produtos de<br />

áudio, vídeo e monitores para informática),<br />

Components (componentes<br />

para a indústria eletroeletrônica, de<br />

informática e de telecomunicações);<br />

DAP - Domestic Appliances and Personal<br />

Care (eletrodomésticos marca<br />

Walita e produtos para cuida<strong>dos</strong> pessoais);<br />

Lighting (produtos para iluminação);<br />

Business Electronics (centrais digitais<br />

de PABX, monitores para informática,<br />

equipamentos profissionais para<br />

broadcast e miniantenas/decodificadores)<br />

e Atividades <strong>Prof</strong>issionais<br />

(equipamentos médico-hospitalares/<br />

teste e medição).<br />

As metas da organização de manter<br />

as posições de liderança com rentabilidade<br />

e competitividade, continuam sendo<br />

perseguidas.<br />

Por não existirem no cenário econômico<br />

local indicações de que condições<br />

estruturais, queda nos juros e substancial<br />

aumento na oferta de crédito ao consumidor<br />

possam vir a impactar no mercado de<br />

eletroeletrônicos, as projeções de crescimento<br />

da organização são comparadas ao<br />

crescimento do PIB do país.<br />

Isso significa que as melhores e<br />

maiores possibilidades de aumentar as vendas<br />

estão nas exportações. Praticamente<br />

todas as Divisões de Produtos têm planos<br />

consistentes nessa direção. O plano de ne-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

gócio da organização é dobrar as exportações<br />

até o final do ano de 2003, relativo ao<br />

exercício do ano de 2002.<br />

Na América Latina, a posição de<br />

liderança de mercado está fortemente<br />

consolidada no Mercosul (Argentina, Paraguai<br />

e Uruguai), sendo que conseguiram<br />

se posicionar entre as empresas que<br />

disputam o primeiro lugar em to<strong>dos</strong> os<br />

demais países.<br />

Os custos de produção e gestão<br />

das fábricas brasileiras atingiram níveis<br />

mundiais de competitividade e deverão<br />

representar forte impulso para a busca<br />

<strong>dos</strong> objetivos e metas empresariais.<br />

A Royal Philips Eletronics é uma<br />

empresas do grupo Philips que atua na<br />

divisão de produto Consumer Electronics<br />

e Components.<br />

5.3 LG.PHILIPS DISPLAYS<br />

Em julho de 2001 as empresas LG<br />

Electronics e Royal Philips Electronics se<br />

juntaram a fim de realizar a joint venture<br />

com o objetivo de serem a líderes mundiais<br />

em tecnologia e fabricação de cinescópios<br />

para televisores e monitores. A aliança deu<br />

origem a LG.Philips Displays.<br />

A joint venture consolidou a liderança<br />

do mercado, resultado da sinergia<br />

em inovação, produção e exploração<br />

de diferentes áreas geográficas. A união<br />

entre as duas empresas gerou resulta<strong>dos</strong><br />

positivos no desenvolvimento <strong>dos</strong> tubos e<br />

na comercialização <strong>dos</strong> produtos para os<br />

clientes mundiais.<br />

A LG.Philips Displays no Brasil tem<br />

quatro filiais, sendo:<br />

·<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Duas em São Paulo: Mauá e São José<br />

<strong>dos</strong> Campos;<br />

Uma em Pernambuco: Recife;<br />

Uma no Amazonas: Manaus.<br />

Conta também com a parceria<br />

com a empresa Corning do Brasil Ltda., que<br />

está situada em Suzano, São Paulo.<br />

A principal fábrica é a de São José<br />

<strong>dos</strong> Campos, onde são fabrica<strong>dos</strong> e monta<strong>dos</strong><br />

os cinescópios para televisores 14” e<br />

20”, e daí vendi<strong>dos</strong> para as principais montadoras<br />

de TV no mundo.<br />

A fábrica da Corning Brasil, em<br />

Suzano, tem sua capacidade de produção<br />

100% voltada para atender às necessidades<br />

41


da fábrica de Capuava, Mauá. Esta fábrica<br />

produz cones em vidro para telas de TVs<br />

nos tamanhos, 14”, 20”, 21” e 29”.<br />

Na fábrica de Capuava, são fabricadas<br />

telas para TVs de 14” e 20” e controlada<br />

toda a produção da Corning do Brasil.<br />

A organização LG.Philips Displays<br />

passou a representar os produtos que eram<br />

fabrica<strong>dos</strong> pelas duas empresas que participaram<br />

da joint venture.<br />

A Philips participou com o fornecimento<br />

da tecnologia <strong>dos</strong> tubos de televisores<br />

e a LG participou com o fornecimento da<br />

tecnologia <strong>dos</strong> tubos de displays colori<strong>dos</strong>.<br />

A nova organização se beneficia<br />

das vantagens das tecnologias, industriais<br />

e experiência da Philips e também da LG.<br />

A sinergia das duas organizações<br />

trouxe resulta<strong>dos</strong> para a gestão da produção<br />

e distribuição <strong>dos</strong> seus produtos, tornando<br />

a nova empresa mais rápida e próxima<br />

<strong>dos</strong> seus fornecedores e clientes.<br />

A inovação gerada pelas duas organizações<br />

tornou possível a integração de<br />

novos produtos e melhorias no processo. O<br />

aproveitamento <strong>dos</strong> diferentes produtos<br />

das duas organizações tornou a empresa<br />

mais competitiva no mercado mundial.<br />

Outro benefício foi a aproximação<br />

física <strong>dos</strong> fornecedores e clientes. Esta<br />

proximidade gerou benefícios no entendimento<br />

das necessidades <strong>dos</strong> clientes e<br />

proporcionou o desenvolvimento de novos<br />

produtos com a ajuda <strong>dos</strong> fornecedores.<br />

A LG.Philips Displays é líder no<br />

mercado de CRT (Cathode ray tube). A indústria<br />

de tubos é ativa em todo o mundo<br />

e diferentes modelos de produto são cria<strong>dos</strong>.<br />

Novas tecnologias, como o plasma e<br />

telas de alta definição, são desenvolvidas.<br />

Os tubos da LG.Philips são finos e<br />

com alta definição de imagem. Com estas<br />

classificações o CRT se torna bastante competitivo,<br />

além de contribuir para as novas<br />

tecnologias de displays.<br />

A joint venture possibilita, desta<br />

forma, a exploração de novos merca<strong>dos</strong> e<br />

também tecnologias.<br />

A LG.Philips Displays atua no mercado<br />

hoje com duas linhas de produtos:<br />

•<br />

•<br />

Tubos de imagens coloridas para televisores;<br />

Tubos de display colori<strong>dos</strong> para monitores<br />

de computadores.<br />

Estas linhas de produtos possibili-<br />

42 ARTIGO<br />

tam a produção de diversos modelos de televisores.<br />

Os mais comuns e conheci<strong>dos</strong> são:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Monitores;<br />

Flatron;<br />

Tela plana;<br />

Telas curvadas até 32”.<br />

Os dois maiores clientes da<br />

LG.Philips Displays são as empresas que a<br />

originaram. A organização tem o objetivo<br />

de suprir as demandas da Philips e da LG<br />

Electronics. A capacidade restante de produção<br />

é direcionada para clientes, como<br />

Sharp, Sanyo, JVC, AOC, CEBQ, NMV e<br />

outras, que consomem uma porcentagem<br />

bastante pequena da produção total.<br />

6. LG.PhILIPs DIsPLaYs: FaTOres e resUL-<br />

TaDOs<br />

Incertezas e inseguranças estão<br />

associadas à quase todas as fusões e aquisições.<br />

No caso da joint venture LG.Philips<br />

Displays não foi diferente.<br />

A proposta de união entre as duas<br />

empresas partiu da Philips, mas a LG já estava<br />

estudando a possibilidade da aliança há alguns<br />

anos. Desta forma, o acordo para a formação<br />

da joint venture foi construído com a<br />

aprovação <strong>dos</strong> principais membros das duas<br />

organizações. No entanto, as percepções e<br />

reações <strong>dos</strong> funcionários das duas empresas<br />

foram de apreensão e insegurança.<br />

Em um primeiro momento, os funcionários<br />

ficaram receosos quanto à possibilidade<br />

de demissões. Para contornar a situação,<br />

as direções das duas empresas formalizaram<br />

uma carta-compromisso, afirmando que não<br />

haveria demissões. O objetivo era a manutenção<br />

<strong>dos</strong> principais funcionários da organização<br />

e também possibilitar a transição sem<br />

que o resultado financeiro fosse prejudicado<br />

pelo ambiente confuso e incerto.<br />

A insegurança quanto às condições<br />

de trabalho era percebida pelos membros<br />

das duas organizações. As conseqüentes<br />

restrições à formação da joint venture<br />

foram expressas de diferentes formas pelos<br />

funcionários de cada uma das empresas. As<br />

restrições se relacionavam, principalmente,<br />

aos fatores culturais, como língua, valores,<br />

crenças, estilos de gestão e a dificuldade<br />

de conversão <strong>dos</strong> valores monetários de<br />

padrões ocidentais para padrões orientais<br />

e vice-versa.


Às restrições culturais das duas<br />

partes participantes do processo somavam-se<br />

outros fatores, que são inerentes<br />

a qualquer mudança. Dentre os fatores<br />

mais comuns pode-se citar agendas pessoais,<br />

manutenção de poder, conflitos<br />

internos já existentes, dificuldade de posicionamento<br />

pró-ativo frente à mudança<br />

e dificuldade de sair da zona de conforto,<br />

entre outros.<br />

A direção das empresas LG e Philips,<br />

com a intenção de conseguir uma adesão<br />

maior ao processo, montou comitês de<br />

trabalhos para promover o entendimento<br />

<strong>dos</strong> objetivos da joint venture pelos membros<br />

das duas organizações.<br />

Os comitês são grupos de pessoas<br />

selecionadas, em geral formadoras de<br />

opinião, e que se reúnem com o objeti-<br />

A conclusão da joint venture<br />

orientou-se pela premissa estabelecida<br />

pelas duas partes de dividir a participação<br />

societária igualmente, em 50%. A nova<br />

empresa LG.Philips Displays representaria a<br />

somatória integral das duas organizações.<br />

É importante lembrar que a joint venture<br />

é específica para as fábricas de displays,<br />

não são consideradas as outras atividades<br />

e produtos de cada uma das empresas LG e<br />

Philips, que continuam a atuar nos outros<br />

merca<strong>dos</strong> como concorrentes.<br />

Os objetivos principais das duas<br />

organizações eram:<br />

·<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Redução de custos de produção;<br />

Redução de custos de distribuição;<br />

Melhorar o aproveitamento <strong>dos</strong> recursos<br />

disponíveis;<br />

Integrar competências: tecnológica e<br />

de processos (LG) com visão de mercado<br />

(Philips);<br />

Integrar merca<strong>dos</strong>: europeu e asiáti-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

TaBeLa: aTIVOs<br />

vo de discutir um assunto determinado e<br />

desenvolver sugestões que possam contribuir<br />

para a satisfação <strong>dos</strong> clientes internos<br />

e externos.<br />

Os resulta<strong>dos</strong> espera<strong>dos</strong> com a<br />

formação <strong>dos</strong> comitês deram certo e conseqüentemente<br />

algumas barreiras à mudança<br />

foram quebradas.Outras discussões<br />

que antecederam o acordo foram como<br />

seria a participação societária e como cada<br />

organização poderia contribuir para a melhoria<br />

do todo.<br />

Diversos estu<strong>dos</strong> contábeis foram<br />

desenvolvi<strong>dos</strong> em um período de dois anos<br />

para auditar o valor de cada uma das empresas.<br />

A necessidade era verificar como seria a<br />

participação societária da nova organização.<br />

Os ativos imobiliza<strong>dos</strong> e também implícitos<br />

das duas empresas diferiam bastante:<br />

PhILIPs LG<br />

FUnCIOnÁrIOs 25 mil 20 mil<br />

MerCaDO Américas e Europeu Asiático e Europeu<br />

VIsÃO Mercado/Vendas Produção/Qualidade<br />

•<br />

•<br />

co (LG) com o das Américas e europeu<br />

(Philips);<br />

Aumentar a capacidade de inovação<br />

e desenvolvimento de produtos;<br />

Formar uma empresa fornecedora de<br />

displays para qualquer empresa.<br />

A aliança entre as duas empresas<br />

resultou em mudanças significativas nos<br />

processos, estrutura, tecnologia, pessoas e<br />

estratégia de gestão.<br />

Os processos gerenciais pratica<strong>dos</strong><br />

pelas duas organizações sofreram diversas<br />

adaptações com o objetivo de aproveitar o<br />

melhor de cada um <strong>dos</strong> processos específicos.<br />

Os processos de vendas, distribuição<br />

e serviços ao cliente da Philips eram mais<br />

efetivos, enquanto os processos de fabricação<br />

e gestão empresarial internos eram mais<br />

fortes na LG. Em conseqüência da união, os<br />

custos da não qualidade da produção, venda<br />

e relacionamento com os clientes foram<br />

reduzi<strong>dos</strong> significativamente.<br />

4


A LG.Philips Displays seguiu o<br />

exemplo de diversas organizações que se<br />

unificaram para aproveitar os fatores de<br />

produção de maneira mais eficiente, além<br />

de otimizarem os canais de distribuição.<br />

A direção da nova empresa adotou<br />

as práticas de controle da qualidade da<br />

LG e treinou os funcionários para as novas<br />

políticas e procedimentos. Como exemplo<br />

<strong>dos</strong> novos processos pode-se citar a adoção<br />

da filosofia do 6 Sigma, que tem como objetivo<br />

principal a supressão do retrabalho.<br />

A otimização da utilização <strong>dos</strong> fatores<br />

de produção e também da distribuição<br />

<strong>dos</strong> produtos para os clientes finais LG, Philips<br />

e outras empresas, possibilitaram:<br />

·<br />

•<br />

•<br />

Redução do período de tempo de<br />

produção;<br />

Diminuição <strong>dos</strong> estoques de produtos<br />

semi-acaba<strong>dos</strong> e acaba<strong>dos</strong>;<br />

TaBeLa: CULTUra Da OrGanIZaÇÃO<br />

44 ARTIGO<br />

•<br />

•<br />

Redução do período de tempo de distribuição<br />

para as fábricas;<br />

Aumento na capacidade de desenvolvimento<br />

e inovação de produtos.<br />

Como resultado da melhoria <strong>dos</strong><br />

processos, que se tornaram mais ágeis e<br />

menos custosos, a organização aumentou<br />

sua competitiva no mercado mundial.<br />

O processo de reestruturação da<br />

organização talvez tenha sido o mais difícil<br />

e trabalhoso na formação da nova empresa.<br />

A empresa LG tem estrutura organizacional<br />

hierárquica, paternalista e<br />

formal, enquanto a Philips tem estrutura<br />

organizacional participativa, descentralizada,<br />

e informal. As estruturas das duas<br />

organizações são reflexos de suas culturas.<br />

O quadro abaixo mostra a cultura<br />

das duas organizações, que têm grandes<br />

referências de suas origens:<br />

PhILIPs LG<br />

OrIGeM Holandesa Coreana<br />

heMIsFÉrIO Ocidental Oriental<br />

reMUneraÇÃO Desempenho Tempo de casa<br />

POsTUra Inovadora/Aceita riscos Conservadora/Avessa a riscos<br />

PLanejaMenTO Curto prazo/Oportunidades Longo prazo<br />

FILOsOFIa Intuitiva/Ousada Analítica/Cautelosa<br />

esTrUTUra Participativa Autocrática<br />

A reestruturação foi desenvolvida<br />

em conjunto, através de diversas negociações<br />

para que os dois la<strong>dos</strong> pudessem se<br />

sentir satisfeitos. A insegurança era relacionada<br />

ao formato que a nova estrutura<br />

representaria, como seria o novo organograma<br />

e, principalmente, quem assumiria<br />

o comando da nova organização.<br />

Para responder a essas dúvidas, o<br />

comando da organização resolveu adotar<br />

um sistema de rotatividade periódica da<br />

liderança, que se daria de cinco em cinco<br />

anos. O comando do primeiro mandato ficou<br />

com a Philips e, após o período de cinco<br />

anos, será trocado por pessoas da LG. O<br />

objetivo principal é tornar a fase de transição<br />

menos traumática.<br />

Outra necessidade da reestruturação<br />

foi unificar o comando da organização,<br />

que antes era regional e passou a ser global.<br />

Desta forma, a estrutura da LG.Philips<br />

Displays compatibilizou-se com os novos<br />

processos, tecnologias, pessoas e estratégias<br />

organizacionais.<br />

A tecnologia adotada na LG.Philips<br />

Displays foi resultado do benchmarking interno,<br />

aproveitando a competência que os<br />

coreanos desenvolveram nos seus processos<br />

de gestão e tecnologias durante a história<br />

da companhia.


