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representações visuais das mulheres nos ... - Fazendo Gênero

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(Serm. 4, 14), um supérfluo (Serm. 62, 14), principalmente nas <strong>mulheres</strong> (Serm. 99, 13). Assim,<br />

cortar o cabelo foi visto como penitência (Serm. 112, 5).<br />

No mosaico, aparece ainda um outro atributo venusiano: o espelho, símbolo do próprio gênero<br />

feminino (♀), enquanto o masculino (♂) refere-se ao arco de Apolo. Frontisi-Ducroux e Vernant<br />

(1997: 9) consideram que, na Grécia Antiga, o espelho servia como um operador simbólico para<br />

pensar a relação entre os dois gêneros. Este objeto faz parte do universo e do espaço femini<strong>nos</strong>; se o<br />

espelho é portado pelo homem, o efeminiza (Ibid.: 56 e 59). Enquanto “o espelho masculino é o<br />

olho de um outro homem, seu semelhante e igual, em que cada um procura e encontra sua<br />

imagem” (Ibid.: 65), o espelho feminino é um objeto auto-reflexivo, egoisticamente apresentando a<br />

imagem da própria mulher, tal como no mosaico. Entre o espelho e a sua proprietária, a relação é<br />

permanente, permitindo uma constante contemplação (Ibid.: 55 e 59). O espelho tornou-se uma<br />

sinédoque da mulher, pois aparece como um prolongamento da mão feminina. Nos escritos, este<br />

objeto foi acentuado como produtor de falsos-semblantes, símbolo da vaidade e do orgulho,<br />

contrário ao recato e à discrição do modelo tradicional idealizado para as <strong>mulheres</strong>.<br />

A fertilidade feminina encontra-se presente no mosaico através <strong>das</strong> referências a Vênus/Afrodite,<br />

anteriormente explicita<strong>das</strong>. Na África do Norte, Vênus exerceu uma significativa fascinação tanto<br />

na elite quanto na população. Esta deusa estava intimamente relacionada à geração, ao despertar<br />

para vida e ao crescimento de plantas, constituindo-se numa divindade da fecundidade em to<strong>das</strong> as<br />

suas formas. Por isso, Vênus era popular entre os norte-africa<strong>nos</strong>, que a associaram a Astarté, a<br />

grande divindade da fertilidade e fecundidade, a quem adoravam no período cartaginês. Portanto,<br />

Vênus/Afrodite também estava associada aos ideais de fertilidade próprios da esposa e mãe.<br />

Conclusão<br />

Numa perspectiva intertexual entre o discurso imagético e os escritos, evidencia-se uma contradição<br />

sobre os ador<strong>nos</strong> femini<strong>nos</strong> (jóias, vestido, cabelo e espelho). Enquanto os escritos criticam<br />

qualquer tipo de artifício feminino, no mosaico analisado houve uma valorização.<br />

Tradicionalmente, o paradigma de comportamento recomendado às <strong>mulheres</strong> no mundo clássico – e<br />

apropriado em parte pelo cristianismo – pautou-se em diretrizes que privilegiavam sua atuação na<br />

esfera doméstica através da procriação, educação da prole e cuidados com a casa e, ao homem cabia<br />

o exercício político e militar na esfera pública. Tal idealização <strong>das</strong> <strong>mulheres</strong>, reproduzida<br />

principalmente pelos escritos, encontrou-se apenas parcialmente no discurso imagético do mosaico,<br />

questionando assim se este padrão desejado era praticado em sua íntegra. A iteração da crítica aos<br />

ador<strong>nos</strong> femini<strong>nos</strong> <strong>nos</strong> escritos pode ser indício da resistência <strong>das</strong> <strong>mulheres</strong> ao modelo tradicional.<br />

No mosaico, se, por um lado, têm-se categorias que inferem e reforçam positivamente o ideal de<br />

fecundidade e domesticidade associado comumente às <strong>mulheres</strong>, por outro, há categorias que<br />

valorizam o aspecto mundano da beleza e da sedução <strong>das</strong> <strong>mulheres</strong>, principalmente daquela

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