gênero, idade média e interdisciplinaridade ST ... - Fazendo Gênero
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Ao aderir à vida religiosa Clara de Assis não tinha a pretensão de ser mais uma religiosa<br />
em mais um grupo religioso, ela almejava viver segundo os ideais de Francisco de Assis e em<br />
virgindade. Como a virgindade foi vista, por Clara, nesse contexto?<br />
Nas quatro cartas que ela escreveu para a princesa da Boêmia, Inês de Praga, um dos<br />
pontos de destaque é o tema virgindade. O semantema virg. aparece 15 (quinze) vezes nas quatro<br />
missivas, estando associado ao casamento com Cristo e a Inês de Praga: “O Senhor Jesus Cristo,<br />
que guardará vossa virgindade sempre imaculada e intacta” (1CtIn 7) (grifo meu); “Amando-o, sois<br />
casta; tocando-o tornar-vos-eis mais limpa; acolhendo-o, sois virgem..” (1CtIn 8); refere-se também<br />
a Virgem Maria: “Falo do Filho do Altíssimo, que a Virgem deu à luz permanecendo virgem depois<br />
do parto.”(3CtIn 17); e, também, a outras mulheres que aderiram à vida religiosa.: “Minhas filhas<br />
também, de modo especial a virgem prudentíssima Inês, minha irmã ( Catarina, irmã consangüínea<br />
de Clara, teve seu nome mudado por Francisco quando tornou-se Damianita, passando a chamar-se<br />
Inês) (...)”(4CtIn 38) (grifo meu). Ele também mantém ligação com a pobreza: “Abrace o Cristo<br />
pobre como uma virgem pobre.” (2CtIn 18) (grifo meu).<br />
Nas cartas dedicadas a Inês de Praga, percebemos, em uma primeira análise, que Clara<br />
incorpora o discurso dos Pais da Igreja sobre virgindade, que era respeitado e aceito pela sociedade.<br />
Permanecendo virgem a mulher alcançaria a ascese, casando-se com Cristo ela seria mãe, esposa,<br />
irmã, mantendo-se íntegra. Em uma análise mais contextualizada, detectamos que Clara, ao assumir<br />
o discurso da Igreja no tocante à virgindade, ela o fez com o intuito de se tornar sujeito de um outro<br />
discurso que realmente lhe importava. Ela desejava para si e suas irmãs um viver religioso segundo<br />
os moldes franciscanos e desligar-se da dominação masculina. O viver religioso significava também<br />
vias de acesso ao controle do corpo pela mulher, permitindo que ela se dedica-se aos estudos e aos<br />
trabalhos intelectuais. Cabe ressaltar que a relação com a linguagem não é jamais inocente. Nenhum<br />
discurso é ingênuo.<br />
A nova forma de vida de Clara de Assis aparece em um trecho de sua primeira carta:<br />
“Porque, embora pudésseis gozar, mais do que outros, das pompas e honras deste mundo,<br />
desposando legitimamente o ilustre imperador (...) rejeitastes tudo isso (...)”(1CtIn 5-7). Depois, é<br />
ratificado na segunda carta: “Abrace o Cristo pobre como uma virgem pobre.” (2CtIn 18).<br />
Ao ligar virgindade à pobreza, Clara e suas irmãs se opuseram a qualquer relação terrena,<br />
pois esta estava ligada à riqueza e era um vínculo para a estabil<strong>idade</strong> das famílias, o casamento da<br />
mulher nobre representava a manutenção desse vínculo em que ela ficaria submetida ao poder do<br />
marido, assumindo o papel secundário de somente procriar. Através da virgindade a mulher poderia<br />
almejar viver em pobreza, uma vez que a pureza interior e a entrega a Deus eram características<br />
associadas à virgindade por Clara