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A interligação da matemática com a história - Universidade Estadual ...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL<br />

COORDENAÇÃO DO CURSO DE MATEMÁTICA – UNIDADE DE DOURADOS<br />

ROBSON FANTINATO CAJU<br />

A <strong>interligação</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> <strong>com</strong> a <strong>história</strong> Árabe<br />

Orientação<br />

Prof. Dr. Marcelo Sales Batarce<br />

Dourados – MS<br />

2010<br />

- 1 -


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL<br />

COORDENAÇÃO DO CURSO DE MATEMÁTICA – UNIDADE DE DOURADOS<br />

A <strong>interligação</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> <strong>com</strong> a <strong>história</strong> Árabe<br />

ROBSON FANTINATO CAJU<br />

Trabalho de Conclusão de<br />

Curso apresentado à<br />

Coordenação do Curso de<br />

Matemática <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

<strong>Estadual</strong> de Mato Grosso do<br />

Sul, <strong>com</strong>o requisito parcial para<br />

obtenção de título de<br />

Licenciado em Matemática.<br />

Orientação: Prof. Dr. Marcelo Sales Batarce<br />

Dourados - MS<br />

2010<br />

- 2 -


Ficha catalográfica elabora<strong>da</strong> pelo serviço de biblioteca e<br />

documentação <strong>da</strong> UEMS<br />

C139i Caju, Robson Fantinato<br />

A <strong>interligação</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> <strong>com</strong> a <strong>história</strong> árabe/ Robson<br />

Fantinato Caju. Dourados: UEMS, 2010.<br />

51p. ; 30cm..<br />

TCC (Trabalho de Conclusão de Curso ( Matemática) –<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>Estadual</strong> do Mato Grosso do Sul, 2010.<br />

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Sales Batarce.<br />

1.Matemática 2. História 3. Educação 4. Malba Tahan. I.Título.<br />

CDD 20.ed. 510<br />

- 3 -


Robson Fantinato Caju<br />

A <strong>interligação</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong><br />

<strong>com</strong> a <strong>história</strong> Árabe.<br />

Aprova<strong>da</strong> em: 10 /12 / 2010<br />

Folha de Aprovação<br />

Banca Examinadora<br />

Prof. Dr. Marcelo Sales Batarce [Orientador]<br />

Instituição: UEMS. Assinatura:_______________________________________<br />

Prof. Dra.Loudes Stefanello<br />

Instituição: UEMS. Assinatura_______________________________________<br />

Prof. Dr. Dr. Lucélio Ferreira Simião<br />

Instituição: UEMS. Assinatura_______________________________________<br />

- 4 -<br />

Trabalho de conclusão de curso<br />

apresentado à <strong>com</strong>issão de Graduação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>Estadual</strong> do Mato Grosso do<br />

sul, <strong>com</strong>o parte <strong>da</strong>s exigências para<br />

obtenção do titulo de graduado em<br />

licenciatura.<br />

Área: Historia <strong>da</strong> Matemática.<br />

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Sales Batarce


Dedicatória<br />

- 5 -<br />

Dedico este trabalho aos meus pais<br />

João Zacarias caju e a Rosa Fantinato<br />

Mariano Caju, que marcaram minha<br />

<strong>história</strong> e minhas buscas, acreditando<br />

em meus ideais e mostrando-me o<br />

caminho <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>de e esperança.


Agradecimentos<br />

Em ca<strong>da</strong> trecho deste caminho e desta procura intensa, pessoas<br />

revelaram-se grandes amigos, <strong>com</strong>panheiros e sábios em suas palavras e<br />

ações. Em especial, o meu muito obrigado:<br />

ao professor Batarce, que de forma singular, entrou em meu barco de<br />

idéias e esperanças, me conduzindo e me a<strong>com</strong>panhando em um caminho<br />

distante sobre a cultura árabe;<br />

a Odíla Fantinato e Maria Pureza Caju , que me incentivaram a nunca<br />

desistir de meus sonhos.<br />

as <strong>com</strong>panheiras de turma Vanessa, Jessica, Tiake, Jonas, Maristela,<br />

Maria luzimar, Claudia, Eloíza, Edilene, Vanessa s., Valdir e outros que<br />

sempre me aju<strong>da</strong>ram a desenvolver meu trabalho <strong>com</strong> idéias e pesquisa de<br />

material.<br />

e nunca esquecendo de Deus, que sabia de to<strong>da</strong> minha trajetória e de<br />

minhas pretensões .<br />

- 6 -


- 7 -<br />

―O que conhecemos de nós mesmos não é senão superfície. A profundi<strong>da</strong>de<br />

permanece-nos em grande parte oculta. Só Deus a conhece. Quem procura a<br />

ver<strong>da</strong>de procura Deus, ain<strong>da</strong> que não o saiba.‖<br />

EDITH STEIN


- 8 -<br />

CAJU, R. F. A <strong>interligação</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> <strong>com</strong> a <strong>história</strong><br />

Árabe. 2010. Tese (Graduação) - Universi<strong>da</strong>de <strong>Estadual</strong> do Mato<br />

Grosso do Sul, Dourados, 2010.<br />

RESUMO<br />

Este trabalho foi desenvolvido em uma pesquisa bibliográfica sobre o<br />

surgimento do Império Árabe que teve a sua constituição apartir <strong>da</strong> origem do<br />

Islamismo, sendo uma socie<strong>da</strong>de foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo profeta Maomé. Foi após a<br />

morte do profeta Maomé, que a Arábia foi unifica<strong>da</strong>. A partir desta união,<br />

impulsiona<strong>da</strong> pela doutrina religiosa islamita, foi inicia<strong>da</strong> a expansão do império<br />

árabe. Além de contarem <strong>com</strong> a noção do zero, inexistente nos algarismos<br />

romanos utilizados até então, contavam <strong>com</strong> dez símbolos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,<br />

8 e 9), proporcionando uma escrita muito mais simples dos números do que os<br />

sete símbolos romanos (I, V, X, L, C, D e M). Foi à grafia própria dos árabes<br />

ocidentais que atingira os povos cristãos <strong>da</strong> Europa medieval a partir <strong>da</strong><br />

Espanha, antes de <strong>da</strong>r origem aos algarismos que hoje conhecemos. Uma<br />

demonstração integral <strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de do Islão e <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de e igual<strong>da</strong>de<br />

entre os muçulmanos é a resposta ao chamado de Deus, os muçulmanos de<br />

to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, de to<strong>da</strong>s as classes e profissões, vin<strong>da</strong>s de to<strong>da</strong>s as partes do<br />

mundo, reúnem-se em Meca. Desta forma quando se deparam diante <strong>da</strong><br />

formas de numeração e dos métodos de cálculo que vieram <strong>da</strong> Índia, os árabes<br />

souberam apreciar suas vantagens, reconhecendo a sua superiori<strong>da</strong>de e<br />

adotá-los em sua vi<strong>da</strong>. No século XI, a ativi<strong>da</strong>de dos tradutores e dos<br />

<strong>com</strong>piladores de obras árabes, gregas ou hindus floresceu na Espanha<br />

desenvolvendo um grande papel para o surgimento de grandes escritores. Esta<br />

querela durou vários séculos e, mesmo após a evidente vitória dos algoristas, o<br />

uso do ábaco continuou. No século XVIII ele ain<strong>da</strong> era ensinado. No mundo<br />

ocidental somente após a Revolução Francesa marcou-se o fim deste capítulo<br />

na <strong>história</strong> dos contadores mecânicos. A <strong>história</strong> diz que foi exatamente por<br />

causa do peso dos contadores que estes foram abolidos <strong>da</strong>s escolas e<br />

administrações públicas. Abu Abd Allah Muhammad ibn Musa AL-Khowarizmi<br />

foi um matemático árabe que era originário de Khowarezm, a região a sul do


- 9 -<br />

mar Aral, na altura <strong>da</strong> Pérsia ocupa<strong>da</strong> pelos Árabes. Foi um dos primeiros<br />

matemáticos a trabalhar na Casa <strong>da</strong> Sabedoria, Seu livro que eternizou seu<br />

nome é o livro do cálculo Algébrico e confrontação, que não somente deu o<br />

nome de Álgebra a esta ciência, em seu significado moderno, mas abriu uma<br />

nova era <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>. Através do título de seu livro mais importante, Al-jabr<br />

Wa‘l muqabalah, Al Khawarizmi nos deu uma palavra ain<strong>da</strong> mais familiar, do<br />

titulo desse livro veio o termo álgebra, anos mais tarde a Europa aprendeu o<br />

ramo <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> que tem esse nome. A tradução latina do livro ―Álgebra‖<br />

de AL-Khowarizmi se inicia <strong>com</strong> uma breve explanação introdutória do principio<br />

posicional para números e <strong>da</strong>í passa à resolução, em seus seis capítulos<br />

curtos, dos seis tipos de equações forma<strong>da</strong>s <strong>com</strong> a três espécies de<br />

quanti<strong>da</strong>des: raízes, quadrados e números.Leva inevitavelmente a concluso de<br />

que a álgebra árabe tinha muito em <strong>com</strong>um <strong>com</strong> a geometria grega; no<br />

entanto, a primeira parte, aritmética, <strong>da</strong> álgebra de al-Khowarizmi<br />

evidentemente é estranha ao pensamento grego. Já noção de número e suas<br />

extraordinárias generalizações estão intimamente liga<strong>da</strong>s à <strong>história</strong> <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de.<br />

Palavras chaves: Matemática, <strong>história</strong>, educação, e álgebra.


- 10 -<br />

CASHEW, R. F . The connection of mathematics with<br />

Arabian history. 2010. of <strong>com</strong>pletion of course work<br />

(Undergraduate) - University of Mato Grosso do Sul, Dourados,<br />

2010.<br />

ABSTRACT<br />

This study was conducted in a bibliographic research on the emergence of the<br />

Arab Empire which had its constitution apartir the origin of Islam, being a<br />

society was founded by the prophet Muhammad. It was after the death of the<br />

Prophet Muhammad, Arabia was unified. From this union, driven by Islamic<br />

religious doctrine, began the expansion of the Arab empire. In addition to<br />

providing the concept of zero, zero in Roman numerals used until then, had ten<br />

symbols (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 and 9), providing a much simpler writing of<br />

numbers of the seven Roman symbols (I, V, X, L, C, D and M). Was itself the<br />

spelling of the Arabs that had befallen the Western Christian peoples of Europe<br />

from medieval Spain, before giving rise to the figures we know to<strong>da</strong>y. A full<br />

demonstration of the universality of Islam and brotherhood and equality among<br />

Muslims is the answer to the call of God, Muslims of all ages, from all walks of<br />

life, <strong>com</strong>ing from all over the world gather in Mecca . Thus when presented<br />

before the numbering forms and methods of calculation which came from India,<br />

the Arabs were able to enjoy its advantages, recognizing its superiority and<br />

adopt them in your life. In the eleventh century, the activity of translators and<br />

<strong>com</strong>pilers of works Arabs, Greeks and Hindus flourished in Spain developing a<br />

large role in the emergence of great writers. This quarrel lasted for several<br />

centuries and even after the apparent victory of the algor, the continued use of<br />

the abacus. In the eighteenth century it was still taught. In the Western world<br />

only after the French Revolution was marked the end of this chapter in the<br />

history of mechanical counters. The story says it was exactly because of the<br />

weight of these counters have been abolished from schools and public<br />

administrations. Abu Abd Allah Muhammad ibn Musa Al-Khowarizmi was an<br />

Arab mathematician who was from Khowarezm, the region south of the Aral<br />

Sea, at the height of Persia occupied by Arabs. One of the first mathematicians


- 11 -<br />

to work in the House of Wisdom, his book that his name is immortalized in the<br />

book Algebraic calculation and confrontation, which not only gave the name of<br />

this algebra to science in its modern meaning, but opened a new era of Math.<br />

Through the title of his most important book, Al-Jabr wa'l muqabalah, Al<br />

Khawarizm gave us a word more familiar, the title of this book came the term<br />

algebra, years later Europe learned the branch of mathematics that takes its<br />

name . The Latin translation of "Algebra" AL-Khowarizmi begins with a brief<br />

introductory explanation of the principle for positional numbers and then passes<br />

the resolution, in its six short chapters, the six types of equations formed with<br />

three kinds of quantities: root , squares and números.Leva inevitably to<br />

conclusions that Arabic algebra had much in <strong>com</strong>mon with Greek geometry,<br />

however, the first part, arithmetic, algebra al-Khowarizmi obviously is alien to<br />

Greek thought. Since the concept of number and its extraordinary<br />

generalizations are intimately related to the history of mankind.<br />

Keywords: mathematics, history, education, and algebra.


SUMÁRIO<br />

- 12 -<br />

DEDICATÓRIA....................................................................................................V<br />

AGRADECIMENTOS.........................................................................................VI<br />

RESUMO..........................................................................................................VIII<br />

ABSTRACT.........................................................................................................X<br />

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................13<br />

2. A HISTÓRIA ÁRABE.....................................................................................23<br />

2.1 - COMO A HISTÓRIA ÁRABE SE DESENVOLVEU...................................23<br />

3. A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ÁRABE.....................................................28<br />

3.1-SURGIMENTOS DO ALGARISMO-ARÁBICO................................28<br />

3.2 - ABACISTAS X ALGORISTAS...................................................................34<br />

3.3 - UM PROFETA MATEMÁTICO - AL-KHOWARIZMI..................................36<br />

3.4 - EQUAÇÕES QUADRÁTICAS E A GEOMETRIA......................................39<br />

3.5 - PROBLEMAS ALGÉBRICOS....................................................................42<br />

3.6 - NUMERAIS ARÁBICOS E A TRIGONOMETRIA......................................43<br />

CONCLUSÃO....................................................................................................50<br />

REFERÊNCIAS.................................................................................................51


1. INTRODUÇÃO<br />

- 13 -<br />

Neste trabalho apresento um estudo bibliográfico no qual analiso pontos<br />

importantes <strong>da</strong> ciência árabe. Comecemos por antecipar alguns tópicos sobre a<br />

<strong>história</strong> árabe e sobre o que ela trouxe de contribuição para a educação<br />

<strong>matemática</strong>.<br />

A <strong>matemática</strong> árabe <strong>com</strong>eçou <strong>com</strong> a tradução dos Sid<strong>da</strong>nthas hindus<br />

por Al-Fazari e culminou <strong>com</strong> o surgimento de uma figura de grande<br />

importância: Muhammad Ibn Musa AL-Khowarizmi. Por volta de 825 A.C, o<br />

escritor Al-Khwarizmi escreveu vários tratados sobre <strong>matemática</strong> e astronomia.<br />

Esses tratados explicavam o sistema de numeração hindu.<br />

A Europa ficou conhecendo esse sistema graças a uma cópia latina do<br />

século XII, visto que o original árabe se perdeu. A astronomia de Al-Khowarizmi<br />

era um resumo dos Sid<strong>da</strong>nthas, o qual mostrava uma influência grega nos<br />

textos sânscritos. Os árabes tiveram um papel muito importante na <strong>história</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>matemática</strong>, pois traduziram, fielmente, os clássicos gregos (Apolônio,<br />

