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Artigo - Rede de Estudos do Trabalho

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TRABALHAR OU ESTUDAR: TEM OUTRA POSSIBILIDADE?<br />

Autores: Sheila Batista e Souza 1 ,<br />

Coautoras: Aline Lima da Silva,<br />

Ana Claudia Guiral<strong>de</strong>lli,<br />

Edvânia Ângela <strong>de</strong> Souza Lourenço.<br />

Resumo<br />

O trabalho infantil é um problema da socieda<strong>de</strong> hodierna, porém seu processo histórico tem<br />

origem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos remotos. Contu<strong>do</strong>, é a partir da Revolução Industrial que a exploração<br />

<strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes ganha uma nova expressão, ou seja, a fragmentação das<br />

tarefas e o empobrecimento <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> confinaram meninos e meninas no ambiente<br />

fabril, rouban<strong>do</strong>-lhes um tempo precioso da sua vida. Para<strong>do</strong>xalmente, a socieda<strong>de</strong> questionou<br />

essa forma <strong>de</strong> exploração brutal crian<strong>do</strong> mecanismos para sua interrupção, no Brasil, um <strong>do</strong>s<br />

exemplos mais fecun<strong>do</strong>s é o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (ECA), <strong>de</strong> 1990, a partir<br />

<strong>de</strong>le, muitas ações têm si<strong>do</strong> realizadas em prol da proteção das pessoas em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

por exemplo, o Programa <strong>de</strong> Erradicação <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> Infantil (PETI). Cabe questionar: Como<br />

esses direitos têm chega<strong>do</strong> à população? Mas, a final o que é trabalho infantil? O que tem si<strong>do</strong><br />

feito para combater o trabalho infanto-juvenil? São questões que não têm uma única resposta,<br />

mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> envolvimento e mobilização da socieda<strong>de</strong>. Assim, o projeto “PETI-<br />

COMPETI” discute o trabalho infantil em Franca, por meio <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> extensão e <strong>de</strong><br />

pesquisa. Como meto<strong>do</strong>logia foi realizada Oficinas com as famílias atendidas pelo PETI e<br />

com a equipe responsável pela efetivação <strong>de</strong>ste Programa. Além disso, foi realizada uma<br />

pesquisa-amostragem em um bairro periférico (Jardim Aeroporto III) nos <strong>do</strong>micílios e na<br />

Escola Estadual Sérgio Leça, Ensino Fundamental, situada no mesmo bairro. O projeto<br />

encontra-se em andamento, e tem constata<strong>do</strong> a presença <strong>do</strong> trabalho infantil nas ativida<strong>de</strong>s<br />

informais, sobretu<strong>do</strong>, no processo <strong>de</strong> fabricação <strong>do</strong> calça<strong>do</strong> em <strong>do</strong>micilio, além <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

quanto à realida<strong>de</strong> vivida pelas famílias e a sua compreensão a respeito <strong>do</strong> trabalho infantil,<br />

valores socioculturais, econômicos e políticos presentes nesta problemática. Evi<strong>de</strong>ncia-se que<br />

o trabalho infantil e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente é utiliza<strong>do</strong> para complemento da renda comprometen<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e a educação. A criança que trabalha fica entre a realida<strong>de</strong> imediata da<br />

manutenção <strong>de</strong> itens básicos da vida e a educação, sen<strong>do</strong> que a educação acaba fican<strong>do</strong> para<br />

um futuro, muitas vezes, distante.<br />

Palavras-chave: trabalho infantil, educação, PETI<br />

O trabalho infantil no mun<strong>do</strong><br />

O uso <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes é um fenômeno bem antigo, segun<strong>do</strong> a<br />

evolução histórica há relatos que 2000 anos antes <strong>de</strong> Cristo já se fazia uso da mão <strong>de</strong> obra<br />

<strong>de</strong>sses pequenos na produção <strong>de</strong> riquezas. No entanto, <strong>do</strong>cumentos relatam que também é<br />

1 Graduan<strong>do</strong> em Serviço Social, 4º ano, pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Humanas e Sociais - UNESP-Franca/SP . É<br />

bolsista <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> extensão e pesquisa “PETI-COMPETI: uma analise <strong>do</strong> trabalho infantil em Franca”,<br />

(PROEX-UNESP). En<strong>de</strong>reço: Rua Av. Eufrázia Monteiro Petráglia, 900 - C. Postal 211 - DDD (016)706-8897<br />

CEP. l4.409-160-FRANCA-SP. Email: sheilapink@gmail.com.br (016) 9192-3418 / (016) 3724- 6724-6748


2<br />

antiga a discussão sobre proteção <strong>de</strong>sses pequenos, há registro que o primeiro <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong><br />

proteção ás crianças e a<strong>do</strong>lescente está <strong>de</strong>scrito no Código <strong>de</strong> Hamurabi 2 , importante<br />

<strong>do</strong>cumento da civilização mesopotâmia. Segun<strong>do</strong> esse <strong>do</strong>cumento em um <strong>de</strong> seus capítulos<br />

nos traz a seguinte referência,<br />

III - DIREITOS E DEVERES DOS OFICIAIS, DOS GREGÁRIOS E DOS<br />

VASSALOS EM GERAL, ORGANIZAÇÃO DO BENEFÍCIO [...] 29º - Se<br />

o filho é ainda criança e não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>le investi<strong>do</strong>, um terço <strong>do</strong> campo e <strong>do</strong><br />

horto <strong>de</strong>verá ser da<strong>do</strong> à progenitora e esta <strong>de</strong>verá sustentá-lo. (Hamurábi,<br />

p.6).<br />

No Código <strong>de</strong> Hamurábi, nota-se que a criança <strong>de</strong>verá ser sustentada e protegida por<br />

