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criando valores para todos - Growing Inclusive Markets

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CRIANDO VALORES PARA TODOS:<br />

ESTRATÉGIAS PARA FAZER<br />

NEGÓCIOS COM OS POBRES<br />

Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

As Empresas a Serviço do Desenvolvimento O Desenvolvimento a Serviço das Empresas<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento


A P R E S E N T A Ç Ã O D A<br />

EDIÇÃO BRASILEIRA<br />

Quando fomos convidados pelo PNUD, em julho de 2006, a compor um grupo de<br />

pesquisadores que iriam produzir casos empresariais, tivemos a forte sensação de que tratava de algo<br />

importante. A intuição não nos traiu.<br />

Já naquela ocasião, o tema dos mercados inclusivos se apresentava como um aglutinador de interesses<br />

no campo da responsabilidade social empresarial. Os trabalhos de Muhammad Yunus e seu Grameen<br />

Bank, em Bangladesh, se somavam às propostas acadêmicas de C. K. Prahalad e sua Base da Pirâmide,<br />

em Chicago, lançando luzes sobre as relações entre o mundo empresarial e o fenômeno da pobreza.<br />

Ecoavam, em sua intenção de viabilizar escolhas e oportunidades aos pobres, os dilemas atuais de buscar<br />

uma criação de riquezas econômicas que redunde em desenvolvimento social. Este tem se mostrado um<br />

desafio na história humana, evidenciado na atual realidade de desigualdades abismais entre os mais<br />

ricos e os mais pobres.<br />

Além disso, despertou nossa atenção a convicção expressa pelo PNUD de que o setor privado é uma<br />

enorme fonte inexplorada de investimento e inovação <strong>para</strong> se alcançarem os Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio. No nosso Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa, na Fundação Dom<br />

Cabral, temos nos esforçado nos últimos sete anos a desenvolver e aplicar conhecimento que viabilize<br />

justamente a inserção empresarial nos temas da sustentabilidade, vista como decorrência da sua gestão<br />

responsável. Afinal, cabe às escolas de qualquer natureza a inarredável responsabilidade de educar a<br />

humanidade <strong>para</strong> ajudar a construir civilizações.<br />

Dois anos e diversas interações depois, chega-nos um resultado do esforço da Iniciativa Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos, que uniu uma rede de acadêmicos de vários países em desenvolvimento e de<br />

consultores de instituições especializadas sobre o papel do setor privado no desenvolvimento. O relatório<br />

Criando Valores <strong>para</strong> Todos: Estratégias <strong>para</strong> Fazer Negócios com os Pobres aprimora os esforços do<br />

PNUD <strong>para</strong> transformar as idéias e análises da Iniciativa em ações concretas.<br />

Os casos de empresas brasileiras que escrevemos compõem uma base de 50 estudos de caso, artigos<br />

e publicações científicas da qual se extraiu o conhecimento sistematizado e elaborado <strong>para</strong> o conteúdo<br />

do relatório. Aos que o lerão, acadêmicos, gestores, empreendedores, políticos, empresários, desejamos<br />

muitas inspirações <strong>para</strong> aprimoramento de suas ações e planos.<br />

A Fundação Dom Cabral agradece ao PNUD pela oportunidade de participar da Iniciativa e de elaborar<br />

esta versão brasileira. E agradece às empresas Banco Real, Natura, Sadia e VCP, que se abriram à pesquisa<br />

de informações e validação dos casos, pelo patrocínio e incondicional apoio a este trabalho.<br />

Esperamos de coração que deste esforço resultem novos caminhos <strong>para</strong> a redução das ainda cruéis<br />

desigualdades em nosso país.<br />

Pela equipe técnica, Cláudio Bruzzi Boechat<br />

Patrocinadores<br />

Apoio<br />

i


P r e f á c i o d o<br />

Administrador<br />

A Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos, lançada<br />

em 2006, representa a forte convicção do PNUD de que o setor privado é<br />

uma enorme fonte inexplorada de investimento e inovação <strong>para</strong> se alcançar os<br />

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.<br />

A iniciativa foi inspirada no relatório Desencadeando o Empreendedorismo:<br />

Fazendo os Negócios Funcionarem <strong>para</strong> os Pobres, pre<strong>para</strong>do em 2004, pela<br />

Comissão da ONU <strong>para</strong> o Setor Privado e Desenvolvimento, a pedido do então<br />

Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. A Comissão sugeriu que o<br />

PNUD apresentasse relatórios suplementares <strong>para</strong> clarificar como os negócios<br />

estão gerando valor nas condições difíceis de mercado que, freqüentemente,<br />

caracterizam a miséria – e como, durante esse processo, eles poderiam criar<br />

<strong>valores</strong> <strong>para</strong> os pobres.<br />

O presente relatório, que é o primeiro de uma série, aprimora os esforços do<br />

PNUD em tornar as idéias e análises da iniciativa em ações concretas, através<br />

do diálogo com o setor privado, governos e a sociedade civil. Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos é o produto de uma pesquisa baseada em 50 estudos<br />

de caso, além de artigos e publicações científicas de uma rede de acadêmicos<br />

de vários países em desenvolvimento e de um grupo composto por diversos<br />

consultores de instituições especializadas sobre o papel do setor privado no<br />

desenvolvimento.<br />

O relatório Desencadeando o Empreendedorismo mostrou que, sob<br />

condições de mercado favoráveis, o setor privado pode reduzir a miséria e<br />

contribuir <strong>para</strong> o desenvolvimento humano de diversas maneiras. Em uma<br />

economia de mercado, empresas e famílias interagem entre si e com o governo.<br />

Correndo certos riscos, eles ganham lucratividade e rendas que fomentam o<br />

crescimento econômico. O poder da economia de gerar empregos decentes<br />

depende, em grande parte, da vitalidade do setor privado. O setor privado,<br />

por sua vez, ao fornecer bens de consumo e serviços, traz mais escolhas e<br />

oportunidades <strong>para</strong> os pobres.<br />

Entretanto, a eficácia do setor privado em promover o desenvolvimento<br />

depende do equilíbrio do Estado e da qualidade das instituições políticas, sociais<br />

e econômicas.<br />

i


Um Estado forte, com suficientes recursos<br />

humanos, financeiros e institucionais, pode<br />

assegurar que uma economia de mercado<br />

ofereça aos agentes privados os incentivos<br />

<strong>para</strong> expandir a sua capacidade de produção<br />

e <strong>para</strong> fazer bom uso dela. O Estado também<br />

deve ser capaz de assegurar uma competição<br />

justa, bem como a redistribuição de renda – os<br />

desfechos mercadológicos nem sempre são<br />

política ou socialmente aceitáveis. Existe ainda a<br />

necessidade crucial de fornecer proteção social,<br />

apoiando os mais vulneráveis e fortalecendo<br />

a sua capacidade de sustentar meios de vida<br />

produtivos. A abordagem do PNUD é focada no<br />

desenvolvimento do setor privado, mas enfatiza<br />

também os aspectos que garantem o crescimento<br />

a favor dos mais pobres– dando-lhes mais<br />

escolhas, através da oferta de bens e serviços,<br />

ou de oportunidades de geração de renda e<br />

empregos decentes.<br />

A abordagem financeira e de mercado,<br />

aplicada isoladamente, não tem o poder de<br />

combater a miséria. As muitas dimensões da<br />

pobreza exigem soluções diversas e específicas<br />

<strong>para</strong> cada contexto. Muitos pobres podem se<br />

beneficiar com melhor acesso aos mercados<br />

se tiverem, no mínimo, uma estrutura básica –<br />

incluindo moradia, saúde, educação – ou uma<br />

renda, por menor que seja, <strong>para</strong> ajudá-los a ter<br />

acesso a ela. Outros, porém, sem recurso algum,<br />

dificilmente terão participação no mercado. Estes<br />

últimos necessitam de apoio específico <strong>para</strong><br />

ajudá-los a construir um meio de vida sustentável<br />

e tirarem proveito das interações do mercado.<br />

Como o setor privado pode ajudar os<br />

mercados na inclusão dos pobres Em parte,<br />

através da criação e difusão de inovações. O<br />

setor científico e os grandes empreendimentos<br />

tecnológicos podem receber incentivos<br />

governamentais, mas a competitividade<br />

econômica oferece, aos empreendedores e às<br />

empresas, um forte estímulo <strong>para</strong> criar e aplicar<br />

tecnologias e processos inovadores. Por outro<br />

lado, a difusão de novos modelos e práticas<br />

corporativas é fundamental <strong>para</strong> o aumento da<br />

produtividade.<br />

A capacidade da população pobre de se<br />

beneficiar do mercado depende da sua habilidade<br />

de participar e aproveitar as oportunidades<br />

oferecidas por ele. O que o Estado pode fazer<br />

<strong>para</strong> aumentar essa habilidade Ele pode auxiliar<br />

os pobres a desenvolverem o seu capital humano<br />

(saúde, educação e capacitação). O Estado pode<br />

também fornecer infra-estrutura e serviços<br />

essenciais, além de assegurar que os pobres<br />

tenham poderes legais.<br />

O presente relatório se concentra no que o<br />

setor privado pode fazer <strong>para</strong> incluir os pobres<br />

nos negócios como consumidores, empregados e<br />

produtores.<br />

Baseado na longa história do PNUD de<br />

advogar mudanças e de trazer conhecimento,<br />

experiência e recursos a países, de forma a<br />

ajudar os seus povos a conquistarem uma vida<br />

melhor, o relatório começa apresentando os<br />

mercados dos pobres. Ele mostra os desafios<br />

de se fazer negócios onde os mercados sofrem<br />

com a falta de informação, infra-estrutura e<br />

instituições. Mas mostra também como as<br />

empresas lidam com esses desafios – <strong>criando</strong><br />

modelos de negócios inclusivos, que unem o<br />

mercado e os pobres de forma a criar <strong>valores</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>todos</strong>.<br />

Já existem muitas iniciativas nessa área<br />

que são, em grande parte, provenientes<br />

de firmas multinacionais. Entretanto, este<br />

relatório coloca o trabalho de pequenas,<br />

médias e grandes empresas de países em<br />

desenvolvimento em um mesmo plano.<br />

Certamente, as multinacionais podem abrir<br />

caminho dando o exemplo. Com a sua<br />

influência, alcance global e recursos, elas<br />

podem efetivamente aprimorar e replicar<br />

modelos de negócios bem-sucedidos.<br />

Mas como mostrou o Desencadeando o<br />

Empreendedorismo, empresas menores<br />

também têm muito a ensinar sobre as<br />

estratégias que funcionam. Afinal, são elas<br />

que geram a maior parte dos empregos e da<br />

riqueza necessária <strong>para</strong> se alcançarem os<br />

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.<br />

Entretanto, os negócios não se sustentam<br />

sozinhos. Este relatório sugere que as<br />

empresas – juntamente com os governos,<br />

a sociedade civil e a população pobre –<br />

podem construir os alicerces <strong>para</strong> novos<br />

mercados. Os governos devem desencadear<br />

o poder dos negócios, melhorando as<br />

condições de mercado onde vivem os pobres<br />

e removendo barreiras à sua participação<br />

econômica. Organizações sem fins lucrativos,<br />

fornecedores de serviços públicos, instituições<br />

microfinanceiras e outras que já estejam<br />

trabalhando com mercados menos favorecidos<br />

podem colaborar com projetos integrados<br />

que promovam, juntamente com o setor<br />

privado, a geração de novas oportunidades.<br />

Patrocinadores podem facilitar o diálogo entre<br />

o mundo corporativo e o governo ou outros<br />

parceiros. Investidores preocupados com<br />

padrões de desempenho social e instituições<br />

filantrópicas podem fornecer os recursos que<br />

possibilitem empreendimentos urgentes e<br />

incertos. Modelos de negócios que incluam<br />

os pobres exigem amplo apoio, mas oferecem<br />

benefícios a <strong>todos</strong>.<br />

Kemal Dervis<br />

Administrador do PNUD<br />

ii<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


ÍNDICE<br />

Sobre a iniciativa e sua pesquisa<br />

Agradecimentos<br />

VISÃO GERAL<br />

V<br />

XI<br />

1<br />

Parte I. Oportunidades de criação de <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

1 Oportunidades <strong>para</strong> as empresas – e <strong>para</strong> os pobres<br />

Oportunidades <strong>para</strong> as empresas: rentabilidade e crescimento 16<br />

Oportunidades <strong>para</strong> os pobres: promoção do desenvolvimento humano 20<br />

Desvendando o código: exemplos bem sucedidos de negócios com os pobres 25<br />

2 Obstáculos no caminho<br />

Informação de mercado 31<br />

Ambiente regulatório 32<br />

Infra-estrutura física 33<br />

Conhecimento e habilidades 36<br />

Acesso a serviços financeiros 37<br />

Parte II. Cinco estratégias que funcionam<br />

3 Adaptação de produtos e processos<br />

Alavancagem tecnológica 47<br />

Criação de processos de negócios 50<br />

4 Investimento na remoção das restrições de mercado<br />

Foco na geração de valor 57<br />

Criação de valor social 62<br />

5 Fortalecimento do potencial dos pobres<br />

Inserção dos pobres como indivíduos 69<br />

Desempenho por meio de redes sociais existentes 73<br />

6 Combinação de recursos e capacidades com outras instituições<br />

Combinação de capacidades complementares 79<br />

União de recursos 84<br />

7 Engajamento no diálogo político com o governo<br />

Engajamento individual 92<br />

Engajamento através de efeitos demonstrativos 94<br />

Engajamento colaborativo 94<br />

8 Entrando em ação<br />

Anexos<br />

13<br />

15<br />

29<br />

39<br />

45<br />

55<br />

67<br />

77<br />

89<br />

97<br />

103<br />

Anexo 1. Banco de estudos de caso 105<br />

Anexo 2. Metodologia de pesquisa dos estudos de caso 133<br />

Anexo 3. Sobre os mapas gráficos de mercado 137<br />

referências<br />

APÊNDICE - casos de empresas brasileiras<br />

145<br />

157<br />

Caso Natura EKOS 159<br />

Programa de Suinocultura Sustentável Sadia (Programa 3S) 173<br />

Votorantim Celulose e Papel (VCP) 187


QUADROS<br />

Junta Consultiva da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos vi<br />

Estudos de caso pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> a Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos ix<br />

Quadro 1 O que são modelos de negócios inclusivos 2<br />

Quadro 1.1 Modelos de negócios inclusivos e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 21<br />

Quadro 1.2 Acesso a crédito na Guatemala 24<br />

[1] Mapa gráfico de mercado: Famílias vivendo com mais de $2 por dia<br />

[2] Fontes de crédito: Famílias vivendo com mais de $2 por dia<br />

[3] Mapa gráfico de mercado: Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

[4] Fontes de crédito: Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

[5] Oportunidade: Estimativas do uso de crédito na Guatemala entre famílias vivendo com menos ou mais<br />

que $2 por dia<br />

Quadro 1.3 O crescente mercado de telefonia móvel na África do Sul 27<br />

[1] Mapa gráfico de mercado: Famílias vivendo com mais de $2 por dia<br />

[2] Acesso a telefones celulares na África do Sul: Famílias vivendo com mais de $2 por dia<br />

[3] Mapa gráfico de mercado: Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

[4] Acesso a telefones celulares na África do Sul: Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

Quadro 2.1 Sobreposição de restrições no mercado da Guatemala 30<br />

Quadro 2.2 Mapas gráficos de mercado 32<br />

Quadro 2.3 Restrições no mercado afetam a sua estrutura: o mercado de água no Haiti 35<br />

Quadro 2.4 Microseguros na Índia 37<br />

Quadro II.1 Comunicações Inteligentes: remessas internacionais via celular nas Filipinas 42<br />

Quadro 3.1 Estudo de caso – Tsinghua Tongfang: eliminando a exclusão digital 46<br />

Quadro 3.2 Banco móvel: sem agências e sem fios 48<br />

Quadro 3.3 Cartões inteligentes: pagamentos high-tech permitem à Amanz’abuntu levar água aos pobres da África do<br />

Sul 49<br />

Quadro 4.1 Estudo de caso – Tiviski: dinheiro bem gasto 56<br />

Quadro 4.2 Companhia Integrada Tamale Fruit: investindo <strong>para</strong> remover restrições do mercado e assegurar colheitas<br />

de qualidade 59<br />

Quadro 4.3 Oferecendo subsídios <strong>para</strong> o desenvolvimento de modelos de negócios inclusivos: os fundos de desafio do<br />

Departamento <strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido 63<br />

Quadro 5.1 Estudo de caso – HealthStore Foundation: fornecendo serviços de saúde em áreas remotas 63<br />

Quadro 6.1 Estudo de caso – Construmex: “Hazla, Paizano!” 78<br />

Quadro 6.2 Como encontrar um parceiro – sem um parceiro 80<br />

Quadro 6.3 Instituições de microfinanças – agentes varejistas rurais 82<br />

Quadro 7.1 Estudo de caso – CocoTech: resgatando a insuficiente indústria do coco 90<br />

Quadro A2.1 Questões de pesquisa dos estudos de caso 134<br />

Quadro A3.1 Exemplos de iniciativas de mapeamento geográfico da pobreza 138<br />

FIGURAS<br />

Figura 1 Mapa gráfico do acesso ao crédito na Guatemala 3<br />

Figura 2 Matriz estratégica da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos 8<br />

Figura 3 Matriz estratégica da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos e o resumo das soluções 10<br />

Figura 1.1 Figura 1.1 Quatro bilhões de pessoas na base da pirâmide 18<br />

Figura 1.2 Como os consumidores pobres gastam o seu dinheiro 19<br />

Figura 1.3 Assinantes de serviços de telefonia móvel por 100 habitantes, em 2006 26<br />

Figura 2.1 Tempo e custo médio <strong>para</strong> se abrir um negócio, por região 33<br />

Figura 2.2 Empresas encaram a falta de infra-estrutura como um obstáculo substancial 34<br />

Figura 2.3 A penetração dos seguros é baixa na maioria dos países em desenvolvimento 36<br />

Figura II.1 Matriz estratégica da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos 40<br />

Figura 3.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> adaptar produtos e processos<br />

Figura 4.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> investir na remoção de restrições do mercado 65<br />

Figura 5.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> alavancar o potencial dos pobres 75<br />

Figura 6.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> combinar recursos e capacidades com outras instituições 87<br />

Figura 7.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> se engajar no diálogo político com o governo 95<br />

Figura 8.1 Matriz estratégica da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos e o resumo das soluções 98<br />

Figura A2.1 Distribuição de estudos de caso por região, setor e tipo de empresa 135<br />

Figura A3.1 Mapa gráfico do acesso à água no Haiti em 2001 139<br />

Figura A3.2 Mapa gráfico do acesso a telefones celulares na África do Sul, em 2006 (famílias vivendo com mais de $2<br />

per capita por dia) 141<br />

Figura A3.3 Mapa gráfico do acesso a telefones celulares na África do Sul, em 2006 (famílias vivendo com menos de $2<br />

per capita por dia) 142<br />

Fugura A3.4 Interseção de pessoas pobres que possuem telefones celulares, mas não têm acesso a bancos, países<br />

selecionados 143


Sobre<br />

a i n i c i a t i v a e<br />

sua pesquisa<br />

Cabo Verde: Negócios<br />

locais – de pequenos<br />

pescadores a grandes<br />

companhias nacionais –<br />

são o foco principal desta<br />

iniciativa.<br />

Foto: UNICEF/Julie Pudlowski<br />

A Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

responde a uma necessidade de melhor entendimento sobre como o setor<br />

privado pode contribuir <strong>para</strong> o desenvolvimento humano e <strong>para</strong> os Objetivos de<br />

Desenvolvimento do Milênio. Liderada pelo PNUD, a iniciativa foi concebida em<br />

2006, após o sucesso do relatório de 2004 da Comissão da ONU <strong>para</strong> o Setor<br />

Privado e o Desenvolvimento – Desencadeando o Empreendedorismo: Fazendo os<br />

Negócios Funcionarem <strong>para</strong> os Pobres – pre<strong>para</strong>do a pedido do então Secretário-<br />

Geral da ONU, Kofi Annan.<br />

Os objetivos gerais da iniciativa são:<br />

conscientizar, demonstrando como os negócios com os pobres podem<br />

trazer benefícios, tanto <strong>para</strong> eles quanto <strong>para</strong> as empresas;<br />

esclarecer como as empresas, os governos e as organizações da<br />

sociedade civil podem criar <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong>;<br />

inspirar o setor privado a agir.<br />

V


Quadro Junta Consultiva da Iniciativa<br />

Desenvolvendo Negócios Inclusivos<br />

Junta Consultiva da Iniciativa Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos<br />

A Junta Consultiva desenvolveu a essência da<br />

Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos.<br />

Sua orientação e contribuição têm sido de<br />

suma importância <strong>para</strong> a iniciativa e <strong>para</strong> este<br />

relatório.<br />

Agência Francesa de Desenvolvimento<br />

Negócio <strong>para</strong> a Responsabilidade Social (BSR)<br />

Universidade de Dalhousie, Faculdade de<br />

Administração<br />

Escola de Negócios da ESSEC, Instituto de<br />

Pesquisa e Educação em Negociação na Europa<br />

Fundação Européia <strong>para</strong> o Desenvolvimento da<br />

Gestão<br />

Aliança <strong>para</strong> o Desenvolvimento Global,<br />

Agência Norte-Americana <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Internacional<br />

Escola de Negócios de Harvard, Iniciativa<br />

Empresa Social<br />

Escola Harvard Kennedy, Iniciativa <strong>para</strong><br />

Responsabilidade Social Corporativa<br />

Instituto de Negócios, Universidade de West<br />

Indies, Trinidad e Tobago<br />

Fórum Internacional de Líderes Empresariais<br />

Câmara Internacional de Comércio<br />

Corporação Financeira Internacional (IFC)<br />

Johnson School, Centro <strong>para</strong> a Empresa Global<br />

Sustentável, Universidade de Cornell<br />

Instituto de Desenvolvimento Ultramarino,<br />

Programa <strong>para</strong> o Desempenho Corporativo e<br />

Desenvolvimento<br />

Unidade Especial de Cooperação Sul-<br />

Sul, Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento<br />

Fundação das Nações Unidas<br />

Pacto Global das Nações Unidas<br />

Universidade de Michigan, Escola de<br />

Administração Ross, Instituto Willian Davidson<br />

Conselho Empresarial Mundial <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Sustentável (WBCSD)<br />