A aliança entre as duas empresas<br />

resultou em uma sinergia das competências<br />

de produção da empresa coreana com<br />

a visão de mercado da empresa holandesa.<br />

A otimização <strong>dos</strong> processos de gestão e a<br />

sinergia tecnológica entre as duas empresas<br />

possibilitaram o desenvolvimento de<br />

produtos já existentes e criação de novos<br />

produtos e soluções.<br />

Os novos produtos gera<strong>dos</strong> da<br />

união foram:<br />

·<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

29 Real Flat Tinted;<br />

21 Real Flat Slim;<br />

34 Real Flat, entre outros.<br />

O processo de integração das pessoas<br />

continua em desenvolvimento. Para<br />

esse processo foi montado um time de pessoas<br />

que se chama Integration Team (time<br />

de integração), que tem como objetivo<br />

principal aproximar os funcionários e fazêlos<br />

trabalharem em grupo.<br />

A empresa promove diversas atividades<br />

de divulgação das culturas coreana<br />

e holandesa, diversificando o cardápio<br />

com comidas típicas, desenvolvendo festas<br />

folclóricas de cada país e disponibilizando<br />

cursos das línguas natais <strong>dos</strong> coreanos e<br />

<strong>dos</strong> holandeses.<br />

Além da divulgação das culturas <strong>dos</strong><br />

países de origem da LG e da Philips, são desenvolvidas<br />

atividades esportivas, como jogos<br />

e campeonatos, e também reuniões familiares<br />

para que to<strong>dos</strong> possam se conhecer melhor.<br />

A estratégia organizacional das<br />

duas empresas LG e Philips era de aproveitar<br />

as competências uns <strong>dos</strong> outros para<br />

construir uma nova empresa, que pudesse<br />

ser líder no mercado mundial e que<br />

gerasse redução de custos de produção e<br />

comercialização. Além disso, pretendiam<br />

explorar merca<strong>dos</strong> que suas marcas não<br />

tinham visibilidade.<br />

A intenção da LG era explorar o<br />

mercado europeu e das Américas, enquanto<br />

a Philips desejava entrar nos merca<strong>dos</strong><br />

asiático, africano e do Oriente Médio.<br />

A formação da joint venture terceirizava<br />

os custos de produção <strong>dos</strong> displays,<br />

mas mantinha o comando da organização.<br />

Desta forma, a LG.Philips poderia, além de<br />

comercializar seus produtos para a LG e<br />

para a Philips, explorar o segmento, vendendo<br />

produtos para outros fabricantes de<br />

televisores e de telas para computadores.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

As metas de produção de cada<br />

planta são definidas em reuniões bimestrais.<br />

A definição das quantidades a serem produzidas<br />

por cada planta é acordada entre to<strong>dos</strong><br />

os líderes locais. Desta forma, as diferentes<br />

plantas têm se utilizado integralmente de<br />

seus potenciais de produção. As plantas da<br />

empresa têm trabalhado 24 horas por dia,<br />

sete dias por semana e 350 dias por ano.<br />

As reuniões semestrais de planejamento<br />

de produção definem também a<br />

exploração <strong>dos</strong> diferentes merca<strong>dos</strong>. Esse<br />

cuidado foi tomado para que as empresas de<br />

diferentes países não acabassem disputando /<br />

concorrendo com outras. A demanda de cada<br />

região é analisada para a tomada de decisão<br />

de como as diferentes plantas podem interagir<br />

e se integrar, para gerar o melhor resultado<br />

para a organização como um todo.<br />

Frente às novas estratégias, foram<br />

desenvolvidas discussões para a construção<br />

<strong>dos</strong> modelos de competências organizacionais<br />

que deveriam ser buscadas pelas pessoas.<br />

As competências definidas para o negócio<br />

da LG.Philips Displays foram: Inovação,<br />

Foco no cliente e Consciência de custo.<br />

A competência da inovação pode<br />

ser percebida na formação da visão da empresa<br />

que ficou definida como: “LOOK AT<br />

THE FUTURE”.<br />

Esta visão é praticada e traduzida,<br />

de acordo com a cultura local onde se localiza<br />

a fábrica da empresa. Como exemplo,<br />

pode-se citar a tradução brasileira e a mexicana,<br />

respectivamente:<br />

“FAZEMOS SEMPRE MELHOR” – Brasil.<br />

“HACEMOS NOSTRAS VIDAS MEJORES” -<br />

México.<br />

Para alinhar as pessoas às estratégias<br />

organizacionais foram estabelecidas as<br />

práticas de recompensas por resulta<strong>dos</strong> alcança<strong>dos</strong><br />

e também a educação continuada.<br />

A intenção <strong>dos</strong> investidores é expressa<br />

pela necessidade de redução de custos<br />

e a busca constante de margem de lucratividade.<br />

Qualquer mudança que diminua a<br />

margem de lucro é reprimida, mesmo que<br />

possa trazer resulta<strong>dos</strong> em longo prazo.<br />

7. COnCLUsÕes<br />

Os objetivos deste artigo foram<br />

identificar os fatores que levaram as empresas<br />

LG e Philips a formarem uma joint ven-<br />

45


ture e analisar os resulta<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> desde<br />

a sua formação, fazendo a integração das<br />

duas, utilizando os referenciais conceituais.<br />

Como vimos anteriormente, no<br />

ambiente do século XXI, as empresas deparam-se<br />

com o desafio de desenvolver um<br />

nível ideal de globalização que gere concentrações<br />

adequadas das operações locais<br />

e globalizadas para a empresa.<br />

Este ambiente também é crescentemente<br />

caracterizado por: escassez de<br />

recursos, maiores expectativas <strong>dos</strong> clientes<br />

por serviços e qualidade, pressões de grandes<br />

distribuidores para alcançarem maiores<br />

ganhos de escala nos custos na cadeia de<br />

fornecedores, taxas muito rápidas de mudanças<br />

nos merca<strong>dos</strong> e tecnologias e merca<strong>dos</strong><br />

mais turbulentos e imprevisíveis.<br />

Uma das mais importantes respostas<br />

a essas condições competitivas de mercado<br />

tem surgido de colaboração e parceria<br />

com outras empresas, como um elemento do<br />

processo de direcionamento ao mercado.<br />

Analisando este ambiente, pudemos<br />

observar que as empresas LG Eletronics<br />

e Royal Philips Eletronics ilustram o<br />

caminho que a maioria das empresas estão<br />

seguindo, e encontraram uma maneira de<br />

se manterem competitivas e serem líderes<br />

mundiais em tecnologia e fabricação de cinescópios<br />

para televisores e monitores.<br />

As empresas constituíram uma<br />

joint venture que pode ser classificada<br />

como uma fusão (internacional parcial) ou<br />

uma aliança estratégica (joint venture internacional).<br />

Pode-se perceber com o estudo realizado<br />

destas duas organizações formadoras<br />

da joint venture LG.Philips Displays e na própria<br />

empresa que, embora tenham tido sucesso<br />

com a fusão (em 2002 foi considerada a<br />

líder mundial na fabricação de cinescópios),<br />

a situação atual exige bastante atenção com<br />

a gestão das diferenças culturais.<br />

Pudemos levantar os fatores<br />

que levaram à constituição da LG.Philips<br />

Displays que envolviam a estratégia de<br />

compartilhar competências tecnológica<br />

e de processos (LG) e visão de mercado<br />

(Philips), a fim de construir uma nova empresa<br />

que pudesse ser líder no mercado<br />

mundial. Além disso, pretendiam explorar<br />

merca<strong>dos</strong> que suas marcas individuais<br />

não tinham visibilidade, ou seja, a LG tinha<br />

a intenção de explorar os merca<strong>dos</strong><br />

europeu e das Américas; e a Philips, os<br />

46 ARTIGO<br />

merca<strong>dos</strong> asiático, africano e do Oriente<br />

Médio. Com a formação da joint venture,<br />

os custos de produção <strong>dos</strong> displays seriam<br />

terceiriza<strong>dos</strong>, mas o comando da organização<br />

seria mantido. Desta forma, a joint<br />

venture atenderia os outros objetivos que<br />

eram: redução de custos de produção e<br />

distribuição, melhor aproveitamento <strong>dos</strong><br />

recursos disponíveis, aumentar a capacidade<br />

de inovação e desenvolvimento de<br />

produtos e formar uma empresa fornecedora<br />

de displays para qualquer empresa.<br />

Conforme foi comentado anteriormente,<br />

grande parte das fusões e aquisições<br />

não trazem os resulta<strong>dos</strong> espera<strong>dos</strong><br />

e podem se tornar inviáveis, assim como<br />

vimos as vantagens e desvantagens das<br />

alianças estratégicas. O caso da joint venture<br />

estudado mostrou que as diferenças<br />

culturais entre as duas empresas, apesar<br />

de se somarem em muitos casos como nos<br />

benefícios trazi<strong>dos</strong> pela competência mercadológica<br />

da Philips e a produtiva da LG,<br />

são opostas e resultantes de particularidades<br />

de suas histórias.<br />

O estudo das histórias das duas<br />

empresas foi importante para traçar os perfis<br />

culturais de cada uma delas e também<br />

para entender como as diferenças poderiam<br />

influenciar na formação e gestão da nova<br />

organização. A empresa LG conserva traços<br />

culturais de sua história de desenvolvimento<br />

no ambiente social <strong>dos</strong> países orientais enquanto<br />

a Philips traz perfis culturais de seu<br />

desenvolvimento nos países ocidentais.<br />

As diferenças encontradas seriam<br />

suficientes para inviabilizar a formação da<br />

nova companhia, no entanto, os fatores e<br />

variáveis mercadológicos, como a globalização<br />

e crescente competitividade, fizeram<br />

com que as duas empresas assumissem os<br />

riscos <strong>dos</strong> possíveis choques culturais para<br />

a consolidação da união.<br />

Os corpos diretivos das duas empresas<br />

conseguiram trabalhar muito bem<br />

com as pessoas e promover a integração<br />

das diferentes culturas. Existe um longo<br />

caminho a ser percorrido para o desenvolvimento<br />

da identidade cultural esperada.<br />

No entanto, a nova organização<br />

conseguiu definir fatores importantes para<br />

atingir os resulta<strong>dos</strong>:<br />

•<br />

Objetivo claro: entende-se objetivo,<br />

neste caso, como o ponto a se chegar,<br />

em que tempo e com que recursos;


•<br />

•<br />

•<br />

Sistemas de avaliação e gerenciamento<br />

de indicadores;<br />

Análise de potenciais a serem trabalha<strong>dos</strong>;<br />

Alinhamento das pessoas às estratégias<br />

da organização.<br />

A fusão foi um sucesso, visto que<br />

em 2002 a LG.Philips Displays, com menos<br />

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FUSÕES: vamos falar de fracassos. Valor<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

de um ano de existência, foi considerada a<br />

líder mundial na fabricação de cinescópios,<br />

tendo a participação de 27% do mercado<br />

mundial neste setor. Hoje, um em cada<br />

quatro televisores ou monitores para computador,<br />

tem componentes LG.Philips Displays.<br />

A LG.Philips Displays gera mundialmente<br />

30 mil empregos, distribuí<strong>dos</strong> em 27<br />

fábricas no mundo.<br />

econômico. São Paulo. 6 dez. 2000. Suplemento<br />

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MUnICIPaLIZaÇÃO DO ensInO FUnDaMenTaL:<br />

DesaFIOs e PersPeCTIVas<br />

Seminário da Pós-Graduação 1<br />

Evento realizado em 17 de maio de<br />

2005, discutiu os desafios e as perspectivas<br />

da municipalização do ensino fundamental<br />

na Região do Grande ABC, tema voltado<br />

para professores e especialistas em Educação<br />

e Administração. Coordenado pelos professores<br />

Antonio Carlos Gil e <strong>Roberto</strong> <strong>Elísio</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>Santos</strong>, contou com a presença de Cleuza<br />

Rodrigues Retulho, secretária de Educação<br />

de Santo André, Admir Donizeti Ferro, secretário<br />

especial de Coordenação de Ações<br />

Voltadas à Comunidade de São Bernardo do<br />

Campo, Walter Figueira Júnior, diretor de<br />

Educação de São Caetano do Sul, Edgar Fernandes<br />

Neto, vice-presidente da APEOESP, e<br />

da professora Marília Claret Geraes Duran,<br />

da Universidade Metodista.<br />

PrOFa. MarÍLIa<br />

O Fundef traz um mecanismo indutor<br />

da descentralização da administração.<br />

Eu falo em municipalização de ensino entre<br />

aspas porque, na verdade, é uma municipalização<br />

induzida e não totalmente consentida.<br />

O que pode ter trazido alguns entraves<br />

no próprio processo de implantação do<br />

Fundef.<br />

A implantação do Fundef gerou<br />

impacto, em relação à educação infantil,<br />

especialmente no contexto e no processo<br />

municipalizante desencadeado em São<br />

Paulo. Tivemos algumas medidas bastante<br />

claras da parte do governo estadual, que<br />

organizou dois projetos logo no primeiro<br />

momento como governo do estado.<br />

A reorganização da rede estadual<br />

e o programa de parceria estado-município<br />

em 96 foi preparando o ambiente para<br />

a implantação do Fundef, mas a reorganização<br />

da rede estadual, foi um momento<br />

importantíssimo, no sentido de sinalizar<br />

já para uma descentralização para um<br />

descongestionamento da rede estadual e<br />

especialmente em alguns esta<strong>dos</strong> em que<br />

a rede estadual assumia quase que com-<br />

1 Transcrição elaborada pelos alunos de Iniciação Científica: Gláucia Balbachan, Cristina Salvatti<br />

Abel e Eduardo Veríssimo Chaves.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