seus responsáveis.<br />

No antigo Egito, as crianças, filhas <strong>de</strong> escravos, eram obrigadas a trabalhar como se<br />

fossem pessoas adultas. Na Grécia e Roma, é sabi<strong>do</strong> que tanto os escravos como seus filhos<br />

trabalhavam para seus <strong>do</strong>nos. Na Ida<strong>de</strong> Média, as crianças filhas da elite eram <strong>de</strong>stinadas a<br />

uma educação, que eram pautadas em um aprendiza<strong>do</strong> muito vasto, enquanto, as filhas <strong>de</strong><br />

camponeses eram <strong>de</strong>stinadas há uma “educação” diferenciada <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, elas eram educadas<br />

a apren<strong>de</strong>r um ofício, assim eram <strong>de</strong>stinadas há casas <strong>de</strong> terceiros para que pu<strong>de</strong>ssem apren<strong>de</strong>r<br />

na “escola <strong>do</strong> trabalho”, cita<strong>do</strong> por Ariés (1986).<br />

A história nos relata que no século XVIII, na Grã-Bretanha os proprietários <strong>de</strong> moinho<br />

<strong>de</strong> algodão pegavam crianças órfãs e filhos <strong>de</strong> pobres com o pretexto <strong>de</strong> lhe oferecerem teto e<br />

alimento em troca <strong>de</strong> trabalhos, que sempre era <strong>de</strong> má qualida<strong>de</strong> e sem nenhum conforto.<br />

Acontecimentos que Shtepan (2002) em sua pesquisa relata o quanto essas crianças eram<br />

exploradas pelos <strong>de</strong>tentores <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. O que ainda é possível perceber nos dias atuais.<br />

Apesar <strong>de</strong>ste histórico progresso <strong>do</strong> trabalho infanto-juvenil foi no século XIX, com a<br />

revolução industrial, que esses pequenos vivenciou dias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s penúrias, obteve aí seu<br />

marco histórico, visto que os serviços que anteriormente eram feitos por artesões passaram a<br />

ser efetua<strong>do</strong>s por máquinas, que po<strong>de</strong>riam ser manejadas por qualquer pessoa, até mesmo por<br />

crianças, sem que a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto fosse modificada. As crianças e as mulheres eram<br />

conhecidas por “meias forças”, pois se sujeitavam a ganhar menos <strong>do</strong> que os homens. Como<br />

<strong>de</strong>screve com clareza, Marx e Engels,<br />

2 Código <strong>de</strong> Hamurábi: Khammu-rabi, rei da Babilônia no 18º século A.C., esten<strong>de</strong>u gran<strong>de</strong>mente o seu<br />

império e governou uma confe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s-esta<strong>do</strong>.. Erigiu, no final <strong>do</strong> seu reina<strong>do</strong>, uma enorme "estela"<br />

em diorito, na qual ele é retrata<strong>do</strong> receben<strong>do</strong> a insígnia <strong>do</strong> reina<strong>do</strong> e da justiça <strong>do</strong> rei Marduk. Abaixo man<strong>do</strong>u<br />

escreverem 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código <strong>de</strong> Hamurábi (embora abrangesse<br />

também antigas leis).


3<br />

[...] a família e a educação, sobre os afetuosos vínculos entre crianças e pais, tornase<br />

tanto mais impugnante quanto mais a gran<strong>de</strong> indústria transformam suas crianças<br />

em simples artigos <strong>de</strong> comércio e em simples instrumentos <strong>de</strong> trabalho. (MARX E<br />

ENGELS, p. 63, 2008).<br />

Realmente com a Revolução Industrial houve muito avanços, que contribuiu com<br />

alterações econômicas e sociais. As ferramentas utilizadas pelos os homens foram substituídas<br />

por máquinas. Fato este que contribuiu para o êxo<strong>do</strong> rural, muitos camponeses expulsos <strong>de</strong><br />

suas terras passaram a trabalhar nas indústrias, surgin<strong>do</strong> à mão <strong>de</strong> assalariada. Com isso,<br />

transforman<strong>do</strong> o perfil das famílias em simples artigo <strong>de</strong> comércio.<br />

Na Inglaterra, utilizava-se mão <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> crianças para trabalharem em indústria, no<br />

campo, nas minas <strong>de</strong> carvão, em ambientes insalubres e perigosos, sempre mal alimentadas,<br />

ou seja, em geral não existia um horário fixo para a refeição, os trabalha<strong>do</strong>res comem quan<strong>do</strong><br />

têm tempo ou fome.<br />

[...] trabalham crianças <strong>de</strong> quatro, cinco, e sete anos, mas a maior parte <strong>de</strong>las<br />

tem mais <strong>de</strong> oito anos. São ocupadas no transporte <strong>do</strong>s minérios <strong>do</strong> local da<br />

extração até a galeria em que é puxa<strong>do</strong> por carros traciona<strong>do</strong>s por cavalos ou<br />

até o poço principal, e também na abertura e fechamento <strong>do</strong>s portões que<br />

separam as diversas seções da mina à passagem <strong>de</strong> homem e materiais.<br />

Desse último trabalho encarregam-se as crianças menores, que ficam, por<br />

<strong>do</strong>ze horas ao dia, sentadas sozinhas em corre<strong>do</strong>res escuros, estreitos e quase<br />

sempre úmi<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> intermitentemente exaustivos esforços que não<br />

anulam o efeito embrutece<strong>do</strong>r da inação obrigatória entre eles (ENGEL,<br />

2005, pg. 278).<br />

O trabalho árduo exigi<strong>do</strong> das crianças situavam-se nas condições <strong>de</strong> animais,<br />

prejudicava seu <strong>de</strong>senvolvimento físico e intelectual, elas se queixam se <strong>de</strong> fadiga, fortes<br />

