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Sim, mas existem alguns lugares onde<br />

os obstáculos existem (risos). É muito<br />

bonito ver os animais se movendo. Eles<br />

se mexem com tanta sutileza que parece<br />

fácil. Para nós, é muito técnico, você<br />

precisa se concentrar onde coloca os pés,<br />

e você luta, e então vê um bicho correndo<br />

e se dá conta de que na verdade nós não<br />

fomos feitos para isso.<br />

Falando sobre os riscos, o seu recorde<br />

no Monte McKinley foi alcançado nas<br />

mais duras condições.<br />

Sim, o tempo estava terrível no Denali<br />

[como é chamado no Alasca]. Estava lá<br />

havia 20 dias e tinha apenas passado<br />

três com sol. O tempo estava bom quando<br />

cheguei. Mas depois disso foi ruim.<br />

Quando soube que haveria uma janela<br />

de tempo aberta, decidi arriscar. O tempo<br />

mudou a 5 mil metros: eu estava no meio<br />

das nuvens e ventava forte. Começou a<br />

nevar e minha visibilidade não ia mais<br />

que 20 metros. Então, nos últimos 1,5 mil<br />

metros, realmente dei tudo porque estava<br />

sozinho e tinha que abrir a trilha, o que<br />

era difícil. Eu não sabia se conseguiria<br />

chegar ao cume. Quando consegui, foi<br />

uma sensação muito boa de colocar meus<br />

esquis no pé, porque a escalada tinha<br />

sido muito difícil. Mas o tempo estava<br />

piorando: era uma cerração densa, e eu<br />

podia ver apenas 2 ou 3 metros na minha<br />

frente e nevava pesado. Eu tinha que descer<br />

rápido para quebrar o recorde. Então,<br />

desci direto, praticamente às cegas, já que<br />

eu realmente não sabia o que encontraria<br />

pela frente.<br />

Você teve medo<br />

Não é medo, mas existe um sentimento<br />

constante de preocupação. Se você não<br />

gosta do risco, ou não aceita, não deve<br />

fazer essas coisas. Mesmo indo muito<br />

às montanhas, treinando e vivendo nelas,<br />

Um dos feitos mais<br />

recentes de Jornet<br />

foi a escalada do<br />

McKinley, no Alasca,<br />

onde esquiou por<br />

mais de 11 horas<br />

nunca se sabe de tudo. Pode-se saber apenas<br />

uma parte pequena, e é preciso aceitar<br />

isso. Quando se é jovem, olha-se para a<br />

montanha, enxerga-se sua beleza, mas não<br />

se entendem os riscos. Quanto mais se<br />

cresce em anos e experiência, mais se vê<br />

a montanha de forma diferente. Você entende<br />

os perigos. E eles não são os que você<br />

espera, ou os que os livros avisaram. Sempre<br />

são as coisas mais estranhas, inesperadas,<br />

o ilógico. É preciso saber e compreender<br />

isso se quiser estar nas montanhas.<br />

Outra pausa porque o fotógrafo precisa<br />

ajustar a iluminação. Jornet se acomoda<br />

em um arbusto e colhe umas frutinhas. Ele<br />

faz isso muito durante a entrevista,<br />

pega umas frutinhas<br />

azuis e outras vermelhas. Ele<br />

pega um punhado e as oferece.<br />

“É rico em vitamina C! Tem<br />

tanta comida boa nas montanhas,<br />

é por isso que eu quase<br />

nunca levo nada para comer.<br />

E tem água em todas as partes!”<br />

Então, ele tira uma foto das<br />

frutinhas selvagens na palma<br />

da mão e posta no seu Instagram.<br />

Ele gosta de mostrar<br />

seu dia a dia nas montanhas.<br />

Tem mais de 60 mil seguidores.<br />

Como começou o projeto<br />

“The Summits of My Life”<br />

Comecei há três anos, mas<br />

tenho ele em mente há muito<br />

tempo. Quando era criança,<br />

tinha um pôster enorme do<br />

Matterhorn no quarto, e os<br />

livros que eu lia eram sobre<br />

montanhismo. Então, sabia<br />

o nome dos picos e suas histórias.<br />

Quando comecei a praticar<br />

esportes, aos 13 anos,<br />

fiquei fascinado pela história<br />

de Bruno Brunod e do seu<br />

recorde no Matterhorn, ou<br />

de Stéphane Brosse, quando<br />

