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representações visuais das mulheres nos ... - Fazendo Gênero

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chamativas eram para <strong>mulheres</strong> provocantes, participantes de bacanais e outras mascara<strong>das</strong> (Ibid.<br />

II, 10, 108, 1). Os gastos com vestuário feriam o pudor feminino e afetavam a economia familiar<br />

(Ibid. 10, 111, 1), além de provar que estas <strong>mulheres</strong> valiam me<strong>nos</strong> que as coisas raras e caras que<br />

compravam, pois não reconheciam o que era realmente belo e bom (Ibid. II, 10, 115, 4-5).<br />

Jerônimo considerou que certas <strong>mulheres</strong> eram “escravas do mundo” por portarem pesados vestidos<br />

de seda mesmo com o calor e o incômodo (Ep. 66, 13). Quando converti<strong>das</strong> ao cristianismo, deviam<br />

se vestir com tecidos humildes (Ep. 107) e usar roupas simples somente para proteger seu corpo <strong>das</strong><br />

intempéries e da nudez, nunca para exibições impudicas (Ep. 127). Aconselhava que as “jóias” de<br />

uma mulher deviam ser “o jejum, o rosto pálido e os vestidos descuidados” (Ep. 79).<br />

Segundo Marrou (1979: 17-23), houve uma verdadeira “revolução do vestuário” durante a<br />

Antigüidade Tardia. No período clássico, utilizava-se uma grande peça de tecido flexível, presa por<br />

um colchete ou fíbula e sem mangas. Porém, no decorrer da Antigüidade Tardia, a veste principal<br />

por dentro da toga, a túnica, passou a ter costuras continua<strong>das</strong> e a ser solidamente fixada ao corpo,<br />

constituindo-se muito me<strong>nos</strong> ampla que a antiga roupa. Tais mudanças não se limitaram à ordem<br />

plástica, mas ecoaram profundamente na atitude psicológica e até moral. Impôs-se uma outra<br />

definição do pudor, acompanhada de uma sublimação do erotismo.<br />

No mosaico, a senhora, além <strong>das</strong> jóias e do vestuário, também se destaca pelo penteado em coque,<br />

enfeitado por uma tiara. As outras <strong>mulheres</strong> do mosaico têm os cabelos presos numa touca, própria<br />

para o trabalho, o que Fantar (1994: 107) relaciona automaticamente à condição servil, enquanto o<br />

coque evoca sedução e ócio, situação própria da senhora.<br />

O cabelo foi considerado negativamente <strong>nos</strong> discursos cristãos. Tertuliano (O toucador <strong>das</strong><br />

<strong>mulheres</strong> II, 1) e Clemente de Alexandria (Pedagogo III, 2, 5, 1-4 e 6, 1-2) colocaram as tinturas, os<br />

penteados e os cuidados com a pele no mesmo nível da prostituição, oposta a castidade e pudicícia,<br />

próprias da moral cristã. Entretanto, o tingimento capilar não era apenas feminino (Clemente de<br />

Alexandria. Pedagogo III, 2). Havia também o frisado e as perucas (Jerônimo. Ep. 38, 3 e Clemente<br />

de Alexandria. Pedagogo II, 11). Mesmo quando as pagãs cobriam seus cabelos com véu, sendo<br />

este púrpura, atraíam os olhares de todos, o que não era conveniente a uma mulher decente<br />

(Clemente de Alexandria. Pedagogo II, 10, 114, 4). Estas deviam: abster-se de toda ostentação;<br />

cobrir a cabeça com véu para não mostrar os cabelos; manter o rosto velado, seguindo o prescrito<br />

em 1 Cor. 11, 7-10 (Ibid. II, 10, 114, 3); e escovar apenas os cabelos e prendê-los com uma presilha<br />

simples. O desprezo da beleza natural era considerado como uma ofensa ao Criador, descuidando-se<br />

por inteiro da beleza do coração e afetando a economia doméstica com a compra de cosméticos<br />

(Ibid. III, 6, 3-4). Recomendava-se, portanto, que as <strong>mulheres</strong> se afastassem destes artifícios se<br />

quisessem obter a salvação (Ibid. 2, 9, 1). Para Agostinho, o cabelo tornou-se signo do pecado

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