VEJA O NOSSO ANÚNCIO NA ÚLTIMA PÁGINA ... - Post Milenio
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<strong>Post</strong>-Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si!<br />
12 a 18 de Janeiro de 2007 11<br />
QUEM É<br />
CARLOS GUILHERME?<br />
Moçambicano. Tenor.<br />
Rei da Rádio.<br />
Amigo. Família.<br />
Carlos Guilherme é uma presença<br />
que se impõe através da sua voz, e<br />
não só. Carlos Guilherme nasceu<br />
na antiga Lourenço Marques<br />
(actual Maputo), onde foi estrela<br />
do Rádio Clube de Moçambique,<br />
tendo sido eleito Rei da Rádio de<br />
Moçambique. Estudou com Greta<br />
Muir na Rodésia (Zimbabwé),<br />
onde fez a sua estreia como tenor<br />
com a Companhia de Ópera de<br />
Salisbury. Chegou a Portugal em<br />
1976, ano em que passou a trabalhar<br />
no Conservatório Regional do<br />
Algarve. É artista residente do<br />
Teatro Nacional de São Carlos<br />
desde 1980. O seu repertório<br />
inclui dezenas de papéis principais<br />
em óperas, muitos recitais e concertos<br />
por todo o país e<br />
estrangeiro, colaborando várias<br />
vezes com a Fundação Calouste<br />
Gulbenkian, o Círculo Portuense<br />
de Ópera ou a Ópera de Câmara<br />
do Real Teatro de Queluz, entre<br />
outras. Já colaborou com a<br />
Sinfónica Emeritus de São<br />
Francisco (Califórnia), a<br />
Orquestra de Câmara de Pádua, a<br />
Sinfónica de Budapeste, a<br />
Filarmónica de Moscovo, entre<br />
outros. Editou, recentemente, um<br />
Encontro, em parceria com<br />
Anabela, um trabalho que reúne<br />
12 canções intemporais da música<br />
portuguesa.<br />
Aliás foi também através da<br />
Canção Ligeira que Carlos<br />
Guilherme se popularizou entre<br />
nós, com muitos êxitos a conquistarem<br />
os corações das gentes<br />
luso-canadianas. Recentemente,<br />
Carlos Guilherme deu uma entrevista<br />
ao jornal "Público", que,<br />
com a devida vénia, passamos a<br />
transcrever.<br />
"Por estranho que pareça, vivi<br />
durante anos a menos de 200<br />
quilómetros dos limites do Parque<br />
Kruger e só o conheci em Janeiro<br />
do ano passado. Nasci em<br />
Moçambique e voltei lá porque o<br />
meu filho convidou os pais a<br />
regressarem ao país onde se conheceram<br />
e a visitarem o Parque<br />
Kruger (do qual ele é um fã<br />
incondicional), na África do Sul, e<br />
que fica a cerca de 30 quilómetros<br />
da fronteira. Foi para ele também<br />
uma viagem de despedida, já que<br />
sendo piloto ia deixar de fazer viagens<br />
de longo curso para fazer<br />
viagens de curto curso.<br />
Não há palavras que<br />
descrevam o parque. Dizer que é<br />
um paraíso de vida selvagem,<br />
embora pareça engrandecê-lo,<br />
ainda fica aquém da realidade.<br />
O recinto, que é enorme, está<br />
muitíssimo bem preparado para<br />
receber os visitantes: tem boas<br />
estradas, postos de descanso por<br />
toda a parte e sempre muito<br />
limpos - como não se pode, talvez,<br />
imaginar em países que atravessam<br />
convulsões como é o caso.<br />
Em cada zona do parque, podemse<br />
encontrar mapas onde vão<br />
sendo assinalados os locais onde<br />
foram vistos recentemente os animais<br />
(claro que às vezes quando<br />
se chega ao local já o animal em<br />
causa está longe; mas outras vezes<br />
vamos encontrar, por exemplo,<br />
um leão deitado no meio da estrada).<br />
Para passear dentro do parque<br />
podem usar-se as estradas ou os<br />
caminhos de cascalho devidamente<br />
assinalados. Em corta-mato<br />
é expressamente proibido andar -<br />
e, se alguém o fizer, depressa terá<br />