ele estabeleceu o recorde<br />

no Mont Blanc… essas foram<br />

as façanhas que me fizeram<br />

sonhar. Essas montanhas e<br />

esses feitos eram ao mesmo<br />

tempo lindos e estéticos.<br />

Stéphane Brosse morreu enquanto<br />

conquistava os oito picos do maciço<br />

do Mont Blanc de esqui com Jornet.<br />

Brosse era um dos seus ídolos.<br />

PROJETO<br />

“SUMMITS<br />

OF MY LIFE”<br />

Por que escolheu esses cumes<br />

O Matterhorn, bom, porque está lá.<br />

E por causa do recorde de Bruno Brunod,<br />

que foi uma conquista inacreditável.<br />

Cruzar o Mont Blanc<br />

(4 810 m)<br />

A rota de Courmayeur a<br />

Chamonix liga as capitais<br />

do alpinismo. 8h42m<br />

(normalmente: 3 dias)<br />

Matterhorn (4 478 m)<br />

Quebrou o recorde<br />

de Bruno Brunod,<br />

seu herói de infância,<br />

em 1983. 2h52m<br />

Mont Blanc (4 818 m)<br />

A montanha mais alta<br />

dos Alpes. 4h57m<br />

McKinley (6 168 m)<br />

A mais alta da América<br />

do Norte e sujeita a<br />

temperaturas polares.<br />

11h48m<br />

Aconcágua (6 959 m)<br />

O pico mais alto da<br />

América do Sul. Ele irá<br />

encarar no fim de 2014.<br />

Monte Elbrus<br />

(5 642 m)<br />

O monte mais alto<br />

e difícil da Europa.<br />

Tentou uma vez e não<br />

conseguiu. Tentará<br />

de novo em 2015.<br />

Everest (8 848 m)<br />

O topo do mundo –<br />

ainda busca liberação.<br />

E o Mont Blanc pela sua posição na<br />

história do montanhismo. O Aconcágua<br />

é o mais alto na América Latina. O Elbrus<br />

é o mais alto da Europa, e eu também<br />

gosto do fato de a Rússia ter a cultura<br />

de selecionar as melhores pessoas para<br />

expedições nas montanhas colocando-as<br />

para escalar essa montanha com velocidade.<br />

Você consegue imaginar uma corrida<br />

entre Chamonix e o cume do Mont<br />

Blanc Impossível, mas é o que acontece<br />

na Rússia, e é por isso que eu gosto tanto<br />

de ir para lá. O McKinley é uma montanha<br />

polar com condições realmente extremas,<br />

e o Everest, é claro, é a mais alta do mundo<br />

e, hoje, com todas as expedições comerciais,<br />

é fácil de escalar. Mas,<br />

se você não vai pela rota normal<br />

e evita as cordas fixas,<br />

então é uma montanha grande.<br />

Como você se sente de subir<br />

o Everest depois de toda<br />

a confusão que aconteceu<br />

neste ano<br />

Muito da confusão surgiu<br />

da forma como a maioria<br />

das pessoas no Oriente lida<br />

com a escalada, de maneira<br />

muito comercial. Quando<br />

Ueli Steck e Simone Moro<br />

estiveram lá, eles escalaram<br />

rápido, então não fazia parte<br />

das ideias de sherpas que<br />

uma escalada daquelas fosse<br />

possível. Com o Everest, se<br />

você vai pela rota normal,<br />

onde todas as outras pessoas<br />

estão escalando, pode ter<br />

problemas. Nós vamos evitar<br />

a rota normal, estaremos sozinhos<br />

daquele lado da montanha.<br />

Haverá apenas quatro<br />

de nós, sem carrega dores.<br />

Nós podemos ter pro blemas<br />

entre nós mesmos (risos),<br />

mas não com os outros.<br />

É hora de ir. Jornet precisa<br />

fazer umas filmagens no<br />

esta cionamento onde nos<br />

encon tramos. Escurecerá<br />

em breve. Ele pega uma das<br />

pesadas sacolas do fotógrafo,<br />

carregada de equipamento,<br />

coloca nos ombros e começa<br />

a descer a trilha. Ele cantarola sozinho,<br />

como faz no filme Déjame Vivir e nos<br />

muitos vídeos em que aparece no YouTube.<br />

Sem forçar, apenas fluindo pelo caminho<br />

pedregoso e enla meado. Infantil e alegre.<br />

Jornet some de vista, a voz do seu canto<br />

sumindo atrás dele. Ele simplesmente<br />

ama fazer o que faz.<br />

www.summitsofmylife.com<br />

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