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Alimentação infantil: bases fisiológicas - IBFAN Brasil

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4. Desenvolvimento fisiológico do bebê e suas implicações para a alimentação suplementar<br />

normalmente baixa, mas altamente absorvível. Como o<br />

balanço de ferro é muito delicado no infante jovem,<br />

interferência na sua absorção pode resultar em deficiência<br />

e anemia. A deficiência pode ser evitada, é claro, através<br />

do uso de preparações de cereais enriquecidos, mas isto<br />

preveniria um problema inicialmente inexistente.<br />

Como amplas camadas da população dos países em<br />

desenvolvimento têm dietas restritas e vivem em<br />

ambientes insalubres, o maior risco imediato de dar<br />

suplementação alimentar muito precocemente é<br />

desencadear a doença diarréica 31 ( cap. 6).<br />

Estudos longitudinais em áreas rurais de<br />

Bangladesh, 32 onde 41% das amostras de alimentos e<br />

50% das de água estavam contaminadas por Escherichia<br />

coli, demonstram associação entre introdução precoce<br />

de alimentos contaminados e infecções intestinais nos<br />

bebês. A proporção de amostras de água contaminada<br />

por E. coli associava-se diretamente à prevalência anual<br />

de diarréia por E. coli da criança. A temperatura ambiente<br />

e a duração da armazenagem do alimento<br />

correlacionavam-se diretamente com a contagem<br />

bacteriana, assim como com a incidência mensal de<br />

diarréia associada a E.coli enterotóxica na comunidade.<br />

No Quênia, onde a suplementação começa aos 3<br />

meses, estudo encontrou até 104 entero-bactérias/g nos<br />

alimentos. A contagem aumentou após armazenamento,<br />

mesmo em períodos tão curtos quanto 3 horas. 33<br />

Microorganismos patogênicos podem não estar<br />

necessáriamente presentes nos alimentos de desmame<br />

antes de ser consumidos; podem entrar no trato alimentar<br />

na hora da alimentação. Por exemplo, foi detectado<br />

rotavirus na água de lavagem das mãos de 79% das<br />

atendentes dos pacientes hospitalizados por diarréia<br />

associada ao vírus em Bangladesh. 34 A importância da<br />

contaminação microbiana das mãos da gênese de diarréia<br />

também foi demonstrada pela interrupção da transmissão<br />

de Shigella pela implantação da lavagem de mãos, após<br />

a defecação e antes das refeições, entre membros de<br />

famílias de casos confirmados de Shigellose. 35 Na<br />

análise final a qualidade e quantidade de água pode ser<br />

o fator mais importante na morbidade por diarréias entre<br />

bebês menores de 3 anos. 36,37<br />

Riscos a longo prazo<br />

A longo prazo, práticas de suplementação<br />

inadequadas podem também ter impacto negativo na<br />

saúde através de dois mecanismos. Um é o efeito<br />

cumulativo de alterações que, embora se iniciem<br />

precocemente na vida, só resultem em morbidade anos<br />

depois. O outro é a criação de hábitos alimentares que<br />

conduzam a práticas dietéticas indesejáveis, contribuindo<br />

para problemas de saúde. Na prática, ambos os<br />

mecanismos podem inter-relacionar-se. Por exemplo, o<br />

gosto de um adulto por alimentos excessivamente<br />

salgados pode resultar de experiências precoces na vida<br />

e se constituir portanto em prática aprendida, enquanto<br />

o efeito cumulativo da hipernatremia, por muitos anos,<br />

leva ao desenvolvimento da hipertensão.<br />

Obesidade. Embora os riscos da obesidade na saúde<br />

do adulto sejam bem conhecidos, sua etiologia é<br />

complexa e múltipla. O difícil tratamento da obesidade<br />

estabelecida torna importante uma melhor compreensão<br />

da sua etiologia e história natural. Uma das questões<br />

ainda sem resposta diz respeito à relação entre práticas<br />

alimentares e excesso de peso na infância e adolescência<br />

e obesidade no adulto. Embora estudos prospectivos de<br />

longo prazo não tenham sido realizados, estudos<br />

retrospectivos e prospectivos de curta duração tendem a<br />

confirmar a hipótese de uma estreita relação.<br />

Investigações sobre excesso de peso ao nascer e<br />

obesidade na infância mostram em geral correlação<br />

pequena. 38 Associação maior foi encontrada, entretanto,<br />

entre obesidade aos 12 meses e em idade mais avançada,<br />

demonstrando também que obesidade grave nesta idade<br />

tem maior tendência a persistir. Uma das limitações<br />

destes estudos é que usam situações prevalentes em um<br />

ponto na infância, por exemplo, o nascimento ou 12<br />

meses como base de comparação, todavia muitos fatores<br />

não dietéticos podem explicar a situação em dado<br />

momento.<br />

A correlação entre ganho de peso na infância e<br />

excesso de peso mais tarde é maior. 40 Estudo<br />

retrospectivo recente mostrou que, embora bebês<br />

amamentados e alimentados com fórmula apresentem<br />

padrões de crescimento similares nos 3 primeiros meses,<br />

o ganho de peso foi maior nos artificialmente alimentados<br />

(410g a mais em meninos e 750g nas meninas 41 no 1º<br />

ano). Superalimentação é um dos maiores riscos<br />

associados à mamadeira e à alimentação suplementar<br />

precoce.<br />

Bebês amamentados parecem regular a ingestão<br />

segundo a necessidade (cap. 2). Quando a mãe assume a<br />

responsabilidade pela quantidade de alimento que o filho<br />

recebe, torna-se possível a superalimentação.<br />

Preocupação desmedida com a alimentação pode<br />

contribuir para a superalimentação, particularmente nas<br />

sociedades em que a imagem do bebê sadio é a de um<br />

bebê rechonchudo. As conseqüências posteriores podem<br />

relacionar-se ao excesso de peso do bebê, à aquisição de<br />

hábitos alimentares indesejáveis ou ambos.<br />

Hipertensão. Um dos principais fatores na etiologia<br />

da hipertensão essencial certamente é a ingestão elevada<br />

de sódio. Não é fácil provar correlação direta, pois parece<br />

que fatores genéticos contribuintes tornam alguns<br />

indivíduos mais vulneráveis que outros. Todavia, a<br />

relação entre alta ingestão de sódio e hipertensão foi<br />

comprovada experimentalmente em ratos. Mais<br />

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