Resumo: Aos Homens do meu Tempo A Universidade - Centro ...
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adestradas na arte de pensar, como faziam os antigos<br />
com grande variedade de recursos. O que é importante<br />
sublinhar é que a educação não começa no dia em que<br />
o menino entra no grupo escolar. Os pais é que são, de<br />
princípio a fim, os educa<strong>do</strong>res mais responsáveis. Hoje<br />
os colégios, ou sob a ditadura ministerial; ou outros<br />
escandalosamente mercantiliza<strong>do</strong>s, pouco podem<br />
fazer pela mocidade. Como essa situação não se altera<br />
de um momento para outro, há uma obrigação tanto<br />
maior da família em remediar, dan<strong>do</strong> interioridade ao<br />
exteriorismo <strong>do</strong>minante. É só pelo interior que o homem<br />
é homem. Não adiantam as proibições e as leis. O controle<br />
real é o que vem de dentro. E dentro é o reino da<br />
mente. É esta mente que deve ser outra vez cultivada.<br />
No prefácio, o Pe.<br />
Francisco Leme Lopes,<br />
S.J., contemporâneo<br />
<strong>do</strong> Pe. Sabóia, em<br />
breves palavras esboça<br />
um retrato bem fiel <strong>do</strong><br />
autor, aqui<br />
reproduzi<strong>do</strong>:<br />
Quisera acabar com uma comparação. Visitan<strong>do</strong><br />
prédios modernos, um de nossos monges se admirava<br />
de não ver fios de eletricidade ao longo das paredes, e<br />
lhe foi explica<strong>do</strong> que tu<strong>do</strong> agora era embuti<strong>do</strong> enquanto<br />
se construiam as casas. E o velho monge levantan<strong>do</strong><br />
o de<strong>do</strong> descarna<strong>do</strong> põe-se a rir e pondera que assim<br />
deverá ser a educação das crianças, assentan<strong>do</strong> que<br />
nos seus antigos tempos os pais incutiam princípios e<br />
sentimentos aos infantes desde o berço, embora nas<br />
casas pespegassem os fios fora das paredes; hoje os<br />
homens adiantaram-se na técnica, mas pretendem na<br />
educação emplastar os filhos com belas idéias “depois”<br />
que estes já cresceram como pequenos selvagens...<br />
O trabalha<strong>do</strong>r incansável esgotou ce<strong>do</strong> suas<br />
forças. Não se poupava para a realização de seus<br />
ideais. Quod deest me torquet era o lema que<br />
figurava em sua mesa de trabalho. Morreu aos 50<br />
anos. Mas sua figura, emoldurada por uma canície<br />
precoce, tinha algo de uma sombra humana, quase<br />
espiritualizada, com um olhar que parecia ir além<br />
<strong>do</strong> corpóreo, fixan<strong>do</strong> o Infinito. Por outro la<strong>do</strong> era<br />
sempre rui<strong>do</strong>so, jovial, alegre, transbordante de<br />
simpatia.<br />
Sua atividade social não permitiu deixasse em<br />
uma obra escrita de maior vulto toda a medida de<br />
seu talento. Seu nome era <strong>do</strong>s mais populares em<br />
São Paulo. Não hesitava em pedir a to<strong>do</strong>s o seu<br />
continho (depois o bicontinho) para levar adiante<br />
os seus empreendimentos. Originalíssimo em seu<br />
mo<strong>do</strong> de escrever como de agir, espontâneo,<br />
avesso a tu<strong>do</strong> o que era artificial, é mais na<br />
irradiação de sua pujante personalidade que ficará<br />
sua imagem entre os que com ele trataram. De sua<br />
erudição e talento (era mais um intuitivo que um<br />
lógico) falam um pouco os trabalhos que deixou,<br />
especialmente em revistas culturais, de mo<strong>do</strong><br />
particular em Serviço Social. Escreven<strong>do</strong> sobre<br />
Blondel, dizia estas palavras que parecem autobio-<br />
FREI NlCOSTRATO da Ordem da Redenção <strong>do</strong>s Cativos<br />
FÉ / CULTURA AOS /<br />
HOMENS CIÊNCIA DO<br />
MEU TEMPO<br />
gráficas: “Não há dúvida de que o seu estilo não é<br />
fácil por ser virilmente denso, o seu mo<strong>do</strong> de<br />
expressão é sinuoso e à primeira vista parece que<br />
está sempre no mesmo lugar e o mo<strong>do</strong> de<br />
exposição impõe ao leitor uma certa paciência, pois<br />
as coisas não aparecem contornadas e definitivas”.<br />
E mais adiante: “M. Blondel nunca terá muitos<br />
leitores diretos. É um autor austero. No entanto, que<br />
recompensa espera a quem se dá ao trabalho de<br />
superar as primeiras impressões! Por outro la<strong>do</strong>, ele<br />
não pôde acabar toda a sua obra. Na última carta<br />
que me escreveu em fevereiro deste ano (1949)<br />
ainda me dizia que faltava o principal e narra-me,<br />
em carta também, uma das pessoas mais chegadas<br />
à sua família que duas horas antes <strong>do</strong> último<br />
colapso ele ainda ditava... Depois rezou! Rezou uma<br />
hora e quan<strong>do</strong> ele, abrin<strong>do</strong> os olhos cegos, ouviu<br />
desse familiar “Mon Dieu, je vous <strong>do</strong>nne ma vie”,<br />
fez “o ato supremo de morrer” de que escreveu tão<br />
esplendidamente no 2.˚ volume de Pensée, e assim<br />
se foi num grande silêncio”.<br />
O discípulo seguiu o Mestre.<br />
P. Francisco Leme Lopes, S. J.<br />
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