Perfil do encarcerado no Município de Rolândia - Escola de ...
Perfil do encarcerado no Município de Rolândia - Escola de ...
Perfil do encarcerado no Município de Rolândia - Escola de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Universida<strong>de</strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Londrina<br />
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS<br />
ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS<br />
PERFIL DO ENCARCERADO NO<br />
MUNICÍPIO DE ROLÂNDIA-PR<br />
LONDRINA - PARANÁ<br />
2008<br />
Sandro Alberto Segóvia<br />
Thiago Orlandini Pereira
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA<br />
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS<br />
ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS<br />
<strong>Perfil</strong> <strong>do</strong> Encarcera<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>Município</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Rolândia</strong>-PR<br />
LONDRINA - PR<br />
2008<br />
Sandro Alberto Segovia<br />
Thiago Orlandini Pereira<br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso apresenta<strong>do</strong><br />
ao curso <strong>de</strong> Especialização em Formulação e<br />
Gestão em Políticas Públicas, como exigência<br />
para sua conclusão, orienta<strong>do</strong> pela Professora<br />
Dra. Maria <strong>de</strong> Fátima Sales <strong>de</strong> Souza Campos.
SANDRO ALBERTO SEGÓVIA<br />
THIAGO ORLANDINI PEREIRA<br />
PERFIL DO ENCARCERADO NO<br />
MUNICÍPIO DE ROLÂNDIA - PR<br />
COMISSÃO EXAMINADORA<br />
__________________________________________________________<br />
Profa. Dra. Maria <strong>de</strong> Fátima Sales <strong>de</strong> Souza Campos – Orienta<strong>do</strong>ra<br />
__________________________________________________<br />
Prof. MS. Gerson Antonio Melatti – Banca<br />
__________________________________________________<br />
Prof. MS. João Luiz Martins Esteves – Banca
DEDICATÓRIA<br />
Aos <strong>no</strong>ssos pais, que possibilitaram realizar<br />
mais esta etapa, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o que foi<br />
ensina<strong>do</strong> durante <strong>no</strong>ssa convivência.
AGRADECIMENTOS<br />
A Professora Dra. Maria <strong>de</strong> Fátima Sales <strong>de</strong> Souza Campos, pelo apoio e<br />
colaboração para a elaboração <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Aos <strong>no</strong>ssos pais e <strong>de</strong>mais familiares, pelo incentivo e motivação para a conclusão <strong>de</strong><br />
mais esta etapa em <strong>no</strong>ssa formação profissional.<br />
A to<strong>do</strong>s os professores, por <strong>no</strong>s transmitirem seus conhecimentos e experiências,<br />
amplian<strong>do</strong> <strong>no</strong>ssa bagagem cultural.<br />
Aos amigos e colegas <strong>do</strong> curso, pelo carinho e amiza<strong>de</strong>.<br />
Aos entrevista<strong>do</strong>s na pesquisa, por proporcionarem os meios <strong>de</strong> se traçar o perfil <strong>do</strong><br />
crimi<strong>no</strong>so que age <strong>no</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>.<br />
A todas as pessoas que colaboraram para a realização e conclusão <strong>de</strong>ste trabalho.
SEGÓVIA, SANDRO ALBERTO; PEREIRA, THIAGO ORLANDINI. <strong>Perfil</strong> <strong>do</strong><br />
Encarcera<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>Município</strong> <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> - PR, 2008. 60 f. Mo<strong>no</strong>grafia (Trabalho <strong>de</strong><br />
Conclusão <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Especialização em Formulação e Gestão <strong>de</strong> Políticas<br />
Públicas). Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Sociais Aplica<strong>do</strong>s da UEL, Londrina, 2008.<br />
RESUMO<br />
A pesquisa tem como objetivo principal traçar o perfil <strong>do</strong> encarcera<strong>do</strong> da Ca<strong>de</strong>ira Pública <strong>do</strong> município<br />
<strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná. A partir da revisão da literatura, enfoca os aspectos gerais da<br />
criminalida<strong>de</strong>, tais como: as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> crime e <strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>so na Ciência Penal, os fatores<br />
criminóge<strong>no</strong>s, as ocasiões criminais e a influência <strong>do</strong>s fatores econômicos <strong>no</strong> aumento da<br />
criminalida<strong>de</strong>. Foram aplica<strong>do</strong>s questionários junto aos <strong>de</strong>tentos da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, com<br />
a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traçar o perfil <strong>do</strong> agente crimi<strong>no</strong>so local. Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que os <strong>de</strong>tentos<br />
recolhi<strong>do</strong>s na Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> são em geral jovens entre 13 e 30 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, em sua<br />
maioria são <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>, são brancos e par<strong>do</strong>s, apresentam escolarida<strong>de</strong> até o Ensi<strong>no</strong><br />
Fundamental, a média <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> renda é <strong>de</strong> um a <strong>do</strong>is salários mínimos, resi<strong>de</strong>m em bairros pobres<br />
da periferia, possuem religião, mas não são praticantes. A maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s estava<br />
empregada na ocasião em que cometeu o crime, mesmo assim alega que cometeu o crime por<br />
necessida<strong>de</strong> financeira. Constatou-se que 72,32% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s praticaram o primeiro <strong>de</strong>lito<br />
antes <strong>do</strong>s 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Com base neste resulta<strong>do</strong>, sugere-se que os jovens sejam motiva<strong>do</strong>s a<br />
exercerem ativida<strong>de</strong>s lícitas e se tornarem membros atuantes da socieda<strong>de</strong> em que vivem. Para isso<br />
sugere-se a implantação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> assistência às crianças e a<strong>do</strong>lescentes, on<strong>de</strong> os mesmos<br />
tenham maior acesso à educação, esportes, bem como cursos <strong>de</strong> formação técnica e profissional.<br />
Por fim, enten<strong>de</strong>-se que a solidificação da família <strong>de</strong>ve ser o pilar <strong>de</strong> todas as ações <strong>de</strong> combate às<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e à criminalida<strong>de</strong>.<br />
Palavras-chave: Crime; Criminalida<strong>de</strong>; Fatores Criminóge<strong>no</strong>s, Paraná.
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por faixa etária.......................... .......... 33<br />
Tabela 2 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem................ .......... 36<br />
Tabela 3 -- Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por bairro on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m ..................... 37<br />
Tabela 4 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por tipo <strong>de</strong> crime,<br />
escolarida<strong>de</strong> e renda individual <strong>de</strong>clarada..........................................39<br />
Tabela 5 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por condição familiar.......................... 43<br />
Tabela 6 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme religião, cor da<br />
pele e se pratica ou não a religião...................................................... 44<br />
Tabela 7 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme a profissão.......................... 45<br />
Tabela 8 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a ida<strong>de</strong><br />
com que praticou o primeiro <strong>de</strong>lito...................................................... 47<br />
Tabela 9 -- Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por uso ou não <strong>de</strong><br />
substância entorpecente..................................................................... 48<br />
Tabela 10 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s se tem ou não amigos<br />
que já praticaram crimes e o tipo <strong>de</strong> crime cometi<strong>do</strong>....................... 48<br />
Tabela 11 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por motivo <strong>do</strong> crime.......................... 50<br />
Tabela 12 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por sugestões<br />
para diminuir a criminalida<strong>de</strong> local................................................... 50
LISTA DE GRÁFICOS<br />
Gráfico 1 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por gênero .......................................... 34<br />
Gráfico 2 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por raça.............................................. 35<br />
Gráfico 3 – Distribuição <strong>de</strong> renda Individual em salário mínimo, <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com a cor da pele................................................................... 41<br />
Gráfico 4 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por escolarida<strong>de</strong> e cor<br />
da pele................................................................................................ 42<br />
Gráfico 5 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por situação empregatícia.................. 46<br />
Gráfico 6 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s que agiram por influência<br />
<strong>de</strong> substância entorpecente ou álcool................................................ 49<br />
8
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10<br />
1. CRIME E CRIMINOSO: ASPECTOS GERAIS .................................................... 12<br />
1.1 Crime.......................................................................................................... 12<br />
1.2 Fatores Criminóge<strong>no</strong>s ................................................................................ 15<br />
1.3 Ocasiões Criminais .................................................................................... 19<br />
1.4 Conduta <strong>do</strong>s Crimi<strong>no</strong>sos ............................................................................ 20<br />
2. A ECONOMIA DO CRIME ................................................................................... 23<br />
3. HISTÓRICO.......................................................................................................... 29<br />
3.1 Histórico <strong>do</strong> <strong>Município</strong> <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>............................................................ 29<br />
4. METODOLOGIA................................................................................................... 31<br />
4.1 Delineamento da Pesquisa ........................................................................ 31<br />
4.2 Coleta <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s ........................................................................................ 32<br />
4.3 Resulta<strong>do</strong>s ................................................................................................. 32<br />
4.4 Síntese Conclusiva <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s da Pesquisa <strong>de</strong> Campo......................51<br />
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 54<br />
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 57<br />
ANEXO A ................................................................................................................. 61<br />
9
INTRODUÇÃO<br />
O aumento nas taxas <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> e violência é um fenôme<strong>no</strong> que atinge,<br />
<strong>de</strong> maneira geral, to<strong>do</strong>s os países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s que mais preocupam a<br />
população e os governantes. A população vive amedrontada, presa em casas e<br />
apartamentos cada vez mais seguros, evitan<strong>do</strong>, muitas vezes, sair <strong>de</strong> casa para se<br />
divertir. Além <strong>do</strong>s problemas sociais, a criminalida<strong>de</strong> também possui eleva<strong>do</strong>s<br />
custos, tornan<strong>do</strong>-se um gran<strong>de</strong> obstáculo ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social <strong>de</strong><br />
uma nação.<br />
No Brasil, a taxa <strong>de</strong> homicídios por 100.000 habitantes vem crescen<strong>do</strong><br />
significativamente. Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisa Econômica – IPEA<br />
mostram que em 2002 a região Su<strong>de</strong>ste era a que apresentava a maior taxa <strong>de</strong><br />
homicídios por 100.000 habitantes (36,85) e a região Sul era a que <strong>de</strong>tinha a me<strong>no</strong>r<br />
taxa (18,29). No entanto, ao analisar este índice por esta<strong>do</strong>s da região Sul,<br />
observou-se que a taxa <strong>de</strong> homicídios <strong>no</strong> Paraná (22,72) era bem maior que as <strong>do</strong><br />
Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul (18,33) e Santa Catarina (10,35).<br />
Cabe lembrar que a criminalida<strong>de</strong> não é mais um fenôme<strong>no</strong> circunscrito aos<br />
gran<strong>de</strong>s centros. Ao longo <strong>do</strong> tempo, ela vem aumentan<strong>do</strong> e se disseminan<strong>do</strong> nas<br />
pequenas cida<strong>de</strong>s. No município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> a situação da criminalida<strong>de</strong> não é<br />
diferente das <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s brasileiras, uma vez que a incidência <strong>de</strong> crimes<br />
graves, tais como estupro, roubo, assassinato, tráfico <strong>de</strong> drogas e crimes contra o<br />
patrimônio público têm ocorri<strong>do</strong>.<br />
A literatura tem evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> que os fatores que motivam os indivíduos a<br />
cometerem crimes são muitos. Os mais <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s são: a <strong>de</strong>sorientação familiar; a<br />
falta <strong>de</strong> valores morais e éticos; restrições financeiras; ausência <strong>de</strong> perspectivas <strong>de</strong><br />
um futuro melhor, leis brandas; a certeza da impunida<strong>de</strong>; a influência <strong>de</strong> traficantes e<br />
marginais <strong>no</strong> aliciamento <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes etc.<br />
10
Pelos motivos elenca<strong>do</strong>s, este trabalho tem como objetivo geral traçar o perfil<br />
<strong>do</strong> encarcera<strong>do</strong> da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná,<br />
bem como investigar quais os fatores que o motivaram a cometer crimes.<br />
Especificamente, busca-se: a) traçar o perfil sócio-econômico <strong>do</strong>s encarcera<strong>do</strong>s na<br />
Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>; b) investigar a relação entre escolarida<strong>de</strong>, renda, tipo<br />
<strong>de</strong> crime e motivo <strong>do</strong> crime; c) investigar a relação entre criminalida<strong>de</strong> e condições<br />
sócio-econômicas adversas.<br />
A realização <strong>de</strong>sta pesquisa pautou-se, primeiramente, em uma revisão da<br />
literatura sobre criminalida<strong>de</strong> e, em um segun<strong>do</strong> momento, <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da<br />
pesquisa <strong>de</strong> campo conduzida junto aos <strong>de</strong>tentos da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>. O<br />
Como instrumento <strong>de</strong> pesquisa utilizou-se um questionário com 24 (vinte e quatro)<br />
questões, que foi aplica<strong>do</strong> a 65 (sessenta e cinco) <strong>do</strong>s 96 (<strong>no</strong>venta e seis) <strong>de</strong>tentos<br />
da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>do</strong> município, que voluntariamente <strong>de</strong>sejaram participar da<br />
pesquisa. Portanto, a amostra obtida totaliza 67,71% da população total.<br />
O trabalho está dividi<strong>do</strong> em cinco seções, sen<strong>do</strong> a primeira esta introdução. A<br />
seção seguinte traz uma revisão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s que enfocam os aspectos gerais da<br />
criminalida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> crime e <strong>do</strong> crimi<strong>no</strong>so, seguida pela seção que enfoca os estu<strong>do</strong>s<br />
conduzi<strong>do</strong>s a partir da Eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> Crime. Na quarta seção realizou-se uma<br />
retrospectiva da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> e da evolução da criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município.<br />
Na quinta seção apresenta-se a meto<strong>do</strong>logia utilizada para a pesquisa <strong>de</strong> campo,<br />
bem como os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. As conclusões e sugestões encontram-se reunidas<br />
ao final <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
11
1. CRIME E CRIMINOSO: ASPECTOS GERAIS<br />
A criminalida<strong>de</strong> tem formas variadas, não se apresenta com a mesma<br />
tonalida<strong>de</strong> em diferentes locais e épocas diversas, embora haja sempre homens que<br />
violam as <strong>no</strong>rmas, fazen<strong>do</strong> recair sobre si a repressão penal.<br />
A ação crimi<strong>no</strong>sa é vista, algumas vezes, como inerente à própria malda<strong>de</strong><br />
humana, outras vezes como <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> taras, <strong>de</strong>ficiências biológicas e outras<br />
manifestações. A literatura também <strong>de</strong>staca o papel <strong>do</strong>s fatores antropológicos, ou<br />
seja, os inerentes à personalida<strong>de</strong> da pessoa <strong>do</strong> crimi<strong>no</strong>so, e sociais,<br />
compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>: costumes, religião, condições familiares etc.<br />
1.1 Crime<br />
A <strong>de</strong>finição mais aceita <strong>do</strong> que seja crime é a encontrada <strong>no</strong> Código Penal<br />
Brasileiro, quan<strong>do</strong> ele dá forma clara e lúcida ao conceito <strong>do</strong>utrinário <strong>de</strong> crime, que<br />
exige a configuração <strong>do</strong>s seguintes elementos fundamentais:<br />
a) o crime é um ato huma<strong>no</strong>;<br />
b) imputável ou seja, exige para o autor <strong>de</strong>sse ato capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber a<br />
imputação <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito, substrato indispensável para o estabelecimento da<br />
responsabilida<strong>de</strong>;<br />
c) culposo, pratica<strong>do</strong> com voluntarieda<strong>de</strong>, o que implica em querer ou não<br />
querer, agir ou omitir a ação que vem contrariar a <strong>no</strong>rma jurídica;<br />
como crime;<br />
d) contrário à <strong>no</strong>rma jurídica, porque se exige que uma lei anterior o <strong>de</strong>fina<br />
e) passível <strong>de</strong> pena expressa em lei.<br />
12
O crime é a prática <strong>de</strong> ato <strong>no</strong>civo a outrem, <strong>de</strong>feso por lei, cujo autor estará<br />
sujeito à pena imposta também por lei. Para Lyra Filho (1980, p. 157), “[...] o crime é<br />
ato <strong>de</strong> um homem. O crime é fato social das mais graves conseqüências jurídicas e<br />
não fato jurídico <strong>de</strong> aspectos sociais”.<br />
Não há crime sem ação. É sobre o conceito <strong>de</strong> ação, ou conduta, que está a<br />
divergência mais expressiva entre os penalistas. As três principais teorias a respeito<br />
<strong>de</strong> conduta são a Teoria Causalista, a Teoria Finalista e a Teoria Social ou mista.<br />
A Teoria Causalista diz que a conduta humana é um comportamento<br />
voluntário apenas <strong>no</strong> que diz respeito ao fazer ou não fazer. É um processo<br />
mecânico, muscular e voluntário, on<strong>de</strong> não é necessário se perguntar qual é o fim a<br />
que essa vonta<strong>de</strong> se dirige. Nesta teoria, basta apenas a certeza <strong>de</strong> que o indivíduo<br />
atuou voluntariamente, sen<strong>do</strong> irrelevante o seu querer psíquico, para afirmar que<br />
praticou a ação típica.<br />
Para a Teoria Finalista to<strong>do</strong> comportamento huma<strong>no</strong> tem uma finalida<strong>de</strong>.<br />
Trata-se a conduta, <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> final humana e não <strong>de</strong> um comportamento<br />
