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Artigo Completo - Um Mundo de Experiências

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“Em 2020 eu ainda vou gostar <strong>de</strong>le”: contribuições da etnosemântica no estudo <strong>de</strong> vínculos afetivos<br />

“consumer-product attachment” vem a significar também o sentimento <strong>de</strong> apego a<br />

<strong>de</strong>terminados produtos. (SCHIFFERSTEIN; ZWARTKRUIS-PELGRIM, 2008).<br />

O vínculo afetivo a <strong>de</strong>terminados produtos não está relacionado necessariamente as<br />

suas funções práticas e utilitárias, pois fatores mais subjetivos exercem maior influência. Os<br />

significados simbólicos apresentam-se como os principais <strong>de</strong>terminantes do vínculo afetivo.<br />

Quando uma pessoa especial toca fisicamente um produto ou o produto foi obtido em um<br />

contexto especial e o tornou exclusivo para seu proprietário, esse produto po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado insubstituível. A percepção <strong>de</strong> que um produto é consi<strong>de</strong>rado indispensável, por<br />

exemplo, muitas vezes é assim não por razões práticas, mas por razões emocionais. <strong>Um</strong><br />

produto também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como uma extensão do usuário, quando seu<br />

proprietário exerce po<strong>de</strong>r ou controle sobre ele. <strong>Um</strong> carpinteiro po<strong>de</strong> perceber suas<br />

ferramentas como auto-extensões porque ele precisa <strong>de</strong>las para executar seu trabalho, elas são<br />

parte <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. (SCHIFFERSTEIN; ZWARTKRUIS-PELGRIM, 2008).<br />

Para Wallendorf e Arnould (1988), um objeto é consi<strong>de</strong>rado favorito porque é uma<br />

lembrança <strong>de</strong> um amigo ou membro da família, <strong>de</strong> uma viagem <strong>de</strong> férias, ou um evento do<br />

passado. Além disso, a maior parte dos indivíduos da pesquisa empreendida pelos autores<br />

recebeu seus objetos favoritos como um presente. Os indivíduos que selecionaram objetos<br />

funcionais como seus favoritos, tais como relógios ou ca<strong>de</strong>iras, o fizeram porque haviam<br />

compartilhado uma história pessoal com o objeto.<br />

As pessoas experimentam emoções positivas para os produtos a que se sentem<br />

apegadas, tais como felicida<strong>de</strong>, amor, orgulho, segurança e conforto. No entanto, em certos<br />

casos, as emoções também po<strong>de</strong>m ser negativas como a tristeza, por exemplo, quando o<br />

objeto é uma lembrança <strong>de</strong> tempos difíceis. (SCHULTZ; KLEINE; KERNAN, 1989).<br />

A representação <strong>de</strong> vínculos afetivos nos objetos, portanto, po<strong>de</strong> ser análoga a relações<br />

interpessoais, sendo que as pessoas se referem a objetos queridos utilizando, por exemplo, a<br />

palavra amor. A experiência amorosa em relação aos objetos é real e não simplesmente<br />

metafórica, po<strong>de</strong>ndo ser dividida em cinco princípios básicos, <strong>de</strong> acordo com Russo e Hekkert<br />

(2008). No princípio da interação fluída, as pessoas sentem prazer em usar produtos com os<br />

quais interagem fluentemente; no princípio da recordação <strong>de</strong> memórias afetivas as pessoas<br />

gostam <strong>de</strong> usar produtos portadores <strong>de</strong> memórias afetivas que funcionam como lembretes<br />

<strong>de</strong>ssas memórias; no princípio do significado simbólico social, as pessoas gostam <strong>de</strong> usar<br />

produtos que compõem os significados simbólicos que po<strong>de</strong>m ser expostos e/ou percebidos<br />

por outros, em um ambiente social; no princípio <strong>de</strong> valores morais compartilhados, as pessoas<br />

gostam <strong>de</strong> usar produtos por meio dos quais po<strong>de</strong>m compartilhar valores morais e éticos; no<br />

princípio da interação física prazerosa, as pessoas gostam <strong>de</strong> interagir com os produtos que<br />

são fisicamente prazerosos.<br />

As pesquisas apresentadas oferecem guias para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos<br />

capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar afetos intencionalmente em seus usuários, mesmo sabendo-se que não é<br />

possível prever todas as maneiras <strong>de</strong> como um objeto vai ser utilizado, em todos os contextos<br />

e para todas as pessoas. Ao reinserir valores humanos e <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> humana no mundo<br />

material, o <strong>de</strong>sign propicia “interações com o produto menos impessoais e estritamente<br />

funcionais, e mais relacionais, agradáveis e confiáveis”. O <strong>de</strong>sign se torna capaz também <strong>de</strong><br />

resolver problemas <strong>de</strong> diálogo do homem com os outros e consigo mesmo, tendo em vista que<br />

estão em jogo questões <strong>de</strong> significação. (NIEMEYER, 2008, p. 52).<br />

No âmbito <strong>de</strong>ssa pesquisa a abordagem do vínculo afetivo entre usuário e produto é<br />

consi<strong>de</strong>rada um <strong>de</strong>safio e uma oportunida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>signer. Ao serem consi<strong>de</strong>radas as várias<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estímulos ao vínculo afetivo entre usuário e produto e os resultados que essa<br />

questão suscitará no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos, esperam-se reflexos positivos<br />

no cotidiano do usuário e no ciclo <strong>de</strong> vida do produto.<br />

9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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