pletamente o ensino fundamental, como<br />

é o caso de São Paulo; tais esta<strong>dos</strong> tiveram<br />

que assumir determinadas medidas para<br />

que o Fundef se instalasse efetivamente.<br />

Eu trouxe aqui alguns da<strong>dos</strong> que,<br />

inicialmente, são da<strong>dos</strong> mais gerais de Brasil,<br />

para que a gente, depois, possa pensar<br />

em São Paulo.<br />

Para organizar essa tabela, eu tive<br />

que avaliar com o sead e o próprio centro<br />

escolar do Imep e, vejam, que se tomarmos<br />

aí do período de matrículas no ensino fundamental,<br />

pegando uma variação de 1996 até<br />

2000, vejam que há uma variação bastante<br />

pequena, 1%. O que isso quer dizer? Que aumentou<br />

o número de vagas? Não, apenas se<br />

transferiu de poder, da rede estadual para a<br />

municipal. O que vai ampliar aí são as matrículas<br />

da 5 a à 8 a séries, então, em relação ao total<br />

de matrículas a variação fica em 8%. Vou pegar<br />

um outro dado, da 1 a à 4 a séries, pegando<br />

agora as redes de ensino em termos de Brasil,<br />

então, vejam aí. A rede estadual vai ter uma<br />

variação a menos, o ensino fundamental especialmente<br />

as quatro séries iniciais, vai estar<br />

gradualmente colocada na rede municipal, já<br />

a federal praticamente zera, a municipal tem<br />

um incremento de 45%.<br />

Da 5 a à 8 a séries, o que nós vamos<br />

ver também é que o ensino municipal<br />

vai assumindo gradualmente, o que<br />

não é a ênfase do estado de São Paulo,<br />

até por conta da própria organização da<br />

rede pública. O que eu acho importante,<br />

porque aqui só falamos em da<strong>dos</strong> reais<br />

e nós vamos pegar alguns da<strong>dos</strong> de qualidade,<br />

a questão da duração de turnos,<br />

em termos de Brasil, porque nós temos<br />

que pensar também quando a gente fala<br />

numa política pública, não apenas regional,<br />

é colocar esta questão regional no<br />

contexto mais amplo da realidade brasileira<br />

e pelos da<strong>dos</strong> mais gerais, o que nós<br />

estamos observando aí, é que há um aumento<br />

na duração <strong>dos</strong> turnos de permanência<br />

<strong>dos</strong> alunos na escola; vejam que<br />

49


a duração de 4 a 5 horas, os turnos têm<br />

maior incremento. O que é uma medida<br />

positiva especialmente sendo considerado<br />

que estamos falando aqui, de Brasil.<br />

Outro dado importante para o<br />

Brasil do número de docentes da 1 a à 4 a<br />

séries em área não operal de escolaridade,<br />

o que no caso do estado de São Paulo é<br />

bastante alterado, considerando um perfil<br />

já bastante superior, em termos de formação<br />

para o Magistério. Em termos de Brasil,<br />

vejam que com o Fundef e a organização<br />

das verbas, nós tivemos aí, considerando<br />

os anos 2000 uma variação grande de professores<br />

que conseguem uma escolarização<br />

em nível superior.<br />

E outro dado importante do ponto<br />

de vista qualitativo, mas que nós temos<br />

que levantar algumas questões é o que<br />

diz respeito ao número de matrículas por<br />

faixa etária. No primeiro olhar nessa tabela,<br />

poderíamos dizer que nós temos uma<br />

matrícula mais ou menos regular, até 10<br />

anos, 62% passa para 65%, só que a gente<br />

não tem os da<strong>dos</strong> mais minuciosos para<br />

dizer se esse até 10 é igual à série em que<br />

estão estes alunos que efetivamente estão<br />

na 4 a série ou estão em séries anteriores,<br />

no que daria uma regulamentação da relação<br />

das séries e somarmos alunos de 11<br />

até 14 anos, nós vamos ter 31% de alunos<br />

de certa forma, acompanham um pouco<br />

na progressão em termos de escolaridade,<br />

entretanto eu posso questionar o que<br />

paralelamente à implantação da política<br />

do Fundef, também ocorre: outras medidas<br />

políticas e uma delas é a progressão<br />

continuada, será que podemos dizer que<br />

os alunos estão efetivamente em idade e<br />

série num nível ótimo ou houve um descongestionamento<br />

da rede, considerando<br />

a progressão continuada?<br />

Veja aí que trazendo a questão<br />

para as escolas estaduais, para o ensino<br />

fundamental no estado de São Paulo, nós<br />

temos uma variação que mostra que, na<br />

verdade, o Fundef mudou de lugar a verba,<br />

do estado para o município mais ou menos,<br />

mas não significou um encremento efetivo<br />

no sentido no número de matrículas oferecidas<br />

ao conjunto da população. São duas<br />

políticas, descongestionamento do sistema<br />

e do Fundef.<br />

Então vejam aqui no estado de<br />

São Paulo, as vagas municipais, como ela se<br />

amplia drasticamente por conta de ser São<br />

Paulo, um estado em que, historicamente<br />

o oferecimento do ensino fundamental,<br />

está a cargo do estado. Se pegarmos apenas<br />

este dado, nós vamos dizer que foi uma<br />

ótima medida e efetivamente, eu acho<br />

que no sentido da educação por ser uma<br />

educadora, eu entendo que a municipalização<br />

do ensino é benéfica para o aluno.<br />

Se olharmos aqui efetivamente as funções<br />

das prefeituras em relação ao ensino fundamental,<br />

é um ganho em termos de democratização<br />

de ensino.<br />

Mas a gente olha para a questão<br />

do ensino médio e ainda a educação infantil<br />

como um próximo slide, o que nós<br />

vamos ver é que as prefeituras que tradicionalmente<br />

se ocupavam com a educação<br />

infantil, são vagas que crescendo na medida<br />

em que vão sendo assumidas nos encargos<br />

relativos aos ensinos fundamentais. Então,<br />

vejam a variação em relação ao ensino<br />

médio: são vagas estaduais que tem uma<br />

variação de 35%, mas as vagas municipais<br />

remuneram, porque as prefeituras vão assumindo<br />

o ensino fundamental.<br />

E a educação infantil, veja aí que<br />

as vagas estaduais, que já não eram muitas,<br />

estão acabando e existe ainda alguma coisa<br />

muito pequena em algum espaço, as vagas<br />

municipais ainda estão bastante voltadas<br />

para a educação infantil, mesmo ainda que<br />

tenha havido uma diminuição no oferecimento<br />

e se nós olharmos a questão das creches,<br />

veremos uma alteração significativa<br />

no atendimento em relação às creches.<br />

Isso aí é um balanço real das vagas<br />

no ensino básico. Eu diria o seguinte, que a<br />

municipalização e as matrículas do ensino<br />

fundamental, nas escolas públicas paulistas<br />

com o Fundef é que houve uma municipalização<br />

induzida e através da oferta de vagas<br />

para o ensino médio, sofreu uma alteração<br />

para mais, mas não de forma significativa.<br />

E alteram-se os segmentos que<br />

atendem prioritariamente cada um <strong>dos</strong><br />

níveis de ensino. A oferta total das matrículas<br />

e educação básica no estado de<br />

São Paulo foi de 8% no período. Houve<br />

expressivo crescimento das matrículas do<br />

ensino fundamental regular municipal, o<br />

que não é vantagem porque, ao mesmo<br />

tempo, houve uma diminuição do número<br />

de matrículas que estava, você tem<br />

64% a partir de 1996, bastante acentuado<br />

em 1997.<br />

A educação infantil oferecida<br />

50 SEMINÁRIO ABERTO


preponderantemente pela dependência<br />

administrativa municipal teve seu ritmo<br />

de expansão sensivelmente reduzido<br />

em 1998.<br />

Eu entendo que algumas coisas a<br />

gente pode pensar para as nossas discussões:<br />

será que realmente diminuiu drasticamente<br />

as diferenças de custo-aluno entre<br />

governo estadual e municípios, onde há<br />

uma diferença entre o aluno do município<br />

e o aluno do estado? No que representou<br />

coisas significativas, de outro lado, o Fundef<br />

poderia ter contribuído para a transparência<br />

do financiamento e diminuir os<br />

desvios das verbas vinculadas.<br />

Nós sabemos que há várias denúncias,<br />

vários processos, denúncias especialmente<br />

em algumas prefeituras que no Brasil,<br />

como um todo, apresentam esse desvio.<br />

Assim, com esse panorama, eu quis<br />

trazer um pouco daquilo que vem sendo<br />

dito, vem sendo apresentado por inúmeros<br />

estu<strong>dos</strong> que custam a entender a implantação<br />

do Fundef em São Paulo e no Brasil.<br />

Não tenho visto da<strong>dos</strong> mais qualitativos<br />

sendo discuti<strong>dos</strong>, especialmente em relação<br />

<strong>dos</strong> vários princípios de São Paulo,<br />

porque eu entendo que um programa de<br />

pós-graduação aqui, e com essa ênfase,<br />

seria muito interessante, estu<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> vários<br />

municípios, como cada município nos<br />

vários estu<strong>dos</strong> de caso, levantando mesmo<br />

os impactos da relação da implantação<br />

do Fundef em São Paulo e que apontem<br />

as preocupações que devemos ter quanto<br />

ao Fundef e com isso, nós já aprendemos<br />

bastante coisa, talvez tenhamos elementos<br />

para argumentar mais.<br />

Eu gostaria que a municipalização<br />

do ensino, embora induzida acontecesse<br />

como uma realidade, o que significa que<br />

é necessário mais verba para que a municipalização<br />

efetivamente aconteça. Então,<br />

a gente pode, com efetivas verbas para a<br />

educação, ter um melhor atendimento nas<br />

instâncias, a gente viabilizar uma política,<br />

que talvez possa contribuir para um ensino<br />

de melhor qualidade, mas próximo de to<strong>dos</strong><br />

e que todas as crianças tenham acesso<br />

efetivamente à educação básica, acho que<br />

é isso que nós temos.<br />

PrOF. VaLTer FIGUeIra<br />

O Fundef veio realmente para<br />

ficar e nós devemos nos adequar a uma<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

lei maior, entretanto, no nosso entender,<br />

nossa opinião, o Fundef revela a educação<br />

do Brasil e isso prejudicando um possível<br />

e um real projeto de municipalização de<br />

ensino no Brasil.<br />

É óbvio que o perfil da nossa cidade<br />

de São Caetano do Sul é diferenciado<br />

pela nossa posição, pelos limites geográficos,<br />

pela nossa vida socioeconômica, pela<br />

demanda escolar, pelo número, pela posição<br />

demográfica do nosso município, que<br />

perto <strong>dos</strong> nossos colegas, nossa querida colega<br />

aqui de Santo André, quando ela tem<br />

700 mil habitantes para tomar conta, nós<br />

estamos com 140 mil habitantes.<br />

Obviamente, isso deixa, aparentemente,<br />

São Caetano numa posição confortável.<br />

Entretanto, pela responsabilidade<br />

que nos cabe como educador nos faz discernir<br />

bem o que se trata de municipalização<br />

de ensino, o que de uma certa forma<br />

não colocamos em prática. Nós temos em<br />

rede estadual 21 escolas e, em termos municipais,<br />

temos três escolas, para o ano que<br />

vem, mais três, isso atendendo nossa suposta<br />

demanda e não aquela famosa história<br />

de criança na rua, criança simplesmente<br />

tem que migrar na união das escolas, principalmente<br />

nas estaduais.<br />

Nós gozamos de uma rede particular<br />

de ensino com aproximadamente 21<br />

unidades de altíssimo nível de aproveitamento,<br />

isso faz com que a nossa cidade,<br />

volto a repetir, aparentemente, se sinta<br />

acomodada, por outro lado, acaba acontecendo<br />

a exigência na qualidade de ensino<br />

tanto da ordem estadual quanto da<br />

ordem municipal e, principalmente, da ordem<br />

particular, da ordem privada. A municipal,<br />

nos cabe nesse momento explicar<br />

para vocês a nossa responsabilidade na<br />

busca dessa qualidade, fazendo estabelecer<br />

uma parceria com a escola estadual e<br />

não simplesmente nos preocupando com<br />

a municipalização propriamente dita da<br />

escola estadual. Não é de nosso interesse<br />

de ordem fiscal-contábil a manutenção<br />

dessas parcerias que temos com as escolas<br />

estaduais e através da área municipal em<br />

manter a qualidade que hoje, podemos<br />

nos dar ao luxo de estabelecer e entregar<br />

na nossa demanda escolar ao nosso alunário.<br />

Entregando através de um processo<br />

global de educação e eu digo por que<br />

foi revelado por baixo da nossa conversa,<br />

porque São Caetano já gozava desses per-<br />

51


fis geográficos, socioeconômico, em 1996,<br />

quando a gente dispunha de uma estrutura<br />

de ordem e investimento na educação,<br />

que foi de uma certa forma engessada<br />

pelo Fundef e obviamente nos dando um<br />

retorno para o governo federal na distribuição<br />

aos outros municípios mais carentes,<br />

esse é o conselho básico do Fundef<br />

e o retorno para nós, obviamente, numa<br />

taxa mais baixa de ordem financeira. Mas<br />

isso não eliminou a qualidade, continuamos<br />

a crescer pelo perfil da nossa cidade,<br />

como já dizemos, por toda essa colocação,<br />

nós fazemos uma única observação que<br />

é nossa grande preocupação, não bem<br />

uma adequação, mas a nossa preocupação<br />

pelo Fundef está por vir, porque para<br />

nós a nossa clientela agora próxima a nosso<br />

alvo, tudo está acomodado no ensino<br />

infantil e na educação fundamental, só<br />

que estamos bastante preocupa<strong>dos</strong> com<br />

o nível e o aproveitamento orçamentário<br />

dentro da lei.<br />

Obviamente no ensino médio porque<br />

o nosso jovem adolescente de ensino<br />

médio está bastante descoberto, então é<br />

bom que a gente reivindique, mas que a<br />

autoridades maiores, Congresso, Mec, to<strong>dos</strong><br />

aqueles que irão compor as análises<br />

necessárias para o Fundef.<br />

E prestem atenção no grande prejuízo<br />

que já existe no ensino médio e no<br />

alunário e vimos também isso bem próximo<br />

da nossa posição geográfica <strong>dos</strong> nossos<br />

limites geográficos da cidade, a gente<br />

percebe, conversando com as nossas diretoras<br />

das escolas estaduais e pela nossa<br />

única escola de ensino médio municipal,<br />

o nosso jovem adolescente está completamente<br />

desestruturado sobre sua perspectiva<br />

de vida futura, sobre uma preparação<br />

melhor de mercado de trabalho, para uma<br />

preparação melhor para sua própria cidadania<br />

de ensino, mas não necessariamente<br />

o mercado de trabalho, se alguém estiver<br />

nas escolas técnicas, que simplesmente foram<br />

desmontadas pelas suas respectivas<br />

responsabilidades, então a nossa preparação<br />

é em cima do ensino médio.<br />

Aqui em São Caetano do Sul, nossa<br />

demanda de ensino de educação é de<br />

100%, nós temos um programa de demanda<br />

de falta de adequação com passadas<br />

administrações públicas municipais, onde<br />

se atinge em relação às creches. Nós temos<br />

ainda 120 crianças fora do nosso foco e<br />

dentro de 15 ou 20 dias estaremos já dispondo<br />

dentro das creches, de uma estruturação<br />

administrativa compatível, dentro<br />

<strong>dos</strong> nossos espaços já adequa<strong>dos</strong>.<br />

No ensino fundamental, nossas<br />

três escolas dispõem já de todo embasamento,<br />

mas as três para o ano que vem,<br />

uma com prédio novo e as outras com<br />

prédios reforma<strong>dos</strong>. Nós atendemos toda<br />

a demanda de ensino fundamental de 1 a à<br />

8 a séries, a nossa preocupação vai garantir<br />

para o futuro que é atender a demanda do<br />

ensino médio e nós conseguimos apenas<br />

uma escola municipal e é a nossa responsabilidade<br />

e contando com a parceria das<br />

escolas da rede estadual e obviamente com<br />

a qualidade do atendimento do munícipe<br />

estudante das nossas escolas particulares<br />

que compõem o nosso município.<br />

O que nós poderíamos dizer e<br />

deixar a nossa colocação aos coordenadores<br />

do curso de pós-graduação, aos pósgraduan<strong>dos</strong><br />

é que dentro de São Caetano<br />

do Sul, existe uma preocupação muito<br />

maior com a qualidade, na aplicação nos<br />

investimentos e <strong>dos</strong> projetos, não que necessariamente<br />

isso seja uma lei, além de<br />

responsabilidade fiscal, não queremos a<br />

municipalização propriamente dita, o que<br />

nos interessa é a parceria com o estado,<br />

mesmo que a migração, pela estatística<br />

apresentada pela professora Marília, esteja<br />

mostrando que o município está absorvendo<br />

nossa tendência, isso é, manter<br />

a nossa parceria com o estado, até porque<br />

nos interessa o investimento nas escolas<br />

estaduais, como já tem sido feito pelas administrações<br />

passadas e permanece pela<br />

administração atual.<br />

Os investimentos, nos senti<strong>dos</strong><br />

laboratoriais, classes ambientais para melhorar<br />

as condições de atendimento dentro<br />

das escolas estaduais, infra-estrutura logística,<br />

porque no nosso entender, no fundo,<br />

o aluno é o nosso munícipe, seja no estado,<br />

seja no particular ou municipal.<br />

Em parceria, nós atingimos o melhor<br />

e a primeira essência do processo da<br />

educação, que é completar a qualidade,<br />

desenvolver e resgatar os valores de cidadania<br />

além de preparar o nosso jovem realmente<br />

para uma expectativa de vida, não só<br />

naquele grau de ansiedade, que vem após<br />

o ensino médio (três anos), se por ventura<br />

economicamente ele puder continuar, pelo<br />

menos no momento, o curso universitário<br />

52 SEMINÁRIO ABERTO


público. Como sabemos, não deixa de ser<br />

tão caro quanto os priva<strong>dos</strong>, pelo custo de<br />

material, custo de transporte, e assim por<br />

diante, então, a nossa preocupação é com<br />

o nosso adolescente dentro de dois anos.<br />

Graças a Deus, nós atingimos uma<br />

marca que é a grande preocupação de ensino,<br />

que é manter a qualidade da nossa estrutura<br />

logística, do conteúdo programático<br />

e pedagógico das nossas disciplinas, em<br />

parceria com o estado e, dentro do nosso<br />

município, os nossos profissionais recebem<br />

quatro capacitações por ano, fora os incentivos<br />

que nós damos aos nossos profissionais<br />

para buscarem outros cursos, outras<br />

palestras, outros estilos e padrões de capacitações,<br />

que podemos subsidiar para que<br />

eles se sintam estimula<strong>dos</strong>. Como acontece<br />

com a história do pró-labore, aqui para a<br />

rede estadual do nosso município como um<br />

incentivo ao profissional do estado, para<br />

que ele possa trabalhar um pouco mais<br />

tranqüilo e justamente mais remunerado,<br />

de uma forma que ele se sinta estimulado<br />

para continuar seu desenvolvimento.<br />

Desculpe a apresentação e o entroncamento,<br />

mas a gente fez questão de<br />

mostrar aqui o perfil e a responsabilidade<br />

sobre a qualidade de ensino, para nós a<br />

responsabilidade fiscal sobre investimentos<br />

não nos cabe e nos interessa muito mais as<br />

parcerias, porque assim, nós atingiríamos<br />

toda a população de São Caetano do Sul,<br />

que é o que nos interessa e é nossa obrigação<br />

na administração pública.<br />

Colocamos à disposição de vocês<br />

qualquer discussão e bate-papo na Câmara<br />

Municipal, informar e receber informações<br />

de vocês será uma forma de, to<strong>dos</strong> juntos,<br />

melhorarmos cada vez mais a educação,<br />

que está tão nivelada por baixo pelos projetos<br />

que normalmente vêm de cima para<br />

baixo. O importante é ter consciência e investir<br />

realmente na qualidade da educação<br />

do seu munícipe.<br />

GeIsa FernanDes rePUI<br />

Santo André têm 700 mil habitantes,<br />

94 escolas estaduais, 70 escolas municipais,<br />

isso dá um universo de mais de 130<br />

mil alunos, muita criança, muito jovem,<br />

muito adolescente e muito adulto.<br />

A Secretaria de Santo André é<br />

uma secretaria de educação e formação<br />

profissional, hoje nós temos 600 funcio-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