Arquimedes, Euclides, Ptolomeu e outros). Esses clássicos estariam perdidos<br />

para nós sem os árabes, visto o fechamento <strong>da</strong> escola de Atenas por<br />

Justiniano.<br />

Outro matemático brilhante foi Omar Khayyam. Ele escreveu uma<br />

álgebra que continha uma investigação sistemática de equações cúbicas,<br />

utilizando a interseção de duas seções cônicas. Jemshid Al-Kashi, matemático<br />

Persa resolveu equações cúbicas por iteração e por métodos trigonométricos, e<br />

também pelo método conhecido hoje <strong>com</strong>o método de Horner, utilizado para se<br />

calcular os polinômios. Esse método tem forte influência chinesa, o que nos faz<br />

pensar que a <strong>matemática</strong> chinesa <strong>da</strong> dinastia Sung havia penetrado<br />

profun<strong>da</strong>mente no mundo islâmico.<br />

Convém ressaltar, também, que os muçulmanos, ao expandir o<br />

islamismo, <strong>com</strong>eteram um dos maiores crimes contra a humani<strong>da</strong>de. Após a<br />

que<strong>da</strong> de Alexandria frente aos muçulmanos, o califa mandou queimar todos os<br />

manuscritos encontrados na biblioteca de Alexandria (cerca de 600.000 a.C)<br />

argumentando que: se constam do alcorão não precisam ser guar<strong>da</strong>dos e se<br />

não constam são inúteis. Conta à len<strong>da</strong> que os escritos alimentaram as


caldeiras dos banhos durante seis meses.<br />

- 14 -<br />

É preciso lembrar, também, o papel <strong>da</strong>s cruza<strong>da</strong>s. Com as cruza<strong>da</strong>s, a<br />

Europa cristã teve, novamente, contato <strong>com</strong> a <strong>matemática</strong> grega, traduzi<strong>da</strong><br />

para o árabe. Isso veio influenciar muito a Europa medieval e serviu <strong>com</strong>o fonte<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> sua <strong>matemática</strong> durante a i<strong>da</strong>de média. Nesse<br />

período houve um líder religioso chamado Maomé, que durante a primeira<br />

parte <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> era um mercador e realizou extensas viagens no contexto do<br />

seu trabalho. Segundo a doutrina islâmica, em 610 a.C. ele ouve a voz do<br />

arcanjo Gabriel enquanto medita no Monte Hirã. Ele aprende os ensinamentos<br />

que vieram <strong>com</strong>por o Alcorão, que lhe teriam sido revelado por Deus. As<br />

pregações de Maomé sensibilizam os mais pobres e desagra<strong>da</strong>m às classes<br />

dominantes de Meca.<br />

A ci<strong>da</strong>de de Meca (pronunciado mɛkə, também chamado Makka é a<br />

terceira maior ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Arábia Saudita, considera<strong>da</strong> o local mais sagrado de<br />

reunião <strong>da</strong> religião islâmica. A tradição islâmica atribui o início de Meca aos<br />

descendentes de Ismael. No século VII, o profeta islâmico Maomé proclamou o<br />

Islamismo na ci<strong>da</strong>de, então um importante centro <strong>com</strong>ercial, e a ci<strong>da</strong>de<br />

desempenhou um papel importante na <strong>história</strong> inicial do Islã.<br />

Como legados tecnológicos do mundo Islâmico Medieval, podemos<br />

enumerar principalmente duas coisas: os algarismos arábicos e a pólvora.<br />

Aliás, na História <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de, ao lado do fogo e <strong>da</strong> ro<strong>da</strong>, a pólvora é a<br />

invenção mais revolucionária de todos os tempos. É importante lembras que a<br />

pólvora não foi propriamente uma invenção árabe e sim chinesa. Aos árabes<br />

coube, portanto, seu aperfeiçoamento.<br />

Durante to<strong>da</strong> sua <strong>história</strong>, a ciência chinesa sofreu <strong>com</strong> vários<br />

problemas, que impediram sua continui<strong>da</strong>de e aprimoramento. Em 213 a.C. o<br />

imperador <strong>da</strong> China mandou queimar os livros existentes. Mesmo que algumas<br />

cópias tenham sido salvas, a per<strong>da</strong> foi irreparável. No século XX, Mao-Tsé-<br />

Tung, <strong>com</strong> sua ―Revolução Cultural‖ também promoveu uma queima<br />

generaliza<strong>da</strong> de livros, considerados ―subversivos‖.<br />

Provavelmente houve contato cultural entre Índia e China e entre a<br />

China e o ocidente. Muitos dizem que houve influência Babilônica na<br />

<strong>matemática</strong> chinesa, apesar de que a China não utilizava frações<br />

sexagesimais. O sistema de numeração chinês era decimal, porém <strong>com</strong>


- 15 -<br />

notações diferentes <strong>da</strong>s conheci<strong>da</strong>s na época. Eles utilizavam o sistema de<br />

―barras‖ (I, II, III, IIII, T). Não podemos precisar a i<strong>da</strong>de desse sistema de<br />

numeração, porém sabe-se que ele é anterior ao sistema de notação<br />

posicional. Essa notação em barras não era simplesmente utiliza<strong>da</strong> em placas<br />

de calcular (escrita). Barras de bambu, marfim ou de ferro eram carrega<strong>da</strong>s em<br />

sacolas pelos administradores para que os cálculos fossem efetuados. Esse<br />

método era mais simples e rápido do que o cálculo realizado <strong>com</strong> ábaco,<br />

soroban ou suan phan.<br />

Os chineses conheciam as operações sobre frações <strong>com</strong>uns, utilizando<br />

o m.d.c. Trabalhavam <strong>com</strong> números negativos por meio de duas coleções de<br />

barras (vermelha para os coeficientes positiva e preta para os negativos),<br />

porém não aceitava números negativos <strong>com</strong>o solução de uma equação. A<br />

<strong>matemática</strong> chinesa é tão diferente <strong>da</strong> de outros povos <strong>da</strong> mesma época que<br />

seu desenvolvimento ocorreu de forma independente. Lui Hui, no terceiro<br />

século, determinou um valor para PI utilizando, primeiro um polígono regular<br />

<strong>com</strong> 96 lados (3,14) e depois utilizando um polígono regular <strong>com</strong> 3072 lados (3<br />

14159).<br />

Sabe-se que a partir <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de média na Europa, a <strong>matemática</strong> chinesa<br />

não tinha realizações que se <strong>com</strong>parassem às européias e do oriente próximo.<br />

Possivelmente, a China absorvia mais <strong>matemática</strong> do que enviava.<br />

Possivelmente, também, as ciências chinesas e hindus sofreram influências<br />

mútuas durante o primeiro milênio de nossa era.<br />

Já na metade do século IX, os árabes se tornaram especialistas em<br />

cálculo e passaram a manejar os números elevados <strong>com</strong> mais facili<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong>,<br />

na medi<strong>da</strong> em que os algarismos e métodos de origem hindu facilitavam a<br />

prática de to<strong>da</strong>s as operações aritméticas. Os hindus criaram métodos de<br />

cálculos que são feitos por apenas nove sinais. A referência a nove, e não dez<br />

símbolos significam que o passo mais importante <strong>da</strong>do pelos hindus para<br />

formar o seu sistema de numeração a invenção do zero, que ain<strong>da</strong> o Ocidente<br />

não conhecia, tudo isso ocorreu na Índia, no fim do século VI. Mas foram<br />

necessários muitos séculos para que esse símbolo chegasse à Europa. Com a<br />

introdução do décimo sinal o zero o sistema de numeração tal qual o<br />

conhecemos hoje estava <strong>com</strong>pleto. Até chegar aos números que você


- 16 -<br />

aprendeu a ler e escrever, os símbolos criados pelos hindus mu<strong>da</strong>ram<br />

bastante. Hoje, estes símbolos são chamados de algarismos indo-arábico.<br />

A idéia dos hindus de introduzir uma notação para uma posição vazia,<br />

um ovo de ganso, redondo - ocorreu na Índia, no fim do século VI. Mas foram<br />

necessários muitos séculos para que esse símbolo chegasse à Europa. Com a<br />

introdução do décimo sinal - o zero - o sistema de numeração tal qual o<br />

conhecemos hoje estava <strong>com</strong>pleto. Até chegar aos números que você<br />

aprendeu a ler e escrever, os símbolos criados pelos hindus mu<strong>da</strong>ram<br />

bastante.<br />

Os algarismos tiveram no início uma forma bastante próxima <strong>da</strong> grafia<br />

hindu de origem, mas, <strong>com</strong> o tempo e passado alguns séculos, os árabes<br />

fizeram evoluir os métodos hindus. Assim, quando se viram diante <strong>da</strong> formas<br />

de numeração e dos métodos de cálculo que vieram <strong>da</strong> Índia, os árabes<br />

souberam apreciar suas vantagens, reconhecendo sua superiori<strong>da</strong>de e os<br />

adotaram em sua vi<strong>da</strong>. Ao contrario, os cristãos que viviam na Europa tão<br />

presa a seus sistemas arcaicos e atrasa<strong>da</strong> ficaram duvidosos diante <strong>da</strong>s<br />

novi<strong>da</strong>des, sendo necessário que o estudioso Al-Khowarizmi <strong>com</strong>eçasse a<br />

<strong>com</strong>preender esse novo cálculo matemático <strong>com</strong>o o ―algoritmo‖, tão falado na<br />

época, sendo denominado <strong>com</strong>o cálculo escrito, se tornando definitivo e total<br />

em to<strong>da</strong>s as regiões <strong>da</strong> Europa.<br />

No século XI, a ativi<strong>da</strong>de dos tradutores e dos <strong>com</strong>piladores de obras<br />

árabes, gregas ou hindus floresceu na Espanha, desenvolvendo um grande<br />

papel para o surgimento de grandes escritores. Lentamente, esse período dos<br />

séculos XII e XIII trouxe ao conhecimento <strong>da</strong> Europa as obras de Al-<br />

Khowarizmi e de muitos outros que fizeram o mundo e as pessoas crescerem<br />

intelectual e psicologicamente. Com muitas viagens, Al-Khowarizmi acabou<br />

encontrando na região árabe os mestres <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> árabe que lhe<br />

explicaram a fundo seu grandioso sistema numérico, as regras do cálculo<br />

algébrico e os princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> geometria.<br />

A querela entre ―abacistas‖ (defensores dos números romanos e do<br />

cálculo em ábaco de fichas) e os ―algoristas‖ (defensores do cálculo por<br />

algarismos de origem hindu) durou vários séculos. Mesmo após a vitória dos<br />

novos métodos, o uso do ábaco ain<strong>da</strong> permaneceu. Foi por causa do peso que<br />

o uso do ábaco foi abolido <strong>da</strong>s escolas e administrações.


- 17 -<br />

Quando ocorreram as Cruza<strong>da</strong>s, <strong>com</strong> as trocas de culturas e<br />

informações <strong>com</strong> a cultura muçulmana, as guerras por elas implementa<strong>da</strong>s<br />

tentaram introduzir o catolicismo no meio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de árabe. Por sua vez,<br />

uma grande parte do clero aprendeu o cálculo pelo modo de AL-Khowarizmi,<br />

desenhando os números na areia sem recorrer às colunas do ábaco.<br />

Abu Abd Allah Muhammad ibn Musa AL-Khowarizmi foi um matemático,<br />

astrônomo, astrólogo, geógrafo e autor persa, que nasceu em torno de 780 d.C<br />

e morreu por volta do ano 850 d.C. Sua família era originária de Khowarezm,<br />

região ao sul do mar Aral, na altura <strong>da</strong> Pérsia ocupa<strong>da</strong> pelos Árabes<br />

(atualmente parte do Uzbequistão). Foi um dos primeiros matemáticos a<br />

trabalhar na Casa <strong>da</strong> Sabedoria, em Bagh<strong>da</strong>d, durante o reinado do califa AL-<br />

Mamum (813-833 d.C).<br />

O livro que eternizou seu nome é o Kitab Al Mukhtassar Fi Hissab Al<br />

Jabr Wal Mukabala (livro do cálculo Algébrico e confrontação), que não<br />

somente deu o nome de Álgebra a essa ciência, em seu significado moderno,<br />

<strong>com</strong>o também abriu uma nova era <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>. É ver<strong>da</strong>de que em dois<br />

aspectos a obra de AL-Khowarizmi representa um retrocesso <strong>com</strong> relação à de<br />

Diofante, por tratar de elementos mais elementares alem de não utilizar<br />

qualquer tipo de simbolismo apresentando assim uma álgebra totalmente<br />

retórica, mas por outro lado estava mais próximo <strong>da</strong> álgebra elementar de hoje<br />

pois continua uma exposição direta e elementar de resoluções de equações,<br />

priciplamente do 2° grau. Para alguns, naquela época Diofante é considerado<br />

o pai <strong>da</strong> álgebra, principalmente devido a sua inovação <strong>com</strong> as notações,<br />

sendo o primeiro a usar símbolos na resolução dos problemas algébricos. Os<br />

detalhes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> desse matemático grego são <strong>com</strong>pletamente desconhecidos,<br />

havendo-se conservado suas obras que, transmiti<strong>da</strong>s pelos eruditos árabes,<br />

chegaram à Europa graças a sua tradução para o latim, no século XVI.<br />

Sabe-se que viveu na I<strong>da</strong>de de Prata (250-350 a. C) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Alexandria, e que sua principal obra foi um grande tratado chamado Arithmetica<br />

(250-275 a.C), um clássico <strong>da</strong> ciência alexandrina sobre teoria dos números,<br />

numa publicação em 13 livros, dos quais sete desapareceram, sem dúvi<strong>da</strong> a<br />

maior obra <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong>de sobre o tema. Um tratado caracterizado pelo alto<br />

grau de habili<strong>da</strong>de <strong>matemática</strong> e de engenhosi<strong>da</strong>de, desvinculado <strong>da</strong>


- 18 -<br />

<strong>matemática</strong> grega convencional e voltado para a resolução exata de equações<br />

determina<strong>da</strong>s e, enfaticamente, de indetermina<strong>da</strong>s.<br />

Os problemas desenvolvidos por Diofanto eram feito através de<br />

símbolos, <strong>com</strong>o utilizamos hoje também. Para <strong>com</strong>preendermos melhor <strong>com</strong>o<br />

era feito, vamos <strong>com</strong>parar os símbolos matemáticos criados por Diofanto <strong>com</strong><br />

os que utilizamos atualmente.<br />

• A conheci<strong>da</strong> incógnita (valor desconhecido) era representa<strong>da</strong> por um símbolo<br />

semelhante ao x.<br />

• O sinal + para simbolizar a soma não existia.<br />

• A subtração era simboliza<strong>da</strong> pela letra M que significava menos.<br />

• Uni<strong>da</strong>de era abrevia<strong>da</strong> por u (considera<strong>da</strong> termo independente).<br />

• O símbolo = que significa igual<strong>da</strong>de, por Diofanto essa igual<strong>da</strong>de era<br />

representa<strong>da</strong> por: é igual a.<br />

• Quanto ao lado de x estiver o número 1, isso significaria que o coeficiente <strong>da</strong><br />

incógnita é a uni<strong>da</strong>de.<br />

• Se 1 não fosse o número que a<strong>com</strong>panhasse a incógnita, ele representaria<br />

esse outro número por xx.<br />

As potencias já existiam pra Diofanto e a sua representação era feita <strong>da</strong><br />

seguinte forma: Q de ao quadrado; C de ao cubo; QQ de ao quadrado e<br />

quadrado; QC de ao quadrado e cubo. Com a que<strong>da</strong> do Império Romano foi<br />

destruído muitos centros de estudos, assim o estudo e as pesquisas<br />

<strong>matemática</strong>s estacionaram, ou seja, a simbologia de Diofanto não saiu do<br />

estagio inicial. Os estudos sobre a <strong>matemática</strong> (aritmética) voltaram no ano<br />

650, mas agora sobre o domínio do império árabe, seguidores de Maomé.<br />

Em to<strong>da</strong>s as épocas <strong>da</strong> evolução humana, mesmo nas mais atrasa<strong>da</strong>s,<br />

encontra-se no homem o sentido do calculo. Também, observadores<br />

<strong>com</strong>petentes dos costumes dos animais opinam que muitos pássaros têm o<br />

sentido do número. Dessas pequenas idéias de números devemos mostrar<br />

algumas formas de cálculos utilizados pelo mundo árabe na <strong>história</strong> que ain<strong>da</strong><br />

hoje são utiliza<strong>da</strong>s.<br />

Após uma leitura sobre o mundo árabe e sua <strong>história</strong>, percebemos que o<br />

livro ―O Homem que Calculava‖ tinha tudo a ver <strong>com</strong> a <strong>história</strong> <strong>matemática</strong><br />

árabe, abrangendo os domínios <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>, <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong><br />

filosofia orientais, especialmente no mundo árabe e o <strong>da</strong> narrativa tradicional.