somente casual. A conduta realiza-se mediante uma manifestação <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong><br />
dirigida a um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fim. O conteú<strong>do</strong> da vonta<strong>de</strong> está na ação dirigida a um<br />
fim. Esta teoria é a a<strong>do</strong>tada <strong>no</strong> Brasil.<br />
A Teoria Social é uma interligação entre as Teorias Causalista e Finalista, que<br />
leva em consi<strong>de</strong>ração não apenas os aspectos causalísticos e finalísticos, mas<br />
principalmente, o aspecto social da ação, ou seja, sua relevância social.<br />
A Crimi<strong>no</strong>logia reconhece que os comportamentos <strong>de</strong>sviantes rotula<strong>do</strong>s como<br />
crimes serão sempre corolário <strong>de</strong> uma escolha mais ou me<strong>no</strong>s arbitrária das<br />
agências que representam o po<strong>de</strong>r, editan<strong>do</strong> o ato legislativo que torna a conduta<br />
<strong>de</strong>sviante um fato tipifica<strong>do</strong> na lei penal.<br />
Por isso mesmo, ao la<strong>do</strong> daquelas figuras que <strong>no</strong> consenso social merecem<br />
ser consi<strong>de</strong>radas crimes, e geralmente o são, existem outras que <strong>de</strong>veriam ser<br />
tipificadas e, <strong>no</strong> entanto, escapam através das malhas grossas da tolerância; e, ao<br />
revés, comportamentos me<strong>no</strong>s ofensivos, por serem comumente atribuí<strong>do</strong>s aos<br />
13
indivíduos <strong>do</strong>s estratos sociais mais baixos, são aprisiona<strong>do</strong>s na re<strong>de</strong> fina da<br />
repressão e acabam converti<strong>do</strong>s em tipos penais.<br />
De um mo<strong>do</strong> mais sistemático, reconhece-se que são três as principais<br />
teorias crimi<strong>no</strong>lógicas que procuram explicar a gênese <strong>do</strong>s <strong>de</strong>litos, conforme<br />
assinala Walter Reckless (1970, p. 68), professor <strong>de</strong> Sociologia da Ohio State<br />
University:<br />
• Teoria Biológica e Constitucional, segun<strong>do</strong> a qual os móveis principais<br />
<strong>do</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> conduta se encontram na estrutura hereditária física e<br />
mental <strong>do</strong> indivíduo;<br />
• Teoria Psicogenética, segun<strong>do</strong> a qual a formação <strong>do</strong> caráter anti-social<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>feituosos relacionamentos familiares <strong>no</strong>s primeiros<br />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> vida;<br />
• Teoria Sociológica, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que as pressões e as influências <strong>do</strong><br />
ambiente social geram o comportamento <strong>de</strong>linqüente.<br />
Garcia-Pablos (1999) cita também as teorias da associação diferencial <strong>de</strong><br />
Sutherland, que sustenta ser o crime fruto <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> e a i<strong>de</strong>ntificação<br />
diferencial, <strong>de</strong> Glaser (1978) segun<strong>do</strong> a qual o “[...] o crimi<strong>no</strong>so absorve os mo<strong>de</strong>los<br />
<strong>de</strong> comportamentos daqueles grupos <strong>de</strong> referência com os quais se i<strong>de</strong>ntifica, ainda<br />
que tal i<strong>de</strong>ntificação não <strong>de</strong>corra necessariamente da proximida<strong>de</strong> entre as pessoas<br />
<strong>do</strong> grupo eleito, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> dar-se mesmo à distância” (GARCIA-PABLOS, 1999, p.<br />
306).<br />
Reckless (1970) alu<strong>de</strong>, finalmente, à Teoria <strong>do</strong>s Contensores, que se baseia<br />
na afirmativa <strong>de</strong> que existem contensores inter<strong>no</strong>s e exter<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s indivíduos. Para<br />
este autor<br />
[...] os contensores inter<strong>no</strong>s são os componentes <strong>do</strong> ego, como o<br />
autocontrole, o bom conceito <strong>de</strong> si mesmo, a força <strong>do</strong> ego, o superego bem<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, alta tolerância às frustrações, forte resistência aos estímulos<br />
perturba<strong>do</strong>res, profun<strong>do</strong> senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, orientação para fins<br />
precisos, habilida<strong>de</strong> para encontrar satisfações substitutivas,<br />
racionalizações que reduzam a tensão, e outros. Já os contensores<br />
exter<strong>no</strong>s constituem o freio estrutural que, operante <strong>no</strong> imediato contexto<br />
social <strong>do</strong> sujeito, permite-lhe não ultrapassar os limites <strong>no</strong>rmativos.<br />
RECKLESS (1970, p. 70).<br />
14
Os contensores exter<strong>no</strong>s são compostos <strong>de</strong> alguns elementos, tais como<br />
uma linha coerente <strong>de</strong> conduta moral, um reforçamento institucional <strong>de</strong> suas <strong>no</strong>rmas,<br />
fins e expectativas sociais, uma vigilância e disciplina eficazes (controles sociais),<br />
um acervo <strong>de</strong> razoáveis prospectivas <strong>de</strong> ação (inclusive limites e responsabilida<strong>de</strong>s),<br />
que ajudam a família e outros grupos a conter o indivíduo.<br />
1.2 Fatores Criminóge<strong>no</strong>s<br />
Os fatores criminóge<strong>no</strong>s seriam a antítese <strong>do</strong>s contensores inter<strong>no</strong>s e<br />
exter<strong>no</strong>s, pois exercem influência <strong>de</strong>bilitante nas <strong>de</strong>fesas regula<strong>do</strong>ras. Também são<br />
<strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> endóge<strong>no</strong>s e exóge<strong>no</strong>s.<br />
Na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Farias Júnior (2001, p. 99), “[...] fator criminóge<strong>no</strong>, também<br />
chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> fator condicionante da criminalida<strong>de</strong>, é tu<strong>do</strong> aquilo que, pelas suas<br />
características ou condições, contribui, concorre ou enseja a prática <strong>de</strong> crime”.<br />
Para Pimentel (1983, p.17), “[...] enten<strong>de</strong>-se o crime como resultante <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> fatores, cuja estrutura é complexa, e não o produto <strong>de</strong> uma única causa,<br />
por exemplo, ao observar a população carcerária, constatou que cerca <strong>de</strong> 95% <strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>tentos são das camadas mais pobres da população. Entretanto, apenas 5% <strong>do</strong>s<br />
favela<strong>do</strong>s <strong>de</strong>linqüem.”<br />
A conclusão a que se chega é a que a pobreza não é causa <strong>de</strong> crime, pois, se<br />
assim o fosse, to<strong>do</strong>s os pobres cometeriam crimes, o que não acontece. Mas,<br />
certamente a situação <strong>de</strong> pobreza contribui para a prática <strong>de</strong> crime, porque os 95%<br />
<strong>de</strong> encarcera<strong>do</strong>s são provenientes da classe mais humil<strong>de</strong>.<br />
O mesmo se po<strong>de</strong> dizer relativamente à educação, à instrução, à formação<br />
religiosa etc., fatores que, presentes ou ausentes, terão relevância para a formação<br />
<strong>do</strong>s contensores inter<strong>no</strong>s, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais fatores exóge<strong>no</strong>s ou ambientais.<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fatores individuais, tais como a hereditarieda<strong>de</strong>, o temperamento,<br />
o caráter, a educação, e outros, existe uma inegável influência <strong>do</strong>s fatores sociais,<br />
que a própria socieda<strong>de</strong> engendra e <strong>de</strong>senvolve, através das pressões que exerce<br />
sobre os indivíduos.<br />
15
Nem por isso será correto falar-se <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> criminógena, em senti<strong>do</strong><br />
estrito. Mais acerta<strong>do</strong> será dizer socieda<strong>de</strong> gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> fatores criminóge<strong>no</strong>s. Não<br />
se po<strong>de</strong> negar o fato <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> gera e <strong>de</strong>senvolve fatores que exercem<br />
pressão sobre os indivíduos. É fácil constatar que a socieda<strong>de</strong> se caracteriza pela<br />
mutação, pela instabilida<strong>de</strong> e pela <strong>de</strong>sorganização.<br />
Os problemas <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong>mográficos e da urbanização são<br />
também assinaladamente iguais e <strong>de</strong>terminam as mesmas conseqüências: em to<strong>do</strong>s<br />
os lugares procura-se fugir ao cumprimento das leis, seja pelo fato <strong>de</strong> haver<br />
exagera<strong>do</strong> número <strong>de</strong>las, oprimin<strong>do</strong> os cidadãos, seja em razão <strong>de</strong> confrontar-se a<br />
<strong>no</strong>rmatização com o interesse particular contraria<strong>do</strong>, ou ainda porque as leis não se<br />
i<strong>de</strong>ntificam com a realida<strong>de</strong> que preten<strong>de</strong>m <strong>no</strong>rmatizar.<br />
Todas as pessoas praticam diariamente algum tipo <strong>de</strong> comportamento<br />
contrário às <strong>no</strong>rmas vigentes, tais como pequenas infrações <strong>de</strong> trânsito (estacionar<br />
em fila dupla ou em lugar proibi<strong>do</strong>; percorrer um trecho na contramão, ultrapassar<br />
pela direita; exce<strong>de</strong>r a velocida<strong>de</strong> permitida); obtenção <strong>de</strong> alguma vantagem<br />
in<strong>de</strong>vida, mediante peque<strong>no</strong>s subor<strong>no</strong>s; <strong>de</strong>srespeitar a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> preferência <strong>de</strong><br />
chegada em balcões ou outros locais <strong>de</strong> atendimento; comprar merca<strong>do</strong>rias<br />
estrangeiras contraban<strong>de</strong>adas, comprar moedas estrangeiras <strong>no</strong> manual, e muitos<br />
outros tipos <strong>de</strong> comportamentos transgressores <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r relevância.<br />
Estes comportamentos <strong>de</strong>sviantes, assumi<strong>do</strong>s por bons cidadãos, dão uma<br />
idéia da a<strong>no</strong>mia existente, significan<strong>do</strong> que os indivíduos não observam fielmente as<br />
<strong>no</strong>rmas <strong>de</strong> conduta preconizadas, geran<strong>do</strong> o fenôme<strong>no</strong> aludi<strong>do</strong> por Durkhein, um<br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> confusão, <strong>de</strong> alegalida<strong>de</strong>, em que as pessoas procuram agir para<br />
satisfazer seus próprios interesses ou agem conforme seus valores ou fins, em<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s casos, sem se importarem com o prejuízo que possam causar aos<br />
semelhantes. Esse fenôme<strong>no</strong> social – a a<strong>no</strong>mia – é fator criminóge<strong>no</strong>, e resulta, ou<br />
po<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> duas situações:<br />
• o indivíduo se encontra imerso em <strong>no</strong>rmas que procura respeitar,<br />
meticulosamente, até que se torna impossível obe<strong>de</strong>cer a todas e, aos<br />
poucos, <strong>de</strong>rroga por conta própria algumas <strong>de</strong>las;<br />
16
• a impunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s transgressores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que conhecida, incentiva a<br />
<strong>de</strong>sobediência, geran<strong>do</strong> o que se convencio<strong>no</strong>u chamar <strong>de</strong><br />
transparência das <strong>no</strong>rmas.<br />
Historicamente, todas as socieda<strong>de</strong>s, <strong>no</strong> seu tempo e ao seu mo<strong>do</strong>,<br />
engendram fatores criminóge<strong>no</strong>s. Os hábitos e condutas privativas <strong>do</strong>s <strong>no</strong>bres, pelo<br />
contágio hierárquico, passaram para a burguesia, tornan<strong>do</strong>-se comuns os saques,<br />
as violações, os seqüestros, a embriaguez, comportamentos que não acarretavam<br />
punições para os <strong>no</strong>bres, mas que se tornaram crimi<strong>no</strong>sos quan<strong>do</strong> cometi<strong>do</strong>s pelos<br />
homens <strong>do</strong> povo.<br />
Ainda hoje se verificam comportamentos <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong>sviante, pratica<strong>do</strong>s por<br />
pessoas altamente situadas nas esferas governamentais e políticas, que não são<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>lituosos, mas violam o sentimento <strong>de</strong> justiça da comunida<strong>de</strong>. Esses<br />
comportamentos <strong>de</strong>sviantes atuam, por contágio hierárquico, como fatores<br />
criminóge<strong>no</strong>s, estimulan<strong>do</strong> ações crimi<strong>no</strong>sas <strong>de</strong> indivíduos das classes inferiores,<br />
por imitação, convenci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que a impunida<strong>de</strong> é a regra.<br />
Uma ressalva <strong>de</strong>ve ser feita. A pressão exercida pela socieda<strong>de</strong> é igual sobre<br />
to<strong>do</strong>s os indivíduos <strong>de</strong> uma mesma classe. Tal pressão, todavia, estimulará reações<br />
diversas aos fatores engendra<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da fatoração individual<br />
condicionante. Daí porque alguns serão vulneráveis e outros não, o que explica o<br />
fato <strong>de</strong>, em uma mesma família, um membro estar em conflito com a lei e o outro ser<br />
seu fiel segui<strong>do</strong>r.<br />
Os fatores criminóge<strong>no</strong>s predisponentes <strong>de</strong> cunho individual que são<br />
encontra<strong>do</strong>s nas personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>linqüentes, com expressiva regularida<strong>de</strong>, são: a)<br />
egocentrismo; b) labilida<strong>de</strong>; c) agressivida<strong>de</strong>; d) indiferença afetiva.<br />
Sobre cada uma das características nucleares <strong>de</strong>ssa personalida<strong>de</strong> atuam os<br />
fatores sociais, dinamizan<strong>do</strong> as potencialida<strong>de</strong>s existentes. O egocentrismo é<br />
dinamiza<strong>do</strong> pelos fatores: massificação, a<strong>no</strong>mia, contágio hierárquico, lesão <strong>do</strong><br />
sentimento <strong>de</strong> justiça, pelo progresso científico e técnico que oprime o ego,<br />
potencializan<strong>do</strong> a covardia <strong>do</strong> medíocre que se resigna, mas que impulsiona outros<br />
à fuga através das drogas ou, ainda, que provoca a reação violenta <strong>do</strong>s que não<br />
suportam a pressão e <strong>de</strong>scambam para o comportamento crimi<strong>no</strong>so.<br />
17
A socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> bem-estar coloca a meta da felicida<strong>de</strong> na satisfação imediata<br />
<strong>do</strong> prazer <strong>do</strong> momento. Os indivíduos são estimula<strong>do</strong>s pela propaganda, que cria<br />
<strong>de</strong>sejos artificiais, modifican<strong>do</strong> o ritmo <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong>, transforman<strong>do</strong>-a em<br />
uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, sempre com <strong>no</strong>vas ondas <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />
engendradas pela moda, pela pressão <strong>do</strong>s <strong>no</strong>ticiários sensacionalistas, pelas<br />
contínuas mudanças e o rápi<strong>do</strong> envelhecimento das <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s, dan<strong>do</strong> margem à<br />
instabilida<strong>de</strong> e à futilida<strong>de</strong>; a licenciosida<strong>de</strong> e permissivida<strong>de</strong>; o pensar pouco e o ler<br />
pouco. Os vazios são preenchi<strong>do</strong>s, erradamente, através <strong>de</strong> sensações alimentadas,<br />
permanentemente, por gastos excessivos, <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> lastro da experiência<br />
moral, dan<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> comportamentos crimi<strong>no</strong>sos.<br />
Elementos <strong>no</strong>rmais, e até mesmo essenciais, integrantes da personalida<strong>de</strong><br />
humana ajustada, como a agressivida<strong>de</strong> sadia, po<strong>de</strong>m converter-se em<br />
manifestações anti-sociais quan<strong>do</strong> pressiona<strong>do</strong>s pelos fatores gera<strong>do</strong>s pela<br />
socieda<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, as ativida<strong>de</strong>s diárias <strong>do</strong> homem na socieda<strong>de</strong> acumulam<br />
carga emocional resultante das frustrações e da excessiva competição, causan<strong>do</strong><br />
fadiga e esgotamento. A ansieda<strong>de</strong> e a angústia elevam o nível <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>rmal e, não raramente, levam à prática <strong>de</strong> crimes ti<strong>do</strong>s como imotiva<strong>do</strong>s e que<br />
frequentemente são <strong>no</strong>ticia<strong>do</strong>s pelos jornais.<br />
A indiferença afetiva, frequentemente observada <strong>no</strong>s crimi<strong>no</strong>sos multi-<br />
reinci<strong>de</strong>ntes, é estimulada pela ação da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Tal carência se torna<br />
mais expressiva quan<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> impõe, através <strong>do</strong> seu mecanismo <strong>de</strong> atuação<br />
dinâmica, o afastamento <strong>do</strong>s homens, uns <strong>do</strong>s outros, os aproxima<strong>do</strong> apenas<br />
superficialmente.<br />
Os fatores criminóge<strong>no</strong>s <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> fatos e <strong>de</strong> circunstâncias opera<strong>do</strong>s na<br />
socieda<strong>de</strong>, tais como a indiferença afetiva, a pobreza econômica e cultural, os meios<br />
<strong>de</strong> comunicação, a oposição juvenil e o contágio hierárquico, reservan<strong>do</strong>-se, ainda,<br />
uma parcela <strong>de</strong> influência à a<strong>no</strong>mia e ao <strong>de</strong>ficiente funcionamento das agências <strong>de</strong><br />
controle social, frutos da edição <strong>de</strong> leis penais discriminatórias ou <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />
equacionamento da administração da justiça criminal através <strong>do</strong>s subsistemas<br />
policial, judiciário e penitenciário.<br />
18
1.3 Ocasiões Criminais<br />
As ocasiões criminais são aqueles momentos ou situações propícias para o<br />
crime. Pinatel apud Farias Júnior (2001, p. 100) constatou que:<br />
• O clima ou estação quentes favorecem os crimes contra a pessoa, enquanto<br />
o clima frio predispõe mais à prática <strong>de</strong> crime contra patrimônio.<br />
• Em relação à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica, quanto mais elevada é a população,<br />
mais propícias são as ocasiões criminais, valen<strong>do</strong> dizer que o índice <strong>de</strong><br />
criminalida<strong>de</strong> aumenta numa proporção geométrica, na medida das<br />
concentrações humanas. Já nas regiões <strong>de</strong> rarefação populacional, nas<br />
zonas rurais pobres, as ocasiões criminais diminuem e o nível <strong>de</strong>linquencial é<br />
baixíssimo.<br />
• A elevação <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> vida corre paralela à elevação <strong>do</strong> nível da<br />
criminalida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> econômica não tem por efeito<br />
somente melhorar o nível <strong>de</strong> vida; é a fonte <strong>de</strong> ocasiões suplementares <strong>de</strong><br />
criminalida<strong>de</strong>, pela multiplicação das condições <strong>de</strong> interesses que engendra.<br />
• Existe um la<strong>do</strong> <strong>no</strong>civo da riqueza, quan<strong>do</strong> esta se abastarda pela ganância,<br />
pela volúpia <strong>do</strong> ganho fácil e <strong>de</strong>riva para as explorações, as frau<strong>de</strong>s, as<br />
falsificações e para os insidiosos, sórdi<strong>do</strong>s atos clan<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s com engenhosas<br />
articulações para explorar e enganar.<br />
• As convulsões sociais, tais como as guerras, revoluções, as turbulências e<br />
outros fenôme<strong>no</strong>s <strong>de</strong> massa social, suscitam ocasiões para crimes. Alguns<br />
