Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 6 galinha, ovo só uma linha . de ponto a ponto, de alto a baixo, da base ao topo e de n ovo , uma só curva , galinha, corvo O ovo, carregado de simbologia, é uma imagem recorrente em diversos textos literários. O diálogo mais explícito nessa escrita devoradora de uma vasta memória do conhecido poema de Paulo Leminski (1983, p. 36): o novo não me choca mais nada de novo sob o sol apenas o mesmo ovo de sempre choca o mesmo novo
Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 7 Por seu turno, o poema leminskiano filia-se a uma longa rede de textos que citam a Bíblia, especificamente o Eclesiastes (1 :9), “O que foi, será, o que se fez, se tornará a fazer: nada há de novo debaixo do sol”. Novo e ovo estabelecem uma relação semântica e sonora – indicada de modo direto nos dois versos finais da terceira estrofe, “e de n/ovo” – muito pertinente à poética de Antunes, que se pauta pela reordenação do anteriormente lido/produzido, em busca de novos arranjos, de novas possibilidades de leitura e elaboração. Similar à imagem do ovo, há uma circularidade no poema (também na memória? Na escrita que retoma/retorna?) entre o primeiro verso “galinha, ovo” e o último: “galinha, corvo”. É possível ver ainda, neste último verso, uma citação de Edgar Allan Poe e seu famosíssimo poema “O corvo” (1999, p. 60). Todas essas referências, quando associadas, parecem compor imagens de memória, escrita, leitura, atadas em uma cadeia associativa na qual a poesia de Antunes se produz. O volume n.d.a. está dividido em três seções. Na primeira, cujo título é homônimo ao livro, aparecem poemas verbais e visuais. A segunda parte, intitulada “Cartões Postais”, concentra 37 fotos em preto e branco tiradas por Antunes, ao longo de dez anos, em diversas cidades brasileiras e estrangeiras: São Paulo, Buenos Aires, Lisboa. A terceira, “Nada de D<strong>NA</strong>”, fez parte anteriormente do livro Como é que Chama o Nome Disso, de 2006, e foi publicada, novamente, nesta obra. Nossa análise se concentrará agora na seção “Cartões postais”, que incorpora, ao corpo do livro, partes do corpo urbano e tece as suas páginas com cenas