Uma Igreja na trilha do Cristo pastor - Arquidiocese de Maringá
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A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />
MeMóriA, quAse históriA<br />
crôNicA pArA Nossos MeNiNos<br />
Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso la<strong>do</strong>, e a nossa<br />
no meio <strong>de</strong>les pareciam-nos as coisas mais <strong>na</strong>turais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Éramos padres jovens, ape<strong>na</strong>s<br />
concluí<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s. Não sentíamos distância <strong>de</strong>les, to<strong>do</strong>s ainda estudantes.<br />
Eles nos tinham como orienta<strong>do</strong>res, mas nós assim não nos consi<strong>de</strong>rávamos. Éramos<br />
tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres.<br />
Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito.<br />
Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. Entrávamos<br />
em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente<br />
da família.<br />
Não havia preocupação <strong>de</strong> horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da<br />
noite, <strong>de</strong>pois da faculda<strong>de</strong>, como se falava <strong>na</strong> época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltasse,<br />
às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão<br />
exigi<strong>do</strong>s como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho<br />
e não nos cansássemos com facilida<strong>de</strong>.<br />
Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensi<strong>na</strong>mos e apren<strong>de</strong>mos. Foi uma troca<br />
tão intensa <strong>de</strong> vida que o tempo não conseguiu <strong>de</strong>struir.<br />
Acompanhamos os <strong>na</strong>moros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebramos<br />
a Eucaristia com eles e com as crianças.<br />
A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por to<strong>do</strong> canto.<br />
Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, continuam<br />
o que sempre foram: os nossos meninos.<br />
Agora enten<strong>de</strong>mos o que sentem os pais quan<strong>do</strong> os filhos crescem. E, como os pais,<br />
experimentamos quanto po<strong>de</strong> <strong>do</strong>er o carinho que lhes <strong>de</strong>dicamos.<br />
Sempre os alertamos para a ru<strong>de</strong>za da vida. Para a necessida<strong>de</strong> da fortaleza interior. Para<br />
a construção <strong>de</strong> uma perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> sólida, fundada <strong>na</strong> fé, sustentada <strong>na</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a valores que<br />
não passam. Nunca lhes escon<strong>de</strong>mos que o heroísmo é exigência <strong>de</strong> cada dia.<br />
Lá no fun<strong>do</strong>, porém, provavelmente alimentássemos a esperança <strong>de</strong> que não precisassem<br />
comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> já não estivéssemos presentes.<br />
Quan<strong>do</strong> não mais precisassem <strong>de</strong> nós <strong>na</strong> hora da cruz.<br />
É <strong>na</strong>tural supor que os mais velhos sejam chama<strong>do</strong>s primeiro. Pensávamos que, como o<br />
Lauria, iríamos também <strong>na</strong> frente. Não podíamos imagi<strong>na</strong>r que nos prece<strong>de</strong>riam à casa <strong>do</strong> Pai<br />
gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos<br />
(ROBLES, 1995, p. 12).<br />
___________________<br />
¹ Padre Berniero Lauria, pároco <strong>de</strong> Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1983.<br />
² José Roberto Singh morreu <strong>de</strong> câncer, em <strong>Maringá</strong>, a 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1995.<br />
³ João Carlos Clemente faleceu, vítima <strong>de</strong> ataque cardíaco, aos 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1995, em Cascavel.