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2008 Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de ... - rio.rj.gov.br

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possível consumir esse gênero, porém a alimentação corrente <strong>do</strong>s po<strong>br</strong>es e<<strong>br</strong> />

escravos não incluía esse tipo <strong>de</strong> carne bovina. O relato <strong>de</strong> Spix e Martius é<<strong>br</strong> />

esclarece<strong>do</strong>r:<<strong>br</strong> />

“Também a alimentação <strong>da</strong>s classes infe<strong>rio</strong>res <strong>do</strong> povo dá pouco ensejo às <strong>do</strong>enças. A mandioca<<strong>br</strong> />

(Cassava), o fubá e o feijão preto, em geral cozi<strong>do</strong>s com toicinho e carne seca ao sol e<<strong>br</strong> />

salga<strong>da</strong>, formam a principal parte <strong>do</strong> embora pesa<strong>do</strong> e grosso alimento, mas saudável para<<strong>br</strong> />

quem faz muito exercício e toma vinho português ou cachaça” (Spix; Martius, 1981, p.60).<<strong>br</strong> />

A <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s viajantes alemães coinci<strong>de</strong> com a feita por De<strong>br</strong>et e também<<strong>br</strong> />

com a <strong>de</strong> Robert Walsh, que afirma que “o alimento <strong>do</strong> po<strong>br</strong>e é o feijão-preto<<strong>br</strong> />

e a farinha <strong>de</strong> mandioca. O primeiro é sempre prepara<strong>do</strong> com toucinho [...]<<strong>br</strong> />

[e] a mandioca é servi<strong>da</strong> também com carne-seca” (Walsh, 1985, pp.215-216).<<strong>br</strong> />

Assim, as carnes mais consumi<strong>da</strong>s por escravos e homens livres po<strong>br</strong>es eram<<strong>br</strong> />

o toucinho e o charque, sen<strong>do</strong> a carne ver<strong>de</strong> um gênero principalmente<<strong>br</strong> />

consumi<strong>do</strong> pelos setores <strong>do</strong>minantes <strong>da</strong> estrutura social urbana e por alguns<<strong>br</strong> />

grupos <strong>do</strong>s homens livres não abasta<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />

Várias já foram as análises <strong>da</strong> alimentação na economia colonial escravista<<strong>br</strong> />

feitas na histo<strong>rio</strong>grafia. Em seu livro clássico, Josué <strong>de</strong> Castro se volta contra<<strong>br</strong> />

Gilberto Freyre, discor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua afirmação <strong>de</strong> que os senhores e os escravos<<strong>br</strong> />

eram os mais bem alimenta<strong>do</strong>s na colônia, ao contrá<strong>rio</strong> <strong>do</strong>s homens<<strong>br</strong> />

livres po<strong>br</strong>es, que tinham uma alimentação insuficiente. Castro prova como<<strong>br</strong> />

os escravos tinham diversos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em função <strong>do</strong> déficit <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

nutrientes, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à má alimentação, o que correspon<strong>de</strong> às <strong>de</strong>scrições <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

viajantes arrola<strong>da</strong>s acima. Castro afirma que se a alimentação <strong>do</strong>s homens<<strong>br</strong> />

livres po<strong>br</strong>es era ruim na época colonial, a <strong>do</strong>s escravos era pior ain<strong>da</strong> ou,<<strong>br</strong> />

na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, similar à <strong>do</strong>s homens livres po<strong>br</strong>es (Castro, 2002,<<strong>br</strong> />

pp.127-128).<<strong>br</strong> />

Maria Yed<strong>da</strong> Linhares e Francisco Carlos Teixeira <strong>da</strong> Silva <strong>de</strong>monstram como,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI, vêem-se duas faixas <strong>de</strong> consumo na colônia, com uma<<strong>br</strong> />

classe <strong>do</strong>minante que optava pelos produtos estrangeiros, como o pão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trigo, o vinho, o azeite, o vinagre, azeitona, queijos e outros (Silva, 1990, p.100;<<strong>br</strong> />

Linhares, op.cit., pp.29-32). Amaral Lapa, ao caracterizar o comércio <strong>da</strong>s monções,<<strong>br</strong> />

também notou a distinção social na alimentação através <strong>do</strong> consumo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> artigos estrangeiros, em que a maioria <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sertão consumia<<strong>br</strong> />

produtos nacionais, ao passo que uma fina faixa <strong>do</strong>minante podia consumir<<strong>br</strong> />

produtos portugueses e estrangeiros (Lapa, 1973, pp.75-110). Esse consumo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> importa<strong>do</strong>s por parte <strong>da</strong>s pessoas mais ricas também era visível no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Janeiro <strong>da</strong> primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> XIX, mas não se po<strong>de</strong> falar, nesse contexto, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

apenas duas faixas <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos.<<strong>br</strong> />

124 O homem como autor <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>struição

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