atos crimi<strong>no</strong>sos são pratica<strong>do</strong>s durante e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma guerra por aqueles<br />
que se aproveitam da convulsão para roubar, matar, estuprar, <strong>de</strong>struir etc.<br />
• O uso <strong>de</strong> drogas e <strong>do</strong> álcool está igualmente subordina<strong>do</strong> às ocasiões,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a sua iniciação das companhias, <strong>do</strong> momento, <strong>do</strong> local, <strong>do</strong>s<br />
influxos suasórios etc. São elevadíssimos os índices <strong>de</strong> alcoólicos e<br />
toxicôma<strong>no</strong>s com po<strong>de</strong>rosos reflexos na criminalida<strong>de</strong>.<br />
19
• O crimi<strong>no</strong>so profissional faz <strong>do</strong> crime profissão. Não exerce a sua ativida<strong>de</strong><br />
sozinho, preferin<strong>do</strong> formar grupo, alician<strong>do</strong> ou recrutan<strong>do</strong> cúmplices, e, neste<br />
caso, as ocasiões eleitas são programadas. O sucesso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da precisão<br />
<strong>do</strong> pla<strong>no</strong>. Os mais espertos evitam a morte <strong>de</strong> pessoas nas suas investidas<br />
porque o que querem é a fruição <strong>de</strong> uma vantagem patrimonial, e se houver<br />
morte não escaparão com facilida<strong>de</strong>.<br />
Como ressalta Ferri (2006, p. 127), o crimi<strong>no</strong>so profissional “[...] não distingue<br />
uma ativida<strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sa <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> honesta, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua insensibilida<strong>de</strong><br />
moral; nunca acredita na sua prisão, na sua punibilida<strong>de</strong>, mas se acontecer, encara<br />
a prisão como um risco natural, um aci<strong>de</strong>nte inerente ou próprio <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>”.<br />
1.4 Conduta <strong>do</strong>s Crimi<strong>no</strong>sos<br />
A conduta <strong>de</strong> um indivíduo é a maneira como ele se comporta, age, reage e<br />
expressa às atitu<strong>de</strong>s <strong>no</strong> meio social. A conduta <strong>do</strong> indivíduo retrata a sua<br />
personalida<strong>de</strong>.<br />
Um indivíduo tem uma conduta <strong>no</strong>rmal quan<strong>do</strong> ele respeita as <strong>no</strong>rmas e os<br />
padrões sociais <strong>do</strong> meio on<strong>de</strong> ele vive. A a<strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong> é, então, o <strong>de</strong>svio <strong>do</strong>s<br />
padrões <strong>de</strong> comportamento socialmente aceitáveis. Ela é caracterizada pela<br />
ineficiência <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho das funções biopsicológicas e da interação social.<br />
Contu<strong>do</strong>, é preciso que essa ineficiência seja persistente e o comportamento seja<br />
inerente a todas as pessoas.<br />
Segun<strong>do</strong> Farias Júnior (2001, p. 291), “[...] existem vários tipos <strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sos,<br />
entre eles o crimi<strong>no</strong>so exóge<strong>no</strong> circunstancial, o crimi<strong>no</strong>so exóge<strong>no</strong> mesológico, os<br />
crimi<strong>no</strong>sos mesoendóge<strong>no</strong>s, os crimi<strong>no</strong>sos com personalida<strong>de</strong> neurótica e os<br />
crimi<strong>no</strong>sos patoendóge<strong>no</strong>s”.<br />
O crimi<strong>no</strong>so exóge<strong>no</strong> circunstancial é aquele indivíduo psicossomaticamente<br />
<strong>no</strong>rmal, que tem seu relacionamento <strong>no</strong>rmal com a família e com a socieda<strong>de</strong>, mas<br />
ocasionalmente ele vem a cometer crimes. Tal <strong>de</strong>linqüente po<strong>de</strong> ser chama<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>rmal, mesmo ten<strong>do</strong> ocasionalmente pratica<strong>do</strong> crimes. Para ser enquadra<strong>do</strong> neste<br />
20
tipo, além das características acima, o crimi<strong>no</strong>so <strong>de</strong>ve ser primário, não corrompi<strong>do</strong><br />
e não perverso. O exóge<strong>no</strong> circunstancial não é, portanto, perigoso.<br />
O crimi<strong>no</strong>so exóge<strong>no</strong> mesológico tem como característica principal a falta <strong>de</strong><br />
formação moral. Dessa característica <strong>de</strong>correm as <strong>de</strong>mais, que são a falta <strong>de</strong> senso<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> reprovabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus atos, <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, a<br />
refratarieda<strong>de</strong> ao trabalho, dificilmente estrutura família, dificilmente se entrega<br />
espontaneamente à polícia e confessa seus crimes pacificamente, não tem me<strong>do</strong> da<br />
pena <strong>de</strong> prisão como risco inerente à sua ativida<strong>de</strong>, não distingue a ativida<strong>de</strong> lícita<br />
da ilícita e se torna habitual ou profissional <strong>no</strong> crime.<br />
Lanyir apud Sznick (1996, p. 43), referin<strong>do</strong>-se aos <strong>de</strong>linqüentes habituais,<br />
escreve: “[...] indubitavelmente que, perante a reincidência e a habitualida<strong>de</strong> <strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>lito, nada po<strong>de</strong> o direito penal que <strong>no</strong>s rege”.<br />
Os pressupostos <strong>de</strong> periculosida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser reconheci<strong>do</strong>s pelos três<br />
parâmetros: Multi-reincidência, Personalida<strong>de</strong> Corrompida e Personalida<strong>de</strong><br />
Perversa.<br />
A habitualida<strong>de</strong> ou a pertinaz reincidência atesta que o crimi<strong>no</strong>so não é<br />
circunstancial, não é ocasional, mas está <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por uma tendência<br />
profundamente radicada para o cometimento <strong>do</strong> crime.<br />
A personalida<strong>de</strong> corrompida se conhece através <strong>do</strong>s antece<strong>de</strong>ntes, da história<br />
pregressa <strong>de</strong> sua vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a vida <strong>do</strong>s pais, <strong>do</strong> local on<strong>de</strong> nasceu, on<strong>de</strong> se criou,<br />
as pessoas com as quais conviveu, episódios em que foi envolvi<strong>do</strong>, a sua<br />
insensibilida<strong>de</strong> moral, até chegar aos motivos <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong>s fatos.<br />
A personalida<strong>de</strong> perversa é a revelada pela ín<strong>do</strong>le torpe, malvada, impie<strong>do</strong>sa,<br />
cruel, <strong>de</strong>sumana e inferida pelos motivos, ou meios ou mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> execução <strong>do</strong> crime.<br />
Os crimi<strong>no</strong>sos mesoendóge<strong>no</strong>s são personalida<strong>de</strong> psicopáticas ou neuróticas<br />
que inci<strong>de</strong>m em crimes. São insa<strong>no</strong>s constitucionais.<br />
Para Silva (1975 apud Faria Júnior, 2001, p. 297), “[...] as personalida<strong>de</strong>s<br />
psicopáticas não constituem uma entida<strong>de</strong> uniforme, mas <strong>de</strong>limitam-se como um<br />
grupo mórbi<strong>do</strong>, algo semelhante aos das esquizofrenias”.<br />
21
O porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> psicopática não é um <strong>do</strong>ente mental, mas um<br />
ser com <strong>de</strong>ficiência nativa e permanente para viver e comportar-se <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />
satisfatório como o comum das pessoas.<br />
Segun<strong>do</strong> Silva apud Faria Júnior (2001, p. 298), “[...] este tipo <strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>so<br />
possui pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se auto<strong>de</strong>terminar, uma vez que não se ajusta às<br />
<strong>no</strong>rmas da socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> bom senso; contraste entre o ser real <strong>do</strong> indivíduo e a<br />
aparência <strong>de</strong> suas exteriorizações <strong>de</strong>vidas à propensão para enganar os seus<br />
circunstantes e a si mesmo; ele é incapaz <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> autêntica, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
apresentar superiorida<strong>de</strong>s ilusórias”.<br />
As personalida<strong>de</strong>s neuróticas <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> experiências<br />
emocionais traumatizantes, tensões, fatalida<strong>de</strong>s, circunstâncias infelizes e<br />
insuportáveis ou acumulação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraças. No entanto, as neuroses não <strong>de</strong>correm<br />
apenas <strong>do</strong>s fatores exter<strong>no</strong>s. É preciso que haja predisposição endógena para que<br />
os influxos exóge<strong>no</strong>s traumatizantes surtam efeitos.<br />
Existem, ainda, os crimi<strong>no</strong>sos patoendóge<strong>no</strong>s que são aqueles que, por<br />
<strong>do</strong>ença mental ou por <strong>de</strong>senvolvimento mental incompleto ou retarda<strong>do</strong>, são leva<strong>do</strong>s<br />
à prática <strong>de</strong> crimes. Estão incluí<strong>do</strong>s nesse tipo os crimi<strong>no</strong>sos porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mência senil ou pré-senil; psicoses associadas com infecção intracraniana ou com<br />
afecções cerebrais; psicoses associadas com afecções somáticas; esquizofrenias<br />
em qualquer <strong>de</strong> suas formas, psicoses afetivas, ciclotímicas, circulares ou outra <strong>do</strong><br />
tipo maníaco, <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong>pressivo ou <strong>do</strong> tipo maníaco-<strong>de</strong>pressivo; eplepsia, paranóia,<br />
parafrenia; psicoses tóxicas; oligofrenias em to<strong>do</strong>s os seus estágios além das<br />
psicoses tóxicas.<br />
Observa-se que a legislação brasileira prevê que o crime é um ato huma<strong>no</strong>,<br />
imputável, pratica<strong>do</strong> com voluntarieda<strong>de</strong>, contrário à <strong>no</strong>rma jurídica e passível <strong>de</strong><br />
punição. Vários fatores influenciam <strong>no</strong> cometimento <strong>do</strong> crime, fatores individuais,<br />
sociais e também as ocasiões criminais, que são consi<strong>de</strong>radas fatores criminóge<strong>no</strong>s.<br />
Existem inúmeros tipos comportamentos crimi<strong>no</strong>sos, o que <strong>de</strong>monstra que em<br />
alguns casos o indivíduo é porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> transtor<strong>no</strong>s psicológicos e <strong>do</strong>enças mentais,<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser induzi<strong>do</strong> a cometer crimes, mesmo sem ter a <strong>de</strong>vida <strong>no</strong>ção da<br />
gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ato. No próximo capítulo será aborda<strong>do</strong> o crime a partir da ótica<br />
econômica.<br />
22
2. A ECONOMIA DO CRIME<br />
O Estu<strong>do</strong> da criminalida<strong>de</strong> assume relevância <strong>no</strong> Brasil e <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> em<br />
virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos da criminalida<strong>de</strong> para a socieda<strong>de</strong> serem eleva<strong>do</strong>s. Como<br />
exemplo, tem-se os gastos públicos e priva<strong>do</strong>s com prevenção e combate da<br />
criminalida<strong>de</strong>; prejuízos materiais, sociais etc.<br />
Entre os prejuízos sociais <strong>de</strong>stacam-se: a redução da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s<br />
indivíduos; o efeito negativo sobre a imagem <strong>de</strong> municípios <strong>de</strong>corrente da<br />
divulgação das ativida<strong>de</strong>s crimi<strong>no</strong>sas na mídia e, em <strong>de</strong>corrência, a baixa<br />
atrativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s investimentos e a fuga <strong>de</strong> turistas, com reflexos negativos sobre o<br />
emprego e a renda da região, alimentan<strong>do</strong>, ainda mais, a criminalida<strong>de</strong>.<br />
O artigo seminal <strong>de</strong> Gary Becker (1968) evi<strong>de</strong>ncia que a ativida<strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sa<br />
resulta <strong>de</strong> uma escolha racional <strong>do</strong>s indivíduos, baseada em análises custo-<br />
benefício. Os benefícios são resultantes da diferença entre os lucros obti<strong>do</strong>s com a<br />
ativida<strong>de</strong> ilícita compara<strong>do</strong>s com os provenientes da ativida<strong>de</strong> lícita. Por outro la<strong>do</strong>,<br />
os custos estariam associa<strong>do</strong>s às penalida<strong>de</strong>s impostas aos crimi<strong>no</strong>sos, em caso <strong>de</strong><br />
prisão.<br />
Ehrlich (1973) procurou examinar os efeitos das taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, níveis<br />
<strong>de</strong> rendimento e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos sobre a criminalida<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> o<br />
autor, a redução da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego e da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos teve<br />
efeito significativo sobre a redução da criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Seguin<strong>do</strong> a mesma linha, Freeman (1996) conclui que jovens em situação <strong>de</strong><br />
pobreza têm maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem presos e ir para a prisão <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s. Por sua vez, Tauchen, Witte e Griesinger (1994) encontraram resulta<strong>do</strong>s<br />
que sinalizam que, para a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>, ir para o trabalho ou para<br />
a escola ten<strong>de</strong> a reduzir a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarem envolvi<strong>do</strong>s em ativida<strong>de</strong>s<br />
crimi<strong>no</strong>sas.<br />
Herlow (2003), em um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> para o Departamento <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, constatou que 41% da população carcerária não possuía nível<br />
23
secundário, contra 18% que não possuía na população total. Por outro la<strong>do</strong>, apenas<br />
13% <strong>do</strong>s encarcera<strong>do</strong>s possuía diploma superior, contra 48% na população total.<br />
Segun<strong>do</strong> Lochner e Moretti (2004, p. 183) “Há muitas razões para esperar<br />
que a educação reduza o crime. Através <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s salários, a educação<br />
aumenta o custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crime e o custo <strong>do</strong> tempo <strong>de</strong>spendi<strong>do</strong> na<br />
prisão”. Em seu estu<strong>do</strong>, os autores mostraram que não terminar o nível secundário<br />
<strong>do</strong>bra as chances <strong>de</strong> um indivíduo ser preso por cometer um crime violento <strong>no</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e que a educação reduz significativamente a ativida<strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sa.<br />
De acor<strong>do</strong> com Becker (1968) “[...] o crime po<strong>de</strong> ser classifica<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is<br />
grupos: o lucrativo ou econômico e o não-lucrativo ou não-econômico”. Os crimes<br />
econômicos são o furto, roubo ou extorsão, usurpação, apropriação indébita,<br />
estelionato, receptação, crimes contra a proprieda<strong>de</strong> imaterial, contra a fé pública,<br />
contra a administração pública, tráfico <strong>de</strong> entorpecentes. Os crimes não-econômicos<br />
são to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais, como homicídios, estupro, tortura etc.<br />
O crimi<strong>no</strong>so econômico po<strong>de</strong> ser visto como um empresário, que atua com o<br />
objetivo <strong>de</strong> adquirir vantagens lucrativas e assume os riscos inerentes a sua<br />
profissão. Ele <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> racionalmente cometer o crime, aproveita as oportunida<strong>de</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> aparecem, sem se preocupar com o la<strong>do</strong> moral <strong>do</strong> seu ato. Este crimi<strong>no</strong>so<br />
não é uma vítima influenciada por circunstâncias.<br />
Para Balbi<strong>no</strong>tto Neto (2003, p.1):<br />
[...] os indivíduos se tornam assaltantes e crimi<strong>no</strong>sos por que os benefícios<br />
<strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s são compensa<strong>do</strong>res quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com outras<br />
ativida<strong>de</strong>s ilegais, quan<strong>do</strong> são leva<strong>do</strong>s em conta os riscos, a probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> apreensão, <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação e a severida<strong>de</strong> da pena imposta. Assim, para<br />
os eco<strong>no</strong>mistas, os crimes são um grave problema para a socieda<strong>de</strong> por<br />
que, em certa medida, vale a pena cometê-los e que os mesmos implicam<br />
em significativos custos em termos sociais. O argumento básico da<br />
abordagem econômica <strong>do</strong> crime é que os infratores reagem aos incentivos,<br />
tanto positivos como negativos e que o número <strong>de</strong> infrações cometidas é<br />
influenciada pela alocação <strong>de</strong> recursos públicos e priva<strong>do</strong>s para fazer frente<br />
ao cumprimento da lei e <strong>de</strong> outros meios <strong>de</strong> preveni-los ou para dissuadir os<br />
indivíduos a cometê-los. Para os eco<strong>no</strong>mistas, o comportamento crimi<strong>no</strong>so<br />
não é visto como uma atitu<strong>de</strong> simplesmente emotiva, irracional ou antisocial,<br />
mas sim como uma ativida<strong>de</strong> eminentemente racional.<br />
Para Fernan<strong>de</strong>z (1998, p. 68) “[...] numa ativida<strong>de</strong> criminal está implícito o<br />
princípio he<strong>do</strong>nístico o máximo ganho com o mínimo <strong>de</strong> esforço, isto para varia<strong>do</strong>s<br />
graus <strong>de</strong> risco”.<br />
24
Para Balbi<strong>no</strong>tto Neto (2003), [...] a análise econômica <strong>do</strong> crime baseia-se<br />
fortemente na relação <strong>de</strong>lito-punição como <strong>de</strong>terminante da taxa criminal, em que a<br />
eficácia policial e judicial relaciona-se com a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s benefícios da<br />
ativida<strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sa suplantarem seus custos e compensarem o risco estipula<strong>do</strong>.<br />
Assim, quanto maior o nível da ativida<strong>de</strong> econômica crimi<strong>no</strong>sa, maior também será a<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentos <strong>no</strong>s índices <strong>de</strong> crimes”.<br />
Para Fernan<strong>de</strong>z (1998, p. 69) “[...] a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar atenta aos<br />
elementos coibi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> crime, como a estruturação <strong>do</strong>s aparatos policiais,<br />
formação educacional, oferta <strong>de</strong> trabalho, urbanização planejada, distribuição <strong>de</strong><br />
renda, etc.”.<br />
De acor<strong>do</strong> com Borilli e Shikida (2006, p. 4)<br />
25<br />
[...] a me<strong>no</strong>r ou maior incidência das ativida<strong>de</strong>s ilícitas está<br />
diretamente relacionada aos benefícios líqui<strong>do</strong>s provenientes<br />
<strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>. Assim como outra ativida<strong>de</strong> econômica qualquer,<br />
os ganhos da ativida<strong>de</strong> empresarial <strong>do</strong> crime são incertos e<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m essencialmente da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong> suas<br />
operações. Sen<strong>do</strong> que esta probabilida<strong>de</strong> está diretamente<br />
relacionada <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> com o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> crimi<strong>no</strong>so e <strong>de</strong><br />
outro la<strong>do</strong> com a eficácia policial e efetivida<strong>de</strong> da justiça.<br />
Para Engel (2003, p. 9-10) das correntes <strong>de</strong> pensamento econômico que<br />
