INTRODUÇÃO Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos ... - USCS
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1. InTrODUÇÃO<br />
A presença feminina nas policias<br />
brasileiras não é recente. Em 1955, o Estado<br />
de São Paulo instituiu um corpo feminino<br />
de guardas civis que, em 1970, foi incorporado<br />
à Policia Militar do Estado. Embora<br />
a base legal para a admissão de mulheres<br />
tenha sido estabelecida ainda no período<br />
autoritário, por meio de portarias do Estado-Maior<br />
do Exército, a criação efetiva<br />
<strong>dos</strong> corpos femininos quase sempre ocorreu<br />
durante a fase de abertura política ou<br />
mesmo após a redemocratização do país.<br />
Desse modo, somente nos anos 1980, com<br />
o fim da ditadura militar, houve a efetiva<br />
incorporação de mulheres nas polícias de<br />
diversos esta<strong>dos</strong> da nação, “visando originalmente<br />
cobrir certas áreas de atuação<br />
em que o policiamento essencialmente repressivo,<br />
estaria encontrando dificuldades<br />
no trato com crianças abandonadas, ou<br />
com mulheres e adolescentes autores de<br />
infrações” (Soares, 2004, p.1).<br />
Deve-se ressaltar, no entanto, que<br />
sua participação no contingente total das<br />
PMs é de apenas 6%, enquanto, na Polícia<br />
Federal, é de 10% e, nas guardas municipais,<br />
é de 11%, alcançando 19% nas Polícias Civis.<br />
Alguns estudiosos apontam o<br />
fato de que tal incorporação não respondeu<br />
a uma demanda da sociedade, como<br />
no caso das Delegacias Especiais da Mulher<br />
ou na Polícia Civil, resultado de iniciativas<br />
e cobranças do movimento feminista, que<br />
tinha como finalidade dar atendimento<br />
especializado, prestado, sobretudo, por<br />
policiais civis femininas, às mulheres vítimas<br />
de violência:<br />
“Não há registro de mobilização social<br />
equivalente, no que se referem as<br />
PMs: nem demanda de serviços específicos<br />
que seriam mais bem desempenha<strong>dos</strong><br />
por mulheres, nem pressões<br />
para a democratização de um espaço<br />
profissional até então exclusivamente<br />
masculino. Tudo indica que a inclusão<br />
do contingente feminino teve origem<br />
em motivações internas nas próprias<br />
policias militares e/ou nos respectivos<br />
governos estaduais, antes, que em<br />
apelos diretos da sociedade civil ou<br />
da chamada opinião pública” (Soares<br />
e Musumeci, 2005, p.16).<br />
Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />
Para Soares e Musumeci (2005),<br />
havia, aparentemente, um desejo de “humanizar”<br />
a imagem da polícia, fortemente<br />
associada à ditadura – desejo que teria levado,<br />
por exemplo, à introdução de disciplinas<br />
de direitos humanos nos currículos<br />
policiais. Por outro lado, mesmo com a<br />
redemocratização política do país, o aparelho<br />
de segurança pública não passava (e<br />
não passou até hoje) por nenhuma mudança<br />
paradigmática em sua estrutura, que associasse<br />
a incorporação de mulheres a um<br />
processo mais amplo de reformas. Apesar<br />
<strong>dos</strong> intensos debates, não houve ainda projetos<br />
que consiguissem adequar as polícias<br />
à democracia que, segundo Luiz Eduardo<br />
Soares (2000), foi a única das instituições<br />
nacionais que não foi reformada após o<br />
fim da ditadura.<br />
De acordo com Soares e Musumeci<br />
(2005), na falta de uma elaboração explícita,<br />
pode-se inferir algumas motivações<br />
subjacentes, examinando-se as listagens<br />
das atividades previstas para os efetivos<br />
femininos das polícias da maioria <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>.<br />
Não se trata necessariamente das tarefas<br />
de fato desempenhadas pelas mulheres,<br />
mas sim do que se idealizou para elas<br />
como possível e desejável:<br />
“Trabalho preventivo e assistencial<br />
junto a crianças e adolescentes, mulheres<br />
e i<strong>dos</strong>os; atendimento e condução<br />
de alcoólatras, droga<strong>dos</strong> e<br />
mendigos; policiamento ostensivo em<br />
portos, aeroportos e terminais rodoviários;<br />
policiamento de trânsito; policiamento<br />
de áreas comerciais e turísticas;<br />
patrulha de grandes eventos;<br />
trabalhos comunitários e assistenciais<br />
em geral; revista de mulheres detentas<br />
ou suspeitas e de visitantes do<br />
sexo feminino em estabelecimentos<br />
penais; serviços internos de secretaria,<br />
telefonia, arquivo, recepção etc.<br />
(Soares e Musumeci, 2005, p.17).<br />
Segundo as pesquisadoras, a missão<br />
das mulheres policiais seria, assim,<br />
funcionar como uma espécie de cartão de<br />
visita, que, sem alterar paradigmas, sinalizasse<br />
mudanças e modernização. A autora<br />
ressalta ainda, na lista de atividades acima,<br />
o trabalho assistencial junto a comunidades,<br />
a crianças e adolescentes, a mulheres e<br />
i<strong>dos</strong>os, a mendigos e bêba<strong>dos</strong> etc.<br />
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