Fórum Econômico Mundial<br />

Instituto de Recursos Mundiais<br />

Desde o início, o PNUD decidiu criar um<br />

processo aberto que envolvesse múltiplos<br />

stakeholders e o maior número possível de<br />

parceiros e que pudesse evoluir constantemente<br />

conforme as suas necessidades e interesses.<br />

Por isso, a Junta Consultiva da iniciativa<br />

é composta por diversas instituições,<br />

que possuem um interesse no papel do<br />

desenvolvimento do setor privado – incluindo<br />

importantes agências internacionais<br />

de desenvolvimento, organizações<br />

financeiras globais que representam<br />

centenas de companhias e especialistas de<br />

instituições reconhecidas de pesquisa que<br />

operam na interface com os negócios e o<br />

desenvolvimento.<br />

A iniciativa visa fornecer uma<br />

contribuição efetiva aos líderes de mercado<br />

e responsáveis pela formulação de políticas,<br />

no apoio a modelos de negócios que incluam<br />

os pobres – especialmente em países em<br />

desenvolvimento – através da difusão das<br />

descobertas de suas pesquisas e ferramentas<br />

de análise.<br />

Cinco princípios guiam o trabalho da<br />

iniciativa:<br />

Ênfase na essência dos negócios.<br />

A iniciativa promove modelos de negócios<br />

que criam valor, fornecendo produtos<br />

e serviços <strong>para</strong> ou oriundos dos menos<br />

favorecidos, incluindo as estratégias<br />

voltadas <strong>para</strong> a geração de renda de<br />

organizações não governamentais.<br />

Embora tenham razões comerciais<br />

próprias e sejam importantes <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento, atividades puramente<br />

filantrópicas, ou que provam não ser<br />

capazes de se tornarem comercialmente<br />

sustentáveis, não são levadas em conta<br />

pela iniciativa.<br />

Foco no desenvolvimento mundial.<br />

A iniciativa interessa se especialmente nas<br />

empresas de países em desenvolvimento,<br />

<strong>para</strong> que se tornem os atores principais<br />

no fornecimento de bens, serviços<br />

e oportunidades de trabalho <strong>para</strong> a<br />

população pobre. Para ampliar esse foco,<br />

a Iniciativa Desenvolvendo Mercados<br />

Inclusivos comissionou 50 estudos de<br />

caso de instituições acadêmicas e de<br />

pesquisa de diversos países ao redor do<br />

mundo, que vão do Peru ao Quênia e às<br />

Filipinas. Esse processo, que acontece<br />

de baixo <strong>para</strong> cima, sustentado pela<br />

experiência local, está produzindo uma<br />

rede cada vez maior de praticantes<br />

do desenvolvimento, tomadores de<br />

decisão do setor público, empresários e<br />

personagens da sociedade civil.<br />

vi<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Uma estrutura de desenvolvimento<br />

humano orientada pelos Objetivos<br />

de Desenvolvimento do Milênio. O<br />

desenvolvimento humano expande as escolhas<br />

individuais de forma a propiciar a autonomia<br />

e o bem-estar das pessoas. Essa compreensão<br />

da miséria é a linha mestra do PNUD, que<br />

explora e aplica o conceito de desenvolvimento<br />

humano no seu Relatório de Desenvolvimento<br />

Humano, publicado anualmente desde 1990.<br />

A iniciativa também faz uso de uma estrutura<br />

de desenvolvimento humano que, sustentada<br />

na prática dos negócios com os pobres, se<br />

concentra em suprir as suas necessidades<br />

básicas e fornecer-lhes acesso a bens, serviços<br />

e oportunidades de renda que fomentem a sua<br />

capacitação econômica. Isso demonstra como o<br />

setor privado pode contribuir <strong>para</strong> alcançar os<br />

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.<br />

Programas locais. A iniciativa modela se<br />

explicitamente no sucesso do PNUD em<br />

utilizar os seus Relatórios de Desenvolvimento<br />

Humano <strong>para</strong> moldar os programas<br />

nacionais e promover a mudança de<br />

políticas em países do mundo todo. O<br />

escritório do PNUD no Egito já publicou<br />

um relatório nacional sobre “Soluções de<br />

Negócios <strong>para</strong> o Desenvolvimento Humano”,<br />

incentivando o diálogo entre os vários<br />

stakeholders locais.<br />

Abordagem de parcerias e de múltiplos<br />

stakeholders. A iniciativa tem uma<br />

abordagem multisetorial e diversificada,<br />

assim como um comprometimento<br />

em envolver múltiplos parceiros com<br />

conhecimentos diferentes – do universo<br />

acadêmico às associações comerciais –<br />

que sejam líderes nas suas visões sobre<br />

os negócios e o desenvolvimento. Com<br />

esse espírito, as informações, análises e<br />

ferramentas geradas pela iniciativa serão<br />

todas publicadas online, <strong>para</strong> que possam<br />

ser discutidas e complementadas pelos<br />

atores envolvidos.<br />

FERRAMENTAS DE PESQUISA<br />

Entre os objetivos imediatos da Iniciativa<br />

Desenvolvendo Mercados Inclusivos está<br />

a criação de uma base inicial de dados,<br />

informação e produtos analíticos que<br />

aumentará o entendimento sobre os mercados<br />

dos pobres, incluindo oportunidades e desafios<br />

existentes.<br />

Mapas gráficos de mercado identificam<br />

oportunidades delineando o acesso à água,<br />

ao crédito, à eletricidade ou aos serviços<br />

de telefonia. Oferecendo uma visão geral<br />

do cenário – e um primeiro olhar sobre<br />

possíveis mercados – os mapas baseiam-se<br />

nas informações sobre a estrutura desses<br />

mercados, como por exemplo, os diversos<br />

tipos de fornecedores existentes.<br />

A matriz estratégica da Iniciativa<br />

Desenvolvendo Mercados Inclusivos é uma<br />

estrutura analítica que ajuda a identificar<br />

restrições de mercado e refletir sobre meios<br />

de lidar com elas. Essa matriz faz uma<br />

interconexão entre cinco grandes restrições<br />

nos mercados mais pobres com cinco<br />

estratégias que podem solucioná-las.<br />

Polônia: A PEC Luban utiliza a palha como<br />

recurso renovável <strong>para</strong> a geração de calor.<br />

Foto: PEC Luban<br />

O banco de estudos de caso ajuda a encontrar<br />

soluções através do aprendizado com<br />

experiências anteriores. Cinqüenta estudos<br />

de caso, formulados <strong>para</strong> este relatório,<br />

descrevem modelos de negócios bemsucedidos<br />

que incluem os pobres. Resumidos<br />

no Anexo 1, os casos completos estão<br />

disponíveis online no endereço<br />

WWW.growinginclusivemarkets.org. Mais casos<br />

serão adicionados, provenientes da própria<br />

iniciativa e de outras fontes, <strong>para</strong> fazer desse<br />

banco um rico depósito de idéias.<br />

SOBRE a iniciativa e sua pesquisa<br />

VII


ABORDAGEM<br />

A presente pesquisa baseou-se estritamente<br />

em uma abordagem empírica – constatar e<br />

medir o acesso dos pobres aos mercados, e<br />

aprender como os negócios podem ser bemsucedidos<br />

promovendo a inclusão dos menos<br />

favorecidos.<br />

A pesquisa dos estudos de caso seguiu<br />

um princípio indutivo. Os casos identificam<br />

padrões comuns entre os modelos de negócios<br />

descritos e não confirmam uma hipótese préconcebida<br />

sobre quais padrões podem existir.<br />

Com a ajuda das instituições envolvidas<br />

na Junta Consultiva, 50 estudos de caso foram<br />

selecionados entre 400 casos possíveis. Os<br />

casos selecionados precisavam descrever<br />

modelos de negócios que incluem os pobres<br />

de maneiras rentáveis e que claramente<br />

promovem o desenvolvimento humano. Além<br />

disso, tinham de representar uma gama de<br />

países, indústrias e tipos de negócios.<br />

Dezoito autores descreveram os casos<br />

selecionados baseando-se em um protocolo<br />

comum, focando as oportunidades, as<br />

restrições e as soluções <strong>para</strong> cada caso. O<br />

protocolo tornou possível a análise sistemática<br />

dos estudos de caso e a procura por padrões.<br />

O resultado foi a matriz estratégica da<br />

Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos,<br />

que suma riza as restrições dominantes e as<br />

estratégias usadas <strong>para</strong> lidar com elas. (Os<br />

anexos 1 e 2 contêm mais detalhes sobre<br />

a abordagem da pesquisa, com descrições<br />

resumidas dos 50 casos).<br />

Os mapas gráficos de mercado foram<br />

gerados por especialistas da América Latina<br />

e do sul da África. Levantamentos individuais<br />

e por família mediram o acesso aos mercados<br />

que são particularmente importantes <strong>para</strong> os<br />

pobres, como os da água, da eletricidade, do<br />

crédito e de telecomunicações e revelaram a<br />

estrutura desses mercados (expressada, por<br />

exemplo, pelo tipo de fonte ou provedor).<br />

Parte dessas informações foi transformada<br />

em mapas espaciais, <strong>criando</strong> uma ferramenta<br />

que pode ser utilizada intuitivamente. (Mais<br />

detalhes sobre a metodologia da criação<br />

desses mapas se encontram no Anexo 3.)<br />

Bangladesh: Empréstimos de microcrédito fornecidos<br />

pelo PNUD permitem aos moradores do distrito de<br />

Kishoreganj começarem negócios familiares.<br />

Foto: Shamsuz Zaman/ PNUD<br />

viii<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Estudos de casos pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> a Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

Caso<br />

A to Z Textiles (Tanzânia)<br />

Amanco (México)<br />

Amanz’abantu (África do Sul)<br />

ANZ Bank (Fiji)<br />

Aspen Pharmacare (África do Sul)<br />

Associação dos Operadores<br />

Privados de Água (Uganda)<br />

Barclays’ Susu Collectors<br />

Initiative (Gana)<br />

Cashew Production (Guiné)<br />

Celtel (Rep. Dem. do Congo)<br />

Coco Technologies (Filipinas)<br />

Construmex<br />

(México / Estados Unidos)<br />

Danone (Polônia)<br />

Denmor Garments (Guiana)<br />

DTC Tyczyn (Polônia)<br />

Edu-Loan (África do Sul)<br />

Fair Trade Cotton (Mali)<br />

Forus Bank (Rússia)<br />

Huatai (China)<br />

Integrated Tamale<br />

Food Company (Gana)<br />

Juan Valdez (Colômbia)<br />

K-Rep Bank (Quênia)<br />

Lafarge (Indonésia)<br />

LYDEC (Marrocos)<br />

Manila Water Company (Filipinas)<br />

Mibanco (Peru)<br />

Money Express (Senegal)<br />

M-PESA (Quênia)<br />

Mt Plaisir Estate<br />

Hotel (Trinidad e Tobago)<br />

Narayana Hrudayalaya (Índia)<br />

Natura (Brasil)<br />

Nedbank e<br />

RMB/FirstRand (África do Sul)<br />

New Tirupur Area Development<br />

Corp. Ltd. (Índia)<br />

PEC Luban (Polônia)<br />

Pésinet (Mali / Senegal)<br />

Petstar (México)<br />

Procter & Gamble<br />

(Várias localidades)<br />

Rajawali (Indonésia)<br />

RiteMed (Filipinas)<br />

Rural Electrification (Mali)<br />

Sadia (Brasil)<br />

Sanofi-aventis<br />

(África Subsaariana)<br />

SEKEM (Egito)<br />

SIWA (Egito)<br />

Smart (Filipinas)<br />

Sulabh (Índia)<br />

HealthStore<br />

Foundation (Quênia)<br />

Tiviski Dairy (Mauritânia)<br />

Tsinghua Tongfang<br />

(THTF) (China)<br />

VidaGás (Moçambique)<br />

Votorantim Celulose e Papel (Brasil)<br />

Descrição<br />

Produção de redes de dormir resistentes e tratadas com inseticida<br />

Soluções integradas de irrigação <strong>para</strong> pequenos produtores rurais<br />

Fornecimento de água com o uso da tecnologia de cartões inteligentes<br />

Produtos e serviços financeiros móveis<br />

Fabricação de medicamentos antiretrovirais genéricos de baixo custo<br />

Parceria público-privada <strong>para</strong> o fornecimento de água em pequenas cidades<br />

Fornecimento de serviços de microfinanças através dos tradicionais coletores Susu<br />

Parceria focada na revitalização da indústria do caju<br />

Comunicação e serviços bancários móveis em uma economia pós-guerra<br />

Produção de geo-têxteis a partir da casca do coco<br />

Serviços de remessa de <strong>valores</strong> Cash-to-asset<br />

Mingau de leite barato e altamente nutritivo <strong>para</strong> crianças mal nutridas<br />

Produção de vestuário de alta qualidade <strong>para</strong> exportação<br />

Cooperativa distrital de telefonia<br />

Empréstimos <strong>para</strong> o financiamento de estudo superior<br />

Plataforma colaborativa <strong>para</strong> o comércio justo do algodão<br />

Serviços financeiros <strong>para</strong> empreendedores de baixa renda<br />

Produção de celulose <strong>para</strong> a indústria do papel<br />

Sistema de parcerias <strong>para</strong> a produção de mangas orgânicas<br />

Comércio justo do café vinculando diretamente produtores, empresas e consumidores<br />

da cadeia produtiva<br />

Produtos e serviços de microfinanças<br />

Reconstrução de casas e prédios de concreto em áreas atingidas pelo tsunami<br />

Fornecendo água e eletricidade nas favelas<br />

Conectando famílias de baixa renda ao sistema de água encanada<br />

Produtos e serviços de microfinanças<br />

Serviços de transferência de <strong>valores</strong><br />

Serviços bancários móveis<br />

O Ecoturismo como base <strong>para</strong> uma comunidade auto-suficiente<br />

Assistência médica cardiológica de baixo custo<br />

Produção de essências de perfumes provenientes da biodiversidade local<br />

Produtos financeiros voltados <strong>para</strong> o mercado imobiliário de baixa renda<br />

Fornecimento de água <strong>para</strong> indústrias e comunidades<br />

Gerando calor a partir da palha<br />

Método preventivo <strong>para</strong> monitorar a saúde infantil<br />

Serviços de gestão do lixo em comunidades rurais pobres<br />

Purificador de água (em sachês) de baixo custo<br />

Parceria de negócios entre companhias de táxi e motoristas de baixa renda<br />

Produção e distribuição de medicamentos genéricos<br />

Companhias rurais instalando e gerindo sistemas de geração de eletricidade<br />

Produção sustentável de suínos através de tecnologia de biodigestão<br />

Parceria <strong>para</strong> o fornecimento de medicamentos no combate à doença do sono<br />

Produção agrícola orgânica aliada a atividades sociais e culturais<br />

O ecoturismo baseado nas especificidades das comunidades locais<br />

Produtos e serviços de telefonia móvel <strong>para</strong> comunidades estrangeiras de baixa renda<br />

Sistemas sanitários de baixo custo, limpos e inovadores<br />

Microfranquias de saúde<br />

Laticínios provenientes dos camelos de pastores nômades<br />

Computadores de baixo custo <strong>para</strong> usuários rurais<br />

Fornecimento de gás petrolífero liquefeito<br />

Plantando eucaliptos em parceria com pequenos produtores rurais<br />

SOBRE a iniciativa e sua pesquisa<br />

IX


Agradecimentos<br />

Vietnã<br />

Foto: Jim Holmes/UNCDF<br />

Membros da Junta Consultiva<br />

A verdadeira essência da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

baseia se na sua abordagem de múltiplos stakeholders, evidenciada pelo<br />

número e diversidade dos membros da Junta Consultiva. A sua orientação<br />

e contribuição têm se provado inestimáveis <strong>para</strong> a iniciativa e <strong>para</strong> este<br />

relatório. A Junta Consultiva é formada por:<br />

Eduardo Aninat, Ex-Ministro das Finanças do Chile e Diretor-Geral, Anisal<br />

International Consultants Ltd.<br />

Rolph Balgobin, Diretor do Instituto de Negócios, Universidade de West<br />

Indies<br />

Kathryn Bushkin Calvin, Vice-Presidente Executivo e Executivo-Chefe de<br />

Operações, Fundação das Nações Unidas<br />

Jean-Marc Châtaigner, Diretor, Departamento de Planejamento<br />

Estratégico, Agência Francesa de Desenvolvimento (até Junho de 2007)<br />

xi


Eric Cornuel, Diretor, Fundação Européia <strong>para</strong><br />

a Gestão do Desenvolvimento<br />

Aron Cramer, Executivo-Chefe de Operações,<br />

Negócio <strong>para</strong> a Responsabilidade Social<br />

Lisa Dreier, Diretora Associada, Instituto Global<br />

<strong>para</strong> Parceria e Governança, Fórum Econômico<br />

Mundial<br />

Shona Grant, Diretora, Área de Foco no<br />

Desenvolvimento, Projeto Meios de Vida<br />

Sustentáveis, Conselho Empresarial Mundial<br />

<strong>para</strong> o Desenvolvimento Sustentável<br />

Stuart Hart, Professor de Administração,<br />

Samuel C. Johnson, Presidente do Centro <strong>para</strong><br />

a Empresa Global Sustentável, Johnson School,<br />

Universidade de Cornell<br />

Adrian Hodges, Diretor de Gestão, Fórum<br />

Internacional de Líderes Empresariais<br />

Bruce Jenks, Assistente do Secretário-Geral e<br />

Diretor, Departamento de Parcerias, Programa<br />

das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Louise Kantrow, Representante Permanente<br />

das Nações Unidas, Câmara Internacional de<br />

Comércio<br />

Georg Kell, Diretor, Pacto Global das Nações<br />

Unidas<br />

William Kramer, Diretor Representante<br />

(até Agosto de 2007), Instituto de Recursos<br />

Mundiais<br />

Rachel Kyte, Diretora, Departamento de<br />

Desenvolvimento Social e Meio Ambiente,<br />

Corporação Financeira Internacional<br />

Alain Lempereur, Diretor, Instituto de<br />

Pesquisa e Educação em Negociação na<br />

Europa, ESSEC<br />

Ted London, Pesquisador Senior e Diretor,<br />

Iniciativa Base da Pirâmide, Instituto William<br />

Davidson, Universidade de Michigan<br />

Jane Nelson, Membro Senior e Diretora<br />

da Iniciativa de Responsabilidade Social<br />

Corporativa, Escola Harvard Kennedy, e<br />

Diretora de Estratégia, Fórum Internacional<br />

de Líderes Empresariais<br />

Daniel Runde, Diretor (até maio de 2007), e<br />

Jerry O’Brien, Diretor Representante, Aliança<br />

<strong>para</strong> o Desenvolvimento Global, Agência<br />

Norte-Americana <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Internacional<br />

Kasturi Rangan, Malcolm P. McNair<br />

Professor de Marketing e Co-preseidente<br />

da Iniciativa Empresa Social, Escola de<br />

Negócios de Harvard<br />

Harold Rosen, Diretor, Iniciativa Negócios<br />

Populares, Corporação Financeira<br />

Internacional<br />

Michael Warner, Diretor, Programa<br />

<strong>para</strong> o Desempenho Corporativo<br />

e Desenvolvimento, Instituto de<br />

Desenvolvimento Ultramarino (até março de<br />

2008)<br />

David Wheeler, Diretor, Faculdade de<br />

Gestão, Universidade de Dalhousie<br />

Yiping Zhou, Diretor, Unidade Especial de<br />

Cooperação Sul-Sul, Programa das Nações<br />

Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Gostaríamos de prestar homenagem a Robert Davies, o Diretor-Geral do Fórum Internacional<br />

de Líderes Empresariais e membro da Junta Consultiva da Iniciativa Desenvolvendo Mercados<br />

Inclusivos, que faleceu em 18 de agosto de 2007. Robert foi um colega valioso e campeão do<br />

engajamento do PNUD com o setor privado. A iniciativa muito se beneficiou com a sua sabedoria,<br />

apoio e colaboração.<br />

O PNUD também gostaria de agradecer a Chad Bolick (BSR), Sara Carrer (EFMD), Konrad<br />

Eckenschwiller (GC France), Amanda Gardiner (IBLF), Sasha Hurrell (IBLF), Robert Katz (WRI),<br />

Michael Kelly (LPG Foundation), Emmanuelle Lachaussée (AFD), Mark Milstein (Cornell<br />

University), Soren Petersen (GC), Melissa Powell (GC), Tara Rangarajan (BSR), Francisco Simplicio<br />

(SU/SSC), Ross Tennyson (IBLF), Fillipo Veglio (WBCSD) e Jack Whelan (IBLF) pelo apoio<br />

incondicional.<br />

xii<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Após a reunião de março de 2006, os membros da Junta Consultiva<br />

dividiram-se em três equipes de trabalho:<br />

Grupo de Trabalho <strong>para</strong> os Estudos de Caso<br />

Co-diretores: Professor David Wheeler, Diretor da Faculdade de Administração,<br />

Universidade de Dalhousie em Halifax, e o Professor Alain Lempereur, Diretor do<br />

Instituto de Pesquisa e Educação em Negociação na Europa, ESSEC.<br />

Apoiados pela Divisão do Setor Privado do PNUD.<br />

Grupo de Trabalho <strong>para</strong> Dados e Estatísticas<br />

Co-diretores: Professor V. Kasturi Rangan, Malcolm P. McNair, Professor de<br />

Marketing, Escola de Negócios de Harvard, e Eduardo Aninat, Anisal International<br />

Consultants Ltd.<br />

Apoiados pelo Escritório de Estudos em Desenvolvimento do PNUD.<br />

Grupo de Trabalho <strong>para</strong> Comunicação e Expansão<br />

Co-diretores: Jane Nelson, Diretora da Iniciativa <strong>para</strong> Responsabilidade Social<br />

Corporativa, John F. Kennedy School of Government, Universidade de Harvard,<br />

e Eric Cornuel, Diretor Geral e Executivo Principal, Fundação Européia <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento da Gestão<br />

Apoiados pelo Escritório de Comunicação do PNUD.<br />

Autores dos Estudos de Casos<br />

Este relatório não existiria sem a preciosa contribuição dos autores dos estudos de caso:<br />

Farid Baddache, Escola Superior de Ciências<br />

Econômicas e Comerciais (ESSEC), Instituto<br />

de Pesquisa e Educação em Negociação na<br />

Europa (França)<br />

Claudio Boechat, Fundação Dom Cabral<br />

(Brasil)<br />

Juana de Catheu, Escola Superior de Ciências<br />

Econômicas e Comerciais (ESSEC), Instituto<br />

de Pesquisa e Educação em Negociação na<br />

Europa (França)<br />

Pedro Franco, Universidade Del Pacífico<br />

(Peru)<br />

Elvie Grace Ganchero (Filipinas)<br />

Mamadou Gaye, Instituto Africano de<br />

Administração (Senegal)<br />

Dr. Tarek Hatem, Universidade Americana do<br />

Cairo (Egito)<br />

Dr. Prabakar Kothandaraman, Centro de<br />

Pesquisas da Escola de Negócios de Harvard<br />

na Índia (Índia)<br />

Winifred Karugu, Instituto <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento de Recursos Humanos<br />

