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Manifestações Dermatológicas em Pacientes Cirróticos ... - Ufcspa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: HEPATOLOGIA<br />

<strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Pacientes</strong> <strong>Cirróticos</strong> Ambulatoriais<br />

Gislaine Silveira Olm<br />

Porto Alegre 2010


UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: HEPATOLOGIA<br />

<strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> <strong>em</strong> <strong>Pacientes</strong> <strong>Cirróticos</strong><br />

Ambulatoriais<br />

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-<br />

Graduação <strong>em</strong> Hepatologia da Universidade Federal de<br />

Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisitos para<br />

Obtenção do Grau de Mestre<br />

Autora: Gislaine Silveira Olm<br />

Orientador: Dr. Cláudio Augusto Marroni<br />

Co-orientador: Dr. Renan Bonamigo<br />

Porto Alegre, 2010


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Hepatologia da Universidade<br />

Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, pela oportunidade.<br />

Ao Professor Doutor Cláudio Augusto Marroni, por sua orientação e<br />

estímulo constante.<br />

Ao Professor Doutor Renan Rangel Bonamigo, pelo ex<strong>em</strong>plo de<br />

médico e pesquisador, por sua dedicação como co-orientador desta<br />

dissertação.<br />

A Dra. Fernanda Razera pelo apoio e incentivo incondicional <strong>em</strong> todas<br />

as etapas deste projeto.<br />

Ao Dr. Mário Bernardes Wagner pelo auxílio na análise estatística.<br />

Aos residentes do serviço de Gastroenterologia e Hepatologia da<br />

UFCSPA pela prestatividade no Ambulatório.<br />

À minha família, <strong>em</strong> especial ao meu esposo Eduardo Rogério Chies<br />

Stocker, pelo apoio e companheirismo desde o início da minha formação<br />

acadêmica.<br />

IV


Esta pesquisa recebeu auxílio de bolsa de Mestrado da Coordenação de<br />

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior (CAPES) para o<br />

desenvolvimento do estudo.<br />

V


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1<br />

2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................. .3<br />

2.1. Cirrose ........................................................................................ .3<br />

2.1.1. Definição e Epid<strong>em</strong>iologia ...................................................... 3<br />

2.1.2. Etiologia ...................................................................................3<br />

2.1.3. Fisiopatogenia .........................................................................5<br />

2.1.4. Apresentação Clínica ..............................................................6<br />

2.1.5. Achados Laboratoriais ............................................................8<br />

2.1.6. Exames de Imag<strong>em</strong> ..............................................................10<br />

2.1.7. Biópsia Hepática ...................................................................11<br />

2.1.8. Avaliação Prognóstica ...........................................................12<br />

2.2. Fígado e Doenças Sistêmicas......................................................15<br />

2.3. <strong>Manifestações</strong> Cutâneas Devidas à Doença Hepatobiliar ..........16<br />

2.3.1. Alterações Vasculares ...........................................................18<br />

2.3.2. Prurido ................................................................................... 22<br />

2.3.3. Ungueais ................................................................................23<br />

2.3.4. Icterícia e Alterações Pigmentares ....................................... 26<br />

2.3.5. Distúrbios da Coagulação ..................................................... 28<br />

2.3.6. <strong>Manifestações</strong> Induzidas por Alterações Hormonais ............ 28<br />

2.3.7. Outras Alterações Cutâneas ..................................................29<br />

2.3.8. <strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> Associadas ao Vírus da<br />

Hepatite C .............................................................................30<br />

VI


2.3.9. <strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> Associadas ao Uso Excessivo<br />

de Álcool ............................................................................... 34<br />

3. OBJETIVOS .......................................................................................... 36<br />

3.1. Objetivo Geral ............................................................................. 36<br />

3.2. Objetivos Específicos ..................................................................36<br />

4. PACIENTES E METODOLOGIA .......................................................... 37<br />

5. RESULTADOS ..................................................................................... 40<br />

6. DISCUSSÃO ......................................................................................... 46<br />

7. CONCLUSÕES ..................................................................................... 50<br />

8. REFERÊNCIAS .....................................................................................52<br />

9. ANEXOS .............................................................................................. 62<br />

9.1. Termo de consentimento livre e esclarecido ............................ 63<br />

9.2. Ficha de avaliação dermatológica: casos ................................. 65<br />

9.3. Ficha de avaliação dermatológica: controles ........................... 67<br />

9.4. Fotografias de casos ................................................................. 69<br />

VII


TABELA 1: Etiologia da cirrose<br />

LISTA DE TABELAS<br />

TABELA 2: Achados no exame físico de pacientes cirróticos<br />

TABELA 3: Classificação de Child-Turcotte-Pugh para avaliação prognóstica<br />

da cirrose<br />

TABELA 4: Comparação das manifestações dermatológicas entre pacientes<br />

cirróticos e controles<br />

TABELA 5: Comparação das manifestações dermatológicas entre pacientes<br />

cirróticos de etiologia alcoólica e controles<br />

TABELA 6: Comparação das manifestações dermatológicas entre pacientes<br />

cirróticos de etiologia VHC e controles<br />

TABELA 7: Comparação das manifestações dermatológicas entre pacientes<br />

cirróticos Child A e controles<br />

TABELA 8: Comparação das manifestações dermatológicas entre pacientes<br />

cirróticos Child B+C e controles<br />

VIII


Figura 1: Circulação colateral<br />

Figura 2: Unhas de Terry<br />

Figura 3: Erit<strong>em</strong>a palmar<br />

LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 4: Erit<strong>em</strong>a palmar região hipotenar<br />

Figura 5: Nevos aranha no tronco superior<br />

Figura 6: Nevo arâneo<br />

IX


LISTA DE ABREVIATURAS<br />

Anti-VHC - anticorpo contra o vírus da hepatite C<br />

ALT - alanina aminotrasferase<br />

AST - aspartato aminotrasferase<br />

CBP - cirrose biliar primária<br />

cm - centímetro<br />

CME - crioglobulin<strong>em</strong>ia mista essencial<br />

EP - erit<strong>em</strong>a palmar<br />

F – fibrose<br />

LP - líquen plano<br />

LPO - líquen plano oral<br />

MEC - matriz extracelular<br />

MELD - Model for End-stage Liver Disease<br />

mm 3 – milímetro cúbico<br />

NA - nevo arâneo<br />

P - significância estatística<br />

PAN – poliarterite nodosa<br />

PCT - porfiria cutânea tarda<br />

RM - ressonância magnética<br />

RNI – taxa normatizada internacional do t<strong>em</strong>po de protrombina<br />

TC - tomografia computadorizada<br />

TP - t<strong>em</strong>po de protrombina<br />

UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre<br />

X


UPIIID- uroporfobilinogêneo III descarboxilase<br />

US - ultrassonografia<br />

VHC - vírus da hepatite C<br />

α – alfa<br />

∞ - indeterminado<br />

XI


RESUMO<br />

Introdução: <strong>Manifestações</strong> dermatológicas são comuns <strong>em</strong> pacientes<br />

cirróticos. Além disso, são facilmente reconhecíveis e pod<strong>em</strong> ser o primeiro<br />

indício de hepatopatia crônica.<br />

Objetivo: descrever as alterações dermatológicas <strong>em</strong> pacientes<br />

cirróticos e avaliar essas manifestações de acordo com a etiologia e a<br />

gravidade da doença.<br />

Métodos: estudo de caso e controle realizado entre janeiro e dez<strong>em</strong>bro<br />

de 2008, com amostra consecutiva, de conveniência. <strong>Pacientes</strong> ambulatoriais,<br />

adultos, com diagnóstico de cirrose, e controles com doença dispética<br />

funcional, todos provenientes do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto<br />

Alegre, foram comparados <strong>em</strong> relação à frequência das manifestações<br />

dermatológicas. Estas alterações foram relacionadas com a gravidade e com a<br />

etiologia da cirrose. O nível de significância adotado foi alfa de 5%.<br />

Resultados: estudados 70 casos e 73 controles. Houve significância<br />

estatística nas seguintes variáveis: erit<strong>em</strong>a palmar, prurido, nevo arâneo aranh,<br />

unhas Terry, icterícia, ginecomastia e xerodermia. Em relação ao número de<br />

nevos arâneo, três ou mais destas lesões foram identificadas <strong>em</strong> 35,6%<br />

cirróticos e <strong>em</strong> apenas 1,4% controles. Os pacientes cirróticos de etiologia<br />

alcoólica e de etiologia viral C apresentaram diferença estatística <strong>em</strong> relação<br />

aos controles <strong>em</strong> todas estas manifestações dermatológicas, excluindo-se a<br />

xerodermia e a ginecomastia, respectivamente.<br />

Conclusão: as manifestações cutâneas são frequentes <strong>em</strong> pacientes<br />

com cirrose. A presença de erit<strong>em</strong>a palmar, prurido, nevo arâneo, unhas Terry,<br />

XII


XIII<br />

telangiectasias, icterícia, ginecomastia e xerodermia pod<strong>em</strong> ser sugestivos de<br />

hepatopatia crônica. A presença de três ou mais nevos arâneo pode ser<br />

indicativa de cirrose.<br />

Palavras-chave: manifestações dermatológicas; cirrose; nevo arâneo; erit<strong>em</strong>a<br />

palmar; unhas Terry.


ABSTRACT<br />

XIV<br />

Background: Dermatological manifestations are common in cirrhotic<br />

patients. Furthermore, they are easily recognizable and can be the first sign of<br />

chronic liver disease.<br />

Objective: To describe the dermatological changes in patients with<br />

cirrhosis and to evaluate these manifestations according to the etiology and<br />

severity of the disease.<br />

Methods: A case and control study carried out between January and<br />

Dec<strong>em</strong>ber 2008, with a consecutive sample of convenience. Adult outpatients<br />

diagnosed with cirrhosis and controls with functional dyspepsia, all from the<br />

Complexo Hospitalar Santa Casa Porto Alegre, were compared for the<br />

frequency of skin manifestations. These changes were related to severity and<br />

etiology of cirrhosis. The level of significance was 5%.<br />

Results: 70 cases and 73 controls were studied. There was statistical<br />

significance in the following parameters: palmar eryth<strong>em</strong>a, pruritus, spider<br />

nevus, Terry’s nails, jaundice, gynecomastia, and xeroderma. Regarding the<br />

number of spider nevi, three or more of these lesions were identified in 35.6% of<br />

cirrhotic patients and in only in 1.4% of controls. Patients with cirrhosis of<br />

alcoholic and hepatitis C etiology showed a statistical difference compared to<br />

controls in all of these skin lesions, except for xeroderma and gynecomastia,<br />

respectively. No patient with Child A showed jaundice.<br />

Conclusion: Cutaneous manifestations are frequent in patients with<br />

cirrhosis. The presence of palmar eryth<strong>em</strong>a, pruritus, spider nevus, Terry nails,<br />

telangiectasia, jaundice, gynecomastia and xeroderma may be suggestive of


chronic liver disease. The presence of three or more spider nevi may be<br />

indicative of cirrhosis.<br />

nails<br />

Keywords: Skin lesions, cirrhosis, spider nevi, palmar eryth<strong>em</strong>a, Terry’s<br />

