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Reserva de Propriedade a Favor do Financiador

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JOÃO PEDRO COSTA CARVALHO <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong> a <strong>Favor</strong> <strong>do</strong> Financia<strong>do</strong>r : 17<br />

12. Atento o exposto, é <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que a referência a “contratos <strong>de</strong> alienação” contida no n.º 1 <strong>do</strong> artigo<br />

409º <strong>do</strong> C.C. é extensiva ao contrato <strong>de</strong> mútuo conexo com o <strong>de</strong> compra e venda.<br />

13. De resto, o entendimento <strong>de</strong> que apenas o incumprimento e resolução <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> alienação<br />

<strong>de</strong>terminariam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se requerer a apreensão <strong>do</strong> veículo aliena<strong>do</strong>, acarretaria a inutilida<strong>de</strong> da cláusula<br />

<strong>de</strong> reserva da proprieda<strong>de</strong> nos casos em que a aquisição <strong>do</strong> veículo é feita através <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> terceiro.<br />

14. Efectivamente, nestes casos, receben<strong>do</strong> o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r da entida<strong>de</strong> financia<strong>do</strong>ra o pagamento integral <strong>do</strong><br />

valor <strong>de</strong> aquisição <strong>do</strong> veículo, haven<strong>do</strong> cumprimento integral <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> alienação pelo compra<strong>do</strong>r, mostrar-seia<br />

<strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> cabimento legal a resolução <strong>do</strong> contrato por parte <strong>do</strong> alienante e, nessa medida, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

executar a seu favor a cláusula <strong>de</strong> reserva da proprieda<strong>de</strong>.<br />

15. Pelo que, sempre que a aquisição <strong>do</strong> veículo é feita através <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> terceiro, a estipulação<br />

da cláusula <strong>de</strong> reserva da proprieda<strong>de</strong> só assume efectivo senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> estabelecida para garantir o cumprimento<br />

<strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> financiamento, uma vez que quem efectivamente corre o risco <strong>de</strong> incumprimento é o mutuante e não<br />

o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> veículo.<br />

16. A não se enten<strong>de</strong>r assim, chegaríamos à situação absurda <strong>de</strong>, incumpri<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> mútuo e sen<strong>do</strong><br />

veda<strong>do</strong> ao financia<strong>do</strong>r invocar o incumprimento e resolução <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> mútuo como causa <strong>do</strong> accionamento da<br />

reserva da proprieda<strong>de</strong> constituída a seu favor, o mutuário – adquirente <strong>do</strong> veículo remisso não po<strong>de</strong>r ser<br />

<strong>de</strong>sapossa<strong>do</strong> <strong>do</strong> veículo <strong>de</strong> que não é efectivamente proprietário.<br />

17. O accionamento da reserva da proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>, pois, ter lugar em consequência <strong>do</strong> incumprimento <strong>do</strong><br />

contrato <strong>de</strong> financiamento, no âmbito <strong>do</strong> qual foi constituída.<br />

18. Outro não po<strong>de</strong>rá ser o entendimento, pois que está-se na presença <strong>de</strong> <strong>do</strong>is contratos directamente<br />

conexiona<strong>do</strong>s entre si, sen<strong>do</strong> certo que, não existin<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> financiamento entre a Recorrente e o Réu,<br />

também não se haveria celebra<strong>do</strong> o contrato <strong>de</strong> compra e venda entre este e o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r.<br />

19. Atento o disposto no artigo 12º <strong>do</strong> DL 359/91, <strong>de</strong> 21.09, sempre se dirá que sen<strong>do</strong> as obrigações que<br />

originaram a reserva da proprieda<strong>de</strong> respeitantes ao contrato <strong>de</strong> mútuo, o não cumprimento <strong>de</strong> tais obrigações<br />

correspon<strong>de</strong>rá ao incumprimento <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> mútuo e a consequente resolução <strong>de</strong>ste último afectará a eficácia<br />

<strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> compra e venda.<br />

20. Contu<strong>do</strong> e admitin<strong>do</strong>, por mero <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> patrocínio e sempre sem conce<strong>de</strong>r, que a cláusula <strong>de</strong> reserva<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> é nula, sempre terá <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> tal cláusula se encontrar registada, sen<strong>do</strong><br />

necessário daí retirar as <strong>de</strong>vidas consequências, o que, com o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> respeito, o <strong>do</strong>uto Tribunal a quo não fez.<br />

21. Por se encontrar <strong>de</strong>vidamente registada a reserva <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> veículo a favor da ora Recorrente, e<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o disposto no DL 54/75, <strong>de</strong> 12/2, tem necessariamente <strong>de</strong> ser or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> o cancelamento <strong>do</strong> registo<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> R., aqui Recorri<strong>do</strong>, pois que este, verda<strong>de</strong>iramente, nunca se tornou real proprietário <strong>do</strong><br />

veículo em questão.<br />

22. Em face <strong>do</strong> exposto, <strong>de</strong>verá ser reconhecida a proprieda<strong>de</strong> da ora Recorrente sobre o veículo objecto<br />

<strong>do</strong>s presentes autos e, consequentemente, ser or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> o cancelamento <strong>do</strong> registo <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong><br />

Recorri<strong>do</strong>.<br />

Não foram apresentadas contra – alegações.

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