- 19 -<br />

Após alguns <strong>com</strong>entários sobre o tema e sobre as idéias do livro iremos<br />

destacar as características de Júlio César de Mello e Souza maravilhosa obra.<br />

A <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> se encontra em um lugar de destaque nessa obra de<br />

Malba Tahan.Com base no mestrado <strong>da</strong> professora Coppe (2001), o exímio<br />

contador de <strong>história</strong>s, o escritor árabe Malba Tahan nasceu em 1885 na aldeia<br />

de Muzalit, Península Arábica, perto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Meca, um dos lugares santos<br />

<strong>da</strong> religião muçulmana, o islamismo.<br />

A convite do emir Abd el-Azziz ben Ibrahim, assumiu o cargo de<br />

queimação (prefeito) <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de árabe de El-Medina. Estudou no Cairo e em<br />

Constantinopla. Aos 27 anos, recebeu grande herança do pai e iniciou uma<br />

longa viagem pelo Japão, Rússia e Índia. Morreu em 1921, lutando pela<br />

libertação de uma tribo na Arábia Central.<br />

A melhor prova de que Malba Tahan foi um magnífico criador de enredos<br />

é a própria biografia de Malba Tahan. Na ver<strong>da</strong>de, esse personagem <strong>da</strong>s<br />

areias do deserto nunca existiu. Foi inventando por outro Malba Tahan, que de<br />

certo modo também não existiu efetivamente: tratava-se apenas do nome de<br />

fantasia, o pseudônimo, sob o qual assinava suas obras o genial professor,<br />

educador, pe<strong>da</strong>gogo, escritor e conferencista brasileiro Júlio César de Mello e<br />

Souza. Na vi<strong>da</strong> real, Júlio nunca viu uma caravana atravessar um deserto.<br />

As areias mais quentes que pisou foram as <strong>da</strong>s praias do Rio de<br />

Janeiro, onde nasceu em 6 de maio de 1895. Júlio César era assim, um tipo<br />

possuído por incontrolável imaginação. Precisava apenas inventar um<br />

pseudônimo, mas aproveitava a ocasião e criava um personagem inteiro.<br />

Malba Tahan e Júlio César formaram uma dupla de criação que produziu<br />

69 livros de contos e 51 de Matemática. Mais de dois milhões de exemplares já<br />

foram vendidos. A obra mais famosa, ‗O Homem que Calculava‘, está na 38e<br />

edição. Com o seu pseudônimo, Júlio César propunha problemas de Aritmética<br />

e Álgebra <strong>com</strong> a mesma leveza e encanto dos contos <strong>da</strong>s Mil e Uma Noites.<br />

Com sua identi<strong>da</strong>de real, foi um criativo e ousado professor, que estava muito<br />

além do ensino exclusivamente teórico e expositivo <strong>da</strong> sua época, do qual foi<br />

um feroz crítico. "O professor de Matemática em geral é um sádico", acusava.<br />

"Ele sente prazer em <strong>com</strong>plicar tudo." Um sucesso feito de trabalho duro,<br />

lances de esperteza e muita imaginação.


- 20 -<br />

Um dos maiores incentivadores <strong>da</strong> carreira de Júlio César de Mello e<br />

Souza foi o seu pai, João de Deus de Mello e Souza. Ou, explicando melhor, a<br />

modesta mesa<strong>da</strong> que seu pai lhe <strong>da</strong>va nos tempos de colégio. Funcionário do<br />

Ministério <strong>da</strong> Justiça e <strong>com</strong> uma escadinha de oito filhos para criar, João de<br />

Deus não podia fazer milagres. O dinheiro era contado. Para <strong>com</strong>prar uma<br />

barra de chocolate, por exemplo, o jovem Júlio César economizava na<br />

condução durante o final de semana.<br />

Mais velho Júlio César aprendeu a li<strong>da</strong>r <strong>com</strong> o descrédito. Quando tinha<br />

23 anos, e era colaborador do jornal carioca O lmparcial, entregou a um editor<br />

cinco contos que escrevera. A papela<strong>da</strong> ficou joga<strong>da</strong> vários dias sobre uma<br />

mesa <strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção. Sem fazer nenhum <strong>com</strong>entário, Júlio César pegou o trabalho<br />

de volta. No dia seguinte, reapareceu no jornal. Trazia os mesmos contos, mas<br />

<strong>com</strong> outra autoria. Em vez de J.C. de Mello e Souza, assinava R.S. Slade, um<br />

fictício escritor americano. Entregou os contos novamente ao editor, dizendo<br />

que acabara de traduzi-los e que faziam grande sucesso em Nova York. O<br />

primeiro deles, A Vingança do Judeu, foi publicado já no dia seguinte e na<br />

primeira página.<br />

Júlio César aprendeu a lição e decidiu que iria virar Malba Tahan. Nos<br />

sete anos seguintes, mergulhou nos estudos sobre a cultura e a língua árabes.<br />

Em 1925, decidiu que estava preparado. Procurou o dono do jornal carioca ‗A<br />

Noite‘, Irineu Marinho, fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> empresa que se tornaria as atuais<br />

Organizações Globo. Marinho gostou <strong>da</strong> idéia. ‗Contos de Mil e Uma Noites‘ foi<br />

o primeiro de uma série de escritos de Malba Tahan para o jornal. Detalhista,<br />

Júlio César providenciou até mesmo um tradutor fictício. Tahan viveu sem se<br />

<strong>da</strong>r conta do patrimônio cultural que construíra. Em um depoimento ao Museu<br />

<strong>da</strong> Imagem e do Som, declarou-se profun<strong>da</strong>mente arrependido de não ter<br />

seguido a carreira militar, <strong>com</strong>o queria seu pai.<br />

Desde menino, Júlio César de Mello e Souza tinha suas manias.<br />

Algumas <strong>com</strong>pletamente malucas, <strong>com</strong>o manter uma coleção de sapos vivos.<br />

Quando vivia em Que luz, às margens do Rio Paraíba do Sul, Júlio César<br />

chegou a juntar 50 sapos no quintal <strong>da</strong> sua casa. Um dos animais, o<br />

Monsenhor, costumava a<strong>com</strong>panhá-lo, aos saltos, por suas an<strong>da</strong>nças na<br />

região. Adulto, o professor Júlio César continuou a coleção, dessa vez <strong>com</strong><br />

exemplares de madeira, louça, metal, jade e cristal.


- 21 -<br />

Outras preocupações eram bem mais sérias. Ele sempre se entregou de<br />

corpo e alma à causa <strong>da</strong>s vítimas <strong>da</strong> lepra, os hansenianos. De cabeça aberta<br />

e sem preconceitos, Júlio César de Mello e Souza editou durante 10 anos a<br />

revista Damião, que pregava o reajustamento social desses Doentes.<br />

A dedicação de Júlio César era tão grande que, no seu testamento,<br />

pediu que lessem, à beira do seu túmulo, uma última mensagem de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de aos hansenianos. O gênio <strong>da</strong> Matemática foi um desastre<br />

<strong>com</strong>pleto nos números quando era o aluno Júlio César de Mello e Souza, do<br />

Colégio Pedro II, no Rio. Nessa época, seu boletim registrou em vermelho uma<br />

nota dois, em uma sabatina de Álgebra, e raspou no cinco, em uma prova de<br />

Aritmética. Júlio César foi professor de História, Geografia e Física até dedicar-<br />

se à Matemática.<br />

O livro homem que calculava, de autoria do professor Júlio César narra<br />

as aventuras e proezas <strong>matemática</strong>s do matemático persa, fictício, criado pelo<br />

autor, que retrata a vi<strong>da</strong> de Beremiz Samir, personagem central de eventos que<br />

se desenrolam nos éculo XIII. O livro apresenta de forma romancea<strong>da</strong> alguns<br />

problemas, quebra-cabeças e curiosi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>. Em certa passagem<br />

narra, inclusive, uma <strong>da</strong>s len<strong>da</strong>s <strong>da</strong> origem do jogo de xadrez. Ao longo <strong>da</strong><br />

leitura também se vai conhecendo alguns costumes <strong>da</strong> cultura Islã.<br />

Beremiz Samir é o protagonista principal <strong>da</strong> <strong>história</strong> conta<strong>da</strong> neste livro.<br />

Vivemos em tempos difíceis pra uns e nem tanto pra outros. Durante to<strong>da</strong> sua<br />

viagem o viajante Beremiz apresenta alguns desafios que se refere à resolução<br />

de problemas <strong>com</strong>o: o problema dos 35 camelos, o problemas dos olhos azuis,<br />

o <strong>da</strong>s pérolas do Rajá, o dos quatro quatros, os problemas de oitos pães e<br />

muitos outros, que foram selecionados pelos conhecimentos matemáticos,<br />

considerando ser sempre a melhor solução aos olhos de Allah.<br />

Não devemos esquecer que o objetivo <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> não é só resolver<br />

e criar problemas, mas também desenvolver em nós uma grande inteligência e<br />

raciocínio, para perceber um dos melhores caminhos para levar o homem a<br />

sentir o poder do seu pensamento e a magia do seu espírito.<br />

A obra refere-se às contribuições dos árabes e dos hindus para o<br />

conhecimento e o desenvolvimento matemático, afirmando que a <strong>matemática</strong><br />

representa uma forma de linguagem, que no dia-a-dia nos tornar mais<br />

necessária aprender, no mundo em que vivemos.


- 22 -<br />

Podemos dizer que ao longo <strong>da</strong> narrativa, de Malba Tahan, há várias<br />

biografias de matemáticos famosos, muitas situações que vão contemplar a<br />

construção do conhecimento matemático nas antigas civilizações,<br />

apresentando assim a <strong>matemática</strong> <strong>com</strong>o uma ciência que se constituiu <strong>com</strong>o<br />

produto cultural <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

A dimensão histórica se apresenta pelo fato de Malba Tahan situar a<br />

cultura, os costumes, a moral e as crenças <strong>da</strong> cultura árabe. Foi um caso raro<br />

de professor que ficou quase tão famoso quanto um craque do futebol. Em<br />

classe, lembrava um ator empenhado em cativar a platéia. Escolheu a mais<br />

temi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s disciplinas, a Matemática. Criou uma didática própria e diverti<strong>da</strong>,<br />

até hoje viva e respeita<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> está para nascer outro igual.


2. A HISTÓRIA ÁRABE<br />

2.1 - COMO A HISTÓRIA ÁRABE SE DESENVOLVEU<br />

- 23 -<br />

Após a leitura do livro ―O profeta Maomé‖ do autor Rogerson, iniciemos<br />

este trabalho falando do surgimento do Império Árabe que teve a sua<br />

constituição apartir <strong>da</strong> origem do Islamismo, a socie<strong>da</strong>de do islamismo foi<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo profeta Maomé, nasceu na ci<strong>da</strong>de de Meca no ano de 570 a.C.,<br />

filho de uma família de <strong>com</strong>erciantes que passou grande parte <strong>da</strong> juventude<br />

viajando <strong>com</strong> os pais conhecendo muitas regiões e países, percebendo então<br />

as diferentes culturas e religiões. Durante a primeira parte <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> foi um<br />

mercador que realizou extensas viagens no contexto do seu trabalho. Tinha por<br />

hábito retirar-se para orar e meditar.<br />

Em 610, quando Maomé tinha quarenta anos, estava realizando um dos<br />

retiros espirituais numa <strong>da</strong>s cavernas do Monte Hira, e foi visitado pelo anjo<br />

Gabriel, que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e<br />

<strong>com</strong>unicou que Deus o havia escolhido <strong>com</strong>o o último profeta enviado à<br />

humani<strong>da</strong>de. A partir desse momento, <strong>com</strong>eça sua fase de pregação <strong>da</strong><br />

doutrina monoteísta.<br />

Podemos perceber que a divin<strong>da</strong>de, nas religiões monoteístas, é<br />

onipotente, onisciente e onipresente, não deixando de lado nenhum dos<br />

aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> terrena. Aprendemos que na espirituali<strong>da</strong>de islâmica, o bem<br />

mais importante em um só Deus, que é considerado todo-poderoso, sendo<br />

ícone moral para os adeptos de religiões monoteístas, exigindo dos fiéis<br />

observâncias de normas de rígi<strong>da</strong>s condutas que são considera<strong>da</strong>s puras em<br />

seu meio.<br />

Primeiramente, a nova religião encontrou uma grande resistência e<br />

oposição. Antes de Maomé, as tribos árabes seguiam uma religião politeísta<br />

(do grego: Poli, muitos, Théos, deus: muitos deuses), <strong>com</strong> a existência de<br />

vários deuses tribais. Maomé <strong>com</strong>eçou a ser perseguido e teve que migrar para<br />

a ci<strong>da</strong>de de Medina no ano de 622 a.C.<br />

Em Medina o profeta fez uma importante reforma social (<strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de<br />

muçulmana), constituindo alianças e unindo as tribos locais. Muitos se


- 24 -<br />

converteram e, sob o <strong>com</strong>ando político, religioso e militar de Maomé,<br />

conquistaram Meca. Por volta de 627 a.C Maomé tinha unido Medina sob o<br />

Islão, <strong>com</strong> o desaparecimento dos seus inimigos internos. Os beduínos, após<br />

um período de batalhas e negociações, tornaram-se aliados de Maomé e<br />

aceitaram a sua religião.<br />

Depois de muito contacto <strong>com</strong> a ci<strong>da</strong>de e <strong>com</strong> os muçulmanos, alguns<br />

converteram-se gradualmente. Por esta altura, as revelações que<br />

supostamente tinham visitado Maomé, chegaram ao fim. Ele regressou então a<br />

Meca para tomar posse <strong>da</strong> Caaba. Maomé colocou os ci<strong>da</strong>dãos de Meca sobre<br />

pressão económica, destina<strong>da</strong> primeiramente a ganhar a adesão deles ao<br />