<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cabeças e <strong>de</strong> cansaço, muitos <strong>de</strong>sses pequenos ficam pelo caminho por não<br />

conseguirem chegar a seus lares <strong>de</strong> tão exaustos,<br />

É frequente as crianças chegarem à casa esgotadas que se atiram no piso,<br />

junto ao fogo, a<strong>do</strong>rmecen<strong>do</strong> sem comer, sen<strong>do</strong> lavadas e postas na cama<br />

pelos pais – quan<strong>do</strong> não acontecem mesmo que caiam exaustas no caminho e<br />

que os pais tenham, no meio da noite, <strong>de</strong> buscá-las (ENGELS, 2005, pg.<br />

279).<br />

Destaca que, boa parte das crianças trabalha durante a semana, nas fábricas ou em<br />

casas, o que não lhes permite ir à escola. E as escolas noturnas, a que <strong>de</strong>veriam comparecer os<br />

que trabalham durante o dia, têm poucos alunos, que, aliás, tiram pouco proveito <strong>de</strong>las. De<br />

fato, seria um <strong>de</strong>sproposito pedir a jovens operários, estafa<strong>do</strong>s por <strong>de</strong>z horas <strong>de</strong> trabalho, que<br />

ainda fossem às aulas das oito às <strong>de</strong>z da noite, aqueles que vão <strong>do</strong>rmem a maior parte <strong>do</strong>


4<br />

tempo, como foi constata<strong>do</strong> por centenas <strong>de</strong> testemunhas no Children’s Employment Report<br />

(Relatório sobre o trabalho infantil), cita<strong>do</strong> por Engels (2005, p. 150).<br />

A ganância da burguesia que jamais se contenta, arruína a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses trabalha<strong>do</strong>res,<br />

coloca suas vidas em constantes perigos, elimina qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrução, cultura<br />

e lazer, envolve os operários e toda sua família em uma teia <strong>de</strong> exploração.<br />

Atualmente a exploração <strong>do</strong> trabalho infantil é um fato que vem sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> no<br />

mun<strong>do</strong> inteiro. Segun<strong>do</strong> Organização Internacional <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> (OIT),<br />

[...] estima em cerca <strong>de</strong> 250 milhões as crianças trabalha<strong>do</strong>ras em to<strong>do</strong> o<br />

mun<strong>do</strong>. Pelo menos 120 milhões <strong>de</strong> crianças entre 5 e 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

trabalham em tempo integral. Os restantes combinam trabalho com os<br />

estu<strong>do</strong>s e com outras ativida<strong>de</strong>s não econômicas (OIT, 2001, p.9).<br />

Essas crianças trabalha<strong>do</strong>ras em sua maioria se encontram em países “em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento”, entre a América Latina, Caribe, África. Mas situações semelhantes não é<br />

um fato restrito as esse países.<br />

Embora as estatísticas geralmente não mencionem, nos países <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

há um significativo contingente <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes trabalhan<strong>do</strong> em<br />

situações que envolvem riscos. O relatório Situação Mundial da Infância<br />

(UNICEF, 1998) informa, por exemplo, que nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s uma<br />

operação relâmpago <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong>, realizada em 1990<br />

durante três dias, encontrou mais <strong>de</strong> 11.000 crianças trabalhan<strong>do</strong><br />

ilegalmente. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las pertencia a minorias étnicas ou a<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes e trabalhava na agricultura. Na Europa, os países<br />

<strong>do</strong> antigo bloco socialista viram surgir o trabalho infantil em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>sajustes sociais e econômicos <strong>de</strong>correntes da transição para a economia <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>. (OIT, 2001, p, 9)<br />

O trabalho <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes é fato ainda nos dias <strong>de</strong> hoje, pois no sistema<br />

capitalista, “Quanto maior, finalmente, a camada lazarenta da classe trabalha<strong>do</strong>ra e o exército<br />

industrial <strong>de</strong> reserva, tanto maior o pauperismo oficial. Essa é a lei absoluta geral, da<br />

acumulação capitalista.” (MARX, 1984, p.209). Contribuin<strong>do</strong> ativamente com o ciclo da<br />

geração <strong>de</strong> pobreza, transformação cruel que <strong>de</strong>ixou sua marca por varias gerações, sen<strong>do</strong><br />

esse, um <strong>do</strong>s motivos que levam crianças e a<strong>do</strong>lescentes a serem inseridas no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho precocemente. Que vem crian<strong>do</strong> novas roupagens e persiste atualmente neste sistema<br />

neoliberalista, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas lutas, <strong>de</strong>rrotas e alguns avanços no <strong>de</strong>correr da<br />

história.


5<br />

O <strong>Trabalho</strong> Infantil no Brasil<br />

O trabalho <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes no Brasil po<strong>de</strong> ser visualiza<strong>do</strong> nas ruas das<br />

cida<strong>de</strong>s brasileiras, quan<strong>do</strong> é possível encontrar crianças ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> balas nos semáforos,<br />

catan<strong>do</strong> recicla<strong>do</strong>s, sem mencionar os pequenos trabalha<strong>do</strong>res invisíveis aos nossos olhos,<br />

mas que sabemos que existem, são aquelas vítimas em trabalhos exaustivos, nas indústrias,<br />

nos lixões, <strong>do</strong>mésticos, abuso sexual, no envolvimento <strong>de</strong> trafego <strong>de</strong> drogas, entre tantos<br />

outros.<br />

A preocupação com as crianças e os a<strong>do</strong>lescentes, no Brasil passou por um logo<br />

processo em sua legislação se confundin<strong>do</strong> com a história das instituições <strong>do</strong> país voltadas a<br />

aten<strong>de</strong>rem essa <strong>de</strong>manda. Em suma, a primeira política a<strong>do</strong>tada foi à higienização das<br />

cida<strong>de</strong>s, pois crianças não podiam mendigar nos centros urbanos, sen<strong>do</strong> assim retira<strong>do</strong>s das<br />

ruas e encaminha<strong>do</strong>s a orfanatos e instituições “escolares” quan<strong>do</strong> a criança possuía família,<br />

posteriormente eram <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s ao trabalho; os meninos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a trabalhos em portos e<br />

as meninas <strong>de</strong>signadas ao trabalho <strong>do</strong>méstico (ARANTES, 1999).<br />

