meninos e meninas de rua, sexu - Fazendo Gênero
meninos e meninas de rua, sexu - Fazendo Gênero
meninos e meninas de rua, sexu - Fazendo Gênero
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
esponsabilida<strong>de</strong>s parentais. Também para os <strong>meninos</strong>, “ter filho é assim respon<strong>de</strong>r por<br />
alguém sabe, ser assim honrado <strong>de</strong> botar comida pro filho comer, <strong>de</strong> guiar a pessoa” ix .<br />
Mesmo assim, a responsabilida<strong>de</strong> pela concretização da gravi<strong>de</strong>z, nas falas da Galera, é<br />
das mulheres: elas que não foram pru<strong>de</strong>ntes, os <strong>meninos</strong> apenas colocaram mais uma vez<br />
em prática sua <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> não plenamente controlável x . E é exatamente por isto que a<br />
esperteza das <strong>meninas</strong> que querem engravidar triunfa.<br />
Dentro <strong>de</strong>sta discussão sobre <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> e maternida<strong>de</strong>/paternida<strong>de</strong>, colocou-se a<br />
questão das campanhas públicas para o uso da camisinha xi . A camisinha aparece sempre<br />
como meio <strong>de</strong> evitar doenças, mais do que como método contraceptivo.Parece ser<br />
importante usar camisinha quando se faz sexo com alguém que não seja sua namorada,<br />
para não “pegar pereba”, não “ficar sujo”. A camisinha parece ser pensada como um<br />
barreira para a poluição: é possível penetrar o impuro e nem por isto abrir mão da pureza.<br />
Interessante notar que o uso ou não da camisinha parece ser uma prerrogativa masculina,<br />
ao contrário dos outros métodos anti-concepcionais. Mas, ao meu ver, a camisinha ,<br />
<strong>de</strong>ntro da Galera, é muito mais um modo <strong>de</strong> os homens não pegarem doenças do um<br />
método contraceptivo. Talvez por isto mesmo seja uma prerrogativa masculina: as<br />
mulheres <strong>de</strong>vem cuidar <strong>de</strong> sua reputação e <strong>de</strong> seus corpos, não trepando com quem não<br />
seja seu namorado e garantindo assim sua pureza.<br />
A <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> (assim como a violência) parece <strong>de</strong>sempenhar um papel crucial na<br />
construção das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes <strong>meninos</strong> e <strong>meninas</strong>, aparecendo como um dos<br />
possibilitadores da movimentação entre o ser criança e o ser adulto no universo das <strong>rua</strong>s.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste universo, marcado pela circulação entre lugares físicos e sociais, que se<br />
produzem e reproduzem valores permeados por constuções <strong>de</strong> gênero que, ao mesmo<br />
tempo em que cristalizam concepções <strong>de</strong> vários mundos morais, colocam novas<br />
questões. O <strong>de</strong>safio é não reduzir estes <strong>meninos</strong> e <strong>meninas</strong> à <strong>sexu</strong>alida<strong>de</strong> e à violência,<br />
tentando dar conta da pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valores, vivências e representações acerca <strong>de</strong>stas e<br />
<strong>de</strong> outras questões. Mais do que isto, o <strong>de</strong>safio é perceber que os <strong>meninos</strong> e as <strong>meninas</strong><br />
da Galera não são “menores”. Pensam-se e repensam-se constantemente, construindo<br />
suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adultos baseadas em valores como a liberda<strong>de</strong>, a esperteza e a<br />
valentia.<br />
Referências Bibliográficas