XV


1. INTRODUÇÃO<br />

A cirrose é uma doença crônica do fígado decorrente da destruição e da<br />

regeneração das células hepáticas, ocasionando, do ponto de vista histológico,<br />

a presença de fibrose e formação nodular difusa. Por conseguinte, há<br />

desorganização da arquitetura lobular e vascular do órgão 1 .<br />

Esta hepatopatia apresenta distribuição global, independente de raça,<br />

idade e gênero, com uma prevalência estimada entre 4,5% e 9,5% 2 . Os<br />

agentes etiológicos variam de acordo com fatores geográficos e<br />

epid<strong>em</strong>iológicos e inclu<strong>em</strong> afecções congênitas, metabólicas, inflamatórias e<br />

tóxicas. Em nosso meio, as principais causas de cirrose são o álcool e o vírus<br />

da hepatite C 3,4 .<br />

Muitas vezes, a cirrose é diagnosticada pelas manifestações de suas<br />

principais complicações: h<strong>em</strong>orragia digestiva, ascite, encefalopatia<br />

portossistêmica ou icterícia. Contudo, muitos são assintomáticos, e o<br />

diagnóstico acaba sendo firmado durante a avaliação de outras alterações não<br />

relacionadas à hepatopatia crônica 3 .<br />

Entre as manifestações extra-hepáticas de doenças do fígado, as<br />

cutâneas são as mais comuns. Além disso, são facilmente reconhecidas e<br />

pod<strong>em</strong> ser o primeiro indício de hepatopatia 5 .<br />

As alterações cutâneas decorrentes da cirrose são variadas e inclu<strong>em</strong> o<br />

prurido, as lesões vasculares, ungueais, pigmentares e as induzidas por<br />

alterações hormonais. Indivíduos cirróticos também pod<strong>em</strong> apresentar<br />

dermatoses associadas ao uso abusivo de álcool e à infecção pelo vírus da<br />

hepatite C 4,6.<br />

1


Porém, há poucos estudos que descrev<strong>em</strong> as lesões cutâneas<br />

identificadas nesta população 7,8 . O reconhecimento da relação existente entre<br />

determinadas manifestações dermatológicas e a presença de hepatopatia<br />

crônica pode ser fundamental para o melhor manejo dos pacientes.<br />

O presente estudo t<strong>em</strong> como principal objetivo verificar as manifestações<br />

dermatológicas <strong>em</strong> pacientes cirróticos e relacioná-las de acordo com a<br />

etiologia e a gravidade da doença.<br />

2


2.1. Cirrose<br />

2. REVISÃO DA LITERATURA<br />

2.1.1. Definição e Epid<strong>em</strong>iologia<br />

A cirrose é o estágio final de um dano crônico ao fígado, caracterizada<br />

por fibrose, com consequente distorção e destruição da arquitetura do órgão. O<br />

tecido funcional hepático é destruído e substituído por nódulos regenerativos.<br />

Com a progressão da destruição do tecido hepático, o paciente apresenta<br />

sinais de diminuição das funções mental, física e bioquímica 9 .<br />

A prevalência estimada varia entre 4,5% e 9,5%, de acordo com estudos<br />

de necropsia, o que poderia corresponder a aproximadamente 100 milhões de<br />

pessoas acometidas <strong>em</strong> todo o mundo 2 .<br />

2.1.2. Etiologia<br />

O dano ao fígado pode ser decorrente de fatores infecciosos,<br />

autoimunes, vasculares, hereditários ou bioquímicos 9. Os principais fatores<br />

etiológicos estão descritos na Tabela 1. A causa geralmente pode ser<br />

identificada através da história associada às investigações sorológica e<br />

histológica.<br />

Doença hepática alcoólica e hepatite pelo vírus C são as etiologias mais<br />

comuns <strong>em</strong> países desenvolvidos, enquanto hepatite pelo vírus B é a causa<br />

mais prevalente <strong>em</strong> grande parte da Ásia e da África 10 . Em um estudo<br />

realizado no Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, o uso abusivo<br />

3


de álcool foi considerado o principal agente etiológico da cirrose (51,3%),<br />

seguido pela infecção viral (29,2%) 4 .<br />

Tabela 1: Etiologia da Cirrose<br />

Afecções Vasculares ou Congestivas<br />

Insuficiência Cardíaca Direita<br />

Malformações e Trombose de Veia Cava Inferior<br />

Síndrome de Budd-Chiari<br />

Doença Veno-oclusiva<br />

Alcoolismo<br />

Cirrose Biliar<br />

Cirrose Biliar Primária<br />

Cirrose Biliar Secundária<br />

Colangite Esclerosante Primária<br />

Atresia Biliar<br />

Doenças Metabólicas<br />

Deficiência de Alfa-1-Antitripsina<br />

Doença de Wilson<br />

H<strong>em</strong>ocromatose<br />

Glicogenoses<br />

Galactos<strong>em</strong>ia<br />

Tirosen<strong>em</strong>ia<br />

Doença Criptogênica<br />

Esteatoepatite não Alcoólica<br />

Fármacos e Toxinas<br />

Hepatite Autoimune<br />

Hepatites Virais B e C<br />

Adaptação: Lopes e Pereira-Lima, 2001<br />

4


2.1.3. Fisiopatogenia<br />

A cirrose hepática é um processo difuso, decorrente de ação continuada<br />

e mantida de uma agressão ao órgão, caracterizada por fibrose progressiva e<br />

substituição da arquitetura hepática normal por nódulos estruturalmente<br />

anormais. Os achados morfológicos mais importantes da cirrose inclu<strong>em</strong>:<br />

fibrose difusa, nódulos regenerativos, arquitetura lobular alterada e shunts<br />

vasculares intra-hepáticos. Outras características relevantes inclu<strong>em</strong>:<br />

capilarização dos sinusoides e fibrose perissinusoidal, trombose vascular e<br />

lesões obliterativas no trato portal e nas veias hepáticas, b<strong>em</strong> como sinais de<br />

hipóxia do parênquima lobular. Em conjunto, essas alterações são<br />

responsáveis pelo desenvolvimento da hipertensão portal e suas<br />

complicações 1 .<br />

O dano ao fígado induz a uma resposta inflamatória e à ativação e<br />

proliferação de células mesenquimais, ocasionando a r<strong>em</strong>odelação da matriz<br />

extracelular (MEC) como parte da resposta injúria-cicatrização 11 .<br />

A cicatriz tecidual na cirrose é composta por um complexo conjunto de<br />

diferentes moléculas da MEC que inclu<strong>em</strong>: colágenos formadores de fibrila tipo<br />

I e III, colágeno tipo IV, glicoproteínas como fibronectina e laminina, fibras<br />

elásticas e glicosaminoglicanos e proteoglicanos, entre outros. Toxinas, vírus,<br />

colestase ou hipóxia pod<strong>em</strong> desencadear uma reação cicatricial denominada<br />

fibrogênese, isto é, excesso de síntese e de depósito da MEC. As principais<br />

células hepáticas produtoras da MEC são os miofibroblastos, que pod<strong>em</strong><br />

derivar tanto das células hepáticas estreladas ativadas, quanto dos fibroblastos<br />

perivasculares. A ativação dos fibroblastos ocorre através de citoquinas<br />

5


fibrogênicas e fatores de crescimento liberados por macrófagos ativados,<br />

outras células inflamatórias e epitélio do ducto biliar. A principal citoquina pró-<br />

fibrogênica é o fator transformador de crescimento ß1 1 .<br />

Inicialmente, este processo é compensado pela r<strong>em</strong>oção do excesso da<br />

MEC por enzimas proteolíticas, como as metaloproteinases. O dano crônico<br />

conduz à fibrinogênese com upregulation dos inibidores teciduais das<br />

metaloproteinases 1 .<br />

Recent<strong>em</strong>ente, estudos epid<strong>em</strong>iológicos têm identificado possíveis<br />

polimorfismos genéticos que pod<strong>em</strong> influenciar na progressão da fibrose<br />

hepática 12 . Dessa forma, diante de uma lesão hepática crônica, a progressão<br />

para fibrose ou reparação do tecido dependerá do estímulo desencadeado pela<br />

lesão e da genética do indivíduo 1 .<br />

2.1.4. Apresentação Clínica<br />

A cirrose geralmente é uma doença indolente, permanecendo a maioria<br />

dos pacientes assintomáticos até que ocorra descompensação. Na fase inicial,<br />

pode manifestar-se por anorexia, perda de peso, fraqueza e fadiga. A doença<br />

descompensada resulta <strong>em</strong> complicações como ascite, peritonite bacteriana<br />

espontânea, encefalopatia, h<strong>em</strong>orragia digestiva, icterícia, prurido e<br />

coagulopatia 13 .<br />

O examinador pode, inicialmente, identificar a coloração amarelada da<br />

pele e da esclera, o que indica a incapacidade de depuração da bilirrubina.<br />

Nevos s localizados na face, nos m<strong>em</strong>bros superiores e no tronco pod<strong>em</strong> estar<br />

presentes. Com a diminuição da síntese dos fatores de coagulação produzidos<br />

pelo fígado e pela diminuição da contag<strong>em</strong> de plaquetas, lesões purpúricas<br />

6


tend<strong>em</strong> a aparecer. Pod<strong>em</strong> ocorrer também hipocratismo digital, leuconíquia<br />

nos dois terços proximais e erit<strong>em</strong>a no terço distal das unhas (unhas de Terry)<br />

além de espessamento da fáscia palmar -contratura de Dupuytren 9 .<br />

A diminuição da depuração dos mercaptanos pelo fígado desencadeia o<br />

surgimento de um odor adocicado, percebido na respiração do paciente (odor<br />

hepático). Ed<strong>em</strong>a não doloroso da glândula parótida, que ocorre na ausência<br />

de obstrução do ducto de Stensen, pode também estar presente nestes<br />

pacientes. Embora não limitado à doença hepática avançada, o tr<strong>em</strong>or ou<br />