Quan<strong>do</strong> se fala em trabalho infantil <strong>de</strong>para-se com diversas questões relacionadas ao<br />

tema, as relações sociais, culturais, e as mudanças econômicas da socieda<strong>de</strong>.<br />

O trabalho acaba sen<strong>do</strong> visto como o gran<strong>de</strong> forma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> “cidadãos <strong>de</strong> bem”,<br />

socializan<strong>do</strong> por vez a criança e o a<strong>do</strong>lescente, assim proporcionan<strong>do</strong> a manutenção <strong>de</strong>ssa<br />

<strong>de</strong>manda por meio <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong>stinadas a ensinarem o oficio <strong>do</strong> trabalho. O Código <strong>de</strong><br />

Menores <strong>de</strong> 1927 tentava combinar a inserção no trabalho com a educação, educação esta que<br />

era pautada em profissionalizar a criança, pois o trabalho aqui é ti<strong>do</strong> como a melhor forma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver o ser social, afastan<strong>do</strong> <strong>de</strong> vez o “menor” <strong>do</strong> ócio, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a criança<br />

“<strong>de</strong>sprovida” pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolver as mesmas ativida<strong>de</strong>s que as crianças filhas <strong>de</strong> família com<br />

uma condição mais consi<strong>de</strong>rável, cujas é visto como uma prevenção à rua e a pratica <strong>de</strong><br />

qualquer ação consi<strong>de</strong>rada ilícita.<br />

Posteriormente, ao Código <strong>de</strong> Menores 1927, observa-se um gran<strong>de</strong> avanço em nossa<br />

legislação, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas lutas em pró <strong>do</strong>s direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, foi<br />

sanciona<strong>do</strong> no dia 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1990, o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, Lei 8.069,<br />

que traz em seu corpo a erradicação <strong>do</strong> termo “Menor”, utilizan<strong>do</strong> o termo criança e<br />

a<strong>do</strong>lescente estabelecen<strong>do</strong> a ida<strong>de</strong> prevista em Lei, reconhecen<strong>do</strong> a criança e o a<strong>do</strong>lescente<br />

como seres em <strong>de</strong>senvolvimento e sujeitos <strong>de</strong> direitos, (CONDECA, 2007).<br />

No Estatuto são assegura<strong>do</strong>s os direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. Diferente <strong>do</strong><br />

Código <strong>de</strong> Menores 1927, sen<strong>do</strong> fundamentais a qualquer pessoa humana, tais como: direito à


6<br />

vida, à saú<strong>de</strong>, à alimentação, à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, à<br />

dignida<strong>de</strong>, ao respeito, à liberda<strong>de</strong> e a convivência familiar e comunitária, garanti<strong>do</strong>s pela<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral/88 e repeti<strong>do</strong>s pelo Estatuto, a fim <strong>de</strong> lhes facultar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

físico, mental, moral, espiritual e social (CONDECA, 2007).<br />

Nem sempre a família tem uma análise crítica suficiente para distinguir a ativida<strong>de</strong> da<br />

criança como “trabalho”, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que seus pequenos fazem um “bico”, algo para<br />

complementar a renda <strong>de</strong> seu núcleo familiar, “ajudan<strong>do</strong>” a família a sanar o mínimo<br />

necessário para a sua sobrevivência.<br />

O trabalho infanto-juvenil no merca<strong>do</strong> informal – on<strong>de</strong> se foge aos olhos da<br />

fiscalização – vem com a competitivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno e externo, taxas <strong>de</strong> importação<br />

e exportação e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma produção em massa <strong>de</strong> baixo custo. As metas rigorosas<br />

trazem consigo a precarização <strong>do</strong> trabalho e o uso <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra barata. A terceirização da<br />

produção faz parte da dinâmica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> da mais-valia, e a busca <strong>de</strong> maiores lucros,<br />

implica na exploração <strong>do</strong> trabalho infantil.<br />

Os genitores que são contrata<strong>do</strong>s, pelas empresas para realizarem trabalhos em<br />

<strong>do</strong>micilio, arregimentam seus próprios filhos na consecução <strong>de</strong> serviços, tiran<strong>do</strong>-os da escola<br />

e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-os sem tempo <strong>de</strong> exercerem até suas próprias ativida<strong>de</strong>s “o ser criança”, ou em<br />

horário contrário aos estu<strong>do</strong>s “ajudam” nos afazeres tanto <strong>do</strong>méstico quanto na própria linha<br />

<strong>de</strong> confecção das merca<strong>do</strong>rias, com o objetivo <strong>de</strong> no final <strong>do</strong> mês po<strong>de</strong>r aumentar seus<br />

rendimentos. Esses traços da reestruturação produtiva trazi<strong>do</strong>s pelo sistema capitalista, na<br />

busca <strong>de</strong> lucros cada vez maiores, acabam por transformar a infância em rotina <strong>de</strong> trabalho.<br />

A primeira lei <strong>de</strong> proteção à infância referente ao direito <strong>do</strong> trabalho no Brasil é <strong>de</strong><br />

1891. Apesar disso, até mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1980, o <strong>Trabalho</strong> Infantil foi tolera<strong>do</strong> pelo governo e pela<br />

socieda<strong>de</strong>. O problema era praticamente ignora<strong>do</strong> ou aparecia diluí<strong>do</strong> em meio às questões<br />

sobre crianças aban<strong>do</strong>nadas ou em situação <strong>de</strong> rua. (VIVARTA, 2003, p, 24).<br />