(Quênia)<br />

Professor Li Ronglin, Instituto Peterson<br />

de Economia Internacional e Centro de<br />

Estudos da Organização Mundial do<br />

Comércio (China)<br />

Robert Osei, Instituto de Estatística Social<br />

e Pesquisa Econômica (Gana)<br />

Melanie Richards, Escola de Graduação em<br />

Negócios Arthur Lock (Trinidad e Tobago)<br />

Boleslaw Rok, Kozminski Academia de<br />

Empreendedorismo e Administração<br />

(Polônia)<br />

Loretta Serrano, Rede de Conhecimento da<br />

Empresa Social do Instituto Tecnológico<br />

de Monterrey (México)<br />

Dr. Shi Donghui, Universidade de Shanghai<br />

(China)<br />

Courtenay Sprague, Escola de Graduação<br />

em Negócios e Administração da<br />

Universidade de Witwatersrand (África do<br />

Sul)<br />

AGRADECIMENTOS<br />

XIII


Contribuidores financeiros<br />

A elaboração deste relatório não teria sido possível sem o apoio financeiro<br />

da Agência Francesa de Desenvolvimento, do governo Japonês e da Agência<br />

Norte-americana <strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional. Merecem uma<br />

menção especial Jean-Marc Châtaigner e Dan Runde, que apoiaram e se<br />

comprometeram com essa iniciativa desde o princípio.<br />

Desenvolvimento do relatório<br />

A iniciativa é especialmente grata ao relatório Desencadeando o<br />

Empreendedorismo, desenvolvido sob a liderança de Paul Martin e<br />

Ernesto Zedillo, com o apoio de Mark Malloch Brown. O Desencadeando<br />

o Empreendedorismo encorajou o PNUD a desenvolver este trabalho. A<br />

iniciativa beneficiou-se com a liderança de Kemal Dervis, Administrador<br />

do PNUD, cujo apoio <strong>para</strong> esse projeto, durante os três últimos anos, tem<br />

sido fundamental. Bruce Jenks, Assistente do Secretário-Geral e Diretor<br />

do Departamento de Parcerias do PNUD, participou da Junta Consultiva e<br />

liderou essa iniciativa desde o seu início.<br />

Este primeiro relatório da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

envolveu diversas divisões dentro do PNUD, todas sob a gestão da Divisão<br />

do Setor Privado, do Departamento de Parcerias do PNUD, e representa um<br />

importante componente da nova Estratégia do Setor Privado.<br />

Grupo gestor sênior do PNUD<br />

O Grupo Gestor Sênior da Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos,<br />

que proveu ampla orientação, é formado por Bruce Jenks, Christian<br />

Thommessen, Pedro Conceição, David Morrison, Sahba Sobhani e Afke<br />

Bootsman. Christian Thommessen, Diretor da Divisão do Setor Privado,<br />

supervisionou o trabalho do Secretariado do Desenvolvendo Mercados<br />

Inclusivos, o qual foi formado <strong>para</strong> liderar o programa de gestão e<br />

implementação da iniciativa, assim como <strong>para</strong> gerir o fluxo de trabalho<br />

dos estudos de caso. Pedro Conceição, Diretor do Escritório de Estudos<br />

em Desenvolvimento, foi quem conduziu o fluxo de trabalho sobre Dados<br />

e Estatísticas. David Morrison, Diretor do Escritório de Comunicação, foi o<br />

responsável pelo trabalho de Comunicação e Expansão.<br />

A iniciativa também beneficiou-se com a parceria da Unidade Especial<br />

de Cooperação Sul-Sul, uma unidade independente da ONU, situada dentro<br />

do PNUD, que apoiou financeiramente a iniciativa sob a liderança do seu<br />

diretor, Yping Zhou.<br />

xiv<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A e q u i p e d o D e s e n v o l v e n d o<br />

M e r c a d o s I n c l u s i v o s<br />

Este relatório foi realizado por uma<br />

dedicada equipe central do PNUD,<br />

incluindo membros da Divisão do Setor<br />

Privado, do Escritório de Estudos em<br />

Desenvolvimento e do Escritório de<br />

Comunicação.<br />

Divisão do Setor Privado<br />

Sahba Sobhani, Gestor do Programa<br />

e Autor Principal do relatório, dirigiu<br />

a equipe da Iniciativa Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos, localizada na Divisão<br />

do Setor Privado do PNUD e composta<br />

pelos seguintes membros:<br />

Secretariado do Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos<br />

Afke Bootsman, Representante do<br />

Gestor do Programa e Coordenador<br />

dos Estudos de Caso<br />

Austine Gasnier, Pesquisadora<br />

Associada<br />

Jan Krutzinna, Consultor em Gestão do<br />

Conhecimento<br />

Patricia Maw, Associada Administrativa<br />

Tracy Zhou, Consultor cedido pela<br />

Unidade Especial <strong>para</strong> a Cooperação<br />

Sul-Sul<br />

Co-autores principais do relatório<br />

Christina Gradl, Universidade Martin<br />

Luther de Halle-Wittenberg<br />

Beth Jenkins, Diretor de Estudos<br />

Políticos, Escola Kennedy Harvard<br />

Kevin McKague, Pesquisador Sênior,<br />

Instituto York de Pesquisa e Inovação<br />

<strong>para</strong> a Sustentabilidade<br />

A assistência de pesquisa em vários estágios<br />

desse trabalho foi fornecida por Semira<br />

Ahdiyyih, Prerna Kapur, Taimur Khilji,<br />

Sana Mostaghim e Suba Sivakumaran. Os<br />

estagiários Alison Laichter, Alia Mahmoud e<br />

Li Yang também estão incluídos.<br />

Escritório de Estudos em Desenvolvimento<br />

O trabalho realizado sobre Dados e<br />

Estatísticas foi liderado por Ronald<br />

Mendoza, Gestor do Projeto, e os<br />

colaboradores Namsuk Kim, economista, e<br />

Nina Thelen, Pesquisadora Associada.<br />

Escritório de comunicação<br />

Os colegas do Escritório de Comunicação<br />

que contribuíram <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

do website, da produção do relatório e das<br />

atividades de comunicação foram Benjamin<br />

Craft, Escritor; Nicholas Douillet, Gestor<br />

do conteúdo na internet; Françoise Gerber,<br />

Coordenadora da Equipe de Comunicação<br />

Externa; Carmen Higa, Assistente<br />

Executiva; Rajeswary Iruthayanathan,<br />

Diretor de Serviços de Comunicação;<br />

Maureen Lynch, Gestora de Produtos de<br />

Comunicação; Boaz Paldi, Especialista de<br />

Teledifusão; Nicole Pierron, Assistente de<br />

Comunicação; Rositsa Todorova, Assistente<br />

do Diretor; e Cassandra Waldon, Diretora de<br />

Comunicação Externa.<br />

Revisores dos Estudos de casos<br />

Jane Comeault, Pesquisadora Visitante,<br />

Universidade de Dalhousie<br />

Editores<br />

Bruce Ross-Larson e Nick Moschovakis.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

XV


Leitores e Especialistas<br />

O conteúdo deste relatório foi aprimorado<br />

pela participação inestimável de vários<br />

leitores e especialistas que generosamente<br />

cederam o seu tempo e conhecimento <strong>para</strong><br />

ajudar a moldar a nossa forma de pensar:<br />

Nava Ashraf, Escola de Negócios de<br />

Harvard<br />

George Dragnich, Departamento de<br />

Estado dos Estados Unidos<br />

Martin Hall, Universidade de Cape<br />

Town<br />

Michael Henriques, Organização<br />

Internacional do Trabalho<br />

Martin Herrndorf, Universidade de St.<br />

Gallen<br />

Matt Humbaugh, Presidio Union, LLC<br />

Aline Krämer, Technische Universität<br />

München<br />

Wilfried Lütkenhorst, Programa das<br />

Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Industrial<br />

Jörg Meyer-Stamer, Mesopartner<br />

Prof. Ingo Pies, Universidade Martin<br />

Luther de Halle-Wittenberg<br />

Julia Steets, Instituto Global de Política<br />

Pública<br />

Eric Werker, Escola de Negócios de<br />

Harvard<br />

Pierre Yared, Escola de Negócios<br />

Columbia<br />

O Grupo de Trabalho sobre Dados e<br />

Estatísticas, sob a liderança do Embaixador<br />

Eduardo Aninat e do Professor V. K.<br />

Rangan, gostaria de agradecer aos<br />

participantes da reunião do grupo<br />

especializado em mercado e pobreza,<br />

realizado em Nova York em dezembro<br />

de 2006, incluindo Pablo Acosta, José<br />

De Luna Martínez, Carlos Linares,<br />

Illana Melzer, Jordan Schwartz, Daniel<br />

Shepherd e Nikola Spatafora. Gostaria<br />

ainda de agradecer aos colaboradores<br />

externos de várias agências da ONU,<br />

internacionais e do meio acadêmico,<br />

incluindo Annie Bertrand, Adriana<br />

Conconi, Lorant Czaran, Paola Deles,<br />

Maitreesh Ghatak, Celine Kauffmann,<br />

Inge Kaul, Branko Milanovic,<br />

Maria Minniti, Ria Moothilal, Liana<br />

Razafindrazay, Mark Schreiner, Balkissa<br />

Sidikou-Sow e Luis Tejerina. Além<br />

desses, também devemos agradecer<br />

a Zeynep Akalin, Christine Yeonhee<br />

Kim, Monica Lo e Brandon Vick por<br />

fornecerem excelente assistência<br />

de pesquisa, bem como aos nossos<br />

colegas do Escritório de Estudos em<br />

Desenvolvimento do PNUD pelos seus<br />

comentários e sugestões.<br />

A Equipe do Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos gostaria de<br />

agradecer a David Wheeler, Co-Diretor<br />

do Grupo de Trabalho dos Estudos de<br />

Caso, por sua excepcional liderança,<br />

incluindo a organização do Case<br />

Studies Workshop realizado em Paris. A<br />

iniciativa muito se beneficiou com a sua<br />

idéia visionária de organizar uma rede<br />

de contatos entre acadêmicos de países<br />

em desenvolvimento <strong>para</strong> conduzirem<br />

pesquisas <strong>para</strong> os estudos de caso. A<br />

Equipe também gostaria de agradecer<br />

a Ted London, Diretor da Iniciativa<br />

Base da Pirâmide, do Instituto William<br />

Davidson, Universidade de Michigan,<br />

pelo seu relatório preliminar ‘A Baseof-the-Pyramid<br />

Perspective on Poverty<br />

Alleviation’.<br />

xvi<br />

CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


PNUD<br />

Um Grupo de Leitores formado por<br />

colegas, dentro do PNUD, forneceu<br />

muitos comentários, sugestões e<br />

contribuições úteis durante a redação do<br />

relatório. Mencionamos especialmente<br />

os colegas:<br />

Flavio Fuertes, PNUD Argentina<br />

Alejandro Pacheco, PNUD El<br />

Salvador<br />

Mohamed El-Kalla e Nahla Zeitoun,<br />

PNUD Egito<br />

Jeff Liew, PNUD Fiji<br />

Hansin Dogan, PNUD Turquia<br />

Pascale Bonzom, PNUD Madagascar<br />

Muitos membros da grande família<br />

das Nações Unidas ofereceram seu<br />

tempo e conhecimento, incluindo Olav<br />

Kjorven, Diretor do Departamento<br />

<strong>para</strong> Políticas de Desenvolvimento e os<br />

seus colaboradores; Gilbert Houngbo,<br />

Diretor do Departamento Regional <strong>para</strong><br />

a África; Diana Opar, Gender Adviser;<br />

Cihan Sultanoglu, Diretor Representante<br />

do Departamento Regional <strong>para</strong> a<br />

Europa e CEI; Abdoulaye Mar Dieye,<br />

Diretor Representante do Departamento<br />

Regional <strong>para</strong> os Estados Árabes;<br />

Maxine Olsen, e várias pessoas-chave<br />

<strong>para</strong> o setor privado na esfera regional,<br />

incluindo Taimur Khilji, Marielza<br />

Oliveira e Alexandra Solovieva. Colegas<br />

da Divisão do Setor Privado também<br />

incluem Lucas Black, Jonathan Brooks,<br />

Anne Delorme, Natsagdorj Gereltogtokh,<br />

Jonas Giersing, Arun Kashyap, José<br />

Medina Valle, Karolina Mzyk, Helena<br />

Nielsen, Rohithari Rajan, Patrick Silborn,<br />

Casper Sonesson, e Tomas Sales.<br />

O Departamento de Parcerias, sob<br />

a orientação de Romesh Muttukumaru,<br />

Representante do Assistente<br />

Administrativo e Representante do<br />

Diretor, e a administração de Yves<br />

Sassenrath, Gestor de Operações,<br />

ofereceu apoio constante <strong>para</strong> o projeto<br />

e contou com o trabalho de Isabel Chang,<br />

Constancia Gratil, Margaret Heymann,<br />

Elfrida Hoxholli, Sunda May, Isabel<br />

Relevo, Ben Ombrete e Ricky<br />

Wong.<br />

Editoração, design e produção<br />

Por fim, agradecemos profundamente a <strong>todos</strong> aqueles que nos ajudaram com a<br />

editoração, produção e tradução, trabalhando com prazos muito curtos: Bruce<br />

Ross-Larson, Nick Moschovakis, Amye Kenall e Christopher Trott, Communications<br />

Development Inc.; Heather Bourbeau, James Cerqua, Jean Fabre, Karen Sturges-<br />

Vera e Dorn Townsend; Julia Dudnik Stern e a sua equipe da Suazion; Fola Yahaya,<br />

Maria Janum, Véronique Litet, Florence Lesur, Francine Hatry-McCaffery, Sylvia Zilly,<br />

Géraldine Chantegrel e Annelise Meyer da Strategic Agenda; Irene Alvear e a sua<br />

equipe da LTS Language Translation Services; e Dennis Lundø Nielsen e a sua equipe<br />

da Scanprint. Agradecemos também a Adam Rogers, Julie Pudlowski, Grégoire Guyon,<br />

Rob Katz, Mariko Tada e Caroline Dewing, por fornecerem as fotos <strong>para</strong> o relatório.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

XVII


V i s ã o<br />

Geral<br />

N e g ó c i o s c o m o s<br />

p o b r e s – c r i a n d o<br />

<strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

Mali: Produtores de algodão<br />

de uma comunidade rural<br />

pobre, envolvidos com o<br />

comércio justo, estão obtendo<br />

rendas mais elevadas.<br />

Comprando deles, as empresas<br />

estão obtendo vantagens<br />

competitivas ao mesmo tempo<br />

em que protegem o meio<br />

ambiente.<br />

Foto: Armor-Lux<br />

O grande predomínio da miséria no mundo de hoje nos<br />

conclama urgentemente a agir. Dos 6,4 bilhões de habitantes no mundo, cerca<br />

de 2,6 bilhões vivem com menos de US$ 2 por dia. 1 Mais de um bilhão não têm<br />

água encanada, 1,6 bilhões não têm eletricidade, 2 e 5,4 bilhões não têm acesso à<br />

Internet. 3 Ainda assim, os pobres acumulam um potencial de consumo, produção,<br />

inovação e atividade empreendedora que é muito pouco aproveitado. Este relatório<br />

mostra como os empreendedores podem ajudar os pobres tornando-os clientes e<br />

consumidores, e incluindo-os como produtores, empregados e donos de negócios.<br />

O relatório oferece ainda vários exemplos de empresas que – fazendo negócios<br />

com os pobres – estão gerando lucro, <strong>criando</strong> novos potenciais de crescimento e<br />

melhorando a vida dessas pessoas. A principal mensagem do relatório é: negócios<br />

com os pobres podem gerar <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong>.<br />

Assim como as oportunidades, os obstáculos também são muitos. Vilarejos<br />

rurais e favelas urbanas são ambientes desafiadores <strong>para</strong> se fazer negócios.<br />

Raramente existem sistemas de cobrança e entrega de bens e de prestação de<br />

serviços. Infra-estruturas essenciais ao mercado são limitadas ou inexistentes.<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

1


Quadro 1. O que são modelos<br />

de negócios inclusivos<br />

Os Modelos<br />

de negócios<br />

inclusivos<br />

envolvem os pobres no processo de<br />

desenvolvimento econômico no âmbito da<br />

demanda, como clientes e consumidores, e no<br />

âmbito da oferta, como empregados, produtores<br />

e donos de negócios em vários pontos das<br />

cadeias de valor. Eles estabelecem elos entre os<br />

negócios e a população pobre, gerando uma<br />

relação de benefício mútuo.<br />

Os benefícios decorrentes dos modelos<br />

de negócios inclusivos vão além de lucros<br />

imediatos e rendas altas. Para os empresários,<br />

eles trazem inovações, criação de novos<br />

mercados e fortalecimento de canais de oferta.<br />

Para os pobres, eles geram maior produtividade,<br />

rendas sustentáveis e capacitação.<br />

Com a sua concepção baseada no trabalho<br />

do Conselho Empresarial Mundial <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Sustentável, este relatório visa<br />

reforçar as iniciativas desta e de outras entidades<br />

que se interessam por negócios inclusivos.<br />

Sem sistemas financeiros funcionais, os<br />

pobres operam apenas em uma economia de<br />

dinheiro vivo. Sem policiamento e sistemas<br />

legais confiáveis, é difícil ou impossível fazer<br />

valer contratos. Para a maioria das empresas,<br />

negociar com os pobres não é uma transação<br />

como outra qualquer.<br />

Possivelmente, o maior obstáculo<br />

seja a falta de informação a respeito dos<br />

pobres. Quais são os bens e serviços de que<br />

necessitam Quanto podem pagar por eles<br />

Quais bens ou serviços eles poderiam produzir<br />

e fornecer O objetivo deste relatório é ajudar<br />

os empresários e as empresas a responder a<br />

interrogações como essas.<br />

O relatório vale-se de 50 estudos de caso<br />

especialmente comissionados sobre negócios<br />

que, apesar dos obstáculos, incluíram os<br />

pobres de forma bem-sucedida e geraram<br />

valor <strong>para</strong> <strong>todos</strong>. Esses casos oferecem uma<br />

gama de idéias <strong>para</strong> modelos de negócios<br />

inclusivos (Quadro 1).<br />

Oportunidades de criação de<br />

<strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

Fazer negócios com os pobres os traz <strong>para</strong> o mercado – um passo crucial no<br />

caminho <strong>para</strong> acabar com a miséria – e, <strong>para</strong> os empresários e firmas traz inovação,<br />

constrói mercados e gera novas oportunidades de crescimento. Modelos de negócios<br />

inclusivos tanto produzem quanto colhem os benefícios do desenvolvimento humano.<br />

Os pobres participam do setor privado. Todos são consumidores. A maioria é<br />

empregada ou autônoma. Mesmo nessa situação, mercados informais fragmentados<br />

impedem que muitas pessoas obtenham os recursos de que necessitam e os<br />

utilizem de forma produtiva. Entre os menos favorecidos, muitos dos negócios são<br />

informais. Amigos e famílias muitas vezes fornecem crédito. Negócios pequenos<br />

e sem regulamentação não raro entregam água engarrafada em caminhões.<br />

Conseqüentemente, a competição fica prejudicada e bens e serviços acabam ficando<br />

muito caros.<br />

Mapas gráficos de mercado revelam a fragmentação desses mercados. Eles<br />

mostram a enorme variação de acesso a bens, serviços e infra-estrutura dentro de um<br />

mesmo país. Na região oeste da Guatemala, por exemplo, mais de 13% das pessoas<br />

que vivem com menos de $2 por dia têm acesso a crédito, mas na região leste, menos<br />

de 8% possui essa facilidade (figura 1). Esse contraste demonstra outras diferenças<br />

entre as condições de mercado das duas áreas, como é o caso das diferenças<br />

no acesso a estradas. (Em mercados pobres, esses impedimentos normalmente<br />

sobrepõem-se, aumentando ainda mais os desafios <strong>para</strong> as empresas.)<br />

2 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 1. Mapa<br />

gráfico do mercado<br />

<strong>para</strong> o acesso<br />

ao crédito na<br />

Guatemala.<br />

Média de famílias vivendo com menos de<br />

$2 por dia, que tem acesso a crédito, por<br />

região, 2000 (%)<br />

Fontes de crédito disponíveis <strong>para</strong> famílias<br />

vivendo com menos de $2 por dia, 2000 (%)<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística da Guatemala.<br />

Mapa produzido por OCHA ReliefWeb.<br />

Sem crédito<br />

Dono de loja, aldeão,<br />

membro da família ou<br />

amigo, outros<br />

Concessor de<br />

empréstimo, instituição<br />

de microcrédito,<br />

cooperativa de crédito<br />

Banco<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

3


O p o r t u n i d a d e s p a r a a s e m p r e s a s :<br />

rentabilidade e crescimento<br />

Os negócios com os pobres podem ser rentáveis.<br />

Mais do que isso, eles podem estabelecer as bases<br />

de um crescimento de longo prazo através do<br />

desenvolvimento de novos mercados e inovações,<br />

com uma demanda crescente por mão-de-obra e<br />

o fortalecimento das cadeias de valor.<br />

Gerando lucros. Negociar com os pobres<br />

pode, em alguns casos, produzir taxas de retorno<br />

mais altas do que investimentos em mercados<br />

já estabelecidos. Algumas instituições de<br />

microcrédito têm obtido mais de 23% de retorno<br />

em patrimônio líquido. A Smart Communications,<br />

uma companhia que fornece serviços de telefonia<br />

pré-paga principalmente <strong>para</strong> consumidores<br />

de baixa renda nas Filipinas, tornou-se a mais<br />

lucrativa das 5.000 maiores corporações do país.<br />

A Sulabh, um provedor de sistemas sanitários<br />

de baixo custo na Índia, teve um superávit<br />

econômico de $5 milhões em 2005.<br />

Desenvolvendo novos mercados. As 4<br />

bilhões de pessoas situadas na base da pirâmide<br />

de renda (definidas como aqueles que ganham<br />

menos de $8 por dia) têm uma renda combinada<br />

de aproximadamente $5 trilhões, o que equivale<br />

à renda bruta nacional do Japão. 5 Elas estão<br />

dispostas a pagar por bens e serviços, e têm<br />

capacidade <strong>para</strong> tal, mas geralmente sofrem<br />

com o “castigo da pobreza”. Freqüentemente,<br />

os pobres precisam pagar mais do que<br />

consumidores ricos por produtos e serviços<br />

essenciais. Os moradores das favelas de Jacarta,<br />

Manila e Nairóbi pagam de 5 a 10 vezes mais<br />

<strong>para</strong> terem água do que moradores das áreas<br />

de alta renda dessas cidades – e mais do que<br />

os consumidores de Londres ou Nova York. “O<br />

castigo da pobreza” é o mesmo em relação a<br />

crédito, eletricidade e serviços de saúde. 6<br />

Conseqüentemente, modelos de negócios que<br />

valorizem melhor o dinheiro dos pobres – ou<br />

produtos e serviços inovadores que melhorem<br />

suas vidas – podem render lucros inusitados.<br />

Promovendo a inovação. O desafio de<br />

desenvolver modelos de negócios inclusivos<br />

pode levar a inovações que contribuem <strong>para</strong> a<br />

competitividade de uma empresa. Por exemplo,<br />

<strong>para</strong> atender às preferências e necessidades<br />

dos pobres, as companhias devem oferecer<br />

novas combinações de preço e desempenho.<br />

Além disso, as várias restrições que as<br />

empresas encontram ao fazer negócios com os<br />

pobres – desde dificuldades de transporte até<br />

a incapacidade de validar contratos – exigem<br />

respostas criativas. Esses obstáculos conduzem<br />

ao desenvolvimento de novos produtos,<br />

serviços e modelos de negócios que podem ser<br />

amplamente replicados em outros mercados,<br />

dando a empresas inovadoras uma vantagem<br />

competitiva nos mercados menos favorecidos.<br />

Expandindo a reserva de mão-de-obra.<br />

Os pobres são uma enorme fonte de mão-deobra.<br />

As vantagens em contratá-los vão além<br />

da economia nos custos. Com treinamento<br />

adequado e um marketing bem direcionado, os<br />

pobres podem oferecer produtos e serviços de<br />

alta qualidade. Além disso, o seu conhecimento<br />

sobre a própria comunidade e a sua rede de<br />

contatos locais, pode dar-lhes uma vantagem ao<br />

servir outros consumidores pobres.<br />

Fortalecendo a cadeia de valor. Para<br />

empresas que contratam localmente, incorporar<br />

os pobres na cadeia de valor dos negócios –<br />

como produtores, fornecedores, distribuidores,<br />

varejistas e franqueados – pode expandir a<br />

oferta e diminuir os riscos. Isso permite ainda a<br />

redução de custos e o aumento da flexibilidade,<br />

sobretudo na medida em que os negócios locais<br />

se tornam atividades mais especializadas e<br />

que exigem mais habilidades, como é o caso<br />

da produção de componentes e do setor de<br />

serviços.<br />

O p o r t u n i d a d e s p a r a o s p o b r e s :<br />

promoção do desenvolvimento humano<br />

Os negócios também podem proporcionar uma vida melhor aos pobres, contribuindo em grande<br />

escala <strong>para</strong> o que a ONU denomina de “desenvolvimento humano” – expandindo as oportunidades<br />

das pessoas <strong>para</strong> que tenham qualidade de vida.<br />

Atendendo às necessidades básicas. Comida, água potável, saneamento básico, eletricidade e<br />

serviços de saúde, são itens essenciais <strong>para</strong> a vida. Nas Filipinas, a RiteMed vende medicamentos<br />

genéricos <strong>para</strong> mais de 20 milhões de clientes de baixa renda a preços que variam de 20% a 75%<br />

menos do que medicamentos de marca.<br />

4 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Guiné: A melhora na infra-estrutura de transporte<br />

permitirá que os pobres se tornem mais produtivos.<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