ásterix pode ser identificado <strong>em</strong> pacientes com aumento dos níveis séricos de<br />

amônia. Alteração no estado mental e coma desenvolv<strong>em</strong>-se com a progressão<br />

do dano hepático 9 .<br />

No exame físico da região abdominal, o fígado pode estar aumentado e<br />

doloroso, mas, na maioria das vezes, há dificuldade de palpação do órgão <strong>em</strong><br />

razão da fibrose e da redução do seu tamanho. Devido à fibrose, há diminuição<br />

do fluxo sanguíneo intra-hepático, com consequente aumento de pressão no<br />

sist<strong>em</strong>a porta. Esplenomegalia pode ser identificada na palpação abdominal. A<br />

formação de vasos colaterais no sist<strong>em</strong>a venoso gástrico e esofágico<br />

desencadeia o surgimento de varizes esofágicas e gástricas, que, quando a<br />

pressão no sist<strong>em</strong>a portal se eleva, pod<strong>em</strong> romper-se, com consequente<br />

sangramento. Como resultado da progressão da cirrose, o aumento do<br />

shunting na circulação esplênica desencadeia o surgimento da ascite. Esta<br />

condição é agravada pela hipoalbumin<strong>em</strong>ia relacionada à diminuição da<br />

síntese de proteínas pelo fígado 9.<br />

O exame físico do paciente cirrótico pode revelar uma variedade de<br />

achados clínicos como os descritos na Tabela 2.<br />

7


Tabela: 2<br />

Achados no exame físico de pacientes<br />

cirróticos<br />

Anel Kayser-Fleischer<br />

Atrofia Muscular<br />

Ascite<br />

Ásterix<br />

Hipocratismo Digital<br />

Circulação Colateral<br />

Contratura de Dupuytren<br />

Esplenomegalia<br />

Ginecomastia<br />

Hepatomegalia<br />

Hipogonadismo;diminuição testicular<br />

Icterícia<br />

Murmúrio Cruveilhier-Baumgarten<br />

Nevo<br />

Odor Hepático<br />

Erit<strong>em</strong>a Palmar<br />

Unhas de Terry<br />

Adaptação: Heidelbaugh e Bruderly, 2006<br />

Schuppan e Afdahl, 2008<br />

2.1.5. Achados Laboratoriais<br />

Na cirrose quiescente, alterações nos achados laboratoriais são mínimas<br />

ou até mesmo ausentes. A an<strong>em</strong>ia é um achado frequente, podendo ter como<br />

causas supressão da eritropoiese pelo álcool, deficiência de folato, h<strong>em</strong>ólise,<br />

hiperesplenismo e h<strong>em</strong>orragia insidiosa do trato gastrintestinal. Os leucócitos<br />

pod<strong>em</strong> estar diminuídos, normais ou aumentados <strong>em</strong> número, refletindo<br />

hiperesplenismo ou processo infeccioso. Quanto à trombocitopenia, definida<br />

como plaquetas com número inferior a 150.000 mm 3 , valores entre 50.000-<br />

8


75.000 mm 3 pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>em</strong> aproximadamente 13% dos pacientes<br />

com cirrose. 14,15<br />

Marcadores bioquímicos séricos indiretos de cirrose inclu<strong>em</strong> aspartato<br />

aminotrasferase (AST), alanina aminotrasferase (ALT), bilirrubinas, proteínas e<br />

contag<strong>em</strong> de plaquetas (Parise e cols., 2009). AST e ALT são enzimas<br />

hepáticas, liberadas na circulação, provenientes de hepatócitos lesados após<br />

morte ou dano hepatocelular. ALT é considerada um teste de rastreamento<br />

custo-efetivo da inflamação hepática. Entretanto, des<strong>em</strong>penha papel limitado<br />

como preditor do grau de inflamação e nenhuma função como preditora da<br />

gravidade da fibrose 9 .<br />

Marcadores diretos da fibrose são aqueles envolvidos na deposição da<br />

MEC e inclu<strong>em</strong> os produtos da síntese e da degradação do colágeno,<br />

glicoproteínas e proteoglicanos/glicosaminoglicanos da MEC. Os mais<br />

<strong>em</strong>pregados são os colágenos (pró-peptídeo N-terminal do pró-colágeno tipo<br />

III, e o colágeno tipo IV), as glicoproteínas laminina e fibronectina e o<br />

glicosaminoglicano ácido hialurônico 1 . Embora tenha ocorrido progresso com o<br />

uso destes testes como marcadores diretos não invasivos de fibrose, o seu uso<br />

não elimina a necessidade de análise direta do fígado através da biópsia 9 .<br />

Após o estabelecimento do diagnóstico de cirrose, causas específicas<br />

como hepatite viral, cirrose biliar primária, hepatite autoimune, doença de<br />

Wilson, h<strong>em</strong>ocromatose e deficiência de alfa-1-antitripsina pod<strong>em</strong> ser<br />

detectadas pela presença de determinados marcadores bioquímicos séricos 9 .<br />

9


2.1.6. Exames de Imag<strong>em</strong><br />

Embora os vários métodos de imag<strong>em</strong> possam sugerir a presença de<br />

cirrose, nenhum é considerado padrão-áureo para o diagnóstico desta doença.<br />

O uso principal destes exames é para detecção de ascite,<br />

hepatoesplenomegalia, trombose da veia hepática ou veia porta e de<br />

carcinoma hepatocelular, podendo sugerir o diagnóstico de cirrose 13 .<br />

A ultrassonografia (US) fornece informações importantes sobre a<br />

arquitetura hepática e sobre o fluxo nas veias hepáticas e porta. Geralmente é<br />

o primeiro exame de imag<strong>em</strong> a ser realizado por ser amplamente disponível,<br />

pouco dispendioso e não expor o paciente ao risco de uso de contraste e de<br />

radiação 13 . Os achados ultrassonográficos encontrados na cirrose inclu<strong>em</strong>:<br />

nodularidade da superfície hepática, diminuição do índice lobo direito-lobo<br />

caudado e evidências indiretas de hipertensão portal como vasos colaterais e<br />

esplenomegalia 16 .<br />

O elastograma usando o Fibroscan® representa um método novo, não<br />

invasivo, para avaliação da fibrose hepática por meio da medida da<br />

elasticidade do tecido. É realizado através da ultrassonografia com sonda<br />

especial, que <strong>em</strong>ite ondas de leve amplitude a baixa frequência, a uma<br />

velocidade diretamente relacionada com a elasticidade hepática 17 .<br />

A tomografia computadorizada (TC) convencional e a ressonância<br />

magnética (RM) pod<strong>em</strong> ser utilizadas para estimar a gravidade da cirrose, mas<br />

a TC helicoidal e a RM com contraste são melhores quando há suspeita de<br />

carcinoma hepatocelular ou de lesão vascular 10 .<br />

10


2.1.7 Biópsia Hepática<br />

O diagnóstico de cirrose é, antes de tudo, anatomopatológico. Por isso,<br />

a forma mais correta de realizá-lo é através da biópsia do fígado com agulha 1 .<br />

A presença de ao menos um nódulo completamente envolto por tecido fibroso<br />

estabelece o diagnóstico; septos fibrosos e ausência de espaços-porta,<br />

alteração da arquitetura hepática e perda do padrão vascular são achados<br />

sugestivos 18 .<br />

A sensibilidade e a especificidade para o diagnóstico da cirrose e de sua<br />

etiologia variam entre 80 e 100%, dependendo do número e do tamanho das<br />

amostras de tecido hepático 19. O exame anatomopatológico do fígado também<br />

é útil para determinação do grau de inflamação e de fibrose do órgão, fatores<br />

essenciais para o manejo e a avaliação prognóstica 10 .<br />

Entretanto, pacientes com cirrose, <strong>em</strong> decorrência das alterações da<br />

coagulação e das mudanças vasculares hepáticas e peri-hepáticas,<br />

apresentam risco elevado de complicação para este procedimento. Contudo, a<br />

confirmação de cirrose por biópsia hepática não é necessária quando o<br />

paciente apresenta sinais de cirrose ao exame físico (ascite,<br />

hepatoesplenomegalia e sinais periféricos de insuficiência hepática), e/ou<br />

exames de imag<strong>em</strong> (alteração na ecogenicidade e retração do parênquima<br />

com superfície nodular e sinais de hipertensão portal) e endoscópico (varizes<br />

esofágicas) 1 .<br />

11


2.1.8. Avaliação Prognóstica<br />

Modelos prognósticos são úteis para estimar a gravidade da doença,<br />

estabelecer a expectativa de sobrevida e calcular o risco de determinadas<br />

intervenções cirúrgicas. De todos os modelos descritos na cirrose hepática,<br />

aqueles com maior aplicabilidade clínica são a classificação de Chlid-Pugh e o<br />

MELD -Model for End-stage Liver Disease- 20 .<br />

Em 1964, Child e Turcotte 21 publicaram uma classificação para estimar o<br />

risco cirúrgico de pacientes cirróticos com h<strong>em</strong>orragia por varizes esofágicas<br />

submetidos à cirurgia de shunt portossistêmico. Cinco variáveis foram<br />

selecionadas pela experiência clínica: ascite, encefalopatia, estado nutricional e<br />

níveis séricos de bilirrubinas e de albumina, classificando os pacientes <strong>em</strong><br />

classe A (melhor), B (moderada) ou C (pior) <strong>em</strong> relação ao prognóstico. Pugh e<br />

cols. 22 , <strong>em</strong> 1973, utilizaram uma versão modificada para pacientes com varizes<br />

submetidos à cirurgia de transecção esofágica. O estado nutricional foi<br />

substituído pelo t<strong>em</strong>po de protrombina (TP), eliminando assim a parte mais<br />

subjetiva da classificação (Tabela 3).<br />

12


Tabela 3: Classificação de Child - Turcotte -Pugh para avaliação prognóstica da<br />

cirrose<br />

Parâmetro Pontuação 1 2 3<br />

Ascite ausente leve Moderada/grave<br />

Encefalopatia ausente leve Moderada/grave<br />

Bilirrubina mg/ml 3<br />

Albumina (g/dL)


não estão b<strong>em</strong> representadas 20 , permanecendo aproximadamente 10% a 20%<br />

dos pacientes incorretamente classificados 25 .<br />

Em 2005, Cholongitas e cols. 26 realizaram uma revisão sist<strong>em</strong>ática<br />

comparando a acurácia do modelo MELD com a classificação de Chilld-<br />

Turcotte-Pugh <strong>em</strong> pacientes não transplantados. Tomando por base os dados<br />

deste estudo, não se pode afirmar que o MELD é superior ao Chlid-Pugh <strong>em</strong><br />

predizer a sobrevida de pacientes com doença hepática crônica que não estão<br />

<strong>em</strong> lista para transplante. Os autores recomendam o uso da classificação de<br />

Child- Turcotte-Pugh para a avaliação individual na prática clínica, enquanto o<br />

MELD seria mais adequado para priorizar pacientes candidatos ao transplante<br />

hepático.<br />

14


2.2. Fígado e Doenças Sistêmicas<br />

<strong>Manifestações</strong> sistêmicas são comuns <strong>em</strong> pacientes com doença<br />

hepática primária, possivelmente decorrente de características específicas<br />

deste órgão 27 .<br />

O fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo de proteínas,<br />

carboidratos e gorduras, além do armazenamento de ferro e de vitaminas, e<br />

atua no metabolismo de drogas e na eliminação de hormônios e outras<br />

substâncias. A invasão do fígado por diversos agentes causa não somente<br />

doença hepática, mas também manifestações extra-hepáticas através de<br />

mecanismos imunológicos e não imunológicos. Em decorrência do suprimento<br />

sanguíneo da veia porta e da artéria hepática, pod<strong>em</strong> ocorrer, na doença<br />

hepática grave ou avançada, alterações na circulação portal, sistêmica ou<br />

cardiopulmonar 27 .<br />

Alterações hepatorrenais, hepatopulmonares, hepatocardíacas,<br />

nutricionais e dermatológicas pod<strong>em</strong> estar presentes <strong>em</strong> pacientes com a<br />

doença cirrose.<br />

15


2.3. <strong>Manifestações</strong> Cutâneas Devidas à Doença Hepatobiliar<br />

Entre as manifestações extra-hepáticas, as cutâneas são as mais<br />

frequentes; são facilmente identificadas e pod<strong>em</strong> ser a apresentação inicial da<br />

doença. A lista das manifestações cutâneas decorrentes da doença hepática<br />

t<strong>em</strong> sido ampliada ao longo do t<strong>em</strong>po. Os mecanismos responsáveis por estas<br />

manifestações são variáveis e pouco compreendidos 5 .<br />

George, Malabu e Olubuyide 7 publicaram, <strong>em</strong> 1995, um estudo de<br />

manifestações cutâneas envolvendo 60 pacientes cirróticos africanos. Quando<br />

comparados aos controles, os cirróticos apresentavam maior frequência de<br />

onicólise, máculas palmoplantares hiperpigmentadas, menor t<strong>em</strong>peratura<br />

corporal, hipocratismo digital, leuconíquia, ed<strong>em</strong>a de m<strong>em</strong>bros e icterícia.<br />

