ST 13. Beatriz Polido - Fazendo Gênero
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No conto O decote a figura da esposa é independente e erotizada, contrastando com o papel<br />
materno que ela deveria exercer. Assim como em O decote, em A humilhada a questão da<br />
maternidade relacionada com a contenção sexual feminina é um aspecto central no desenrolar da<br />
trama: “_Eu sei que meu marido não presta, não vale nada, mas... É minha filha. Deus me livre que,<br />
um dia, minha filha me acuse...” (H). No conto Pecadora o papel da maternidade é igualmente<br />
enfatizado: “Por que não me encontrei ainda contigo? Por causa do meu filho! No ‘duro’, ouviu?<br />
No ‘duro’! (...) A criança quase não falava. Mas tiranizava a mãe com o simples olhar. Guiomar<br />
temia mais o olhar do filho que o próprio Juízo Final” (P).<br />
O não arrependimento de Guiomar (P) por ter traído seu marido seguido da ingestão<br />
praticamente voluntária de veneno perante o olhar o filho, é uma afirmação de que a personagem<br />
admitiu uma culpa gravíssima pelo pecado cometido. Quando ela tomou o veneno, dizendo ao filho<br />
que não se arrependia, ela mesma estava se punindo porque deveria estar arrependida, mas não<br />
estava. O confronto com o filho a faz admitir a culpa pelo seu mau comportamento. As mortes das<br />
protagonistas dos contos Pecadora e O Decote significavam a punição pelo não cumprimento do<br />
papel materno e pela busca do prazer pessoal.<br />
Por outro lado, nos contos onde não há mortes, há uma tendência para o humor e para a<br />
ironia. Conforme Carla Bassanezi, que estudou as piadas publicadas pelas revistas femininas nesse<br />
período, a piada, para ser entendida e tornar-se engraçada, freqüentemente baseia-se em idéias<br />
preconcebidas, conhecidas e convencionais. O que as torna engraçadas é o reforço (pela caricatura<br />
ou exagero) ou a reversão dessas idéias. Assim, o cômico pode atuar como forma de controle,<br />
aprovação ou desaprovação de determinadas atitudes ou situações. x<br />
Nos contos analisados de A vida como ela é... onde não há filhos e também não há mortes,<br />
os contos invertem os valores tradicionais de gênero e de casamento, tornando-se cômicos<br />
justamente por isso. Por exemplo, em Casal de três é quando Jupira começa a trair o marido que ela<br />
realiza-se no casamento, tornando-se a mais amável das esposas. A ironia dessa história é que o<br />
marido resolve viver em pleno convívio com a mulher e o amante, para sua própria felicidade<br />
conjugal. Da mesma forma, em Sem caráter o humor do conto se faz pelo papel ridículo a que se<br />
dispõe Geraldo, de aceitar a proposta de Jandira de casar-se com ele e ficar com o noivo como<br />
amante. A situação do casamento deles reforça a idéia cômica de dois homens praticamente<br />
casando-se com a mesma mulher: um no altar e o outro na platéia: “num terno azul-marinho, de<br />
cerimônia” (SC).<br />
Dessa forma, quando as histórias eram irônicas elas faziam graça com as situações que<br />
seriam consideradas ridículas, o que nos permite dizer que reiteravam os modelos sociais<br />
estabelecidos. As situações criadas tornavam-se engraçadas ou no mínimo atraentes para os leitores<br />
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