nários, que trabalham com a qualificação<br />

e requalificação profissional. Essa é uma<br />

escolha política do governo, onde a gente<br />

tem que fazer um investimento importante,<br />

porque estas verbas precisam ser vistas.<br />

Santo André e São Bernardo são cidades<br />

muito parecidas e com experiências<br />

de municipalização totalmente opostas,<br />

São Bernardo optou pela municipalização,<br />

Santo André não optou pela municipalização<br />

e criou uma rede própria de<br />

ensino fundamental, isso não quer dizer<br />

que está certo ou errado, são escolhas públicas<br />

que precisam ser feitas em determina<strong>dos</strong><br />

momentos, é fato que a professora<br />

Marília coloca que a municipalização vem<br />

meio empurrada.<br />

De que forma ela vem sendo feita<br />

lá em Santo André? Com o fechamento de<br />

escolas, sem comunicar a prefeitura, sem<br />

comunicar as famílias e aí você só fica sabendo<br />

que no ano seguinte aquela escola<br />

não vai funcionar mesmo. Nós temos um<br />

regime de cooperação. E porque Santo André<br />

fez essa opção?<br />

Com a municipalização, foi posta<br />

em São Paulo, eu sou absolutamente<br />

a favor da municipalização, acho que ela<br />

é importante, mas da forma que ela foi<br />

colocada, o regime que é colocado, não<br />

era favorável para o município naquele<br />

momento, então nós nos sentimos mais<br />

confortáveis lá na quarta administração,<br />

portanto nós conseguimos avaliar os resulta<strong>dos</strong><br />

<strong>dos</strong> nossos erros e acertos das<br />

diferentes políticas públicas e educação é<br />

uma delas, nessa segunda gestão, como<br />

a secretaria enfim e porque não valia a<br />

pena municipalizar naquele momento,<br />

porque a municipalização não cabia em<br />

alguns aspectos para discussão da passagem,<br />

sejam os profissionais, sejam os prédios,<br />

seja uma forma ou de outra, acho<br />

sim, que no curso de pós-graduação, assim<br />

como de graduação, assim como em<br />

qualquer discussão de política pública,<br />

há, sim, interferência político-partidária,<br />

infelizmente nós tentamos aqui no ABC<br />

fazer com que os secretários de educação<br />

articulem políticas públicas para os sete<br />

municípios.<br />

Nós entramos num acordo em algumas<br />

ações, mas infelizmente temos divergências<br />

partidárias, isso faz com que ganhemos<br />

diferenças de governo porque nós imaginamos<br />

que seja melhor para a educação.<br />

5


Santo André, em 1997, optou por<br />

abrir uma rede de ensino fundamental,<br />

isso teve um custo, o custo foi de cinco mil<br />

vagas na educação infantil, só no ano da<br />

implantação do Fundef, para você ter uma<br />

idéia de quanto o município já perdeu<br />

com esses nove anos de Fundef. Este ano,<br />

Santo André recolheu 27 milhões para o<br />

Fundef e recebeu de volta 16 milhões e eu<br />

ainda tenho uma fila de 3.500 crianças esperando<br />

vaga na creche. Então, o município<br />

arrecada o recurso, faz uma política de<br />

ajuste fiscal e beneficia outros municípios,<br />

que nem sempre trabalham com a política<br />

de ajuste fiscal.<br />

É fato que os recursos do Fundef<br />

ficam para o próprio estado, até eu ouvi<br />

daqui, do professor Valter, que existe uma<br />

diferença gritante entre a necessidade de<br />

São Caetano e a necessidade <strong>dos</strong> 5.540 e<br />

poucos municípios e a nossa dificuldade é<br />

a educação infantil, porque ela é contribuição<br />

exclusiva do município, o Ministério<br />

Público não quer saber se a Emenda n o 14<br />

garante recursos para o Fundef para o ensino<br />

fundamental, ele quer saber do empreendimento<br />

para a constituição que diz<br />

que todas as crianças têm direito à escola,<br />

creche e suas necessidades.<br />

Nós recebemos, por dia, em<br />

torno de três e quatro formulários para<br />

colocar crianças em creches, nós temos<br />

listas públicas, que é de conhecimento e<br />

acompanhamento de conselho de escola,<br />

onde classificamos uma vez por ano. São<br />

visitadas cinco mil famílias porque esses<br />

são os números de inscritos, as famílias<br />

são visitadas por assistentes sociais, que<br />

não têm vínculos com a prefeitura e, para<br />

evitar qualquer problema nessa classificação,<br />

as listas se tornam públicas, para que<br />

a gente consiga atender prioritariamente<br />

às crianças com maior necessidade.<br />

No meu papel, enquanto educadora,<br />

é muito complicado entrar num processo<br />

contra essa família e tirar a criança<br />

da creche, Santo André foi até o Supremo<br />

Tribunal Federal e devemos definir qual<br />

das leis nós devemos cumprir porque a<br />

educação tem verba vinculada de 25%, é<br />

fato que o município pode colocar mais<br />

que 25%, mas também todo mundo sabe<br />

que existem outras coisas por serem feitas<br />

no município, além da educação.<br />

Se nós fizermos uma conta simples,<br />

25% para educação, 15% para saúde,<br />

42%, que mais ou menos a folha de pagamento<br />

da Prefeitura de Santo André faz,<br />

somando tudo isso, ainda tem saneamento<br />

básico, urbanização de favelas, inclusão social,<br />

existe uma série de coisas que precisam<br />

ser feitas, de uma fatia muito pequena<br />

do orçamento, então, nós defendemos sem<br />

o Fundef, que o Fundeb inclua as creches<br />

porque a Emenda Constitucional e a então<br />

Vara Civil, que não contempla as crianças<br />

de zero até 3 anos e que são os de maior<br />

custo dentro <strong>dos</strong> municípios.<br />

Hoje, em Santo André, uma criança<br />

de zero até três anos no período integral,<br />

12 a 14 horas na creche custa de 3 mil<br />

a 3.200 reais e a Emenda Constitucional do<br />

Fundef prevê “X” por cento para o fundamental,<br />

“X” com plus para o ensino médio<br />

e um “X” menor para a educação infantil.<br />

Nós corremos o risco de ver a educação infantil<br />

ter um decréscimo, mas a situação,<br />

sendo o que acontece na educação infantil,<br />

diferente do que acontece em São Caetano,<br />

serve de porta de entrada para combate<br />

a desnutrição, inclusão com crianças<br />

portadoras de deficiência, atendimento<br />

prioritário à violência doméstica enfim, é<br />

a porta de entrada para um atendimento<br />

humanizado da população, que deixou de<br />

ser só mãe para ser a mãe trabalhadora,<br />

em relação a questão da creche.<br />

Não é somente o cuidar, agora é o<br />

educar também, por isso a LDB passa essa<br />

atribuição da assistência para a educação,<br />

porque ela não é só um espaço de cuidar,<br />

mas é um espaço educar, contudo o governo<br />

passado esqueceu de passar os recursos,<br />

assim vem acontecendo com a saúde e,<br />

infelizmente, nem o atual governo contribuiu<br />

para o Fundef aquilo que é de fato<br />

obrigação do governo federal, todas as<br />

partes têm que contribuir para que to<strong>dos</strong><br />

possam receber.<br />

Em 1997, Santo André optou por<br />

ter uma rede própria de ensino e vem ano<br />

a ano construindo essa rede, nós voltamos<br />

pelas séries iniciais, nós trabalhamos na<br />

linha que chamamos de primeira infância<br />

de zero até 10 anos, trabalhamos por ciclos<br />

e não por séries. Trabalhamos por ciclos<br />

com a educação infantil, desde a creche, as<br />

crianças são agrupadas não por idade, mas<br />

por etapas do desenvolvimento.<br />

Então, na verdade, o que se fez<br />

foi empurrar todo mundo para abrir vagas<br />

nas séries iniciais para que a gente dê<br />

54 SEMINÁRIO ABERTO


conta de toda criança na escola, de fato,<br />

o Brasil conseguiu avançar e a opção foi<br />

pelo ensino fundamental e todas as crianças<br />

entre sete e 14 anos foram incluídas.<br />

Aí então se cria um outro problema que<br />

estamos vendo agora, todo esse povo está<br />

saindo do ensino fundamental e precisa de<br />

vaga no ensino médio e nós não tivemos<br />

um investimento, poucos são aqueles que<br />

conseguem fazer. Na verdade, o que a gente<br />

está tentando é contornar uma situação<br />

que o Fundef criou, na verdade, se nós tivéssemos<br />

criado um fundo para a educação<br />

básica, nós teríamos sim, uma progressão<br />

e uma entrada muito mais organizada na<br />

rede, porque é fato que os prefeitos aderiram<br />

à municipalização para receber recursos.<br />

E o que isso vem acarretando?<br />

Secretários de educação, que não são<br />

da área e que são administradores de recursos<br />

da educação são de um outro segmento.<br />

Acho que o secretário da Educação<br />

precisa se conscientizar sobre o papel<br />

administrativo, porque temos sim, 25% do<br />

orçamento, o orçamento geral de Santo<br />

André está girando em torno de 650 milhões,<br />

quase 700 milhões.<br />

A educação tem 140 milhões,<br />

portanto, é muito recurso, nós temos um<br />

recurso vinculado aos 25% e mais os recursos<br />

que a educação recebe, que é o<br />

Fundef e a verba CESE (Cota estadual do<br />

Salário à Educação), por isso, o secretário<br />

da educação precisa entender de finanças,<br />

precisa entender de administração para<br />

poder utilizar este recurso para reverter a<br />

qualidade do ensino na formação da sua<br />

educação, então o que a gente tem feito<br />

nesse sentido? Como eu disse, temos quatro<br />

gestões e não dá para culpar governos<br />

anteriores, a gente tem é que trabalhar<br />

e dar os resulta<strong>dos</strong> que a população espera,<br />

nós tivemos administração de 1992<br />

a 1996, depois, ainda uma administração<br />

da oposição até 1997, aí de 1997/2000, de<br />

2001/2004 e agora 2005/2008.<br />

Se não me falha a memória, os<br />

professores têm pelo menos uma graduação<br />

no município, 15% da rede municipal<br />

tem pós-graduação na última gestão, nós<br />

investimos, financiamos 25% <strong>dos</strong> professores<br />

que não tinham graduação, nós pagamos<br />

o curso em regime especial na Fundação<br />

Santo André.<br />

Com 3.300 horas presenciais,<br />

onde regionalidade era uma das disci-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

plinas porque professores migram para<br />

rede, eles trabalham um período em Santo<br />

André, outro em São Caetano do Sul e<br />

em São Bernardo e, paralelo a isso, 15%<br />

<strong>dos</strong> professores fizeram programa de pósgraduação<br />

na Universidade de São Paulo,<br />

banca<strong>dos</strong> pela administração, porque, se<br />

teremos uma administração de qualidade,<br />

nós temos que investir em quem está<br />

na ponta, não adiantaria investir em diretores<br />

ou nos cargos comiciona<strong>dos</strong>, nós<br />

fizemos esse investimento em cursos especiais,<br />

com a USP, fizemos acor<strong>dos</strong> para<br />

três modalidades que atendemos: educação<br />

infantil, ensino fundamental e jovens<br />

e adultos; conseguimos terminar isso na<br />

gestão passada.<br />

E agora, qual é o nosso desafio?<br />

Estabelecer indicadores que contemplem<br />

os resulta<strong>dos</strong> desses investimentos de 12<br />

anos, para que a gente tente um retorno<br />

da rede. Na verdade, você faz o investimento<br />

com o professor e é necessário que<br />

ele retorne isso em qualidade para a rede<br />

em trabalho.<br />

Formação continuada faz parte<br />

de todas as redes municipais ou estaduais,<br />

não temos sofrido problemas com as escolas<br />

particulares, nós apenas autorizamos as<br />

660 escolas infantis a fazerem uma supervisão<br />

pedagógica, mas, com a rede do tamanho<br />

que nós temos, não é possível e não dá<br />

para disponibilizar recursos para manter<br />

ou fazer, enfim, esta supervisão.<br />

Fizemos um investimento pesado<br />

em inclusão de crianças com deficiência,<br />

acreditamos em inclusão na rede e não em<br />

salas especiais ou salas com recurso, nós tínhamos<br />

no início da gestão passada, cem<br />

crianças com alguma deficiência, terminamos<br />

2004 com 857 crianças incluídas na<br />

rede, dessas, mais de 350 usam cadeira de<br />

rodas. Então, são cadeirantes que estavam<br />

em algum lugar e que não têm deficiência<br />

mental, e podem estar incluí<strong>dos</strong> na rede<br />

regular, eles não precisam de atendimento<br />

especializado, só precisam de acesso universal<br />

aos espaços escolares, na realidade,<br />

eles precisam de condições para sua inclusão,<br />

condições de rampa, banheiro acessível,<br />

enfim, isso é um desafio que a gente<br />

tem, a projeção é que termine essa gestão<br />

com 2.500 crianças.<br />

Hoje em dia, nosso desafio é atender<br />

as crianças com DGD (Distúrbios Globais<br />

de Desenvolvimento), crianças que<br />

55


têm várias síndromes, que a Escola Paulista<br />

de Medicina não consegue identificar, por<br />

isso estão criando núcleos de estudo para<br />

trabalhar com 40 alunos da rede municipal,<br />

que são considera<strong>dos</strong> DGD, temos crianças<br />

com paralisia cerebral, síndrome de Down<br />

e ossos de vidro.<br />

Trabalhamos com o estado em<br />

regime de cooperação, o que significa que<br />

dividimos demanda, a escola mais próxima<br />

da residência da criança será aquela que ela<br />

vai estudar, seja ela municipal ou estadual,<br />

nós temos um regime de cooperação.<br />

Temos uma pesquisa pacto de<br />

Fundef em adiantamento com a Fapesf,<br />

com a USP e Fundação Santo André, em<br />

relação à migração das redes, ela não<br />

está finalizada ainda. Com isso temos um<br />

observatório da secretaria, que acompanha<br />

não só a rede regular, mas os cinco<br />

centros profissionalizantes e as ações na<br />

área da educação, hoje a nossa rede tem<br />

em torno de 60 mil atendimentos por<br />

dia, é uma rede grande, nós somos responsáveis<br />

pela merenda pela rede estadual,<br />

também em regime de cooperação,<br />

enfim, temos um universo de coisas que<br />

compõem os investimentos em educação,<br />

em linhas gerais.<br />

Nós criamos o sistema municipal,<br />

que não há vínculos com a diretoria<br />

regional de ensino para supervisão, estamos<br />

liga<strong>dos</strong> ao MEC e fazemos parte da<br />

implantação da Universidade Federal do<br />

ABC, que acho importantíssima para a região,<br />

temos participado do UNDPE (União<br />

Nacional <strong>dos</strong> Dirigentes Principais de Educação)<br />

e acho importante que os secretários<br />

das articulações estaduais e regionais,<br />

em nível nacional, saibam que perdemos<br />

recursos, ganhamos alunos e ainda perdemos<br />

qualidade, mas implantamos o ensino<br />

fundamental de 9 anos.<br />

PrOF. anTOnIO CarLOs GIL<br />

Então, agora nós iremos tratar<br />

da municipalização sob a ótica do profes-<br />

sor Edgar.<br />

PrOF. eDGar<br />

Na minha opinião a questão da<br />

municipalização não é um pré-enfoque teórico,<br />

mas um posicionamento político. É<br />

sentido que o que eu vou expressar aqui,<br />

na verdade, é a posição <strong>dos</strong> trabalhadores<br />

da educação estadual, que já provaram em<br />

vários congressos a nossa opinião sobre a<br />

municipalização do ensino fundamental.<br />

Primeiro, eu quero destacar que,<br />

na década de 1990, a nossa educação enfrentava<br />

uma série de problemas, que, se<br />

emprega<strong>dos</strong> no centro escolar atual, nós<br />

vamos constatar que não há muita mudança<br />

de qualidade para melhor. Por que<br />

é que eu digo? Se vocês pegarem o censo<br />

escolar do último ano, 2004 aponta que<br />

temos 55 milhões de matrículas na educação<br />

básica, <strong>dos</strong> quais, 87% estão matricula<strong>dos</strong><br />