Neste estudo, diferente do que ocorre na população caucasiana, o erit<strong>em</strong>a<br />

palmo-plantar, o nevo e as unhas de Terry foram infrequentes. A raridade de<br />

alterações vasculares nestes pacientes poderia estar relacionada à pouca<br />

ingesta alcoólica da população estudada.<br />

Khan e cols. (2005) 8 avaliaram 50 pacientes paquistaneses com<br />

diagnóstico de cirrose hepática, sendo que a infecção pelo vírus das hepatites<br />

C e B era responsável pela etiologia <strong>em</strong> 88% dos casos. A pigmentação foi a<br />

alteração dermatológica mais comum (82%), seguida pelas unhas de Terry<br />

(80%), xerose e escoriação (72%), perda de pelos (64%), nevo arâneo e<br />

erit<strong>em</strong>a palmar (36%). Líquen plano e vitiligo foram identificados <strong>em</strong> 4% e 2%<br />

dos casos, respectivamente. Outro estudo, também realizado no Paquistão,<br />

envolvendo 170 pacientes, metade deles com cirrose de etiologia viral,<br />

16


apresentava como objetivo avaliar os sinais clínicos no diagnóstico da cirrose.<br />

Os achados encontrados com maior frequência foram os seguintes: ed<strong>em</strong>a de<br />

m<strong>em</strong>bros inferiores (92%), ascite (89%), icterícia (64%), hipocratismo digital<br />

(25%), erit<strong>em</strong>a palmar (23%), unhas de Terry (21%), encefalopatia (19%). Nevo<br />

arâneo foi encontrado <strong>em</strong> apenas dois pacientes (1,2% casos) 28 .<br />

Na publicação de Park (1986), envolvendo 189 pacientes com<br />

diagnóstico de hepatite, 76% apresentavam manifestações cutâneas. Na<br />

hepatite aguda, o nevo arâneo e o erit<strong>em</strong>a palmar estavam presentes <strong>em</strong> 21%<br />

dos pacientes, enquanto as lesões purpúricas <strong>em</strong> 18%. Naqueles que<br />

apresentavam hepatite crônica, as lesões purpúricas foram as mais comuns<br />

(45%), seguidas pelo nevo arâneo (37%) e pela melanose (25%) 29 .<br />

Um estudo de caso-controle foi conduzido por Koulentaki e cols. (2006)<br />

envolvendo 49 pacientes com diagnóstico de cirrose biliar primária (CBP). As<br />

manifestações dermatológicas significativamente mais comuns nesses<br />

pacientes foram as seguintes: micose plantar, onicomicose e intertrigo. O<br />

prurido e a xerose foram encontrados <strong>em</strong> 70% dos casos, dermografismo <strong>em</strong><br />

57% e melanose <strong>em</strong> 47%. Em mais de um terço desses pacientes, as<br />

manifestações dermatológicas foram a apresentação inicial da doença<br />

hepática 30 .<br />

Niederau e cols. (2008) analisaram 744 pacientes submetidos à biópsia<br />

hepática com o objetivo de avaliar a frequência das lesões de pele e associá-<br />

las com o grau de fibrose (F) hepática. Nos pacientes com grau de fibrose F0-<br />

1, o nevo arâneo , o erit<strong>em</strong>a palmar, as alterações ungueais e os sinais de<br />

distúrbio da coagulação foram infrequentes. Poucos pacientes com grau de<br />

fibrose F2 apresentavam estas manifestações cutâneas. Nos casos com<br />

17


fibrose avançada F3-F4, estas lesões foram comuns, e <strong>em</strong> 50% dos casos com<br />

F3 e 84% daqueles com F4 apresentava-se o nevo arâneo 31 .<br />

2.3.1. Alterações Vasculares<br />

O erit<strong>em</strong>a palmar (EP) é caracterizado por área simétrica, assintomática,<br />

erit<strong>em</strong>atosa, que acomete principalmente as <strong>em</strong>inências tenares e hipotenares<br />

da superfície palmar. Eventualmente, as falanges e o dorso da região proximal<br />

da lâmina ungueal estão envolvidos 32 . Pode estar presente <strong>em</strong> condições<br />

fisiológicas ou patológicas. O primeiro grupo compreende os casos hereditários<br />

e idiopáticos, assim como a gestação. Os estados patológicos inclu<strong>em</strong> doenças<br />

hepáticas, autoimunes, infecciosas e paraneoplásicas. Drogas também pod<strong>em</strong><br />

ser responsáveis pelo surgimento do EP, principalmente os agentes<br />

quimioterápicos 33<br />

Neonatos e crianças com hepatopatia crônica apresentam menor<br />

frequência de EP e de outros estigmas da doença quando comparados com<br />

adolescentes e adultos 32 .<br />

Há uma estreita relação entre a presença do EP e a cirrose de etiologia<br />

alcoólica, que seria ligada à gravidade do comprometimento hepático pelo<br />

álcool e não ao efeito direto do álcool na vasculatura 34 .<br />

Perera, <strong>em</strong> 1942, publicou um artigo no qual a cirrose hepática era o<br />

estado patológico mais comumente relacionado ao EP 35 . A hipótese inicial<br />

associava o aumento da vascularização ao hiperestrogenismo sérico,<br />

responsável pelo surgimento destas alterações <strong>em</strong> pacientes cirróticos 36 . Esta<br />

conclusão foi baseada <strong>em</strong> estudos que descreviam a inativação do estrógeno<br />

pelo fígado 37 . Em 1942, Bean realizou um estudo comparando pacientes com<br />

18


doença hepática a homens idosos s<strong>em</strong> hepatopatia, que receberam<br />

dietilestradiol e α-estradiol. O desenvolvimento de EP ocorreu no grupo com<br />

comprometimento hepático, e não nos idosos 38 .<br />

Além de fatores endócrinos, outras alterações fisiológicas têm sido<br />

investigadas <strong>em</strong> pacientes com cirrose e EP. Artigo comparando 42 pacientes<br />

com cirrose compensada e 31 controles d<strong>em</strong>onstrou o aumento do fluxo<br />

sanguíneo, da t<strong>em</strong>peratura corporal, e a redução da resistência vascular no<br />

antebraço dos cirróticos <strong>em</strong> comparação com a panturrilha 39 .<br />

Carrella e cols. (1992) avaliaram o fluxo sanguíneo capilar do antebraço,<br />

através da depuração de substância radioativa injetada localmente, <strong>em</strong> 14<br />

cirróticos e 9 controles, não identificando diferença entre os grupos 40 . Estudo<br />

publicado <strong>em</strong> 1992 por Leonardo e cols., com 34 pacientes cirróticos e 24<br />

controles, avaliando a resistência vascular cutânea no dorso e na palma das<br />

mãos através da técnica do Doppler-laser, d<strong>em</strong>onstrou a deterioração do<br />

reflexo vasoconstritor venoarterial cutâneo periférico nas palmas, mas não no<br />

dorso das mãos, ocasionando aumento da perfusão sanguínea e diminuição da<br />

resistência vascular nas palmas de pacientes cirróticos 41 .<br />

A primeira descrição do nevo arâneo (NA) associado à cirrose ocorreu<br />

<strong>em</strong> 1869 pelo médico inglês Erasmus Wilson 42 . No entanto, grande parte das<br />

características clínicas desta lesão cutânea foi descrita <strong>em</strong> 1954 por William<br />

Bennett Bean <strong>em</strong> sua monografia 43.<br />

O NA é caracterizado por uma arteríola central da qual part<strong>em</strong><br />

numerosos capilares irregulares. A compressão dessa arteríola central<br />

ocasiona o desaparecimento da lesão, ressurgindo com a suspensão da<br />

pressão. A denominação decorre de a arteríola central ass<strong>em</strong>elhar-se ao corpo<br />

19


de uma arâneo , e os pequenos vasos, às patas. O tamanho pode variar de<br />

lesão puntiforme até 5 mm de diâmetro 44,45 .<br />

O NA é identificado <strong>em</strong> 10-15% de crianças e adultos hígidos,<br />

principalmente gestantes ou mulheres <strong>em</strong> uso de contraceptivo oral. Em<br />

cirróticos, ocorre <strong>em</strong> aproximadamente 33% dos casos, sendo menos comum<br />

<strong>em</strong> outras doenças sistêmicas, incluindo artrite reumatoide e tireotoxicose 5 .<br />

Em adultos, o NA geralmente se localiza no território vascular da veia<br />

cava superior (face, região cervical, tórax anterior e braços). Raramente é<br />

encontrado nas mucosas. Em crianças, as lesões são identificadas no dorso<br />

das mãos e nos quirodáctilo 5 .<br />

A patogênese exata desta alteração vascular permanece desconhecida.<br />

O aumento dos níveis de estrógenos circulantes, a dilatação vascular e a<br />

neovascularização são possíveis etiologias 45,46 . O estrógeno pode ocasionar<br />

aumento e dilatação dos vasos sanguíneos. Em cirróticos do sexo masculino, o<br />

nível sérico de estradiol está aumentado, e o nível de testosterona total livre<br />

está reduzido, ocasionando aumento da taxa estradiol/testosterona livre 47 .<br />

A publicação de Li e colaboradores de 1999 d<strong>em</strong>onstrou que os níveis<br />

plasmáticos da substância P (amoniácido vasoativo parcialmente inativado pelo<br />

fígado) estão elevados <strong>em</strong> pacientes com cirrose não alcoólica. Após quatro<br />

anos, os mesmos pesquisadores avaliaram o nível sérico de fatores de<br />

crescimento vascular (fator de crescimento endotelial vascular e fator de<br />

crescimento fibroblástico básico) <strong>em</strong> 86 pacientes com cirrose de etiologia<br />

variada e <strong>em</strong> 53 controles. Nos cirróticos, os níveis dos fatores de crescimento<br />

vascular estavam elevados, principalmente naqueles que apresentavam<br />

NA 48,49 .<br />

20


Parece haver uma associação entre o número de NA e a presença de<br />

varizes esofágicas. Um estudo publicado <strong>em</strong> 1988 d<strong>em</strong>onstrou a frequência de<br />

50% de sangramento de varizes esofágicas <strong>em</strong> pacientes com mais de 20 NA 50<br />