Na África do Sul, a Amanz’abantu fornece<br />

água limpa e saneamento <strong>para</strong> populações da<br />

periferia e das áreas rurais no Cabo Oriental,<br />

onde um quarto da população não tem acesso<br />

à água potável.<br />

Tornando os pobres mais produtivos. O<br />

acesso a produtos e serviços – de eletricidade<br />

à telefonia móvel, de equipamentos<br />

agrícolas ao crédito e seguros – melhora a<br />

produtividade das pessoas. No México, a<br />

Amanco fornece a pequenos produtores de<br />

limão sistemas de irrigação de baixo consumo<br />

de água que permitem a produção contínua,<br />

durante 8-10 meses por ano. Espera-se<br />

que esses sistemas permitam o aumento<br />

da colheita dos fazendeiros de 9 <strong>para</strong> 25<br />

toneladas por hectare. No Marrocos, a Lydec<br />

fornece água e eletricidade nas favelas de<br />

Casablanca, aumentando em 20% a média de<br />

pessoas com acesso a esses serviços.<br />

Aumentando as rendas. A inclusão<br />

dos pobres em cadeias de valor, como<br />

consumidores, empregados, produtores<br />

e donos de pequenos negócios, pode<br />

desencadear o aumento de suas rendas.<br />

No caso da Amanco, no México, esperase<br />

que os aumentos de produtividade<br />

tripliquem a renda nas propriedades rurais.<br />

Na China, a Huatai fornece fontes de renda<br />

alternativas <strong>para</strong> os madeireiros locais e<br />

incrementa de forma significativa a renda de<br />

aproximadamente 6.000 famílias rurais. Na<br />

Tanzânia, a A to Z Textiles emprega 3.200<br />

pessoas (sendo 90% delas mulheres) na<br />

produção de redes de dormir tratadas contra<br />

insetos e paga a elas um salário que chega a<br />

ser de 20 a 30% mais alto do que o mesmo<br />

pago por seus competidores.<br />

Capacitando os pobres. Todas essas<br />

contribuições apóiam a capacitação<br />

dos menos favorecidos, individual e<br />

coletivamente, <strong>para</strong> que obtenham<br />

maior autonomia sobre suas vidas.<br />

Aumentando a conscientização, oferecendo<br />

informação e treinamento, incluindo<br />

grupos marginalizados, oferecendo novas<br />

oportunidades e promovendo esperança e<br />

orgulho, os modelos de negócios inclusivos<br />

podem dar a confiança e motivação<br />

necessárias <strong>para</strong> que essas pessoas saiam da<br />

miséria pelos seus próprios meios.<br />

O b s t á c u l o s n o<br />

caminho<br />

Com tamanhas oportunidades, por que a<br />

maioria das empresas não tira proveito<br />

delas Simplesmente porque as condições<br />

de mercado que cercam os pobres podem<br />

tornar os negócios uma tarefa difícil,<br />

arriscada e cara. Onde a miséria prevalece,<br />

as bases <strong>para</strong> um mercado funcional muitas<br />

vezes não existem, impedindo os pobres<br />

de participarem de forma significativa e<br />

apresentando obstáculos às empresas que<br />

desejam fazer negócios com eles.<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

5


Os estudos de caso presentes neste relatório<br />

identificam cinco grandes obstáculos:<br />

Informação de mercado limitada.<br />

As empresas sabem muito pouco a respeito<br />

dos pobres – o que eles preferem, quanto<br />

podem pagar e o que têm a oferecer como<br />

empregados, produtores e donos de negócio.<br />

Essa foi uma das grandes restrições de mercado<br />

que ocorreu quando o Barclays Bank começou<br />

a oferecer produtos financeiros aos pobres de<br />

Gana.<br />

Ambiente regulatório ineficiente.<br />

Os mercados menos favorecidos carecem<br />

de estruturas reguladoras que permitam<br />

o funcionamento dos negócios. Regras e<br />

contratos não são cumpridos. Pessoas e<br />

empresas não têm acesso a oportunidades<br />

e proteções que um sistema legal funcional<br />

oferece. A Sadia, por exemplo, uma empresa<br />

de processamento de alimentos, enfrentou<br />

regulamentações obsoletas do mercado<br />

doméstico de créditos de carbono quando<br />

começou a utilizar mé<strong>todos</strong> ambientais mais<br />

eficientes <strong>para</strong> o descarte de dejetos suínos.<br />

Infra-estrutura física inadequada.<br />

Quando o transporte é restringido pela<br />

falta de estradas e infra-estrutura de apoio,<br />

redes de fornecimento de água, eletricidade,<br />

saneamento e telecomunicações não podem<br />

existir. Contudo, temos exemplos como o de<br />

um fabricante de computadores, a Tsinghua<br />

Tongfang, que, querendo distribuir o seu<br />

produto na área rural chinesa, teve de superar<br />

a falta de infra-estrutura de telecomunicações<br />

e de provedoras de acesso à internet.<br />

Falta de conhecimento e habilidades.<br />

Consumidores pobres podem não conhecer<br />

a utilidade e os benefícios de determinados<br />

produtos, ou então, podem não saber como<br />

utilizá-los de forma eficaz. Fornecedores,<br />

distribuidores e varejistas pobres podem<br />

não ter o conhecimento e a habilidade<br />

necessárias <strong>para</strong> oferecer produtos e serviços<br />

de qualidade de forma eficiente, no prazo e<br />

preço estabelecidos. Foi nesse contexto que a<br />

Natura, no Brasil, precisou treinar produtores<br />

rurais locais – que não sabiam como cultivar a<br />

priprioca, uma planta usada na fabricação de<br />

perfumes.<br />

Acesso restrito a produtos e serviços<br />

financeiros.<br />

Sem crédito, produtores e consumidores<br />

pobres não podem financiar investimentos ou<br />

compras de grande importância. Sem seguros,<br />

eles não conseguem proteger as suas poucas<br />

posses ou prevenir-se de intempéries como<br />

doenças, secas ou roubos. Na ausência de<br />

serviços bancários, financiamentos também<br />

são inseguros e caros.<br />

Cinco estratégias que funcionam<br />

Apesar desses desafios, um número crescente<br />

de negócios opera com sucesso em mercados<br />

pobres. Os exemplos apresentados neste relatório<br />

abrangem uma vasta gama de países e indústrias.<br />

Cada negócio exemplificado desenvolveu um<br />

conjunto de soluções específicas, permitindo<br />

o sucesso dentro do seu contexto local e de<br />

acordo com os seus objetivos. Os estudos de<br />

caso também revelam padrões comuns. Os<br />

empreendedores respondem aos obstáculos<br />

contornando-os ou eliminando-os. Para isso, eles<br />

se utilizam de cinco estratégias básicas: adaptação<br />

de produtos e processos, foco na remoção<br />

das restrições de mercado, fortalecimento do<br />

potencial dos pobres, combinação de recursos<br />

e capacidades com outras instituições e<br />

engajamento no diálogo político com o governo.<br />

Cada uma dessas estratégias depende do<br />

contexto local e dos objetivos das empresas.<br />

O ingrediente fundamental adicionado é: a<br />

criatividade do empresário. O relatório apresenta<br />

ferramentas e exemplos <strong>para</strong> estimular essa<br />

criatividade, destacando obstáculos, estratégias e<br />

soluções específicas <strong>para</strong> o desenvolvimento de<br />

modelos de negócios inclusivos.<br />

A matriz estratégica do Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos relaciona os cinco grandes<br />

obstáculos com as cinco estratégias básicas<br />

(figura 2), mostrando como essas estratégias<br />

são mais freqüentemente aplicadas: as<br />

destacadas em azul escuro são as mais usadas,<br />

as que estão em azul claro, apenas raramente.<br />

A matriz estratégica pode ajudar<br />

empreendedores e analistas a buscar soluções<br />

possíveis <strong>para</strong> os obstáculos que enfrentam.<br />

É importante notar que modelos de negócios<br />

inclusivos bem-sucedidos, geralmente,<br />

combinam várias estratégias <strong>para</strong> enfrentar<br />

vários obstáculos. Para se chegar a estratégias<br />

abrangentes ou mesmo a soluções bem<br />

específicas, deve-se não apenas identificar as<br />

restrições locais, mas também compreender<br />

as suas dinâmicas dentro do mercado –<br />

possibilitando a constituição de um modelo de<br />

negócio a partir de potencialidades específicas<br />

de um determinado mercado.<br />

6 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Adaptação de produtos e processos.<br />

Muitos empreendedores contornam as<br />

restrições de um mercado adaptando os<br />

produtos e processos do seu negócio.<br />

Tecnologias de informação e comunicação<br />

criaram possibilidades <strong>para</strong> muitas dessas<br />

adaptações, incluindo serviços bancários<br />

móveis, cartões inteligentes (como os usados na<br />

África <strong>para</strong> a compra de água) e tele-medicina,<br />

que proporciona serviços de saúde de qualidade<br />

<strong>para</strong> áreas remotas. O banco móvel (m-banking)<br />

liberou os processos bancários de agências<br />

físicas e automatizou os caixas eletrônicos, um<br />

tipo de infra-estrutura rara em locais pobres. Os<br />

clientes podem agora enviar dinheiro, receber<br />

remessas, pagar por compras e serviços, tudo<br />

através dos seus telefones celulares. Empresas<br />

também estão usando outras tecnologias <strong>para</strong> a<br />

purificação de água e produção de eletricidade<br />

independente <strong>para</strong> superar obstáculos em<br />

indústrias que atendem às necessidades<br />

básicas. Algumas abordagens tecnológicas<br />

inovadoras estão, inclusive, reduzindo o uso<br />

de recursos naturais – combinando o objetivo<br />

do desenvolvimento humano com o da<br />

sustentabilidade ambiental.<br />

A reestruturação de processos de negócios<br />

pode ser tão importante quanto o uso de novas<br />

tecnologias. A disseminação global da telefonia,<br />

por exemplo, é impulsionada pela tecnologia<br />

sem fio. Mas trazer serviços de telefonia móvel<br />

<strong>para</strong> comunidades pobres vem dependendo, em<br />

parte, de uma mudança no processo do negócio<br />

– a mudança de planos de contas pós-pagas<br />

<strong>para</strong> cartões pré-pagos. Com o pagamento<br />

“inteligente” e mé<strong>todos</strong> de preços, um modelo de<br />

negócio inclusivo pode se adequar às condições<br />

de clientes e fornecedores que enfrentam<br />

problemas de renda baixa e incerta, e de falta de<br />

acesso a serviços financeiros. Da mesma forma,<br />

fornecer infra-estrutura <strong>para</strong> um grupo diminui<br />

o custo individual <strong>para</strong> famílias de baixa renda.<br />

Simplificar exigências – tornando os produtos e<br />

serviços mais fáceis de usar, ou exigindo menos<br />

documentação – também é uma boa resposta à<br />

insuficiência de conhecimento e habilidades dos<br />

pobres, e à sua exclusão dos registros formais.<br />

Investimento na remoção das restrições de<br />

mercado.<br />

Embora a remoção das restrições de mercado<br />

possa ser considerada um dever do governo,<br />

empresas com modelos de negócios inclusivos<br />

muitas vezes precisam realizar essa tarefa por<br />

conta própria. Investir na remoção de restrições<br />

pode ser rentável quando cria – ou contribui<br />

<strong>para</strong> criar – <strong>valores</strong> tangíveis, assegurando<br />

benefícios suficientes <strong>para</strong> a empresa.<br />

A Denmor produz artigos têxteis na Guiana,<br />

principalmente de exportação <strong>para</strong> os Estados<br />

Unidos. A sua proposição essencial de valor é a<br />

flexibilidade: ela pode produzir vestuário de alta<br />

qualidade em pequenas quantidades e entregálas<br />

rapidamente. A empresa emprega 1.000<br />

pessoas, quase todas mulheres de comunidades<br />

rurais pobres. Muitas não sabiam ler ou escrever<br />

quando começaram a trabalhar na companhia.<br />

A Denmor as ensinou pelo menos o suficiente<br />

<strong>para</strong> que pudessem escrever seus nomes, contar<br />

e ler etiquetas e especificações de vestimentas.<br />

Os empregados têm treinamento diversificado<br />

<strong>para</strong> que cada um deles possa atuar em <strong>todos</strong> os<br />

estágios da produção e <strong>todos</strong> possam atender<br />

melhor a encomendas e prazos apertados. A<br />

Denmor também treina as mulheres sobre<br />

temas de saúde e higiene, e <strong>para</strong> a capacitação<br />

pessoal. Investimentos desse tipo, voltados <strong>para</strong><br />

a remoção de restrições – de conhecimento,<br />

habilidades, infra-estrutura ou acesso a produtos<br />

e serviços financeiros – criam, além dos <strong>valores</strong><br />

tangíveis e imediatos, <strong>valores</strong> intangíveis e de<br />

longo prazo <strong>para</strong> a construção da imagem da<br />

marca, <strong>para</strong> o moral dos funcionários, <strong>para</strong> a<br />

reputação corporativa e o desenvolvimento<br />

de novas capacidades que fortalecem a<br />

competitividade. Tais investimentos podem,<br />

dessa forma, ser altamente rentáveis.<br />

Além de criar valor <strong>para</strong> a empresa, investir<br />

na remoção de restrições de mercado também<br />

cria um valor público. Por exemplo, ao educar<br />

e treinar seus funcionários, a empresa cria<br />

uma força de trabalho mais capacitada – um<br />

recurso compartilhado na medida em que os<br />

trabalhadores vão <strong>para</strong> novos empregos e<br />

firmas.<br />

Esse valor social agregado abre portas <strong>para</strong><br />

o compartilhamento de custos com fontes<br />

de financiamento voltadas <strong>para</strong> o bem-estar<br />

social. Tais fontes – as quais podem abranger<br />

organismos internacionais, instituições<br />

filantrópicas, fundos de investimento social e<br />

governos – habilitam o setor privado a dividir<br />

os custos da geração de valor social de três<br />

maneiras: através de subvenções, redução de<br />

custos e “patient capital”. 7<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

7


Figura 2. Matriz<br />

estratégica da Iniciativa<br />

Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos<br />

Adaptação<br />

de produtos<br />

e processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação<br />

de mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

obstáculos<br />

Infraestrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Nota: As áreas em azul escuro indicam as combinações obstáculo-estratégia encontradas em mais de um em quatro casos onde a restrição aparece. As áreas<br />

em azul mesclado indicam as combinações encontradas em menos de um <strong>para</strong> cada quatro, mas mais de 1 em 10 casos onde o obstáculo aparece. As áreas<br />

em azul claro indicam as combinações encontradas em menos de 1 em 10 casos onde o obstáculo aparece.<br />

Fonte: Análises do autor sobre os dados, como descrito no texto.<br />

Fortalecimento do potencial dos pobres.<br />

Muitas vezes, os pobres são os parceiros<br />

mais importantes de um modelo de negócios<br />

inclusivo. Ao engajá-los como intermediários<br />

e atuar na esfera de suas redes sociais,<br />

uma firma pode aumentar o seu acesso,<br />

confiança e responsabilidade em relação a<br />

eles. Essas qualidades ajudam as empresas<br />

a cultivarem mercados e expandirem a<br />

sua participação nas cadeias de valor. Um<br />

dos modelos que contribui <strong>para</strong> engajar<br />

os pobres nas operações de vendas é o de<br />

microfranquias: um exemplo é o CFW, um<br />

sistema de microfranquias de farmácias e<br />

clínicas no Quênia. Os franqueados são, na<br />

maioria, enfermeiros ou outros trabalhadores<br />

da área de saúde, provenientes das próprias<br />

comunidades que se beneficiam com as<br />

franquias. O fornecedor das franquias,<br />

a Sustainable Healthcare Foundation,<br />

apóia os franqueados com estoques<br />

de medicamentos de boa qualidade,<br />

financiamento inicial, desenvolvimento<br />

profissional contínuo e outros serviços<br />

centrais, enquanto os franqueados operam<br />

as lojas por conta própria.<br />

Ao empregar os pobres <strong>para</strong> colher<br />

informações de mercado, fazer entregas,<br />

cobranças e a manutenção de produtos,<br />

podendo ainda contratá-los <strong>para</strong> treinar<br />

pessoas, as empresas conquistam<br />

conhecimento e confiança local – dois<br />

atributos importantes <strong>para</strong> se fazerem<br />

negócios em comunidades carentes.<br />

Além disso, os pobres geralmente têm as<br />

melhores idéias <strong>para</strong> a criação de novos<br />

produtos e serviços que atendam às<br />

necessidades de outros consumidores de<br />

baixa renda.<br />

8 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Em geral, quando os pobres começam a realizar<br />

tarefas dentro de um modelo de negócio, os<br />

custos de transação <strong>para</strong> as empresas diminuem –<br />

ao mesmo tempo em que os pobres se beneficiam<br />

com aumento de renda, conhecimento,<br />

capacitação e posição social.<br />

Para alavancar o potencial dos pobres, é<br />

necessário atuar por meio de suas redes sociais.<br />

Uma comunidade é mais do que a soma de suas<br />

partes. Onde impera a miséria, leis formais e<br />

regulamentações, freqüentemente, são menos<br />

eficazes do que as regras informais impostas pela<br />

comunidade. Tais regras podem tornar viáveis os<br />

modelos de negócios inclusivos. Uma comunidade<br />

pode ajudar os seus membros a se ajudarem<br />

mutuamente – por exemplo, compartilhando<br />

recursos, cooperando <strong>para</strong> fornecer bens comuns<br />

(como poços artesianos, moinhos e escolas) e<br />

viabilizando estruturas <strong>para</strong> mecanismos de<br />

poupança, crédito e seguros. As empresas podem,<br />

de fato, contar com arranjos comunitários <strong>para</strong><br />

preencher certas lacunas existentes nos mercados<br />

dos pobres.<br />

Combinação de recursos e capacidades<br />

com outras instituições. Assim como muitos<br />

modelos empresariais, os de negócios inclusivos,<br />

geralmente, são bem-sucedidos quando se<br />

juntam a outros negócios através de parcerias de<br />

benefício mútuo e colaboração. Essa colaboração<br />

mútua também pode ser estabelecida com<br />

parceiros não tradicionais, como organizações<br />

não-governamentais e provedoras de serviços<br />

públicos. Dessa forma, as empresas podem ter<br />

acesso a capacidades complementares e reunir<br />

recursos <strong>para</strong> contornar ou remover restrições no<br />

ambiente do mercado.<br />

Ao combinar capacidades complementares<br />

com outras organizações, os modelos de negócios<br />

inclusivos podem oferecer mais do que uma<br />

empresa poderia oferecer sozinha. No Brasil,<br />

a Votorantim Celulose e Papel (VCP) queria<br />

oferecer acesso a crédito aos seus produtores de<br />

eucalipto de pequeno porte, mas com planos de<br />

pagamento que se ajustassem às suas condições<br />

de renda (sendo que o eucalipto é colhido<br />

apenas depois de sete anos). Como o crédito não<br />

estava disponível nesses termos, e não tendo a<br />

VCP nenhum interesse em oferecer serviços de<br />

crédito próprio, a companhia estabeleceu uma<br />

parceria com o Banco ABN AMRO Real. O banco<br />

agora fornece o crédito <strong>para</strong> os agricultores<br />

e o empréstimo é assegurado pela compra<br />

da madeira pela VCP. Os agricultores quitam<br />

seus empréstimos quando é feita a colheita da<br />

madeira. Em outros exemplos, organizações<br />

parceiras participam de <strong>todos</strong> os tipos de funções<br />

ao longo da cadeia de valor, da pesquisa de<br />

mercado ao fornecimento de serviços.<br />

A colaboração pode ainda ser baseada em<br />

esforços conjuntos e reunião de recursos <strong>para</strong><br />

o alcance de um objetivo comum. Na Índia, o<br />

acesso ao crédito, <strong>para</strong> empresas de pequeno<br />

e médio porte, era complicado pelo processo<br />

de avaliação: cada banco tinha de avaliar o<br />

risco do empréstimo por conta própria. O alto<br />

custo <strong>para</strong> avaliar os aplicantes fazia com que<br />

os bancos não tivessem interesse em lidar<br />

com empréstimos abaixo de certa quantia ou<br />

de certa taxa de juros. Sendo assim, vários<br />

bancos, dentre eles o ICICI Bank e o Standard<br />

Chartered, uniram-se <strong>para</strong> criar a Small and<br />

Medium Enterprises Rating Agency, uma agência<br />

de avaliação que categoriza o mérito de crédito<br />

de pequenas e médias empresas e fornece<br />

informação <strong>para</strong> <strong>todos</strong> os bancos ligados à<br />

agência. Com a redução do custo de avaliação<br />

desses clientes potenciais, o empréstimo<br />

<strong>para</strong> empresas menores, e com taxas de juros<br />

menores, torna-se um serviço lucrativo <strong>para</strong><br />

os bancos – aumentando o acesso ao crédito e<br />

ao mesmo tempo expandindo o mercado <strong>para</strong><br />

fornecedores de crédito.<br />

Engajamento no diálogo político com<br />

o governo. Dialogar sobre políticas de<br />

desenvolvimento é primordial <strong>para</strong> se fazerem<br />

negócios com os pobres e, apesar de que<br />

muito ainda precisa ser feito <strong>para</strong> se criar um<br />

ambiente favorável nesse sentido, as empresas<br />

são, em geral, as primeiras a agirem. Todas as<br />

cinco restrições de mercado identificadas neste<br />

relatório encontram-se mais ou menos dentro<br />

dos domínios da política pública. Em muitos<br />

dos estudos de caso, as empresas encontraram<br />

formas criativas de contornar ou eliminar os<br />

obstáculos – por exemplo, adaptando produtos<br />

<strong>para</strong> funcionarem com luz solar, investindo<br />

em educação e treinamento <strong>para</strong> a capacitação<br />

dos trabalhadores, atuando por meio de redes<br />

sociais <strong>para</strong> fazer valer contratos ou unindo-se a<br />

outras companhias <strong>para</strong> a auto-regulamentação.<br />

Entretanto, <strong>para</strong> certas empresas, torna-se mais<br />

complicado contornar ou eliminar as restrições<br />

de mercado através de iniciativas privadas. Neste<br />

caso, a estratégia mais comum é se engajar nos<br />

diálogos sobre políticas de desenvolvimento. O<br />

processo de formulação de políticas é complexo<br />

e contínuo, e as empresas podem fornecer<br />

informações relevantes sobre os problemas<br />

existentes e as suas possíveis soluções.<br />

Há casos em que os negócios inclusivos<br />

possuem objetivos razoavelmente limitados,<br />

como encorajar governos a fornecer bens ou<br />

serviços públicos de que eles necessitam <strong>para</strong><br />

operar em um local específico. Em casos assim,<br />

lidar individualmente com governos pode ser<br />

eficaz.<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

9


Porém, existem situações em que o esforço individual de empresários e companhias<br />

pode ter implicações maiores, tais como mudanças nas estruturas de mercado ou<br />

até mesmo a abertura de novos mercados. A Tiviski, uma empresa de laticínios<br />

derivados do leite de camelo, na Mauritânia, é um exemplo: através do esforço<br />

individual do fundador da companhia, a União Européia está <strong>criando</strong> um mercado<br />