na rede pública, e dessa fatia imensa<br />

de 87% de 55 milhões, 34 milhões estão<br />

matricula<strong>dos</strong> na educação fundamental.<br />

Então, portanto, quando se fala de municipalização<br />

nós estamos falando da maior<br />

fatia da demanda do sistema educativo<br />

básico, segundo a LBB. Porque eu estou<br />

ressaltando isso? Foram cita<strong>dos</strong> aqui pelos<br />

outros professores alguns programas<br />

na educação do governo estadual, que foram,<br />

no início da década de 1990, de 1995<br />

para cá, a reorganização da rede, veio a<br />

municipalização, via diretamente a adoção<br />

do sistema municipal ou através de<br />

parcerias e convênios com São Caetano do<br />

Sul, que fez, mas o fato é que nós temos<br />

hoje em torno de 40% municipalizado, se<br />

pegarmos de lá para cá.<br />

Bom, e porque que foi assim? Porque<br />

é que foi essa a opção pública? Primeiro,<br />

através da legislação, lembretes e bases<br />

números 93 e 94 e depois a Emenda 14 e<br />

a lei que regulamenta o Fundef, que é a<br />

9424, no ano de 1996. Essa opção política<br />

está relacionada à subordinação das diretrizes<br />

da declaração mundial de educação<br />

para to<strong>dos</strong>.<br />

Em março de 1990, houve uma<br />

conferência mundial e nessa conferência<br />

mundial de educação, onde participaram<br />

cerca de 180 países, entre os quais o Brasil,<br />

foi feito o diagnóstico da educação, e por<br />

coincidência, os problemas que nós tínhamos<br />

aqui no geral, parecem semelhantes,<br />

do ponto de vista socioeconômico do Brasil<br />

e países muito piores do ponto de vista<br />

econômico também possuíam o mesmo<br />

problema: elevadas taxas de analfabetismo,<br />

elevadas taxas de evasão e repetência<br />

escolar e o baixo acesso à educação básica.<br />

E, junto com isso, identificaram também<br />

que havia a ausência de parâmetros<br />

do trabalho docente. Então, a partir daí,<br />

56 SEMINÁRIO ABERTO


saiu a declaração de educação para to<strong>dos</strong>,<br />

onde to<strong>dos</strong> os países presentes e as ONG´s<br />

resolveriam to<strong>dos</strong> os problemas socioeconômicos<br />

das políticas públicas, presentes<br />

também lá, se comprometendo a aplicar os<br />

planos decenais, ou seja, uma política adicional<br />

por dez anos.<br />

O Brasil, ao assinar essa declaração,<br />

se comprometeu a fazer isso. Houve<br />

um atraso por conta da crise institucional<br />

que se estabeleceu com o Fernando Collor<br />

de Melo, continuou com o Itamar, e o Itamar,<br />

na verdade, continuou a administração<br />

federal por conta de um acordo de governabilidade,<br />

que ocorreu na época. E não<br />

tinha muita força para aplicar sua política<br />

educacional, ou a da Conferência Mundial<br />

de Educação para to<strong>dos</strong> que é uma outra<br />

política e isso ficou mais ou menos generalizado<br />

no tal pacto de banalização do Magistério<br />

na época.<br />

A partir daí, então, com a ascensão<br />

do Fernando Henrique, do PSDB no poder,<br />

de fato, vai se adaptar a política educacional<br />

que se consubstancia nas diretrizes<br />

aprovadas na declaração do governo de<br />

educação para to<strong>dos</strong>. E qual a principal de<br />

todas? Era descentralizar a política administrativamente<br />

da educação. E como é que<br />

isso vai se materializar? A municipalização<br />

do ensino fundamental, que não ocorreu<br />

só no Brasil. Ocorreu no Chile, na Argentina<br />

e to<strong>dos</strong> os países da América Latina, na<br />

África, e assim por diante.<br />

E essa política vem acompanhada<br />

de outro diagnóstico lá da Conferência<br />

Mundial, de que as nações, entre elas o<br />

Brasil, alocavam muitos recursos para o<br />

ensino superior, então é preciso mudar<br />

essa política. Privilegiar a educação básica,<br />

em vez do ensino fundamental. E a partir<br />

daí, vem a municipalização para o Brasil,<br />

para os vários países do mundo. Mas ela<br />

está subordinada um outro fator, porque<br />

a educação, sempre historicamente, ela<br />

sempre esteve subordinada relativamente<br />

à economia e às grandes transformações<br />

da economia. Então, nós vivemos na década<br />

de 1990, a chamada era da globalização,<br />

e vivemos sob ela ainda. Com a globalização<br />

econômica, vem uma série de medidas,<br />

produto do consenso de 1979 e que<br />

tem uma política clarinha, que é a adoção<br />

do estado, que é a adoção da concepção<br />

de Frederich Heinkmein e do Friedman, de<br />

que o estado tem que se manter neutro<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

e que a economia deve fluir numa forma<br />

liberal e obedecendo às leis da oferta e<br />

da procura. E, portanto, o estado só pode<br />

ser o suporte, e a partir daí, passa-se a desenvolver<br />

as concepções de que o estado<br />

deve fazer parcerias com a comunidade e<br />

a sociedade com as empresas, para manutenção<br />

e desenvolvimento da educação,<br />

da saúde e <strong>dos</strong> serviços públicos. Então,<br />

nós temos aí aquilo que o velho Covas dizia:<br />

“é uma reengenharia do estado”. O<br />

que foi aplicado no estado de São Paulo<br />

e no Brasil, vinha o suporte da legislação,<br />

LDP, a Emenda 14 e o Fundef foi operacionalizar<br />

a reforma do estado na educação,<br />

reduzindo o tamanho da educação e desresponsabilizava<br />

a União e o estado em<br />

relação às suas funções.<br />

Então, se vocês perguntarem o que<br />

é a municipalização, não é nada mais do<br />

que isso, a transferência da responsabilidade<br />

da educação que deveria ter a União.<br />

Joga a responsabilidade para o município<br />

e aí que está o grande problema. Ao jogar<br />

a responsabilidade, não de uma forma sutil,<br />

mas compulsória via a Emenda 14 e a<br />

Lei 9424, através do Fundef, simplesmente<br />

engessa a política pública <strong>dos</strong> municípios,<br />

embora a LDP tenha loucura de dizer que<br />

possa haver opção de um sistema único.<br />

Mas aí, qual o grande problema? Se produz<br />

essa política para desresponsabilizar,<br />

para reduzir a despeza do estado, e ao fazer<br />

isso, o que nós temos nessa situação,<br />

um quadro onde seis mil municípios, como<br />

já foi dito aqui, seis mil municípios, cuja<br />

maioria, nós estamos falando de mais de<br />

70%, não tem receita própria, depende de<br />

repasse da União para que possa ter vida,<br />

do ponto de vista econômico.<br />

Com isso, então, o Fundef que<br />

vislumbrava até 2007 adotar toda uma<br />

política para municipalizar todo o ensino<br />

fundamental e com todo o operativo contábil,<br />

centralizar, no fundo, os municípios<br />

para ter o recurso de volta, que está retido<br />

lá, os 60% do total de 25 milhões para gastar,<br />

ele simplesmente tem que comprovar<br />

através da fatura. Qual é o grande problema?<br />

O governo arrecadava. Os tucanos<br />

diziam que o problema da educação não é<br />

a falta de recurso, é de gerenciamento de<br />

recursos. E pasmem, que no atual governo<br />

também estão dizendo isso, que o recurso<br />

é volumoso e que se trata de ser bem<br />

administrado. É verdade, quando se trata<br />

57


de recurso público, tem que ser bem administrado,<br />

tem que haver transparência<br />

e tem que haver mecanismos para que a<br />

sociedade controle a operação <strong>dos</strong> recursos<br />

públicos. Nada mais do que a obrigação<br />

de qualquer administração pública. O<br />

problema que o Fundef não deu conta,<br />

nem do problema <strong>dos</strong> desvios <strong>dos</strong> recursos,<br />

não sou eu quem digo, os próprios relatórios<br />

do Conselho Nacional do Fundef<br />

diz isso, mais de mil prefeituras no último<br />

período têm desviado recursos públicos da<br />

educação para qualquer outra coisa, traduzindo,<br />

pura corrupção, ainda o próprio<br />

governo atual declara que boa parte de<br />

cada cem reais que saem do MEC não chega<br />

na escola. Isso significa que o Fundef<br />

não deu conta do principal problema que<br />

nós tínhamos há dez anos atrás. Qual era?<br />

De garantir que o volume <strong>dos</strong> recursos<br />

aplicado chegasse à escola. Segundo, não<br />

deu conta de eliminar a corrupção. Terceiro,<br />

não deu conta de resolver o problema<br />

de melhorar a qualidade de educação no<br />

país. Colega decidiu falar um pouco comigo<br />

mais da sua administração, estou falando<br />

no geral. E se pegarmos a história<br />

de São Paulo, vou lembrar que o governo<br />

Alckmin foi condenado por uma CPI na<br />

Assembléia Legislativa, pelo fato de ter<br />

desviado mais de quatro bilhões de reais<br />

da educação. O governo federal já, desde<br />

o governo de Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o,<br />

até o atual, ainda mantém até o duplo<br />

onde a educação perde por ano mais de<br />

quatro milhões.<br />

Então, nós estamos num círculo<br />

vicioso, onde a política de fun<strong>dos</strong> e a<br />

municipalização não resolvem o principal<br />

problema que nós temos, ou seja, a carência<br />

de recursos para aplicar na educação<br />

básica. E hoje é uma contradição, se fala<br />

muito na reforma universitária, que o<br />

projeto do MEC está lá no Congresso, se<br />

fala na criação da Universidade Federal<br />

do Grande ABC, mas se está falando muito<br />

pouco no Fundef, ou seja, é uma coisa<br />

que vai mexer com a nossa vida o projeto<br />

Fundef, na verdade, vai fazer uma alteração<br />

contábil e socializar a miséria. Eu digo<br />

miséria, porque o governo atual e o governo<br />

passado aplicam na educação cerca<br />

de 40%, 41% do PIB. A Unesco, que é um<br />

organismo insuspeito, diz que países como<br />

o Brasil devem aplicar no mínimo 7% do<br />

PIB na educação. Então, se levarmos ao<br />

pé da letra que está aplicado no ano de<br />

2000, sob a lei 10.100-272, que previa aplicar<br />

100% do PIB no final da década, pelo<br />

menos a meta aí previa um aumento de<br />

recurso, objetivamente para se aplicar na<br />

educação. Nesse sentido, o plano do Fundeb<br />

vem para substituir o Fundef, mas só<br />

que não vem um centavo a mais de recurso<br />

para a educação. Esse é o primeiro problema<br />

que se tem que debater.<br />

Alguns partem da premissa de<br />

que o problema da educação no Brasil não<br />

é falta de recurso. Nós dizemos, “nós trabalhadores<br />

da educação básica”, e sei que<br />

também os trabalhadores da educação<br />

superior também dizem isso, reivindicam<br />

a ampliação do recurso. Se não ampliar<br />

recurso na educação, não há melhora na<br />

educação. Essa é a primeira questão. Segunda:<br />

a política de fun<strong>dos</strong>, a troca simplesmente<br />

para o Fundeb sem o aumento<br />

de recursos não só vai maquiar a realidade<br />

e demonstrar para a sociedade que se está<br />

fazendo alguma coisa para a educação.<br />

Mas, o seu conteúdo não se altera, o que<br />

vai alterar é a redistribuição do recurso<br />

apenas, que fica naquela situação do cidadão<br />

ou da cidadã que tem o cobertor<br />

curto. Então, quando está frio, ele cobre<br />

a cabeça e descobre a canela ou cobre a<br />

canela e descobre a cabeça. É isso que vai<br />

acontecer com o Fundeb, vai distribuir o<br />

recurso sobre a base <strong>dos</strong> mesmos impostos,<br />

fundo de participação do estado, <strong>dos</strong><br />

municípios, do IPI, mais exportações para<br />

poder ter um pouco de recursos. E a conseqüência<br />

disso é que nós temos uma situação,<br />

um quadro em que vai se reduzir <strong>dos</strong><br />

recursos, onde ainda a educação infantil<br />

está numa crise total no país, mesmo nos<br />

municípios mais ricos, como a cidade de<br />

São Paulo, e mesmo o ABC tem problemas<br />

seríssimos, a baixa oferta do atendimento<br />

da demanda da educação infantil, sem falar<br />

de jovens e adultos.<br />

E, a partir daí, temos um problema<br />

sério, porque se não há uma universalização<br />

da educação infantil, se não há<br />

uma universalização do atendimento de<br />

jovens e adultos, ou seja, as conseqüências,<br />

os problemas que nós temos na educação<br />

fundamental e também no ensino<br />

médio vão se multiplicando, por conta<br />

desse problema. Mas, aí nós temos um<br />

problema, não é só garantir a universalização<br />

de acesso, como hoje nós temos, e<br />

5 SEMINÁRIO ABERTO


os da<strong>dos</strong> indicam isso, em relação à educação<br />

fundamental, o problema é a permanência<br />

e a qualidade dessa permanência,<br />

que é outro problema. E aí, os da<strong>dos</strong><br />

do Saesp já indicaram que a queda tem<br />

sido vertiginosa, principalmente no final<br />

da quinta série, da oitava série e também<br />

do ensino médio. Esse é um problema que<br />

não vai se resolver só com a vinda de recursos,<br />

mas vai se resolver também olhando<br />

para o chão da escola, para o lado da<br />

infra-estrutura, que é um problema sério.<br />

Vai se resolver olhando para o trabalhador<br />

da educação ou para o profissional da<br />

educação. E sabe-se perfeitamente que a<br />

média salarial no país é baixíssima, varia<br />

de R$ 450,00 a R$ 560,00, é o que ganha<br />

um professor do ensino fundamental no<br />

país. Para você ter uma idéia, é a média,<br />

segundo o censo dourado aplicado pelo<br />

INEP no ano passado.<br />

No caso da quinta e oitava séries e<br />

do ensino médio aumenta um pouco porque<br />

varia de R$ 650,00, não chegando a R$<br />

700,00. Isso é um problema, porque se o<br />

profissional da educação não é remunerado<br />

condignamente, as conseqüências estão<br />

no quadro que leva hoje um professor a<br />

uma exacerbação da jornada de trabalho.<br />

Então, hoje nós temos na rede pública<br />

pelo menos 50% da nossa categoria<br />

trabalhando, em média, 45, 50 horas por<br />

semana. E isso é um problema sério. É muito<br />

comum nós termos professores da rede<br />

municipal duelando com a rede estadual,<br />

ou com a rede municipal. Então, ele trabalha<br />

em média 40 horas. Só para vocês terem<br />

uma idéia, um estudo até suspeito da<br />

Organização Nacional de Saúde recomenda<br />

para todo mundo no máximo 20 horas<br />

em sala de aula. E hoje nós temos, <strong>dos</strong> 2<br />

milhões e 400 mil profissionais da educação<br />

no país, a maioria trabalhando mais<br />

de 40 horas por semana. Se nós queremos<br />

melhorar a qualidade da educação, me<br />

desculpe, não vai se melhorar nunca com<br />

uma jornada dessas. Não haverá projeto<br />

de proteção continuada que dê certo, por<br />

mais propaganda que os administradores<br />

públicos façam, porque exige um salário<br />

digno, exige uma infra-estrutura adequada,<br />

laboratório de informática, biblioteca,<br />

sala que une aluno e professor adequada.<br />

To<strong>dos</strong> os países onde a educação é excelência<br />

têm em média 20 alunos por classe.<br />

Na rede estadual, nós temos em média, na<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