discutem a eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>stacada três:<br />
- Uma <strong>de</strong> origem marxista, que acredita que o aumento da criminalida<strong>de</strong> está<br />
relacionada às características <strong>do</strong> processo capitalista e é resulta<strong>do</strong> direto das<br />
alterações <strong>do</strong> comportamento empresarial <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> pós-industrial. Os cientistas<br />
enquadra<strong>do</strong>s nesta corrente <strong>de</strong> pensamento acreditam que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o processo<br />
empresarial centraliza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> capital e os avanços tec<strong>no</strong>lógicos resultantes, os<br />
ambientes sociais tornaram-se mais propensos às ativida<strong>de</strong>s crimi<strong>no</strong>sas. Segun<strong>do</strong><br />
esta linha <strong>de</strong> pensamento, o convívio social <strong>do</strong> capitalismo pós-industrial incentivou<br />
a chamada <strong>de</strong>generação moral e assim permitiu o crescimento da ativida<strong>de</strong><br />
crimi<strong>no</strong>sa.<br />
- Outra corrente, mais ampla, associa o aumento da criminalida<strong>de</strong> a<br />
problemas estruturais e conjunturais, tais como índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego,<br />
analfabetismo e baixos níveis <strong>de</strong> renda, bem como a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Po<strong>de</strong>-se
ainda relacionar a esta corrente as ineficiências policiais e judiciais, que contribuem<br />
para a manutenção e crescimento das organizações crimi<strong>no</strong>sas.<br />
- E uma terceira e importante corrente <strong>de</strong> pensamento da eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime<br />
analisa a prática <strong>de</strong> crimes lucrativos como ativida<strong>de</strong> ou setor da eco<strong>no</strong>mia como<br />
qualquer outra ativida<strong>de</strong> econômica tradicional. O crimi<strong>no</strong>so é então o empresário na<br />
ativida<strong>de</strong> – é ele quem mobiliza recursos, assume riscos e objetiva lucros nesse<br />
setor ilegal da eco<strong>no</strong>mia. Sen<strong>do</strong> assim, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> quanto “investir” na ativida<strong>de</strong><br />
ilícita <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá diretamente da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso na ativida<strong>de</strong>, ou risco<br />
inerente a ela, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá principalmente da eficiência da polícia e da<br />
efetivida<strong>de</strong> da justiça.<br />
A teoria <strong>do</strong> crime, fundamentada basicamente em mo<strong>de</strong>lagens matemáticas,<br />
obteve recentemente alguns avanços <strong>no</strong> estu<strong>do</strong> da criminalida<strong>de</strong>. Esses mo<strong>de</strong>los<br />
po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>do</strong>s em quatro grupos distintos.<br />
- Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> alocação ótima <strong>do</strong> tempo – postula que o indivíduo escolhe<br />
quanto <strong>do</strong> seu tempo ele <strong>de</strong>verá alocar em uma ativida<strong>de</strong> econômica, seja legal ou<br />
ilegal, procuran<strong>do</strong> maximizar sua função <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> esperada, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,<br />
fundamentalmente, <strong>do</strong>s rendimentos das ativida<strong>de</strong>s legal e ilegal – a atuação <strong>no</strong><br />
setor ilegal ocorrerá se os custos <strong>de</strong> operação nessa ativida<strong>de</strong> forem me<strong>no</strong>res que<br />
seus benefícios;<br />
- Mo<strong>de</strong>lo Comportamental – procura explicar a ativida<strong>de</strong> criminal através das<br />
interações sociais. Segun<strong>do</strong> Glaser (1999 apud Araújo Jr. e Fainzylber 2000, p. 632)<br />
“[...] a alta variância nas taxas <strong>de</strong> crime, através <strong>do</strong> espaço, é evidência da<br />
existência <strong>de</strong> interações sociais entre os crimi<strong>no</strong>sos, neste caso, os indivíduos<br />
cometem crimes em função <strong>de</strong> seus próprios atributos e das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> seus<br />
vizinhos ou pares”;<br />
- Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Migração – os indivíduos irão avaliar as oportunida<strong>de</strong>s<br />
disponíveis <strong>no</strong>s setores legal e ilegal e po<strong>de</strong>rão migrar para a ativida<strong>de</strong> criminal se<br />
os ganhos espera<strong>do</strong>s superarem os custos <strong>de</strong> migração, <strong>no</strong> qual estão inclusos os<br />
custos financeiros e não financeiros;<br />
- Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Portfólio – a <strong>de</strong>cisão individual <strong>de</strong> participar <strong>do</strong> crime ocorrerá<br />
mediante a escolha <strong>de</strong> quanto da riqueza <strong>de</strong>ve ser alocada <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> legal e<br />
26
ilegal, sen<strong>do</strong> o envolvimento numa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cunho ilegal uma operação<br />
consi<strong>de</strong>rada mais arriscada (FERNANDEZ e PEREIRA, 2000).<br />
Be<strong>no</strong>ît e Osborne (1995), salientam que a ativida<strong>de</strong> criminal po<strong>de</strong> ser<br />
controlada através <strong>de</strong> punição severa e rígida e por investimentos sociais que<br />
contribuam para a redistribuição <strong>de</strong> renda, isto aumentaria o custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> crime.<br />
No Brasil poucos trabalhos abordam o tema da criminalida<strong>de</strong> sob uma ótica<br />
econômica em razão <strong>do</strong> tema ser relativamente <strong>no</strong>vo e também pela escassez <strong>de</strong><br />
bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre crimi<strong>no</strong>logia <strong>no</strong> país. Porém existem alguns trabalhos <strong>de</strong><br />
muita relevância para pesquisas como o <strong>de</strong> Fajnzylber e Araujo Jr. (2001), que<br />
realizaram um estu<strong>do</strong> sobre o crime e a violência nas microrregiões mineiras,<br />
citan<strong>do</strong> que: “[...] maiores níveis educacionais estão associa<strong>do</strong>s a maiores salários e,<br />
portanto, a maiores custos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a ativida<strong>de</strong> criminal. Além disso, a<br />
educação po<strong>de</strong> ter o efeito <strong>de</strong> aumentar o custo “moral” associa<strong>do</strong> à participação em<br />
ativida<strong>de</strong>s ilegais.” (FAJNZYLBER; ARAUJO JR., 2001, p.17).<br />
Soares (2007) investigou a relação entre educação e criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> Brasil,<br />
procuran<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar se indivíduos mais educa<strong>do</strong>s têm me<strong>no</strong>res chances <strong>de</strong> serem<br />
vítimas <strong>de</strong> homicídio. O autor finaliza a pesquisa mencionan<strong>do</strong> que “[...] A única<br />
conclusão – tentativa – é que a educação formal parece ter um efeito redutor muito<br />
forte sobre a taxa <strong>de</strong> homicídio, e que isto possivelmente se <strong>de</strong>va ao papel<br />
socializa<strong>do</strong>r da escola.” (SOARES, 2007, p. 28).<br />
No Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, em pesquisa realizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong>-PR para<br />
analisar a eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime sob a ótica das circunstâncias econômicas da prática<br />
crimi<strong>no</strong>sa, Schaefer e Shikida (2000) verificaram que os crimes econômicos mais<br />
comuns foram o tráfico <strong>de</strong> drogas, segui<strong>do</strong>s pelo furto e roubo, estes crimes foram<br />
pratica<strong>do</strong>s por homens brancos, a maioria jovens que tinham religião e família. Os<br />
entrevista<strong>do</strong>s possuíam baixo nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, sugerin<strong>do</strong> que maiores níveis<br />
educacionais po<strong>de</strong>m coibir a criminalida<strong>de</strong>.<br />
Entre os motivos que levaram os entrevista<strong>do</strong>s a migrarem para ativida<strong>de</strong>s<br />
crimi<strong>no</strong>sas os <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque são a indução <strong>de</strong> amigos, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar<br />
<strong>no</strong> orçamento familiar e o ganho fácil. Alguns <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s alegaram, ainda,<br />
terem entra<strong>do</strong> nesse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> por tolice e <strong>de</strong>satenção.<br />
27
De acor<strong>do</strong> com Schaefer e Shikida (2000, p. 212), “[...] surpreen<strong>de</strong>u o fato <strong>de</strong><br />
um expressivo percentual <strong>de</strong> entrevista<strong>do</strong>s estarem trabalhan<strong>do</strong> na época que<br />
praticaram o crime. Embora uma pequena fração tenha como motivo para a prática<br />
<strong>do</strong> crime o fato <strong>de</strong> estarem <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s, a relação crime-<strong>de</strong>semprego não se<br />
verificou tão fortemente neste estu<strong>do</strong>. Mas as profissões <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s sugerem<br />
baixos salários”.<br />
Em outro estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> nas Penitenciárias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná<br />
(Penitenciária Estadual <strong>de</strong> Piraquara, Penitenciária Central <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e<br />
Penitenciária Feminina <strong>de</strong> Piraquara), on<strong>de</strong> foram entrevista<strong>do</strong>s presos que<br />
cumprem penas por crimes <strong>de</strong> natureza econômica, Shikida e Borilli (2005) também<br />
observaram que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s eram jovens até 28 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>, brancos e com escolarida<strong>de</strong> somente até o ensi<strong>no</strong><br />
fundamental.<br />
Observan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s autores cita<strong>do</strong>s, <strong>no</strong>ta-se que os jovens <strong>do</strong> sexo<br />
masculi<strong>no</strong>, estão mais propensos a ingressarem na criminalida<strong>de</strong>, geralmente por<br />
não verem perspectiva <strong>de</strong> melhora <strong>de</strong> situação econômica, por possuírem baixos<br />
níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e andarem com más companhias.<br />
Para Fernan<strong>de</strong>z e Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> (1999), as principais causas para as pessoas<br />
<strong>de</strong>cidirem praticar o crime <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> drogas estão tanto nas razões individuais<br />
como nas <strong>de</strong> cunho social. As causas <strong>de</strong> cunho social estão ligadas a fatores como<br />
pobreza, <strong>de</strong>semprego e ig<strong>no</strong>rância. As razões individuais são: cobiça; ambição;<br />
ganho fácil, entre outras.<br />
Araújo Jr. e Fainzylber (2000) constataram que maiores níveis educacionais<br />
implicam me<strong>no</strong>res taxas <strong>de</strong> crime contra a proprieda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda<br />
está associada a maiores taxas <strong>de</strong> homicídios e me<strong>no</strong>res taxas <strong>de</strong> roubo <strong>de</strong><br />
veículos.<br />
Na próxima seção será efetua<strong>do</strong> um breve histórico <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Rolandia<br />
apresentan<strong>do</strong> os principais motivos que contribuíram para o crescimento da<br />
criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município.<br />
28
3. HISTÓRICO<br />
3.1 Histórico <strong>do</strong> <strong>Município</strong> <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong><br />
O município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> foi funda<strong>do</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1934, pela Companhia <strong>de</strong><br />
Terras Norte <strong>do</strong> Paraná. O <strong>no</strong>me <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> é <strong>de</strong> origem germânica, <strong>no</strong>me da<strong>do</strong><br />
em homenagem a Roland, legendário herói alemão, que na Ida<strong>de</strong> Média guerreava<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu tio, Carlos Mag<strong>no</strong>, e seu lema era lutar pela “Liberda<strong>de</strong> e Justiça”.<br />
Logo que foi fundada a cida<strong>de</strong> e construída a primeira casa o número <strong>de</strong><br />
habitantes foi crescen<strong>do</strong> a cada a<strong>no</strong>. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1936 <strong>Rolândia</strong> já possuía diversas<br />
casas comerciais, sen<strong>do</strong> que o número <strong>de</strong> residências nesta época era <strong>de</strong> 277.<br />
<strong>Rolândia</strong> teve seu crescimento estaciona<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1939. Para<br />
Schwengber (2003, p. 34), “[...] muitos consi<strong>de</strong>raram que este fato foi ocasiona<strong>do</strong><br />
pelo surto <strong>de</strong> tifo que assolou a região e afatou temporariamente os compra<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
terra, mas outro fator que teve gran<strong>de</strong> influência foi a Segunda Guerra Mundial e as<br />
severas restrições impostas pela Alemanha à emigração tanto <strong>de</strong> alemães como <strong>de</strong><br />
alemães-ju<strong>de</strong>us”.<br />
A exemplo <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s brasileiras, cujos <strong>no</strong>mes eram <strong>de</strong> origem<br />
germânica, <strong>Rolândia</strong> teve que mudar seu <strong>no</strong>me. Em 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1943, ao<br />
mesmo tempo em que era cria<strong>do</strong> o município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, o <strong>no</strong>me foi troca<strong>do</strong> para<br />
Caviúna. Somente em 1947 é que retor<strong>no</strong>u o antigo <strong>no</strong>me <strong>Rolândia</strong>.<br />
Dos imigrantes estrangeiros que colaboraram <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
<strong>Rolândia</strong>, <strong>de</strong>stacam-se alemães, japoneses, italia<strong>no</strong>s, portugueses, espanhóis, sírio-<br />
libaneses, húngaros, suíços, poloneses, tchecos, austríacos, entre outros.<br />
Até o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1975 a eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> ia bem, ten<strong>do</strong> o<br />
plantio <strong>de</strong> café como a sua principal fonte <strong>de</strong> renda. Algumas vezes a geada fez<br />
estragos nas plantações, porém naquele a<strong>no</strong> houve a chamada “Geada Negra”, que<br />
29
acabou arrasan<strong>do</strong> os cafezais. O estrago foi tão gran<strong>de</strong> que os agricultores não<br />
tiveram outra opção a não ser erradicar os cafezais completamente, o que causou<br />
transformações <strong>no</strong> setor econômico/social.<br />
O êxo<strong>do</strong> rural foi o mais grave problema social <strong>de</strong>corrente da erradicação <strong>do</strong>s<br />
cafezais. <strong>Rolândia</strong>, que até então <strong>de</strong>sconhecia problemas sociais, como o da<br />
formação <strong>de</strong> favelas, a partir <strong>de</strong> 1975 passa a conhecer esse problema. As famílias<br />
<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais foram obrigadas a aban<strong>do</strong>nar as fazendas on<strong>de</strong><br />
trabalhavam. Não ten<strong>do</strong> para on<strong>de</strong> ir e nem outra profissão vão se instalar na<br />
periferia da cida<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> com isso bolsões <strong>de</strong> miséria. Com o fim da cafeicultura,<br />
ocorreu o <strong>de</strong>semprego em massa, um <strong>do</strong>s motivos que muito contribuíram para o<br />
aumento da criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município.<br />
Nos últimos a<strong>no</strong>s houve um gran<strong>de</strong> crescimento <strong>no</strong>s índices <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong><br />
<strong>no</strong> município. O levantamento anual da Polícia Militar mostra que os crimes que mais<br />
vêm crescen<strong>do</strong> <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s são os homicídios e o tráfico <strong>de</strong> entorpecentes.<br />
De acor<strong>do</strong> com a Polícia Militar, a maior parte <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> homicídio está<br />
relacionada ao tráfico <strong>de</strong> entorpecentes, que por sua vez gera ainda um aumento<br />
<strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> furtos, roubos, estelionatos e muitos outros crimes <strong>de</strong> me<strong>no</strong>s impacto<br />
social.<br />
O município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> é uma rota em direção à costa oeste <strong>do</strong> Paraná,<br />
principalmente para as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Foz <strong>do</strong> Iguaçu, Guaíra e a região <strong>de</strong> fronteira com<br />
o Paraguai e Argentina, o que acaba sen<strong>do</strong> também uma rota para o tráfico <strong>de</strong><br />
entorpecentes. Isso está comprova<strong>do</strong> <strong>no</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> apreensões que a<br />
Polícia Ro<strong>do</strong>viária tem efetua<strong>do</strong> na área <strong>do</strong> município, sen<strong>do</strong> que a principal<br />
substância apreendida é a maconha.<br />
Outro fator que contribui para o aumento da criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município é o<br />
fato <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina, distante apenas 25 km <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, teve o<br />
número <strong>de</strong> policiais militares aumenta<strong>do</strong> recentemente, causan<strong>do</strong> uma sensação <strong>de</strong><br />
segurança maior, com isso os marginais migram para regiões mais propícias para<br />
suas ativida<strong>de</strong>s, principalmente municípios me<strong>no</strong>res.<br />
30
4. METODOLOGIA<br />
Neste capítulo será apresentada a meto<strong>do</strong>logia utilizada para a realização da<br />
pesquisa <strong>de</strong> campo, inician<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>scrição da população escolhida, o méto<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong> para a coleta e o tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s e expostas as questões da<br />
pesquisa.<br />
4.1 Delineamento da Pesquisa<br />
De acor<strong>do</strong> com Gil, (2000, p. 121), “[...] o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso é caracteriza<strong>do</strong> pela<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s fatores que <strong>de</strong>terminam ou que contribuem para a ocorrência <strong>do</strong>s<br />
fenôme<strong>no</strong>s analisa<strong>do</strong>s. Este tipo <strong>de</strong> pesquisa po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> tanto <strong>de</strong><br />
constatações e percepções que têm como <strong>no</strong>rte o <strong>de</strong>senvolvimento, esclarecimento<br />
ou modificação <strong>de</strong> conceitos e idéias, como <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição das características <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminada população ou fenôme<strong>no</strong>”.<br />
Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho foram utiliza<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s exploratórios<br />
e <strong>de</strong>scritivos com levantamentos bibliográficos, pesquisa <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e consultas a<br />
publicações periódicas <strong>de</strong> vários autores. Para analisar e <strong>de</strong>terminar o perfil <strong>do</strong>s<br />
crimi<strong>no</strong>sos que atuam <strong>no</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, realizou-se uma investigação<br />
através <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s primários obti<strong>do</strong>s por meio da aplicação <strong>de</strong> questionário aos<br />
<strong>de</strong>tentos da Ca<strong>de</strong>ia Pública local. Portanto este estu<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser classifica<strong>do</strong> como<br />
