INTRODUÇÃO Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos ... - USCS
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tresse, LER, varizes, problemas na coluna,<br />
entre outras). Essa questão foi objeto de<br />
muitas manifestações do Sindicato, inclusive<br />
com propostas de inclusão de cláusulas<br />
nos Acor<strong>dos</strong> Coletivos – sem muitos avanços<br />
até o momento.<br />
Outro fato, levantado pela diretora<br />
do Sindicato, são as denúncias de assédio<br />
moral:<br />
“A humilhação que as trabalhadoras<br />
passam é muito grande, muitas vezes,<br />
elas têm dores, mas não revelam, com<br />
medo de perder o emprego. Porque,<br />
logo que a empresa percebe que está<br />
ficando com problemas de saúde, ela<br />
demite, antes que o diagnóstico seja<br />
doença ocupacional e entrem em processo<br />
de tratamento”.<br />
Destaca ainda que as encarregadas<br />
amedrontam as operárias, colocando<br />
sempre a possibilidade de uma substituição<br />
imediata, quando adoecerem – uma constante<br />
pressão psicológica:<br />
“A Valisère é uma fábrica de lesionadas,<br />
as pessoas saem daqui, muitas<br />
vezes, doentes e não arrumam outro<br />
emprego”.<br />
Uma iniciativa importante, mencionada<br />
pela diretora, foi um estudo realizado<br />
pelo Dieese (década de 1990) para detectar<br />
os problemas decorrentes desse sistema de<br />
produção na Valisère, e subsidiar as intervenções<br />
do Sindicato 1 . Além <strong>dos</strong> fatos expostos,<br />
convém acrescentar o exemplo da Linha<br />
Marítima (roupas de praia da Valisère), que<br />
utiliza o mesmo processo de células de produção,<br />
adicionando um outro incentivo que<br />
é o sistema da bandeira, pelo qual a célula<br />
que atinge a meta de produção levanta uma<br />
bandeira, visível por toda a fábrica, provocando<br />
disputa e concorrência entre as trabalhadoras,<br />
e agravando ainda mais os problemas<br />
anteriormente aponta<strong>dos</strong>.<br />
Dos 186 cargos de direção do Sindicato<br />
<strong>dos</strong> Metalúrgicos do Grande ABC, apenas<br />
oito são ocupa<strong>dos</strong> por mulheres. Considerando<br />
que, na categoria, o percentual<br />
de mulheres é de 10%, uma representação<br />
claramente insuficiente. A diretora deste<br />
Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />
sindicato mostrou-se otimista quanto ao aumento<br />
da participação feminina na próxima<br />
direção do sindicato, que tem trabalhado na<br />
implantação de uma política sindical específica<br />
para incentivo ao envolvimento das mulheres<br />
nas várias instâncias sindicais (CIPA,<br />
Comissão de Fábrica, Sindicato), destaca ainda<br />
que tem percebido resulta<strong>dos</strong> positivos, e<br />
que “...pela experiência aprendemos que é<br />
importante envolver os companheiros, que<br />
não podem ficar alheios ao movimento”.<br />
Quanto aos problemas específicos<br />
das mulheres metalúrgicas, destacou: dupla<br />
jornada de trabalho, responsabilidade<br />
com o cuidado <strong>dos</strong> filhos e filhas, precárias<br />
condições de trabalho, doença ocupacional<br />
(LER), ritmo acelerado de trabalho e falta<br />
de investimento das empresas na qualificação<br />
das trabalhadoras. No que se refere<br />
aos avanços conquista<strong>dos</strong>, estão restritos ao<br />
auxílio creche (para crianças de até um ano<br />
de idade) e um dia remunerado para exame<br />
médico preventivo (câncer ginecológico).<br />
Em conversa com as dirigentes<br />
do Sindicato <strong>dos</strong> Químicos do ABC, percebe-se<br />
que a participação das mulheres na<br />
direção do sindicato também é pequena;<br />
eis que, <strong>dos</strong> 47 diretores, apenas cinco são<br />
mulheres. A situação das trabalhadoras<br />
da categoria química não é diferente das<br />
demais: pouca participação feminina nos<br />
cargos de direção, o trabalho das mulheres<br />
nas empresas é marcado por atividades<br />
repetitivas (baixos salários e pouca qualificação),<br />
incidência considerável de doenças<br />
profissionais (LER) e poucos avanços<br />
nos Acor<strong>dos</strong> Coletivos – no que se refere<br />
às cláusulas específicas do trabalho feminino.<br />
Vale destacar uma ação eficaz que<br />
garantiu a manutenção do emprego das<br />
trabalhadoras da Kolynos – num momento<br />
de inovação tecnológica, onde a intenção<br />
da empresa era substituir o trabalho feminino<br />
pelo masculino, a partir da chegada<br />
de novas máquinas.<br />
Os registros acima vão, deste<br />
modo, ao encontro das análises de Bresciani<br />
e Tadashi Oda (2003) sobre a categoria<br />
metalúrgica, e de Schutte e Coelho (2003),<br />
a respeito da categoria química no ABC, no<br />
que concerne à existência de cláusulas relacionadas<br />
ao trabalho feminino nas pautas e<br />
acor<strong>dos</strong> coletivos nos referi<strong>dos</strong> segmentos.<br />
1 Esse processo está documentado no artigo Vestuário: uma luta contra o tempo, publicado pelo<br />
Dieese.<br />
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