<strong>para</strong> a importação de laticínios de camelo, o que não existia anteriormente.<br />

As empresas podem também contar com efeitos demonstrativos <strong>para</strong> promover<br />

o fortalecimento de regulamentações nos países em desenvolvimento que não<br />

as possuem, ou onde elas não são eficazes. Quando as Companhias de Serviço<br />

de Energia Rural foram fundadas no Mali, o país ainda não tinha uma estrutura<br />

regulamentada que lidasse com o fornecimento privado de eletricidade. Através de<br />

ações da companhia – e com o apoio suplementar do Banco Mundial – o governo de<br />

Mali estabeleceu as requeridas regras e procedimentos.<br />

Figura 3. Matriz<br />

estratégica da Iniciativa<br />

Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos e o<br />

resumo das soluções<br />

Estratégias<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação<br />

de mercado<br />

Alavancagem<br />

tecnológica<br />

Foco na<br />

geração de<br />

valor<br />

Inserção dos<br />

pobres como<br />

indivíduos<br />

Combinação<br />

de capacidades<br />

complementares<br />

Engajamento<br />

individual<br />

obstáculos<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infraestrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Alavancagem<br />

de tecnologias<br />

de informação e<br />

comunicação<br />

Aplicação de<br />

soluções setoriais<br />

específicas<br />

Alcance da<br />

sustentabilidade<br />

ambiental<br />

Criação de<br />

processos de<br />

negócios<br />

Adequação ao<br />

fluxo de renda<br />

dos pobres<br />

Simplificação<br />

de exigências<br />

Evitamento<br />

de incentivos<br />

adversos<br />

Flexibilização<br />

das operações<br />

Provisão <strong>para</strong><br />

grupos<br />

Realização<br />

de pesquisa de<br />

mercado<br />

Investimento<br />

em infra-estrutura<br />

Promoção do<br />

desempenho do<br />

fornecedor<br />

Conscientização<br />

e treinamento dos<br />

consumidores<br />

Criação<br />

de produtos<br />

e serviços<br />

financeiros<br />

Obtenção<br />

de benefícios<br />

intangíveis<br />

Criação de<br />

valor social<br />

Uso de<br />

subvenções<br />

Financiamento<br />

com custos<br />

reduzidos ou<br />

patient capital<br />

Envolvimento<br />

dos pobres em<br />

pesquisas de<br />

mercado<br />

Realização de<br />

treinamento <strong>para</strong><br />

que os pobres se<br />

tornem instrutores<br />

Construção de<br />

redes logísticas<br />

locais<br />

Identificação de<br />

fornecedores de<br />

serviço locais<br />

Promoção da<br />

inovação através<br />

da co-criação com<br />

os pobres<br />

Engajamento<br />

das<br />

comunidades:<br />

desempenho<br />

por meio de<br />

redes sociais<br />

existentes<br />

Alavancagem<br />

de mecanismos<br />

de aplicação<br />

de contratos<br />

informais<br />

Expansão do<br />

compartilhamento<br />

de riscos<br />

Obtenção de<br />

informação sobre o<br />

mercado<br />

Alavancagem<br />

das redes logísticas<br />

existentes<br />

Difusão de<br />

informação<br />

Realização<br />

de treinamento<br />

<strong>para</strong> desenvolver<br />

habilidades necessárias<br />

Efetivação de<br />

vendas, fornecimento<br />

de serviços<br />

Promoção do acesso<br />

a produtos e serviços<br />

financeiros<br />

União de<br />

recursos<br />

Obtenção de<br />

informação sobre o<br />

mercado<br />

Preenchimento<br />

de lacunas na<br />

infra-estrutura do<br />

mercado<br />

Autoregulamentação<br />

Geração de<br />

conhecimento e<br />

habilidades<br />

Ampliação do<br />

acesso a produtos e<br />

serviços financeiros<br />

Engajamento<br />

através<br />

de efeitos<br />

demonstrativos<br />

Engajamento<br />

coletivo<br />

10 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


O engajamento coletivo das empresas é outra forma de moldar as políticas públicas. Tendo em vista<br />

que o engajamento na estruturação de políticas pode ser controverso, empresas e governo necessitam<br />

de um espaço <strong>para</strong> dialogar abertamente e de forma transparente sobre como melhorar o ambiente<br />

dos negócios. Esforços colaborativos podem criar esses espaços. Companhias operando numa<br />

mesma indústria ou região, muitas vezes, têm os mesmos interesses políticos. Além disso, quando<br />

as empresas fazem negócios de maneira a contribuir <strong>para</strong> a geração de oportunidade econômica e<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento humano, organizações fora do setor privado podem ter interesses políticos<br />

complementares. Onde os modelos de negócio são inclusivos, a ação coletiva pode dar às empresas<br />

uma voz forte e legítima no apoio à formulação de políticas.<br />

E n t r a n d o e m a ç ã o<br />

Como pode um líder empresarial desenvolver<br />

um modelo de negócio inclusivo Em poucas<br />

palavras: respondendo às condições locais.<br />

Os empreendedores dos estudos de caso<br />

apresentados neste relatório tomaram<br />

suas decisões seguindo esse espírito. Eles<br />

identificaram oportunidades, compreenderam os<br />

contextos e encontraram soluções, com a mente<br />

aberta e muita experimentação.<br />

O relatório encoraja os atuantes do setor<br />

privado a se tornarem os grandes agentes de<br />

mudança na promoção do desenvolvimento<br />

humano. Mas o setor privado não tem como<br />

vencer sozinho. O espírito empreendedor é<br />

importante não apenas <strong>para</strong> tomadores de<br />

decisão do setor privado, mas também <strong>para</strong><br />

financiadores, governantes, filantropistas e<br />

líderes de organizações sem fins lucrativos.<br />

Todos eles podem se juntar ao setor privado<br />

<strong>para</strong> investir em condições melhores de<br />

mercado, colaborar na operação de modelos<br />

de negócios e dialogar em prol de políticas<br />

favoráveis.<br />

A criação de novos negócios nos mercados<br />

pobres funcionará melhor quando cada<br />

um dos atores envolvidos contribuir com<br />

o seu potencial. Quando isso acontecer, os<br />

modelos de negócios inclusivos proliferarão<br />

e crescerão. Os mercados irão incluir mais<br />

pobres. E <strong>valores</strong> serão gerados <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

– através de lucros, aumento de renda e<br />

progressos efetivos <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

humano.<br />

A matriz estratégica e o resumo de<br />

soluções do Desenvolvendo Mercados<br />

Inclusivos (figura 3) lista formas diferentes<br />

de aplicação de cinco estratégias centrais,<br />

<strong>para</strong> mitigar as restrições enfrentadas pelos<br />

negócios inclusivos. Mais de uma solução – e<br />

mais de uma estratégia – são, com freqüência,<br />

utilizadas simultaneamente <strong>para</strong> superar essas<br />

dificuldades.<br />

1 Banco Mundial 2007d. 2.6 bilhões é o valor <strong>para</strong> 2004 e menos de $2 por dia está baseado no poder de<br />

compra do dólar de 1993.<br />

2 OCDE e IEA 2006.<br />

3 ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database. Disponível em:<br />

http://www.itu.int/ITU-D/ict/statistics/ict/<br />

4 Chu 2007.<br />

5 Database dos Indicadores de Desenvolvimento Mundial. Abril 2007.<br />

6 Veja Mendoza, adiante.<br />

7 ‘Patient capital’ é um termo usado <strong>para</strong> descrever um conjunto emergente de investimentos que não<br />

esperam por retorno financeiro imediato, mas esperam retorno financeiro e social a longo prazo.<br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

11


12 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


PARTE<br />

I<br />

Oportunidades de criação<br />

de valor <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

VISÃO GERAL: Negócios com os pobres – <strong>criando</strong> <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong><br />

13


O capítulo 1 analisa as oportunidades de se fazerem negócios com e <strong>para</strong> os pobres. As<br />

empresas incluem os pobres no âmbito da demanda, como clientes e consumidores, e da<br />

oferta, como empregados, produtores e donos de negócios. As empresas podem se beneficiar<br />

com aumento de lucros, flexibilidade, inovações e potencial de crescimento a longo prazo. Os<br />

pobres podem se beneficiar com a satisfação de necessidades básicas e com o aumento de<br />

produtividade, renda e capacitação. Essa maneira de fazer negócios, estabelecendo um elo<br />

entre as empresas e os pobres <strong>para</strong> o benefício de ambos, é chamada de “modelos de negócios<br />

inclusivos”.<br />

O capítulo 2 explica por que essas oportunidades ainda não têm sido amplamente<br />

aproveitadas em decorrência de restrições de mercado que caracterizam a miséria: falta<br />

de informação de mercado, ambiente regulatório ineficiente, infra-estrutura obsoleta,<br />

conhecimentos e habilidades limitados e difícil acesso a serviços financeiros. Há muito tempo,<br />

estes obstáculos são conhecidos como as maiores causas da persistência da pobreza. Os casos<br />

do Desenvolvendo Mercados Inclusivos revelam que eles também são considerados grandes<br />

desafios <strong>para</strong> o desenvolvimento de modelos de negócios inclusivos bem-sucedidos.<br />

14 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


1<br />

Oportunidades<br />

p a r a a s e m p r e s a s –<br />

e <strong>para</strong> os pobres<br />

Egito: A beleza do oásis<br />

SIWA oferece uma ótima<br />

oportunidade tanto <strong>para</strong> a<br />

comunidade local quanto<br />

<strong>para</strong> o ecoturismo.<br />

Foto: SIWA<br />

Muitas empresas estão incluindo os pobres. Essa é uma<br />

boa notícia <strong>para</strong> <strong>todos</strong>.<br />

É uma boa notícia <strong>para</strong> os pobres porque, com o problema da miséria<br />

não resolvida e ainda disseminada, soluções em larga escala são necessárias. Dos<br />

6,4 bilhões de habitantes no mundo, 2,6 bilhões vivem com menos de $2 por<br />

dia. 1 Bilhões ainda sofrem com a falta dos serviços mais essenciais <strong>para</strong> se ter<br />

uma vida digna. Mais de um bilhão não têm acesso à água limpa, 2 e 2,6 bilhões<br />

não têm saneamento adequado. 3 Muita gente permanece atolada em mercados<br />

fragmentados e ineficientes, que limitam as oportunidades <strong>para</strong> o uso produtivo de<br />

recursos. Com estruturas apropriadas e o apoio dos governos, o setor privado pode<br />

ficar bem posicionado <strong>para</strong> oferecer essas oportunidades na devida proporção.<br />

Essa também é uma boa notícia <strong>para</strong> as empresas. Modelos de negócios<br />

inclusivos bem-sucedidos mostram que oportunidades de crescimento e inovação<br />

estão emergindo tanto do lado da demanda quanto da oferta, e que existem muitas<br />

maneiras de aproveitar – e até de criar – essas oportunidades.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

15


Viabilizando o acesso a bens, serviços,<br />

empregos e rendas, as empresas podem ajudar<br />

os pobres a melhorarem de vida, fomentar<br />

a motivação e a produtividade entre os<br />

produtores e empregados, e construir uma<br />

base de consumidores fiéis com rendas mais<br />

elevadas. As empresas que incluem os pobres<br />

podem produzir e colher os benefícios do<br />

desenvolvimento humano.<br />

A constatação de que os modelos de<br />

negócios inclusivos podem gerar <strong>valores</strong> <strong>para</strong><br />

as empresas e <strong>para</strong> os pobres prova que os<br />

pobres não estão exclusos do comércio e do<br />

mercado. O setor privado é crucial <strong>para</strong> as<br />

suas vidas porque <strong>todos</strong> são consumidores<br />

e a maioria tem renda no setor privado, seja<br />

trabalhando <strong>para</strong> um negócio ou sendo dono<br />

de um. 4<br />

O setor privado já atende às necessidades<br />

dos pobres em muitos lugares, incluindo áreas<br />

não alcançadas por governos. Em algumas<br />

áreas pobres urbanas e da periferia, na Índia e<br />

na África Subsaariana, a maioria das crianças<br />

em idade escolar freqüenta escolas particulares<br />

e na Índia rural metade delas faz o mesmo.<br />

Em áreas pobres, urbanas e da periferia do<br />

Estado de Lagos, na Nigéria, 75% das crianças<br />

em idade escolar estudam em instituições de<br />

ensino privadas, no distrito periférico de Ga,<br />

no Gana, são 64% e nas favelas de Hyderabad,<br />

na Índia, 65%. Essas escolas particulares de<br />

baixo custo são normalmente administradas<br />

por empresários locais e empregam professores<br />

locais. 5 Da mesma maneira, existem casos<br />

em que o setor privado é a única opção <strong>para</strong><br />

serviços de saúde em regiões rurais pobres e<br />

em favelas urbanas. Estudos mostram, de forma<br />

consistente, que o setor privado fornece serviços<br />

de saúde <strong>para</strong> pessoas com uma vasta gama de<br />

renda, incluindo populações pobres e rurais. Na<br />

Etiópia, Quênia, Nigéria e Uganda mais de 40%<br />

das pessoas no mais baixo quinto econômico<br />

recebem serviços de saúde de fornecedores<br />

privados com fins lucrativos. 6<br />

A maioria dos pobres trabalha e tem renda<br />

no setor privado, o qual gera mais empregos<br />

que o setor público. Na Turquia, o setor privado<br />

foi o responsável por 1,5 milhões de empregos<br />

de 1987 até 1992 – 16 vezes mais que o setor<br />

público. No México, ele gerou 12,5 milhões de<br />

empregos de 1989 até 1998 – 87 vezes mais<br />

que o setor público. 7 Além disso, muitos pobres<br />

têm os seus próprios negócios. No Peru, 69%<br />

das famílias urbanas que vivem com menos<br />

de $2 por dia por pessoa têm um negócio não<br />

ligado a agricultura. Na Indonésia, Paquistão<br />

e Nicarágua esse montante fica em torno dos<br />

50%. Em áreas rurais, muitos trabalham em<br />

fazendas. No Paquistão, 75% das famílias rurais<br />

são agricultores autônomos, no Peru 69% e na<br />

Indonésia 55%. 8<br />

Há espaço <strong>para</strong> muito mais, e <strong>para</strong> uma<br />

melhor inclusão dos pobres nos mercados. A<br />

utilização dos mercados pelos pobres é muitas<br />

vezes limitada, com pouca competitividade, além<br />

de baixa eficiência e produtividade. Empresas que<br />

abrirem os mercados aos pobres, com modelos<br />

inovadores, podem ser pioneiras na geração de<br />

certos benefícios.<br />

O p o r t u n i d a d e s p a r a a s e m p r e s a s :<br />

rentabilidade e crescimento<br />

A construção de modelos de negócios<br />

inclusivos requer empreendedorismo.<br />

Empreendedores que percebam oportunidades<br />

e tirem proveito delas. Eles podem ser de<br />

diferentes áreas de atuação. Alguns fundam<br />

empresas; outros buscam por mudanças e<br />

inovações em organizações já existentes.<br />

Muitas empresas contam ainda com processos<br />

de desenvolvimento de negócios ou outros<br />

sistemas especiais <strong>para</strong> tirar proveito de<br />

oportunidades.<br />

Os empreendedores dos estudos de<br />

caso aqui apresentados incluem corporações<br />

multinacionais de países em desenvolvimento<br />

ou desenvolvidos, e grandes companhias<br />

nacionais que se aventuraram nos mercados mais<br />

pobres. Em Gana, o Barclays Bank trabalhou com<br />

agentes financeiros locais <strong>para</strong> entrar em contato<br />

com os pobres que não estavam dentro do setor<br />

financeiro formal. Um gigante alimentício do<br />

Brasil, a Sadia, transformou a vida dos seus<br />

pequenos fornecedores de suínos ao monetizar<br />

as emissões de carbono desses animais. Dentre os<br />

empreendedores dos casos, também temos firmas<br />

e cooperativas locais de pequeno e médio porte,<br />

como a DTC Tyczyn, uma cooperativa que oferece<br />

serviços de telecomunicações <strong>para</strong> as áreas mais<br />

miseráveis e remotas da Polônia; a Tiviski Dairy, a<br />

primeira companhia de laticínios de camelo<br />

16 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


da África, na Mauritânia; e a Denmor, uma<br />

companhia têxtil que emprega 1.000 pessoas<br />

na Guiana. Mesmo organizações sem fins<br />

lucrativos estão presentes, como a HealthStore<br />

Foundation, uma rede de microfranquias<br />

de farmácias no Quênia, e a Pésinet, uma<br />

fornecedora de serviços de saúde infantil em<br />

Mali. Todos esses empreendedores visam<br />

lucros e impactos sociais em graus variados,<br />

mas buscam também soluções inovadoras <strong>para</strong><br />

o crescimento e a sustentabilidade financeira<br />

do negócio.<br />

Moçambique: As mulheres não precisam<br />

mais gastar horas buscando água do rio.<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

Gerando lucros e auto-sustentabilidade<br />

financeira. Os negócios com os pobres podem<br />

ser lucrativos, às vezes até mais do que os<br />

negócios com os ricos. O grupo hospitalar<br />

Narayana Hrudayalaya, um fornecedor de<br />

serviços de saúde cardiológica <strong>para</strong> os pobres<br />

na Índia, obteve um lucro de 20% em 2004 9<br />

– quase 4 pontos percentuais a mais que o<br />

maior hospital privado do país – graças ao<br />

grande volume de pacientes e um sistema<br />

de pagamento e financiamento inovador. A<br />

Sulahb, fornecedora de saneamento de baixo<br />

custo, também na Índia, obteve um lucro de<br />

$5 milhões em 2005, proveniente da sua<br />

estratégia de geração de renda, construindo<br />

e operando banheiros públicos e instalando<br />

banheiros particulares; seus serviços foram<br />

utilizados por um público estimado em 10<br />

milhões de pessoas na Índia. Nas Filipinas, a<br />

Smart Communications, uma operadora de<br />

serviços bancários via telefonia móvel, que<br />

permite o envio de remessas internacionais e<br />

outros serviços, tornou-se o maior fornecedor<br />

de telecomunicações do país com um modelo de<br />

negócios cujo lema é “tornar o telefone celular<br />

o mais barato e acessível possível <strong>para</strong> os<br />

Filipinos”. 10 Dos lucros da Smart em 2006, 99%<br />

vieram de cartões pré-pagos. Em 2003, com<br />

uma renda líquida de aproximadamente $288<br />

milhões, a Smart foi a empresa mais rentável<br />

do ano entre as 5.000 maiores corporações<br />

nas Filipinas. 11 Instituições de microfinanças<br />

também já provaram o seu grande potencial<br />

<strong>para</strong> lucros acima do índice de mercado,<br />

obtendo, em alguns casos, mais de 23% de<br />

retorno em patrimônio líquido. 12<br />

Nos dias atuais, o lucro torna-se mais um<br />

meio do que um objetivo principal. Muitos<br />

modelos de negócios inclusivos, como aqueles<br />

formados por organizações da sociedade<br />

civil e empreendedores sociais, são projetados<br />

principalmente <strong>para</strong> enfrentar os problemas da<br />

sociedade. Ainda assim, a auto-sustentabilidade<br />

financeira – obtida através de estratégias<br />

empreendedoras e de geração de renda – permite<br />

que eles aumentem o seu alcance e impacto.<br />

A HealthStore Foundation, por exemplo, uma<br />

organização internacional, expandiu suas atividades<br />

rapidamente ao estabelecer um modelo de negócio<br />

baseado em um sistema de microfranchising. Suas<br />

lojas combinam princípios de microempresa com<br />

práticas de franquia <strong>para</strong> fornecer medicamentos<br />

essenciais e serviços básicos de saúde <strong>para</strong><br />

comunidades. Através das suas 64 lojas espalhadas<br />

pelo Quênia, a HealthStore Foundation atende<br />

aproximadamente 400.000 pacientes a cada ano. 13<br />

Promovendo a inovação. O motivo <strong>para</strong> se fazer<br />

negócios com os pobres nem sempre é o lucro<br />

imediato. Algumas vezes trata-se do crescimento<br />

de longo prazo e da competitividade. Esse é o<br />

caso especialmente <strong>para</strong> firmas maiores, incluindo<br />

multinacionais estrangeiras, <strong>para</strong> quem negociar<br />

com os pobres pode gerar inovação – fator<br />

essencial <strong>para</strong> a competitividade e o crescimento<br />

dos negócios.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

17


Figura 1.1. A pirâmide da renda global<br />

Renda per capita anual em US$ (em 2002 PPP)<br />

Fonte: Baseado em Milanovic 2002.<br />

Fração da população mundial (%)<br />

Para as grandes firmas, integrar mercados<br />

pobres pouco conhecidos – e algumas vezes<br />

engajar atores locais – pode impulsionar<br />

inovações de duas formas. Primeiro, <strong>para</strong><br />

aumentar a disponibilidade e se ajustar às<br />

preferências e necessidades dos pobres, as<br />

firmas devem desenvolver novas combinações<br />

de preço e desempenho. 14 Segundo, as<br />

restrições profundamente infiltradas que as<br />

firmas precisam enfrentar ao fazer negócios<br />

com os pobres – de dificuldades de transporte<br />

à incapacidade de fazer valer os contratos<br />

– exigem respostas criativas. Os produtos,<br />

serviços e modelos de negócios que daí<br />

resultam podem ser transferidos de forma<br />

bem-sucedida <strong>para</strong> mercados desenvolvidos e<br />

atrair novos consumidores. Por exemplo, caixas<br />

automáticos com sensores de impressões digitais,<br />

desenvolvidos <strong>para</strong> os analfabetos na Índia,<br />

estão sendo introduzidos nos Estados Unidos,<br />

onde aumentam a segurança e a conveniência.<br />

15<br />

Grandes companhias que não competem por<br />

clientes de baixa renda correm o risco de se<br />

tornarem retrógradas se ignorarem como as<br />

inovações podem ser transferidas dos mercados<br />

mais pobres <strong>para</strong> os de maior renda. 16<br />

Desenvolvendo novos mercados. Trabalhos<br />

pioneiros sobre a “base da pirâmide”,<br />

realizados por C.K. Prahalad e outros, 17<br />

demonstram que os pobres podem<br />

representar um mercado significativo <strong>para</strong><br />

certos bens e serviços em muitos países. 18<br />

A distribuição global de renda balança<br />

fortemente <strong>para</strong> os segmentos de renda mais<br />

baixa. O que, freqüentemente, é denominado<br />

de “pirâmide” de renda, na verdade, se parece<br />

mais com uma antena de base grande demais<br />

(figura 1.1). Dentro dessa base encontram-se<br />

4 bilhões de pessoas, quase dois terços da<br />

população mundial, vivendo com menos de $8<br />

por dia. Embora a renda de cada uma delas<br />

seja baixa, a soma de suas rendas resulta em<br />

uma enorme quantia: aproximadamente $5<br />

trilhões, que chega a ser quase a renda bruta<br />

nacional do Japão, a segunda maior economia<br />

do mundo. 19<br />

A expansão <strong>para</strong> mercados de baixa<br />

renda permite às firmas obterem participação<br />

de mercado em uma economia crescente.<br />

Permite também aumentar o reconhecimento<br />

de marca e obter a confiança de uma<br />

crescente base de consumidores.<br />

18 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A penetração nos mercados pobres pode ainda<br />

