Alimentação infantil: bases fisiológicas - IBFAN Brasil
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Capítulo 3.<br />
especialmente quando não se podem assegurar alimentos<br />
adequados de desmame.<br />
Desnutrição. Em mães extremamente desnutridas,<br />
por exemplo sob condições de fome, a secreção de leite<br />
diminui e pode cessar completamente. Do ponto de vista<br />
prático, todavia, é mais importante compreender se e<br />
quanto o volume e composição do leite é afetado em<br />
mães com desnutrição crônica leve a moderada.<br />
Acredita-se que grande proporção das mulheres de<br />
alguns países em desenvolvimento, embora não<br />
apresentem sinais evidentes de desnutrição, tem<br />
deficiências nutricionais ou de energia em graus<br />
variáveis. Seus efeitos sobre o desempenho da lactação<br />
são difíceis de avaliar, e quantificar pela ausência de<br />
métodos adequados de diagnóstico de formas subclínicas<br />
leves a moderadas de desnutrição. Ademais, a<br />
desnutrição não ocorre isoladamente, sendo em geral<br />
observada simultaneamente com outras variáveis que<br />
podem influir sobre o desempenho da lactação. Algumas<br />
terão peso positivo, por exemplo, o fato de a<br />
amamentação ser a maneira tradicional de alimentar<br />
bebês e por isso protegida e apoiada pela sociedade.<br />
Outras, como trabalho excessivo e estresse ambiental<br />
exercem influência negativa.<br />
Ambos os tipos de variáveis tendem a invalidar<br />
comparações entre populações com condições de vida<br />
sócio-econômica e ambiental muito diferentes. Há relatos<br />
de bebês vivendo em condições de pobreza cujo<br />
crescimento pára antes do esperado nos exclusivamente<br />
amamentados 77 e variações sazonais na produção de leite<br />
associadas a mudanças na ingestão alimentar das mães. 78<br />
Não obstante, permanece a vasta maioria das mães que<br />
vivendo em circunstâncias de privação social e<br />
econômica e sofrendo graus variados de desnutrição<br />
crônica é capaz de amamentar com sucesso por longo<br />
tempo.<br />
As dificuldades de avaliar o estado nutricional<br />
materno (ver cap. 1), junto com a influência de outras<br />
variáveis, podem responder pelos resultados<br />
inconclusivos dos estudos sobre efeitos da<br />
suplementação alimentar das mães sobre o desempenho<br />
lactacional. Má nutrição materna na gestação ajuda a<br />
determinar o desempenho lactacional. Assim,<br />
suplementação alimentar na lactação pode não produzir<br />
os efeitos desejados se a alimentação foi deficiente na<br />
gravidez.<br />
No estudo da OMS sobre a quantidade e qualidade<br />
do leite materno em diversos países e vários níveis sócioeconômicos,<br />
79 encontraram-se indicações de produção<br />
diminuída de leite, possivelmente associada a baixo<br />
estado nutricional das mães, somente entre mulheres<br />
pobres da área rural do Zaire. Estas mulheres eram<br />
capazes de secretar consistentemente a mesma<br />
quantidade de leite nos 18 primeiros meses de vida de<br />
suas crianças. Mulheres guatemaltecas e filipinas pobres<br />
não produziam menos leite que compatriotas bem<br />
situadas sócio-economicamente e, como acontecia no<br />
Zaire, mantinham a lactação até bem depois do 1º ano<br />
de vida. Introdução de outros alimentos na dieta parecia<br />
ser o principal fator associado à diminuição da secreção.<br />
Assim, o desempenho lactacional era fraco no 1º mês<br />
entre mães filipinas urbanas de boa situação sócioeconômica,<br />
coincidentemente usuárias mais freqüentes<br />
dos substitutos do leite materno. 79<br />
Quanto à composição, as evidências existentes<br />
sugerem que a dieta materna e o estado nutricional têm<br />
pouca influência sobre o conteúdo de macro-nutrientes<br />
(carboidratos, proteínas e lipídios) e por conseguinte<br />
sobre a concentração de energia do leite materno. 79<br />
Parece que, embora a quantidade possa diminuir se não<br />
houver suficiente “matéria prima” disponível para a<br />
glândula mamária, sua composição não se altera<br />
significantemente.<br />
A situação é outra no que tange os micro-nutrientes<br />
(vitaminas e minerais) e sua presença no leite é<br />
diretamente influenciada pelo estado nutricional da mãe.<br />
Exemplo típico é o aparecimento de beribéri em bebês<br />
de mães deficientes em tiamina. Na investigação da<br />
OMS, 79 não se encontrou diferença significante entre<br />
os vários grupos quanto a conteúdo de energia e<br />
principais constituintes do leite materno. A única exceção<br />
à regra conteúdo energético maior entre mães urbanas<br />
em boa situação econômica, comparadas a mães rurais<br />
pobres foi identificada na Suécia mas não na Guatemala<br />
ou Filipinas.<br />
Concluindo, as deficiências nutricionais que se<br />
acredita amplamente distribuídas entre as mulheres no<br />
mundo devem continuar merecendo atenção contínua<br />
para melhoria de sua saúde, bem como a de seus filhos.<br />
Como regra geral, contudo, formas subclínicas leves ou<br />
moderadas de desnutrição não constituem contraindicação<br />
para amamentar bebês. Nestas circunstâncias,<br />
não amamentar só piora a situação do bebê, privado dos<br />
benefícios do leite materno, e dos demais membros da<br />
família, que devem repartir os escassos recursos para<br />
proporcionar substituto nutricionalmente adequado.<br />
Insuficiência percebida de leite. Como mencionado<br />
anteriormente, somente em circunstâncias excepcionais,<br />
por exemplo, erros inatos do metabolismo, o leite<br />
materno será inadequado para crescimento e<br />
desenvolvimento do bebê. Todavia, muitas mães<br />
decidem suplementar filhos amamentados ou até deixar<br />
de amamentá-los porque acreditam que não estão<br />
produzindo leite suficiente adequado para atender às<br />
necessidades nutricionais dos bebês. Mães que<br />
consideram seu leite “muito ralo”, por exemplo, podem<br />
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