2008 Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de ... - rio.rj.gov.br

More documents

Recommendations

Info

acusar Duarte Nogueira Soares de falar indevidamente em nome dos imigrantes<br />lusos: “(...) qual dos seus patrícios o autorizou a fazer dos portugueses residentes<br />a famosa muralha de bronze defensora da monarquia?” (Marinho, anexo nº 2).<br />No bojo da crítica publicada em O Paiz, a nacionalidade de Adriano Augusto<br />do Valle deveria ser desconsiderada. Para o jornal, um imigrante luso não se<br />diferenciava de um nacional brasileiro. “Nós e os portugueses aqui residentes<br />formamos como que uma só família”, argumentou o líder republicano, evocando<br />o pressuposto laço de parentesco dos dois povos para pedir abertamente ao<br />governo de Lisboa que destituísse Duarte Nogueira Soares de suas funções no<br />Rio de Janeiro. A poucas semanas da Proclamação da República, Saldanha Marinho<br />não perdeu a ocasião para divulgar a proposta de naturalizar coletivamente<br />os estrangeiros radicados no país, diretriz que no seu entendimento reforçaria<br />as bases nacionais do “povo brasileiro”:<br />“Viesse, o quanto antes, a grande naturalização e, então, irmanados plenamente, brasileiros e<br />portugueses aqui residentes, formando um só povo, com idênticas aspirações, e a democracia nesta<br />terra se levantaria como um gigante, esmagando para sempre os velhos preconceitos, a hipocrisia<br />e os governos dinásticos” (ibid.).<br />Os termos do debate ecoaram forte para além da Corte, destacando-se a publicação<br />de um artigo de Rangel Pestana no jornal A Província de São Paulo, na capital<br />paulista, em protesto à alegada intromissão do ministro lusitano nas atividades<br />partidárias de seus súditos no Brasil. Por um estranho caminho, o episódio de<br />desacato ao Imperador conduziu a imigração portuguesa à berlinda do noticiário<br />sobre estrangeiros, no momento em que sua importância numérica havia se<br />tornado relativamente secundária. Assistia-se, então, ao auge do desembarque<br />de italianos nos portos brasileiros, inclusive no Rio de Janeiro. No ano anterior,<br />1888, entraram no país cinco vezes mais imigrantes da Itália que de Portugal.<br />Pela primeira vez na história étnico-demográfica do Brasil a nacionalidade portuguesa<br />era largamente sobrepujada por outro grupo imigrante europeu.<br />Quando a poeira baixou e o noticiário sobre o desacato ao Imperador desapareceu<br />das páginas dos jornais, o Visconde de Ouro Preto, chefe do último gabinete<br />ministerial do Império, fez o anúncio do desejo manifestado por Dom Pedro II<br />de conceder comenda de honra, união e lealdade a alguns súditos portugueses<br />residentes na sede da Corte, “para tornar evidente que aqueles acontecimentos<br />[o atentado de 15 de julho] não alteravam os sentimentos de amizade entre os<br />dois povos irmãos” (Soares, 1889). O ministro plenipotenciário e conselheiro Duarte<br />Nogueira Soares foi um dos escolhidos, com destaque e notoriedade, para<br />receber a Grã-Cruz da Ordem da Rosa das mãos do Imperador.<br />78 O homem como autor de sua destruição