educação fundamental 35, 40 alunos, no<br />

ensino médio, 45, 50 alunos.<br />

A partir daí, nós temos outro problema,<br />

são as doenças profissionais que<br />

estão se alastrando, coisa que era incomum<br />

há dez, 15 anos atrás, hoje é comum<br />

para os profissionais da educação, cito<br />

alguns exemplos: síndrome do pânico,<br />

depressão, calo na garganta, câncer na<br />

garganta etc. E aí é um problema sério<br />

porque as doenças profissionais, à medida<br />

em que se proliferam, nós temos uma<br />

elevada taxa de licenças, nós temos uma<br />

série de problemas que se multiplicam e,<br />

a partir daí, agravado por um outro problema<br />

que até um tempo atrás era incomum<br />

e hoje é comum: a violência na escola.<br />

Violência na escola é um problema<br />

seríssimo, e vocês vão dizer, mas é só na<br />

rede estadual e municipal. E se a gente<br />

for pegar os da<strong>dos</strong> que ocorrem nas redes<br />

municipais, eu conheço mais ou menos<br />

como Santo André, São Bernardo, nós vamos<br />

observar que a coisa é grave, está se<br />

alastrando e não se soluciona apenas com<br />

aumento da polícia, óbvio que segurança<br />

escolar tem que ter, mas é mínima. Se se<br />

desenvolver uma política econômica que<br />

altere essa realidade do desemprego estrutural,<br />

17% só na Grande São Paulo. Se<br />

não houver uma política econômica que<br />

distribua a renda, que melhore a renda da<br />

população, a escala da violência aumenta,<br />

o consumo de álcool aumenta, o aumento<br />

do uso de drogas aumenta, e vai explodir<br />

onde? Na escola. E aí vêm muitos teóricos<br />

da educação, que fazem uma maquiagem<br />

da realidade e querem que a escola resolva<br />

to<strong>dos</strong> esses problemas, todas essas<br />

mazelas que a sociedade enfrenta hoje e<br />

não vai resolver.<br />

Nessa perspectiva, então, o colega<br />

de São Bernardo diz que o Fundeb<br />

vem para ficar. Ele não vem para ficar,<br />

ele já está com os dias conta<strong>dos</strong>. Não sei<br />

se to<strong>dos</strong> acompanharam a imprensa nos<br />

últimos dias, há uma divergência no governo<br />

Lula em relação ao Fundeb, porque<br />

o Ministério da Fazenda não quer liberar<br />

mais recursos, e parece que há um acordo<br />

agora, e parece que até o fim do segundo<br />

semestre esse projeto será enviado<br />

para o Congresso. E se for enviado para o<br />

Congresso, óbvio, vai ser uma engenharia<br />

negociar esse projeto. Vocês sabem que<br />

o governo federal está com uma dificul-<br />

59


dade para reconstruir sua base de apoio,<br />

ainda mais agora com a denúncia de corrupção<br />

<strong>dos</strong> Correios, que é dirigido pelo<br />

presidente do PTB. Então, isso vai complicar<br />

um pouco a base do governo federal.<br />

Mas, de qualquer forma, esse projeto vai<br />

para o Congresso, prevendo que nos próximos<br />

quatro anos, uma vez aprovado, o<br />

governo federal vai injetar mais de 4 bilhões<br />

e 500 milhões de reais no período<br />

de quatro anos, de forma gradual.<br />

Mas só que esse dinheiro, embora<br />

aparentemente seja novo, não é. E o Fundeb,<br />

então, vai substituir o Fundef. Ele vai<br />

dar conta da educação de jovens e adultos<br />

da educação fundamental, da educação<br />

infantil e da educação do ensino médio.<br />

A partir daí, os municípios vão ter grandes<br />

progressos. Óbvio que municípios com<br />

recursos e receita próprios, como aqui no<br />

ABC ou na cidade de São Paulo, não vai<br />

ter grandes problemas, mas olhando para<br />

a forma macro <strong>dos</strong> quase seis mil municípios,<br />

eles terão problemas e aqueles colegas<br />

que acham que a municipalização vai<br />

ser umas maravilha, vejamos isso a médio<br />

e longo prazo, como vai ser. Até os municípios<br />

que são mais ricos porque a realidade<br />

de se ter um sistema educacional<br />

próprio significa ter custo adicional, uma<br />

despesa fixa, e aí a coisa vai mudar, muda<br />

a realidade completamente.<br />

E por último, eu gostaria de dizer<br />

de forma coorporativa, óbvio que a municipalização<br />

divide nossa categoria. Hoje, nós<br />

temos uma categoria estadual, ela começa<br />

a sofrer uma divisão, por conta da municipalização,<br />

os municípios, do ponto de vista<br />

da organização se torna mais difícil e óbvio<br />

que isso, mais unificado, mais poder de<br />

pressão a categoria tem, quanto mais dividido,<br />

menos pressão essa categoria tem.<br />

Então, nesse sentido, eu estou<br />

entre aqueles. Meu sindicato entende<br />

que a municipalização não é a solução de<br />

to<strong>dos</strong> os problemas, ao contrário, é uma<br />

política que está a serviço da reforma do<br />

estado para desresponsabilizar a União<br />

das suas funções e que, a médio e longo<br />

prazo, nós teremos problemas sérios no<br />

país desse ponto de vista do combate da<br />

crise da educação, da melhoria da qualidade<br />

e que nós enfrentamos uma situação<br />

onde, infelizmente, a educação nesse<br />

país não é prioridade, no ponto de vista<br />

de investimento de longo prazo,é ainda<br />

uma política pública que é vista como manipulação,<br />

como vitrine para as eleições.<br />

E para superar tudo isso, tem que fazer<br />

como no Japão, realizar investimento<br />

para a educação de longo prazo, período<br />

pós-guerra.<br />

Se investiu na educação em média<br />

10% a 15% ao ano, para ter dividen<strong>dos</strong>,<br />

retorno da educação a partir da década de<br />

1970. Na pratica, foram três décadas de<br />

investimentos a longo prazo, para que se<br />

tenha recurso, se tenha retorno não só na<br />

formação de uma geração docente, não<br />

só na aplicação de recurso para educação,<br />

porque o conhecimento é um processo dinâmico<br />

e que não está divorciado de um<br />

outro problema: a universidade. Hoje há<br />

um uni ato entre a educação básica e o<br />

terceiro grau. A universidade pública, infelizmente,<br />

vê a educação básica apenas<br />

como um laboratório, é preciso deixar se<br />

ver a educação básica como um laboratório,<br />

é preciso inverter isso, senão não vamos<br />

também mudar outra realidade que<br />

atinge a educação superior, que é o baixo<br />

nível não só de acesso, mas da qualidade<br />

do aluno, quando chega na educação superior.<br />

E, para isso, é uma luta, não só <strong>dos</strong><br />

professores, mas é uma luta <strong>dos</strong> profissionais<br />

da educação, da comunidade escolar,<br />

de toda a sociedade para que a gente possa,<br />

efetivamente, conquistar uma educação<br />

pública, estatal de qualidade.<br />

PerGUnTa:<br />

Eu queria saber da professora<br />

Cleusa mais alguns detalhes sobre a supervisão<br />

da rede de Santo André pelo MEC,<br />

que é uma coisa inédita. Ela deveria ser<br />

supervisionada pelo governo do estado,<br />

então como é que funciona, quais são os<br />

benefícios, quais os dispositivos e por que<br />

Santo André fez essa opção?<br />

PrOFa. CLeUsa<br />

Na verdade, nós não temos mais<br />

nem a supervisão da Delegacia de Ensino e<br />

nem a supervisão direta do MEC. O que nós<br />

temos é a independência. Então, a supervisão<br />

das escolas municipais é feita pelos próprios<br />

profissionais da secretaria. E a nossa<br />

ligação de vínculo para programas, enfim,<br />

para uma série de coisas que é o dia-a-dia de<br />

uma secretaria, agora é feito direto ao MEC.<br />

60 SEMINÁRIO ABERTO


O que dá essa diferença? Antes as escolas<br />

tinham que homologar seus planos escolares<br />

na Diretoria Regional de Ensino, mesmo<br />

Santo André tendo optado por ter uma rede<br />

própria sede ensino fundamental. Agora,<br />

com a criação do sistema, o Conselho Municipal<br />

de Educação tem outro papel. Ele acaba<br />

ganhando poderes que ele não tinha antes<br />

da criação do sistema e a rede ganha uma<br />

independência maior. Agora, nós temos um<br />

grupo de supervisores que fazem isso e algumas<br />

decisões nós temos que submeter ao<br />

Conselho Municipal de Educação. É composta<br />

de 50% sociedade civil e 50% governo.<br />

PerGUnTa:<br />

Eu, como professora da rede estadual,<br />

tive a experiência de estar pegando<br />

quinta série este ano. Existia o Projeto<br />

Cefam, o governo do estado acabou com<br />

o Projeto Cefam. Eu acho que foi o mais<br />

democrata, apesar de to<strong>dos</strong> os problemas,<br />

ele tinha um nível de qualidade um pouquinho<br />

melhor que a rede estadual. Então,<br />

eu me vi na situação de estar dando<br />

aulas no Cefam, que é uma escola de formação<br />

do Magistério, e no ano seguinte,<br />

estar dando aula para alunos de quinta<br />

série, no meu caso, o primário que vem<br />

da rede municipalizada de São Bernardo.<br />

E não querendo fazer nenhuma colocação<br />

partidária, mas tipo, pé no chão mesmo,<br />

o professor enfrenta o dia-a-dia, a gente<br />

observa uma propaganda muito grande<br />

do município de São Bernardo, que lá está<br />

dando tudo certo, tudo indo lindo e maravilhoso,<br />

e a gente vê propaganda, inclusive<br />

em rede de televisão nacional, que<br />

parece que tudo é uma maravilha lá.<br />

Então, a colocação que eu gostaria<br />

de fazer, é que eu me deparo com<br />

alunos de quinta série, que mal sabem ler,<br />

mal sabem interpretar um texto e aquela<br />

coisa de aluno que chega numa quinta série,<br />

e a gente se pergunta: “Mas, como é<br />

que o aluno conseguiu chegar numa quinta<br />

série?” A gente percebe que o aluno<br />

não gosta do espaço escolar, é um espaço<br />

onde ele não se sente bem. Então, varia<br />

muito na questão do tema do debate, na<br />

questão da municipalização. Pelo menos a<br />

visão que eu tenho, iria talvez solucionar<br />

um pouco as deficiências do estado, pelo<br />

número de alunos, pela falta de recursos,<br />

e a gente não observa isso. É como os co-<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