pesquisa bibliográfica e <strong>de</strong> campo.<br />
A população alvo foi compreen<strong>de</strong>u 96 (<strong>no</strong>venta e seis) <strong>de</strong>tentos, sen<strong>do</strong> que a<br />
amostra foi composta <strong>de</strong> 65 (sessenta e cinco) <strong>de</strong>tentos recolhi<strong>do</strong>s na Ca<strong>de</strong>ia<br />
Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>.<br />
31
4.2 Coleta <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s<br />
Com base na revisão bibliográfica, foi elabora<strong>do</strong> um questionário com 25<br />
questões, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar as características individuais, sócio-<br />
econômicas e motivacionais da população alvo para o cometimento <strong>do</strong> crime.<br />
Para a aplicação <strong>do</strong> questionário (Anexo A) obteve-se autorização verbal <strong>do</strong><br />
Delega<strong>do</strong> da Ca<strong>de</strong>ia Pública local, o qual forneceu as condições necessárias para a<br />
aplicação <strong>do</strong> mesmo. O questionário foi aplica<strong>do</strong> em dias alterna<strong>do</strong>s, conforme a<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetivo da Polícia Civil para manter a segurança tanto da<br />
estagiária como para evitar que algum <strong>do</strong>s presos tentasse fugir.<br />
A Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> conta com uma população carcerária <strong>de</strong> 96<br />
presos, 12 mulheres e 84 homens. O questionário foi aplica<strong>do</strong> a 65 <strong>de</strong>tentos, ou<br />
seja, 67,71% <strong>do</strong>s presos respon<strong>de</strong>ram voluntariamente as questões apresentadas.<br />
A população carcerária entrevistada foi quase que totalmente presa pela<br />
Polícia Militar (87,69%), sen<strong>do</strong> que <strong>do</strong>s 12,31% presos pela Polícia Civil, 6,15%<br />
foram presos em ações conjuntas entre a Polícia Militar e a Polícia Civil.<br />
Ao final da coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, as respostas foram convertidas<br />
quantitativamente, ou seja, em números dispostos e vinte e uma tabelas, seguin<strong>do</strong> a<br />
or<strong>de</strong>m das perquntas <strong>do</strong> questionário. Estes números foram transforma<strong>do</strong>s em<br />
percentuais, facilitan<strong>do</strong> a análise e interpretação das respostas.<br />
As Tabulações cruzadas <strong>de</strong> três ou mais variáveis foram realizadas <strong>no</strong><br />
software estatístico SPSS for Win<strong>do</strong>ws, os principais resulta<strong>do</strong>s serão apresenta<strong>do</strong>s<br />
a seguir.<br />
4.3 Resulta<strong>do</strong>s<br />
A Tabela 1 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s encarcera<strong>do</strong>s da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong><br />
<strong>Rolândia</strong> por faixa etária. Nota-se que a maioria <strong>do</strong>s crimi<strong>no</strong>sos (67,68%) está na<br />
32
faixa etária entre 13 e 30 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que o crimi<strong>no</strong>so <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong><br />
é jovem, o que sinaliza que o jovem é mais disposto a migrar para o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
crime, muitas vezes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>, falta <strong>de</strong> experiência, <strong>de</strong><br />
orientação, proposta <strong>de</strong> ganho fácil etc.<br />
Tabela 1 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por faixa etária<br />
Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> 18 a<strong>no</strong>s 7 10,76<br />
De 18 a 20a<strong>no</strong>s 14 21,53<br />
De 21 a 25 a<strong>no</strong>s 13 20<br />
De 26 a 30 a<strong>no</strong>s 10 15,39<br />
De 31 a 35 a<strong>no</strong>s 6 9,24<br />
De 36 a 40 a<strong>no</strong>s 6 9,24<br />
Mais <strong>de</strong> 40 a<strong>no</strong>s 9 13,84<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Para Farias Júnior (2001, p. 83),<br />
33<br />
“[...] a aquisição da capacida<strong>de</strong> potencial para o crime verifica-se<br />
mais acentuadamente entre os 12 e os 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por ser<br />
justamente nessa fase que se inicia a luta pela sobrevivência, numa<br />
socieda<strong>de</strong> competitiva. Por um la<strong>do</strong>, está em jogo a afirmação <strong>do</strong><br />
jovem, ou para o mal ou para o bem, e por outro, ele está na fase <strong>de</strong><br />
maior vulnerabilida<strong>de</strong> aos influxos maléficos ou benéficos. Se recebe<br />
influxos maléficos, po<strong>de</strong>rá ten<strong>de</strong>r para o caminho <strong>do</strong> mal, se recebe<br />
influxos bons, po<strong>de</strong>rá ten<strong>de</strong>r para o caminho <strong>do</strong> bem, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
das condições favoráveis ou adversas”.<br />
Os jovens querem muitas vezes se auto-afirmarem perante o seu grupo, e o<br />
fazem através <strong>de</strong> atos crimi<strong>no</strong>sos, para <strong>de</strong>monstrar po<strong>de</strong>r, conquistar o respeito <strong>do</strong>s<br />
outros. Falam <strong>de</strong> seus atos crimi<strong>no</strong>sos com prazer, como se fossem atos heróicos.<br />
Não <strong>de</strong>monstram sentimentos <strong>de</strong> arrependimento, chegan<strong>do</strong> mesmo a achar graça<br />
<strong>do</strong>s crimes que cometem.
Dos <strong>de</strong>tentos <strong>de</strong>sta faixa etária recolhi<strong>do</strong>s na Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> o<br />
principal crime cometi<strong>do</strong> foi o tráfico <strong>de</strong> entorpecentes, segui<strong>do</strong> pelo roubo e pelo<br />
furto. Isto mostra que o tráfico <strong>de</strong> entorpecentes está liga<strong>do</strong> diretamente a outros<br />
crimes.<br />
Po<strong>de</strong>-se observar, através <strong>do</strong> Gráfico 1 que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s crimi<strong>no</strong>sos<br />
é <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> (84,61%), sen<strong>do</strong> que apenas 15,39% são <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>. As<br />
mulheres presas estão numa faixa etária entre 20 e 43 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e todas estão<br />
presas por tráfico <strong>de</strong> entorpecentes.<br />
Gráfico 1 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por gênero<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
De acor<strong>do</strong> com Vergara (1998, p. 30), “[...] <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> drogas a<br />
mulher atua muito mais como coadjuvante, sen<strong>do</strong> que o protagonista nesta situação<br />
geralmente é <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> e sempre estão liga<strong>do</strong>s por laços <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>,<br />
como irmãos, parceiros, parentes, etc.”.<br />
Para Espi<strong>no</strong>za (2004, p. 126-7), “[...] <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s houve mudanças na<br />
conduta <strong>de</strong>litiva das mulheres. Os crimes cometi<strong>do</strong>s por elas não mais se encaixam<br />
<strong>no</strong>s <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong>s “<strong>de</strong>litos femini<strong>no</strong>s” – infanticídio, aborto, homicídio passional –<br />
pois se <strong>de</strong>u um incremento <strong>no</strong>s índices <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação por crimes <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong><br />
entorpecentes, roubos, seqüestros, homicídios, entre outros.”<br />
34
Atualmente existem várias teorias sobre a criminalida<strong>de</strong> feminina, porém <strong>no</strong>ta-<br />
se que na maioria <strong>do</strong>s casos essa criminalida<strong>de</strong> mantém uma estreita relação com a<br />
condição social da mulher, primeiramente <strong>de</strong>ve-se observar o meio social em que<br />
essas mulheres estão inseridas e <strong>de</strong>pois observar as condições biológicas e<br />
sociológicas que também po<strong>de</strong>m contribuir para a incidência e o grau <strong>de</strong>ssa<br />
criminalida<strong>de</strong> (Gráfico 1).<br />
A maioria da população carcerária <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> (50,77%) é <strong>de</strong> cor parda,<br />
porém a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos da cor branca também é expressiva (43,08%). O<br />
que <strong>de</strong>monstra que o crime não é privilégio somente da população negra (Gráfico 2).<br />
Rocha e Campos (2007) ressaltam que <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o Censo 2000, a<br />
população <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> cor branca <strong>no</strong> Paraná é <strong>de</strong> 76,81% e indivíduos <strong>de</strong> cor<br />
parda 19,07%. Portanto, <strong>no</strong>ta-se diferenças substanciais entre essas proporções <strong>no</strong><br />
indivíduo encarcera<strong>do</strong> e na população como um to<strong>do</strong>.<br />
Para A<strong>do</strong>r<strong>no</strong> (1994, p. 01) “[...] não há diferenças entre o “potencial” para o<br />
crime violento revela<strong>do</strong> pelos réus negros comparativamente aos réus brancos, além<br />
disto, réus negros ten<strong>de</strong>m a ser mais persegui<strong>do</strong>s pela vigilância policial,<br />
experimentam maiores obstáculos <strong>de</strong> acesso à justiça criminal e maiores<br />
dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> usufruírem <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> ampla <strong>de</strong>fesa, em <strong>de</strong>corrência ten<strong>de</strong>m a<br />
merecer um tratamento penal mais rigoroso, representa<strong>do</strong> pela maior probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> serem puni<strong>do</strong>s comparativamente aos réus brancos”.<br />
Gráfico 2 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por raça<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelo autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
35
A Tabela 2 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
resi<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que o crimi<strong>no</strong>so que atua <strong>no</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> é<br />
proveniente <strong>do</strong> próprio município. Observa-se que mesmo com a proximida<strong>de</strong> com<br />
municípios como Cambé, Arapongas e Londrina, são poucos que os crimi<strong>no</strong>sos<br />
<strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s que atuam <strong>no</strong> município. Os crimi<strong>no</strong>sos provenientes <strong>de</strong> outros<br />
Esta<strong>do</strong>s geralmente são presos pela Polícia Ro<strong>do</strong>viária Estadual durante<br />
fiscalizações em ônibus, portanto estavam somente <strong>de</strong> passagem pela cida<strong>de</strong>, uma<br />
vez que <strong>do</strong>s 7 (sete) presos <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s, 6 (seis) estão presos por tráfico <strong>de</strong><br />
entorpecentes.<br />
Tabela 2 – a Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem<br />
Cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> residiam os entrevista<strong>do</strong>s Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Rolandia 47 72,32<br />
Arapongas 1 1,54<br />
Londrina 4 6,15<br />
Sarandi 1 1,54<br />
Curitiba 1 1,54<br />
Porecatu 4 6,15<br />
Outros Esta<strong>do</strong>s 7 10,76<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
A Tabela 3 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por bairro on<strong>de</strong><br />
resi<strong>de</strong>m. Dos 47 (quarenta e sete) entrevista<strong>do</strong>s que moram em <strong>Rolândia</strong> 29 (vinte e<br />
<strong>no</strong>ve) moram <strong>no</strong>s bairros mais pobres da periferia, que apresentam um gran<strong>de</strong><br />
índice <strong>de</strong> violência.<br />
No município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, como a maioria das cida<strong>de</strong>s brasileiras, existem<br />
bairros como o San Fernan<strong>do</strong>, Santiago, Padre Ângelo entre outras, on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> é<br />
precário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> moradia até as condições morais para se viver.<br />
36
Tabela 3 -- Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por bairro on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m<br />
Bairro on<strong>de</strong> residiam os entrevista<strong>do</strong>s Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
San Fernan<strong>do</strong> 8 12,29<br />
Jardim Itália 6 9,23<br />
Padre Ângelo 5 7,69<br />
Novo Horizonte 5 7,69<br />
Jardim das Américas 3 4,61<br />
Vila Oliveira 3 4,61<br />
Jardim Aviação 1 1,54<br />
Santiago 1 1,54<br />
Jardim <strong>do</strong> Lago 2 3,08<br />
Monte Carlo II 2 3,08<br />
Califórnia 1 1,54<br />
Ceboleiro 1 1,54<br />
Parque Industrial 1 1,54<br />
Jardim Caviúna 1 1,54<br />
Jardim Nobre I 1 1,54<br />
Centro 4 6,15<br />
Jardim Cida<strong>de</strong> Ver<strong>de</strong> 1 1,54<br />
Sítio Nossa Senhora Aparecida 1 1,54<br />
Outros <strong>Município</strong>s 11 16,93<br />
Outros Esta<strong>do</strong>s 7 10,76<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Não é difícil observar nestas regiões a presença <strong>de</strong> valores inverti<strong>do</strong>s, ou<br />
seja, o bandi<strong>do</strong> é o mocinho e a polícia é o bandi<strong>do</strong>, o que cria uma tolerância e<br />
proliferação da ativida<strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sa. Este tipo ambiente potencializa a criminalida<strong>de</strong>.<br />
Para Pires (1985), “[...] embora a criminalida<strong>de</strong> não possa ser explicada pelo<br />
aumento da pobreza, é certo que amplas camadas voltadas para o crime jamais<br />
utilizariam esta forma <strong>de</strong> sobrevivência, se a socieda<strong>de</strong> fornecesse oportunida<strong>de</strong>s<br />
mínimas para o seu sustento”.<br />
A exclusão não se refere somente à questão econômica, uma vez que a<br />
inclusão social é um fator que afeta diretamente o custo moral <strong>de</strong> praticar um crime.<br />
Se um indivíduo não se sente parte da socieda<strong>de</strong>, dificilmente irá seguir os valores e<br />
37
<strong>no</strong>rmas impostas por essa socieda<strong>de</strong>. A inclusão social reduz os custos <strong>de</strong> entrada<br />
na ativida<strong>de</strong> ilícita.<br />
A Tabela 4 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
tipo <strong>de</strong> crime cometi<strong>do</strong>, escolarida<strong>de</strong> e rendimentos em salários mínimos, <strong>no</strong>tan<strong>do</strong>-<br />
se que a maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possuem escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quinta a oitava série<br />
<strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental, possuem renda <strong>de</strong> um a <strong>do</strong>is salários mínimos, e cometeram<br />
o crime <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> drogas.<br />
A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda é o principal responsável pelo contingente <strong>de</strong><br />
pessoas abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza <strong>no</strong> Brasil. O combate a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />
retirar da extrema pobreza inúmeros indigentes.<br />
Para Resen<strong>de</strong> (2007, p. 01), “[...] mais que o <strong>de</strong>semprego, a pobreza ou a<br />
baixa escolarida<strong>de</strong>, parece ser a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda o principal fator sócio-<br />
econômico a impulsionar as taxas <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong>”.<br />
A falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho dig<strong>no</strong>, <strong>de</strong> salário dig<strong>no</strong>, principalmente<br />
para os mais jovens também é um fator relevante na explicação da criminalida<strong>de</strong>.<br />
Este fator é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> exóge<strong>no</strong> porque está relaciona<strong>do</strong> a uma escolha <strong>de</strong> política<br />
nacional. O Esta<strong>do</strong> brasileiro escolheu gastar a maior parte <strong>de</strong> seus recursos com as<br />
faixas etárias mais altas, pagan<strong>do</strong> aposenta<strong>do</strong>rias, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outras faixas<br />
etárias mais propensas à criminalida<strong>de</strong>.<br />
A CPI <strong>do</strong> Me<strong>no</strong>r (1976 apud Farias Júnior, 2001, p 156) cita que “[...] a miséria<br />
é a origem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os males e a causa imediata da <strong>de</strong>linqüência infanto-juvenil”.<br />
Para Farias Júnior (2001, p. 56-7),<br />
“[...] um quarto da população brasileira assalariada ganha me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> um<br />
salário mínimo, e meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse contingente assalaria<strong>do</strong> ganha entre 1 e 2<br />
salários mínimos. Significa que cerca <strong>de</strong> 70% da população assalariada<br />
ganha me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 2 salários mínimos, ou seja, vivem na miséria. Os filhos<br />
<strong>de</strong>sses assalaria<strong>do</strong>s são crianças ou jovens que vivem em situação <strong>de</strong> alto<br />
risco, tanto em matéria <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física e mental como em matéria <strong>de</strong><br />
capacitação para o crime”.<br />
38
Tabela 4 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por tipo <strong>de</strong> crime, escolarida<strong>de</strong> e<br />
renda individual <strong>de</strong>clarada<br />
<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong> Tipo <strong>de</strong> crime Homicídio Roubo Furto Tráfico<br />
Sem<br />
escolarida<strong>de</strong><br />
1.ª a 4.ª série<br />
completa/<br />
incompleta<br />
5.ª a 8.ª série<br />
completa/<br />
incompleta<br />
Ensi<strong>no</strong> médio<br />
completo /<br />
incompleto<br />
Curso superior<br />
Lei Maria<br />
da Penha<br />
Estelionato<br />
Porte<br />
ilegal<br />
arma<br />
39<br />
Receptação Estupro Total<br />
Sem rendimento 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Até 1/2 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
De [1/2 a 1 SM) 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />
De [1 a 2 SM) 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1<br />
De [2 a 3 SM) 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1<br />
Mais <strong>de</strong> 3 SM 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Total 1 0 0 1 0 0 1 0 0 3<br />
Sem rendimento 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Até 1/2 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
De [1/2 a 1 SM) 0 0 2 1 1 1 0 0 0 5<br />
De [1 a 2 SM) 1 3 1 2 1 0 0 0 0 8<br />
De [2 a 3 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1<br />
Mais <strong>de</strong> 3 SM 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Total 1 3 3 3 2 1 0 0 1 14<br />
Sem rendimento 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />
Até 1/2 SM) 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />
De [1/2 a 1 SM) 1 0 1 1 0 0 0 0 0 3<br />
De [1 a 2 SM) 1 1 1 6 2 0 1 1 0 13<br />
De [2 a 3 SM) 0 0 1 2 0 0 0 0 0 3<br />
Mais <strong>de</strong> 3 SM 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Total 2 1 3 11 2 0 1 1 0 21<br />
Sem rendimento 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Até 1/2 SM) 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />
De [1/2 a 1 SM) 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1<br />
De [1 a 2 SM) 1 4 2 3 0 0 0 0 0 10<br />
De [2 a 3 SM) 0 1 0 2 0 0 0 0 0 3<br />
Mais <strong>de</strong> 3 SM 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Total 1 5 3 6 0 0 0 0 0 15<br />
Sem rendimento 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Até 1/2 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
De [1/2 a 1 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
De [1 a 2 SM) 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />
De [2 a 3 SM) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0<br />
Mais <strong>de</strong> 3 SM 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1<br />
Total 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2<br />
Fonte: Elaborada pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.
