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1 Gênero: multiplicidade de representações e ... - Fazendo Gênero

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Anais do VII Seminário <strong>Fazendo</strong> <strong>Gênero</strong><br />

28, 29 e 30 <strong>de</strong> 2006<br />

Em seus estudos, Foucault (1995, p.232) apreen<strong>de</strong> como ponto <strong>de</strong> partida as estratégias <strong>de</strong><br />

resistência acionadas contra os efeitos do exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e, assim, pensa os modos <strong>de</strong><br />

objetivação dos sujeitos: “Era, portanto, necessário esten<strong>de</strong>r as dimensões <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r se quiséssemos usá-la ao estudar a objetivação do sujeito”. É nessa dilatação das dimensões<br />

do po<strong>de</strong>r que Foucault fornece subsídios teóricos e metodológicos para um redimensionamento <strong>de</strong><br />

estudos sobre mulheres e gênero, a ponto <strong>de</strong> investirem na <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> significados imputados<br />

a partir <strong>de</strong> uma marca corporal, <strong>de</strong> um signo, do sexo biológico. Tomando po<strong>de</strong>r como força<br />

exercida em relação a outras forças, ele oportuniza a visibilida<strong>de</strong> das mulheres não mais enquanto<br />

sujeitos inertes às atitu<strong>de</strong>s dos homens. Muitas foram as tentativas <strong>de</strong> alterar essa visão que recaía<br />

sobre as mulheres. Temos como exemplo a crítica feminista à prática <strong>de</strong> historiadores e outros<br />

cientistas – investida que contribuiu para uma <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> significados sociais atribuídos a<br />

mulheres e homens, concorrendo para a reelaboração <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> papéis e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero<br />

e <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong>, que nos são apresentados como se fossem portadores <strong>de</strong> uma lógica inexorável e<br />

como se fossem situados fora dos domínios da cultura e do po<strong>de</strong>r.<br />

Nesse sentido, Foucault traz subsídios à crítica feminista através <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

tem como elemento central a resistência, que expõe o corpo como alvo e veículo do biopo<strong>de</strong>r, que<br />

se apresenta como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças em exercício no quotidiano. As suas contribuições concorrem<br />

para <strong>de</strong>sconstruir os regimes <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> elaborados em torno <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados objetos presentes nas<br />

várias instâncias da vida quotidiana, persuadindo-nos a perceber que “Não há objetos naturais, não<br />

há sexo fundado na natureza” (PERROT, 2005, p.501). Também não há gênero instituído na<br />

natureza. Inspirados em Foucault (1995; DELEUZE, 2005), po<strong>de</strong>mos afirmar que eles são efeitos<br />

<strong>de</strong> práticas discursivas e <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Quanto aos aspectos positivos e negativos dos efeitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, é importante lembrarmos<br />

que, no âmbito dos estudos <strong>de</strong> gênero, muitos trabalhos abordam a violência contra as mulheres.<br />

Contudo, embora não esquecendo a existência da repressão, não po<strong>de</strong>mos confundir po<strong>de</strong>r com<br />

violência, apesar <strong>de</strong> essa po<strong>de</strong>r resultar daquele. A diferença entre eles é que a atitu<strong>de</strong> violenta tem<br />

como alvo corpos, objetos, pessoas, seres diversos, <strong>de</strong>struindo, <strong>de</strong>formando, alterando a sua<br />

morfologia, enquanto que o po<strong>de</strong>r almeja atingir ações, forças, induzindo, estimulando, motivando,<br />

limitando etc. Segundo Foucault (1995), as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r funcionam através do consentimento,<br />

que, por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos discursos e das práticas discursivas que constituem essas relações,<br />

das instituições para o controle e a repressão <strong>de</strong> discursos, gestos, comportamentos humanos, já que<br />

o po<strong>de</strong>r se materializa através do controle exercido sobre as ações dos indivíduos, sobre os seus<br />

corpos. Foucault (1979) afirmou a materialização corporal do po<strong>de</strong>r, o que não implica que, para ser<br />

exercido, tenha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar marcas no corpo do outro. Nilda e Concita tiveram os seus corpos<br />

marcados por atitu<strong>de</strong>s violentas. No entanto, elas não ficaram sem reagir. Elas reagiram, resistiram,<br />

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