20.11.2014 Views

A MEMÓRIA DEVORADORA NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES

A MEMÓRIA DEVORADORA NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES

A MEMÓRIA DEVORADORA NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura<br />

São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128<br />

2<br />

pensar a escrita de Antunes como um processo em que, de modo dialógico, há uma<br />

incorporação antropofágica de vários repertórios, ora explicitamente citados, ora<br />

indicados de modo indireto, pela escolha temática ou pelo uso de procedimentos<br />

formais. Vale destacar que a antropofagia e o dialogismo se aproximam (PERRONE-<br />

MOISÉS, 1991) pela compreensão de que qualquer enunciado oral ou escrito se faz a<br />

partir de outros já existentes, com os quais se relaciona, assim, “cada enunciado é um<br />

elo da cadeia muito complexa de outros enunciados” (BAKHTIN, 1992, p. 291).<br />

Escrever, para incluirmos Compagnon nessa rede dialógica, é “[...] sempre<br />

reescrever, não difere de citar. A citação, [...], é leitura e escrita, une o ato de leitura<br />

ao de escrita. Ler ou escrever é realizar um ato de citação” (1996, p.3). Escrever é,<br />

portanto, acionar uma memória, da língua, da leitura, de vivências.<br />

Em seu Manifesto antropófago, publicado em 1928, Oswald de Andrade<br />

defende a incorporação de textos (de) outros, “Só me interessa o que não é meu”, e<br />

faz diversas devorações, como “Tupi or not tupi”, em diálogo com o mais antológico<br />

trecho do mais canônico autor ocidental, Shakespeare, “To be or not to be”. No<br />

processo de rememoração que a escrita aciona, o que não é meu passa a sê-lo.<br />

Escrever é rememorar, e rememorar é apropriar-se de enunciados, articulando-os a<br />

uma longa cadeia enunciativa.<br />

No dicionário, que se constitui como uma das memórias da língua,<br />

encontramos que, etimologicamente, “memória” (lembrança, reminiscência) deriva do<br />

latim memor -oris, (aquele que se lembra), relacionado a meminisse (lembrar-se), e seu

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!