Islão.Em Março de 628 a.C, ele partiu para a "peregrinação" a Meca, <strong>com</strong> 1600<br />

militares que o a<strong>com</strong>panhavam.<br />

Os naturais de Meca no entanto, puseram travo ao avanço destas forças<br />

nos limites do seu território, em Al-Hu<strong>da</strong>ybiyah. Alguns dias depois, os de Meca<br />

fizeram um tratado <strong>com</strong> Maomé. Com negociação e o consentimento dos mais<br />

velhos Coraixitas, ele fez uma peregrinação à Kaaba, desarmado. As<br />

hostili<strong>da</strong>des iriam ter um fim e os muçulmanos iriam conseguir a permissão<br />

para fazer a peregrinação a Meca no próximo ano. O casamento de Maomé<br />

<strong>com</strong> Habiba, filha de seu antigo inimigo Abu Sufyan, cimentou ain<strong>da</strong> mais o<br />

tratado.<br />

Após um certo período, o acordo extinguiu-se e a guerra rebentou. Em<br />

Novembro de 629 a.C, aliados de Meca atacaram um aliado de Maomé, o que<br />

levou Maomé a romper o tratado de Al-Hu<strong>da</strong>ybiyah. Após planeamento secreto,<br />

Maomé marchou sobre Meca em Janeiro de 630 a.C <strong>com</strong> 10.000 <strong>com</strong>batentes.<br />

Não houve derramamento de sangue. Abu Sufyan e outros líderes de Meca<br />

submeteram-se formalmente. Maomé prometeu uma anistia geral (<strong>com</strong><br />

algumas pessoas especificamente excluí<strong>da</strong>s).<br />

Apesar de ele não os ter forçado, muitos habitantes de Meca<br />

converteram-se ao islão. Em Meca, Maomé destruiu os ídolos na Kaaba e em<br />

outros pequenos santuários. Em Medina, Maomé é bem acolhido e<br />

reconhecido <strong>com</strong>o líder religioso. Consegue unificar e estabelecer a paz entre<br />

as tribos árabes e implantando a religião muçulmana que passa a ser aceita e<br />

<strong>com</strong>eça a se expandir pela península Arábica.


- 25 -<br />

Depois <strong>da</strong> morte do profeta, que não deixou sucessores, ocorreram<br />

divergências, mas o Islã continuou se expandindo. Conquistou a Pérsia,<br />

Bizâncio, a Península Ibérica, o Norte <strong>da</strong> África, entre outras regiões. Por fim, o<br />

Islã passou a controlar as principais rotas mediterrânicas.<br />

O Alcorão ou Corão é um livro sagrado que reúne as revelações que o<br />

profeta Maomé recebeu do anjo Gabriel. Este livro é dividido em 114 capítulos,<br />

que contêm muitos ensinamentos, colocando em destaque: onipotência de<br />

Deus (Alá), importância de praticar a bon<strong>da</strong>de, generosi<strong>da</strong>de e justiça no<br />

relacionamento social. O Alcorão também coloca nos seus registros as<br />

tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento ju<strong>da</strong>ico e cristão. Os<br />

muçulmanos acreditavam na vi<strong>da</strong> após a morte e no Juízo Final, <strong>com</strong> a<br />

ressurreição de todos os mortos.<br />

A outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna que reúne os dizeres e<br />

feitos do profeta Maomé. Existem alguns lugares muito importantes para os<br />

muçulmanos, mas são três que são marcados em seus corações: A ci<strong>da</strong>de de<br />

Meca, onde fica a pedra negra, também conheci<strong>da</strong> <strong>com</strong>o Caaba. A ci<strong>da</strong>de de<br />

Medina, local onde Maomé construiu a primeira Mesquita (templo religioso dos<br />

muçulmanos) e a ci<strong>da</strong>de de Jerusalém, ci<strong>da</strong>de onde o profeta subiu ao céu e<br />

foi ao paraíso para encontrar <strong>com</strong> Moises. O Islamismo é divido em dois grupos<br />

principais: sunitas e xiitas.<br />

Os sunitas formam o maior ramo do Islão, ao qual no ano de 2006<br />

pertenciam 84% do total dos muçulmanos. A maioria dos sunitas acredita que o<br />

nome deriva <strong>da</strong> palavra Suna (Sunna), que se refere aos preceitos<br />

estabelecidos no século VIII baseados nos ensinamentos de Maomé e dos<br />

quatro califas ortodoxos. Alguns afirmam, porém, que o termo deriva de uma<br />

palavra que significa "um caminho moderado", referindo-se à ideia de que o<br />

sunismo toma uma posição mais neutra do que aquelas que têm sido<br />

percebi<strong>da</strong>s <strong>com</strong>o mais extrema<strong>da</strong>s, <strong>com</strong>o é o caso dos xiitas e dos caridjitas.<br />

Os sunitas baseiam a sua religião no Alcorão e na Suna, <strong>com</strong>o está registra<strong>da</strong><br />

nos livros de hadith.<br />

As coleções hadith de Sahih Bukhari e Sahih Muslim são considera<strong>da</strong>s<br />

pelos sunitas <strong>com</strong>o as coleções mais importantes. Para além destes dois livros,<br />

os sunitas reconhecem quatro outros livros hadith de autentici<strong>da</strong>de credível<br />

(apesar de não tão alta <strong>com</strong>o os de Bukhari e de Muslim), todos juntos eles


- 26 -<br />

constituem os chamados "Seis Livros" ou também referenciados <strong>com</strong>o Kutubi-<br />

Sittah.<br />

Ja os xiitas (em árabe ةي برع لا, Shiat Ali, "partido de Ali") são o segundo<br />

maior ramo de crentes do Islão, constituindo 16% do total dos muçulmanos. Os<br />

xiitas consideram Ali, o genro e primo do profeta Maomé, <strong>com</strong>o o seu sucessor<br />

legítimo e consideram ilegítimos os três califas sunitas que assumiram a<br />

liderança <strong>da</strong> <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de muçulmana após a morte de Maomé.<br />

O Islão xiita contemporâneo pode ser subdividido em três ramos<br />

principais: os xiitas dos Doze Imãs( é o pregador no culto islâmica e também<br />

designa os principais líderes religiosos do Islão que sucederam ao profeta Maomé), os<br />

ismaelitas e os zaiditas. Todos estes grupos estão de acordo em relação à<br />

legitimi<strong>da</strong>de dos quatro primeiros Imãs. Porém, discor<strong>da</strong>m em relação ao<br />

quinto: a maioria do xiitas acredita que o neto de Hussein, Muhammad al-<br />

Baquir era o imã legítimo, enquanto que outros seguem o irmão de al-Baquir,<br />

Zayd, sendo por isso conhecidos <strong>com</strong>o zaiditas.<br />

O xiismo zaidita (ou dos partidários do quinto imã) foi sempre minoritário<br />

e encontra-se hoje praticamente limitado ao Iémen. Os xiitas que não<br />

reconheceram Zayd <strong>com</strong>o Imã permaneceram unidos durante algum tempo. O<br />

sexto imã, Jafar al-Sadiq, foi um grande erudito que é tido em consideração<br />

pelos teólogos sunitas. A principal escola xiita de lei religiosa recebe o nome de<br />

"Jafari" por sua causa.<br />

Após a morte de Jafar al-Sadiq, em 765 a.C, ocorre uma cisão no grupo:<br />

uns reconheciam <strong>com</strong>o imã o filho mais velho de al-Sadiq, Ismail (morto em<br />

765), enquanto que para outros o imã era o filho mais novo, Musa (morto em<br />

799). O último grupo continuou a seguir uma cadeia de imãs até ao décimo<br />

segundo, Muhammad al-Mahdi (falecido em 874). Ficaram conhecidos <strong>com</strong>o os<br />

xiita dos Doze, enquanto que os primeiros <strong>com</strong>o ismailitas; o termo xiita é<br />

geralmente usado hoje em dia <strong>com</strong>o sinónimo dos xiitas dos Doze (ou<br />

duodecimâmicos), uma vez que são os xiitas maioritários.<br />

Para os ismailitas, Ismail nomeou o seu filho Muhammad ibn Ismael<br />

<strong>com</strong>o seu sucessor, tendo a linha sucessória dos imãs continuado <strong>com</strong> ele e<br />

<strong>com</strong> os seus descendentes. Os ismailitas tornaram-se poderosos no século X<br />

no Norte <strong>da</strong> África, onde fun<strong>da</strong>m na Tunísia a dinastia dos fatími<strong>da</strong>s (909-1171)<br />

que em 969 conquista o Egipto (onde fun<strong>da</strong>m a Universi<strong>da</strong>de de Al-Azhar) e a


- 27 -<br />

Síria. O persa Muhammad al-Darazi declarou que o quarto califa fatími<strong>da</strong>, al-<br />

Hákim, era Deus, <strong>da</strong>ndo origem à religião drusa.<br />

O ismailismo dividiu-se ain<strong>da</strong> em outros grupos, que orbitavam em torno<br />

de dois irmãos, Nizar (m. 1095) e AL-Mustacli (m. 1101). Os governantes<br />

fatími<strong>da</strong>s apoiam al-Mustacli e os seguidores de Nizar foram obrigados a fugir,<br />

fixando-se nas montanhas <strong>da</strong> Síria e <strong>da</strong> Pérsia.<br />

Os partidários <strong>da</strong> causa nizari organizam-se num movimento conhecido<br />

<strong>com</strong>o Fidáiyya ("a gente do sacrifício") ou ain<strong>da</strong> Ta´limiyya ("<strong>da</strong> doutrinação"), a<br />

que os seus inimigos (entre os quais se encontravam os Cruzados) deram o<br />

nome de Hashishiyya ("assassinos"), devido ao facto dos seus membros serem<br />

consumidores de haxixe.Os Hashishiyya ficaram conhecidos por uma série de<br />

assassinatos políticos. No século XIX, o rei <strong>da</strong> Pérsia deu o título de Aga Khan<br />

ao imã de uma <strong>da</strong>s subseitas dos ismailitas nizaris, os Qasimshahitas.<br />

Actualmente, a maioria dos ismailitas encontra-se neste grupo.<br />

No século XIX Siyyid Ali Muhammad provoca uma divisão no seio <strong>da</strong><br />

<strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de xiita dos Dozes Imãs, ao proclamar-se <strong>com</strong>o manifestação de<br />

Deus, tomando o nome de Báb, "Porta", porque acreditava ter contacto directo<br />

<strong>com</strong> o décimo segundo imã que tinha desaparecido em 874. Fuzilado em 1850,<br />

um dos seus discípulos, conhecido <strong>com</strong>o Bahá'u'lláh, fundou a Fé Bahá'í, hoje<br />

em dia considera<strong>da</strong> uma religião independente do islão.<br />

De acordo <strong>com</strong> os xiitas dos Dozes Imãs, os doze descendentes de Ali<br />

detêm um estatuto especial; eles são inferiores ao profeta, mas superiores ao<br />

<strong>com</strong>um dos mortais. Eles são vistos <strong>com</strong>o sucessores directos corporais e<br />

espirituais do profeta, infalíveis, inspirados divinamente e escolhidos por Deus.<br />

De acordo <strong>com</strong> os sunitas, a autori<strong>da</strong>de espiritual pertence a to<strong>da</strong><br />

<strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de. Antes disso, a Arábia era <strong>com</strong>posta por povos semitas que, até o<br />

século VII, viviam em diferentes tribos. Apesar de falarem a mesma língua,<br />

estes povos possuíam diferentes estilos de vi<strong>da</strong> e de crenças. Os beduínos<br />

eram novos nômades e levavam uma vi<strong>da</strong> difícil no deserto, utilizando <strong>com</strong>o<br />

meio de sobrevivência o camelo, animal do qual retiravam seu alimento (leite e<br />

carne) e vestimentas (feitas <strong>com</strong> o pêlo). Com suas caravanas, praticavam o<br />

<strong>com</strong>ércio de vários produtos pelas ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> região. Já as tribos coraixitas,<br />

habitavam a região litorânea e viviam do <strong>com</strong>ércio fixo.<br />

Foi após a morte do profeta Maomé, em 632 a.C, que a Arábia foi


- 28 -<br />

unifica<strong>da</strong>. A partir desta união, impulsiona<strong>da</strong> pela doutrina religiosa islamita, foi<br />

inicia<strong>da</strong> a expansão do império árabe. Os árabes foram liderados por um califa,<br />

espécie de chefe político, militar e religioso.