A presença do NA foi investigada <strong>em</strong> 460 crianças, 34 das quais com<br />

doença hepática crônica. Pelo menos um NA foi identificado <strong>em</strong> 38% das<br />

crianças s<strong>em</strong> hepatopatia. Dos pacientes do grupo controle entre 5 e 15 anos<br />

de idade, 2,5% apresentavam mais de cinco NA. Embora oito das dez crianças<br />

com cirrose apresentass<strong>em</strong> no mínimo um NA, apenas quatro das 34 crianças<br />

com doença hepática crônica tinham cinco ou mais lesões. Neste estudo, a<br />

maioria das lesões vasculares estava presente nas mãos, e poucas<br />

apresentavam tamanho superior a 5 mm 51 .<br />

Capilares finos s<strong>em</strong>elhantes a fios, dispersos aleatoriamente, ocorr<strong>em</strong><br />

no tronco superior, geralmente <strong>em</strong> associação com o NA. São conhecidos<br />

como "marcas do papel do dólar" pela s<strong>em</strong>elhança com os finos fios presentes<br />

nas notas do papel de impressão daquela moeda 34 . Esta alteração vascular<br />

costuma ser identificada <strong>em</strong> pacientes com cirrose de etiologia alcoólica 52 .<br />

O flushing e a pletora facial, além da telangiectasia nevoide unilateral,<br />

pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>em</strong> pacientes cirróticos, especialmente naqueles com<br />

doença hepática associada ao álcool 5 .<br />

A literatura inclui menos de dez casos de h<strong>em</strong>angiomas arteriovenosos<br />

<strong>em</strong> pacientes com doença hepática crônica. Caracterizam-se por lesões<br />

vasculares adquiridas, benignas, localizadas principalmente na face e s<strong>em</strong><br />

correlação com doença hepática específica. A causa permanece desconhecida,<br />

mas a hipertensão portal parece ser um fator comum <strong>em</strong> quase todos os<br />

casos 5,53 .<br />

21


A hipertensão portal pode ocasionar o desenvolvimento de circulação<br />

portossistêmica colateral 54 . Clinicamente, apresenta-se como vasos tortuosos<br />

na parede abdominal, que se irradiam da região umbilical. O fluxo sanguíneo<br />

das veias infraumbilicais encontra-se <strong>em</strong> direção aos m<strong>em</strong>bros inferiores, <strong>em</strong><br />

contraste com a síndrome da obstrução da veia cava, <strong>em</strong> que a direção do<br />

fluxo é cranial. A denominação caput medusae é decorrente da similaridade<br />

que essa circulação colateral apresenta com a cabeça da Medusa, que Minerva<br />

transformou <strong>em</strong> cobras 5.<br />

2.3.2. Prurido<br />

A prevalência do prurido na doença hepática varia de 5% <strong>em</strong> pacientes<br />

com hepatite C crônica a 70% -100% naqueles que apresentam CBP. Muitos<br />

indivíduos com doença hepática e prurido não relatam o sintoma ao médico,<br />

pois não o correlacionam com a doença hepática 55,56 .<br />

O prurido está presente <strong>em</strong> aproximadamente 20-25% dos pacientes<br />

ictéricos, sendo raro naqueles <strong>em</strong> que não há colestase. Prurido por colestase<br />

intra-hepática ocorre <strong>em</strong> pacientes com CBP, prurido gravídico, colangite<br />

esclerosante primária, hepatite sifilítica ou viral e na forma induzida por drogas.<br />

Pode ser a apresentação inicial da doença hepática <strong>em</strong> aproximadamente 50%<br />

dos pacientes com diagnóstico de CBP 55,57 ..<br />

Embora o prurido colestático seja generalizado, tende a ser mais<br />

pronunciado nas regiões palmoplantares. Ao exame físico, estes pacientes<br />

pod<strong>em</strong> apresentar escoriações além de máculas hipercrômicas pós-<br />

inflamatórias, que tipicamente poupam o dorso médio - configuração<br />

s<strong>em</strong>elhante à "borboleta"- 55,57 .<br />

22


A fisiopatogenia do prurido colestático ainda não está completamente<br />

esclarecida. Parte da dificuldade <strong>em</strong> caracterizar a patogênese é decorrente da<br />

falta de correlação entre a gravidade da colestase e a presença ou intensidade<br />

do prurido. A maioria dos mecanismos propostos envolve a produção ou a falha<br />

de depuração de substâncias pruritogênicas pelo fígado 57 .<br />

A colestase está associada à elevada concentração plasmática de<br />

ácidos biliares, e a sua presença na pele foi inicialmente atribuída ao prurido<br />

colestático. Estudos posteriores não conseguiram correlacionar a concentração<br />

plasmática ou tecidual de ácidos biliares com a presença ou intensidade do<br />

prurido. Contudo, é possível que os ácidos biliares possam estar envolvidos de<br />

forma indireta no prurido, possivelmente por induzir a liberação de fatores<br />

pruritogênicos. Outro mecanismo proposto para explicar a patogênese envolve<br />

o acúmulo de opioides endógenos, os quais poderiam atuar centralmente. A<br />

serotonina também t<strong>em</strong> sido sugerida como mediador do prurido colestático,<br />

provavelmente por modulação central opioidérgica 57 ,.<br />

2.3.3. Ungueais<br />

Múltiplas alterações ungueais pod<strong>em</strong> ser identificadas <strong>em</strong> pacientes<br />

cirróticos. A maioria não é específica e pode ser encontrada <strong>em</strong> indivíduos<br />

hígidos e <strong>em</strong> pacientes com outras doenças s<strong>em</strong> comprometimento hepático<br />

5,58. As manifestações ungueais mais comuns <strong>em</strong> pacientes cirróticos são:<br />

hipocratismo digital, unhas de Terry, lúnula erit<strong>em</strong>atosa, coiloníquia e linhas de<br />

Müerhcke (Tosti e Baran, 1994).<br />

23


O hipocratismo digital caracteriza-se pelo ângulo de Lovibond - formado<br />

pela dobra ungueal proximal e a lâmina ungueal - acima de 180 graus 58 . Pode<br />

ser primário, fazendo parte da paquidermoperiostose, ou secundário a uma<br />

variedade de doenças sistêmicas. A forma secundária, quando unilateral, t<strong>em</strong><br />

sido correlacionada a doenças neurológicas e vasculares; quando bilateral,<br />

pode ser decorrente de processos neoplásicos pulmonares ou não, doenças<br />

cardíacas, infecciosas, e do trato gastrintestinal 59 .<br />

Em 1981, um estudo conduzido por Epstein e colaboradores d<strong>em</strong>onstrou<br />

que 24% dos pacientes com CBP, 29% com hepatite crônica ativa e 24% com<br />

doença hepática mista apresentavam hipocratismo. Na cirrose, o hipocratismo<br />

digital ocorre por aumento de fluxo sanguíneo com dilatação das anastomoses<br />

arteriovenosas nos quirodáctilos 60 .<br />

As unhas de Terry foram descritas inicialmente, <strong>em</strong> 1954, como<br />

opacidade s<strong>em</strong>elhante a vidro, que compromete quase todo o leito ungueal,<br />

com exceção de uma banda distal de coloração normal rósea. A marg<strong>em</strong> distal<br />

da porção esbranquiçada do leito pode apresentar-se como alteração<br />

puntiforme central ou lateral 61 . O estudo original de Terry (1954) identificou a<br />

sua presença <strong>em</strong> 82% dos pacientes cirróticos 62 . A distribuição tende a ser<br />

simétrica, e os polegares e os indicadores apresentam alterações mais<br />

pronunciadas. A presença das unhas de Terry não se correlaciona com a<br />

gravidade da cirrose. Não são específicas da cirrose hepática e pod<strong>em</strong> ser<br />

encontradas <strong>em</strong> uma variedade de outras doenças, incluindo insuficiência<br />

cardíaca congestiva, diabetes mellitus, tireotoxicose, artrite reumatoide,<br />

neoplasias, esclerose sistêmica, tuberculose pulmonar, eosinofilia pulmonar e<br />

malnutrição. Também são encontradas <strong>em</strong> crianças e adolescentes do sexo<br />

24


f<strong>em</strong>inino. Em adultos hígidos, a presença das unhas de Terry t<strong>em</strong> sido<br />

relacionada ao envelhecimento 61 .<br />

As seguintes hipóteses foram formuladas para explicar as alterações<br />

clínicas encontradas nas unhas de Terry: anormalidades no metabolismo de<br />

esteroides, taxa alterada de estrógenos/andrógenos, aumento do fluxo<br />

sanguíneo digital, alteração da fixação leito-lâmina ungueal e aumento do<br />

crescimento do tecido conectivo entre a unha e a estrutura óssea 61 .<br />

Lúnula erit<strong>em</strong>atosa pode estar presente <strong>em</strong> pacientes cirróticos, assim<br />

como naqueles com insuficiência cardíaca congestiva e intoxicação por<br />

monóxido de carbono. A causa desta alteração ungueal é desconhecida, mas<br />

especula-se que possa ser decorrente de um aumento do fluxo sanguíneo<br />

arteriolar ou por venodilatação 61 .<br />

A coiloníquia ocasionalmente pode ser encontrada <strong>em</strong> hepatopatas. É<br />

achado ungueal mais frequente na h<strong>em</strong>ocromatose e t<strong>em</strong> como provável causa<br />

o distúrbio no metabolismo do ferro 58 .<br />

Outra alteração não específica que pode ocorrer na doença hepática<br />

crônica são as linhas de Müerhcke. São caracterizadas por bandas transversas<br />

duplas esbranquiçadas, associadas à hipoalbumin<strong>em</strong>ia (albumina


2.3.4. Icterícia e Alterações Pigmentares<br />

Icterícia é uma manifestação comum <strong>em</strong> pacientes com doença hepática<br />

e caracteriza-se por coloração amarelada da pele e das mucosas, secundária<br />

ao depósito de bilirrubinas e seus metabólitos nos tecidos 54 .<br />

A bilirrubina, que é um produto da degradação do h<strong>em</strong>e, acumula-se no<br />

fígado devido à diminuição da conjugação hepática. O excesso de bilirrubina<br />

fixa-se aos tecidos, com especial afinidade pela elastina 58 .<br />

Níveis de bilirrubina acima de 2.5 mg/dL pod<strong>em</strong> ocasionar icterícia<br />

visível 54 . A esclera geralmente é o primeiro local a apresentar a coloração<br />

amarelada, pois apresenta alta concentração de elastina 58 . A icterícia<br />

decorrente da hiperbilirrubin<strong>em</strong>ia de leve a moderada ocasiona uma coloração<br />

amarelada, enquanto a associada à hiperbilirrubin<strong>em</strong>ia grave se apresenta com<br />

coloração acastanhada 52 .<br />

Examinadores de vários níveis de treinamento médico, incluindo<br />

estudantes, não detectaram icterícia <strong>em</strong> pacientes com bilirrubina igual ou<br />

superior a 2.5 mg/dL <strong>em</strong> 42% dos casos. O nível de treinamento dos<br />

examinadores deste estudo afetou a especificidade, mas não a sensibilidade<br />

na detecção da icterícia no exame físico 63 .<br />

Outras causas de coloração amarelada da pele inclu<strong>em</strong> o excesso de<br />

ingesta de caroteno ou de licopeno. A pigmentação decorrente do consumo<br />

destas substâncias pode ser facilmente diferenciada pela ausência de<br />

comprometimento da esclera e por acentuação nas palmas e plantas. Além<br />

26


disso, esta coloração pode ser determinada pelo uso de medicações como a<br />

quinacrina 58 .<br />

A hiperpigmentação cutânea é mais expressiva <strong>em</strong> pacientes com CBP,<br />

mas pode ocorrer <strong>em</strong> outras formas de doença hepática. Esta discromia é<br />

decorrente do excesso de melanina nos melanossomos gigantes encontrados<br />

na epiderme, pois os melanócitos apresentam-se <strong>em</strong> número normal e não há<br />

depósito de h<strong>em</strong>ossiderina 5,58 .<br />

O mecanismo exato responsável por este excesso de melanina<br />

permanece desconhecido, <strong>em</strong>bora diversas hipóteses tent<strong>em</strong> explicá-lo. A<br />

primeira seria decorrente de uma alteração hormonal s<strong>em</strong>elhante à encontrada<br />

na doença de Addison, entretanto o nível de hormônio estimulante dos<br />

melanócitos não se encontra elevado. Alternativamente, os sais biliares, que<br />

sabidamente estão aumentados nos pacientes com doença hepática, poderiam<br />

liberar enzimas proteolíticas nos tecidos, com posterior ativação da tirosinase<br />

epidérmica, resultando <strong>em</strong> hiperpigmentação. Esta hipótese é difícil de<br />

comprovar pela falta de evidências científicas e de correlação com os níveis<br />

séricos de bilirrubinas. Outra hipótese para este aumento de pigmentação<br />

estaria associada à degradação insuficiente de melanina pelos lisossomos 58 .<br />