legas colocaram aí, houve uma transferência<br />

de recursos, <strong>dos</strong> poucos recursos,<br />

mas a eficiência deixa muito a desejar:<br />

professores de primeira à quarta séries em<br />

péssimas condições de trabalho, número<br />

elevado de alunos. Então, quer dizer,<br />

a observação que eu gostaria de fazer é<br />

nesse sentido, se fala muito do número<br />

de alunos que estão na escola. Eu gostaria<br />

muito que alguém me apresentasse<br />

da<strong>dos</strong>. Qual é a qualidade desses alunos?<br />

Ou seja, quantos alunos saem da quarta<br />

série sabendo ler, escrever, interpretar um<br />

texto, pra gente poder dar uma aula de<br />

História, de Português, de Geografia, de<br />

Matemática. Essa é uma preocupação que<br />

eu tenho, eu acho que é muito cruel uma<br />

criança chegar na quinta série, desculpe a<br />

expressão, semi-analfabeta. É uma realidade<br />

muito triste, num município que tem<br />

uma retratação muito grande, é triste. Às<br />

vezes, a gente sai meio chateada da escola,<br />

dizendo: “Não tem jeito mesmo”. É de<br />

doer o coração ver uma criança que chega<br />

na quinta série e que mal sabe ler, escrever<br />

e interpretar um texto. Escrever, eu<br />

nem vou falar nada porque é terrível, não<br />

estou falando de acento, não. Acentos,<br />

muitas vezes, muita gente se vê traída. É<br />

escrever mesmo, com as letrinhas normais<br />

que devem ser escritas.<br />

PerGUnTa:<br />

Vocês comentaram muito que as<br />

escolas dependem do governo: subsídio e<br />

tudo mais. Eu não sei quais são as políticas<br />

escolares, mas gostaria de saber se as escolas<br />

não poderiam fazer parcerias com a<br />

comunidade, para arrecadar fun<strong>dos</strong> para<br />

a própria escola. Não sei, campanhas sociais,<br />

os alunos levarem latinhas, plástico,<br />

ou fazerem festas juninas ou sorteios, alguma<br />

coisa que poderia arrecadar fun<strong>dos</strong>,<br />

para que a escola se movimentasse. Ou fazer<br />

parcerias com fábricas locais perto da<br />

escola, alguma coisa que a sociedade poderia<br />

ajudar. Isso não seria possível para<br />

arrecadação de fun<strong>dos</strong>? É permitido às<br />

escolas fazerem esse tipo de parceria para<br />

arrecadar fun<strong>dos</strong> para si próprias?<br />

PrOFa. CLeUsa<br />

Senti muito com a questão do<br />

Cefram, acho um absurdo. Por mais pro-<br />

61


lemas que o Cefram tivesse, era uma<br />

proposta importante. Tem alguns estu<strong>dos</strong><br />

que mostram que daqui a dez anos não<br />

vamos ter professor alfabetizador, nós não<br />

vamos ter, ninguém quer. Enfim, quando<br />

eu ouço professores falando, aí quem está<br />

falando não é a secretária, eu tenho o privilégio<br />

de hoje dirigir uma cidade na área<br />

da educação, falo com a tranqüilidade de<br />

quem não é filiado ao partido que está no<br />

governo da cidade, mas é um governo, um<br />

partido que eu acredito. Portanto, estou<br />

lá, deixando meu nome atrelado ao trabalho.<br />

Agora, acho que são decisões, como<br />

as que você coloca, enquanto professora,<br />

número de salas, que são difíceis da gente<br />

manter. Em Santo André, a gente tem<br />

o máximo de 25 crianças por sala, em algumas<br />

nós conseguimos ter 20 alunos por<br />

sala. E o Ministério Público, o Conselho<br />

Tutelar vai brigar comigo, porque tem um<br />

pai que quer transferir para lá, “porque<br />

você não põe 30, porque você não põe<br />

35?”. O estado chegou a ter 52 em uma<br />

sala, em Santo André.<br />

Nós fizemos um acordo, em que<br />

eu publicava todo ano quantas vagas nós<br />

teríamos, para evitar que acontecesse de<br />

as escolas serem fechadas, e aí a pressão<br />

em cima do município pelo atendimento.<br />

Há ainda quem suporte o Ministério Público,<br />

porque ou você faz ou você sai algemada,<br />

é assim, não tem muita conversa. Você<br />

tem 48 horas, 24 horas para resolver as<br />

coisas. Então, quando eu ouço você falar,<br />

eu fico lembrando da pressão que a gente<br />

tem lá. Tira o laboratório de informática,<br />

põe mais uma sala, quando a gente tem<br />

na escola biblioteca, quando você tem...<br />

O Tribunal de Contas questionou Santo<br />

André porque comprou máquina digital e<br />

scanner para as escolas, mas não é escola<br />

pública? Mas não é lá que as crianças vão<br />

ter direito e à única oportunidade de usar<br />

as novas tecnologias, se a gente não colocar<br />

isso à disposição... Quando ele falou<br />

da média, é claro que a gente não paga<br />

os professores como eu gostaria, mas um<br />

professor lá para 20 horas e mais quatro<br />

de hora atividade, que a gente chama,<br />

está recebendo mil reais e aquele que tem<br />

ensino médio. Em relação a uma média<br />

nacional, a gente não está tão abaixo, mas<br />

tem perdido professor, não para a rede<br />

privada, mas para outros serviços que não<br />

o de dar aulas, enfim. Falando um pouco<br />

na linha que você colocou, por exemplo,<br />

em Santo André, nós proibimos as escolas<br />

para arrecadar. Primeiro, porque você cria,<br />

às vezes, situações muito complicadas, então<br />

você tem empresas como a Firestone,<br />

a Pirelli, que querem participar de programas<br />

de políticas públicas, então eles que<br />

façam para o conjunto da rede.<br />

Nós lá não trabalhamos com projeto-piloto:<br />

aquela escola vai ser privilegiada<br />

e o restante da rede não. Eu lembro<br />

da TetraPak que queria lançar um novo<br />

produto e queria... “deixa eu fazer uma<br />

experiência lá na sua escola”. Até as crianças<br />

vão ter condições de comprar aquele<br />

leite, depois em caixinha. Então, a gente<br />

tem que pensar em programas de segurança<br />

alimentar, a escola tem que pensar<br />

nisso. Hoje a gente tem escolas estaduais<br />

com cantinas, onde é uma fonte de recurso,<br />

onde a Secretária de Saúde vai fazer o<br />

levantamento idade e peso das crianças,<br />

as crianças estão obesas e desnutridas. E aí<br />

nós oferecemos merenda escolar e a merenda<br />

não tem aceitação. Óbvio, a merenda<br />

vai trabalhar em outro conceito. Então,<br />

a rede municipal não tem cantina, tem<br />

que comer a merenda, não pode levar lanche<br />

de casa. Tem gente que fala “mas, aí<br />

não é gestão democrática”. Mas os índices<br />

de desnutrição que a gente está vendo em<br />

torno da cidade, mais obesidade, fez com<br />

que a gente tomasse, sim, algumas decisões,<br />

que se você for ficar discutindo, você<br />

não implementa.<br />

Então, tem merenda diferenciada<br />

para as regiões onde você tem o grau de<br />

desnutrição maior. A gente faz experiência<br />

com a aceitação de merenda, onde é<br />

melhor, o que as crianças gostam mais<br />

ou menos. Mas essa questão para mim<br />

vai num paralelo de como chamavam a<br />

professora de tia. <strong>Prof</strong>essora é profissão,<br />

tem que ser respeitado. Tia é parente, tia<br />

ganha qualquer coisa. Qualquer coisa que<br />

você falar está bom, porque tia é assim.<br />

Agora, uma professora é profissional, ela<br />

tem que receber seu salário, ela tem suas<br />

garantias. Agora, isso não implica que a<br />

escola não se mobilize. Como a gente tem<br />

lá, 98% da cidade tem coleta seletiva, as<br />

escolas fazem parte, só que todas as escolas<br />

fazem, mas para melhorar aterro<br />

sanitário, por uma questão de conscientização,<br />

de trabalho ambiental. Porque<br />

também hoje a gente tem orgulho de ser<br />

62 SEMINÁRIO ABERTO


o primeiro país no mundo em reciclagem<br />

de alumínio. A gente tinha que ter vergonha.<br />

Porque, na verdade, é só geração de<br />

renda, as escolas separam o lixo, e os recicladores,<br />

porque a gente não está mais<br />

usando o nome de catadores. Os filhos deles<br />

tão lá na rede, e as mães falavam para<br />

a gente “se você não estudar, você vai catar<br />

coisa na rua”, não é assim? “Você vai<br />

puxar carroça”, você vai fazer determinadas<br />

coisas, então, não é questão da “Cartilha<br />

Politicamente Correta”, mas usar os<br />

termos corretos, eles são recicladores. Na<br />

verdade, aí está na frente mais a questão<br />

do recurso do que a questão ambiental.<br />

Então, a gente quer criar uma outra geração<br />

de crianças, que se preocupem sim<br />

com a questão ambiental, nas coisas mais<br />

simples, que não seja só latinha. Que a<br />

latinha dá mais dinheiro, mas seja o plástico,<br />

que seja o papel, que seja o jornal,<br />

que seja tudo que tem ali na escola. Senão,<br />

a gente cria, às vezes, programas, e<br />

as escolas públicas são muito assediadas<br />

para isso, depois a empresa resolve que<br />

não é mais aquele investimento que ela<br />

quer fazer, pega as coisas e vai embora, e<br />

a gente abriu a demanda. Parceria é uma<br />

coisa, agora, vincular as ações ou recursos<br />

é complicado. É para isso que eu acho que<br />

tem que envolver família. Mas a cidade, o<br />

país tem recursos, sim, para investir, é só<br />

colocar no lugar certo.<br />

PrOF. eDGar<br />

Depende do enfoque, você deve<br />

ter visto na televisão, agora diminuiu<br />

um pouco, mas teve um período que era<br />

mais intenso, a campanha da rede Globo<br />

“Amigos da Escola”. Qual era o caráter<br />

dessa campanha? Também era, e é, quem<br />

defende esse tipo de política, de transferir<br />

uma obrigação que é do estado, em<br />

matéria de educação, para a sociedade.<br />

Então, quando a casa da escola, a escola<br />

não pode participar de projetos na coletas?<br />

Pode! Pode fazer parcerias com outra<br />

empresa? Pode! Na rede estadual de São<br />

Paulo tem várias escolas que são projetospiloto<br />

por empresas. Itaú tem, Bradesco,<br />

em escolas do estado. Mas qual é o grande<br />

problema? Vocês viram que o governo<br />

federal comemorou arrecadação recorde<br />

de impostos, ou seja, se recolhe muito<br />

dinheiro <strong>dos</strong> impostos. Nós, professores,<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

somos compulsoriamente desconta<strong>dos</strong> no<br />

imposto de renda, na fonte, você não tem<br />

nem opção.<br />

Porque eu estou dizendo isso?<br />

Nós pagamos IR, IPTU, INSS. Com o volume<br />

que os administradores têm na mão,<br />

e se a sociedade não cobrar dela, dessa<br />

administração, que reverta tudo isso que<br />

ele recolheu para o serviço que a população<br />

necessitar, isso vai parar em outro<br />

lugar. Isso é um debate sério. Eu estou entre<br />

aqueles que defendem a idéia de que<br />

o estado deve cumprir sua obrigação, eu<br />

estou com a consigna da Revolução Francesa:<br />

a educação é um direito da população,<br />

um dever do estado. É isso. Vão dizer<br />

que sou comunista, não sou. A Revolução<br />

Francesa não foi uma revolução comunista;<br />

foi uma revolução burguesa, certo?<br />

Então, é simples. Agora, o que acontece;<br />

hoje nós carecemos de mecanismos dentro<br />

da sociedade para exigir da administração<br />

pública que aplique os recursos que ela arrecadou<br />

em benefício da população, esse<br />

é o problema. Nós temos “n” administradores<br />

públicos aí, que estão no poder e<br />

está comprovado que desviam dinheiro<br />

público etc., e fica por isso mesmo. Tem<br />

mil Malufs da vida, Barbalhos da vida,<br />

agora mais recente, o presidente do PSB e<br />

fica por isso mesmo, gente.<br />

Ou seja, a sociedade não exige,<br />

porque é muito distante a força dela para<br />

cobrar e exigir que o prefeito, que o governador<br />

aplique aquilo que efetivamente<br />

tem que ser aplicado: 25% na educação.<br />

Nem os conselhos do Fundef conseguem<br />

fiscalizar direito, é bom que se saiba disso.<br />

Perguntem lá para os seus representantes,<br />

se há transparência no que é dinheiro<br />

gasto, não há, infelizmente, não há.<br />

Não se sabe se de fato é aplicado ou não.<br />

Agora, o que está por trás, que a rede Globo<br />

faz isso, e outras empresas fazem isso,<br />

é porque existe todo um debate ainda, de<br />

que o estado, pelo menos o Brasil em particular,<br />

centraliza praticamente a totalidade<br />

da educação.<br />

Segundo da<strong>dos</strong> da Revista Exame<br />

de dois anos atrás, o sistema educativo<br />

brasileiro movimenta anualmente 90 bilhões<br />

de reais. Pode-se ter noção do que<br />

isso significa, não? É muito dinheiro. E<br />

todo mundo quer pegar uma fatia, evidentemente,<br />

até as empresas de ensino norteamericanas.<br />

É o que está por trás da ALCA,<br />

6


eles querem abocanhar a central de serviços<br />

(educação, saúde) e as riquezas, como<br />

a água. Então, as escolas podem. A legislação<br />

é até flexível quanto a isso, só que tem<br />

tudo um interesse público por trás.<br />

Em relação ao que o professor colocou<br />

ao índice de desempenho escolar, eu<br />

não sou muito de decorar números, mas<br />

se vocês pegarem o índice de desemprego<br />

do Saresp ou do Saeb do ano passado, não<br />

sei se vocês acompanharam, há contradições<br />

exatamente nessa linha que o colega<br />

colocou. Qual é? O governo do estado, via<br />

associação, diz: “nossos alunos chegam na<br />

segunda série, mais de 70% conseguem<br />

ler identificar um texto”, lembram disso?<br />

E os da<strong>dos</strong> do Saeb diziam “não, não<br />

é bem assim”. Tanto que a proposta do<br />

MEC e que alguns esta<strong>dos</strong> e municípios já<br />

adotaram porque a proposta LDB prevê a<br />

inclusão <strong>dos</strong> alunos de seis anos de idade<br />

no ensino fundamental. E o discurso<br />

que o MEC fez ano passado foi exatamente<br />

esse. É preciso incluir os alunos de seis<br />

anos no ensino fundamental para combater<br />

o problema do analfabetismo que<br />

está havendo. Porque mais de 80% <strong>dos</strong><br />

alunos que saem da primeira série e vão<br />

para a segunda série da rede pública do<br />

país chegam analfabetos na segunda. Então,<br />

não estamos falando nem da quarta<br />

série e nem da oitava série, onde os índices<br />

também são eleva<strong>dos</strong> quando se trata<br />

de baixa disciplina. Esse é um problema<br />

gravíssimo que eu, infelizmente, o coro<br />

do poder público é que o professor é responsável<br />

por isso. E eu tenho um frisson<br />

quando eu leio qualquer coisa da Sra.Rose<br />

Duprat da Silva. Na Revista Nova Escola de<br />

dezembro, ela declarou exatamente isso:<br />

o professor é desonesto. Só não disse com<br />

essas palavras: ele trabalhou e ganhou e<br />

não cumpriu sua obrigação, de ensinar os<br />

alunos. Exatamente por conta do baixo<br />

desenvolvimento que está havendo, que<br />

está revelando nos testes do Saeb e do<br />

próprio Sadesp.<br />

PrOFa. MarÍLIa<br />

Vou me solidarizar com o professor<br />

César porque essa é uma questão que<br />

realmente tem me preocupado. Entender<br />

um pouco essas políticas, o que elas trazem<br />

no sentido de uma efetiva melhoria<br />

no desempenho escolar, ou não. Então,<br />

eu penso na questão da proteção escolar,<br />

que vem deixar visível alguma coisa que<br />

no princípio não nos preocupava. Quer<br />

dizer, se nós pensarmos no desempenho<br />

escolar das várias gerações que nos antecederam,<br />

nós podemos observar que os<br />

índices de reprovação sempre foram bastante<br />

eleva<strong>dos</strong>. Temos um nível de 40%,<br />

50% de crianças que ficavam retidas e acabavam<br />

por serem expulsas muito antes de<br />

efetivarem o direito que têm de aprender<br />

a ler e a escrever, de se constituir como cidadão.<br />

Então, eu vejo na progressão consumada,<br />

uma crítica que dá visibilidade a<br />

essa questão. Os alunos estão dentro da<br />

escola, talvez isso incomode menos, então,<br />

é importante pensar sobre isso; que<br />

elas estão dentro da escola, não foram expulsas,<br />

só que com desempenhos absolutamente<br />

diferentes, diferencia<strong>dos</strong>. E essa<br />

visibilidade não é oferecida ao conjunto<br />

da sociedade. Nós não sabemos quantas<br />

crianças estão dentro disso.<br />

Na verdade, eu acho que é uma<br />

das questões mais sérias, eu entendo,<br />

que nós temos que enfrentar porque se a<br />

criança entra na escola, ela tem condições<br />

de aprendizado. Nós temos que oferecer<br />

condições para que ela siga aprendendo,<br />

não de uma maneira artificial. E, certamente,<br />

com classes de 40 alunos, com<br />

professores atuando 40 horas semanais,<br />

quando não 60, porque eu conheço vários<br />

professores que fazem seu exercício<br />

no Magistério manhã, tarde e noite para<br />

poderem sobreviver. E nós sabemos o desgaste<br />

que significa o fato de exercemos a<br />

função docente.<br />

Eu entendo a sua preocupação e<br />

não tenho respostas, efetivamente, não<br />

temos respostas, porque a única que eu<br />

poderia dar é que nós temos que continuar<br />

fazendo denúncias, porque, se nós nos<br />

acomodamos, aí a coisa fica pior. Essa questão<br />

é questão séria que é pouco discutida,<br />

pouco ventilada na imprensa, exatamente<br />

pela falta de visibilidade que dá em relação<br />

ao real aprendizado <strong>dos</strong> alunos. Então, os<br />

alunos chegam, o professor vai passando,<br />

vão saindo da escola, há um descongestionamento<br />

do sistema, vão chegando to<strong>dos</strong><br />

na quinta série, depois vão para o ensino<br />

médio, e assim por diante. Agora, com qual<br />

qualidade? Isso, os da<strong>dos</strong> têm mostrado. Se<br />

a gente pegar os da<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> PIS o que eles<br />

vão mostrar? Que o Brasil está lá embaixo,<br />

64 SEMINÁRIO ABERTO


em termos de nível de desempenho escolar.<br />

Não é graça.<br />

PrOF. anTOnIO CarLOs GIL<br />

Queria saber se os nossos convida<strong>dos</strong><br />

têm mais alguma coisa a dizer sobre<br />

a municipalização do ensino, que fiquem<br />

a vontade.<br />

PrOFa. CLeUsa<br />

As pessoas que tiverem interesse,<br />

principalmente nas atividades, nos trabalhos,<br />

a rede está aberta, a Secretaria de<br />

Educação fica no quarto andar do Paço<br />

Municipal. As pessoas podem escolher. A<br />

Secretaria não determina quais podem ser<br />

visitadas. Edgar, meu Conselho do Fundef<br />

não me dá sossego. Na verdade, a gente<br />

investe recursos do Fundef na folha e eles<br />

conferem. São 900 professores pagos com<br />

o Fundef e eles conferem um por um. Eu<br />

acho que é o papel mesmo. Se há algum<br />

problema na folha, por um erro de digitação,<br />

eles apontam, não aprovam as contas<br />

e depois a gente volta. Acho que esse é o<br />

papel mesmo. É assim com o Conselho de<br />

Alimentação, Conselho de Merenda, Conselho<br />

de Fundef. Acho que tem que ser assim<br />

mesmo.<br />

PrOF. eDGar<br />

Esse tema está na ordem do dia,<br />

pelo menos para nós professores. Porque<br />

está em jogo, no caso <strong>dos</strong> professores,<br />

seu próprio emprego. Então, por<br />

exemplo, o projeto do Fundef que vai se<br />

transformando em lei, deixa em aberto a<br />

municipalização do ensino fundamental,<br />

eu digo isso porque eu conheço o projeto<br />

nos seus detalhes. Se, de fato, ocorrer<br />

isso, vai mexer com a nossa categoria do<br />

ponto de vista da organização e do ponto<br />

de vista do emprego, é bom que se saiba<br />

disso. Por isso o papel do Sindicato é<br />

ser coorporativo e defender primeiro os<br />

interesses da categoria, segundo, porque<br />

diz respeito à maior fatia da educação.<br />

Nós estamos falando de educação básica,<br />

um projeto que está aí, vai entrar no<br />

Congresso, infelizmente, a sociedade o<br />

discutiu pouco, eu sei que a gente debateu<br />

bastante isso, não sei qual o grau de<br />

apoio de todo mundo, mas o fato é que<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

nós precisamos debater porque vai mexer<br />

com a nossa vida.<br />

Mas o projeto está lá no forno,<br />

segundo a imprensa, vai lá para o Congresso.<br />

Isso significa que a bola vai ser passada<br />

para os deputa<strong>dos</strong> e depois para os senadores.<br />

Então, isso é um tema que deve ser<br />

debatido com tanta atenção e energia, da<br />

mesma forma com que está se debatendo<br />

a reforma universitária. E, infelizmente,<br />

não está acontecendo isso. Entendam que<br />

o debate passa por questionamentos, exige<br />

posicionamentos políticos, e nós sabemos<br />

que a educação foi, é, e amanhã será polêmica.<br />

Então, por exemplo, essa concepção<br />

de fundo não é uma idéia original das<br />

pessoas que estão aí. Os pioneiros, quando<br />

lançaram o manifesto, lançaram essa idéia<br />

de criação de fundo. O pai dessa idéia é<br />

um cidadão chamado Anísio Teixeira, essa<br />

idéia é velha. Não sei se ele concebia da<br />

forma que foi concebido o Fundef ou como<br />

está sendo concebido pelo MEC. O fato é<br />

que essa idéia é velha.<br />

Mas a conclusão da gente é que é<br />

preciso haver essa aliança com a comunidade<br />

escolar, com a sociedade porque se não<br />

houver isso, nós não mudaremos a educação.<br />

Se a sociedade não criar energia, posicionar<br />

as administrações municipais, estaduais,<br />

e federal para alocar mais recursos<br />

para a educação, nós não vamos mudar a<br />

educação. Eu não tenho ilusão, tem que ter<br />

luta, tem que ter pressão.<br />

A escola, na minha vida, mostra<br />

que as mínimas conquistas que tivemos<br />

sempre foram com luta. Quando não tem<br />

luta, não tem nada. Só vem retórica de afago,<br />

de amor, como diz o Gabriel Charita. E<br />

eu digo para vocês, nem casamento resiste<br />

só de afago e amor. Se não tiver a base<br />

material, minha gente, não tem casamento<br />

que resista.<br />

Só tenho a desejar boa sorte para<br />

nós nessa luta por uma educação de qualidade,<br />

válida para to<strong>dos</strong>.<br />

PrOFa. MarÍLIa<br />

Quero dizer que foi um privilégio<br />

estar com pessoas tão preocupadas, que<br />

exercem hoje o papel importante dentro<br />

das escolas municipais, como o professor<br />

Edgar que representa a categoria <strong>dos</strong> professores,<br />

até porque é isso que dá vontade<br />

de prosseguirmos em busca de novas pers-<br />

65


pectivas para se pensar numa educação de<br />

melhor qualidade. Eu tenho uma utopia,<br />

eu acredito que talvez a gente consiga chegar<br />

lá, melhorar a nossa educação. Agora,<br />

sem ter verbas públicas, sem propostas sé-<br />

rias, sem seriedade entre as pessoas, com<br />

certeza vai ficando bem mais difícil. Então,<br />

as idéia não são novas, elas estão aí. Que<br />

a gente saiba utilizá-las com bom proveito<br />

para a maioria da população.<br />

66 SEMINÁRIO ABERTO


DI AGUSTINI, Anapatrícia Morales Vilha<br />

O UsO Da InTerneT COMO InsTrUMenTO DO<br />

COMPOSTO DE MARKETING – UM ESTUDO<br />

EXPLORATÓRIO NAS INDÚSTRIAS PRODUTORAS<br />

De aUTOMÓVeIs Da reGIÃO DO aBC<br />

São Caetano do Sul: IMES [dissertação de mestrado em Administração], 2001<br />

Esmeralda Vicente*<br />

Desde seu surgimento no final <strong>dos</strong><br />

anos 1960, nos esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, a internet<br />

