A MEMÓRIA DEVORADORA NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES

Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128
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celebrado. Da obra de Antunes, escolhemos para análise o seu décimo e mais recente
livro, n.d.a. (2010).
O título é explicado de modo lúdico nas orelhas do volume: na primeira, há
duas colunas, do lado esquerdo, figuram cinco quadrados, dos quais o último está
assinalado com um X; do lado direito, lê-se: “NENHUMA DAS ALTERNATIVAS/É
UMA ALTERNATIVA/A ÚLTIMA ALTERNATIVA/É NENHUMA DAS
ALTERNATIVAS”; a segunda orelha tem apenas a coluna da direita, formada por
cinco quadrados, todos eles assinalados. Essas orelhas permitem uma leitura em que
n.d.a. remete, simultaneamente, para nenhuma
e para todas as alternativas,
incorporando, assim, a tessitura do teste ou da prova, gênero que se destina a avaliar
conhecimento, a resgatar a memória “correta”. Chave de leitura para o volume, o
título parece indicar que não há uma única opção a ser escolhida, mas que o processo
de feitura dos trabalhos ali apresentados propõe um movimento inclusivo, operação
que aciona variado repertório, em que todas as alternativas são possíveis, são certas,
ou ainda, em que não há mais possibilidade de estabelecer o par dicotômico certo X
errado. O teste é, então, desconstruído; todas as respostas são válidas, não há mais
resposta verdadeira. O título é retomado também no primeiro poema do livro, em que
as estrofes são quase todas iniciadas pelo verso: “nenhuma das alternativas” (p. 14),
seguido de uma lista de recusas:
Nenhuma das alternativas
me atrai –