INTRODUÇÃO Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos ... - USCS
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2. sInDICaTO e reLaÇÕes De GÊnerO<br />
Hirata (1998) destaca ainda que a<br />
problemática envolvendo mulher e trabalho<br />
aparece timidamente no Brasil, no final<br />
da década de 1970, com destaque para um<br />
campo restrito em alguns sindicatos de São<br />
Paulo, articulando três fatores centrais:<br />
a.<br />
b.<br />
c.<br />
A mudança na composição da força<br />
de trabalho;<br />
Desenvolvimento de novas práticas<br />
nos movimentos operário e sindical;<br />
A emergência <strong>dos</strong> movimentos populares<br />
de mulheres e de uma corrente<br />
feminista de influência no país.<br />
Neste período, o trabalho industrial<br />
é marcado por dupla mudança: o aumento<br />
global da porcentagem de operárias<br />
e a modificação na distribuição das mulheres<br />
nos diversos ramos industriais, conforme os<br />
da<strong>dos</strong> nacionais relativos à Pesquisa Nacional<br />
por Amostra de Domicílios PNAD (IBGE),<br />
de 1999.<br />
Paticipação da mão-de-obra feminina no setor<br />
industrial em são Paulo.<br />
1980<br />
1970<br />
24,5%<br />
18,8%<br />
Segundo os indicadores sistematiza<strong>dos</strong><br />
pelo Dieese (2001) na publicação intitulada<br />
“A situação do trabalho no Brasil”,<br />
verifica-se o crescimento da participação feminina<br />
na PEA brasileira. De 30,9% em 1973<br />
(cerca de 11 milhões de mulheres), o percentual<br />
eleva-se para 41% em 1999, correspondendo<br />
a 32,8 milhões de trabalhadoras<br />
(DIEESE, 2001:104-5). Em seis regiões metropolitanas<br />
(Belo Horizonte, Distrito Federal,<br />
Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo),<br />
cujos indicadores de desemprego são levanta<strong>dos</strong><br />
pela entidade, encontrava-se praticamente<br />
a metade dessa população (16,2<br />
milhões de trabalhadoras), representando<br />
44,6% da PEA (DIEESE, 2001:107).<br />
Gestão & Regionalidade - N o 13 - 2 o Semestre 2005<br />
Todavia, os da<strong>dos</strong> relativos às pesquisas<br />
de emprego e desemprego do Dieese<br />
nessas regiões metropolitanas apontavam<br />
uma situação mais crítica sob a perspectiva<br />
feminina. As mulheres representavam<br />
43,2% (5,6 milhões) do contingente de trabalhadores<br />
ocupa<strong>dos</strong> em 1999, e 50,5% <strong>dos</strong><br />
desemprega<strong>dos</strong> (1,65 milhão de trabalhadoras),<br />
com taxas de desemprego situadas<br />
entre 20% e 30%, superando em cerca de 5<br />
pontos percentuais as taxas masculinas nas<br />
respectivas regiões metropolitanas, e em 3<br />
pontos percentuais as taxas médias (DIEESE,<br />
2001:109-11).<br />
De acordo com a entidade, essas<br />
“altas taxas de desemprego feminino resultam,<br />
em grande parte, da dificuldade imposta<br />
pelas empresas para contratá-las. Os<br />
empresários, com freqüência, alegam altos<br />
custos relaciona<strong>dos</strong> à manutenção de mulheres<br />
no emprego devido ao risco de engravidarem...<br />
Colocam obstáculos também<br />
frente à obrigatoriedade de concederem<br />
alguma flexibilidade nos horários da mãe<br />
para que possam amamentar seus filhos nos<br />
seis primeiros meses de vida, e (...) arcar com<br />
os custos de manutenção de creche onde as<br />
crianças fiquem no horário de trabalho da<br />
mãe” (DIEESE, 2001:111).<br />
O levantamento da situação das<br />
mulheres no mercado de trabalho – condições<br />
de trabalho e salários, principalmente<br />
– ficou relegado a um plano secundário,<br />
diante das principais reivindicações daquele<br />
momento, o que pode ter contribuído para<br />
o aprofundamento da invisibilidade do trabalho<br />
feminino. Do mesmo modo, a organização<br />
tradicional do processo de trabalho,<br />
combinada com a exclusão das mulheres do<br />
mercado formal, pode ter sido reforçada<br />
pelas diretorias sindicais, majoritariamente<br />
masculinas, e sem uma política claramente<br />
elaborada que incorporasse as mulheres no<br />
cotidiano sindical. Se não havia incentivo<br />
ou suporte para o envolvimento de mulheres<br />
nas atividades sindicais dentro das fábricas<br />
(através das CIPAs e das comissões de<br />
fábricas), ainda mais restrito se mostrava o<br />
acesso aos cargos de direção <strong>dos</strong> sindicatos,<br />
reforçando-se a divisão sexual do trabalho,<br />
e mitigando a luta pela igualdade de oportunidades<br />
entre homens e mulheres.<br />
As limitadas participação e intervenção<br />
das mulheres no movimento sindical,<br />
inclusive nas mesas de negociação coletiva,<br />
podem ter concorrido para relegar a<br />
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