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2008 Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de ... - rio.rj.gov.br

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Essas e to<strong>da</strong>s as outras improcedências no livro são os seus pêchés mignons.<<strong>br</strong> />

Mas na<strong>da</strong> que tire o vigor e a “carnici<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>da</strong> o<strong>br</strong>a, por assim dizer. Na<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

mais freyreano. Mary Del P<strong>rio</strong>re, em O Príncipe Maldito, nos revela, como bem<<strong>br</strong> />

prefigura Eduar<strong>do</strong> Bueno na já cita<strong>da</strong> orelha <strong>do</strong> livro, uma narrativa on<strong>de</strong> os<<strong>br</strong> />

personagens estão vivos, vivíssimos; dispensan<strong>do</strong> algumas <strong>de</strong>scrições escatológicas<<strong>br</strong> />

que ele fez questão <strong>de</strong> inserir — no senti<strong>do</strong> biológico e não no teológico<<strong>br</strong> />

—, convi<strong>rj</strong>o no perfil <strong>da</strong> história: “viva, volátil, vi<strong>br</strong>ante. A nossa história”.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> nos três últimos capítulos <strong>de</strong> sua novela, que tem um quê <strong>de</strong> psicohistory<<strong>br</strong> />

— gênero ao qual estariam mais bem familiariza<strong>do</strong>s os anglófonos e<<strong>br</strong> />

francófonos <strong>do</strong> que nós, creio eu —, a autora revela, <strong>de</strong> forma emocionante,<<strong>br</strong> />

o que Francisco José <strong>de</strong> Oliveira Vianna chamou <strong>de</strong> Ocaso <strong>do</strong> Impé<strong>rio</strong> (Oliveira<<strong>br</strong> />

Viana, 1925). Em O mais curto <strong>do</strong>s dias, Início <strong>do</strong> fim e O triste crepúsculo, Mary<<strong>br</strong> />

Del P<strong>rio</strong>re dá ao leitor <strong>br</strong>asileiro uma visão <strong>do</strong>s dias 15, 16, 17 e 18 <strong>de</strong> novem<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 1889 que certamente ele jamais tivera.<<strong>br</strong> />

Os livros didáticos e para-didáticos <strong>de</strong> História no Brasil sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />

sofrível, o que o <strong>br</strong>asileiro comum conhece so<strong>br</strong>e o processo fulcral <strong>de</strong> passagem<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> Monarquia para a República é quase na<strong>da</strong>. O Príncipe Maldito, sob este<<strong>br</strong> />

aspecto, sana muitas dúvi<strong>da</strong>s e, certamente, suscita outras; o que é excelente.<<strong>br</strong> />

Se utilizássemos um viés histórico-teológico-literá<strong>rio</strong> para conceituar os três<<strong>br</strong> />

capítulos finais <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Mary Del P<strong>rio</strong>re, po<strong>de</strong>ríamos dizer que eles a redimem<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os pêchés mignons já aponta<strong>do</strong>s. Isto porque ao <strong>de</strong>scortinar aos<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiros o que significou o advento <strong>da</strong> República entre nós, através <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

golpe <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> militarista, chauvinista, oligárquico e até racista, Mary nos dá<<strong>br</strong> />

conta <strong>de</strong> que o “peca<strong>do</strong> original” <strong>de</strong> Novem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1889 provoca males talvez<<strong>br</strong> />

irremediáveis naquilo que o Prof. José Murilo <strong>de</strong> Carvalho aponta <strong>br</strong>ilhantemente<<strong>br</strong> />

como sen<strong>do</strong> o “difícil percurso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no Brasil” (Carvalho, 2001).<<strong>br</strong> />

Voltan<strong>do</strong> à análise central que nos cabe, resta dizer que O Príncipe Maldito<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>, sim, provocar confusões naqueles interessa<strong>do</strong>s em história, mas<<strong>br</strong> />

alheios às discussões histo<strong>rio</strong>gráficas, que “<strong>de</strong>sco<strong>br</strong>irão” uma D. Isabel megera,<<strong>br</strong> />

um Con<strong>de</strong> d´Eu argentá<strong>rio</strong>, uma D. Teresa Cristina antipática e por aí vai.<<strong>br</strong> />

Conforme já apontei acima, Mary não se preocupou em traçar perfis coesos,<<strong>br</strong> />

digamos assim.<<strong>br</strong> />

Não houve normatização <strong>da</strong>s citações so<strong>br</strong>e D. Pedro Augusto e seus familiares<<strong>br</strong> />

e, além disso, Mary inventou expressões como os “d´Eu” para <strong>de</strong>signar<<strong>br</strong> />

os familiares <strong>de</strong> D. Isabel (Con<strong>de</strong>ssa d´Eu pelo casamento). Essas expressões<<strong>br</strong> />

errôneas, as aleivosias exagera<strong>da</strong>s entre tia e so<strong>br</strong>inho são interessantes, mas<<strong>br</strong> />

nos diálogos que Mary concebe ao longo <strong>do</strong> livro não parece haver nenhum<<strong>br</strong> />

entre os <strong>do</strong>is personagens antagoniza<strong>do</strong>s — e as simplificações so<strong>br</strong>e o III<<strong>br</strong> />

156 O homem como autor <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>struição

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