A falta da escola afeta as pessoas <strong>de</strong> duas formas: na formação <strong>de</strong> valores<br />
morais e na acumulação <strong>de</strong> capital huma<strong>no</strong>. Na primeira forma, a escola assume um<br />
papel fundamental na formação <strong>de</strong> valores morais, pois é na escola que se começa<br />
a interagir e ter relacionamentos fora da família, portanto passa as primeiras <strong>no</strong>ções<br />
<strong>de</strong> convivência em socieda<strong>de</strong>. Os professores, assim como os pais, po<strong>de</strong>m assumir<br />
o papel <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> valores morais, que serão importantes na construção <strong>do</strong>s<br />
valores próprios da criança. Vale lembrar, que estes valores serão auto construí<strong>do</strong>s<br />
e que cada etapa da vida <strong>de</strong> um indivíduo influenciará está construção. Na segunda<br />
forma, a ausência da escola diminuirá seu estoque <strong>de</strong> capital huma<strong>no</strong> individual, que<br />
implicará em baixos retor<strong>no</strong>s <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> legal <strong>no</strong> futuro e um baixo custo <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong>.<br />
Para Farias Júnior (2001, p. 91), “[...] o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> exerce gran<strong>de</strong><br />
influência na prática <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito. Po<strong>de</strong>-se aliar a falta <strong>de</strong> educação com a ig<strong>no</strong>rância. A<br />
ig<strong>no</strong>rância é a falta <strong>de</strong> representação da realida<strong>de</strong>; é a falta <strong>de</strong> vislumbre <strong>do</strong>s<br />
horizontes <strong>do</strong>s conhecimentos que só a sabe<strong>do</strong>ria, a cultura e os estímulos<br />
intelectuais po<strong>de</strong>m dar”.<br />
O processo <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> instrui, socializa, abre a mente para os valores da<br />
vida, a importância das relações humanas e a boa convivência social.<br />
Observa-se ainda (Tabela 4) que o crime <strong>de</strong> maior incidência entre os<br />
<strong>de</strong>tentos da Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> é o tráfico <strong>de</strong> substância entorpecente,<br />
segui<strong>do</strong> pelo crime <strong>de</strong> roubos e furtos, sen<strong>do</strong> que o mesmo fato foi constata<strong>do</strong> por<br />
Schaefer e Shikida (2000), na pesquisa feita na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong>-PR .<br />
De acor<strong>do</strong> com A<strong>do</strong>r<strong>no</strong> (1998), “[...] consi<strong>de</strong>ra-se criminalida<strong>de</strong> violenta<br />
aquela que envolve violação grave <strong>de</strong> um direito fundamental, o direito à vida, “é um<br />
crime que coloca em risco a segurança e a vida das pessoas. Geralmente, são os<br />
assaltos, os roubos – como são conheci<strong>do</strong>s tecnicamente – estupros, homicídios. O<br />
tráfico <strong>de</strong> drogas também é incluí<strong>do</strong>, já que é uma variável extremamente importante<br />
<strong>no</strong> crescimento <strong>de</strong> homicídios”.<br />
Os usuários <strong>de</strong> entorpecentes acabam entran<strong>do</strong> <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime para<br />
pagar o próprio vício, acabam se tornan<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s traficantes, roubam e<br />
até matam para conseguir algum dinheiro para comprar a droga.<br />
40
O Gráfico 3 mostra a distribuição <strong>de</strong> renda individual em salários mínimos <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com a cor da pele <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s. Fica caracteriza<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s<br />
entrevista<strong>do</strong>s mesmo sen<strong>do</strong> branco e não branco possui renda igual, entre um<br />
salário mínimo a <strong>do</strong>is salários mínimos, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que o fato <strong>de</strong> possuirem<br />
renda, mesmo sen<strong>do</strong> baixa, não os impediu <strong>de</strong> ingressarem <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.<br />
18<br />
16<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
S E M<br />
R E NDIME NTO<br />
R E ND A E M S AL ÁR IOS MINIMOS<br />
ATÉ 1/2 S M) DE [1/2 A 1 S M) DE [1 A 2 S M) DE [2 A 3 S M) MAIS DE 3 S M<br />
B R ANC OS Ñ B R ANC OS<br />
Gráfico 3 – Distribuição <strong>de</strong> renda Individual em salário mínimo, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />
com a cor da pele.<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
No Gráfico 4 encontra-se a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por escolarida<strong>de</strong>,<br />
segun<strong>do</strong> a cor da pele. Observa-se que tanto os brancos como os não brancos<br />
possuem algum tipo <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, porém observa-se que <strong>no</strong> campo sem<br />
escolarida<strong>de</strong> o nível <strong>de</strong> brancos é maior que o <strong>de</strong> não brancos, sen<strong>do</strong> que o mesmo<br />
ocorre <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> 5ª a 8ª série completa/incompleta, porém os entrevista<strong>do</strong>s que<br />
possuem curso superior são brancos.<br />
41
20<br />
18<br />
16<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
SEM ESCOLARIDADE 1.ª A 4.ª SÉRIE<br />
COMPLETA /<br />
INCOMPLETA<br />
ESCOLARIDADE<br />
5.ª A 8.ª SÉRIE<br />
COMPLETA /<br />
INCOMPLETA<br />
BRANCOS Ñ BRANCOS<br />
ENSINO MÉDIO<br />
COMPLETO /<br />
INCOMPLETO<br />
CURSO SUPERIOR<br />
Gráfico 4 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por escolarida<strong>de</strong> e cor da<br />
pele<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
A Tabela 5 traz a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme a situação familiar.<br />
Observou-se que mais da meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s (56,92%) não resi<strong>de</strong> com os<br />
pais, isto ocorre em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> que apenas 7 (sete) <strong>de</strong>tentos são me<strong>no</strong>res <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
os <strong>de</strong>mais variam em ida<strong>de</strong>s que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 18 até 71 a<strong>no</strong>s. Nesta faixa etária a<br />
gran<strong>de</strong> maioria já constituiu a própria família, ou já é responsável pela própria vida.<br />
Pinatel (1979) diz que “[...] com o fator familiar chega-se à raiz mais profunda<br />
da criminalida<strong>de</strong>”. As características da família <strong>de</strong>terminam um conjunto inicial <strong>de</strong><br />
valores que po<strong>de</strong>m afetar a vida <strong>do</strong> indivíduo para sempre. Dos presos recolhi<strong>do</strong>s a<br />
Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, observa-se que 56,92% têm pais separa<strong>do</strong>s (Tabela 5).<br />
De acor<strong>do</strong> com Farias Júnior (2001, p. 89), “[...] a família exerce papel<br />
<strong>de</strong>cisivo na formação da personalida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sintegração da família, a ausência da<br />
unida<strong>de</strong> familiar, a situação familiar conflitiva, são fatores sintomáticos da etiologia<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da criminalida<strong>de</strong>, isto é, são fatores suscetíveis <strong>de</strong> fundar o<br />
prognóstico crimi<strong>no</strong>lógico”.<br />
42
Tabela 5 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por condição familiar<br />
Resi<strong>de</strong> com os Pais? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Sim 28 43,08<br />
Não 37 56,92<br />
Total 65 100<br />
Pais Separa<strong>do</strong>s? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Sim 37 56,92<br />
Não 28 43,08<br />
Total 65 100<br />
Possui Depen<strong>de</strong>ntes? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Sim 35 53,85<br />
Não 30 46,15<br />
Total 65 100<br />
Com quem foi cria<strong>do</strong>? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Pais 30 46,15<br />
Mãe 29 44,62<br />
Avó, irmãos, outros 06 9,23<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Tem-se a tendência em acreditar que pessoas que têm filhos ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
como pais ou irmãos, têm me<strong>no</strong>s probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressarem <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime,<br />
porém não é o que se percebe na população carcerária <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, on<strong>de</strong> 53,85%<br />
<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possuem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Os <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> crimi<strong>no</strong>sos têm direito a receber o Auxílio Reclusão que é<br />
um <strong>do</strong>s benefícios concedi<strong>do</strong>s pela Previdência Social, que é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> nas mesmas<br />
condições <strong>de</strong> pensão por morte aos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> segura<strong>do</strong> <strong>de</strong> baixa renda<br />
recolhi<strong>do</strong> à prisão. O principal objetivo <strong>de</strong>ste benefício é garantir à família <strong>do</strong> preso<br />
um mínimo <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>.<br />
Porém, muitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> presidiários <strong>de</strong>sconhecem a existência <strong>de</strong>ste<br />
benefício, que muitas vezes po<strong>de</strong>ria funcionar como um meio <strong>de</strong> afastamento <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, já que dá uma condição mais digna da família sobreviver.<br />
Nota-se ainda na Tabela 5 que 53,85% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s foram cria<strong>do</strong>s ou só<br />
pela mãe, ou por avós, irmãos e até mesmo sozinhos. Isto <strong>de</strong>monstra que a falta da<br />
43
estrutura familiar tradicional, composta <strong>de</strong> pai, mãe e irmãos também afeta os<br />
indivíduos, tornan<strong>do</strong>-os mais propensos a ingressar na criminalida<strong>de</strong>.<br />
Apesar das famílias chefiadas por mulheres serem cada vez mais comuns,<br />
elas representam um fator <strong>de</strong> risco mais <strong>do</strong> que um fator <strong>de</strong> proteção com relação à<br />
criminalida<strong>de</strong>, uma vez que possuem vários problemas, como a redução da renda<br />
familiar, pois há somente uma fonte <strong>de</strong> renda, e vão até problemas para a criação<br />
<strong>do</strong>s filhos. Como a chefe <strong>de</strong> família é a responsável pelo sustento da residência, não<br />
é incomum a criação <strong>do</strong>s indivíduos por irmãos mais velhos, por outros familiares e<br />
em casos extremos, até o aban<strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong>s mesmos, que acabam em situação <strong>de</strong> rua.<br />
Estes problemas afetam o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> indivíduo, incluin<strong>do</strong> o seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento moral. Logo as famílias chefiadas por mulheres representam uma<br />
condição <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> que afeta positivamente a criminalida<strong>de</strong>.<br />
A Tabela 6 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong> confrontan<strong>do</strong> a cor<br />
da pele com a religião e se são praticantes ou não da religião. Observou-se que a<br />
maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, tanto os brancos como os não brancos, se i<strong>de</strong>ntificam<br />
como católicos, porém praticamente 50% <strong>de</strong>les não são praticantes da religião. Dos<br />
entrevista<strong>do</strong>s que se <strong>de</strong>claram evangélicos a gran<strong>de</strong> maioria não é praticante da<br />
religião.<br />
Tabela 6 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme religião, cor da pele e se<br />
Brancos<br />
Ñ Brancos<br />
pratica ou não a religião<br />
Religião Ñ tem Religião Católico Evangélico Espírita Can<strong>do</strong>mblé Total<br />
Ñ Praticante 4 10 3 0 0 17<br />
Praticante 0 9 1 0 1 11<br />
Total 4 19 4 0 1 28<br />
Ñ Praticante 5 11 7 0 0 23<br />
Praticante 0 11 2 1 0 14<br />
Total 5 22 9 1 0 37<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
44
Segun<strong>do</strong> Farias Júnior (2001, p. 88), “[...] a religião, quan<strong>do</strong> praticada com<br />
<strong>de</strong>votamento, proporciona evolução espiritual e moral capaz <strong>de</strong> opor tendências ao<br />
<strong>de</strong>suma<strong>no</strong> materialismo <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssos dias e estimula o aperfeiçoamento, a ampliação e<br />
o aprofundamento <strong>do</strong>s sentimentos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong>. Uma pessoa<br />
com esses sentimentos não pratica crimes”.<br />
De acor<strong>do</strong> com Borilli e Shikida (2002 e 2003, p. 16), “[...] indivíduos<br />
praticantes <strong>de</strong> qualquer religião ten<strong>de</strong>m a cometer me<strong>no</strong>s crimes violentos por<br />
possuírem “restrições/travas” morais melhor <strong>de</strong>finidas”.<br />
Porém, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Farias Júnior (2001, p. 88), “[...] o que há nas prisões é<br />
muita simulação com o intuito <strong>de</strong> obter certas vantagens. Entretanto, há presos que<br />
se convertem verda<strong>de</strong>iramente a uma seita religiosa. Entregam-se por inteiro à<br />
religião e não voltam mais ao crime, mais isso acontece muito raramente”.<br />
Tabela 7 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme a profissão<br />
Profissão Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Doméstica 2 3,08<br />
Costureira 2 3,08<br />
Metalúrgico, Funileiro, Aux. Mecânico, Solda<strong>do</strong>r 5 7,69<br />
Abana<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Café, Lavra<strong>do</strong>r, Jardineiro 3 4,61<br />
Aux. Serviços Gerais 9 13,84<br />
Pedreiro, Ajudante <strong>de</strong> Pedreiro, Pintor 9 13,84<br />
Estudante 2 3,08<br />
Ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, Balconista 3 4,61<br />
Taxista, Moto Taxista, Motorista 5 7,69<br />
Cata<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Papel, Chapeiro 2 3,08<br />
Professor, Téc. Informática, Gerente <strong>de</strong> Compras 3 4,61<br />
Cozinheiro, Marceneiro, Frentista 4 6,15<br />
Artesão, Autô<strong>no</strong>mo 3 4,61<br />
Opera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Máquina 4 6,15<br />
Agente <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Segurança 2 3,08<br />
Entrega<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Merca<strong>do</strong> 1 1,54<br />
Monta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Isolamento térmico 1 1,54<br />
Profissional <strong>do</strong> sexo 1 1,54<br />
Não Possui Profissão 4 6,15<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
45
A Tabela 7 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s conforme a profissão<br />
<strong>de</strong> cada um. Percebe-se que para a maioria das profissões citadas o grau <strong>de</strong><br />
instrução exigi<strong>do</strong> é baixo, portanto a remuneração também é pouca, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong><br />
que o fato <strong>de</strong> estarem emprega<strong>do</strong>s, porém possuírem baixa remuneração não<br />
impe<strong>de</strong> que indivíduos migrem para a criminalida<strong>de</strong>.<br />
O Gráfico 5 mostra a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por situação empregatícia.<br />
Observa-se que apenas 35,39% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s estavam <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s na<br />
ocasião em que cometeram o crime, sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>stes 15,39% estavam procuran<strong>do</strong><br />
emprego. Porém, a gran<strong>de</strong> maioria (63,07%) <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s estava emprega<strong>do</strong>.<br />
Isto <strong>de</strong>monstra que o problema da criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> não está<br />
na falta <strong>de</strong> empregos.<br />
Muito se tem comenta<strong>do</strong> a respeito da relação que existe entre o <strong>de</strong>semprego<br />
e a criminalida<strong>de</strong>, porém, como a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possui<br />
profissões com baixa remuneração, resi<strong>de</strong> em bairros pobres da periferia, possui<br />
pouca instrução, migra para a criminalida<strong>de</strong> como uma forma <strong>de</strong> resolver problemas<br />
financeiros e tentar melhorar <strong>de</strong> vida, uma vez que gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s presos alega ter<br />
cometi<strong>do</strong> o crime por necessida<strong>de</strong> financeira.<br />
15%<br />
20%<br />
2%<br />
63%<br />
Emprega<strong>do</strong> Desemprega<strong>do</strong> / Procurava Emprego<br />
Desemprega<strong>do</strong> / Não Procurava Emprego Não Respon<strong>de</strong>u<br />
Gráfico 5 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por situação empregatícia<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores com base <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
46
A Tabela 8 traz a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por ida<strong>de</strong> com que praticaram<br />
o primeiro crime. Observa-se que 72,32% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s praticaram o primeiro<br />