Clinicamente, os pacientes com cirrose de longa duração apresentam<br />

uma coloração acastanhada difusa. Pode ocorrer o surgimento de manchas<br />

hipercrômicas e acentuação das efélides e da pigmentação nas regiões<br />

areolares, periorais e periorbitais 58 .<br />

Em pacientes com h<strong>em</strong>ocromatose, a hiperpigmentação apresenta uma<br />

tonalidade cinza metálica que se acentua nas áreas fotoexpostas. Além disso,<br />

um depósito de h<strong>em</strong>ossiderina é identificado no tecido destes pacientes,<br />

27


associado ao de melanina. Entretanto, estudos <strong>em</strong> pacientes com vitiligo<br />

d<strong>em</strong>onstraram quantidade s<strong>em</strong>elhante de ferro na pele despigmentada,<br />

sugerindo que a melanina é a responsável pela coloração 58 .<br />

Além da hiperpigmentação cutânea, lesões do tipo hipomelanose<br />

gutata, algumas vezes <strong>em</strong> associação com o NA, pod<strong>em</strong> ser encontradas <strong>em</strong><br />

glúteos, tronco e extr<strong>em</strong>idades, e representam um efeito vasoconstritivo ao<br />

invés de um fenômeno pigmentar 5 .<br />

2.3.5. Distúrbios da Coagulação<br />

A doença hepática pode ocasionar hiperesplenismo e consequente<br />

trombocitopenia, além de diminuição da síntese de fatores da coagulação. A<br />

trombocitopenia é identificada <strong>em</strong>, aproximadamente, 30% a 64% dos<br />

pacientes com cirrose, mas a contag<strong>em</strong> de plaquetas raramente é inferior a<br />

30.000 ou 40.000/mm 3 , sendo o sangramento espontâneo incomum 5,52 .<br />

Clinicamente, as alterações de coagulação nos pacientes com doença<br />

hepática variam desde h<strong>em</strong>orragia cutânea, como petéquias, e equimoses ou<br />

sangramentos de mucosa como epistaxe, até h<strong>em</strong>orragia grave do trato<br />

gastrintestinal 5 .<br />

2.3.6. <strong>Manifestações</strong> Induzidas por Alterações Hormonais<br />

A ginecomastia representa um aumento da glândula mamária masculina,<br />

ou decorrente de um fenômeno fisiológico, ou sinalizador de doença sistêmica.<br />

A prevalência desta alteração glandular <strong>em</strong> pacientes cirróticos é de<br />

aproximadamente 44% 64 .<br />

28


A forma patológica da ginecomastia é resultante da deficiência de<br />

testosterona ou da elevação dos níveis séricos de estrógenos. Na doença<br />

hepática crônica, é decorrente da diminuição do catabolismo da<br />

androstenediona, ocasionando desvio de precursores estrógenos e<br />

consequente aumento no nível sérico de estradiol. Desta forma, ocorre<br />

elevação da taxa estradiol/testosterona livre, com posterior f<strong>em</strong>inização. Além<br />

disso, muitos pacientes cirróticos faz<strong>em</strong> uso de espironolactona, que é um<br />

inibidor da síntese de testosterona e pode ocasionar ginecomastia 54 .<br />

Perda de pelos das regiões pubianas e axilares e um padrão f<strong>em</strong>inino de<br />

distribuição são secundários às alterações hormonais e pod<strong>em</strong> estar<br />

associados à ginecomastia e à atrofia testicular 5 .<br />

2.3.7. Outras Alterações Cutâneas<br />

A doença hepática crônica pode estar associada a outras<br />

manifestações cutâneas. Estes pacientes pod<strong>em</strong> apresentar contratura de<br />

Dupuytren, aumento da glândula parótida e atrofia cutânea com ou s<strong>em</strong> estrias.<br />

Ocorre também obesidade central, perda muscular proximal e fácies<br />

s<strong>em</strong>elhante à lua, o que pode simular síndrome de Cushing 6 .<br />

Xantomas pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>em</strong> indivíduos com hepatopatia,<br />

principalmente naqueles com CBP. Estes inclu<strong>em</strong> o xantelasma das pálpebras,<br />

os xantomas planos das palmas e/ou plantas e os xantomas tuberosos sobre<br />

as superfícies extensoras 6 .<br />

29


Hepatite C<br />

2.3.8. <strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> Associadas ao Vírus da<br />

Diversas doenças e manifestações extra-hepáticas têm sido associadas<br />

à infecção pelos vírus da hepatite C (VHC). Acredita-se que a maioria seja<br />

mediada por mecanismos imunes, como resultado da proliferação viral-<br />

dependente de linfócitos mono ou policlonais. É provável que estas alterações<br />

sejam decorrentes do depósito de complexos imunes <strong>em</strong> vários órgãos,<br />

particularmente na pele e no rim, ou da deposição tecidual de linfócitos T<br />

específicos. Na maioria dos casos, detalhes da patogênese destas doenças<br />

permanec<strong>em</strong> desconhecidos 65 .<br />

As manifestações dermatológicas associadas com a infecção aguda e<br />

crônica pelo VHC inclu<strong>em</strong>: crioglobulin<strong>em</strong>ia mista (vasculite leucocitoclástica),<br />

porfiria cutânea tarda, poliarterite nodosa, prurido, líquen plano, urticária,<br />

angioed<strong>em</strong>a adquirido, erit<strong>em</strong>a nodoso e erit<strong>em</strong>a multiforme 65,66 .<br />

A síndrome da crioglobulin<strong>em</strong>ia mista essencial (CME) é clinicamente<br />

caracterizada por vasculite sistêmica com manifestações variadas, desde a<br />

tríade clássica de púrpura palpável, atralgias e fraqueza até formas graves<br />

envolvendo órgãos vitais como o rim e o sist<strong>em</strong>a nervoso central. A<br />

denominação desta doença é decorrente da precipitação de imunoglobulinas<br />

séricas (policlonal IgG e IgM) na presença do frio 65 .<br />

A etiopatogênese baseia-se <strong>em</strong> duas hipóteses principais: doença<br />

linfoproliferativa de baixo grau e estimulação crônica do sist<strong>em</strong>a imune por<br />

complexos de imunoglobulinas da classe G ligadas a antígenos do VHC.<br />

Aproximadamente 96% dos pacientes com CME apresentam anticorpos e/ou<br />

30


RNA viral VHC. No entanto, a CME está presente apenas <strong>em</strong> 35% a 54% dos<br />

pacientes com VHC, com vasculite clínica <strong>em</strong> 10% a 21% dos casos 5 .<br />

A porfiria cutânea tarda (PCT) é a forma mais comum das porfirias,<br />

doenças caracterizadas por deficiência ou defeito <strong>em</strong> uma ou mais enzimas<br />

responsáveis pela produção hepática do h<strong>em</strong>e. Na PCT, ocorre deficiência<br />

congênita ou adquirida da enzima uroporfobilinogêneo III descarboxilase<br />

(UPIIID), com acúmulo de uro e coproporfirinas urinárias e isocoproporfirinas<br />

nas fezes 52 , 66 .<br />

O acúmulo destas substâncias resulta <strong>em</strong> fotossensibilidade e<br />

fragilidade nas áreas expostas (mãos, antebraços e, ocasionalmente, <strong>em</strong> face<br />

e pés). Manifestam-se como vesículas que cicatrizam formando cistos de milio<br />

e hiperpigmentação. Outros achados inclu<strong>em</strong>: hipertricose e placas<br />

s<strong>em</strong>elhantes às da esclerodermia 67 .<br />

O papel dos vírus hepatotrópicos no desencadeamento da PCT é<br />

relatado desde 1992. A prevalência de anticorpos anti-VHC varia de 8% a 90%<br />

e está relacionada à sua end<strong>em</strong>icidade na população, sendo mais elevada <strong>em</strong><br />

regiões da Europa (França, Espanha, Itália e Polônia) e nos Estados Unidos.<br />

Não existe predomínio de nenhum genótipo do VHC nas porfirias 68 .<br />

Parece haver predisposição ao desenvolvimento da deficiência da<br />

UPIIID, pois a maioria dos pacientes com hepatite C não desenvolve PCT. As<br />

hipóteses que explicam o papel do VHC na PCT são: 1) diminuição da<br />

atividade da UPIIID secundária à lesão do hepatócito, 2) alteração no sist<strong>em</strong>a<br />

oxidase-dependente do citocromo P450 e 3) formação de anticorpos, por<br />

mecanismo de irritação molecular, que funcionariam como inibidores da<br />

atividade catalítica da UPIIID 68 .<br />

31


A poliarterite nodosa (PAN) clássica é doença multissistêmica que pode<br />

provocar grande morbidade. <strong>Manifestações</strong> cutâneas ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> apenas 20 a<br />

50% dos pacientes, sendo a púrpura palpável a mais comum. As lesões<br />

cutâneas sugestivas de envolvimento dos grandes vasos caracterizam-se por<br />

úlceras cutâneas grandes ou “pontuadas” e gangrena digital. A fisiopatogenia<br />

desta vasculite parece estar associada a complexos imunes e, ao contrário da<br />

CME, raramente é encontrada <strong>em</strong> pacientes com hepatite C crônica.<br />

Entretanto, há alta prevalência (5% a 20%) de positividade ao VHC <strong>em</strong><br />

algumas séries de pacientes, sugerindo que o VHC ocasionalmente possa ser<br />

o causador desta vasculite 69 . A presença de anti-VHC reagente deve ser<br />

confirmada por RNA viral, pois testes sorológicos falso-positivos pod<strong>em</strong> ocorrer<br />

nesta população 65 .<br />

Fischer e Wrigth (1994) foram os primeiros a descrever quatro pacientes<br />

com história de prurido crônico associado à infecção pelo VHC, de<br />

fisiopatologia desconhecida. Indivíduos com hepatite C crônica, com fibrose de<br />

moderada à grave, pod<strong>em</strong> apresentar colestase de baixo grau com prurido, <strong>em</strong><br />

decorrência, possivelmente, do desaparecimento dos ductos biliares 70-72 .<br />

O líquen plano (LP) é uma doença inflamatória de etiologia<br />

desconhecida, caracterizada por pápulas violáceas planas, com predileção<br />

pelas superfícies extensoras, podendo também acometer as mucosas 73 . Na<br />

literatura, estão descritos diversos casos de LP associados à infecção pelo<br />

