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meninos e meninas de rua, sexu - Fazendo Gênero

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Interessante perceber que o “espaço da liberda<strong>de</strong>”, a <strong>rua</strong>, para a maioria das<br />

<strong>meninas</strong> entrevistadas, não é visto como <strong>de</strong> total liberda<strong>de</strong>, mas como lugar <strong>de</strong> regras<br />

menos intoleráveis. .A partir daí, penso que a posição do sujeito na hierarquia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res<br />

influencia sua percepção simbólica. Estarem submetidas a mais regras e <strong>de</strong>limitações<br />

i<strong>de</strong>ntitárias faz as <strong>meninas</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong> do Gramado admitirem mais facilmente a existência <strong>de</strong><br />

normas reguladoras e tolhedoras da pretensa liberda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> esta condicionada à<br />

esperteza para burlar regras, e à valentia para enfrentar as possíveis sanções.<br />

Muito vinculadas à noção <strong>de</strong> esperteza estão as construções e valores sobre<br />

<strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> entre os/as integrantes da Galera, <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> esta crucial para enten<strong>de</strong>r<br />

como os <strong>meninos</strong> e <strong>meninas</strong> da Galera buscam circular entre o ser criança e o ser adulto.<br />

Infância e <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> são categorias que raramente se misturam: crianças são seres que<br />

não praticam nem <strong>de</strong>vem praticar sexo. Talvez isto se <strong>de</strong>va à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reprodução, ou ao <strong>de</strong>sligamento do sexo à manutenção da família. O fato é que a relação<br />

<strong>sexu</strong>al é uma prática <strong>de</strong> adultos, ou, no mínimo, <strong>de</strong> adolescentes.<br />

Quase todos os integrantes da Galera se referem a sua vida <strong>sexu</strong>al em algum<br />

momento <strong>de</strong> suas falas, tanto <strong>meninas</strong> quanto <strong>meninos</strong>. Afirmaram, com certo orgulho,<br />

“treparem” sempre, e bem. Interpreto estas afirmações como necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se afirmarem<br />

diferentes <strong>de</strong> outras crianças: são diferentes porque trepam, porque são mais adultos,<br />

porque sabem <strong>de</strong> coisas que outras não sabem. Esta transgressão da norma que separa<br />

sexo e infância não é muito patente entre os mais velhos (que têm acima <strong>de</strong> 13 anos), já<br />

que a iniciação <strong>sexu</strong>al <strong>de</strong> boa parte da população masculina das classes populares é<br />

esperada para esta época da vida. Estou, aqui, analisando especialmente os <strong>meninos</strong> e<br />

<strong>meninas</strong> que têm entre 6 e 13 anos, e afirmam gozarem <strong>de</strong> vida <strong>sexu</strong>al intensa. Muito<br />

mais do que investigar se realmente estes sujeitos fazem sexo, minha proposta é enten<strong>de</strong>r<br />

como as construções i<strong>de</strong>ntitárias se fazem em torno da participação em um mundo <strong>de</strong><br />

<strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> ativa. Como afirma Salem, 2004, “Ao discorrerem sobre sexo, <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> e<br />

gênero, os sujeitos oferecem uma apresentação <strong>de</strong> si mesmos:como se percebem e<br />

também como querem (ou acham que <strong>de</strong>vem) ser vistos aos olhos dos 'outros'” v<br />

Heilborn [1999] aponta a importância da iniciação <strong>sexu</strong>al masculina nas classes<br />

pobres, que normalmente se dá aos 12 ou 13 anos, como <strong>de</strong>marcadora <strong>de</strong> um movimento<br />

<strong>de</strong> exteriorização em relação à casa, e que se conjuga com a entrada mais regular no<br />

mundo do trabalho. A <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> se conjuga a outras esferas sociais para sinalizar a

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