3. A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ÁRABE<br />

3.1- SURGIMENTOS DO ALGARISMO-ARÁBICO<br />

- 29 -<br />

Não se pode negar que muitos gênios, na maioria <strong>da</strong>s vezes, nos irritam<br />

<strong>com</strong> seus pensamentos e teorias, pois isso se deve ao fato que suas idéias<br />

estão além <strong>da</strong> nossa limita<strong>da</strong> <strong>com</strong>preensão, além de que, seus pensamentos e<br />

visões de linhas arroja<strong>da</strong>s decifram <strong>com</strong> maestria questões ligados à ciência,<br />

religião e a condição <strong>da</strong> natureza humana, mexendo muito <strong>com</strong> o sentimento<br />

do ser humano.<br />

Quem nunca em sua vi<strong>da</strong> se deteve por alguns instantes a ler sobre os<br />

pensamentos de alguns gênios <strong>com</strong>o: Leonardo Da Vinci, Galileu Galilei, Jesus<br />

Cristo, Gandhi, Al karismi e muitos outros. É baseado nesses grandes gênios,<br />

que muitos livros, tratados, documentários e filmes foram realizados para<br />

eternizar suas idéias e conceitos sobre os mais variados assuntos,<br />

beneficiando as gerações passa<strong>da</strong>s, presentes e futuras <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Segundo Boyer (1996), o Mundo Árabe é uma região rica em cultura e<br />

tradições. O império arábico-muçulmano realizou grandes inovações, re-<br />

introduzindo na Europa os textos Gregos que haviam sido esquecidos. Além<br />

disso, a criação dos chamados algarismos arábicos revolucionou a <strong>matemática</strong><br />

e é seguramente a forma mais perfeita de representação numérica já<br />

inventa<strong>da</strong>.<br />

Além de contarem <strong>com</strong> a noção do zero, inexistente nos algarismos<br />

romanos utilizados até então, contavam <strong>com</strong> dez símbolos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,<br />

8 e 9), proporcionando uma escrita muito mais simples dos números do que os<br />

sete símbolos romanos (I, V, X, L, C, D e M). Tais algarismos foram, na<br />

ver<strong>da</strong>de, criados pelos hindus e aperfeiçoados pelos árabes. Foi à grafia<br />

própria dos árabes ocidentais que atingira os povos cristãos <strong>da</strong> Europa<br />

medieval a partir <strong>da</strong> Espanha, antes de <strong>da</strong>r origem aos algarismos que hoje<br />

conhecemos. Como os árabes atingiram nessa época um nível científico e<br />

cultural superior aos dos povos ocidentais, estes significados acabaram<br />

recebendo nas gerações consecutivas a denominação de algarismos arábicos.<br />

Algumas tecnologias foram desenvolvi<strong>da</strong> <strong>com</strong> as i<strong>da</strong>s peregrinações a


- 30 -<br />

Meca, se tornaram mais fáceis se aprender novos cálculos matemáticos, pois<br />

era obrigatório pelo menos uma vez na vi<strong>da</strong>, para qualquer muçulmano,<br />

homem ou mulher, que for mental, financeira e fisicamente apto, sendo que o<br />

peregrino tem de ter possibili<strong>da</strong>des financeiras para cobrir os gastos pessoais e<br />

familiares, pagar as suas dívi<strong>da</strong>s ou pelos menos aprovisionar as mesmas, até<br />

a peregrinação acabar. É proibido ao crente contrair uma dívi<strong>da</strong> para poder<br />

cumprir <strong>com</strong> este preceito, pondo em risco a sobrevivência <strong>da</strong> família.<br />

Durante a Peregrinação o tema predominante é a paz, e a oração <strong>com</strong><br />

Deus e <strong>com</strong> a própria alma, paz <strong>com</strong> seus semelhantes. É estritamente<br />

proibido perturbar a paz de qualquer pessoa ou criatura, seja de que maneira<br />

for. Uma demonstração integral <strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de do Islão e <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de e<br />

igual<strong>da</strong>de entre os muçulmanos é a resposta ao chamado de Deus, os<br />

muçulmanos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, de to<strong>da</strong>s as classes e profissões, vin<strong>da</strong>s de<br />

to<strong>da</strong>s as partes do mundo, reúnem-se em Meca.<br />

Os árabes conheceram a aritmética hindu graças às facili<strong>da</strong>des de<br />

relação <strong>com</strong> esse povo. Logo acabaram ganhando também todos os países<br />

irmãos do Magreb (região africana que abrange Marrocos, Sahara Ocidental,<br />

Argélia e Tunísia (Pequeno Magreb ou Magreb Central), e também a<br />

Mauritânia e a Líbia (Grande Magreb).<br />

Até então, percebemos que os calculadores árabes ocidentais haviam<br />

aprendido os métodos arcaicos que os hindus traziam <strong>da</strong> sua experiência em<br />

cálculos. Contudo, já na metade do século IX, os árabes se tornaram<br />

especialistas em ―cálculo na areia‖ e passaram a manejar os números elevados<br />

<strong>com</strong> mais facili<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong>, na medi<strong>da</strong> em que os algarismos e métodos de<br />

origem hindu facilitavam a prática de to<strong>da</strong>s as operações aritméticas.<br />

Os algarismos tiveram no início uma forma bastante próxima <strong>da</strong> grafia<br />

hindu de origem, mas passado alguns séculos, eles fizeram evoluir os métodos<br />

hindus assumindo pouco a pouco sua escrita arábica já nos países mouros,<br />

diferente <strong>da</strong> escrita hindu de seus primos do Oriente próximo.<br />

Os árabes ocidentais os denominaram algarismos ―ghobar‖, palavra que<br />

significa ―poeira‖, simplesmente por causa <strong>da</strong> poeira fina <strong>com</strong> a qual os<br />

calculadores costumavam salpicar suas tábuas para traçar os algarismos e<br />

efetuar deste modo todo tipo de operações.<br />

Desta forma quando se deparam diante <strong>da</strong> formas de numeração e dos


- 31 -<br />

métodos de cálculo que vieram <strong>da</strong> Índia, os árabes souberam apreciar suas<br />

vantagens, reconhecendo a sua superiori<strong>da</strong>de e adotá-los em sua vi<strong>da</strong>. Com a<br />

que<strong>da</strong> do Império Romano, até o final <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média a forma de se ensinar na<br />

Europa foi muito rudimentar, os privilegiados que recebia algum tipo de ensino<br />

aprendiam inicialmente a ler e escrever, para ver se tinha capaci<strong>da</strong>de de<br />

ensinar outras pessoas.<br />

Após este primeiro passo <strong>com</strong>eçavam a aprender a gramática, a<br />

dialética, a retórica e às vezes a teoria musical. Em segui<strong>da</strong> recebiam aulas<br />

muito básicas de astronomia e geometria. Ao mesmo tempo, lhes ensinavam a<br />

contar nos dedos e a escrever e ler os algarismos romanos, e na<strong>da</strong> mais, já<br />

que a iniciação à arte do cálculo não chegava a fazer parte do programa, então<br />

só estu<strong>da</strong>va quem queria e alguns curiosos.<br />

Os estudiosos que estavam sendo conduzido ás práticas nas operações<br />

aritméticas, mesmo os mais aplicados, que se dedicavam aos estudos não<br />

estavam preparados nessa época para alcançar o conhecimento dos árabes,<br />

pois eram cálculos muitos difíceis.<br />

Nesta época as pessoas já tinham um grande respeito voltado aos<br />

calculadores, pois já se demonstrava a que ponto as técnicas de calcular eram<br />

de fato difíceis. Em outras palavras, os números arábicos um, dois, três e<br />

quatro foram baseados em traços que formam ângulos, assim:<br />

a)O número um tem um ângulo,<br />

b)O número dois tem dois ângulos aditivos,<br />

c)O número três tem três ângulos aditivos,<br />

d) O número quatro tem quatro ângulos aditivos.<br />

Teoricamente, devido à escrita cursiva, o número quatro teria sido<br />

modificado e fechado, facilitando a sua caligrafia e futura tipografia, tornando-o<br />

diferente, por exemplo, do símbolo <strong>da</strong> cruz. Já o número zero, era<br />

representado por um circulo, indicando a ausência de ângulos.As origens <strong>da</strong><br />

álgebra ou operacoes ordinarias se encontram na antiga Babilônia, cujos<br />

matemáticos desenvolveram um sistema aritmético avançado, <strong>com</strong> o qual<br />

puderam fazer cálculos algébricos.


- 32 -<br />

Com esse sistema eles foram capazes de aplicar fórmulas e calcular<br />

soluções para incógnitas para uma classe de problemas que, hoje, seriam<br />

resolvidos <strong>com</strong>o equações lineares, equações quadráticas e equações<br />

indetermina<strong>da</strong>s.<br />

Por outro lado, a maioria dos matemáticos egípcios desta era e a maioria<br />

dos matemáticos indianos, gregos e chineses do primeiro milénio a.C.<br />

normalmente resolviam estas equações por métodos geométricos, <strong>com</strong>o<br />

descrito no Papiro Rhind, Sulba Sutras, Elementos de Euclides e Os Nove<br />

Capítulos <strong>da</strong> Arte Matemática.<br />

Os estudos geométricos dos gregos, consoli<strong>da</strong>do nos Elementos, deram<br />

a base para a generalização de fórmulas, indo além <strong>da</strong> solução de problemas<br />

particulares para sistemas gerais para especificar e resolver equações. O nome<br />

"álgebra" surgiu do nome de um tratado escrito por Al-Khowarizmi, um<br />

matemático nascido na Pérsia por volta de 800 d.C. em Khwarizmi, atualmente<br />

no Uzbequistão, e que viveu em Bagdá na corte do califa Al Manum.<br />

Abu Abd Allah Muḥammad ibn Musa Al-Khowarizmī é considerado o<br />

fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> álgebra <strong>com</strong>o a conhecemos hoje. Seu trabalho intitulado: Al-Jabr<br />

wa-al-Muqabilah, isto é O livro sumário sobre cálculos por transposição e<br />

redução era um trabalho extremamente didático e <strong>com</strong> o objetivo de ensinar<br />

soluções para os problemas matemáticos cotidianos de então. A palavra Al-jabr<br />

<strong>da</strong> qual álgebra foi deriva<strong>da</strong> significa reunião, conexão ou <strong>com</strong>plementação.<br />

A palavra Al-jabr significa, ao pé <strong>da</strong> letra, a reunião de partes quebra<strong>da</strong>s.<br />

Foi traduzi<strong>da</strong> para o latim quase quatro séculos depois, <strong>com</strong> o título Ludus<br />

Algebrae et Almucgrabalaeque. Na <strong>da</strong>ta de 1140, Robert de Chester traduziu o<br />

título árabe para o latim, <strong>com</strong>o Liber Algebrae et almucabala. No século XVI é<br />

encontrado em inglês <strong>com</strong>o Algiebar and Almachabel, e em várias outras<br />

formas, mas foi finalmente encurtado para Álgebra. As palavras significam<br />

"restauração e oposição". No Kholâsat Al-Hisâb ("Essência <strong>da</strong> Aritmética"),<br />

Behâ Eddin (cerca de 1600 d.C.) escreve: "o membro que é afetado por um<br />

sinal de menos será aumentado e o mesmo adicionado ao outro membro, isto<br />

sendo álgebra; os termos homogêneos e iguais serão então cancelados, isto<br />

sendo al-muqâbala".<br />

Os mouros levaram a palavra al-jabr para a Espanha, um algebrista<br />

sendo um restaurador ou alguém que conserta ossos quebrados. Por isso,


- 33 -<br />

Miguel de Cervantes em Dom Quixote (II, cap. 15) é feita menção a "um<br />

algebrista que atendeu ao infeliz Sansão". Em certo tempo não era raro ver<br />

sobre a entra<strong>da</strong> de uma barbearia as palavras "Algebrista y Sangrador" (Smith,<br />

Vol. 2, páginas 389-90).<br />

O uso mais antigo <strong>da</strong> palavra álgebra no inglês em seu sentido<br />

matemático foi por Robert Recorde no The Pathwaie to Knowledge ("O<br />

Caminho para o Conhecimento") em 1551: "também a regra <strong>da</strong> falsa posição,<br />

que traz exemplos não somente <strong>com</strong>uns, mas alguns pertinentes à regra <strong>da</strong><br />

Álgebra".<br />

A expressão "uma álgebra" também é encontra<strong>da</strong> em 1849 no<br />

Trigonometry and Double Algebra ("Trigonometria e Dupla Álgebra") de<br />

Augustus de Morgan: A linguagem ordinária tem métodos de assinalamento<br />

instantâneo de significado a termos contraditórios: e assim ela tem analogias<br />

mais fortes <strong>com</strong> uma álgebra (se houvesse uma tal coisa) na qual estão pré-<br />

organiza<strong>da</strong>s regras para explicar novos símbolos contraditórios à medi<strong>da</strong> que<br />

surgem, do que em uma álgebra na qual uma única instância deles deman<strong>da</strong><br />

uma imediata revisão de todo o dicionário.<br />

Começou a ser usa<strong>da</strong> na Europa para designar os sistemas de<br />

equações <strong>com</strong> uma ou mais incógnitas a partir do século XI. Na época <strong>da</strong> baixa<br />

I<strong>da</strong>de Média existe uma ver<strong>da</strong>deira recusa eclesiástica e um endurecimento<br />

por parte <strong>da</strong>s castas de calculadores profissionais, recusa que será manti<strong>da</strong> em<br />

vários lugares até o século XV. Na ver<strong>da</strong>de, a Igreja não pretendia favorecer<br />

uma democratização do cálculo, que ocasionaria seguramente a per<strong>da</strong> de seu<br />

monopólio em matéria de ensino e, em conseqüência, a per<strong>da</strong> de poder.<br />

Os cálculos continuam exclusivo dos especialistas, que pertenciam<br />

quase todos ao clero. Desse modo, os algarismos arábicos ain<strong>da</strong> ficam<br />

proibidos por algum tempo. Os amadores do cálculo moderno são obrigados a<br />

usá-los escondidos, <strong>com</strong>o se fosse um código secreto. Os países europeus<br />

estavam em uma situação de atraso nas formas de aprender calcular,<br />

permanecendo parcialmente a mesma por vários períodos consecutivos,<br />

através <strong>da</strong> baixa I<strong>da</strong>de Média e Renascimento, até os séculos XVII e XVIII.<br />

Como se desenvolveram muitas disputas na terra santa foi preciso esperar o<br />

final <strong>da</strong>s Cruza<strong>da</strong>s.<br />

Depois de tudo isso, ocorreu um grande abandono <strong>da</strong>s formas


- 34 -<br />

precedentes e um retorno às grafias de origem, para uma estabilização<br />

progressiva dos algarismos denominados arábicos. A querela entre ―abacistas‖<br />

(defensores dos números romanos e do cálculo em ábaco de fichas) e os<br />

―algoristas‖ (defensores do cálculo por algarismos de origem hindu) durou<br />

vários séculos.<br />

Mesmo após a vitória dos novos métodos, o uso do ábaco ain<strong>da</strong><br />

permaneceu. No século XVIII, ele ain<strong>da</strong> era ensinado, e por prudência as<br />

pessoas ain<strong>da</strong> verificavam todos os cálculos feitos por escrito, refazendo-os no<br />

ábaco (de fichas). Foi preciso a Revolução Francesa para resolver a questão e<br />

para tornar claro que o ―o cálculo por meio dos algarismos tem sobre o cálculo<br />

por meio de fichas na tábua de contar as mesmas vantagens que um pedestre<br />

livre e sem carga tem sobre um pedestre muito carregado‖. Pois foi por causa<br />

do peso que o uso do ábaco foi abolido <strong>da</strong>s escolas e administrações.<br />

A partir de então, o cálculo e a ciência moderna puderam desenvolver-se<br />

sem entraves. Eles acabavam de abater para sempre seu temível e resistente<br />

inimigo. Quando ocorreram as Cruza<strong>da</strong>s <strong>com</strong> as trocas de culturas e<br />

informações <strong>com</strong> a cultura muçulmana, estas guerras tentaram introduzir no<br />

meio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de suas culturas, sendo assim uma grande parte do clero <strong>da</strong>s<br />

Cruza<strong>da</strong>s aprendeu o cálculo pelo modo de AL-Khowarizmi, desenhando os<br />

números na areia sem recorrer às colunas do ábaco. Surgindo assim, os<br />

primeiros algoristas europeus.<br />

3.2- ABACISTAS X ALGORISTAS<br />

No século XI, a ativi<strong>da</strong>de dos tradutores e dos <strong>com</strong>piladores de obras<br />