Aos poucos, o assunto foi ganhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>staque na opinião pública, a gran<strong>de</strong> virada<br />

aconteceu entre 1994 e 1995, perío<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por <strong>de</strong>núncias publicadas pela imprensa, pela<br />

criação <strong>do</strong> Fórum Nacional <strong>de</strong> Prevenção e Erradicação <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> Infantil e pelo<br />

surgimento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> renda mínima, a exemplo da Bolsa-Escola.<br />

Segun<strong>do</strong> o sociólogo Carlos Amaral, autor <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> sobre a evolução <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

Infantil no Brasil <strong>de</strong> 1999 a 2001, houve nos últimos anos uma perda <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

tema na imprensa e fora <strong>de</strong>la em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is fatores: a redução <strong>do</strong>s focos <strong>de</strong> trabalho


7<br />

infantil e o aumento <strong>do</strong> porcentual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes explora<strong>do</strong>s em espaços<br />

invisíveis, como acontecem no caso <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços (incluin<strong>do</strong> aí o <strong>do</strong>méstico) e<br />

ativida<strong>de</strong>s ilícitas (VIVARTA, 2003, p, 24).<br />

O conceito <strong>de</strong> trabalho infantil não é tão simples, em diferentes países seu conceito é<br />

diversifica<strong>do</strong>, <strong>de</strong> maneira geral, o trabalho infantil costuma ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como aquele<br />

realiza<strong>do</strong> por “crianças e a<strong>do</strong>lescentes”, Amaral <strong>de</strong>fine o trabalho infantil como, “A noção <strong>de</strong><br />

trabalho infantil <strong>de</strong>ve-se aplicar a menores <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que trabalham ou se<br />

empregam com o objetivo <strong>de</strong> ganhar o próprio sustento e o <strong>de</strong> suas famílias” (VIVARTA,<br />

2003, p, 26).<br />

Isso significa que a permissão (ou a proibição) para a entrada <strong>do</strong>s indivíduos no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho é estabelecida em lei <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a ida<strong>de</strong>. No entanto, esse recorte é<br />

móvel, varia <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> para socieda<strong>de</strong> e, em cada uma <strong>de</strong>las, muda também <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

a compreensão <strong>do</strong> que seja infância e a<strong>do</strong>lescência.<br />

Segun<strong>do</strong> informações contidas no Plano Nacional <strong>de</strong> Prevenção e Erradicação <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> infantil e Proteção ao Trabalha<strong>do</strong>r, no Brasil, em 1891, instituía-se a ida<strong>de</strong> mínima<br />

<strong>de</strong> 12 anos para a entrada no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. As Constituições <strong>de</strong> 1934, 1937 e 1946<br />

ampliaram a ida<strong>de</strong> mínima para 14 anos. Porém, em 1967, em plena ditadura militar,<br />

novamente se recuou esse limite para 12 anos. Atualmente, a legislação brasileira, por meio<br />

da Emenda Constitucional, <strong>de</strong>termina que a ida<strong>de</strong> mínima para a entrada no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho é 16 anos. O trabalho noturno, perigoso ou insalubre é permiti<strong>do</strong> apenas á maiores <strong>de</strong><br />

18 anos. E apenas na condição <strong>de</strong> aprendiz que o a<strong>do</strong>lescente po<strong>de</strong> exercer trabalho<br />

remunera<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s 14 aos 16 anos, com direitos trabalhistas garanti<strong>do</strong>s, em jornada e regime<br />

especifica<strong>do</strong>s na lei.<br />

A Emenda nº 20, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998, alterou o art. 7º da<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral, estabelecen<strong>do</strong> em 16 anos a ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> acesso ao<br />

trabalho. Assim, a norma constitucional proíbe qualquer emprego ou<br />

trabalho abaixo <strong>do</strong>s 16 anos, exceção feita apenas ao emprego em regime <strong>de</strong><br />

aprendizagem, permiti<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> 14 anos. Abaixo <strong>de</strong> 18 anos, o trabalho é<br />

proibi<strong>do</strong>, sem exceção, quan<strong>do</strong> é perigoso, insalubre, penoso, noturno e<br />

prejudicial ao <strong>de</strong>senvolvimento físico, psíquico, moral e social (BRASIL,<br />

2004, p.19).<br />

Portanto segun<strong>do</strong> a legislação fica sen<strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> trabalho a menores<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, salvo na condição <strong>de</strong> aprendiz, a partir <strong>do</strong> quatorze anos.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Eliete Maria Neves Silva,<br />

(...) somente filhos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res; crianças <strong>de</strong> classe elevadas ou<br />

privilegiadas economicamente têm o direito <strong>de</strong> se prepararem para uma


8<br />

profissão valorizada socialmente. Já as crianças pobres são submetidas ao<br />

trabalho precoce sem direito à profissionalização ou preparação necessária<br />

(SILVA, 1993, p.8).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a educação po<strong>de</strong> ser a base para um futuro profissional mais<br />

qualifica<strong>do</strong>, como que os filhos <strong>do</strong>s trabalhares pobres vão conseguir um bom emprego?<br />

Quan<strong>do</strong> na realida<strong>de</strong> é condiciona<strong>do</strong> a conciliar o trabalho precoce com os estu<strong>do</strong>s afetan<strong>do</strong><br />

assim seu rendimento escolar. A<strong>de</strong>mais é preciso consi<strong>de</strong>rar também que <strong>de</strong>veria haver um<br />

tempo maior para o estu<strong>do</strong> e sua formação ten<strong>do</strong> vista que, parafrasean<strong>do</strong> com Paulo Freire,<br />

Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreen<strong>de</strong>r qual a posição<br />

que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e<br />

quem lucra com esse trabalho (FREIRE, 1991, P.56).<br />

É necessário consi<strong>de</strong>rar o contexto que vive a família, ou seja, com o salário precário<br />

que mal consegue suprir as necessida<strong>de</strong>s, sem ter um local seguro para <strong>de</strong>ixar seus filhos<br />

enquanto trabalha, sem condições <strong>de</strong> acompanhar os filhos na escola, entre outro, a educação<br />

acaba fican<strong>do</strong> para um futuro distante. É sabi<strong>do</strong> que a educação contribui para a formação <strong>do</strong><br />

individuo, que esse conhecimento refletirá em seu salário quan<strong>do</strong> transferi<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho, sen<strong>do</strong> assim, quanto mais baixa for o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> provavelmente também o<br />

será o seu salário.<br />

No Brasil o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente (ECA) dispõe sobre a proteção<br />

integral das crianças e <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. O art. 3° <strong>do</strong> ECA assegura-lhes a proteção integral<br />

que se traduz em todas as oportunida<strong>de</strong>s e facilida<strong>de</strong>s "a fim <strong>de</strong> lhes facultar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, em condições <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

dignida<strong>de</strong>" (BRASIL, 1990). O trabalho infanto-juvenil no Brasil revela o <strong>de</strong>srespeito pela lei<br />

que coíbe o uso <strong>de</strong> trabalho infantil <strong>de</strong>scrita no Art. 60. “É proibi<strong>do</strong> qualquer trabalho a<br />

menores <strong>de</strong> quatorze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, salvo na condição <strong>de</strong> aprendiz” (BRASIL, 1990).<br />

A realida<strong>de</strong> é que os pais diante da pobreza, começaram a trabalhar ce<strong>do</strong>, assim seus<br />

filhos também são inseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho em ativida<strong>de</strong>s que não exigem<br />

capacitação especializada, perpetuan<strong>do</strong> um ciclo vicioso da pobreza. Esse talvez venha a ser o<br />

maior <strong>de</strong>safio, estimular o individuo a refletir e buscar possibilida<strong>de</strong>s para que a interrupção<br />

<strong>de</strong>ste problema, mesmo que tenha consegui<strong>do</strong> ultrapassar gerações.<br />

Programa <strong>de</strong> Erradicação <strong>do</strong> trabalho Infantil (PETI)<br />

Programa <strong>de</strong> Erradicação <strong>do</strong> trabalho Infantil (PETI) é um programa <strong>do</strong> Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral que tem como objetivo retirar as crianças e a<strong>do</strong>lescentes com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sete a quinze


9<br />

anos <strong>do</strong> trabalho consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> perigoso, insalubre, exaustivo 3 , ou seja, trabalhos que colocam<br />

em risco sua saú<strong>de</strong> e segurança. Segun<strong>do</strong> o Plano Nacional, o Programa <strong>de</strong> Erradicação <strong>do</strong><br />

trabalho Infantil (PETI) foi lança<strong>do</strong> em 1996, por meio da Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assistência<br />

Social. No município <strong>de</strong> Franca/SP no âmbito <strong>do</strong> então Ministério da Previdência e<br />

Assistência Social 4 , um grupo <strong>de</strong> pesquisa em <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> um trabalho relaciona<strong>do</strong> a esse<br />

tema.<br />

O Programa repassa aos esta<strong>do</strong>s e municípios recursos para o pagamento <strong>de</strong> bolsas e<br />

para a manutenção <strong>de</strong> jornadas ampliadas, com o objetivo <strong>de</strong> retirar as crianças <strong>do</strong> trabalho e<br />

mantê-las nas escolas. Inicialmente o PETI contemplou famílias em três esta<strong>do</strong>s: MS, BA e<br />

PE, on<strong>de</strong> era possível encontrar crianças na produção <strong>de</strong> carvão, <strong>de</strong> fibra <strong>do</strong> sisal e <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcar.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Plano Nacional <strong>de</strong> Prevenção e Erradicação <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> Infantil<br />

e Proteção ao Trabalha<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>lescente,<br />

Atualmente, mais <strong>de</strong> 810 mil crianças são atendidas pelo PETI, em mais <strong>de</strong><br />

2.600 municípios <strong>de</strong> todas as unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração. Mensalmente o<br />

Programa <strong>de</strong>sembolsa pouco mais <strong>de</strong> 37 milhões <strong>de</strong> reais para o pagamento<br />

das bolsas e para garantir o funcionamento da jornada ampliada. Cada<br />

família recebe R$ 25,00 por criança, na zona rural, e R$ 40,00 na zona<br />

urbana. Todas as crianças beneficiadas têm <strong>de</strong> frequentar a escola bem como<br />

a jornada ampliada, e as famílias têm <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> ações socioeducativas<br />

(BRASIL, 2004, p. 30).<br />

Além da concessão <strong>de</strong> bolsas, o PETI prevê e exige a implantação <strong>de</strong> jornadas<br />

ampliadas, e ainda, a sensibilização da socieda<strong>de</strong> a respeito <strong>do</strong>s malefícios <strong>do</strong> trabalho infantil<br />

e atua sobre o fortalecimento das famílias das crianças trabalha<strong>do</strong>ras, especialmente com a<br />

implantação <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> emprego e renda.<br />

O PETI tem como objetivo, além da concessão <strong>de</strong> bolsas e jornada ampliada, retirar a<br />

criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong> trabalho como foi cita<strong>do</strong> no parágrafo acima, com isso possibilita<br />

o acesso e permanência nas escolas.<br />

Para serem inseridas nesse programa é necessário que as famílias tenham filhos <strong>de</strong> sete<br />

a quinze anos trabalhan<strong>do</strong> em ativida<strong>de</strong>s perigosas, penosas, insalubres e <strong>de</strong>gradantes. São<br />