VHC. O mecanismo pelo qual este vírus induz ao surgimento do LP é<br />

desconhecido, mas, provavelmente, está relacionado à replicação viral nos<br />

linfócitos 74 .<br />

32


O líquen plano oral (LPO), principalmente a sua forma erosiva, mostra<br />

forte correlação com a hepatite C <strong>em</strong> certas regiões da Europa e,<br />

particularmente, no Japão. A ocorrência concomitante de LPO e hepatite viral C<br />

parece ser real, e não coincidência, mesmo s<strong>em</strong> explicação de associação<br />

concreta e mantendo-se dúvidas quanto a esta relação. As diferenças<br />

geográficas poderiam explicar esta discordância 75 ..<br />

Foi realizado no Brasil um estudo transversal no qual a mucosa oral de<br />

215 pacientes portadores de hepatite C crônica foi examinada, d<strong>em</strong>onstrando<br />

que <strong>em</strong> cinco deles (2,3%) havia LPO, com significância <strong>em</strong> relação à<br />

população geral 76 .<br />

Guerreiro e cols. (2005), <strong>em</strong> estudo, <strong>em</strong> São Paulo, envolvendo 66<br />

pacientes com LP comparados a grupo com controle formado por doadores<br />

voluntários de sangue, d<strong>em</strong>onstrou que cinco pacientes (7,5%) apresentavam<br />

sorologia positiva para VHC comparados com 0,69% dos doadores de sangue<br />

77 . Estudo no Rio de Janeiro, com 34 pacientes com LP, d<strong>em</strong>onstrou que<br />

apenas dois apresentavam sorologia positiva para VHC e, entre os 36<br />

pacientes portadores de hepatite C, nenhum apresentou lesão sugestiva de LP.<br />

Do grupo controle, o único doador de sangue com sorologia positiva para vírus<br />

C, também não apresentou lesão sugestiva de LP. Embora s<strong>em</strong> significância<br />

estatística, a incidência de positividade para VHC nos portadores de LP foi,<br />

proporcionalmente, maior do que a do grupo controle 78 .<br />

Exist<strong>em</strong> diversos relatos, na literatura, de manifestações dermatológicas<br />

associadas à hepatite C aguda, como urticária, erit<strong>em</strong>a nodoso e erit<strong>em</strong>a<br />

multiforme. O prurigo nodular de Hyde t<strong>em</strong> sido relacionado à hepatite C<br />

33


crônica 65 . El Darouti e cols. (1996) descrev<strong>em</strong> uma nova dermatose, associada<br />

à hepatite C aguda, denominada erit<strong>em</strong>a necrolítico acral 79 .<br />

Álcool<br />

2.3.9. <strong>Manifestações</strong> <strong>Dermatológicas</strong> Associadas Uso Excessivo de<br />

O álcool, diretamente ou através da disfunção de um órgão, pode<br />

ocasionar alterações patológicas na pele. A prevalência e a gravidade de<br />

algumas destas doenças cutâneas surge aumentada <strong>em</strong> pacientes com<br />

consumo moderado a excessivo de álcool 58,80 .<br />

A prevalência de doença cutânea <strong>em</strong> indivíduos que faz<strong>em</strong> uso abusivo<br />

do álcool é de 43% <strong>em</strong> homens e 33% nas mulheres, mas nenhuma das<br />

alterações de pele é específica 80 .<br />

As lesões de pele e mucosas <strong>em</strong> cirróticos pod<strong>em</strong> decorrer de<br />

deficiência nutricional, aumento do risco de infecções cutâneas e alterações de<br />

pele associadas à pancreatite aguda 58,80 .<br />

Estudo com 303 homens com histórico de uso abusivo de álcool<br />

d<strong>em</strong>onstrou que o diagnóstico de cirrose nesta população pode ser realizado<br />

com acurácia considerável baseado <strong>em</strong> achados clínicos. Entre as<br />

características clínicas, telangiectasia facial, nevo arâneo, unhas de Terry,<br />

circulação abdominal colateral, obesidade e ed<strong>em</strong>a periférico apresentaram<br />

valor diagnóstico independente 81 .<br />

Em outro estudo, no qual o nevo arâneo, o erit<strong>em</strong>a palmar e a<br />

contratura de Dupuytren foram avaliados <strong>em</strong> pacientes com cirrose alcoólica,<br />

hepatite alcoólica s<strong>em</strong> cirrose, alcoolismo s<strong>em</strong> envolvimento hepático e doença<br />

34


extra-hepática s<strong>em</strong> alcoolismo, essas manifestações cutâneas foram mais<br />

frequentes <strong>em</strong> pacientes com cirrose alcoólica, com incidência de 72%, 38%, e<br />

24% respectivamente 82 .<br />

Lino, <strong>em</strong> 1994, publicou um artigo no qual os pacientes com cirrose de<br />

etiologia alcoólica ou alcoólica associada ao VHC apresentavam frequência<br />

maior de múltiplos nevos arâneo, rosácea e erit<strong>em</strong>a palmar quando<br />

comparados àqueles com cirrose de etiologia VHC 83 .<br />

Dermatoses como psoríase, rosácea, rubor facial, dermatite seborreica<br />

e dermatite numular pod<strong>em</strong> exacerbar-se com o uso abusivo do álcool 58,84 .<br />

35


3.1. Objetivo Geral<br />

3. OBJETIVOS<br />

Descrever as manifestações dermatológicas <strong>em</strong> pacientes cirróticos<br />

ambulatoriais.<br />

3.2. Objetivos Específicos<br />

3.2.1. Comparar a frequência das manifestações dermatológicas entre<br />

pacientes com e s<strong>em</strong> cirrose hepática.<br />

3.2.1.1 Avaliar se determinada manifestação dermatológica pode sugerir o<br />

diagnóstico de hepatopatia crônica.<br />

3.2.2. Relacionar as manifestações dermatológicas com a gravidade da<br />

cirrose entre cirróticos e controles.<br />

3.2.3. Relacionar as manifestações dermatológicas com a etiologia da<br />

cirrose entre cirróticos e controles.<br />

36


5.1. Delineamento<br />

4. PACIENTES E METODOLOGIA<br />

Estudo descritivo transversal controlado.<br />

5.2. População e Amostra<br />

Este estudo incluiu pacientes com diagnóstico de cirrose, de ambos os<br />

sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, <strong>em</strong> acompanhamento no<br />

ambulatório de Cirrose do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre<br />

(CHSCPA). A amostra foi consecutiva, de conveniência, de indivíduos <strong>em</strong><br />

seguimento neste Ambulatório no período de janeiro a dez<strong>em</strong>bro de 2008.<br />

Os critérios de inclusão dos casos foram os de pacientes com diagnóstico<br />

de cirrose estabelecido pelo resultado da biópsia hepática e/ou por critérios<br />

clínicos (história, exame físico, dados bioquímicos e achados ecográficos e/ou<br />

tomográficos compatíveis). Os controles refer<strong>em</strong>-se aos pacientes com doença<br />

dispéptica funcional do Ambulatório de Gastroenterologia do CHSCPA,<br />

avaliados durante este mesmo período.<br />

Os critérios de exclusão dos casos e dos controles foram: gestação,<br />

história prévia de tireoidopatia ou de diabetes melitus, uso de anticoncepcional<br />

oral e terapia de reposição hormonal. Além disso, foram excluídos dos controles<br />

os pacientes com alterações das aminotranferases (ALT e/ou AST) e/ou com<br />

história de ingesta alcoólica maior que 40g/dia para os homens e 20g/dia para<br />

as mulheres.<br />

37


5.3. Variáveis Dependentes<br />

<strong>Manifestações</strong> dermatológicas.<br />

5.4. Variáveis Independentes<br />

Idade, sexo, etiologia da cirrose e classificação de Child-Pugh.<br />

5.5. Coleta dos Dados<br />

<strong>Pacientes</strong> do Ambulatório de Cirrose e de Gastroenterologia Geral do<br />

CHSCPA foram abordados pela pesquisadora depois da consulta médica com a<br />

equipe de Gastroenterologia e Hepatologia. Após esclarecimentos referentes ao<br />

estudo, foram convidados a participar dele, mediante assinatura do termo de<br />

consentimento informativo sobre realização de exame dermatológico e<br />

documentação fotográfica.<br />

As alterações dermatológicas encontradas foram descritas por extenso<br />

<strong>em</strong> uma ficha individual, conforme anexo. Nos casos de dúvida diagnóstica,<br />

foram realizados exames compl<strong>em</strong>entares, havendo a possibilidade de<br />

discussão do diagnóstico com outro dermatologista, baseada na documentação<br />

fotográfica das lesões.<br />

Todos os pacientes receberam tratamento dermatológico quando<br />

necessário e orientações <strong>em</strong> relação à prevenção de dermatoses.<br />

38


5.6. Análise dos Dados<br />

As lesões dermatológicas foram consideradas desfechos binários, e a sua<br />

ocorrência foi descrita por meio de proporção. A comparação entre os grupos foi<br />

realizada por contagens e proporções, razão de chances (odds ratio) e seu<br />

respectivo intervalo de confiança de 95%. A significância estatística dos achados<br />

foi obtida pelo teste do qui-quadrado ou teste de Fisher, conforme necessário. O<br />

nível de significância adotado foi alfa de 5%.<br />

Os dados foram digitados <strong>em</strong> um banco de dados do programa Microsoft<br />

Excell XP, e as análises realizadas, no programa SSPS for Windows versão 15.<br />

5.7. Considerações Éticas<br />

O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética <strong>em</strong><br />

Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (n º<br />

330/07).<br />

39


1) Descrição da Amostra<br />

5. RESULTADOS<br />

A amostra completa possuía 70 pacientes cirróticos e 73 não cirróticos<br />

(controles que apresentavam doença dispéptica funcional). Em relação ao sexo,<br />

64,3% dos casos e 46,6% dos controles eram homens. A média de idade<br />

encontrada foi de 52,6 anos para os casos e 58 anos para os controles. Quanto<br />

à raça, 77,1% dos casos e 83,6% dos controles eram caucasianos.<br />

A etiologia da cirrose foi atribuída ao álcool <strong>em</strong> 23 pacientes (32,8%), à<br />

infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) <strong>em</strong> 21 (30,0%), ao álcool associado ao<br />

VCH <strong>em</strong> 9 (12,8%), à autoimune e biliar primária <strong>em</strong> três casos (8,4%) e ao<br />

vírus da hepatite B <strong>em</strong> 2 (2,8%). Foi atribuída à deficiência de α-1-antitripsina, à<br />

esteatoepatite, à colangite esclerosante primária associada à autoimune <strong>em</strong> um<br />

paciente (5,6%). Em cinco casos (7,1%), não havia etiologia identificada<br />

(criptogênica). Quanto ao grau de disfunção hepática, 57,1% pertenciam à<br />

classe A de Child-Pugh, 35,7% à classe B e 7,1% à classe Child C.<br />

40


2) Análise Estatística<br />

A análise realizada através do teste do qui-quadrado, ou teste de Fischer<br />

quando aplicável, d<strong>em</strong>onstrou significância estatística nas seguintes variáveis:<br />

erit<strong>em</strong>a palmar (p


Manifestação<br />

Dermatológica<br />

Tabela 4- Comparação das manifestações dermatológicas entre<br />

cirróticos e controles<br />

<strong>Cirróticos</strong><br />

n = 70<br />

Controles<br />

n = 73<br />

42<br />

RC (IC 95%) P RC** (IC 95%) P<br />

Erit<strong>em</strong>a Palmar 55,0 2,7 44,7 (10,1 a 196)


