19.06.2013 Views

Uma Igreja na trilha do Cristo pastor - Arquidiocese de Maringá

Uma Igreja na trilha do Cristo pastor - Arquidiocese de Maringá

Uma Igreja na trilha do Cristo pastor - Arquidiocese de Maringá

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

246<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

MeMóriA, quAse históriA<br />

crôNicA pArA Nossos MeNiNos<br />

Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso la<strong>do</strong>, e a nossa<br />

no meio <strong>de</strong>les pareciam-nos as coisas mais <strong>na</strong>turais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Éramos padres jovens, ape<strong>na</strong>s<br />

concluí<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s. Não sentíamos distância <strong>de</strong>les, to<strong>do</strong>s ainda estudantes.<br />

Eles nos tinham como orienta<strong>do</strong>res, mas nós assim não nos consi<strong>de</strong>rávamos. Éramos<br />

tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres.<br />

Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito.<br />

Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. Entrávamos<br />

em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente<br />

da família.<br />

Não havia preocupação <strong>de</strong> horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da<br />

noite, <strong>de</strong>pois da faculda<strong>de</strong>, como se falava <strong>na</strong> época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltasse,<br />

às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão<br />

exigi<strong>do</strong>s como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho<br />

e não nos cansássemos com facilida<strong>de</strong>.<br />

Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensi<strong>na</strong>mos e apren<strong>de</strong>mos. Foi uma troca<br />

tão intensa <strong>de</strong> vida que o tempo não conseguiu <strong>de</strong>struir.<br />

Acompanhamos os <strong>na</strong>moros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebramos<br />

a Eucaristia com eles e com as crianças.<br />

A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por to<strong>do</strong> canto.<br />

Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, continuam<br />

o que sempre foram: os nossos meninos.<br />

Agora enten<strong>de</strong>mos o que sentem os pais quan<strong>do</strong> os filhos crescem. E, como os pais,<br />

experimentamos quanto po<strong>de</strong> <strong>do</strong>er o carinho que lhes <strong>de</strong>dicamos.<br />

Sempre os alertamos para a ru<strong>de</strong>za da vida. Para a necessida<strong>de</strong> da fortaleza interior. Para<br />

a construção <strong>de</strong> uma perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> sólida, fundada <strong>na</strong> fé, sustentada <strong>na</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a valores que<br />

não passam. Nunca lhes escon<strong>de</strong>mos que o heroísmo é exigência <strong>de</strong> cada dia.<br />

Lá no fun<strong>do</strong>, porém, provavelmente alimentássemos a esperança <strong>de</strong> que não precisassem<br />

comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> já não estivéssemos presentes.<br />

Quan<strong>do</strong> não mais precisassem <strong>de</strong> nós <strong>na</strong> hora da cruz.<br />

É <strong>na</strong>tural supor que os mais velhos sejam chama<strong>do</strong>s primeiro. Pensávamos que, como o<br />

Lauria, iríamos também <strong>na</strong> frente. Não podíamos imagi<strong>na</strong>r que nos prece<strong>de</strong>riam à casa <strong>do</strong> Pai<br />

gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos<br />

(ROBLES, 1995, p. 12).<br />

___________________<br />

¹ Padre Berniero Lauria, pároco <strong>de</strong> Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1983.<br />

² José Roberto Singh morreu <strong>de</strong> câncer, em <strong>Maringá</strong>, a 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1995.<br />

³ João Carlos Clemente faleceu, vítima <strong>de</strong> ataque cardíaco, aos 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1995, em Cascavel.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!