3 São consi<strong>de</strong>radas ativida<strong>de</strong>s perigosas, penosas, insalubres ou <strong>de</strong>gradantes aquelas que compõem a Portaria nº<br />

20, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001, <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> e Emprego e a Convenção nº 182 da Organização<br />

Internacional <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> – OIT.<br />

4 Este texto discute parcialmente os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> pesquisa e extensão: PETI e<br />

COMPETI, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela professora <strong>do</strong>utora Edvânia Ângela Lourenço <strong>de</strong> Souza, com as aluna bolsistas <strong>do</strong><br />

4º Ano <strong>de</strong> Serviço Social , Sheila Batista e Souza , Aline Lima Da Silva e Ana Cláudia Guiral<strong>de</strong>lli ,<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Humanas e Sociais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2011 até o presente momento. Este projeto<br />

também conta com o apoio da Secretária <strong>de</strong> Ação Social <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Franca.


10<br />

priorizadas as famílias com renda per capita <strong>de</strong> até meio salário mínimo, aquela que vivem em<br />

situação <strong>de</strong> extrema pobreza.<br />

As famílias inseridas no PETI recebem uma bolsa mensal no valor <strong>de</strong> R$ 40,00, para<br />

os filhos que forem retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho. Porém as crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong>vem estar<br />

frequentan<strong>do</strong> a escola e a jornada ampliada, ou seja, um perío<strong>do</strong> vão à escola e no perío<strong>do</strong><br />

contrario, participar das ações realizadas na jornada ampliada, quan<strong>do</strong> po<strong>de</strong>rão ter reforço<br />

escolar e ativida<strong>de</strong>s esportivas, culturais, artísticas e <strong>de</strong> lazer. A família po<strong>de</strong> receber a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolsas correspon<strong>de</strong>nte ao número <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeite a ida<strong>de</strong> permitida<br />

pelo Programa (<strong>de</strong> sete a quinze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>).<br />

A família po<strong>de</strong> permanecer no programa durante um perío<strong>do</strong> máximo <strong>de</strong> quatro anos,<br />

sen<strong>do</strong> conta<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> sua inserção em programas e projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> trabalho e<br />

renda. As famílias beneficiadas pelo programa po<strong>de</strong>m receber o beneficio por intermédio <strong>do</strong><br />

Cartão da <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Proteção Social, as bolsas <strong>de</strong>vem ser pagas por banco oficial ou pelas<br />

agencias <strong>do</strong>s Correios. Caso não haja no município nenhuma <strong>de</strong>ssas opções, o responsável<br />

pelo pagamento das bolsas <strong>de</strong>verá encaminhar à Gerência <strong>do</strong> PETI uma proposta alternativa<br />

<strong>de</strong> pagamento, para a análise e aprovação. O beneficio po<strong>de</strong> ser bloquea<strong>do</strong> se os filhos não<br />

estiverem frequência mínima exigida na escola sem justificativa e quan<strong>do</strong> a família não<br />

cumprir seus compromissos junto ao Programa em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> mês. (BRASIL, 2002).<br />

No caso <strong>de</strong> não cumprimento das condicionalida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Programa, po<strong>de</strong> ocorrer a<br />

suspensão temporária <strong>do</strong> pagamento <strong>do</strong> beneficio, mas se isso ocorrer, o acompanhamento<br />

coma a família <strong>de</strong>ve ser reforça<strong>do</strong>, no senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong> sensibilizá-la para a necessida<strong>de</strong> da<br />

permanência e frequência da criança e a<strong>do</strong>lescente na escola, bem como a jornada ampliada,<br />

para que assim possa ter um melhor aproveitamento socioeducativo <strong>do</strong> Programa.<br />

Outra questão se relaciona com a importância <strong>do</strong> trabalho realiza<strong>do</strong> por crianças em<br />

suas famílias, mesmo que tenha uma conotação <strong>de</strong> formação. Em muitos Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> País, na<br />

zona rural, é comum que os filhos aju<strong>de</strong>m seus pais em pequenas proprieda<strong>de</strong>s, em regime<br />

familiar. O mesmo acontece com famílias no perímetro urbano, em que os filhos “ajudam”<br />

trabalhan<strong>do</strong> no negócio da família, comércio, <strong>do</strong>méstico ou serviços terceiriza<strong>do</strong>s. Ajuda que<br />

acaba toman<strong>do</strong> a maior parte <strong>do</strong> tempo da criança e a<strong>do</strong>lescente comprometen<strong>do</strong> seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento físico e intelectual, ou seja, fican<strong>do</strong> as brinca<strong>de</strong>iras que é uma fase<br />

importante no <strong>de</strong>senvolvimento da criança e o estu<strong>do</strong> para um segun<strong>do</strong> plano.<br />

Convencer as famílias mais pobres e sensibilizar aquelas mais abastadas <strong>de</strong> que o<br />

trabalho não é mais importante <strong>do</strong> que a educação, mesmo em situações críticas, po<strong>de</strong> ser o


