07.01.2015 Views

Reserva de Propriedade a Favor do Financiador

Reserva de Propriedade a Favor do Financiador

Reserva de Propriedade a Favor do Financiador

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

JOÃO PEDRO COSTA CARVALHO <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong> a <strong>Favor</strong> <strong>do</strong> Financia<strong>do</strong>r : 9<br />

Enten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo FERNANDO DE GRAVATO MORAIS 45 , que a cláusula <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r não colhe fundamento no regime jurídico <strong>do</strong> crédito aos<br />

consumi<strong>do</strong>res, na medida em que como vimos, visa tutelar o seu direito <strong>de</strong> crédito, protegê-lo,<br />

quan<strong>do</strong> o regime jurídico <strong>do</strong> crédito aos consumi<strong>do</strong>res visa, exclusivamente, a tutela <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r 46 – e serve também este argumento para contrariar aquele que, em virtu<strong>de</strong> da união <strong>de</strong><br />

contratos (e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> todas as questões que tal colocaria em termos <strong>de</strong> ónus <strong>de</strong> prova<br />

<strong>de</strong> tal união e <strong>de</strong> saber se a mesma <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar-se legal ou voluntária 47 ) invoca a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tutela <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r; nem se diga ainda que é <strong>de</strong> relevo a questão <strong>de</strong> na maioria das vezes o<br />

financia<strong>do</strong>r entregar directamente o preço <strong>do</strong> bem ao ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, pois, tal apenas <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>stes<br />

quererem garantir que o fim da<strong>do</strong> ao financiamento é realmente aquele para o qual o mesmo é<br />

contrata<strong>do</strong> 48 . Assim, cai por terra o argumento supra referi<strong>do</strong> da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tutela <strong>do</strong><br />

financia<strong>do</strong>r. Mais se diga a este respeito que, tal como admitem inclusivamente os <strong>de</strong>fensores da<br />

tese da admissibilida<strong>de</strong> da cláusula <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r, este tem ao<br />

seu dispor um vasto leque <strong>de</strong> opções para assegurar tanto o cumprimento <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> mútuo pelo<br />

consumi<strong>do</strong>r, como para assegurar que este não aliena o bem. Referimo-nos às garantias pessoais,<br />

tais como o aval ou a fiança 49 , e às garantias reais, tais como a hipoteca (a este respeito ver o que<br />

dissemos supra no âmbito da primeira tese exposta 50 ). Acresce ainda que, se o financia<strong>do</strong>r preten<strong>de</strong><br />

garantir o seu direito <strong>de</strong> crédito mediante outro meio que não as garantias pessoais ou reais, po<strong>de</strong><br />

optar-se sempre por outro tipo <strong>de</strong> negócio como é o caso da locação financeira 51 – sen<strong>do</strong> certo que<br />

tal implicaria a aquisição <strong>do</strong> bem por parte <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r, para <strong>de</strong>pois o locar; a verda<strong>de</strong> é que<br />

permitir-lhe-ia conservar a proprieda<strong>de</strong> sobre o mesmo até efectivo e integral cumprimento <strong>do</strong><br />

contrato pelo locatário que, po<strong>de</strong>ria, no final, optar por adquirir o bem e nessa altura, apenas, se<br />

transferiria a proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> loca<strong>do</strong>r para o locatário. Mais se diga que, colocan<strong>do</strong> <strong>de</strong> parte a<br />

compra e venda a prestações, talvez seja mesmo esta a realida<strong>de</strong> jurídica mais conducente com a<br />

realida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> estamos perante um contrato <strong>de</strong> crédito ao consumo com cláusula <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r. Vejamos, com aposição <strong>de</strong> tal cláusula preten<strong>de</strong>u-se reservar o<br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> bem para o financia<strong>do</strong>r que, entregou directamente o preço ao ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r; cumpridas as<br />

obrigações <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, o bem <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> estar onera<strong>do</strong> com a reserva <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong><br />

financia<strong>do</strong>r. No caso da locação financeira, teríamos cenário semelhante, o loca<strong>do</strong>r teria <strong>de</strong> adquirir<br />

o bem (entregava o preço ao ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r), <strong>de</strong> seguida colocava-o ao dispor <strong>do</strong> locatário, mas a<br />

proprieda<strong>de</strong> sobre o bem manter-se-ia na titularida<strong>de</strong> <strong>do</strong> loca<strong>do</strong>r até que o locatário, eventualmente,<br />

optasse por adquiri-lo. Assim, também por esta via nos parece <strong>de</strong> recusar a admissibilida<strong>de</strong> da<br />

cláusula <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> financia<strong>do</strong>r, é que o efeito pretendi<strong>do</strong> se consegue<br />

45 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, Contratos <strong>de</strong> Crédito…, p. 303-309.<br />

46 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, Contratos <strong>de</strong> Crédito…, p. 304.<br />

47 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, Contratos <strong>de</strong> Crédito…, p. 307-308.<br />

48 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> …, p. 43 e seg..<br />

49 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, <strong>Reserva</strong> <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> …, p. 43 e seg..<br />

50 Cfr. ainda FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, Contratos <strong>de</strong> Crédito…, p. 305.<br />

51 Cfr. FERNANDO DE GRAVATO MORAIS, Contratos <strong>de</strong> Crédito…, p. 305.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!