garantir uma “licença <strong>para</strong> operar”, seja de uma<br />

comunidade local ou de todo um país, além de<br />

que lidar com stakeholders locais pode contribuir<br />

<strong>para</strong> a estabilização política e econômica de<br />

longo prazo do ambiente de negócios.<br />

Os mercados da base da pirâmide variam<br />

de forma significativa de acordo com localidades<br />

e setores. The Next 4 Billion, uma publicação<br />

revolucionária do Instituto de Recursos Mundiais<br />

e da Corporação Financeira Internacional,<br />

detalha o tamanho desses mercados por setores<br />

(figura 1.2), regiões e países. Entretanto, <strong>todos</strong><br />

os mercados da base da pirâmide sofrem pelo<br />

não atendimento às necessidades de bens e<br />

serviços. Os ricos têm inúmeras maneiras de<br />

gastar o seu dinheiro, os pobres não; mesmo<br />

assim, os pobres estão dispostos a pagar por<br />

bens e serviços básicos e são capazes de fazê-lo,<br />

muitas vezes, a um preço mais alto. Os habitantes<br />

das favelas de Jacarta, Manila e Nairóbi pagam<br />

de 5 a 10 vezes mais por água do que os<br />

habitantes das áreas abastadas dessas cidades<br />

– e mais do que os consumidores em Londres<br />

e Nova York. 20 O “castigo da pobreza” é similar<br />

<strong>para</strong> crédito, serviços de saúde e fornecimento<br />

de energia.<br />

Alguns modelos de negócios inclusivos<br />

servem a interesses estratégicos de longo prazo<br />

ao gerar demanda e criar novos mercados. A<br />

Tsinghua Tongfang, uma companhia chinesa<br />

de computadores, que investe no mercado<br />

rural, está desenvolvendo soluções de software<br />

e hardware <strong>para</strong> 900 milhões de agricultores<br />

chineses, oferecendo benefícios específicos, tais<br />

como informação sobre meteorologia e mé<strong>todos</strong><br />

de cultivo produtivos. Jun Li, vice-administrador<br />

geral do departamento de computação, explica:<br />

“Com base na nossa pesquisa de mercado,<br />

acreditamos que o que os fazendeiros realmente<br />

precisam não é simplesmente de um computador<br />

barato, mas sim de um conjunto de soluções<br />

<strong>para</strong> problemas que eles enfrentam no trabalho<br />

e no seu dia-a-dia. Precisamos, na verdade,<br />

pensar sobre como os nossos computadores<br />

podem tornar suas vidas mais fáceis, em vez<br />

de simplesmente tentar fazê-los comprar<br />

computadores”.<br />

Expandindo a reserva de mão-de-obra.<br />

Companhias manufatureiras estão transferindo<br />

ou terceirizando a sua produção <strong>para</strong> tirar<br />

vantagem dos preços mais baratos da mão-deobra<br />

em países pobres. A China e outros países<br />

da Ásia se tornaram as linhas de montagem<br />

do mundo. Com treinamento, os pobres<br />

podem fornecer produtos de alta qualidade. A<br />

Denmor Garment Manufacturers, na Guiana,<br />

emprega, em sua maioria, mulheres com fraco<br />

conhecimento e experiência. O bom treinamento<br />

dessa força de trabalho colocou a companhia<br />

em um nicho de alta qualidade com uma cadeia<br />

de produção altamente flexível. Indústrias da<br />

área de alimentos, moda e turismo também<br />

podem se valer das habilidades culturais dos<br />

pobres como funcionários, desenvolvendo novos<br />

produtos com propostas de <strong>valores</strong> únicos <strong>para</strong><br />

consumidores com rendas mais altas – tanto nos<br />

mercados domésticos quanto através de canais<br />

de exportação. 21 Para os negócios focados nos<br />

consumidores menos favorecidos, a contratação<br />

dos pobres <strong>para</strong> cargos de vendas, manutenção<br />

ou cobrança também pode ser uma boa idéia –<br />

permitindo que a própria empresa desenvolva o<br />

seu conhecimento e a sua rede de contatos locais.<br />

Fortalecendo a cadeia de suprimentos. Muitas<br />

empresas estão comprando de outras firmas<br />

quotas significativas da sua entrada de bens e<br />

serviços. Incorporar os pobres nas cadeias de<br />

valor dos negócios, como produtores agrícolas ou<br />

como fornecedores de bens e serviços, aumenta<br />

o campo de atuação das empresas em países em<br />

desenvolvimento, permitindo a redução de custos<br />

e aprimorando a sua flexibilidade através de<br />

aquisições locais. Esse campo de atuação tende<br />

a ser ampliado conforme os negócios locais se<br />

tornem mais especializados ou passem a produzir<br />

artigos com mais exigências de habilidades, tais<br />

como componentes de produção ou serviços<br />

empresariais. 22<br />

Com a maioria dos pobres do mundo<br />

trabalhando na agricultura, as empresas estão<br />

explorando meios de reduzir custos e aumentar<br />

a qualidade, diversidade e consistência no<br />

fornecimento de produtos<br />

Figura 1.2. Como os consumidores<br />

pobres gastam o seu dinheiro<br />

Água<br />

TIC<br />

Saúde<br />

Transporte<br />

Habitação<br />

Energia<br />

Outros<br />

Alimentação<br />

Nota: Define-se aqui consumidores pobres como aqueles vivendo com menos de $8 por dia.<br />

Fonte: Adaptação de Hammond e outros, 2007.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

19


agrícolas, trabalhando com produtores de pequena<br />

escala. Esse tipo de negócio abrange desde gigantes<br />

globais e grandes firmas nacionais até pequenos<br />

empreendimentos locais. A multinacional Sul<br />

Africana SABMiller compra o sorgo, usado na<br />

fabricação de sua cerveja Eagle Lager, de cerca de<br />

8.000 pequenos fazendeiros da Uganda, e 2.500<br />

do Zâmbia, trabalhando junto a cooperativas,<br />

intermediários de commodities e organizações nãogovernamentais,<br />

<strong>para</strong> a difusão de conhecimentos<br />

agrícolas e práticas de negócio. 23<br />

Trabalhar com produtores rurais de países em<br />

desenvolvimento pode também oferecer vantagens<br />

únicas como a biodiversidade, com insumos<br />

raros e de alta qualidade esperando <strong>para</strong> serem<br />

descobertos. A Natura, empresa brasileira<br />

de cosméticos, criou a sua linha de produtos<br />

mais sofisticados, Ekos, com ingredientes<br />

naturais usados por comunidades tradicionais.<br />

Paralelamente, alguns consumidores estão<br />

dispostos a pagar mais <strong>para</strong> apoiar produtores<br />

de países em desenvolvimento. Embora ainda<br />

pequeno, o comércio justo está crescendo<br />

rapidamente. O seu valor total de varejo foi<br />

estimado em 1,6 bilhões de Euros em 2006 –<br />

um aumento de 42% em relação a 2005. 24<br />

O p o r t u n i d a d e s p a r a o s p o b r e s :<br />

p r o m o ç ã o d o d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o<br />

Fazer negócios com os pobres melhora as suas<br />

vidas. A miséria é mais bem compreendida<br />

não apenas como uma falta de renda, mas<br />

fundamentalmente como uma falta de escolhas<br />

significativas. Mahubul Haq, fundador do Relatório<br />

de Desenvolvimento Humano do PNUD, publicado<br />

anualmente desde 1990, explica: “O propósito<br />

básico do desenvolvimento é aumentar as escolhas<br />

disponíveis <strong>para</strong> cada indivíduo. A princípio, essas<br />

escolhas são infinitas e podem variar ao longo<br />

do tempo. As pessoas, normalmente, valorizam<br />

aspectos que não estão condicionados, ou pelo<br />

menos não de imediato, ao aumento de renda e<br />

crescimento: maior acesso a conhecimento, melhor<br />

assistência a saúde, meios de vida mais seguros,<br />

segurança contra a criminalidade e a violência<br />

física, horas de lazer satisfatórias, liberdade<br />

política e cultural, e participação nas atividades<br />

da comunidade. O objetivo do desenvolvimento é<br />

criar um ambiente propício <strong>para</strong> que <strong>todos</strong> possam<br />

desfrutar de vidas longas, saudáveis e criativas”. 25<br />

Os pobres não são um grupo homogêneo. Eles<br />

levam vidas diferentes em lugares diferentes, com<br />

necessidades e objetivos distintos. Os estudos de<br />

caso mostram essa diversidade: os habitantes das<br />

favelas de Manila, que obtêm a sua água de canos<br />

com vazamentos muito distantes de suas casas;<br />

os produtores de café na Colômbia, que temem<br />

a inconstância do mercado mundial de preços;<br />

os jovens na África do Sul, que não têm meios de<br />

arcar com os custos de uma educação continuada<br />

<strong>para</strong> melhorar as suas posições empregatícias no<br />

mercado de trabalho; aqueles na Índia, que não têm<br />

acesso a saneamento e por isso sofrem de diarréia<br />

e outras doenças que poderiam ser evitadas; as<br />

mulheres na Guiana, que não podem ler ou escrever<br />

e, conseqüentemente, não conseguem encontrar<br />

empregos formais. Todas essas pessoas são<br />

pobres.<br />

A miséria é multidimensional. No seu cerne<br />

está a falta de oportunidade – ou, nas palavras<br />

do economista indiano Amartya Sen, a falta<br />

de capacidade de escolher uma vida da qual<br />

“tenham uma razão <strong>para</strong> valorizar” 26 . As causas<br />

dessa falta de oportunidade não são apenas a<br />

falta de dinheiro ou de recursos, mas também a<br />

falta de capacidade <strong>para</strong> usar os recursos. Saúde<br />

precária, falta de conhecimento e habilidade,<br />

discriminação e exclusão social e acesso limitado<br />

à infra-estrutura podem impedir as pessoas de<br />

converter recursos em oportunidades. Progredir<br />

nesses aspectos pode impulsionar tanto o acesso<br />

a recursos quanto a habilidade de transformá-los<br />

em oportunidades. Nesse sentido, os estudos de<br />

caso mostram que fazer negócios com os pobres<br />

pode melhorar as suas vidas muito mais do que<br />

meramente aumentar as suas rendas.<br />

Certamente, as abordagens de mercado não<br />

podem ajudar <strong>todos</strong> os pobres a sair da miséria.<br />

Para fazer transações no mercado, as pessoas<br />

necessitam de alguns recursos e da habilidade<br />

<strong>para</strong> usá-los. Os destituídos precisam de apoio<br />

específico <strong>para</strong> ajudá-los no mercado. A BRAC,<br />

em Bangladesh, há muito se deu conta das<br />

dificuldades de enfrentar as necessidades dos<br />

mais pobres usando o sistema de microfinanças<br />

convencional. Para dar a eles a segurança e<br />

os meios necessários <strong>para</strong> que possam obter<br />

vantagens de empréstimos, a BRAC fornece aos<br />

mais necessitados apoio alimentício e treino<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento de habilidades por um<br />

período fixo.<br />

20 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,<br />

que traduzem o conceito de desenvolvimento<br />

humano como um desafio multidimensional voltado <strong>para</strong> ações objetivas, oferecem a todas as<br />

agências da ONU uma estrutura de medição de progresso na redução da pobreza mundial. Os estudos<br />

de caso do Desenvolvendo Mercados Inclusivos mostram como os modelos de negócios inclusivos<br />

estão fomentando o progresso em direção a esses objetivos.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 1: Erradicar a miséria e a fome<br />

Na Colômbia, a companhia Juan Valdez está oferecendo salários mais altos e mais estáveis<br />

<strong>para</strong> mais de 500.000 pequenos agricultores de café. Nas Filipinas, onde os produtores de<br />

coco fazem parte da população mais pobre, a CocoTech acolhe mais de 6.000 famílias na<br />

fabricação de fibra de coco.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 2: Atingir o ensino básico universal<br />

A Tsinghua Tongfang (THTF) vende computadores com softwares de educação a distância<br />

<strong>para</strong> a população rural da China, voltados <strong>para</strong> a educação em escolas primárias e<br />

secundárias, e adotando as linguagens regionais. As aulas em vídeo on-line do programa de<br />

linguagens minoritárias, gravadas com estudantes de escolas de boa qualidade que falam o<br />

mesmo idioma, permitem que os clientes rurais da THTF aprendam na sua própria língua.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 3: Promover a igualdade entre os sexos e a<br />

autonomia das mulheres<br />

As instituições financeiras podem promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das<br />

mulheres aumentando o acesso a financiamento – uma necessidade primordial <strong>para</strong> muitas<br />

microempreendedoras nos países em desenvolvimento. Na Rússia, mais de 80% dos clientes<br />

do Forus Bank são mulheres, a maioria em negócios de varejo; em 2006 o banco ajudou a<br />

criar 4.250 empregos diretos e 19.950 indiretos. Na República Democrática do Congo, muitas<br />

mulheres obtiveram autonomia financeira revendendo os créditos dos telefones celulares Celtel.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 4: Reduzir a mortalidade infantil<br />

No Mali, onde, em 2000, mais de 22% das crianças morriam antes do primeiro ano de vida,<br />

a Pésinet tem promovido uma mudança nas comunidades onde opera, oferecendo um<br />

método de aviso prévio <strong>para</strong> o monitoramento das condições de saúde das crianças com<br />

menos de cinco anos de idade das famílias de baixa renda. No Saint Louis, no Senegal, onde<br />

a Pésinet começou, a taxa de mortalidade infantil caiu mais de 90% entre 2002 e 2005 – de<br />

120 natimortos <strong>para</strong> 8 em cada 1.000 partos.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 5: Melhorar a saúde materna<br />

Em Cabo Delgado, Moçambique, o gás petrolífero liquefeito fornecido pela VidaGás ajuda na<br />

esterilização de instrumentos médicos usados nos partos. Onde antes a maioria das clínicas<br />

públicas tinha pouco estoque de medicamentos essenciais, e a maioria das mortes de<br />

parturientes era resultado de infecções e hemorragias causadas por complicações durante<br />

a gravidez, a melhoria da saúde materna é atualmente assegurada pelo fornecimento<br />

permanente de energia, pela cadeia fria de suprimentos e pela distribuição de remédios.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 6: Combater a AIDS/HIV, a malária e outras doenças<br />

Na Tanzânia, a A to Z Textile Mills oferece redes de dormir de baixo custo, duráveis e tratadas<br />

contra insetos <strong>para</strong> a prevenção da disseminação da malária por mosquitos, reduzindo a<br />

taxa de mortalidade em 50%. No Quênia, em 2006, as 66 Lojas CFW (drogarias e clínicas)<br />

facilitaram o tratamento de aproximadamente 400.000 pacientes que sofrem de malária e<br />

outras doenças em áreas rurais e favelas urbanas.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 7: Assegurar a sustentabilidade ambiental<br />

Em 57 pequenas cidades da Uganda, a Associação dos Operadores Privados de Água fornece<br />

água e serviços de esgoto <strong>para</strong> mais de 490.000 pessoas. Nas favelas de Casablanca, no<br />

Marrocos, a Lydec aumentou dramaticamente a porcentagem de habitantes com acesso à<br />

água e eletricidade.<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 8: Estabelecer uma parceria global <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento<br />

Nas Filipinas, a Smart está reduzindo a “exclusão digital” através do fornecimento de cartões<br />

pré-pagos de baixo custo <strong>para</strong> telefones móveis e da viabilização de transações financeiras<br />

através do método de envio de remessas pela tecnologia de serviços de mensagens (SMS).<br />

Com uma rede que cobre mais de 99% da população, o foco da Smart no mercado de baixa<br />

renda a capacita a servir 24,2 milhões de pessoas.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

21


Com uma média de subsídio de US$135 por<br />

mulher, três quartos dos participantes se<br />

tornaram clientes regulares do programa<br />

de microfinanças da BRAC, passando <strong>para</strong><br />

um patamar no qual podem ter acesso aos<br />

mercados financeiros formais. 27<br />

Até mesmo pessoas extremamente pobres<br />

podem se beneficiar de sobras significativas<br />

das melhorias no funcionamento dos<br />

mercados. Como mostrou o estudo feito pelo<br />

Professor Robert Jensen, da Universidade do<br />

Texas, esse é o caso dos pescadores da cidade<br />

de Kerala, na Índia, que podem comprar<br />

celulares e obter informação, em tempo<br />

real, sobre fornecimento, demanda e preços.<br />

Os celulares beneficiam os consumidores<br />

pobres, aumentando os seus lucros em<br />

aproximadamente 8% e reduzindo os preços<br />

em 4%. Até mesmo os pequenos pescadores,<br />

que não podem comprar telefones, se<br />

beneficiam de forma indireta, como explica<br />

Jensen: “Em vez de simplesmente excluir os<br />

pobres ou aqueles de níveis educacionais<br />

mais baixos, o “fornecimento digital” é,<br />

aparentemente, compartilhado de uma forma<br />

mais abrangente por toda a sociedade”. 28<br />

Os negócios descritos nos estudos de<br />

caso contribuem <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

humano de quatro maneiras: atendendo as<br />

necessidades básicas dos pobres, ajudando-os<br />

a se tornarem mais produtivos, aumentando as<br />

suas rendas e capacitando-os.<br />

Atendendo às necessidades básicas. Alguns<br />

dos estudos de caso aqui contidos referem-se<br />

às necessidades básicas, como alimentação,<br />

assistência à saúde,<br />

água, saneamento e<br />

moradia. Nas Filipinas,<br />

a RiteMed, uma nova<br />

divisão de genéricos do<br />

fornecedor de produtos<br />

farmacêuticos Unilab,<br />

alcançou mais de 20<br />

milhões de clientes de<br />

baixa renda em 2006,<br />

com 35 medicamentos<br />

genéricos, vendidos<br />

a preços 20% a 75%<br />

mais baratos em<br />

relação aos remédios de<br />

marca. A Construmex,<br />

provedora de habitação<br />

e financiamento habitacional, já ajudou<br />

mais de 14.000 emigrantes mexicanos que<br />

trabalham nos Estados Unidos a construírem<br />

casas <strong>para</strong> eles e seus familiares no México,<br />

onde se estima que 25 milhões de pessoas<br />

não tenham moradia adequada. No Mali,<br />

companhias rurais de energia, estabelecidas<br />

pela Électricité de France e os seus parceiros,<br />

fornecem eletricidade <strong>para</strong> áreas rurais<br />

com geradores a diesel e sistemas solares<br />

domiciliares – eliminando o uso de lâmpadas<br />

de querosene, melhorando a qualidade do ar<br />

e reduzindo as doenças respiratórias.<br />

Aumentando a produtividade. Modelos<br />

de negócios inclusivos podem aumentar<br />

a produtividade dos pobres através da<br />

venda de equipamentos de produção,<br />

serviços financeiros e tecnologia de<br />

informação e comunicação. A capacitação<br />

dos empregadores, produtores e donos de<br />

pequenos negócios também aumenta a sua<br />

produtividade. Além disso, melhoramentos<br />

no ambiente de negócios, como melhor<br />

regulamentação e infra-estrutura, trazem<br />

avanços <strong>para</strong> todas essas áreas. No México, a<br />

Amanco vende sistemas de irrigação de baixo<br />

consumo de água e maior absorção, que<br />

possibilitam a produção contínua durante 8 a<br />

10 meses ao ano, <strong>para</strong> pequenos produtores<br />

de limão. A companhia almeja aumentar as<br />

colheitas anuais dos produtores de 9 <strong>para</strong><br />

25 toneladas por hectare. A Amanco também<br />

fornece capacitação, oferecendo treinamentos<br />

e facilitando o acesso a financiamento,<br />

por meio de empreendedores sociais e<br />

cooperativas rurais.<br />

22 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Aumentando as rendas. Fazer negócios com<br />

os pobres possibilita o aumento de suas rendas<br />

– tanto através do aumento da produtividade<br />

quanto de novas oportunidades econômicas,<br />

como empregados, fornecedores, distribuidores<br />

ou desempenhando tarefas similares. A Amanco<br />

espera que a renda dos produtores rurais seja<br />

triplicada com os aumentos de produtividade<br />

viabilizados pela empresa. Na China, a<br />

Huatai fornece fontes alternativas de renda<br />

<strong>para</strong> madeireiros locais e aumenta de forma<br />

significativa a renda de aproximadamente 6.000<br />

famílias rurais.<br />

A elevação de renda dos pobres pode<br />

resultar no surgimento de multiplicadores<br />

econômicos dentro da comunidade local,<br />

aumentando indiretamente a renda de muitos<br />

outros. Na Polônia, além dos empregos gerados<br />

e dos serviços de tecnologia de informação e<br />

comunicação fornecidos diretamente pela DTC<br />

Tyczyn, a comunidade beneficiou-se indiretamente<br />

com desmembramentos econômicos que<br />

estabeleceram novos negócios e desencadearam o<br />

aumento do valor de terras em cinco vezes.<br />

Capacitando os pobres. Fazer negócios com os<br />

pobres os capacita de forma significativa, tanto<br />

como indivíduos quanto como comunidades.<br />

Aumentando a conscientização, fornecendo<br />

educação básica, incluindo grupos discriminados<br />

e dando-lhes nova esperança e orgulho, os<br />

modelos de negócios inclusivos podem trazer<br />

a confiança e a força de que precisam <strong>para</strong><br />

escaparem da miséria por seus próprios meios.<br />

No Quênia, os empréstimos fornecidos pelo K-REP<br />

Bank, um fornecedor de microfinanciamento<br />

comercial, são não apenas fontes de investimentos<br />

ou de capital de trabalho, mas também de<br />

autoconfiança e independência.<br />

Alguns modelos de negócios inclusivos<br />

contribuem <strong>para</strong> o desenvolvimento humano<br />

de todas as quatro maneiras. A Amanz’abantu,<br />

um fornecedor de água e saneamento, está<br />

atendendo às necessidades básicas da população<br />

na África do Sul com o fornecimento de serviços<br />

em áreas rurais pobres. Tornando os pobres mais<br />

saudáveis, a companhia ajuda-os a se tornarem<br />

mais produtivos. Como as mulheres não gastam<br />

mais tantas horas buscando água, elas têm a<br />

possibilidade de aumentar a sua renda gastando<br />

mais tempo com atividades produtivas. Além<br />

disso, a Amanz’abantu contribui através da sua<br />

estrutura de propriedade, a qual apresenta como<br />

os proprietários de uma porção considerável das<br />

suas ações empresas que eram historicamente<br />

desvantajosas.<br />

Contribuir <strong>para</strong> o desenvolvimento humano<br />

implica que os pobres e, conseqüentemente, as<br />

sociedades em geral, não são prejudicadas por<br />

um modelo de negócio. Infelizmente, alguns<br />

modelos causam o esgotamento dos recursos<br />

naturais de uma comunidade ao atender às<br />

necessidades imediatas de alguns beneficiários.<br />

Mas os negócios com os pobres não precisam<br />

ser realizados em detrimento do meio ambiente.<br />

Os estudos de caso, bem como o trabalho do<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Meio<br />