11<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio das ações <strong>de</strong> combate ao trabalho infantil atualmente. O trabalho só <strong>de</strong>ve ser<br />

bom quan<strong>do</strong> exerci<strong>do</strong> na ida<strong>de</strong> certa, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong> e na função a<strong>de</strong>quada à fase da vida<br />

em que a pessoa se encontra.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Nota-se que durante a história muito se avançou para a proteção e cuida<strong>do</strong>s com as<br />

crianças, o ECA é uma prova concreta. Porém, o problema não foi erradica<strong>do</strong> apesar <strong>de</strong><br />

controla<strong>do</strong>, no contexto fabril, o trabalho infantil-juvenil ainda é uma realida<strong>de</strong>, como é<br />

possível observar as crianças ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> em semáforos, na agricultura, indústrias, comércio,<br />

minas <strong>de</strong> carvão, nos lixões entre tantos outros lugares. São obras que o tempo não apagou,<br />

continua refletin<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> atual. Outro <strong>de</strong>sfio a ser enfrenta<strong>do</strong> é a questão cultural<br />

enraizada nas pessoas, que trazem consigo os pseu<strong>do</strong>conceitos sobre o trabalho infantil, como<br />

por exemplo: “Quem não começa trabalhar ce<strong>do</strong>, vira vagabun<strong>do</strong>; O trabalho não mata<br />

ninguém; O trabalho traz responsabilida<strong>de</strong>s; Eu comecei trabalhar com seis anos e não<br />

morri; Distrai a cabeça. Impedir vagabundagem. Governo proíbe trabalho infantil, mas não<br />

impe<strong>de</strong> violência; Antigamente a gente começava a trabalhar com 8, 10 anos e não tinha<br />

tanta malandragem como tem agora; Na minha opinião é erra<strong>do</strong>. Na minha casa, nós éramos<br />

em 11 irmãos, to<strong>do</strong>s ajudavam, faziam o serviço da casa.; Tem criança que tinha <strong>de</strong> estar<br />

trabalhan<strong>do</strong>, <strong>do</strong> que ficar na rua.; Acho erra<strong>do</strong>. Tinha que começar com 13 anos. Começar a<br />

trabalhar com 16 anos, faz com que facilite fazer coisas erradas.; <strong>Trabalho</strong> das crianças<br />

ajuda, é erra<strong>do</strong> criança que ficam na rua, pois se envolvem com drogas”. Frases que foram<br />

confirmadas na pesquisa realizada no município <strong>de</strong> Franca. Como foi citada, a falta <strong>de</strong><br />

informação contribui para que essa situação continue como está. Muitos <strong>de</strong>sconhecem os<br />

direitos e programas sociais, como o PETI, a pesquisa confirma que a maior parte da<br />

população não possui a noção <strong>do</strong> que seria um programa <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda, ten<strong>do</strong><br />

somente o conhecimento <strong>do</strong> programa Bolsa Família, na qual gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong><br />

recebem o beneficio.<br />

Nos encontros realiza<strong>do</strong>s na UNESP-Franca com as famílias nota-se que a quebra <strong>do</strong><br />

paradigma cultural referente ao trabalho infanto-juvenil ainda é um tabu nas famílias, pois<br />

para que seus filhos se “<strong>de</strong>senvolvam” e se tornem “homens <strong>de</strong> bem” a inserção no merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>sses pequenos são relevantes para a manutenção <strong>do</strong> núcleo familiar, além se<br />

tornarem “um cidadão trabalha<strong>do</strong>r”, na visão imediata.


12<br />

Não dá para <strong>de</strong>ixar passar em branco que o valor <strong>do</strong> beneficio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação <strong>do</strong><br />

PETI em 1996, seja o mesmo valor nos dias atuais, ou seja, R$ 40,00 para a população da área<br />

urbana e R$ 25,00 para a população da área rural.<br />

Outra questão refere-se ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> PETI, o fato <strong>de</strong> estarem praticamente “paradas”.<br />

No entanto, essa também <strong>de</strong>ve ser uma preocupação <strong>do</strong> Programa, que tem como<br />

característica a jornada ampliada, entre elas, o reforço escolar e também contribuir com a<br />

formação profissional, não se esquecen<strong>do</strong> da cultura, esporte e lazer. Para que as crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes passem por cada fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, com proteção, e possam ter outras<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolhas não apenas trabalhar ou estudar é preciso que se garanta a<br />

efetivida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s em horário contrário ao da escola, o Eca lhe garante esse direito.<br />

Levar as famílias a refletir <strong>de</strong> que o trabalho não é mais importante <strong>do</strong> que a educação,<br />

mesmo em situações críticas, ainda sen<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio das ações <strong>de</strong> combate ao<br />

trabalho infantil atualmente. Que existe sim outra opção além <strong>de</strong> trabalhar ou estudar. Existe<br />

o momento com a família, o lazer, brincar, viver cada fase da vida é muito importante, não<br />

amadurecer ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais. O trabalho só <strong>de</strong>ve ser bom quan<strong>do</strong> exerci<strong>do</strong> na ida<strong>de</strong> certa, ou seja,<br />

sem prejuízos no <strong>de</strong>senvolvimento físico e intelectual <strong>de</strong> cada fase <strong>de</strong>sses pequenos.<br />

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ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara, 1986.<br />

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Marx – Lei Geral da Acumulação Capitalista – Livro: O Capital Vol. I Tomo 2 – Cap. XXIII,<br />

1984.


13<br />

MARX E ENGELS. Manifesto <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> comunista, 2ª Reimpressão. São Paulo: Martins<br />

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PRIORE, Mary Del. História da criança no Brasil. 5. ed. São Paulo: Contexto, 1998.<br />

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Conclusão <strong>de</strong> Curso apresenta<strong>do</strong> à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> História, Direito e Serviço Social, da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual “Julio Mesquita Filho” Campus - Franca, 1993.<br />

STEPAN, Claúdia Coutinho, Trabalha<strong>do</strong>r a<strong>do</strong>lescente: em face das alterações da Emenda<br />

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VIVART, Veet. Crianças invisíveis: enfoque sobre a o trabalho infantil <strong>do</strong>méstico e outras<br />

formas <strong>de</strong> exploração / coor<strong>de</strong>nação Veet Vivart. – São Paulo: Cortez. 2002. (Série mídia e<br />

mobilização sócia; v.6).

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