árabes, gregas ou hindus floresceu na Espanha desenvolvendo um grande<br />

papel para o surgimento de grandes escritores. A troca de cultura entre os dois<br />

mundos passaram a ser ca<strong>da</strong> vez mais freqüentes fazendo assim troca de<br />

informações, cultura e até experiências de vi<strong>da</strong>.<br />

Lentamente este período dos séculos XII e XIII, trouxe ao conhecimento<br />

<strong>da</strong> Europa, Al-Khowarizmi, e de muitos outros que fizeram o mundo e as<br />

pessoas crescerem intelectualmente. As novas técnicas foram muito bem<br />

vistas nas formas de ensinamento e desenvolvimento de pesquisa, assim,


- 35 -<br />

difundi<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong> Europa. Este movimento teve seu auge, no início do século<br />

XIII, graças à influência e persistência de um grande matemático italiano:<br />

Leonardo de Pisa, conhecido <strong>com</strong>o Fibonacci, que <strong>com</strong> sua curiosi<strong>da</strong>de e<br />

criativi<strong>da</strong>de visitou a África muçulmana e conheceu o Oriente.<br />

Após muitas viagens ele acabou encontrando os mestres árabes, que<br />

lhe explicaram a fundo seu grandioso sistema numérico, as regras do cálculo<br />

algébrico e os princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> geometria. Após um período de<br />

aprendizagem e conhecimento iniciou pesquisas naquela área, redigindo-se em<br />

1202 um admirável tratado de probabili<strong>da</strong>de em algarismos que viria a se<br />

transformar no breviário de todos os defensores do algarismo, contribuindo em<br />

grande parte também para a difusão e o desenvolvimento <strong>da</strong> álgebra. Esse<br />

tratado vem a nos explicar to<strong>da</strong>s as regras do cálculo por algarismos na areia,<br />

<strong>com</strong> certeza para evitar a ira <strong>da</strong>queles que detinham então o monopólio do<br />

domínio numérico e que valorizavam antes de tudo o cálculo no ábaco de<br />

fichas.<br />

Em todo caso, a partir desse momento os entusiastas do cálculo<br />

moderno se tornaram ca<strong>da</strong> vez mais numerosos. Era o início do movimento de<br />

democratização <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> na Europa. No entanto, a resistência às novas<br />

técnicas ain<strong>da</strong> era muito forte, os calculadores que praticavam as operações no<br />

ábaco queriam conservar para si os segredos dessa arte: preocupados em<br />

preservar seu monopólio, não queriam ouvir falar desses métodos<br />

revolucionários que colocavam as operações ao alcance de todos.<br />

Existia também uma razão de ordem ideológica para a resistência à<br />

numeração indo-árabe. Desde o renascimento do saber na Europa, a Igreja<br />

assumiu de fato o controle <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> filosofia, exigindo que sua evolução<br />

se submetesse estritamente à fé absoluta em seus dogmas e que seu estudo<br />

se harmonizasse inteiramente <strong>com</strong> a teologia. Em vez de liberar o espírito<br />

curioso, este saber o aprisionou por muitos séculos e está na origem de<br />

inúmeras tragédias. Do mesmo modo, determina<strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des eclesiásticas<br />

espalharam o boato de que, sendo tão fácil e tão engenhoso, o cálculo ao<br />

modo árabe devia ter algo de mágico ou até de demoníaco: ―tinha que ser<br />

coisa do demônio!‖.<br />

Nos séculos XIII e XIV foi adquiri<strong>da</strong> a aparência definitiva que hoje<br />

conhecemos e utilizamos na <strong>matemática</strong>. Dentre os anos de 1095 d.c a 1270


- 36 -<br />

d.c, aproxima<strong>da</strong>mente, os poderosos príncipes e cavaleiros cristãos tentaram<br />

impor pela espa<strong>da</strong> as suas tradições e religião aos infiéis do Oriente. Neste<br />

período a Itália já se encontrava em contato <strong>com</strong> os árabes e bizantinos,<br />

estando assim aberta para novas aprendizagens. Suas escolas tinham se<br />

especializado em operações <strong>com</strong>plexas, já as universi<strong>da</strong>des francesas e<br />

alemãs só se preocupavam em ensinar e aprender, nos séculos XIV e XV, as<br />

operações ordinárias.<br />

Esta querela durou vários séculos e, mesmo após a evidente vitória dos<br />

algoristas, o uso do ábaco continuou. No século XVIII ele ain<strong>da</strong> era ensinado.<br />

No mundo ocidental somente após a Revolução Francesa marcou-se o fim<br />

deste capítulo na <strong>história</strong> dos contadores mecânicos. A <strong>história</strong> diz que foi<br />

exatamente por causa do peso dos contadores que estes foram abolidos <strong>da</strong>s<br />

escolas e administrações públicas. Estes contadores eram enormes carteiras<br />

onde sentam os alunos (as) nas escolas.<br />

3.3 - UM PROFETA MATEMÁTICO - AL-KHOWARIZMI<br />

Abu Abd Allah Muhammad ibn Musa AL-Khowarizmi foi um matemático,<br />

astrônomo, astrólogo, geógrafo, árabe que nasceu em torno de 780 d.C e<br />

morreu por volta do ano 850 d.C. A sua família, era originária de Khowarezm, a<br />

região a sul do mar Aral, na altura <strong>da</strong> Pérsia ocupa<strong>da</strong> pelos Árabes (atualmente<br />

parte do Uzbequistão). Foi um dos primeiros matemáticos a trabalhar na Casa<br />

<strong>da</strong> Sabedoria, em Bagh<strong>da</strong>d, durante o reinado do califa al-Mamum (813-833).<br />

Seu livro que eternizou seu nome é o Kitab Al Mukhtassar Fi Hissab Al<br />

Jabr Wal Mukabala (livro do cálculo Algébrico e confrontação), que não<br />

somente deu o nome de Álgebra a esta ciência, em seu significado moderno,<br />

mas abriu uma nova era <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>. Al Khowarizmi estabeleceu seis tipos<br />

de equações algébricas que ele mesmo solucionou em seu livro. O nome de Al<br />

Khawarizmi, em espanhol guarismo, que ao passar para o francês se tornou<br />

logarithme, deu origem ao termo moderno Logaritmo.<br />

Al Khawarizmi foi o primeiro a escrever sobre a álgebra, depois dele veio<br />

Abu Kamil Shuja Ibn Aslam, muitos outros seguiram seus passos, seu livro<br />

sobre os seis problemas de álgebra é um dos melhores sobre este assunto,


- 37 -<br />

muitos autores <strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia fizeram bons <strong>com</strong>entários sobre o seu livro, sendo<br />

um dos melhores exemplos o de Al Qurashi.<br />

Enfim, grandes matemáticos do oriente muçulmano aumentaram o<br />

número de equações de seis para vinte, para to<strong>da</strong>s acharam soluções<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em sóli<strong>da</strong>s demonstrações geométricas. A incógnita nas equações<br />

algébricas era denomina<strong>da</strong> pelos matemáticos muçulmanos <strong>com</strong>o xay (coisa),<br />

nota<strong>da</strong>mente na álgebra de Ômar Khayyam, que ao ser transcrita xay pelos<br />

espanhóis, deu origem ao X <strong>da</strong> álgebra moderna.<br />

Outra obra de Al Khowarizmi que exerceu grande influência é a<br />

introdução do cálculo hindu no mundo islâmico, o que posteriormente foi<br />

ampliado e aprofun<strong>da</strong>do por outros matemáticos muçulmanos que o seguiram.<br />

Deve-se também a Al Khowarizmi um tratado de geometria, tábuas<br />

astronômicas e outros trabalhos em geografia, <strong>com</strong>o o seu livro Suratul Ardh<br />

(imagem <strong>da</strong> Terra).<br />

Kitab Al Mukhtassar Fi Hissab Al Jabr Wal Mukabala é um livro de<br />

<strong>matemática</strong> escrito por Al-Khowarizmi aproxima<strong>da</strong>mente no ano 830, que<br />

descreve o método de Al-Khowarizmi resolver equações lineares e quadráticas<br />

que consistem em primeiro reduzir a equação para uma de seis formas padrão<br />

(onde b e c são inteiros positivos):<br />

• quadrado igual a uma raiz (ax² = bx)<br />

• quadrado igual a um número (ax² = c)<br />

• raiz igual a um número (bx = c)<br />

• quadrado e raiz igual a um número (ax² + bx = c)<br />

• quadrado e número igual a uma raiz (ax² + c = bx)<br />

• raiz e número igual a um quadrado (bx + c = ax²)<br />

Dividindo o coeficiente do número ao quadrado e usando as operações<br />

al-gabr (Árabe: رب ج لا ―restauração‖) e al-muqābala ("balanceamento").<br />

Al-gabr é o processo de remover números negativos, números ao<br />

quadrado e raízes por meio <strong>da</strong> adição <strong>da</strong> mesma quanti<strong>da</strong>de para ca<strong>da</strong> lado <strong>da</strong><br />

equação. Por exemplo, x² = 40x - 4x² é reduzi<strong>da</strong> para 5x² = 40x.<br />

• Al-muqabala é o processo de trazer quanti<strong>da</strong>des do mesmo tipo para o<br />

mesmo lado <strong>da</strong> equação. Por exemplo, x² + 14 = x + 5 é reduzi<strong>da</strong> para x² + 9 =<br />

x. Através do título de seu livro mais importante, Al-jabr Wa‘l muqabalah, Al<br />

Khawarizmi nos deu uma palavra ain<strong>da</strong> mais familiar, do titulo desse livro veio


- 38 -<br />

o termo álgebra, anos mais tarde a Europa aprendeu o ramo <strong>da</strong> <strong>matemática</strong><br />

que tem esse nome.<br />

Diofante é às vezes chamado o ―Pai <strong>da</strong> álgebra‖no período em que<br />

viveu, mas podemos perceber que este título pertence mais a AL-Khowarizmi.<br />

O primeiro é de nível muito mais elementar que o que se encontra nos<br />

problemas de Diofante e, segundo, a álgebra de AL-Khowarizmi é inteiramente<br />

expressa em palavras representação passou a ser expressa pela razão de dois<br />

números naturais. Mesmo os números são escritos em palavras em vez de<br />

símbolos. É muito improvável que AL-Khowarizmi conhecesse a obra de<br />

Diofante, e deve ter conhecido ao menos as partes <strong>da</strong> astronomia e<br />

<strong>com</strong>putação de Brahmagupta.<br />

Brahmagupta (Bhinmal, Rajasthan, 589–668) foi um matemático e<br />

astrônomo <strong>da</strong> Índia. Morou a maior parte de sua vi<strong>da</strong> em Bhillamala (atual<br />

Bhinmal) no império de Harsha. Como resultado, Brahmagupta é<br />

frequentemente referido <strong>com</strong>o Bhillamalacarya, "o professor de Bhillamala<br />

Bhinmal". Ele foi o líder do observatório astronômico em Ujjain, e durante seu<br />

período lá escreveu quatro textos sobre <strong>matemática</strong> e astronomia:<br />

Brahmasphutasiddhanta, Ca<strong>da</strong>mekela, Durkeamynar<strong>da</strong> e Khan<strong>da</strong>khadyaka.<br />

A aritmética usa<strong>da</strong> atualmente espalhou-se pela Índia e Arábia e então<br />

para a Europa. Inicialmente, era conheci<strong>da</strong> <strong>com</strong>o Al Hind em língua árabe e De<br />

Numero Indorum (método dos indianos) em latim. E tornou-se a aritmética em<br />

uso substituindo os numerais romanos e os métodos baseados em ábaco. A<br />

adição, subtracão, divisão e outras operações fun<strong>da</strong>mentais usando numerais<br />

árabes apareceram em Brahmasputha Siddhanta.<br />

Seu trabalho teve impacto significativo nas construções <strong>matemática</strong>s.<br />

Brahmagupta popularizou o conceito do zero, e definiu regras para a aritmética<br />

<strong>com</strong> números negativos e <strong>com</strong> o zero, que são próximas ao entendimento atual<br />

<strong>da</strong> <strong>matemática</strong> moderna. A maior divergência é que Brahmagupta tentou definir<br />

a divisão por zero, uma situação considera<strong>da</strong> inexistente na <strong>matemática</strong><br />

moderna. Sua definição de zero <strong>com</strong>o um número era acura<strong>da</strong> exceto que ele<br />

considerava 0/0 igual a 0, sendo que considera-se atualmente que essa<br />

quanti<strong>da</strong>de não pode ser defini<strong>da</strong>.Em 628, Brahmagupta forneceu a primeira<br />

solução geral para a equação quadrática:


ax 2 + bx = c<br />

- 39 -<br />

No entanto, nem AL-Khowarizmi nem outros estudiosos árabes usaram<br />

os números negativos. Assim, Al-jabr esta mais próxima <strong>da</strong> álgebra elementar<br />

de hoje que as obras de Diofante e de Brahmagupta, pois o livro não se ocupa<br />

de problemas difíceis de análise indetermina<strong>da</strong>, mas contem uma exposição<br />

direta <strong>da</strong> resolução de equações especialmente de segundo grau.<br />

Os hindus eram fortes em associação e analogias, em intuição e faro<br />

artístico e imaginativo, ao passo que os árabes tinham mente mais pratica e<br />

terra a terra na sua abor<strong>da</strong>gem <strong>matemática</strong>.<br />

3.4 - EQUAÇÕES QUADRÁTICAS E A GEOMETRIA<br />

A tradução latina do livro ―Álgebra‖de AL-Khowarizmi se inicia <strong>com</strong> uma<br />

breve explanação introdutória do principio posicional para números e <strong>da</strong>í passa<br />

à resolução, em seus seis capítulos curtos, dos seis tipos de equações<br />

forma<strong>da</strong>s <strong>com</strong> a três espécies de quanti<strong>da</strong>des: raízes, quadrados e números.<br />

O capítulo um, em três parágrafos curtos, abrange o caso de quadrados<br />

iguais a raízes, expresso em notação moderna <strong>com</strong>o x² = 5x, x² / 3 = 4 e 5x =<br />

10x <strong>da</strong>ndo as resposta x = 5, x = 12 e x = 2 respectivamente. (A raiz x = 0 não<br />

era conheci<strong>da</strong>). O capítulo dois abrange o caso de quadrados iguais a números<br />

e o capitulo três resolve o caso de raízes iguais a números, sempre <strong>com</strong> três<br />

ilustrações por capitulo para os casos em que o coeficiente do termo variável é<br />

igual ou maior que, ou menor que um.<br />

Os capítulos quatro, cinco e seis são mais interessantes, pois abrangem<br />

sucessivamente os três casos clássicos de equação quadráticas <strong>com</strong> três<br />

termos: quadrados e raízes iguais a números, quadrados e números iguais a<br />

raízes, e raízes e números iguais a quadrados. As soluções são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

regras ―culinárias‖ para ―<strong>com</strong>pletar o quadrado‖ aplicado a exemplos<br />

específicos.<br />

O capítulo quatro, por exemplo, ain<strong>da</strong> contêm as três ilustrações x² + 10x = 39,<br />

2x² + 10x = 48 e (1/2) x² + 5x = 28. Em ca<strong>da</strong> caso só é <strong>da</strong><strong>da</strong> resposta positiva.<br />