Manifestação<br />

Dermatológica<br />

Tabela 4- Comparação das manifestações dermatológicas entre<br />

cirróticos e controles<br />

<strong>Cirróticos</strong><br />

n = 70<br />

Controles<br />

n = 73<br />

43<br />

RC (IC 95%) P RC** (IC 95%) P<br />

Distrofia ungueal 32,0 23,0 1,6 (0,7 a 3,3) 0,277 1,9 (0,8 a 4,2) 0,097<br />

Intertrigo 4,3 2,7 1,5 (0,2 a 9,8) 0,676 1,4 ( 0,2 a 10,0) 0,632<br />

Erupção acneiforme 7,1 5,5 1,3 (0,3 a 5,1) 0,742 0,6 (0,0 a 6,1) 0,672<br />

Acantose nigricante 1,4 1,4 1,0 (0,06 a 17,0) 0,999 1,2 (0,6 a 28,0) 0,901<br />

Dermatite seborreica 30,0 28,0 1,0 (0,5 a 2,1) 0,999 0,7 (0,3 a 1,5) 0,324<br />

Dermografismo 1,4 1,4 1,0 (0,06 a 17,0) 0,999 2,3 (0,0 a 13,0) 0,693<br />

Onicólise 10,0 9,6 1,0 (0,3 a 3,1) 0,999 1,7 (0,5 a 5,3) 0,395<br />

Varizes 23,0 24,0 0,9 (0,4 a 1,9) 0,955 1,3 (0,5 a 3,0) 0,542<br />

Poiquilodermia 14,0 16,0 0,8 (0,3 a 2,1) 0,901 0,8 (0,3 a 2,3) 0,756<br />

Tinea 7,1 8,2 6,,2 (2,3 a 16,3) 0,999 0,9 (0,2 a 3,7) 0,985<br />

Ceratose actínica 2,9 4,1 0,6 (0,1 a 4,2) 0,999 1,0 (0,1 a 8,1) 0,953<br />

Estrias 1,4 2,7 0,5 (0,4 a 5,8) 0,999 0,5 (0,0 a 7,8) 0,628<br />

Vitiligo 1,4 2,7 0,5 (0,4 a 5,8) 0,999 0,7 (0,0 a 8,3) 0,774<br />

Melasma 2,9 8,2 0,3 (0,1 a 1,9) 0,227 0,3 (0,0 a 2,2) 0,262<br />

Verruga 1,4 4,1 0,3 (0,0 a 3,3) 0,620 0,2 (0,0 a 2,7) 0,250<br />

Aftas orais 0,0 1,4 0,0 (0,0 a 18,3)* 0,999 - -<br />

Cont. Dupuytren 0,0 1,4 0,0 (0,0 a 18,3)* 0,999 - -<br />

Dermatite de contato 0,0 1,4 0,0 (0,0 a 18,3)* 0,999 - -<br />

Hiperplasia 0,0 1,4 0,0 (0,0 a 18,3)* 0,999 - -<br />

Rosácea 0,0 2,7 0,0 (0,0 a 4,3)* 0,497 - -<br />

Xantelasma 0,0 1,4 0,0 (0,0 a 18,3)* 0,999 - -<br />

Os dados são apresentados como percentuais. RC: Razão de chances, IC: Intervalo de confiança, P:<br />

significância estatística (qui-quadrado ou teste exato de Fisher, quando necessário. RC**: ajustada para sexo e<br />

idade * Correção de Agresti).


Manifestação<br />

Dermatológica<br />

Tabela 5 – Comparação das manifestações dermatológicas entre<br />

pacientes cirróticos de etiologia alcoólica e controles<br />

<strong>Cirróticos</strong> álcool<br />

n = 23<br />

Controles<br />

n = 73<br />

44<br />

RC (IC 95%) P<br />

Erit<strong>em</strong>a Palmar 74 2,7 100 (18 a 542)


Manifestação<br />

Dermatológica<br />

Tabela 7 – Comparação das manifestações dermatológicas entre<br />

pacientes cirróticos Child A e controles<br />

<strong>Cirróticos</strong> Child A<br />

n = 40<br />

Controles<br />

n = 73<br />

45<br />

RC (IC 95%) P<br />

Erit<strong>em</strong>a Palmar 72 2,7 93 (19 a 448)


8. REFERÊNCIAS<br />

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9. ANEXOS<br />

62


9.1 Termo de consentimento livre e esclarecido<br />

Título da pesquisa: <strong>Manifestações</strong> dermatológicas <strong>em</strong> pacientes cirróticos.<br />

Justificativa e objetivos da pesquisa: Lesões de pele e de mucosas são comuns <strong>em</strong><br />

pacientes com doenças crônicas. Há poucos estudos que descrev<strong>em</strong> estas alterações <strong>em</strong><br />

pacientes com doença do fígado. O objetivo desta pesquisa é estudar estas alterações <strong>em</strong><br />

pacientes com e s<strong>em</strong> doença crônica do fígado.<br />

Procedimentos: pacientes atendidos no Ambulatório de Gastroenterologia da Santa<br />

Casa serão convidados a responder algumas perguntas relacionadas a sua doença e após a<br />

realizar um exame dermatológico (avaliação da pele, unhas, boca e pêlos).<br />

Riscos relacionados à pesquisa: não exist<strong>em</strong> maiores riscos relacionados ao exame<br />

físico da pele. Porém, exames compl<strong>em</strong>entares poderão ser necessários para melhor<br />

esclarecimento do quadro. Há um risco mínimo de sangramento e infecção local relacionado à<br />

coleta destes exames (exame micológico, biópsia de pele e coleta de swab para cultural)<br />

Benefícios: os resultados da pesquisa poderão ajudar os médicos e outros profissionais<br />

de saúde no tratamento e na prevenção de doenças de pele associadas a doenças crônicas do<br />

fígado.<br />

Serão garantidas a privacidade e a confidencialidade aos participantes do estudo. Além<br />

disto, será garantida a continuidade do atendimento caso o paciente não aceite participar da<br />

pesquisa.<br />

Eu, ................................................................(paciente ou responsável) fui informado dos<br />

objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informações a respeito do<br />

estudo a ser realizado e esclareci minhas dúvidas. Sei que <strong>em</strong> qualquer momento poderei<br />

solicitar novas informações e modificar minha decisão se assim eu o desejar. A Dra. Gislaine<br />

Silveira Olm (pesquisadora) certificou-me de que todos os dados desta pesquisa serão<br />

confidenciais, b<strong>em</strong> como meu tratamento não será modificado <strong>em</strong> razão desta pesquisa e terei<br />

liberdade de retirar meu consentimento de participação nesta pesquisa, frente a estas<br />

informações. Caso tiver novas perguntas sobre este estudo, posso chamar a Dra. Gislaine Olm<br />

(pesquisadora responsável) no endereço: Annes Dias, 285/ telefone: 81170404. Para qualquer<br />

pergunta sobre os meus direitos como participante deste estudo ou se penso que fui prejudicado<br />

pela minha participação, posso chamar o Comitê de Ética <strong>em</strong> Pesquisa da FFFCMPA, Rua<br />

Sarmento Leite 245/ telefone: 33038804.<br />

Declaro que recebi cópia do presente consentimento __/__/ __<br />

63


__________________________ _____________________________<br />

Nome paciente ou responsável Assinatura paciente ou responsável<br />

Dra. Gislaine Silveira Olm ____________________________<br />

Pesquisadora Assinatura Pesquisadora<br />

64


9.2 Ficha de avaliação dermatológica: casos<br />

Número do Protocolo:__________ Data:_____/_____/_____.<br />

Prontuário:___________________<br />

Nome de paciente:_____________________________________ Ocupação:_______________<br />

Sexo: (1) masculino (2)f<strong>em</strong>inino Data de nascimento: ____/____/____.<br />

Procedência: (1) Porto Alegre (2) Outro:________________<br />

Comorbidades:________________________________________________________________<br />

Tabagismo: (1) sim (2) não<br />

Medicações de uso<br />

crônico:____________________________________________________<br />

Fototipo segundo Fitzpatrick: (1) I (2) II (3)III (4) IV (5) V (6) VI<br />

Raça:____________<br />

Etiologia da cirrose: (1) vírus C (2) vírus B (3) álcool - Abstinência:____________(4) outra ___<br />

Meld:_______ Child: (1) A (2)B (3)C<br />

Anatomopatológico: (1) sim___________________________________(2) não<br />

Exame Data Resultado<br />

Creatinina<br />

Ferritina/Sat<br />

TGO<br />

TGP<br />

FA<br />

GGT<br />

BT<br />

BD<br />

Albumina<br />

Plaquetas<br />

TP/RNI<br />

Endoscopia<br />

Digestiva Alta<br />

Ecografia<br />

Abdominal<br />

Fígado:<br />

VP=<br />

Baço=<br />

65


Exame Dermatológico<br />

1._____________________________________________________<br />

2._____________________________________________________<br />

3._____________________________________________________<br />

4._____________________________________________________<br />

5._____________________________________________________<br />

6._____________________________________________________<br />

7._____________________________________________________<br />

8._____________________________________________________<br />

9._____________________________________________________<br />

10.____________________________________________________<br />

66


9.3 Ficha de avaliação dermatológica: controles<br />

Número do Protocolo:__________ Data:_____/_____/_____.<br />

Prontuário:___________________<br />

Nome de paciente:_____________________________________ Ocupação:_______________<br />

Sexo: (1) masculino (2)f<strong>em</strong>inino Data de nascimento: ____/____/____.<br />

Procedência: (1) Porto Alegre (2) Outro:________________<br />

Comorbidades:________________________________________________________________<br />

Tabagismo: (1) sim (2) não<br />

Medicações de uso crônico:__________________________________________________<br />

Fototipo segundo Fitzpatrick: (1) I (2) II (3)III (4) IV (5) V (6) VI<br />

Raça:____________<br />

TGO<br />

TGP<br />

Exame Data Resultado<br />

67


Exame Dermatrológico<br />

1._____________________________________________________<br />

2._____________________________________________________<br />

3._____________________________________________________<br />

4._____________________________________________________<br />

5._____________________________________________________<br />

6._____________________________________________________<br />

7._____________________________________________________<br />

8._____________________________________________________<br />

9._____________________________________________________<br />

10.____________________________________________________<br />

68


9.4 Fotografias de casos<br />

Figura 1 - Circulação Colateral<br />

Figura 2 - Unhas de Terry<br />

69


Figura 3 - Erit<strong>em</strong>a palmar<br />

Figura 4 - Erit<strong>em</strong>a palmar região hipotenar<br />

70


Figura 5 - Nevos arâneos tronco<br />

Figura 6 - Nevo arâneo<br />

71

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