79<br />Quebrava-se ali um protocolo estabelecido décadas antes pelo próprio Dom<br />Pedro II, que até então jamais havia agraciado um chefe de missão estrangeira<br />creditado no Brasil, senão no momento de sua partida do país. O sentido do<br />ato inédito para com o diplomata português não chegou a ser explicitado pelas<br />autoridades do Rio de Janeiro, para além da afirmação da antiga e conhecida<br />retórica da fraternidade luso-brasileira. A menos de quatro meses da derrocada<br />do Império e da Proclamação da República, o gesto cerimonial do Imperador<br />pode ser compreendido à luz da atuação de Duarte Nogueira Soares no episódio<br />contra o último Imperador, em defesa política da monarquia no Brasil – não em<br />seu foro diplomático, o que de fato não lhe cabia a competência, como assinalava<br />a imprensa republicana, mas sim junto ao complexo emaranhado social que<br />envolvia a imigração de Portugal e o regime de governo vigente nos dois países.<br />Fontes de arquivo<br />Ofício nº25 de Duarte Nogueira Soares,<br />ministro plenipotenciário de Portugal no<br />Brasil, a Henrique de Barros Gomes, ministro<br />dos Negócios Estrangeiros de Portugal; Rio<br />de Janeiro; Legação Diplomática de Portugal<br />no Rio de Janeiro, correspondência recebida,<br />1888/1889, caixa 222, maço 8, AHD-MNE.<br />Anexo s/nº: Recorte de jornal. Editorial<br />“Gabinete Portuguez de Leitura” do Diário<br />de Notícias, Rio de Janeiro, 10.09.1889, s/nº.<br />Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério<br />dos Negócios Estrangeiros de Portugal.<br />Ofício reservado nº10 de Duarte Nogueira<br />Soares, ministro plenipotenciário de Portugal<br />no Brasil, a Henrique de Barros Gomes,<br />ministro dos Negócios Estrangeiros de<br />Portugal; Rio de Janeiro, 25.07.1889; Legação<br />Diplomática de Portugal no Rio de Janeiro,<br />correspondência recebida, 1888/1889, caixa<br />222, maço 8. AHD-MNE.<br />Anexos diversos ao Ofício<br />reservado nº10:<br />a) Anexo nº1a: Relatório de Bernardino<br />Ferreira da Silva, chefe de polícia da 1º<br />Delegacia de Polícia do Município Neutro<br />[16.07.1889];<br />b) Anexo nº1b: Recorte de jornal. Editorial<br />“O Sr. Ministro Portuguez”, de José Ferreira<br />de Souza Araújo, na Gazeta de Notícias, Rio de<br />Janeiro [28.07.1889];<br />c) Anexo nº2: Recorte de jornal. Editorial “A<br />colonia portugueza, o Brazil e o Sr. Ministro<br />de Portugal”, de João Saldanha Marinho,<br />publicado na “Columna Republicana” em O<br />Paiz, Rio de Janeiro, 28.07.1889;<br />d) Anexo nº3: Discurso do diplomata Duarte<br />Nogueira Soares proferido em assembléia no<br />Real Gabinete Português de Leitura, Rio de<br />Janeiro, 24.07.1889. Jornal do Commercio, Rio<br />de Janeiro, 25.07.1889.<br />e) Anexo nº5: Recorte de jornal. Editorial<br />“Chronica da Semana” da Gazeta de Notícias,<br />Rio de Janeiro [22.07.1889];<br />f) Anexo nº6: Carta de Raymundo Capello,<br />ex-cônsul de Portugal em Salvador (BA) e São<br />Luís (MA). Recorte de jornal. Gazeta de Notícias,<br />Rio de Janeiro [26.07.1889];<br />g) Anexo s/nº: Recorte de jornal. Diário do<br />Commercio, Rio de Janeiro, 25.07.1889.<br />Bibliografia<br />BRASIL. Decretos do Governo Provisório da<br />Republica dos Estados Unidos do Brazil,<br />1889/1891. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,<br />1893.<br />CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados,<br />o Rio de Janeiro e a República que não foi. São<br />Paulo: Cia. das Letras, 1987.<br />CERVO, Amado Luiz; MAGALHÃES, José<br />Calvet de. Depois das caravelas. As relações<br />entre Portugal e o Brasil, 1808/2000. Lisboa:<br />Instituto Camões, 2000.<br />COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à República.<br />7ª ed. São Paulo: Unesp, 1999.
Page 1:
Edição 200 anos da chegada da Fam
Page 4 and 5:
Expediente n°2 - 2008 - issn
Page 6 and 7:
Ricardo Macieira Secretário Munici
Page 8 and 9:
Alberto da Costa Silva I D. Jo
Page 10 and 11:
D. João no Rio de Janeiro Alb
Page 12 and 13:
José Maurício Nunes Garcia e, dep
Page 14 and 15:
A Exposição Nacional de 1908:<br
Page 16 and 17:
Neves afirma que havia uma eficáci
Page 18 and 19:
