MAPA DO TRABALHO INFORMAL
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<strong>MAPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>TRABALHO</strong> <strong>INFORMAL</strong><br />
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em Londres, em 1865-66, quando redigia o primeiro<br />
volume d’O Capital. Em primeiro lugar,<br />
trata-se do exército industrial ativo e não de reserva,<br />
este formado pelos sem-trabalho, pelos<br />
desempregados no sentido estrito do termo. Os<br />
desempregados vivem do seguro-desemprego<br />
(enquanto dura) ou são sustentados por economias<br />
ou pelo que ganham outros membros<br />
da família, enquanto ficam em tempo integral<br />
procurando emprego. Os trabalhadores informais<br />
já desistiram de procurar emprego,<br />
como reiteram os entrevistados no Estudo de<br />
Casos desta pesquisa (ver p. 40). Eles saem à<br />
luta, tentando ganhar a vida de qualquer jeito.<br />
Em segundo lugar, trabalham longas jornadas<br />
para ganhar um mínimo. Mostra a pesquisa<br />
que “normalmente os vendedores em ponto<br />
fixo trabalham de segunda a sábado, descansando<br />
aos domingos, mas em muitos casos trabalham<br />
sem folga, de segunda a domingo. A<br />
jornada de trabalho média entre os entrevistados<br />
é de 76 horas por semana”. A jornada semanal<br />
média de trabalho dos vendedores em<br />
trens é de 62 horas a dos vendedores em semáforos<br />
é de 54 horas e a dos catadores de material<br />
reciclável é de 44 horas. Os ganhos são<br />
incertos e muito variáveis nestas profissões. Os<br />
vendedores em ponto fixo, certamente uma das<br />
maiores categorias de trabalhadores informais,<br />
ganham em média R$ 927 por mês, mas “com<br />
uma grande distância entre o menor ganho, que<br />
é de R$ 150,00 e o maior, de R$ 4.000,00”. A<br />
grande maioria dos informais exerce atividades<br />
precárias, quase todas sujeitas a repressão<br />
policial, o que torna os ganhos extremamente<br />
instáveis e incertos.<br />
Uma das características do trabalho informal<br />
é que ele se restringe a poucos ramos de<br />
atividade. Convém lembrar que em 1998, conforme<br />
a pesquisa, 48,2% dos ocupados na<br />
Grande São Paulo estavam neste setor. A grande<br />
maioria deles se dedica ao pequeno comércio<br />
e a serviços de baixa qualificação, inclusive<br />
o doméstico. Estes serviços muitas vezes<br />
exigem experiência e conhecimentos, mas não<br />
escolaridade elevada. Os mercados do trabalho<br />
informal são o desaguadouro de toda a força<br />
de trabalho que desistiu de procurar emprego<br />
ou deixou de contar com suporte material para<br />
fazê-lo. Por isso em todos eles há excesso de<br />
oferta. Sendo quase a metade da força de trabalho<br />
ocupada, os trabalhadores informais têm<br />
acesso a muito menos que a metade da economia<br />
metropolitana, a maior parte da qual é dominada<br />
pelo grande capital, sendo constituída<br />
por mercados oligopolizados, ou seja, em que<br />
a oferta está concentrada em um pequeno número<br />
de empresas, que por isso têm meios de<br />
evitar que ela se torne excessiva.<br />
Para resgatar o trabalho informal da pobreza<br />
é necessário organizá-lo. Mas a forma de<br />
organização não pode ser o sindicato clássico,<br />
porque os trabalhadores informais não têm emprego<br />
regular, não são explorados por empresas<br />
em termos permanentes, sendo antes vítimas<br />
da espoliação de intermediários, usurários,<br />
fiscais e policiais corruptos. Uma forma que<br />
se mostrou eficaz é a cooperativa, à qual pertence<br />
parte dos catadores de material reciclável.<br />
A cooperativa tem por base a solidariedade entre<br />
os trabalhadores, que impede a concorrência<br />
entre eles. No caso dos catadores, por exemplo,<br />
ela lhes permite barganhar de igual para<br />
igual com os recicladores e eventualmente até<br />
substituí-los pela própria cooperativa. Uma cooperativa<br />
que reunisse todos ou a maioria dos<br />
vendedores ambulantes poderia distribuí-los de<br />
forma racional pelos espaços da cidade, sem<br />
impedir a circulação dos clientes potenciais,<br />
organizar em parceria com o poder público<br />
shoppings populares e até desenvolver novas<br />
atividades para ocupar os excedentes.<br />
A organização em cooperativa permite<br />
transformar o trabalho informal em formal e a<br />
pequena produção, fragilizada pelo tamanho<br />
reduzido das unidades, em produção em escala<br />
média e grande. Isso, porém, exige capital, que<br />
pode vir de fonte pública (programas de<br />
geração de trabalho e renda) ou, melhor ainda,<br />
da poupança da própria classe operária,<br />
depositada em cooperativas de crédito que se<br />
organizem em bancos cooperativos. Se for<br />
possível organizar em cooperativas uma<br />
grande parte do trabalho informal, ele deixará<br />
de fazer parte da população relativamente excedente<br />
e seus integrantes deixarão de estar<br />
condenados a trabalhar jornadas máximas para<br />
ganhar um mínimo.<br />
É do maior interesse dos trabalhadores formais<br />
e de seus sindicatos que os trabalhadores<br />
informais se organizem. Embora não concorram<br />
diretamente com os formais, os trabalhado-