<strong>de</strong>lito antes <strong>do</strong>s 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Nota-se ainda que somente 19,99% <strong>do</strong>s<br />
entrevista<strong>do</strong>s cometeram o primeiro crime entre os 26 e 40 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e apenas<br />
7,69% <strong>do</strong>s presos cometeram o crime com mais <strong>de</strong> 40 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Isto reforça a<br />
teoria <strong>de</strong> que os jovens são mais propensos à criminalida<strong>de</strong>.<br />
Tabela 8 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a ida<strong>de</strong> com que<br />
praticou o primeiro <strong>de</strong>lito<br />
Ida<strong>de</strong> com que praticou o primeiro <strong>de</strong>lito: Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> 18 a<strong>no</strong>s 22 33,85<br />
De 18 a 20 a<strong>no</strong>s 15 23,08<br />
De 21 a 25 a<strong>no</strong>s 10 15,39<br />
De 26 a 30 a<strong>no</strong>s 6 9,23<br />
De 31 a 35 a<strong>no</strong>s 3 4,61<br />
De 36 a 40 a<strong>no</strong>s 4 6,15<br />
Mais <strong>de</strong> 40 a<strong>no</strong>s 5 7,69<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
A Tabela 9 apresenta os entrevista<strong>do</strong>s conforme uso ou não <strong>de</strong> substância<br />
entorpecente. Percebe-se que 66,16% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>ram que não faz<br />
uso <strong>de</strong> substância entorpecente, sen<strong>do</strong> que 33,84% usam drogas como maconha,<br />
cocaína e crack.<br />
A cocaína e o crack são drogas classificadas como estimulantes e provocam<br />
excitação, euforia, hiperativida<strong>de</strong>, insônia, perda <strong>de</strong> apetite, pupilas dilatadas, enfim,<br />
<strong>de</strong>ixa a pessoa “ligada”. A maconha é classificada como alucinóge<strong>no</strong> e causa<br />
euforia, relaxamento das inibições, aumento <strong>de</strong> apetite e comportamento<br />
<strong>de</strong>sorienta<strong>do</strong>.<br />
Os mais jovens <strong>no</strong>rmalmente começam a usar drogas consi<strong>de</strong>radas mais<br />
leves como a maconha e a cola, <strong>de</strong>pois migram para as mais pesadas como cocaína<br />
e o crack.<br />
47
Tabela 9 -- Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por uso ou não <strong>de</strong> substância<br />
entorpecente<br />
Faz uso <strong>de</strong> substância entorpecente/ Qual? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Maconha 12 18,46<br />
Cocaína 1 1,54<br />
Crack 9 13,84<br />
Não 43 66,16<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
O crack é uma pasta <strong>de</strong> coca, ou seja, é a coca que não passou pelo<br />
refinamento, o que o torna muito mais barato, porém ele torna o usuário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
em muito pouco tempo em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mais ativo que a cocaína.<br />
A Tabela 10 mostra os entrevista<strong>do</strong>s que possuem amigos que já praticaram<br />
crimes. Fican<strong>do</strong> evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> que apenas 32,31% <strong>de</strong>les não têm amigos <strong>no</strong> mun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> crime, sen<strong>do</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria convive com outros crimi<strong>no</strong>sos, o que acaba<br />
colaboran<strong>do</strong> para que os que estão próximos também participem.<br />
Tabela 10 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s se tem ou não amigos que já<br />
praticaram crimes e o tipo <strong>de</strong> crime cometi<strong>do</strong><br />
Tem amigos que já praticaram crimes? Qual? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Homicídio 8 12,30<br />
Tentativa <strong>de</strong> Homicídio 1 1,54<br />
Roubo 21 32,31<br />
Furto 6 9,23<br />
Tráfico <strong>de</strong> drogas 7 10,77<br />
Sim, mas não especificou o crime 1 1,54<br />
Não 21 32,31<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
O Gráfico 6 apresenta a distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s que cometeram o<br />
crime por influência <strong>de</strong> substância entorpecente ou álcool, uma vez que o uso <strong>de</strong><br />
48
substância entorpecente ou mesmo <strong>de</strong> álcool é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s fatores que<br />
influenciam na criminalida<strong>de</strong>. Porém, isso não se confirma entre os entrevista<strong>do</strong>s da<br />
Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> porque a maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s (60%) afirma que<br />
não estava sob o efeito <strong>de</strong> substância entorpecente <strong>no</strong> momento <strong>do</strong> crime.<br />
Dos 20 (vinte) entrevista<strong>do</strong>s que cometeram o crime sob o efeito <strong>de</strong><br />
substância entorpecente ou álcool 7 (sete) praticaram furto, 5 (cinco) praticaram<br />
roubo, 4 (quatro) estavam trafican<strong>do</strong>, 2 (<strong>do</strong>is) cometeram agressão contra mulher, 1<br />
(um) praticou estupro e 1 (um) homicídio.<br />
31%<br />
Não Sim<br />
69%<br />
Gráfico 6 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s que agiram por influência <strong>de</strong><br />
substância entorpecente ou álcool<br />
Fonte: Elabora<strong>do</strong> pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
A Tabela 11 apresenta os entrevista<strong>do</strong>s analisan<strong>do</strong> os motivos que os<br />
levaram a cometer crimes. Nota-se que 24 (vinte e quatro) <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s alegam<br />
ter cometi<strong>do</strong> o crime por necessida<strong>de</strong> financeira, porém 14 (quatorze) <strong>de</strong>stes<br />
estavam emprega<strong>do</strong>s. Dos que cometeram o crime por influência <strong>de</strong> amigos apenas<br />
1 (um) tem mais <strong>de</strong> 23 a<strong>no</strong>s. Dos que praticaram o crime por espírito <strong>de</strong> aventura 6<br />
(seis) cometeram roubo e furto, 2 (<strong>do</strong>is) estavam trafican<strong>do</strong>, 3 (três) são me<strong>no</strong>res <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>.<br />
49
Para Borilli e Shikida (2002 e 2003, p. 16), “[... ]a indução <strong>de</strong> parceiros (ditos<br />
“companheiros/amigos”) é uma das principais variáveis motivacionais para a<br />
migração para ativida<strong>de</strong>s ilícitas”.<br />
Tabela 11 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por motivo <strong>do</strong> crime<br />
Por que motivo cometeu o crime? Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Necessida<strong>de</strong> Financeira 24 36,93<br />
Influência <strong>de</strong> Substância entorpecente 12 18,46<br />
Influência <strong>de</strong> amigos 8 12,31<br />
Espírito <strong>de</strong> aventura 8 12,31<br />
Problemas Pessoais 7 10,77<br />
Crime Passional 3 4,61<br />
Outros 3 4,61<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
Tabela 12 – Distribuição <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s por sugestões para diminuir a<br />
criminalida<strong>de</strong> local<br />
O que <strong>de</strong>veria ser feito para diminuir a<br />
criminalida<strong>de</strong> em <strong>Rolândia</strong>?<br />
50<br />
Quantida<strong>de</strong> Porcentagem<br />
Maior oferta <strong>de</strong> empregos 39 60<br />
Aumento <strong>do</strong> efetivo policial 2 3,08<br />
Mais oportunida<strong>de</strong>s na educação local 18 27,69<br />
Mais políticas públicas para aten<strong>de</strong>r população<br />
carente<br />
5 7,69<br />
Mais Justiça 1 1,54<br />
Total 65 100<br />
Fonte: Elaborada pelos autores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />
A Tabela 12 mostra as sugestões <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s para diminuir a<br />
criminalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Rolandia. Notan<strong>do</strong>-se que 60% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />
respon<strong>de</strong>ram que <strong>de</strong>veria haver maior oferta <strong>de</strong> empregos. Porém 63,07% <strong>do</strong>s<br />
entrevista<strong>do</strong>s estavam emprega<strong>do</strong>s na ocasião em que cometeu o crime. Outra
sugestão <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s é oferecer maiores oportunida<strong>de</strong>s na educação local<br />
(27,69%).<br />
Observa-se que a criação <strong>de</strong> empregos po<strong>de</strong> ser um redutor da criminalida<strong>de</strong>,<br />
porém, os profissionais <strong>de</strong>vem ganhar o suficiente para ter uma vida digna, com<br />
acesso à educação e lazer.<br />
4.4 Síntese Conclusiva <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s da Pesquisa <strong>de</strong> Campo<br />
Dos 96 (<strong>no</strong>venta e seis) presos recolhi<strong>do</strong>s a Ca<strong>de</strong>ia Pública <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong><br />
foram entrevista<strong>do</strong>s 65 (sessenta e cinco), ou seja, 67,71% da população carcerária<br />
<strong>do</strong> município. Destes 10 (<strong>de</strong>z) são <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong> e 55 (cinqüenta e cinco) são <strong>do</strong><br />
sexo masculi<strong>no</strong>. As ida<strong>de</strong>s variam entre 13 e 71 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> que a gran<strong>de</strong><br />
maioria está entre os 18 e 30 a<strong>no</strong>s, sugerin<strong>do</strong> que o crimi<strong>no</strong>so <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, como<br />
nas <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> país, é jovem.<br />
Observou-se que <strong>do</strong> total <strong>de</strong> entrevista<strong>do</strong>s 67,68% têm ida<strong>de</strong> entre 13 e 30<br />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s crimi<strong>no</strong>sos é <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> (84,61%),<br />
sen<strong>do</strong> que apenas 15,39% são <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong>. No que se refere à cor 56,92% <strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>tentos são <strong>de</strong> cor negra e parda e 43,08% são <strong>de</strong> cor branca. Não há nenhum<br />
<strong>de</strong>tento <strong>de</strong> cor amarela ou indígena. 72,32% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>m em<br />
<strong>Rolândia</strong>, 16,92% resi<strong>de</strong>m em cida<strong>de</strong>s próximas e 10,76% são provenientes <strong>de</strong><br />
outros Esta<strong>do</strong>s. A gran<strong>de</strong> maioria mora em bairros da periferia da cida<strong>de</strong>, com altos<br />
índices <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> como o San Fernan<strong>do</strong>, Padre Ângelo, Santiago etc.<br />
Quanto à situação financeira individual <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s 13,84% não<br />
possuem renda nenhuma e 47,70% vivem com até R$ 500,00 (quinhentos) reais<br />
mensais. Apenas um <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possui renda maior <strong>de</strong> R$ 1.001,00 (mil e um<br />
reais). A renda familiar <strong>de</strong> 63,08% <strong>do</strong>s presos é <strong>de</strong> até R$1.000,00 (mil reais)<br />
mensais. Somente quatro <strong>de</strong>tentos possuem renda familiar maior que R$2.000,00<br />
(<strong>do</strong>is mil reais).<br />
51
Dos entrevista<strong>do</strong>s, 56,92% não resi<strong>de</strong>m com os pais, sen<strong>do</strong> que 56,95% têm<br />
pais separa<strong>do</strong>s. 53,85% possuem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Nota-se ainda que 53,85% <strong>do</strong>s<br />
entrevista<strong>do</strong>s foram cria<strong>do</strong>s ou só pela mãe, ou por avós, irmãos e até mesmo<br />
sozinhos.<br />
Quanto à religião 84,61% <strong>do</strong>s presos possuem algum tipo <strong>de</strong> religião como a<br />
católica, evangélica, espírita e can<strong>do</strong>mblé. 15,39% <strong>do</strong>s presos disseram não possuir<br />
religião alguma. Porém apenas 38,47% são praticantes.<br />
As profissões <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cata<strong>do</strong>r <strong>de</strong> papel, <strong>do</strong>méstica,<br />
pedreiro, ajudante <strong>de</strong> pedreiro, frentista, pintor até professor, técnico em informática<br />
e gerente <strong>de</strong> compras, porém a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possui profissões<br />
com me<strong>no</strong>r remuneração.<br />
Quanto à situação empregatícia constata-se que 63,07% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />
estavam emprega<strong>do</strong>s na ocasião em que cometeram o crime e 35,39% estavam<br />
<strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s. 70,76% vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o analfabetismo até o Ensi<strong>no</strong> Fundamental<br />
completo. Somente 3,08% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possuem curso superior.<br />
Percebe-se ainda que 72,32% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s praticaram o primeiro <strong>de</strong>lito<br />
antes <strong>do</strong>s 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, 19,99% cometeram o primeiro crime entre os 26 e 40<br />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e apenas 7,69% <strong>do</strong>s presos cometeram o crime com mais <strong>de</strong> 40 a<strong>no</strong>s<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. 66,16% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>u que não faz uso <strong>de</strong> substância<br />
entorpecente, sen<strong>do</strong> que 33,84% usam drogas como maconha, cocaína e crack.<br />
Apenas 32,31% <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tentos não têm amigos que já praticaram crimes,<br />
sen<strong>do</strong> que os <strong>de</strong>mais possuem amigos que já praticaram homicídios, roubo, furto,<br />
tráfico <strong>de</strong> drogas, etc. 78,45% dizem não ter utiliza<strong>do</strong> armas para cometer o crime,<br />
15,39% utilizaram armas <strong>de</strong> fogo e 3,08% utilizaram arma branca.<br />
O crime que mais ocorre <strong>no</strong> município <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong> é o tráfico <strong>de</strong> substância<br />
entorpecente (38,49%), segui<strong>do</strong> pelo crime <strong>de</strong> roubo (20%) e furto (15,39%). 69,23%<br />
alegam que não estavam sob efeito <strong>de</strong> substância entorpecente <strong>no</strong> momento em<br />
que cometeram o crime, 30,77% tinham usa<strong>do</strong> algum tipo <strong>de</strong> droga.<br />
52
Observa-se que 36,93% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s alegam que cometeram o crime<br />
por necessida<strong>de</strong> financeira, porém a maioria <strong>de</strong>les estava empregada na ocasião em<br />
que cometeu o crime. 18,46% estavam sob influência <strong>de</strong> substância entorpecente.<br />
Os mais jovens dizem ter cometi<strong>do</strong> o crime por influência <strong>de</strong> amigos ou espírito <strong>de</strong><br />
aventura.<br />
A maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s acredita que para acabar com a criminalida<strong>de</strong> em<br />
<strong>Rolândia</strong> é necessário a criação <strong>de</strong> mais empregos (60%), 27,69% acham que <strong>de</strong>ve<br />
haver mais oportunida<strong>de</strong>s na educação local. 7,69% dizem que é necessário a<br />
criação <strong>de</strong> mais políticas públicas para aten<strong>de</strong>r a população carente.<br />
87,69% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s foram presos pela Polícia Militar, 12,31% pela<br />
Polícia Civil, <strong>de</strong>stes meta<strong>de</strong> foram presos em operações conjuntas pelas Polícias<br />
Civil e Militar.<br />
Existem 10 (<strong>de</strong>z) <strong>de</strong>tentas <strong>do</strong> sexo femini<strong>no</strong> recolhidas na Ca<strong>de</strong>ia Pública<br />
local, estas estão numa faixa etária entre 20 e 43 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Todas estão presas<br />
por tráfico ilícito <strong>de</strong> entorpecentes. Destas 6 (seis) são pardas e 4 (quatro) são<br />
brancas. Oito são católicas duas são evangélicas. Seis são <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>, uma <strong>de</strong><br />
Londrina e três <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s. Cinco possuem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e cinco não<br />
possuem. Seis estavam <strong>de</strong>sempregadas na ocasião em que cometeram os crimes,<br />
<strong>de</strong>stas cinco procuravam emprego. Quatro estavam empregadas. Somente uma tem<br />
o Ensi<strong>no</strong> Médio completo e uma tem curso superior. Quatro são usuárias <strong>de</strong> drogas.<br />
Nenhuma utilizou arma <strong>no</strong> crime. Sete alegam ter cometi<strong>do</strong> o crime por necessida<strong>de</strong><br />
financeira. Oito acreditam que a criminalida<strong>de</strong> diminuirá com maior oferta <strong>de</strong><br />
empregos.<br />
Observou-se ainda que os entrevista<strong>do</strong>s mais jovens (com me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 30 a<strong>no</strong>s<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>), em geral são mais violentos, são os que utilizam armas, principalmente <strong>de</strong><br />
fogo, para a execução <strong>de</strong> seus crimes. Ingressaram na vida crimi<strong>no</strong>sa quan<strong>do</strong> ainda<br />
eram me<strong>no</strong>res <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. São usuários <strong>de</strong> drogas.<br />
Dos entrevista<strong>do</strong>s mais velhos (acima <strong>de</strong> 30 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>) apenas um<br />
