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Estudos Paulo Freire - Projeto Guri

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A situação concreta de opressão e os oprimidos<br />

● Neste tópico, o autor visa pontuar algumas características que conformam a<br />

consciência dos sujeitos oprimidos, constituídas no seu percurso de imersão no<br />

contexto sociocultural marcado pela opressão e dominação. Assim, destaca três<br />

aspectos principais:<br />

1. Dualidade do sujeito oprimido e a sua relação com as suas posições fatalistas<br />

ante a realidade<br />

i. A fatalidade não se constitui como um aspecto natural da essência do<br />

sujeito oprimido, mas sim fruto de uma situação histórica concreta de<br />

opressão.<br />

ii. Muitas vezes, tal fatalidade é conectada a uma visão de mundo pautada<br />

pela compreensão mágica da consciência oprimida, que, imersa na<br />

natureza (identificando-se com os aspectos da natureza), caracterizam<br />

a sua situação concreta como destino a que estão submetidos, por<br />

forças intransponíveis (muitas vezes de caráter místico-religioso)<br />

iii. Ao não conseguirem objetivar a si mesmo e a situação concreta de<br />

opressão, não conseguem desvelar a verdadeira razão de tal realidade<br />

e da sua consciência. Tendem então a ações diversas de fatalismo.<br />

2. Atração pela figura do opressor<br />

i. Por hospedar a figura do opressor, na forma de consciência de<br />

opressão, em alguns momentos da sua experiência existencial, o<br />

oprimido identifica “ser mais” como ser parecido com o opressor, ou<br />

seja, participar de seus padrões de vida, de suas visões de mundo.<br />

3. Auto-desvalia do oprimido<br />

i. A ideologia opressora, ao introjetar constantemente no oprimido a ideia<br />

de que não sabem nada, e nem sequer tem a possibilidade saber, que<br />

são incapazes (intelectualmente e na sua atuação no mundo),<br />

constroem uma imagem de si mesmos a partir desta visão opressora<br />

como sujeitos debilitados, a que falta algo para serem sujeitos de<br />

práxis.<br />

ii. Tal situação, frisa o autor, marca da situação concreta de opressão,<br />

torna-se passível de ser modificada justamente na práxis<br />

transformadora, em que estes sujeitos participem dos processos de<br />

transformação da situação opressora como seres ativos em busca da<br />

sua libertação<br />

● Como síntese destas colocações, o autor pontua que tais características da<br />

consciência oprimida devem ser levadas em conta no processo revolucionário, visto<br />

que, ao passo em que tais sujeitos se identifiquem como objetos pertencentes ao<br />

opressor, em que na melhor das hipóteses os mesmos sub-existem dependendo do<br />

mesmo para ser, não terão estes sujeitos as possibilidades de identificar a situação<br />

concreta de opressão em sua razão de ser; não enxergarão o opressor como sujeito<br />

que ativa esta situação. Não conseguirão, portanto, ter a força motivadora necessária<br />

para a luta, que deve se tornar progressivamente crítica no desvelamento da<br />

realidade opressora.<br />

[23] Comentário: Ver aqui a<br />

discussão que <strong>Freire</strong> faz no livro<br />

Educação como prática de liberdade<br />

(sobre a intransitividade da<br />

consciência) e no Extensão ou<br />

Comunicação, sobre as<br />

características da consciência mágica<br />

dos sujeitos imersos no contexto<br />

sociocultural dominador — malaggi<br />

[24] Comentário: Para o autor, a<br />

ideologia dominante, por seus claros<br />

objetivos, negligencia (ou até mesmo<br />

não sabe) o fato de que o processo de<br />

conhecer o mundo se dá em diversos<br />

níveis, e, mesmo que os sujeito<br />

oprimidos não possuam ainda as<br />

condições de desvelar a realidade<br />

opressora na sua razão de ser,<br />

possuem, porém, conhecimentos de<br />

nível de senso comum (doxa), o que<br />

constitui um certo tipo de conhecer,<br />

visto que ninguém ignora tudo sobre<br />

tudo, pelo fato de que ser humano é,<br />

invariavelmente, construir<br />

representações da realidade, que, em<br />

qualquer nível que seja, já é uma forma<br />

de conhece-lá. — malaggi<br />

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em<br />

comunhão.<br />

● Com base em todas as exposições feitas até então no capítulo, o autor pretende<br />

fazer uma síntese da forma e do conteúdo do processo de libertação. Retoma, assim,

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