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Artigo Completo - Um Mundo de Experiências

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“Em 2020 eu ainda vou gostar <strong>de</strong>le”: contribuições da etnosemântica no estudo <strong>de</strong> vínculos afetivos<br />

Introdução<br />

O estudo do afeto vinculado aos interesses do marketing, pesquisa do consumidor,<br />

ergonomia, economia e engenharia vem sendo <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1960. Com o<br />

avanço nos estudos sobre as emoções, observa-se que seu campo <strong>de</strong> conhecimento envolve<br />

várias disciplinas caracterizando-se por uma visão holística do homem e seu ambiente. Após<br />

um longo período em que prevaleceu a abordagem funcionalista e racional, verifica-se que<br />

razão e emoção são inseparáveis e que revelam a mesma importância na significação do<br />

homem.<br />

O cenário do <strong>de</strong>sign na atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra um número crescente <strong>de</strong> pesquisas que<br />

privilegiam fatores emocionais presentes na relação entre usuário e produto. Na visão <strong>de</strong><br />

NIEMEYER (2008), nas últimas décadas do século XX ganha relevância a importância da<br />

significação no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> objetos e sistemas <strong>de</strong> informação. Esse fato estaria<br />

alinhado com o pensamento <strong>de</strong> teóricos da socieda<strong>de</strong> pós-tradicional, para quem a or<strong>de</strong>m<br />

social vigente preenche <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> todos os aspectos da vida social e da cultura. Assim,<br />

os estudos focando os aspectos afetivos po<strong>de</strong>m ser vistos tanto como resultados das tentativas<br />

<strong>de</strong> lidar com essa complexida<strong>de</strong>, quanto no sentido <strong>de</strong> reação a essa mesma nova or<strong>de</strong>m<br />

social.<br />

Nessas pesquisas, várias ferramentas vêm sendo criadas visando mensurar dados<br />

subjetivos, assim como conhecimentos e práticas <strong>de</strong> psicologia, neurociência, sociologia e<br />

antropologia vêm sendo incorporados, contribuindo para o melhor entendimento das relações<br />

do homem com seu mundo material. No entanto, o foco em geral aborda principalmente o<br />

momento <strong>de</strong> compra – aquisição inicial e a escolha entre diferentes alternativas. Aspectos tais<br />

como a relação dos usuários com seus produtos no contexto <strong>de</strong> uso, organização e<br />

hierarquização dos produtos entre si, razões pelas quais o produto é mantido mesmo quando<br />

não funciona mais e as razões pelas quais ele é <strong>de</strong>scartado, são estudados com menos<br />

freqüência.<br />

Ao priorizar o cotidiano, os estudos sobre vínculos afetivos em <strong>de</strong>sign sugerem que o<br />

pesquisador observe o usuário e seu produto no contexto <strong>de</strong> uso. Sob esse mote, a presente<br />

pesquisa <strong>de</strong> Doutorado em andamento aborda, entre outros aspectos, a relação afetiva entre o<br />

usuário e o produto em seu ambiente doméstico, procurando evi<strong>de</strong>nciar os principais fatores<br />

responsáveis pela manutenção do vínculo afetivo.<br />

Foi focalizado o ambiente doméstico, tendo em vista que representa um espaço rico<br />

em referências <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e cultura. Quando entendida no sentido <strong>de</strong> lar, uma casa contém<br />

elementos que fazem lembrar a infância das pessoas, suas raízes e que fornecem segurança,<br />

privacida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>. <strong>Um</strong>a casa abriga não somente seus membros e seus objetos – função<br />

prática -, mas é também palco <strong>de</strong> relações sociais, relações afetivas, preferências estéticas,<br />

hábitos e costumes – funções estéticas e simbólicas. Até certo ponto, seus membros<br />

permanecem isolados <strong>de</strong> uma platéia que po<strong>de</strong> fazer julgamentos, exclusões, atribuir valores<br />

estranhos, entre outros. (CSIKSZENTMIHALYI; ROCHBERG-HALTON, 2002, p. 122).<br />

Na visão <strong>de</strong> Baudrillard (1973), os móveis <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ambiente familiar or<strong>de</strong>nam-se<br />

na casa <strong>de</strong> acordo com sua função e sua dignida<strong>de</strong> simbólica, <strong>de</strong>monstrando a relação afetiva<br />

que liga seus membros. “Os objetos domésticos encarnam no espaço os laços afetivos do<br />

grupo familiar até que uma geração mais mo<strong>de</strong>rna os afaste ou às vezes os reinstaure em uma<br />

atualida<strong>de</strong> nostálgica <strong>de</strong> velhos objetos”.<br />

Utilizando recursos provenientes da etnografia, mais especificamente da<br />

etnosemântica, a pesquisa vem encontrando suporte para a coleta e análise <strong>de</strong> dados<br />

subjetivos capazes <strong>de</strong> propiciar esse entendimento. Baseado em resultados preliminares<br />

provenientes <strong>de</strong> testes piloto, este artigo apresenta as contribuições do método etnosemântico<br />

na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> significados presentes nas relações afetivas <strong>de</strong> três informantes com seus<br />

9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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