2008 Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de ... - rio.rj.gov.br
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91<<strong>br</strong> />
mas atrás ou senta<strong>do</strong>s no leito <strong>de</strong>las se terem segui<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s males ao que passam pelas<<strong>br</strong> />
ruas e se tolhe o curso livre <strong>da</strong>s seges, quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> se po<strong>de</strong> evitar in<strong>do</strong> os condutores diante<<strong>br</strong> />
em seus respectivos lugares. Serão <strong>de</strong>sta <strong>da</strong>ta puni<strong>do</strong>s os carreiros e pretos <strong>de</strong> carroças que<<strong>br</strong> />
assim se encontrem com a pena os que forem escravos <strong>de</strong> 50 açoites no Calabouço e os livres<<strong>br</strong> />
com 15 dias <strong>de</strong> trabalhos em o<strong>br</strong>as públicas e uns e outros por si, seus amos e<<strong>br</strong> />
senhores pagarão além disso mil réis ao cofre <strong>da</strong> Polícia” (ibid., Fl.27, Edital <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
12/06/1808, grifo nosso).<<strong>br</strong> />
Este foi um <strong>do</strong>s primeiros Editais lança<strong>do</strong>s por Paulo Fernan<strong>de</strong>s Viana<<strong>br</strong> />
tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> questão <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> infratores nas o<strong>br</strong>as públicas. Sabemos que<<strong>br</strong> />
o serviço <strong>de</strong> transporte neste perío<strong>do</strong> era realiza<strong>do</strong> por escravos e libertos.<<strong>br</strong> />
Por isso, o Edital faz questão <strong>de</strong> frisar que estes seriam os primeiros alvos <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
inten<strong>de</strong>nte.<<strong>br</strong> />
Viana poupou, a princípio, os senhores <strong>do</strong>s escravos carreteiros <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
infração, pois eles eram constantemente convoca<strong>do</strong>s para <strong>da</strong>r apoio logístico<<strong>br</strong> />
às o<strong>br</strong>as, como vimos no caso <strong>do</strong> aterro <strong>da</strong>s ruas <strong>do</strong>s Inváli<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> Lavradio.<<strong>br</strong> />
Os libertos – <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua condição – conseguiam muitas vezes escapar<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s trabalhos força<strong>do</strong>s nas o<strong>br</strong>as públicas. Também não eram envia<strong>do</strong>s ao<<strong>br</strong> />
Calabouço para serem açoita<strong>do</strong>s. Ao analisar a histo<strong>rio</strong>grafia <strong>da</strong> escravidão<<strong>br</strong> />
urbana na primeira seção, tivemos a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ver que esse grupo era<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o mais perigoso ao estabelecimento <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m pública.<<strong>br</strong> />
Como estamos tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> em que as práticas absolutistas ain<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
estavam em voga no Impé<strong>rio</strong> português, quem iria controlar o prazo <strong>de</strong> 15<<strong>br</strong> />
dias estabeleci<strong>do</strong> no <strong>do</strong>cumento? <strong>Geral</strong>mente esses pequenos <strong>de</strong>litos <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
quais tratavam os Editais não se convertiam em processos judiciais. O Juiz<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> Crime, ao receber <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong>s patrulhas os “criminosos”, encaminhavaos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as <strong>de</strong>terminações <strong>da</strong> Intendência <strong>de</strong> Polícia <strong>da</strong> Corte. Logo,<<strong>br</strong> />
o uso <strong>de</strong>sses libertos po<strong>de</strong>ria exce<strong>de</strong>r o prazo <strong>de</strong> 15 dias nas o<strong>br</strong>as públicas.<<strong>br</strong> />
Escapar <strong>do</strong> cativeiro senhorial através <strong>da</strong> alforria não significava que os libertos<<strong>br</strong> />
conseguiriam escapar <strong>do</strong> cativeiro público no início <strong>do</strong> século XIX na<<strong>br</strong> />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro.<<strong>br</strong> />
A questão <strong>da</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a era muito importante para o projeto <strong>de</strong> Paulo<<strong>br</strong> />
Viana, mas não era o único problema enfrenta<strong>do</strong> pela Intendência. Os materiais<<strong>br</strong> />
e principalmente as ferramentas necessárias para a execução <strong>da</strong>s o<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />
também precisavam estar disponíveis. A solução encontra<strong>da</strong> foi utilizar as<<strong>br</strong> />
ferramentas <strong>da</strong> Casa <strong>do</strong> Trem 9 . Os Editais e a maneira como Viana vinha<<strong>br</strong> />
conduzin<strong>do</strong> a intervenção na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não contavam com o apoio unânime <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outros representantes <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público. Mesmo que não tenhamos encontra<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
nenhum manifesto contra a política <strong>do</strong> inten<strong>de</strong>nte neste primeiro perío-