1 Gênero: multiplicidade de representações e ... - Fazendo Gênero
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Anais do VII Seminário <strong>Fazendo</strong> <strong>Gênero</strong><br />
28, 29 e 30 <strong>de</strong> 2006<br />
sua autorida<strong>de</strong> e até autoritarismo sobre os outros. Talvez o esposo <strong>de</strong> Nilda e ela mesma pensem<br />
assim, mas, caso concor<strong>de</strong>mos com tal idéia, concluiremos que, por toda a sua vida, ela ficará<br />
subjugada a esse homem e nada fará para mudar. Esses posicionamentos estão comprometidos com<br />
discursos totalizadores, heterossexistas e androcêntricos, que concebem mulheres como portadoras<br />
<strong>de</strong> uma essência que as <strong>de</strong>stina à assunção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> marcada pela fragilida<strong>de</strong>, submissão,<br />
obediência e incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões sobre a sua própria vida.<br />
No seguinte relato <strong>de</strong> Concita, po<strong>de</strong>mos observar um posicionamento que concorre para<br />
alterar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero antes assumida:<br />
[…] do jeito que eu estou aqui, apanhava do jeito que eu estava aqui, sentadinha, que<br />
naquela época a mulher tinha medo do homem. Agora, que não existe mais isso, as<br />
mulheres querem ser mais que os homens e estão trabalhando pra isto, não é? […].<br />
Estudando, se formando, se casa, ninguém é <strong>de</strong> ninguém: você vive a sua vida; eu vivo a<br />
minha, né? […]. Aí, por diante, é a mulher subindo e a mulher subindo e a mulher subindo.<br />
E os homens lá embaixo. […]. (Concita).<br />
A idéia <strong>de</strong> que o homem po<strong>de</strong> bater na mulher parece ser compartilhada por algumas<br />
vítimas. Com o enunciado “[…] naquela época a mulher tinha medo do homem”, Concita justifica a<br />
situação vivenciada por ela na época do seu casamento, condição <strong>de</strong> quem apanha “sentadinha”,<br />
sem reagir. Nilda afirma calar-se, porque “apanhava <strong>de</strong> qualquer maneira”, <strong>de</strong>sautorizando uma<br />
possível reação – “ficava calada mesmo”. Para alguns, isso po<strong>de</strong> ser exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; para outros,<br />
apenas prática <strong>de</strong> violência. Essa noção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r está associada à repressão, como se os efeitos <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r fossem somente negativos. De fato, ela é encontrada em muitos estudos preocupados com<br />
relações entre sexos, com condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> mulheres e com questões <strong>de</strong> gênero. Todavia, não é<br />
assim que a enxergamos e queremos enxergá-la. Resistimos a esses discursos, embora sejamos<br />
conscientes da violência, da <strong>de</strong>pendência financeira, da <strong>de</strong>pendência psicológica <strong>de</strong> que muitas são<br />
vítimas, geralmente em relação a homens presentes em suas vidas.<br />
É numa perspectiva foucaultiana que tomamos o po<strong>de</strong>r, que não possui essência repressiva,<br />
que é algo em exercício e que se encontra ao alcance <strong>de</strong> todos. Para Foucault (1979; 1995), po<strong>de</strong>r<br />
correspon<strong>de</strong> à relação <strong>de</strong> forças: forças que se confrontam com outras forças, po<strong>de</strong>res que interagem<br />
com outros po<strong>de</strong>res, revelando-se nas lutas quotidianas, microfisicamente nas várias instâncias da<br />
vida humana, além <strong>de</strong> encontrar-se ao alcance <strong>de</strong> todos os envolvidos, <strong>de</strong> todos os interlocutores, –<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sexo, gênero, classe, etnia, raça, sexualida<strong>de</strong>, ida<strong>de</strong> –, sem que um se anule face à<br />
força exercida pelo outro. São forças que estão em relação a outras forças, que se <strong>de</strong>senvolvem e se<br />
expõem no corpo e através do próprio corpo humano, construindo regimes <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong>le<br />
e regulando as suas ações, através do estímulo, da incitação etc. – o que <strong>de</strong>scarta a idéia <strong>de</strong> que o<br />
po<strong>de</strong>r é, exclusivamente, repressor. Concebê-lo a partir da repressão é tê-lo sob uma perspectiva<br />
jurídica, como uma lei que diz não, como o ato realizado por alguém que tinha como propósito<br />
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