de uma análise, ainda que inicial,
Page 20 and 21:
É possível ver a atualização de
Page 22 and 23:
abertura de estradas, distribuiçã
Page 24 and 25:
Vista dos pavilhões construídos p
Page 26 and 27:
Em 1922, por ocasião da comemoraç
Page 28 and 29: ção de Theodoro Braga para entend
Page 30 and 31: omances históricos - habilíssimos
Page 32 and 33: 9 Para uma análise da historiograf
Page 34 and 35: nas escolas primárias - aqueles me
Page 36 and 37: ensino de história, publicadas em
Page 38 and 39: tência e duração da antiga tiran
Page 40 and 41: the nineteenth century. New York: C
Page 42 and 43: A atuação do naturalista e homem<
Page 44 and 45: tros científicos nem sempre eram o
Page 46 and 47: A criação do cargo de Diretor Ger
Page 48 and 49: desenvolver a metalurgia do ferro,
Page 50 and 51: A produção do salitre (nitrato de
Page 52 and 53: de na forma de se transportar os ca
Page 54 and 55: Numa carta ao ministro Tomás Antô
Page 56 and 57: ian Empire: The Work of João da Si
Page 58 and 59: As fontes em tempos de D. João:<br
Page 60 and 61: 1. O Sistema de Águas no Rio de Ja
Page 62 and 63: Geral da Cidade do Rio de Janeiro,
Page 64 and 65: Ainda em 1798, a destruição desta
Page 66 and 67: coar esta água que sobrava para o
Page 68 and 69: dita Vala principiada, mas também
Page 70 and 71: Ao Senado não restava apenas a fun
Page 72 and 73: Por último e, também, o ponto mai
Page 74 and 75: Um tiro contra o Imperador Jos
Page 76 and 77: acostumado. Álcool e companheiros
Page 80 and 81: COSTA LEITE, Joaquim da. Emigraçã
Page 82 and 83: urbanos e a Metrópole. Dentre as d
Page 84 and 85: Tem início o espetáculo: A Corte
Page 86 and 87: Organizando a Urbe “Dando co
Page 88 and 89: os donos, caixeiros ou freqüentado
Page 90 and 91: normatização da Intendência. O C
Page 92 and 93: do, julgamos que as atitudes de alg
Page 94 and 95: As constantes fugas dos apenados le
Page 96 and 97: serviços prestados pelos Henriques
Page 98 and 99: Bibliografia ALGRANTI, Leila M
Page 100 and 101: Resumo Este artigo apresenta u
Page 102 and 103: O avaliador de escravos é um caso
Page 104 and 105: e arrematados em leilões públicos
Page 106 and 107: pela práxis da labuta no negócio
Page 108 and 109: Se há um local que podemos situar
Page 110 and 111: A empresa escravista, ao mesmo temp
Page 112 and 113: era uma honra devida a alguém reco
Page 114 and 115: “18 de Dez bro de 1824. Diz
Page 116 and 117: predicações, conforme o regime de
Page 118 and 119: A exclusão social do consumo 
Page 120 and 121: entre livres e cativos, cria distâ
Page 122 and 123: esmagados, forma uma pasta consiste
Page 124 and 125: possível consumir esse gênero, po
Page 126 and 127: 2). Em 1820, o juiz almotacé, Anto
Page 128 and 129:
He verdade que tenho distribuído m
Page 130 and 131:
Não se pode afirmar, apenas a part
Page 132 and 133:
Esse mercado negro não pode, no en
Page 134 and 135:
Bibliografia CAMPOS, Pedro Hen
Page 136 and 137:
Entrevista com a doutora Ana C
Page 138 and 139:
Beatriz Kushnir: Ao terminar o seu
Page 140 and 141:
2 Deve referir-se que, sem a colabo
Page 142 and 143:
Economia Política na Bahia, associ
Page 144 and 145:
da rainha D.Carlota, ou mesmo duran
Page 146 and 147:
necessidade de uma proposta de prot
Page 148 and 149:
Isabel Lustosa: Hipólito da Costa
Page 150 and 151:
Isabel Lustosa: Haverá, porventura
Page 152 and 153:
O Príncipe Maldito e a historiogra
Page 154 and 155:
Augusto de Saxe-Coburgo-e-Bragança
Page 156 and 157:
Essas e todas as outras improcedên
Page 160:
Esta obra foi produzida no Rio de J
show all

2008 Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de ... - rio.rj.gov.br

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?