No capitulo cinco só usado um exemplo — x² +21 = 10x — mas ambas as


- 40 -<br />

raízes, 3 e 7. Aqui AL-Khowarizmi chama a atenção para o fato de que o que<br />

chamamos de discriminante deve ser positivo.<br />

No capitulo seis novamente o autor usa um só exemplo — 3x+4 = x² —<br />

pois quando o coeficiente de x² não for à uni<strong>da</strong>de, o autor nos lembra de dividir<br />

primeiro por esse coeficiente. Mais uma vez os passos para <strong>com</strong>pletar o<br />

quadrado são meticulosamente indicados, sem justificação, o processo sendo<br />

equivalente à solução x =1 ½ + (1 ½)² +4. Também aqui só uma raiz é <strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

porque a outra é negativa.<br />

Na obra Al-Kitāb al-muhtasar fī hisāb al-ğabr wa-l-muqābala (Obra breve<br />

sobre a álgebra e almucabala), depois de ter explicado exclusivamente por<br />

palavras a resolução <strong>da</strong>s equações do segundo grau, Al-Khwārizmī afirma a<br />

necessi<strong>da</strong>de de demonstrar geometricamente os resultados discutidos<br />

anteriormente. Relativamente à equação quadrados mais raízes igual a<br />

números, escolheu <strong>com</strong>o exemplo x 2 +10x=39. A <strong>com</strong>pletação do quadrado é<br />

feita <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

a) Lado do quadrado do centro = x<br />

b) Lado de ca<strong>da</strong> um dos quadrados dos cantos = 2,5<br />

c) Lado do quadrado maior = x + 2,5 + 2,5 = x + 5<br />

d) Lados do rectângulo: x e 2,5<br />

e) Área do quadrado do centro = x 2<br />

f) Área de ca<strong>da</strong> um dos quadrados menores = 2,5 2 = 6,25<br />

g) Área dos quatro quadrados menores = 4.(6,25) = 25<br />

h) Área do quadrado maior = (x+5) 2<br />

i) Área de ca<strong>da</strong> rectângulo = 2,5x<br />

j) Área dos quatro rectângulos = 10x


- 41 -<br />

O primeiro termo <strong>da</strong> equação é igual a e) + j), donde e) + j) =39. Se a<br />

este número somarmos a área dos quatro quadrados dos cantos, g), obtemos<br />

39+25=64. Este número corresponderá então à área do quadrado maior, cujo<br />

lado terá de ser a raiz de 64, ou seja 8. Se a este número subtrairmos 2,5 duas<br />

vezes, obtemos 3 que será o valor de x. Outra demonstração <strong>da</strong> mesma<br />

equação é:<br />

a) Lado do quadrado do centro = x<br />

b) Lado do quadrado do canto superior = 5<br />

c) Lado do quadrado maior = x + 5<br />

d) Lados do rectângulo: x e 5<br />

e) Área do quadrado do centro = x 2<br />

f) Área do quadrado do canto superior = 5 2 = 25<br />

g) Área do quadrado maior = (x+5) 2<br />

h) Área de ca<strong>da</strong> rectângulo = 5xi)<br />

Área dos dois rectângulos = 10xA área do quadrado original mais a área<br />

de dois rectângulos será x 2 + 5x + 5x = x 2 + 10x, o que será igual a 39, visto ser<br />

o primeiro termo <strong>da</strong> equação. A área do quadrado maior será então 39 + 5 2 =<br />

39 +25 = 64, logo o lado do quadrado maior é 8 e portanto x terá de ser igual a<br />

três.


3.5 – PROBLEMAS ALGÉBRICOS<br />

- 42 -<br />

Leva inevitavelmente à concluso de que a álgebra árabe tinha muito em<br />

<strong>com</strong>um <strong>com</strong> a geometria grega; no entanto, a primeira parte, aritmética, <strong>da</strong><br />

álgebra de al-Khowarizmi evidentemente é estranha ao pensamento grego. O<br />

que aparentemente aconteceu em Bagdá foi exatamente o que seria de se<br />

esperar num centro intelectual cosmopolita.<br />

Os sábios árabes tinham uma grande admiração pela astronomia,<br />

<strong>matemática</strong>, medicina e filosofia gregas, assuntos que dominavam o melhor<br />

que podiam. No entanto, não podiam deixar de observar que, <strong>com</strong>o tinha dito o<br />

Bispo Nestoriano Sebokt, quando, em 662 ele, pela primeira vez, chamou a<br />

atenção para os nove maravilhosos dígitos hindus, ―há também outros que<br />

sabem alguma coisa‖.<br />

É provável que AL-Khowarizmi fosse um exemplo típico do árabe que<br />

seria tão freqüentemente observado em outros casos. Seu sistema de<br />

numeração muito provavelmente vinha <strong>da</strong> Índia, sua sistemática resolução de<br />

equações pode ter sido desenvolvi<strong>da</strong> na Mesopotâmia, e o quadro geométrico<br />

lógico para suas soluções evidentemente vinha <strong>da</strong> Grécia.<br />

A Álgebra de AL-Khowarizmi conta mais que a resolução material que<br />

ocupa a primeira metade. Há, por exemplo, regras para operações <strong>com</strong><br />

expressões binominais, inclusive produtos <strong>com</strong>o (10+2)(10-1) e (10+x)(10-x).<br />

Embora os árabes rejeitassem as raízes negativas e grandezas negativas,<br />

conheciam as regras que governavam o que chamamos números <strong>com</strong> sinal.<br />

Há também provas geométricas alternativas de alguns dos seis casos de<br />

equações do autor.<br />

Finalmente, a Álgebra contém uma ampla varie<strong>da</strong>de de problemas<br />

ilustrando os seis capítulos ou casos. AL-Khowarizmi pede a divisão de dez em<br />

duas partes de modo que ―a soma dos produtos obtidos multiplicam ca<strong>da</strong> parte<br />

por si mesma seja igual a cinqüenta e oito‖.<br />

A versão árabe existente, ao contrário <strong>da</strong> latina, contém também uma<br />

extensa discussão de problemas de herança, <strong>com</strong>o o seguinte: Um homem<br />

morre deixando dois filhos e legando um terço de seu capital a um estranho.<br />

Deixa dez dirhems de proprie<strong>da</strong>des e uma divi<strong>da</strong> de dez dirhems sobre um


- 43 -<br />

filho. A resposta não é o que se espera, pois o estranho só recebe cinco<br />

dirhems.<br />

Segundo a lei árabe, um filho que deve à herança de seu pai uma<br />

quantia maior que a sua parte conserva to<strong>da</strong> a soma que deve, uma sendo<br />

considera<strong>da</strong> <strong>com</strong>o sua parcela na proprie<strong>da</strong>de e o resto <strong>com</strong>o doação de seu<br />

pai. Até certo ponto parecem ter sido as <strong>com</strong>plica<strong>da</strong>s leis que regiam a herança<br />

a encorajar o estudo <strong>da</strong> álgebra na Arábia.<br />

3.6 - NUMERAIS ARÁBICOS E A TRIGONOMETRIA<br />

Por algumas vezes já <strong>com</strong>entamos que os árabes absorviam bem rápido<br />

a cultura de vizinhos que conquistavam. Devemos ain<strong>da</strong> olhar e notar também<br />

que dentro <strong>da</strong>s suas fronteiras do império árabe viviam povos de origens<br />

étnicas muito varia<strong>da</strong>s: sírios, gregos, egípcios, persas, turcos e muitos outros.<br />

Na <strong>matemática</strong> árabe tais diferenças culturais ocasionalmente se<br />

tornavam evidentes, <strong>com</strong>o nas obras de Abu‘l Wefa (940-988) e al-Karkhi em<br />

1029. Em algumas de suas obras usavam numerais hindus, que tinham<br />

chegado à Arábia através do Sindhind astronômico, em outras eles adotavam o<br />

tipo grego de numeração alfabética (naturalmente <strong>com</strong> equivalentes árabes<br />

para as letras gregas).<br />

É mais provável que as variantes resultassem de mu<strong>da</strong>nças graduais,<br />

que se verificam no espaço e no tempo, pois os numerais arábicos de hoje são<br />

muito diferentes dos numerais Devanagari (ou ―divinos‖) ain<strong>da</strong> em uso na Índia.<br />

Afinal, são os primeiros que regem o sistema de numeração que importam e<br />

não as formas especificas dos numerais.<br />

Nossos numerais são freqüentemente conhecidos <strong>com</strong>o arábicos,<br />

apesar do pouco se parecerem <strong>com</strong> os em uso agora no Egito, Iraque, Síria,<br />

Arábia, Iran e outros países de cultura islâmica. No entanto, os princípios<br />

governando os numerais arábicos presumivelmente vieram <strong>da</strong> Índia, por isso é<br />

melhor chamar nosso sistema de hindu ou indo-árabico.<br />

Já noção de número e suas extraordinárias generalizações estão<br />

intimamente liga<strong>da</strong>s à <strong>história</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. E a própria vi<strong>da</strong> está<br />

impregna<strong>da</strong> de <strong>matemática</strong>: grande parte <strong>da</strong>s <strong>com</strong>parações que o homem


- 44 -<br />

formula, assim <strong>com</strong>o gestos e atitudes cotidianas, leva conscientemente os<br />

juízos aritméticos.<br />

Em to<strong>da</strong>s as épocas <strong>da</strong> evolução humana, mesmo nas mais atrasa<strong>da</strong>s,<br />

encontra-se no homem o sentido do número. Essa facul<strong>da</strong>de lhe permite<br />

reconhecer que algo mu<strong>da</strong> em uma pequena coleção (por exemplo, seus filhos,<br />

ou suas ovelhas) quando, sem seu conhecimento direto, um objeto tenha sido<br />

retirado ou acrescentado.<br />

O sentido do número, em sua significação primitiva e no seu papel<br />

intuitivo, não se confunde <strong>com</strong> a capaci<strong>da</strong>de de contar, que exige um<br />

fenômeno mental mais <strong>com</strong>plicado. Se contar é um atributo exclusivamente<br />

humano, algumas espécies de animais parecem possuir um sentido rudimentar<br />

do número.<br />

Assim opinam, pelo menos, observadores <strong>com</strong>petentes dos costumes<br />

dos animais. Muitos pássaros têm o sentido do número. Se um ninho contém<br />

quatro ovos, pode-se tirar um sem que na<strong>da</strong> ocorra, mas o pássaro<br />

provavelmente abandonará o ninho se faltar dois ovos. De alguma forma<br />

inexplicável, ele pode distinguir dois de três.<br />

Um senhor feu<strong>da</strong>l estava decidido a matar um corvo que tinha feito ninho<br />

na torre de seu castelo. Repeti<strong>da</strong>s vezes tentou surpreender o pássaro, mas<br />

em vão: quando o homem se aproximava, o corvo voava de seu ninho,<br />

colocava-se vigilante no alto de uma árvore próxima, e só voltava à torre<br />

quando já vazia. Um dia, o senhor recorreu a um truque: dois homens entraram<br />

na torre, um ficou lá dentro e o outro saiu e se foi. O pássaro não se deixou<br />

enganar e, para voltar, esperou que o segundo homem tivesse saído.<br />

O estratagema foi repetido nos dias seguintes <strong>com</strong> dois, três e quatro<br />

homens, sempre sem êxito. Finalmente, cinco homens entraram na torre e<br />

depois saíram quatro, um atrás do outro, enquanto o quinto aprontava o<br />

trabuco à espera do corvo. Então o pássaro perdeu a conta e a vi<strong>da</strong>.<br />

As espécies zoológicas <strong>com</strong> sentido do número são muito poucas (nem<br />

mesmo incluem os monos e outros mamíferos). E a percepção de quanti<strong>da</strong>de<br />

numérica nos animais é de tão limitado alcance que se pode desprezá-la.<br />

Contudo, também no homem isso é ver<strong>da</strong>de.<br />

Na prática, quando o homem civilizado precisa distinguir um número ao<br />

qual não está habituado, usa conscientemente ou não - para aju<strong>da</strong>r seu sentido


- 45 -<br />

do número - artifícios tais <strong>com</strong>o a <strong>com</strong>paração, o agrupamento ou a ação de<br />

contar. Essa última, especialmente, se tornou parte tão integrante de nossa<br />

estrutura mental que os testes sobre nossa percepção numérica direta<br />

resultaram decepcionantes.<br />

Essas provas concluem que o sentido visual direto do número possuído<br />

pelo homem civilizado raras vezes ultrapassa o número quatro, e que o sentido<br />

tátil é ain<strong>da</strong> mais limitado. Os estudos sobre os povos primitivos fornecem uma<br />

notável <strong>com</strong>provação desses resultados. Os selvagens que não alcançaram<br />

ain<strong>da</strong> o grau de evolução suficiente para contar <strong>com</strong> os dedos estão quase<br />

<strong>com</strong>pletamente desprovidos de to<strong>da</strong> noção de número.<br />

Os habitantes <strong>da</strong> selva <strong>da</strong> África do Sul não possuem outras palavras<br />

numéricas além de um, dois e muitos, e ain<strong>da</strong> essas palavras estão tão<br />

desvincula<strong>da</strong>s que se pode duvi<strong>da</strong>r que tais indígenas lhes atribuam um<br />

sentido bem claro.<br />

Realmente não há razões para crer que nossos remotos antepassados<br />

estivessem mais bem equipados, já que to<strong>da</strong>s as linguagens européias<br />

apresentam traços destas antigas limitações: a palavra inglesa ‗thrice‘, do<br />

mesmo modo que a palavra latina ― os tres‖ ter possui dois sentidos: três vezes<br />

e muito. Há evidente conexão entre as palavras latinas tres (três) e trans (mais<br />

além). O mesmo acontece no francês: trois (três) e très (muito). Como nasceu<br />

o conceito de número? Da experiência? Ou, ao contrário, a experiência serviu<br />

simplesmente para tornar explícito o que já existia em estado latente na mente<br />

do homem primitivo? Eis aqui um tema apaixonante para discussão filosófica.<br />

Julgando o desenvolvimento dos nossos ancestrais pelo estado mental<br />

<strong>da</strong>s tribos selvagens atuais, é impossível deixar de concluir que sua iniciação<br />

<strong>matemática</strong> foi extremamente modesta. Um sentido rudimentar de número, de<br />

alcance não maior que o de certos pássaros, foi o núcleo do qual nasceu nossa<br />

concepção de número. Reduzido à percepção direta do número, o homem não<br />

teria avançado mais que o corvo assassinado pelo senhor feu<strong>da</strong>l.<br />

To<strong>da</strong>via, através de uma série de circunstâncias, o homem aprendeu a<br />

