Número 6 (jul-dez/06) - Dialogarts - Uerj

A desconstrução da identidade nacional
a partir do imaginário mitológico
em Ubirajara, de José de Alencar
Alexandra Vieira de Almeida – UERJ
Na “Advertência” a Ubirajara, José de Alencar critica os cro-
nistas por não terem se reportado fielmente à realidade complexa dos
grupos indígenas:
Os historiadores, cronistas e viajantes de primeira
época, se não de todo o período colonial,
devem ser lidos à luz de uma crítica severa. É
indispensável sobretudo escoimar os fatos
comprovados das fábulas a que serviam de mote,
e das apreciações a que os sujeitavam espíritos
acanhados, por demais imbuídos de uma
intolerância ríspida. (ALENCAR, 1926: 175)
Estes pintavam o índio como um incivilizado, um bárbaro, um
canibal, como uma reação ao desconhecido que, por sua vez, remete
aos imaginários da bestialidade não só da Idade Média, mas também
daqueles criados a partir do enfrentamento que podemos encontrar
nos mitos gregos, em que os heróis combatem forças inconscientes e
perturbadoras da ordem. O trabalho da tradução foi ler esses novos
seres do Novo Mundo com o olhar do civilizador, do “interpretante”,
que não deixa de ter o resíduo da visão mitológica do real. Assim, o
outro se transformou em mito, em algo não reconhecível à primeira
vista devido ao estranhamento, mas que ativa a memória de outros
momentos em que o estranho foi incorporado, mas não inteiramente
compreendido. Mas nesse novo enfrentamento, podemos assinalar a
diferença da dominação européia, unindo o caráter pragmático da
colonização, sendo uma prática nova, pois todo acontecimento histó-
Caderno Seminal Digital, Ano 12, Nº 6, V 6 (jul/Dez 2006) – ISSN 1806-9142
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