cometeu o primeiro crime quan<strong>do</strong> era me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, somente um utilizou arma<br />
para cometer o crime.<br />
53
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O combate à criminalida<strong>de</strong> tem se revesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> matizes vários a refletir as<br />
concepções <strong>do</strong>minantes sobre a natureza e as causas da conduta <strong>de</strong>lituosa. Para se<br />
combater a criminalida<strong>de</strong> efetivamente é necessário atacar os fatores que levam<br />
indivíduos a ingressarem <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Acabar com a criminalida<strong>de</strong> é uma<br />
tarefa muito difícil, mas é possível minimiza-la com algumas atitu<strong>de</strong>s por parte <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> e da própria socieda<strong>de</strong>.<br />
A criminalida<strong>de</strong> se forma na miséria, na falta <strong>de</strong> alimentação, na falta <strong>de</strong><br />
estrutura familiar, na falta <strong>de</strong> valores morais, escolares e culturais, na falta <strong>de</strong><br />
perspectiva para um futuro melhor.<br />
Combater a criminalida<strong>de</strong> não é tarefa apenas das Polícias Civil e Militar, é<br />
uma tarefa para governantes, po<strong>de</strong>r judiciário, ministério público, polícias e to<strong>do</strong>s os<br />
<strong>de</strong>mais segmentos da socieda<strong>de</strong>.<br />
As polícias <strong>de</strong>vem ser melhor preparadas e equipadas tanto para o combate<br />
como para a prevenção da criminalida<strong>de</strong>. As ações <strong>de</strong> polícia comunitária vêm<br />
apresentan<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> são implantadas. Programas <strong>de</strong> prevenção ao<br />
uso <strong>de</strong> drogas como o PROERD, que é realiza<strong>do</strong> pela Polícia Militar para alu<strong>no</strong>s da<br />
4ª série <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental <strong>de</strong> escolas públicas também tem apresenta<strong>do</strong><br />
resulta<strong>do</strong>s satisfatórios.<br />
A Polícia Civil <strong>de</strong>ve ser melhor estruturada, <strong>no</strong> que tange ao efetivo, uma vez<br />
que atualmente os policiais não conseguem sair <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das <strong>de</strong>legacias para a<br />
investigação <strong>de</strong> crimes, em virtu<strong>de</strong> da superpopulação <strong>de</strong> presos nas ca<strong>de</strong>ias<br />
públicas. Este fato gera a sensação <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> crime cometi<strong>do</strong>, ninguém irá<br />
investigá-lo.<br />
Campanhas como a <strong>do</strong> <strong>de</strong>sarmamento e para <strong>de</strong>sestímulo <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />
entorpecentes em geral (bebidas alcoólicas, maconha, crack etc.) são outro fator que<br />
contribuirá para a diminuição das taxas <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong>.<br />
54
Observou-se, neste trabalho, que o crime <strong>de</strong> maior incidência em <strong>Rolândia</strong> é<br />
o tráfico <strong>de</strong> entorpecentes, <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-se ainda em mais crimes, como homicídios,<br />
roubos e furtos. Portanto, é preciso combater o tráfico <strong>de</strong> entorpecentes <strong>de</strong> forma<br />
mais efetiva, com punições mais severas aos traficantes. O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve criar<br />
centros <strong>de</strong> tratamento para os usuários, bem como investir na prevenção, evitan<strong>do</strong><br />
que crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação <strong>de</strong> risco fiquem com tempo ocioso e<br />
sozinhos enquanto os pais trabalham fora.<br />
A presente pesquisa mostra que 35,36% <strong>do</strong>s crimi<strong>no</strong>sos que agem em<br />
<strong>Rolândia</strong> são provenientes <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “morro”, que compreen<strong>de</strong> os bairros San<br />
Fernan<strong>do</strong>, Jardim Itália, Padre Ângelo, Jardim Primavera, Conjunto Aviação e Jardim<br />
das Américas. Porém, os bairros mais afeta<strong>do</strong>s com a criminalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
da<strong>do</strong>s da Polícia Militar, são: Centro, Vila Oliveira, Jardim Novo Horizonte e Bairro<br />
Santiago. O Bairro San Fernan<strong>do</strong> e o Santiago são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os mais violentos,<br />
<strong>no</strong>rmalmente com ocorrências que envolvem brigas e homicídios entre traficantes.<br />
Para combater a criminalida<strong>de</strong> nesses locais será necessário maior implementação<br />
<strong>do</strong> policiamento, com operações maciças tanto da Polícia Civil como da Polícia<br />
Militar.<br />
Combater o <strong>de</strong>semprego através <strong>de</strong> melhor preparo da mão <strong>de</strong> obra já<br />
existente, ou seja, <strong>de</strong> adultos que estão <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, porém sem a<br />
<strong>de</strong>vida qualificação profissional.<br />
É necessário criar incentivos aos trabalha<strong>do</strong>res rurais para evitar que eles<br />
aban<strong>do</strong>nem a zona rural e se <strong>de</strong>sloquem para a zona urbana em busca <strong>de</strong> melhores<br />
condições <strong>de</strong> vida, aumentan<strong>do</strong> os bolsões <strong>de</strong> pobreza que afetam praticamente<br />
todas as cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> país.<br />
Criar campanhas <strong>de</strong> controle da natalida<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r as camadas mais<br />
baixas da população, já que é nestas camadas que a miséria é maior e as famílias<br />
são mais numerosas.<br />
Reduzir a sensação <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> ações <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res Executivo,<br />
Legislativo, Judiciário e Ministério Público, com sanções céleres, eficientes e<br />
eficazes.<br />
55
Constatou-se que 72,32% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s praticaram o primeiro <strong>de</strong>lito antes<br />
<strong>do</strong>s 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Com base neste resulta<strong>do</strong>, sugere-se que os jovens sejam<br />
motiva<strong>do</strong>s a exercerem ativida<strong>de</strong>s lícitas e se tornarem membros atuantes da<br />
socieda<strong>de</strong> em que vivem. Para isso, sugere-se a implantação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong><br />
assistência às crianças e a<strong>do</strong>lescentes, on<strong>de</strong> os mesmos tenham maior acesso à<br />
educação, esportes, bem como cursos <strong>de</strong> formação técnica e profissional. Além<br />
disto, firmar convênios entre centros <strong>de</strong> formação e capacitação <strong>de</strong> jovens e<br />
empresários locais para inseri-los <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho assim que concluírem o<br />
curso.<br />
A educação é a melhor forma <strong>de</strong> se prevenir a criminalida<strong>de</strong>, porém <strong>de</strong>ve ser<br />
uma educação com qualida<strong>de</strong>. A escola pública <strong>de</strong>ve oferecer aos seus alu<strong>no</strong>s<br />
materiais educativos, espaço para esporte e lazer com mais qualida<strong>de</strong>. Se a criança<br />
e o a<strong>do</strong>lescente tiverem uma boa escola, uma excelente educação familiar,<br />
educação moral, profissional, cívica, ambiental e religiosa já será um gran<strong>de</strong> passo<br />
na prevenção da criminalida<strong>de</strong>.<br />
Por fim, <strong>de</strong>ve-se buscar a solidificação da família como pilar <strong>de</strong> todas as<br />
ações <strong>de</strong> combate às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e à criminalida<strong>de</strong>.<br />
56
6. REFERÊNCIAS<br />
ADORNO, Sérgio. Violência Criminal <strong>no</strong> Brasil. Demografia da Violência.<br />
Brasília: CNPD, 1998.<br />
ADORNO, S. e col. A criminalida<strong>de</strong> negra <strong>no</strong> banco <strong>do</strong>s réus: discriminação e<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>no</strong> acesso à justiça penal. Relatório <strong>de</strong> pesquisa. São Paulo: Núcleo<br />
<strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s da Violência, 1994. (Fundação Ford, CNPq e FAPESP).<br />
BALBINOTTO NETO, G. A teoria econômica <strong>do</strong> crime. Revista Lea<strong>de</strong>r, Edição n.<br />
35. Fev./2003. Disponível em: http://www.iee.com.br/lea<strong>de</strong>r/edicao_35/in<strong>de</strong>x.asp<br />
Acesso em: 20/11/2007.<br />
BECKER, G. S. Crime and punishment: an eco<strong>no</strong>mic approach. Journal of<br />
political eco<strong>no</strong>my. v. 76. n. 01. 1968. p. 169-217.<br />
BENOÎT, J. P.; OSBORNE, M. J. Crime, punishment, and social expenditure.<br />
Journal of Institutional and Theoretical Eco<strong>no</strong>mics. v. 151, n. 02. 1995. p.326-347.<br />
BORILLI, S. P.; SHIKIDA, P. F. A. Eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime: Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso nas<br />
penitenciárias paranaenses. 2005.<br />
CARRARA, Francisco. Programme <strong>de</strong> cours <strong>de</strong> droit criminel. Trad. Francesa <strong>de</strong><br />
Paul Bare, 4 ed., Paris, 1876<br />
Comissão Parlamentar <strong>de</strong> Inquérito. A Realida<strong>de</strong> Brasileira <strong>do</strong> Me<strong>no</strong>r. Câmara <strong>do</strong>s<br />
Deputa<strong>do</strong>s, 1976.<br />
DURKHEIN, Emile. Regras <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Sociológico, 1885.<br />
ENGEL, L. E. F. A eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime <strong>no</strong> Paraná: Um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso na<br />
Penitenciária Industrial <strong>de</strong> Cascavel. Tole<strong>do</strong>. 2003. Mo<strong>no</strong>grafia (Bacharel em<br />
57
Ciências Econômicas) – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais Aplicadas, Universida<strong>de</strong><br />
Estadual <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Paraná, Campus <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong>.<br />
EHRLICH, I. Participation in illegitimate activities: an theoretical and empirical<br />
investigation. Journal of Political Eco<strong>no</strong>my, v. 81, p. 521-565, 1973.<br />
ESPINOZA. Olga. Mulheres Encarceradas em Face <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Punitivo. São<br />
Paulo: IBCCrim, 2004.<br />
FARIAS JUNIOR, João . Manual <strong>de</strong> Crimi<strong>no</strong>logia. Curitiba: Juruá, 2001.<br />
FERNADEZ, J. C. A eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime revisitada. Eco<strong>no</strong>mia & Tec<strong>no</strong>logia.<br />
Campinas, v. 1, n. 3. Jul.-Set./1998. p. 36-44.<br />
FERNANDEZ, J. C.; MALDONADO, G. E. C. A eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> narcotráfico: uma<br />
abordagem a partir da experiência boliviana. Nova Eco<strong>no</strong>mia. Belo Horizonte: v.<br />
9, n. 02, <strong>de</strong>z. 1999. p.137-173.<br />
FERNANDEZ, J. C.; PEREIRA, R. A criminalida<strong>de</strong> na região policial da gran<strong>de</strong><br />
São Paulo sob a ótica da eco<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> crime. Revista Econômica <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, v.<br />
31, número especial, <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2000. p. 898-918.<br />
FERRI, Enrico. Sociologia Criminal. Campinas – SP: Minelli, 2006.<br />
FREEMAN, R. Why <strong>do</strong> so many young American men commit crimes and what might<br />
we <strong>do</strong> about it? Journal of Eco<strong>no</strong>mic Perspectives, v. 10, n. 1, p. 25-42, 1996<br />
GLASER, Daniel. Crime in our Changing Society. 1978<br />
GIL, Antonio C. Técnicas <strong>de</strong> pesquisa em eco<strong>no</strong>mia e elaboração <strong>de</strong> mo<strong>no</strong>grafias.<br />
São Paulo: Atlas, 2000.<br />
HARLOW, C. W. Education and correctional populations. Bureau of Justice<br />
Statistics Special Report, 2003. Disponível em:<br />
58
. Acesso em 08 jun. 2008.<br />
LANYIR, Emílio. Lês Grands Systèmes Penitenciaires Actuelles. Paris, 1950.<br />
LOCHNER, L.; MORETTI, E. The effect of education on crime: evi<strong>de</strong>nce from prison<br />
inmates, arrests, and self-reports. The American Eco<strong>no</strong>mic Review, v. 94, n. 1,<br />
mar., 2004, p. 155-189.<br />
LYRA FILHO, Roberto. Novo Direito Penal, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1980.<br />
GARCIA-PABLOS, Antonio. Crimi<strong>no</strong>logia, uma introdução a seus fundamentos<br />
teóricos, São Paulo: RT, 1999.<br />
PESQUISA Cinetífica. <strong>Rolândia</strong>. Disponível na Internet em:<br />
da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> Heckman. Curitiba, Revista Paranaense <strong>de</strong> Desenvolvimento,<br />
nº 112, jan./jun. 2007.<br />
SCHWENGBER, Claudia Portellinha. Aspectos Históricos <strong>de</strong> <strong>Rolândia</strong>. Cambe:<br />
WA Ricieri, 2003<br />
SHIKIDA, Pery A.; ARAÚJO Jr., Ari; SHIKIDA, Cláudio D.; BORILLI, Salete P.<br />
Determinantes <strong>do</strong> Comportamento Crimi<strong>no</strong>so: Um Estu<strong>do</strong> Eco<strong>no</strong>métrico nas<br />
Penitenciárias Central, Estadual e Feminina <strong>de</strong> Piraquara- PR.<br />
SILVA, Mário Pereira da. Medicina Legal. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rio, 1975.<br />
SOARES, S. S. D. Educação: um escu<strong>do</strong> contra o homicídio? Brasília, IPEA,<br />
Texto para Discussão 1298, 2007.<br />
SZNICK, Valdir. Delito Habitual. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1996.<br />
VERGARA, F. O <strong>Perfil</strong> Sócio-Demográfico da Mulher Crimi<strong>no</strong>sa em Marília<br />
(1990-1997) 1998. Mo<strong>no</strong>grafia (Bacharela<strong>do</strong> em Ciências Sociais) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Filosofia e Ciência, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, Marília, 1998.<br />
VILLANUEVA, Orion. <strong>Rolândia</strong> - Terra <strong>de</strong> Pioneiros. Londrina: Gráfica Ipê, 1974.<br />
TAUCHEN, H.; WITTE, A. D.; GRIESINGER, H. Criminal <strong>de</strong>terrence: revisiting the<br />
issue with a birth cohort. This Review, v. 76, p. 399-412, 1994.<br />
60
ANEXO A<br />
QUESTIONÁRIO SOBRE O PERFIL DOS CRIMINOSOS DO MUNICÍPIO DE<br />
ROLÂNDIA<br />
1. Ida<strong>de</strong>: _________________________________________________________<br />
2. Sexo: ( ) Masculi<strong>no</strong> ( ) Femini<strong>no</strong><br />
3. Raça / Cor:<br />
( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena<br />
4. Cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> : ______________________________________________<br />
Bairro : _________________________________________________________<br />
Subúrbio: ( ) Sim ( ) Não<br />
5. Renda Individual:_________________________________________________<br />
6. Renda Familiar: __________________________________________________<br />
7. Resi<strong>de</strong> com os pais? ( ) Sim ( ) Não<br />
8. Pais separa<strong>do</strong>s? ( ) Sim ( ) Não<br />
9. Possui <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes?<br />
( ) Sim ( ) Não Quantos? __________________________<br />
10. Com quem foi cria<strong>do</strong>? _____________________________________________<br />
11. Possui religião? ( ) Sim ( ) Não<br />
Qual? ( ) Católica ( ) Evangélica<br />
12. É praticante da religião? ( ) Sim ( ) Não<br />
13. Profissão: _______________________________________________________<br />
14. Estava Emprega<strong>do</strong> ou procurava emprego na ocasião em que cometeu o crime?<br />
_______________________________________________________________<br />
15. Grau <strong>de</strong> <strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>:<br />
( ) 1ª a 4ª série incompleto ( ) 1ª a 4ª série completo<br />
( ) 5ª a 8ª série incompleto ( ) 5ª a 8ª série completo<br />
( ) 1ª a 3ª série EM incompleto ( ) 1ª a 3ª série EM completo<br />
( ) Curso superior ( ) Sem escolarida<strong>de</strong><br />
61
16. Ida<strong>de</strong> com que praticou o primeiro <strong>de</strong>lito? _____________________________<br />
17. Faz uso <strong>de</strong> substância entorpecente?<br />
( ) Sim ( ) Não<br />
Qual? ( ) Maconha ( ) Crack ( ) Cocaína ( ) Outras<br />
18. Tem amigos que já praticaram crimes?<br />
( ) Sim ( ) Não Qual? _____________________________<br />
19. Utilizou arma <strong>no</strong> crime cometi<strong>do</strong>?<br />
( ) Sim ( ) Não Qual? ( ) Arma <strong>de</strong> fogo ( ) Arma Branca<br />
20. Por qual crime está preso? Se for tráfico, com qual droga estava?<br />
_______________________________________________________________<br />
21. No momento <strong>do</strong> crime estava sob efeito <strong>de</strong> substância entorpecente ou álcool?<br />
( ) Sim ( ) Não<br />
22. Por que motivo cometeu o crime? ____________________________________<br />
( ) Necessida<strong>de</strong> Financeira / Pessoal<br />
( ) Influência <strong>de</strong> amigos<br />
( ) Influência <strong>de</strong> substância entorpecente<br />
( ) Espírito <strong>de</strong> Aventura<br />
23. Em sua opinião, o que <strong>de</strong>veria ser feito para diminuir a criminalida<strong>de</strong> em <strong>Rolândia</strong>?<br />
( ) Maior oferta <strong>de</strong> empregos<br />
( ) Aumento <strong>do</strong> efetivo policial<br />
( ) Mais oportunida<strong>de</strong>s na educação local<br />
( ) Mais políticas públicas para aten<strong>de</strong>r população carente<br />
24. Foi preso por quem?<br />
( ) Polícia Civil<br />
( ) Polícia Militar<br />
( ) Outros. ___________________________________________________<br />
62