<strong>com</strong>pletar sua percepção limita<strong>da</strong> de número <strong>com</strong> um artifício que estava<br />

destinado a exercer influência extraordinária em sua vi<strong>da</strong> futura. Esse artifício é<br />

a operação de contar, e é a ele que devemos o progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Apesar disso, ain<strong>da</strong> que pareça estranho, é possível chegar a uma idéia clara e


lógica de número sem recorrer à contagem.<br />

- 46 -<br />

Entrando numa sala de cinema, temos diante de nós dois conjuntos: o<br />

<strong>da</strong>s poltronas <strong>da</strong> sala e o dos espectadores. Sem contar, podemos assegurar<br />

se esses dois conjuntos têm ou não igual número de elementos e, se não têm,<br />

qual é o de menor número. Com efeito, se ca<strong>da</strong> assento está ocupado e<br />

ninguém está de pé, sabemos sem contar que os dois conjuntos têm igual<br />

número.<br />

Se to<strong>da</strong>s as cadeiras estão ocupa<strong>da</strong>s e há gente de pé na sala,<br />

sabemos sem contar que há mais pessoas que poltronas. Esse conhecimento<br />

é possível graças a um procedimento que domina to<strong>da</strong> a <strong>matemática</strong>, e que<br />

recebeu o nome de correspondência biunívoca. Esta consiste em atribuir a<br />

ca<strong>da</strong> objeto de um conjunto um objeto de outro, e continuar assim até que um<br />

ou ambos os conjuntos se esgotem.<br />

A técnica de contagem, em muitos povos primitivos, se reduz<br />

precisamente a tais associações de idéias. Eles registram o número de suas<br />

ovelhas ou de seus sol<strong>da</strong>dos por meio de incisões feitas num pe<strong>da</strong>ço de<br />

madeira ou por meio de pedras empilha<strong>da</strong>s. Temos uma prova desse<br />

procedimento na origem <strong>da</strong> palavra "cálculo", <strong>da</strong> palavra latina calculus, que<br />

significa pedra.<br />

A correspondência biunívoca resume-se numa operação de "fazer<br />

corresponder". Pode-se dizer que a contagem se realiza fazendo corresponder<br />

a ca<strong>da</strong> objeto <strong>da</strong> coleção (conjunto), um número que pertence à sucessão<br />

natural: 1,2,3... A gente aponta para um objeto e diz: um; aponta para outro e<br />

diz: dois; e assim sucessivamente até esgotar os objetos <strong>da</strong> coleção; se o<br />

último número pronunciado for oito, dizemos que a coleção tem oito objetos e é<br />

um conjunto finito.<br />

Mas o homem de hoje, mesmo <strong>com</strong> conhecimento precário de<br />

<strong>matemática</strong>, <strong>com</strong>eçaria a sucessão numérica não pelo um, mas por zero, e<br />

escreveria 0,1,2,3,4... A criação de um símbolo para representar o "na<strong>da</strong>"<br />

constitui um dos atos mais au<strong>da</strong>ciosos <strong>da</strong> <strong>história</strong> do pensamento. Essa<br />

criação é relativamente recente (talvez pelos primeiros séculos <strong>da</strong> fosse cristã)<br />

e foi devi<strong>da</strong> às exigências <strong>da</strong> numeração escrita.<br />

O zero não só permite escrever mais simplesmente os números, <strong>com</strong>o<br />

também efetuar as operações. Imagine o leitor - fazer uma divisão ou


- 47 -<br />

multiplicação em números romanos. E, no entanto, antes ain<strong>da</strong> dos romanos,<br />

tinha florescido a civilização grega, onde viveram alguns dos maiores<br />

matemáticos de todos os tempos; e nossa numeração é muito posterior a todos<br />

eles.<br />

Pareceria à primeira vista que o processo de correspondência biunívoca<br />

só pode fornecer um meio de relacionar, por <strong>com</strong>paração, dois conjuntos<br />

distintos (<strong>com</strong>o o <strong>da</strong>s ovelhas do rebanho e o <strong>da</strong>s pedras empilha<strong>da</strong>s), sendo<br />

incapaz de criar o número no sentido absoluto <strong>da</strong> palavra. Contudo, a transição<br />

do relativo ao absoluto não é difícil.<br />

Criando conjuntos modelos, tomados do mundo que nos rodeia, e<br />

fazendo ca<strong>da</strong> um deles caracterizar um agrupamento possível, a avaliação de<br />

um <strong>da</strong>do conjunto fica reduzi<strong>da</strong> à seleção, entre os conjuntos modelos, <strong>da</strong>quele<br />

que possa ser posto em correspondência biunívoca <strong>com</strong> o conjunto <strong>da</strong>do.<br />

Começou assim: as asas de um pássaro podiam simbolizar o número dois, as<br />

folhas de um trevo o número três, as patas do cavalo o número quatro, os<br />

dedos <strong>da</strong> mão o número cinco. Evidências de que essa poderia ser a origem<br />

dos números se encontram em vários idiomas primitivos. É claro que uma vez<br />

criado e adotado, o número se desliga do objeto que o representava<br />

originalmente, a conexão entre os dois é esqueci<strong>da</strong> e o número passa por sua<br />

vez a ser um modelo ou um símbolo.<br />

À medi<strong>da</strong> que o homem foi aprendendo a servir-se ca<strong>da</strong> vez mais <strong>da</strong><br />

linguagem, o som <strong>da</strong>s palavras que exprimiam os primeiros números foi<br />

substituindo as imagens para as quais foi criado. Assim os modelos concretos<br />

iniciais tomaram a forma abstrata dos nomes dos números. É impossível saber<br />

a i<strong>da</strong>de dessa linguagem numérica fala<strong>da</strong>, mas sem dúvi<strong>da</strong> ela precedeu de<br />

vários milhões de anos a aparição <strong>da</strong> escrita.<br />

Todos os vestígios <strong>da</strong> significação inicial <strong>da</strong>s palavras que designam os<br />

números foram perdidos, <strong>com</strong> a possível exceção de cinco (que em várias<br />

línguas queria dizer mão, ou mão estendi<strong>da</strong>). A explicação para isso é que,<br />

enquanto os nomes dos números se mantiveram invariáveis desde os dias de<br />

sua criação, revelando notável estabili<strong>da</strong>de e semelhança em todos os grupos<br />

lingüísticos, os nomes dos objetos concretos que lhes deram nascimento<br />

sofreram uma metamorfose <strong>com</strong>pleta.<br />

OO sentido de número, em sua significação primitiva e no seu papel


- 48 -<br />

intuitivo, não se confunde <strong>com</strong> a capaci<strong>da</strong>de de contar, mas que exige um<br />

fenômeno mental mais <strong>com</strong>plicado. Se contar é um atributo exclusivamente<br />

humano, algumas espécies de animais parecem possuir um sentido rudimentar<br />

do número.<br />

Assim <strong>com</strong>o na numeração havia <strong>com</strong>petição entre os sistemas de<br />

origens gregas e indianas, também nos cálculos astronômicos houve, a<br />

princípio, na Arábia, dois tipos de trigonometria — a geometria grega <strong>da</strong>s<br />

cor<strong>da</strong>s, <strong>com</strong>o é encontra<strong>da</strong> no Almajesto, e as tabelas hindus de senos,<br />

deriva<strong>da</strong>s dos Sindhind. Aqui também o conflito <strong>com</strong> triunfo do sistema hindu, e<br />

quase to<strong>da</strong> a trigonometria árabe finalmente se baseou na função seno. Na<br />

ver<strong>da</strong>de foram também através dos árabes, não diretamente dos hindus, que<br />

essa trigonometria do seno chegou a Europa. A astronomia de al-Battani (cerca<br />

de 850-929), conhecido na Europa <strong>com</strong>o albategnius, serviu <strong>com</strong>o o veículo<br />

primário de transmissão, embora Thabit ibn Qurra pareça ter usado senos um<br />

pouco antes.<br />

Aqui estamos em contato mais imediato <strong>com</strong> a trigonometria moderna,<br />

pois a função tangente dos árabes, ao contrario <strong>da</strong> função seno hindu, em<br />

geral era <strong>da</strong><strong>da</strong> para um circulo unitário. Ain<strong>da</strong> mais, <strong>com</strong> Abu‘l-wefa a<br />

trigonometria assume uma forma mais sistemática em que são provados<br />

teoremas tais <strong>com</strong>o as fórmulas para ângulo duplo ou metade. Embora a<br />

função seno hindu tenha ultrapassado a cor<strong>da</strong> grega, foi, no entanto, o de<br />

Ptolomeu que motivou o arranjo lógico de resultados trigonométricos.<br />

A lei dos senos em sua essência era conheci<strong>da</strong> por Ptolomeu e está<br />

conti<strong>da</strong> por implicação na obra de Brahmagupta, mas freqüentemente atribuí<strong>da</strong><br />

a Abul‘l-Wefa por causa de sua formulação clara <strong>da</strong> lei para triângulos<br />

esféricos, também tabela de tangentes e usou to<strong>da</strong>s as seis funções<br />

trigonométricas <strong>com</strong>uns, bem <strong>com</strong>o relação entre elas, mas seu uso <strong>da</strong>s novas<br />

funções não parece ter tido muitos seguidores no período medieval. Tenta-se<br />

às vezes atribuir à função tangente, cotangente, secante e cossecante, mas<br />

isto não pode ser feito <strong>com</strong> qualquer segurança.<br />

Na Índia e na Arábia houve teoria geral dos <strong>com</strong>primentos <strong>da</strong>s sombras,<br />

relativas de uma uni<strong>da</strong>de de <strong>com</strong>primento, para altitudes solares variáveis. Não<br />

havia uma uni<strong>da</strong>de de <strong>com</strong>primento padrão embora um palmo ou altura de um<br />

homem fosse freqüentemente adotado.


- 49 -<br />

A sombra horizontal, para uma barra vertical de <strong>com</strong>primento <strong>da</strong>do, era<br />

o que chamamos a cotangente do ângulo de elevação do Sol. A ―sobra<br />

reversa‖ — isto é, a sombra lança<strong>da</strong> numa parede vertical por uma barra que<br />

se projeta <strong>da</strong> parede horizontalmente — era o que chamamos tangente de<br />

elevação do Sol. A ―hipotenusa <strong>da</strong> sombra‖ — isto é, distancia <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong><br />

barra ponta <strong>da</strong> sombra — era o equivalente de nossa função co-secante, e a<br />

―hipotenusa <strong>da</strong> sombra reversa‖ desempenhava o papel <strong>da</strong> nossa secante.<br />

Essa tradição, quanto à sombra, parece ter estado bem estabeleci<strong>da</strong> na Ásia<br />

pelo tempo de Thabit ibn Qurra, mas raramente eram tabulados valores <strong>da</strong><br />

hipotenusa (secante ou cossecante).<br />

A <strong>matemática</strong> árabe pode ser dividi<strong>da</strong> em quatro partes:<br />

• Aritmética, deriva<strong>da</strong> presumivelmente <strong>da</strong> Índia e basea<strong>da</strong> no princípio<br />

posicional.<br />

• Álgebra que, embora viesse de fontes gregas, hindus e babilônicas,<br />

tomou nas mãos do mulçumanos uma forma caracteristicamente nova e<br />

sistemática.<br />

• Trigonometria, cuja substância vinha principalmente <strong>da</strong> Grécia, mas à<br />

qual os árabes acrescentaram a forma hindu e novas funções e fórmulas.<br />

• Geometria, que vinha <strong>da</strong> Grécia, mas para a qual os árabes contribuíram<br />

<strong>com</strong> generalização aqui e ali.<br />

Muitos dizem que os árabes fizeram pouco mais que pôr a ciência grega<br />

em ―conservação a frio‖ à espera que a Europa esteja prepara<strong>da</strong> para aceitá-la.<br />

Após esta pequena exposição, este capítulo mostrou que, pelo menos no caso<br />

<strong>da</strong> <strong>matemática</strong>, a tradição transmiti<strong>da</strong> ao mundo latino nos séculos doze e treze<br />

era mais rica do que a que os iletrados conquistadores árabes encontravam no<br />

século sete, mostrando assim um melhoramento e trazendo um maior<br />

crescimento <strong>da</strong> <strong>história</strong> cultural árabe sendo transmiti<strong>da</strong> para o mundo.


CONCLUSÃO<br />

- 50 -<br />

A partir <strong>da</strong> análise e reflexão iniciais proporciona<strong>da</strong>s por esta pesquisa,<br />

iremos constatar neste trabalho pontos importantes sobre a <strong>história</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>matemática</strong> árabe, que vem nos colocar formulas <strong>matemática</strong>s e equações que<br />

nos facilitam nossos cálculos ate os dias de hoje.<br />

A <strong>matemática</strong> árabe mostrou <strong>com</strong> grande importância o surgimento de<br />

AL-Khowarizmi, explicando o sistema de numeração hindu. Os árabes tiveram<br />

um papel muito importante na <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>, pois traduziram,<br />

fielmente, os clássicos gregos.<br />

Em to<strong>da</strong>s as épocas <strong>da</strong> evolução humana, mesmo nas mais atrasa<strong>da</strong>s,<br />

encontra-se no homem o sentido do calculo. Pode perceber que nestas<br />

pequenas idéias de números foi mostrar algumas formas de cálculos utilizados<br />

pelo mundo árabe na <strong>história</strong> que ain<strong>da</strong> hoje são utiliza<strong>da</strong>s.<br />

Não devemos esquecer que o objetivo <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> não é só resolver e criar<br />

problemas, mas também desenvolver em nós uma grande inteligência e<br />

raciocínio, para perceber um dos melhores caminhos para levar o homem a<br />

sentir o poder do seu pensamento e a magia do seu espírito.<br />

A obra refere-se às contribuições dos árabes e dos hindus para o<br />

conhecimento e o desenvolvimento matemático, afirmando que a <strong>matemática</strong><br />

representa uma forma de linguagem, que no dia-a-dia nos tornar mais<br />

necessário aprender, no mundo em que vivemos.<br />

A relação estabeleci<strong>da</strong> entre a <strong>história</strong> árabe de ―O Homem que<br />

Calculava‖ e a didática <strong>da</strong> <strong>matemática</strong> que se encontra, na obra de Malba<br />

Tahan simboliza o discurso pe<strong>da</strong>gógico deste autor. Nesse sentido, esta<br />

retoma<strong>da</strong> incita a consideração de que a obra explica a vi<strong>da</strong> de seu criador e<br />

dá pista para se desven<strong>da</strong>r o processo de sua criação, mostrando-nos o<br />

ver<strong>da</strong>deiro sentido de ensinar.


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- 51 -<br />

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fenomenológico (versão mimeo, em português, <strong>da</strong> conferência apresenta<strong>da</strong> no<br />

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GUEDJ, D. O Teorema do Papagaio. Editora: Schwarcz Lt<strong>da</strong>. (1999).<br />

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BRANDÃO, C. R.Educação Popular. São Paulo. Brasiliense S.A. ( 1985)<br />

COSTA, M. A. A.Uma experiência de educação de jovens e adultos na UERN.<br />

Mossoró: Gráfica Igramol. (2002)<br />

FREIRE, P. A educação cultural <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e outros escritos. São Paulo: Paz<br />

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GADOTTI, M.; RAMÃO, J. Educação de Jovens e adultos. São Paulo. (2001)<br />

SANTOS, A. R. Para filosofar. São Paulo: Scipione. (2002)<br />

OLIVEIRA, C. C. Do menino Julinho à Malba Tahan: Uma viagem pelo oásis do<br />

ensino <strong>da</strong> <strong>matemática</strong>, Ano de Obtenção: Mestrado em Educação Matemática<br />

2001.

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