Ambiente e de outras organizações sobre o<br />

consumo e a produção sustentável demonstram<br />

como os modelos de negócios podem promover a<br />

sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento<br />

humano simultaneamente. 29<br />

Em Mali, os sistemas fotovoltaicos<br />

domiciliares usados pelas companhias<br />

rurais de serviços de energia (montados<br />

pela Électricité de France e seus parceiros)<br />

emitem 95% menos dióxido de carbono<br />

do que as fontes de energia tradicionais,<br />

enquanto os seus geradores a diesel emitem<br />

aproximadamente 85% menos.<br />

Em Trinidad e Tobago, o MT. Plaisir Estate<br />

Hotel está transformando um vilarejo rural<br />

pobre em uma comunidade vibrante e autosustentável,<br />

e ao mesmo tempo protegendo<br />

o meio ambiente e a biodiversidade<br />

(incluindo a tartaruga leatherback, ameaçada<br />

de extinção, que é uma das principais<br />

atrações). O hotel coleta o lixo biodegradável<br />

das cozinhas <strong>para</strong> o uso como fertilizante na<br />

sua fazenda, que produz frutas, verduras e<br />

carnes diversas <strong>para</strong> o resort.<br />

No Brasil, onde a Sadia, gigante do setor<br />

de alimentos, forneceu biodigestores <strong>para</strong><br />

os seus produtores de suínos, os dejetos da<br />

criação de porcos são transformados em<br />

recursos – produzindo biofertilizantes e<br />

ração <strong>para</strong> peixes, fornecendo uma fonte de<br />

energia renovável e gerando renda adicional<br />

<strong>para</strong> os produtores rurais através da venda<br />

de créditos de carbono. A sustentabilidade<br />

ambiental e a redução da pobreza podem,<br />

assim, caminhar juntos.<br />

A CocoTech, uma companhia Filipina,<br />

transforma o refugo da casca do coco<br />

em redes de fibra que previnem a erosão<br />

do solo. Os fornecedores da CocoTech<br />

(produtores de coco), processadores,<br />

entrelaçadores e tecelões (mulheres dos<br />

vilarejos) e os operadores das debulhadoras<br />

(os homens dos vilarejos) são, na sua grande<br />

maioria, provenientes das áreas rurais<br />

pobres. A CocoTech, que teve a sua fundação<br />

em 1993, alcançou o patamar das empresas<br />

de médio porte, com uma receita acima de<br />

$300.000 em 2006.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

23


As necessidades dos consumidores e as oportunidades de negócios podem ser<br />

identificadas no âmbito nacional e local. O acesso ao crédito na Guatemala tende<br />

a ser maior no sudeste, perto da costa do Pacífico e do centro político e econômico<br />

do país, incluindo a cidade de Guatemala [1]. Os bancos têm um papel relativamente pequeno no fornecimento<br />

de crédito <strong>para</strong> a população, independente da sua renda [2]. A maioria dos que pedem empréstimos, em <strong>todos</strong> os<br />

grupos de renda, obtém o crédito através de fontes informais, como amigos, parentes e vizinhos.<br />

[1] Mapa gráfico de mercado:<br />

Famílias vivendo com mais de<br />

$2 por dia<br />

Porção de famílias com acesso<br />

a crédito, por região, 2000 (%)<br />

[3] Mapa gráfico de mercado:<br />

Famílias vivendo com menos<br />

de $2 por dia<br />

Porção de famílias com acesso<br />

a crédito, por região, 2000 (%)<br />

[2] Fontes de crédito: Famílias vivendo<br />

com mais de $2 por dia<br />

Porção de famílias, 2000 (%)<br />

[4] Fontes de crédito: Famílias vivendo<br />

com menos de $2 por dia<br />

Porção de famílias, 2000 (%)<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Sem crédito<br />

Dono de loja,<br />

aldeão, parente<br />

ou amigo, outros<br />

Concessor de<br />

empréstimo,<br />

instituição de<br />

microcrédito,<br />

união de crédito<br />

Banco<br />

Sem crédito<br />

Dono de loja,<br />

aldeão, parente<br />

ou amigo, outros<br />

Concessor de<br />

empréstimo,<br />

instituição de<br />

microcrédito,<br />

cooperativa de<br />

crédito<br />

Banco<br />

24 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Esses padrões podem revelar oportunidades <strong>para</strong><br />

a expansão de serviços de crédito já existentes ou<br />

<strong>para</strong> o fornecimento de novos serviços <strong>para</strong> aqueles<br />

que se encontram fora do mercado – embora os<br />

mapas e gráficos sejam apenas o primeiro passo.<br />

Para construir um business case é necessário fazer<br />

mais pesquisa sobre o que se encontra por trás<br />

desses padrões de acesso.<br />

Um olhar atento sobre o uso efetivo do crédito na<br />

Guatemala oferece mais detalhes e pode aumentar<br />

as oportunidades <strong>para</strong> empreendimentos [5].<br />

Apenas 19% dos que pedem empréstimos em áreas<br />

urbanas, vivendo com mais de $2 por dia, usam os<br />

seus empréstimos <strong>para</strong> investir em vez de consumir,<br />

55% dos que pedem empréstimo em áreas<br />

rurais, vivendo com menos de $2 por dia, investem<br />

o recurso em negócios agrícolas ou outros. Se o<br />

crédito formal for expandido <strong>para</strong> os pobres rurais e<br />

a distribuição dos gastos permanecer a mesma, os<br />

empréstimos seguramente serão investidos em vez<br />

de consumidos.<br />

Mais análises detalhadas e específicas são necessárias<br />

<strong>para</strong> uma boa compreensão da demanda de<br />

crédito entre os pobres. Todavia, os mapas gráficos<br />

de mercado oferecem pistas úteis <strong>para</strong> o melhor<br />

entendimento desses mercados.<br />

D e s v e n d a n d o o<br />

c ó d i g o : e x e m p l o s<br />

b e m - s u c e d i d o s d e<br />

n e g ó c i o s c o m o s<br />

pobres<br />

Dois exemplos bem conhecidos que<br />

“desvendaram o código” <strong>para</strong> se fazer<br />

negócios com os pobres são as microfinanças<br />

e a telefonia móvel. Ambas mostram como<br />

os modelos de negócios inclusivos podem<br />

gerar um círculo virtuoso, melhorando a vida<br />

e a renda das pessoas e se beneficiando do<br />

crescimento resultante. Além disso, ambos os<br />

setores ainda podem crescer imensamente,<br />

expandindo-se ainda mais dentro de países e<br />

mais profundamente entre as populações de<br />

baixa renda.<br />

[5] Oportunidade: Estimativas do uso de crédito na Guatemala entre famílias<br />

vivendo com menos ou mais do que $2 por dia (2000)<br />

Urbanas<br />

Famílias vivendo com<br />

menos de $2 por dia<br />

Rurais<br />

Urbanas<br />

Famílias vivendo com<br />

mais de $2 por dia<br />

Rurais<br />

Negócios agrícolas, outros negócios<br />

Moradia, educação, bens duráveis<br />

Consumo não durável<br />

Fontes: Instituto Nacional de Estatística de Guatemala.<br />

Mapas produzidos por OCHA ReliefWeb.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

25


Mais pessoas esperando pelo microcrédito. O microcrédito foi, provavelmente, o primeiro<br />

modelo a mostrar, em escala global, que os negócios com os pobres podem ser lucrativos. Há<br />

não muito tempo os bancos comerciais consideravam os empréstimos <strong>para</strong> os pobres algo<br />

impensável. Muhammad Yunus, o fundador do Gramreen Bank, lembra-se das suas primeiras<br />

negociações com os bancos no começo dos anos 70: “A primeira coisa que fiz foi tentar<br />

conectar os pobres com o banco localizado no campus. Não funcionou. O banco dizia que os<br />

pobres não eram confiáveis”. 30 O que começou com o Gramreen Bank e alguns outros como<br />

uma ação puramente social e sem fins lucrativos, tornou-se um empreendimento comercial<br />

altamente atrativo. O Gramreen Bank possui hoje 2.499 agências e concede empréstimos a<br />

7,45 milhões de clientes em mais de 80.000 vilas (mais de 97% das vilas de Bangladesh). 31<br />

Fornecer serviços de microfinanças <strong>para</strong> os pobres é visto cada vez mais como uma<br />

oportunidade <strong>para</strong> crescimento e lucratividade. Em 2004, na América Latina, os retornos<br />

financeiros nessa área foram substancialmente mais elevados do que as transações bancárias<br />

convencionais: os retornos de patrimônio na área de microfinanças foi de 31,2%, já os dos<br />

bancos convencionais foi de apenas 16,5%. 32 Em contrapartida, os pobres beneficiam-se: uma<br />

em cada cinco pessoas que pedem empréstimos <strong>para</strong> o Gramreen Bank consegue sair da<br />

pobreza em cerca de quatro anos. 33<br />

Apesar desse progresso, a maioria dos pobres ainda não tem acesso a crédito. O<br />

crescimento da indústria de microcrédito foi tudo, menos vagaroso – de 1997 até 2003 o<br />

número total de clientes cresceu quase 500% 34 – e mesmo considerando o novo objetivo<br />

dessa indústria, <strong>para</strong> 2015, de atingir 175 milhões de famílias 35 , esse número ainda<br />

representaria apenas uma pequena fração da população dos países em desenvolvimento. 36<br />

Figura 1.3. Assinantes de serviços de<br />

telefonia móvel por 100 habitantes,<br />

em 2006<br />

África<br />

Ásia<br />

Mundo<br />

Américas<br />

Oceania<br />

Europa<br />

Fonte: ITU 2006<br />

A telefonia móvel pode expandir-se ainda mais. Os serviços de telefonia móvel, em países<br />

em desenvolvimento, estão se expandindo a uma velocidade de tirar o fôlego (figura 1.3),<br />

com a indústria ganhando novos assinantes duas vezes mais rápido do que em países<br />

desenvolvidos. 37 O mercado africano foi o que mais cresceu entre 2001-2006, com uma<br />

média de crescimento anual de 50%. Em 2006, o continente já tinha 198 milhões de<br />

assinantes, 38 e estima-se que em 2010 esse número alcance a marca dos 250 milhões. 39<br />

Apesar desse enorme crescimento recente da penetração da telefonia móvel, as taxas<br />

de inscrição <strong>para</strong> esse serviço na África ainda são baixas. Em 2006, havia 21,6 assinantes<br />

<strong>para</strong> cada 100 pessoas, muito menos do que os 41 <strong>para</strong> cada 100 na escala global (Quadro<br />

1.3[1]). Na Eritréia e na Etiópia, em 2005, menos de 10 pessoas em cada 1.000 tornaram-se<br />

assinantes de serviços de telefonia móvel.<br />

26 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Um olhar atento sobre os níveis<br />

nacionais pode revelar oportunidades<br />

de negócios. Embora a África do<br />

Sul possua um setor relativamente<br />

avançado de telefonia móvel, grande<br />

parte da população pobre do país não tem acesso ao serviço (ver [1] e [2]). Em áreas<br />

urbanas, 43% das famílias vivendo com menos de $2 por dia têm acesso a celulares,<br />

mas em áreas rurais esse número cai <strong>para</strong> 31%. Famílias vivendo com mais de $2 por<br />

dia não estão em condições muito melhores: em áreas urbanas, 56% têm acesso a<br />

celulares, em áreas rurais são 38%. Além disso, o acesso varia muito de região <strong>para</strong><br />

região. A penetração dos telefones celulares é normalmente maior no oeste e menor<br />

na parte central do país. O Estado Livre tem as maiores disparidades: pelo menos 40%<br />

dos que ganham mais de $2, mas menos de 20% dos que ganham menos de $2 por<br />

dia têm acesso a celulares. Estudar por que o acesso varia tanto entre as regiões e entre<br />

os grupos de renda pode oferecer novas oportunidades <strong>para</strong> diminuir essas diferenças<br />

de acesso.<br />

[1] Mapa gráfico de mercado: Famílias<br />

vivendo com mais de $2 por dia<br />

Porção de famílias com acesso a telefones<br />

celulares, por região, 2006 (%)<br />

[3] Mapa gráfico de mercado: Famílias<br />

vivendo com menos de $2 por dia<br />

Porção de famílias com acesso a telefones<br />

celulares, por região, 2006 (%)<br />

[2] Acesso a telefones celulares na África do Sul:<br />

Famílias vivendo com mais de $2 por dia<br />

Porção de adultos, 2006 (%)<br />

[4] Acesso a telefones celulares na África do Sul:<br />

Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

Porção de famílias, 2006 (%)<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Não possuem<br />

Possuem<br />

Não possuem<br />

Possuem<br />

Fontes: Baseado no FinScope, 2006. As estimativas <strong>para</strong> o acesso a celulares foram tiradas da categoria de pesquisa “faça uso pessoal do... celular<br />

pré-pago”. Na África do Sul, como em muitos outros países africanos, os pré-pagos costumam ser a mais comum ou única opção.<br />

Mapas produzidos pela OCHA ReliefWeb.<br />

CAPÍTULO 1. OPORTUNIDADES PARA AS EMPRESAS - E PARA OS POBRES<br />

27


1 Banco Mundial 2007d. 6,4 bilhões de pessoas é o número<br />

<strong>para</strong> 2005. 2,6 bilhões é o número <strong>para</strong> 2004, e menos de<br />

$2 por dia é o poder de compra com<strong>para</strong>do com o dólar de<br />

1993.<br />

2 Banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento<br />

Mundial do Banco Mundial (http://devdata.worldbank.org/<br />

external/CPProfile.aspCCODE=JPN&PTYPE=CP).<br />

3 Banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento<br />

Mundial do Banco Mundial.<br />

4 Ver, por exemplo, Banerjee e Duflo 2007.<br />

5 Tooley 2007.<br />

6 IFC 2007.<br />

7 Klein e Hadjimichael 2003.<br />

8 Banerjee e Duflo 2007.<br />

9 O lucro, nesse exemplo, é definido como os ganhos antes<br />

dos juros, depreciação e impostos.<br />

10 Ver Ganchero, Elvie Grace. 2007. Smart Communications:<br />

Lowcost Money Transfers for Overseas Filipino Workers.<br />

PNUD.<br />

11 Loyola 2007.<br />

12 Chu 2007.<br />

13 Christensen e Hart 2002; Christensen, Craig, e Hart 2002.<br />

14 Prahalad 2004.<br />

15 Kahn 2008.<br />

16 Brown e Hagel 2005.<br />

17 A distribuição da riqueza e a capacidade de gerar renda<br />

no mundo podem ser representadas na forma de<br />

uma pirâmide. No topo estão os ricos, com inúmeras<br />

oportunidades <strong>para</strong> gerar altos níveis de renda, e na<br />

base estão as pessoas vivendo com menos de $2 por dia<br />

(Prahalad 2004).<br />

18 Hammond e outros 2007; Prahalad 2004; Prahalad e Hart<br />

2001; Prahalad e Hammond 2002; Hart 2004.<br />

19 Banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento<br />

Mundial do Banco Mundial (http://devdata.worldbank.org/<br />

external/CPProfile.aspCCODE=JPN&PTYPE=CP).<br />

20 PNUD2006.<br />

21 Muito trabalho foi e continua sendo feito sobre a<br />

contratação direta pelas empresas em países em<br />

desenvolvimento. A literatura cobre as estratégias do setor<br />

22<br />

23<br />

24<br />

25<br />

26<br />

27<br />

28<br />

29<br />

público <strong>para</strong> incentivar investimentos e a criação de<br />

empregos, abordagens de curto e longo prazo <strong>para</strong> criar<br />

a capacidade da mão-de-obra <strong>para</strong> ocupar essas vagas, a<br />

necessidade de mecanismos <strong>para</strong> ajudar os trabalhadores<br />

a obterem empregos mais bem remunerados e melhores, e<br />

o debate sobre os salários e os padrões das leis trabalhistas.<br />

Mesmo não buscando uma análise exaustiva sobre essa<br />

grande área, este relatório contém vários estudos de caso<br />

que abordam tais temas.<br />

Jenkins 2007, p. 15.<br />

Jenkins e outros 2007.<br />

Fairtrade Labelling Organizations International 2007.<br />

Website do PNUD “The Human Development Concept”<br />

(http://hdr.undp.org/en/humandev/)<br />

Sen 2001.<br />

Fazle e Matin 2007.<br />

Jensen 2007.<br />

UNEP 2001. Ver também iniciativas como a da SEED<br />

(www.seedinit.org) ou AREED (www.areed.org).<br />

Yunus 2003b.<br />

Website do Grameen Bank (www.grameen-info.org).<br />

Chu 2007.<br />

Khander 1998.<br />

Australian Bureau of Statistics n.d.<br />

30<br />

31<br />

32<br />

33<br />

34<br />

35 Associated Press 2006. Ver também The Microcredit<br />

Summit Campaign Phase II Goals (www.<br />

microcreditsummit.org).<br />

36 O setor é seriamente restringido pela falta de capital.<br />

Conforme algumas organizações de microcrédito<br />

evoluem de organizações sem fins lucrativos <strong>para</strong> bancos<br />

comerciais, cresce o seu acesso a mercados de capital<br />

e instrumentos mais complexos de financiamento.<br />

Investidores comerciais em busca de dividendos<br />

equivalentes de mercado podem, de início, afetar de forma<br />

adversa a inclusividade financeira através de altas taxas de<br />

juros, mas o aumento do capital de investimento permite a<br />

expansão de infra-estrutura essencial e aumenta o acesso.<br />

Além disso, os prospectos de competição nesses mercados<br />

podem, por fim, diminuir as taxas de juros <strong>para</strong> os pobres.<br />

37 Ivatury e Pickens 2006.<br />

38 ITU statistics n.d.<br />

39 Ivatury e Pickens 2006.<br />

28 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


2<br />

Obstáculos<br />

no caminho<br />

Filipinas: Ao tomar do<br />

governo a tarefa de operações<br />

<strong>para</strong> o abastecimento de água,<br />

a Manila Water enfrentou<br />

grandes desafios devido à falta<br />

de aplicação de leis.<br />

Foto: Manila Water<br />

Muitas vezes, as condições de mercado em áreas<br />

pobres podem parecer ruins <strong>para</strong> os negócios. Mercados bem<br />

desenvolvidos e funcionais possuem infra-estrutura adequada, fluxos contínuos<br />

de informação e um ambiente de regulamentação favorável aos negócios, ao<br />

mesmo tempo em que mantêm o limite do risco de queda do seu crescimento.<br />

Os participantes do mercado têm habilidades, conhecimento e acesso a produtos<br />

e serviços financeiros. Diferentemente, onde impera a miséria, a maioria desses<br />

fatores não existe – excluindo os pobres de participarem dos mercados de maneira<br />

efetiva – e excluindo as empresas dos mercados dos pobres.<br />

Os estudos de caso presentes neste relatório demonstram como essas limitações<br />

podem afetar empresas que procuram interagir com os pobres. Eles mostram cinco<br />

tipos de restrições gerais:<br />

Informação limitada sobre o mercado. As empresas sabem muito pouco sobre<br />

os pobres – as suas preferências, quanto podem pagar e o que têm a oferecer<br />

como empregados, produtores e donos de negócios.<br />

Ambientes de regulamentação ineficientes. Os mercados pobres não possuem<br />

estrutura de regulamentação que permite o funcionamento dos negócios.<br />

Regras não são respeitadas. Falta acesso às oportunidades e proteções<br />

oferecidas por sistemas legais funcionais.<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

29


Dada a importância da geografia nas disparidades<br />

de riquezas, modelos de negócios inclusivos devem<br />

analisar o acesso dos pobres a bens e serviços de<br />

forma geoespacial. Um olhar mais atento sobre os meios<br />

de acesso ao crédito na Guatemala mostra como as restrições regionais nos<br />

ambientes de mercado podem afetar o acesso aos mesmos (ver Quadro 1.2).<br />

Como a rede de estradas do país continua, em grande parte, subdesenvolvida,<br />

com apenas 1,2 quilômetros de estrada pavimentada por 1.000 habitantes,<br />

muitos dos vilarejos rurais pobres da Guatemala são relativamente isolados.<br />