a sua fotografia publicada e uma<br />
multa aplicada. Ou seja, o parque<br />
tem um sistema de segurança<br />
muito apertado. Há ainda certas<br />
zonas, semelhantes a um parque<br />
de merendas com grelhadores<br />
para cozinhar o almoço, onde é<br />
permitido sair do carro devido ao<br />
risco mínimo, mas está bem legível<br />
numa placa que é sob a responsabilidade<br />
do próprio. Todos os<br />
casos de acidentes são por desobediência<br />
às regras do parque, como<br />
foi o caso de uns japoneses que<br />
saíram para fotografar leões e os<br />
leões entraram mesmo dentro da<br />
viatura. Foram seis as vítimas. Ou<br />
seja, aquilo é a sério. Não é um<br />
jardim zoológico. É a selva no seu<br />
estado puro.<br />
Há vários acampamentos,<br />
muito semelhantes a aldeias, por<br />
assim dizer, onde se pode recolher<br />
às 18h30, hora a partir da qual não<br />
é permitido a ninguém permanecer<br />
nas áreas não residenciais,<br />
a não ser enquadrado em grupos<br />
do Kruger. Estes passeios são<br />
feitos, mediante inscrição, em carros<br />
abertos, em que se viaja no<br />
andar superior do veículo. Não se<br />
vê muita coisa, mas ouve-se a<br />
selva. Eu não saí de noite, mas<br />
deve ser engraçado.<br />
A hora ideal para levantar é<br />
entre as 04h30 e as 05h30 da<br />
manhã para se poder observar o<br />
despertar do dia e os animais que<br />
vão beber. Nós vimos todos os<br />
animais, à excepção do leopardo.<br />
Mas é preciso ser paciente, saber<br />
esperar para que eles se deixem<br />
ver. Muitas vezes encontram-se<br />
deitados ainda no asfalto, a<br />
aproveitarem o calor que o alcatrão<br />
absorveu durante o dia anterior.<br />
A partir das 10h00, o melhor é<br />
regressar ao alojamento, porque o<br />
calor começa a apertar e os animais<br />
refugiam-se na savana. E<br />
depois passa-se o resto do dia a<br />
aproveitar o que de melhor o<br />
acampamento tem para oferecer.<br />
O melhor de tudo no Kruger é<br />
a paisagem, que nos remete para o<br />
filme África Minha, em que se<br />
chega e se vê à frente uma imensidão.<br />
E depois surge um elefante,<br />
muito pequenino, lá muito, muito<br />
longe. Era essa a paisagem que se<br />
vislumbrava da varanda da guest<br />
house onde ficámos - uma surpresa<br />
do meu filho, já que nós acreditávamos<br />
estar lotada. Era fabulosa,<br />
com quartos para quatro<br />
casais (e dividindo por quatro<br />
casais não fica nada caro). À noite<br />
é delicioso ficar a ouvir os sons da<br />
vida selvagem, sem qualquer perigo<br />
de receber uma visita indesejada<br />
(todos os aldeamentos são<br />
ladeados por uma vedação electrificada),<br />
especialmente dos macacos<br />
que estão sempre a tentar<br />
roubar alguma coisa dos vários<br />
alojamentos." O outro lado da<br />
viagem: Maputo<br />
"Optámos por chegar ao<br />
Kruger através de Moçambique e<br />
assim deixámos alguns dias para<br />
reviver Maputo. A antiga<br />
Lourenço Marques, onde nasci e<br />
vivi até à beira dos 30 anos, é uma<br />
cidade lindíssima, com um traçado<br />
muito moderno e um trânsito<br />
muito fluído - pela esquerda,<br />
atenção, que Moçambique adoptou<br />
o sistema britânico vigente na<br />
África do Sul.<br />
Eu aconselharia sempre<br />
alguém a ficar uns dias na capital<br />
moçambicana, no Hotel Polana,<br />
de cinco estrelas e caro, mas com<br />
uma excelente localização e uma<br />
vista soberba sobre a baía: e é possível<br />
tratar mesmo ali do aluguer<br />
do carro para seguir para a África<br />
do Sul."