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A construção do ideal de masculinidade na ... - Fazendo Gênero

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negativamente o segun<strong>do</strong>, foram acresci<strong>do</strong>s qualida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos, vícios e virtu<strong>de</strong>s, condutas fastas e<br />

nefastas, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como específicos <strong>de</strong> um ou outro sexo. Tal visão dicotômica e hierarquizada que<br />

fundamentará não ape<strong>na</strong>s as relações sociais entre os sexos no medievo, mas também a elaboração <strong>de</strong><br />

representações específicas, é corroborada pelo pensamento tomista que vincula o homem à unida<strong>de</strong>, ao<br />

universal e à estabilida<strong>de</strong>; e a mulher à diferença, ao particular e à instabilida<strong>de</strong>.<br />

Nesse universo, é possível constatar uma significativa vinculação <strong>do</strong> <strong>i<strong>de</strong>al</strong> <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> à<br />

observância <strong>de</strong> uma conduta sexual a<strong>de</strong>quada aos homens. “A relação car<strong>na</strong>l é um ritual <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

está no centro da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> masculi<strong>na</strong>. [...] Nesta perspectiva machista, a normalida<strong>de</strong> da relação<br />

confun<strong>de</strong>-se com uma penetração que, para ser ple<strong>na</strong>mente viril, termi<strong>na</strong> por uma ejaculação ‘<strong>na</strong>tural’”.<br />

(ROSSIAUD, 2006, p. 488, grifo <strong>do</strong> autor).<br />

Para Jeffrey Richards (1993, p. 37 e 49), havia uma teoria <strong>do</strong> amor erótico basea<strong>do</strong> no prazer<br />

sexual que se circunscrevia fora <strong>do</strong> casamento e <strong>de</strong>ixava implícito que tanto os homens casa<strong>do</strong>s, quanto<br />

os solteiros, eram sexualmente ativos. Esse autor é categórico ao afirmar que havia claramente uma<br />

tolerância social generalizada quanto à ativida<strong>de</strong> sexual pré-marital e extraconjugal masculi<strong>na</strong> no<br />

mun<strong>do</strong> medieval, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da postura a<strong>do</strong>tada pela Igreja.<br />

O próprio Amor Cortês argumenta Duby (1989, p. 61), punha no ápice <strong>do</strong>s valores viris a<br />

veemência sexual e, para que se excitasse o prazer <strong>do</strong> homem, ele o convidava a discipli<strong>na</strong>r seu <strong>de</strong>sejo.<br />

Na realida<strong>de</strong>, o fino amor era um jogo <strong>de</strong> homens, no qual os prolongamentos da tentação e <strong>do</strong> perigo<br />

gera<strong>do</strong>s pelas relações cortesãs e pela <strong>i<strong>de</strong>al</strong>ização da mulher por seu amante, apresentavam como<br />

fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> maior o <strong>do</strong>mínio e o controle <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo masculino.<br />

A partir <strong>de</strong>sse caráter eminentemente pedagógico, o Amor Cortês ao estabelecer uma hierarquia<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre os sexos, orienta as relações sociais entre homens e mulheres. É evi<strong>de</strong>nte que a lógica<br />

<strong>de</strong>sse jogo entre homens comprova que o po<strong>de</strong>r e a <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção estão intrinsecamente vincula<strong>do</strong>s ao<br />

masculino. Portanto é por intermédio <strong>de</strong>sses mecanismos que se institui um processo <strong>de</strong> socialização<br />

<strong>do</strong>s indivíduos, on<strong>de</strong> tais sujeitos apren<strong>de</strong>m seus papéis.<br />

Entretanto, ameaçan<strong>do</strong> esse eu (viril e heterossexual), havia o outro, ou seja, os homossexuais. 3<br />

Ao se distanciarem <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> papéis a serem segui<strong>do</strong>s, isto é, <strong>do</strong> cavaleiro, <strong>do</strong> homem virtuoso e<br />

indiscutivelmente heterossexual, aqueles que cometiam peca<strong>do</strong>s contra a <strong>na</strong>tureza (so<strong>do</strong>mia<br />

masculi<strong>na</strong>), <strong>de</strong>veriam ser extirpa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> convívio social. 4 Essa perigosa minoria representava uma<br />

potente ameaça <strong>de</strong> contágio moral e físico ao restante a população, a esse eu <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como saudável<br />

justamente por ser heterossexual.<br />

A Igreja, que conforme Jardim (2006), “teve uma conduta sistemática <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> corpo<br />

sexua<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fiéis [homens e mulheres, clérigos e leigos], propon<strong>do</strong> e impon<strong>do</strong> uma série <strong>de</strong> normas <strong>de</strong><br />

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