tem se mostrado como a tendência emergente<br />

com maior potencial de inovação<br />

nos processos <strong>dos</strong> mais varia<strong>dos</strong> setores.<br />

No início da década de 1990, a<br />

revolução causada pelo advento do acesso<br />

à internet pelo grande público, proporcionou<br />

às empresas um novo canal de comunicação<br />

direta com seus consumidores, o<br />

que o torna objeto imprescindível de uso<br />

constante e eficaz a to<strong>dos</strong> que queiram um<br />

melhor approach com seus clientes.<br />

A característica da internet, de<br />

canal facilitador da comunicação, abriu<br />

portas para que as empresas maximizem<br />

suas atividades de vendas e, dentro deste<br />

contexto, o setor automobilístico mundial<br />

tem empenhado esforços na formulação<br />

de melhores sites, onde se ofereçam mais<br />

recursos aos compradores online, buscando<br />

com isso uma maior satisfação de suas necessidades<br />

e uma otimização de custos.<br />

Todavia, a internet não se restringe<br />

unicamente ao aspecto de divulgação,<br />

mas devido às suas características interativas<br />

e de alta penetração, vem se transformado<br />

em um imenso ambiente de negócios<br />

para a criação de produtos ou serviços,<br />

diferenciação de preços e distribuição.<br />

O Brasil posicionado em 12 o lugar<br />

no ranking internacional, em números<br />

de usuários da internet e 1 o na América<br />

do Sul, e sendo seu setor automobilístico<br />

um expressivo participante da economia<br />

nacional e gerador de empregos, avança<br />

significativamente nas práticas que envolvem<br />

o uso da rede nas empresas produtoras<br />

de automóveis.<br />

Quando se trata de competitividade<br />

de preços de automóveis e vendas na<br />

internet diretas do produtor, estabelece-se<br />

a relação com a possibilidade da desinter-<br />

*Aluna do Programa de Mestrado em Administração da Universidade IMES.<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

mediação de seus canais, portanto a distribuição<br />

de automóveis pela rede, no Brasil,<br />

tornou-se o epicentro desse tipo de transação,<br />

causando inclusive conflitos entre<br />

produtoras e concessionárias autorizadas.<br />

Atualmente, algumas empresas automobilísticas<br />

estão disponibilizando na internet<br />

informações detalhadas e complexas sobre<br />

suas linhas de modelos, especificações técnicas<br />

com desenhos, e seguindo como tendência<br />

a indicação do número de unidades<br />

disponíveis no estoque da fábrica e das<br />

concessionárias autorizadas.<br />

Nos esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, estima-se<br />

que 50% <strong>dos</strong> compradores de carros novos<br />

sejam influencia<strong>dos</strong> pela intenet na<br />

compra; no Brasil há cerca de 350 sites<br />

opera<strong>dos</strong> por montadoras, 4 mil, por concessionárias<br />

autorizadas e 150, por fornecedores<br />

de serviços de autopeças e, em<br />

muitos deles, já é possível negociar até<br />

mesmo o preço final do automóvel (Menai,<br />

2000, p. 18).<br />

A Ford Motors e a General Motors<br />

parecem ser as empresas produtoras<br />

que mais apostam globalmente no potencial<br />

do comércio eletrônico de automóveis<br />

(Vilardaga, 2000b, p. 1). A GM pretende<br />

ganhar a mesma agilidade que as empresas<br />

que operam na internet em outros setores,<br />

estabelecendo uma estreita relação<br />

com o consumidor final, na venda de seus<br />

produos. Já a Ford Motors utiliza-se de<br />

aplicações voltadas para a empresa e para<br />

os fornecedores (business to business ou<br />

B2B – atividade que reduz custo e tempo<br />

de produção e pode identificar automaticamente<br />

e reagir à demanda); entre a empresa<br />

e os clientes (business to consummer<br />

B2C – atividade que contempla estratégias<br />

de venda, compra e entrega de produtos,<br />

de acordo com a necessidade do cliente),<br />

e também para fortalecer o vínculo entre<br />

67


os consumidores, para isso realizou alianças<br />

com empresas como Yahoo, Oracle e<br />

HP/MCIWORDCOM.<br />

Apesar de realizar vendas pela<br />

internet , a Ford Motors realça que as concessionárias<br />

autorizadas continuarão sendo<br />

o braço do varejo do sistema de fabricação;<br />

a Volkwagen, por sua vez, na sede<br />

brasileira, vale-se de avançada utilização<br />

da internet entre as suas sedes nos esta<strong>dos</strong><br />

Uni<strong>dos</strong> e Europa.<br />

Em um meio em que a agilidade<br />

é fator intrínseco, os impactos deste processo<br />

(uso da internet) se fazem sentir<br />

de modo direto em variáveis como: faturamento<br />

(crescimento das vendas por<br />

causa de seu grande alcance), produção<br />

(mediante recursos tecnológicos, é feito o<br />

que se vende ou já está vendido) e marketing<br />

(considerando a diminuição no envio<br />

de catálogos de produtos e outros materiais<br />

promocionais).<br />

Para que os consumidores sejam<br />

atraí<strong>dos</strong> para esse meio de comercialização,<br />

busca-se facilitar formas de pagamento,<br />

financiamento e preço mais baixo, além<br />

de sites cada vez mais atrativos, interessantes<br />

e, principalmente, seguros, a preocupação<br />

com a segurança nas transações<br />

comerciais, tem feito com que empresas de<br />

tecnologia e de cartão de crédito, invistam<br />

no avanço de novas técnicas e ferramentas<br />

para tornar cada vez mais seguras as atividades<br />

via rede.<br />

A inserção da utilização da internet<br />

nas transações comerciais e de relacionamento<br />

com o consumidor de automóveis<br />

e os conflitos com os canais de distribuição<br />

(concessionárias autorizadas) traduzem<br />

grande modificação num setor, que pouco<br />

mudou desde Henry Ford em 1908.<br />

Um <strong>dos</strong> maiores obstáculos que<br />

o Brasil enfrenta para o crescimento do<br />

comércio eletrônico é de origem cultural,<br />

conforme Adriano (1999, p. 22-23), o<br />

comprador prefere ainda se deslocar fisicamente<br />

até a loja, tem o hábito do contato<br />

físico com o produto, antes de comprá-lo,<br />

mas isso está mudando, de acordo com a<br />

colocação feita pela Volkswagen, que há<br />

o crescimento de um perfil de consumidor<br />

sem tempo para realizar suas compras de<br />

forma física e com isso as faz de forma virtual;<br />

à medida em que forem sendo cria<strong>dos</strong><br />

mecanismos de familiaridade com a tecnologia,<br />

essa cultura do contato físico, pode<br />

6 RESENHA<br />

ser mudada. As empresas do setor buscam<br />

maneiras para que cada vez mais essa nova<br />

forma de relacionamento com seus clientes<br />

seja uma prática comum.<br />

Para a realização desta análise<br />

do uso da internet como ferramenta do<br />

composto de marketing, foram escolhidas<br />

as empresas: Ford do Brasil Ltda., General<br />

Motors do Brasil Ltda. e Volkswagen do<br />

Brasil Ltda, por terem sua produção de automóveis<br />

na região do ABC, além de suas<br />

áreas comerciais e de vendas encontraremse<br />

localizadas em suas sedes.<br />

Para o cumprimento <strong>dos</strong> objetivos<br />

deste estudo, foi utilizada a pesquisa<br />

exploratória, a partir de um levantamento<br />

de campo de natureza qualitativa. O levantamento<br />

foi realizado de forma direta<br />

com os executivos das empresas objetos do<br />

estudo, que, por fazerem parte de um universo<br />

muito pequeno, foram consideradas<br />

todas as empresas que o constitui, são elas<br />

Ford do Brasil Ltda., General Motors do<br />

Brasil Ltda. e Volkswagen do Brasil Ltda;<br />

não havendo, portanto, uma análise estatística<br />

<strong>dos</strong> da<strong>dos</strong>.<br />

Se o grupo de pessoas for pequeno<br />

a ponto de viabilizar o levantamento direto<br />

de informações a to<strong>dos</strong> os elementos,<br />

faz-se um censo (Minciotti, 1999, p. 36; Gil,<br />

1999, p. 70). Para a coleta de da<strong>dos</strong> primários<br />

deste estudo, foram uilizadas entrevistas<br />

informais – realizadas em dezembro de<br />

2000 – com gerentes e analistas de negócios<br />

liga<strong>dos</strong> à área de marketing e internet<br />

e a observação simples junto aos sites das<br />

empresas em questão.<br />

Os da<strong>dos</strong> secundários foram coleta<strong>dos</strong><br />

através de pesquisa bibliográfica,<br />

por meio de registros estatísticos e de comunicação<br />

de massa e também livros. Optou-se<br />

por seguir como etapas de análise a<br />

categorização de variáveis de análise, tabulação<br />

<strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> e confrontação <strong>dos</strong><br />

da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> com o referencial teórico.<br />

A Volkswagen pretende ampliar<br />

os recursos de propagação de seus produtos<br />

pela internet, com a inserção de banners<br />

em vários sites liga<strong>dos</strong> ao setor, programas<br />

de fidelização de clientes em seu<br />

site e ainda uma ampliação da linha de<br />

produtos para venda na internet, com a<br />

integração de sistema de pagamento. Com<br />

estrutura simples, sem ícones que remetam<br />

diretamente aos produtos, a empresa<br />

busca recursos de navegação fluida em seu


site, com informações atualizadas, principalmente<br />

com as promoções do mês.<br />

A General Motors, com a realização<br />

de promoções e incentivos a curto prazo,<br />

mostrou que deseja ampliar o número<br />

de produtos vendi<strong>dos</strong> pela rede e também<br />

criar novos centro de distribuições customiza<strong>dos</strong>.<br />

Seu site, com maior eficiência de<br />

recursos, fornece ao usuário a possibilidade<br />

de entrar e sair de uma pagina sem a<br />

necessidade de dirigir-se à página inicial,<br />

evitando assim que o usuário fique perdido<br />

na sequência de informações ou em sua<br />

busca pelo produto que deseja.<br />

A Ford, com a inserção de banners<br />

em sites liga<strong>dos</strong> ou não ao segmento automobilístico,<br />

investe no aprimoramento<br />

do relacionamento entre consumidores<br />

via rede, e para tanto busca implantar<br />

recursos de CRM (Customer Relationship<br />

Management – ferramenta de integração<br />

de da<strong>dos</strong> que captura, processa, analisa e<br />

distribui os da<strong>dos</strong> focaliza<strong>dos</strong> no cliente)<br />

na internet. Busca também ambientes de<br />

discussões entre consumidores e a empresa<br />

visando melhora do processo produtivo.<br />

O site apresenta-se de forma satisfatória<br />

ao usuário, bastante completo e se mostra<br />

eficiente como canal de comunicação com<br />

o consumidor.<br />

As empresas devem manter este<br />

canal atualizado e acessível, pois é o que<br />

garante aos consumidores a possibilidade<br />

de conceber seus produtos a partir de suas<br />

preferências. Segundo Kotler (1998, p. 32),<br />

o produto exige uma atenção constante<br />

para estar sempre adaptado às necessidades<br />

e aos gostos do consumidor ou para<br />

fazer frente à entrada de um concorrente<br />

no mercado.<br />

Duas das empresas estudadas, se<br />

destacam por apresentarem satisfatórios<br />

rols de itens (entre eles cor, elementos opcionais<br />

e potência do motor) para o usuário<br />

escolher e compor seu automóvel via<br />

internet, são elas General Motors e Ford<br />

Motors, no site da Volkswagen, portanto,<br />

nota-se uma limitação da possibilidade de<br />

escolha por parte do consumidor.<br />

As três empresas, no entanto,<br />

disponibilizam informações técnicas sobre<br />

seus produtos em seus sites, em nível<br />

satisfatório; inclusive a General Motors e<br />

a Volkswagem utilizam simuladores de visualização<br />

<strong>dos</strong> itens opcionais escolhi<strong>dos</strong>.<br />

Ficou constatado também que, em todas as<br />

Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />

empresas, o universo das escolhas fica restringido<br />

aos periféricos, a estrutura básica<br />

<strong>dos</strong> automóveis mantêm-se.<br />

Essa prática do uso da internet<br />

para a concepção <strong>dos</strong> produtos e via de<br />

troca de informações, tanto técnicas como<br />

tecnológicas <strong>dos</strong> processos, facilitam às<br />

empresas conhecer melhor seus consumidores,<br />

saber o perfil de preferências<br />

<strong>dos</strong> seus merca<strong>dos</strong>-alvo de forma barata,<br />

rápida e da fonte mais segura possível, o<br />

próprio cliente é quem fornece as informações.<br />

A única desvantagem deste processo<br />

apontada pelas empresas estudadas é a<br />

ausência de estruturas compatíveis com a<br />

demanda que proporciona.<br />

Quanto ao planejamento e esforço<br />

promocional na internet, as três<br />

empresas enfocam a importância da sinergia<br />

entre as mídias off-line e online, enquanto<br />

a mídia online resulta em ação de<br />

compra e conexão <strong>dos</strong> compradores aos<br />

show-rooms, de uma forma mais agradável,<br />

graças aos seus recursos de natureza<br />

visual e auditiva, a off-line continua informando<br />

a existência <strong>dos</strong> produtos e de seus<br />

benefícios. Uma não substitui a outra, mas<br />

devem estar em sintonia.<br />

No tocante ao preço final, a General<br />

Motors diz que a vantagem está na<br />

redução de impostos estabeleci<strong>dos</strong> pelo<br />

governo, o que possibilita um preço mais<br />

competitivo, a Ford e a Volkswagen dizem<br />

não atrelarem a composição <strong>dos</strong> preços à<br />

internet, mas a Ford Motors admite que<br />

há uma redução deste, por conta de um<br />

redimensionamento no processo de produção,<br />

já a Volkswagen pratica o mesmo<br />

preço tanto na venda física, como na virtual.<br />

Porém não há estu<strong>dos</strong> que comprovem<br />

uma melhora no custo de produção<br />

de um produto por ser este vendido de<br />

forma virtual.<br />

Com o uso da rede, há o favorecimento<br />

da criação de novos centros de<br />

distribuição, otimizando assim as entregas<br />

<strong>dos</strong> pedi<strong>dos</strong>, além da redução de estoques<br />

nas concessionárias.<br />

A autora, através deste estudo,<br />

constatou que, nas empresas produtoras<br />

de automóveis do ABC, utiliza-se a internet<br />

como ferramenta de concepção, promoção<br />

e distribuição de produtos em seus compostos<br />

de marketing, sendo essas atividades<br />

favorecidas pelo uso de recursos tecnológicos<br />

<strong>dos</strong> sites.<br />

69


Na formação de preço, a rede não<br />

é utilizada, apesar de admitirem que uma<br />

há certa redução no preço final por conta<br />

de outros fatores, que não diminuição <strong>dos</strong><br />

custos de produção. Fica, porém, evidente<br />

neste estudo que há a intenção de expansão<br />

<strong>dos</strong> meios de utilização da internet<br />

como instrumento de relacionamento e<br />

venda de automóveis junto aos seus consumidores;<br />

para isso, nota-se uma disposição<br />

de investimentos, através da criação<br />

de centros de distribuição, ampliação das<br />

70 RESENHA<br />

linhas de produtos ofereci<strong>dos</strong> via rede e<br />

melhora <strong>dos</strong> processos produtivos, o que<br />

reforça a idéia de um crescimento exponencial<br />

para os próximos anos.<br />

Por ser esta uma pesquisa de natureza<br />

exploratória, seus resulta<strong>dos</strong> não<br />

podem ser vistos como conclusivos; entretanto,<br />

buscou-se apresentar o cenário do<br />

uso da internet como ferramental dentro<br />

do composto de marketing e sua utilização<br />

por parte das empresas produtoras de automóveis<br />

do ABC.

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