(Com<strong>para</strong>tivamente, a Costa Rica, com aproximadamente metade da população<br />

da Guatemala, possui cerca de 11,1<br />

quilômetros de estradas por 1.000<br />

habitantes). No geral, 13% das famílias<br />

guatemaltecas não têm acesso a ruas<br />

asfaltadas. Mas esse número aumenta<br />

<strong>para</strong> quase 20% <strong>para</strong> as famílias no<br />

norte, noroeste e nordeste, entre as<br />

mais pobres do país. 1<br />

Nesse exemplo, duas restrições<br />

de mercado aparentemente se<br />

sobrepõem: falta de infra-estrutura<br />

física e falta de acesso ao crédito. Os<br />

mesmos padrões provavelmente irão<br />

aparecer <strong>para</strong> outros obstáculos, como<br />

na informação sobre o mercado. Nos<br />

mercados pobres, as dificuldades<br />

podem acompanhar e reforçar uma a<br />

outra: estradas levam a áreas com mais<br />

atividade econômica e onde existem<br />

estradas a economia cresce. Outras<br />

áreas ficam de fora. Esses obstáculos<br />

interligados podem criar desafios<br />

enormes <strong>para</strong> os pobres e <strong>para</strong> as<br />

empresas também.<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Sem crédito<br />

Dono de loja, aldeão,<br />

parente ou amigo,<br />

outros<br />

Nota: As linhas pretas no mapa representam estradas asfaltadas.<br />

Fonte: Baseado no Instituto Nacional de Estatística da Guatemala 2000 e Henninger e<br />

Snel 2002. Mapa produzido por OCHA ReliefWeb, 5 de fevereiro de 2008.<br />

Concessor de<br />

empréstimo,<br />

instituição de<br />

microcrédito,<br />

cooperativa de<br />

crédito<br />

Banco<br />

30 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Infra-estrutura física inadequada.<br />

O transporte é complicado pela falta<br />

de estradas e infra-estrutura de apoio.<br />

Água, eletricidade, saneamento e redes<br />

de telecomunicações também podem não<br />

existir.<br />

Falta de conhecimento e habilidades.<br />

Os consumidores podem não saber <strong>para</strong><br />

que servem certos produtos e quais são<br />

seus benefícios; ou podem não ter a<br />

habilidade <strong>para</strong> usá-los de forma eficaz.<br />

Fornecedores, distribuidores e varejistas<br />

podem não ter o conhecimento e a<br />

capacitação <strong>para</strong> fornecer produtos de<br />

qualidade e serviços de forma consistente,<br />

no prazo e a preços fixos.<br />

Acesso restrito a produtos e serviços<br />

financeiros. Sem crédito, os produtores<br />

e consumidores pobres não podem<br />

financiar investimentos ou compras<br />

maiores. Sem seguro não podem proteger<br />

os seus poucos bens e rendas contra<br />

dificuldades inesperadas, como doenças,<br />

secas ou roubos. Além disso, a falta de<br />

serviços que permitam a realização de<br />

transações bancárias os faz enfrentar<br />

financiamentos caros e sem segurança.<br />

Há muito identificadas como as maiores<br />

causas da persistência da miséria, essas<br />

restrições foram discutidas exaustivamente<br />

na literatura sobre o desenvolvimento. 1 Mas<br />

como as empresas as encaram E como<br />

cada uma delas afeta o desenvolvimento<br />

de modelos de negócios inclusivos O<br />

Desencadeando o Empreendedorismo<br />

mostrou que “a construção de um<br />

setor privado forte requer uma base<br />

sólida nos macroambientes globais e<br />

nacionais, na infra-estrutura física e<br />

social e no estado de direito” 2 Nele, o<br />

acesso a financiamento, capacitação e<br />

conhecimento, assim como um campo de<br />

atuação equilibrado <strong>para</strong> as empresas,<br />

foram identificados como os pilares<br />

do empreendedorismo. Os estudos de<br />

caso aqui discutidos confirmam essas<br />

descobertas: o empreendedorismo<br />

é severamente obstruído quando as<br />

condições necessárias <strong>para</strong> um mercado<br />

funcional não existem.<br />

Vilarejos rurais e favelas urbanas são<br />

os principais ambientes de mercado dos<br />

pobres. No âmbito global, a miséria rural<br />

responde por quase 75% da pobreza<br />

extrema (com uma renda per capita<br />

inferior a $1 por dia). Mas a miséria<br />

também existe nas cidades, concentrada<br />

especialmente nas favelas. Um em cada<br />

três moradores de cidades, ou 1 bilhão de<br />

pessoas, vive em favelas. 3<br />

Nesse contexto, os desafios estruturais<br />

impedem os pobres e as empresas<br />

de aproveitarem oportunidades que<br />

beneficiariam ambas as partes. Em geral,<br />

os obstáculos coexistem, muitas vezes,<br />

um reforçando o outro. A informação<br />

sobre o mercado, por exemplo, depende<br />

da infra-estrutura existente <strong>para</strong> o seu<br />

fluxo e depende também de conhecimento<br />

e habilidades <strong>para</strong> a sua interpretação.<br />

Do mesmo modo, os serviços financeiros<br />

exigem a aplicação de regras e<br />

regulamentações.<br />

Moldávia<br />

Foto: UNICEF/Julie<br />

Pudlowski<br />

Informação de mercado<br />

Muitas vezes, os empreendedores não têm informações detalhadas sobre os mercados em áreas<br />

pobres, especialmente aqueles em zonas rurais. Essas áreas, freqüentemente, não possuem meios<br />

de informação – como pesquisas de mercado ou serviços de rating – <strong>para</strong> serem consolidados ou<br />

distribuídos, tornando difícil a avaliação da viabilidade dos empreendimentos nessas localidades.<br />

Por exemplo, quando a Tsinghua Tongfang se propôs a desenvolver um computador <strong>para</strong> as<br />

famílias rurais, a empresa não sabia qual software específico sobre agricultura seria mais útil aos<br />

seus consumidores. Ela desenvolveu um website, com capacidade de agrupamento de dados, <strong>para</strong><br />

uma comunidade on-line, e de livre acesso <strong>para</strong> produtores rurais e especialistas agrícolas. Da mesma<br />

forma, quando o Barclays Bank deu início, em Gana, a sua linha de negócios <strong>para</strong> clientes de baixa<br />

renda, o banco teve dificuldade em encontrar informação sobre quais serviços bancários esses clientes<br />

demandavam, o volume das suas poupanças, as suas necessidades de crédito e os preços que estavam<br />

dispostos a pagar. Hoje, com mais informação sobre as necessidades desses clientes, o Barcleys está<br />

mais capacitado <strong>para</strong> desenvolver produtos vendáveis – assim como <strong>para</strong> administrar os riscos de<br />

forma mais eficaz. Superar as assimetrias de informação sobre preços, qualidade e necessidades dos<br />

pobres é a única maneira de as empresas alcançarem o sucesso nesses mercados.<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

31


Quadro 2.2. Mapas gráficos<br />

de mercado<br />

A falta de acesso à informação sobre os pobres e os<br />

lugares onde vivem é um dos principais obstáculos <strong>para</strong><br />

os modelos de negócios inclusivos. Institutos nacionais<br />

de estatística, bancos de desenvolvimento e doadores<br />

de recursos possuem informações sobre estudos de<br />

mercado e levantamentos sócio-econômicos das famílias<br />

– mas se encontram enterrados em bancos de dados.<br />

Tornar essas informações mais acessíveis pode reduzir as<br />

incertezas ao entrar nesses mercados.<br />

Os mapas gráficos de mercado ilustram como muitos<br />

pobres participam dos mercados. Eles mostram o acesso<br />

a bens e serviços em setores e países selecionados, e<br />

como esses bens e serviços são fornecidos. Por trás<br />

dos mapas existe uma rica literatura e uma extensa<br />

experiência em mapear a miséria. Os mapas também são<br />

complementares aos esforços atuais <strong>para</strong> a obtenção<br />

de dados detalhados sobre consumidores de baixa<br />

renda – como, por exemplo, a iniciativa do Banco<br />

Interamericano de Desenvolvimento <strong>para</strong> compilar<br />

informações específicas sobre grupos de baixa renda na<br />

América Latina e no Caribe, e um relatório da Corporação<br />

Financeira Internacional elaborado juntamente com<br />

o Instituto de Recursos Mundiais, que destaca as<br />

oportunidades de mercado representadas pelos pobres e<br />

“quase pobres”. (Hammond e outros 2007.)<br />

Como uma ferramenta analítica, os mapas gráficos<br />

fornecem informações detalhadas sobre a natureza<br />

e a composição dos mercados pertinentes ao<br />

desenvolvimento humano. Visualmente atrativos, os<br />

mapas possuem uma combinação de informações que<br />

permite a leitura imediata da inclusividade dos mercados<br />

e ajuda a:<br />

revelar as demandas não atendidas dos pobres na<br />

condição de consumidores, e as oportunidades não<br />

aproveitadas como produtores. Os mapas gráficos de<br />

mercado mostram quantos consumidores em potencial<br />

<strong>para</strong> um bem ou serviço foram (ou não) atendidos.<br />

Eles também indicam como os mercados inclusivos<br />

funcionam <strong>para</strong> grupos de consumidores diferentes,<br />

os pobres e os não pobres. Essa informação pode ser<br />

traduzida em oportunidades não aproveitadas de<br />

expansão e inovação no fornecimento de produtos e<br />

serviços. Além disso, os mapas mostram como os pobres<br />

são marginalizados pelo lado da oferta dos mercados,<br />

refletindo oportunidades não realizadas tanto <strong>para</strong> os<br />

pobres quanto <strong>para</strong> a sociedade em geral;<br />

avaliar a inclusividade do mercado. Os mapas<br />

gráficos de mercado podem lançar luz sobre a<br />

inclusividade do mercado em sua dimensão espacial,<br />

como regiões geográficas, áreas urbanas versus<br />

áreas rurais, entre outros – o que ajuda a destacar as<br />

oportunidades não aproveitadas;<br />

ilustrar a estrutura da oferta. Os mapas também<br />

ilustram a estrutura da oferta, mostrando a presença e<br />

as relativas participações de mercado <strong>para</strong> diferentes<br />

tipos de fornecedores. Eles podem ser diferenciados por<br />

tipo de propriedade (pública, privada, organização não<br />

governamental), tamanho (multinacional, micro, pequena<br />

ou média empresa), ou qualquer outro critério relevante.<br />

A m b i e n t e<br />

r e g u l a t ó r i o<br />

Sistemas de regulamentação em áreas<br />

pobres, normalmente, não são desenvolvidos o<br />

bastante <strong>para</strong> apoiar a entrada, o crescimento<br />

ou o desenvolvimento de negócios. Na Polônia,<br />

a empresa de serviços Luban luta contra a<br />

falta de uma estrutura política coerente de<br />

apoio ao desenvolvimento de bioenergia,<br />

incluindo uma melhor integração de políticas<br />

de energia e agricultura. A VidaGás, uma<br />

companhia de energia em Moçambique,<br />

necessita de uma estrutura de regulamentação<br />

que vise à segurança dos consumidores e ao<br />

controle de qualidade – uma mudança que<br />

enviaria sinais importantes <strong>para</strong> investidores<br />

e outras empresas – <strong>para</strong> que o gás petrolífero<br />

liquefeito possa ser estabelecido como um<br />

combustível alternativo no seu mercado.<br />

Freqüentemente, as regulamentações nos<br />

países em desenvolvimento são dificultadas<br />

pelo excesso de burocracia. Cumprir todo o<br />

trâmite burocrático leva tempo e dinheiro,<br />

impondo um custo de oportunidade excessivo,<br />

enquanto pagamentos – como taxas de<br />

registro e licenças – impõem custos diretos<br />

significativos. No Senegal, as barreiras<br />

burocráticas e um ambiente empresarial<br />

mal am<strong>para</strong>do exigiram que o Chaka Money<br />

Express e os seus afiliados passassem por<br />

procedimentos legais intermináveis <strong>para</strong><br />

adquirirem as licenças <strong>para</strong> transferência de<br />

<strong>valores</strong>.<br />

Pode levar muito mais tempo e ser mais<br />

caro abrir um negócio em regiões de grandes<br />

proporções nos países em desenvolvimento<br />

(FIG. 2.1). Na América Latina e no Caribe, abrir<br />

um negócio leva, em média, 73 dias e custa,<br />

aproximadamente, 48% da renda per capita,<br />

enquanto nos países membros da Organização<br />

<strong>para</strong> a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Econômico (OCDE) leva, em média, 17 dias<br />

e custa, aproximadamente, 5% da renda per<br />

capita.<br />

Muitas empresas nos países em<br />

desenvolvimento operam informalmente<br />

porque não podem pagar as taxas necessárias<br />

<strong>para</strong> ficarem em dia com as regulamentações.<br />

Como apontou a Iniciativa do PNUD,<br />

Habilitação Jurídica dos Pobres, as políticas<br />

econômicas e as leis de comércio na maioria<br />

dos países em desenvolvimento geralmente<br />

têm se voltado <strong>para</strong> grandes empreendimentos,<br />

excluindo o vasto número de pobres que são<br />

donos de negócios.<br />

32 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 2.1. Tempo e custo médio <strong>para</strong> se abrir<br />

um negócio, por região<br />

Duração (dias) Procedimentos (número) Custo (%da RNB per capita)<br />

África Subsaariana<br />

Sul da Ásia<br />

OCDE<br />

Oriente Médio e Norte da África<br />

América Latina e Caribe<br />

Europa e Ásia Central<br />

Oeste da Ásia e Pacífico<br />

Fonte: Banco de dados do Fazendo Negócios, do Banco Mundial<br />

Estes raramente beneficiam-se das estruturas<br />

legais formais. 4 Contudo, a informalidade<br />

gera problemas <strong>para</strong> as conexões entre<br />

os negócios. As companhias formais<br />

encontram dificuldades <strong>para</strong> obter produtos<br />

e serviços de organizações informais sem<br />

contratos formalizados. Bancos e serviços<br />

de financiamento também encontram<br />

dificuldades <strong>para</strong> trabalhar com pobres que<br />

não possuem documentos e identificação.<br />

Ainda mais desafiador que os ambientes<br />

de regulamentação inadequados é o não<br />

cumprimento habitual das leis existentes.<br />

Nessa situação, até mesmo grandes<br />

empreendimentos relutam em prosseguir<br />

com grandes incumbências. Quando a<br />

Manila Water assumiu as operações de<br />

abastecimento de água do governo filipino,<br />

a empresa teve, inicialmente, grandes<br />

perdas porque a água era regularmente<br />

roubada dos dutos <strong>para</strong> ser revendida.<br />

Ambientes inseguros e em crise estão entre<br />

os maiores desafios enfrentados pelas<br />

empresas.<br />

Infra-estrutura física<br />

A falta de infra-estrutura física é mais um<br />

elemento significativo <strong>para</strong> o aumento<br />

nos custos dos negócios com os pobres.<br />

Especialmente nas áreas rurais, mas também<br />

em favelas urbanas, os pobres não possuem<br />

meios de transporte ou conexões com redes<br />

de transferência de dados. Outras infraestruturas<br />

deficientes incluem logística,<br />

represas e irrigação, fornecimento de água,<br />

eletricidade e saneamento e<br />

coleta de lixo. 5<br />

República Democrática do Congo: As áreas rurais<br />

freqüentemente não possuem uma infra-estrutura <strong>para</strong> o fornecimento de<br />

água e saneamento aos pobres. Foto: UNICEF/Julie Pudlowski<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

33


Vietnã:<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

Nos países em desenvolvimento, muitos<br />

não têm acesso a estradas funcionais. Os<br />

53 países classificados pelo Banco Mundial<br />

como sendo de baixa renda têm 239.000<br />

quilômetros de estradas, enquanto os 60<br />

países de renda elevada possuem 3,6 milhões<br />

de quilômetros. 6 Quando a Celtel montou a<br />

sua rede de telecomunicações na República<br />

Democrática do Congo, apenas uma das dez<br />

capitais de províncias do país era acessível por<br />

estrada, três eram por rio e apenas seis por<br />

via aérea. Quando a EQI fundou a Iniciativa<br />

de Desenvolvimento Sustentável em Siwa, no<br />

deserto ocidental do Egito, a empresa precisou<br />

suportar custos mais elevados, além de<br />

logísticas complicadas por causa do isolamento<br />

e inacessibilidade do oásis. Na Mauritânia,<br />

onde a fábrica de laticínios de camelo da<br />

Tiviski foi fundada, não havia estradas, nem<br />

infra-estrutura logística <strong>para</strong> a produção de<br />

laticínios em um clima quente de deserto (como<br />

caminhões com refrigeração).<br />

De acordo com a Avaliação do Clima de<br />

Investimentos do Banco Mundial, a falta de<br />

infra-estrutura física, que tem seus maiores<br />

índices de incidência em regiões de países em<br />

desenvolvimento, é um dos maiores obstáculos<br />

<strong>para</strong> a operação e o crescimento de negócios.<br />

(FIG. 2.2). 7<br />

Figura 2.2. Empresas encaram a falta de infra-estrutura<br />

como um obstáculo substancial<br />

África Subsaariana<br />

Sul da Ásia<br />

Oriente Médio e Norte da<br />

África<br />

América Latina e Caribe<br />

Europa e Ásia Central<br />

Oeste da Ásia e Pacífico<br />

Nota: Os dados mostram a porção de firmas que relatam a falta de eletricidade, telecomunicações ou<br />

transportes como obstáculos “principais” ou “severos” <strong>para</strong> a operação e <strong>para</strong> o crescimento dos seus<br />

negócios. Fonte: Baseado no Estudo sobre o Clima de Investimentos do Banco Mundial 2004.<br />

34 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Restrições no ambiente de mercado afetam<br />

a sua estrutura. Com freqüência, pequenos<br />

fornecedores informais servem áreas onde<br />

empreendimentos maiores e formais não<br />

operam devido aos altos custos. Veja,<br />

por exemplo, o mercado de água do Haiti. A distribuição de água depende, principalmente, de uma infraestrutura<br />

funcional, mas construir uma extensa rede de dutos custa caro. O Haiti é um dos 50 países menos<br />

desenvolvidos, ocupando a posição 146 dos 177 países no índice de desenvolvimento humano do PNUD. 1 Em<br />

2001, 78% da população do Haiti – e cerca de 86% da sua população rural – vivia com menos de $2 por dia. 2<br />

O baixo crescimento econômico, desastres naturais, instabilidade política e má governança desgastaram os<br />

serviços públicos básicos. 3 Como mostra o mapa gráfico, o acesso à água encanada é, no geral, bem limitado:<br />

apenas um terço dos pobres urbanos do Haiti, e menos de um terço dos pobres rurais, têm acesso à água<br />

potável. 4<br />

A falta de uma infra-estrutura funcional e de fornecimento de água encanada resultou em um mercado de<br />

água “alternativo” vibrante, pelo menos nas áreas urbanas, onde os 45% da população vivendo com menos<br />

de $2 por dia tem acesso à água através de caminhões-cisterna, em garrafas ou transportada em baldes –<br />

serviços tipicamente fornecidos por pequenos<br />

comerciantes informais.<br />

A mesma tendência aparece em muitos<br />

outros países onde o fornecimento de<br />

água encanada é deficiente ou inexistente.<br />

Estimativas recentes sugerem que mais de 1<br />

bilhão de pessoas, ou cerca de um sexto da<br />

população mundial, não têm acesso a fontes<br />

modernas de água. Aproximar-se desses<br />

empreendimentos “alternativos” do setor<br />

privado poderia ser uma maneira prática de<br />

aumentar o acesso à água potável.<br />

Nota: O acesso à água inclui tanto o acesso<br />

à água encanada privada (dentro e fora de<br />

casa, incluindo poços dentro de casa) quanto à<br />

água encanada pública. As cores mais escuras<br />

representam maior acesso.<br />

Fonte: Baseado no Institut Haïtien de Statistique<br />

et d’Informatique 2001.<br />

Mapa produzido pela OCHA ReliefWeb.<br />

Poço, rio ou lago,<br />

chuva, outros<br />

Água transportada em<br />

caminhões-cisterna,<br />

água engarrafada, água<br />

transportada em balde<br />

Água encanada<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

35


Conhecimento e habilidades<br />

Conhecimento e habilidades são essenciais<br />

<strong>para</strong> a inclusão dos pobres no mercado como<br />

consumidores, empregados e produtores.<br />

Mas muitas vezes eles têm acesso limitado<br />

à educação e à informação. A educação<br />

formal entre os pobres, especialmente os<br />

das áreas rurais, é extremamente baixa. Nos<br />

países menos desenvolvidos, apenas 53%<br />

da população acima dos 15 anos de idade é<br />

alfabetizada. 8 Os anos de escolaridade variam<br />

muito, mas a quantidade e a qualidade da<br />

educação, em geral, é significativamente<br />

mais baixa entre os pobres. Além disso, a<br />

“exclusão digital” é grande: apenas 4% dos<br />

africanos tinham acesso à Internet em 2005,<br />

enquanto muitos não possuíam sequer um<br />

rádio. 9<br />

Como consumidores, os pobres podem<br />

não reconhecer, ou não ter a capacidade<br />

de avaliar a utilidade de um produto ou o<br />

seu valor. No exemplo citado da Tsinghua<br />

Tongfang, a população rural da China não<br />

está acostumada a usar e se beneficiar<br />

dos computadores e outras ferramentas<br />

tecnológicas, portanto a demanda por esses<br />

produtos é baixa – até que eles aprendam<br />

a tirar proveito deles. Como disse Jun Li,<br />

vice-gerente geral do departamento de<br />

computação da Tsinghua Tongfang: “A<br />

primeira coisa que precisamos fazer é dizer<br />

aos produtores rurais que os computadores<br />

são úteis e a segunda é ensiná-los a usar.”<br />

As lacunas no capital humano e nas<br />

habilidades também podem limitar a<br />

produtividade dos pobres como empregados,<br />

impedindo-os de se tornarem produtores<br />

bem-sucedidos pelos seus próprios meios.<br />

Quando faltam conhecimento e habilidade,<br />

as empresas têm dificuldade de assegurar<br />

bons padrões de produção. Em Gana,<br />

a Companhia Integrada Tamale Fruit<br />

produz mangas orgânicas certificadas,<br />

mas quando a empresa iniciou os seus<br />

negócios, os produtores rurais não tinham<br />

familiaridade com o cultivo orgânico, não<br />

podendo, portanto, atender aos padrões de<br />

alta qualidade exigidos <strong>para</strong> esse tipo de<br />

produção.<br />

Figura 2.3. A penetração dos seguros é baixa na maioria dos países<br />

em desenvolvimento<br />

Prêmios de seguro (% do PIB)<br />

Estados Unidos<br />

África do Sul<br />

Filipinas<br />

Nigéria<br />

China<br />

Índia<br />

Fontes: Swiss Re 2007 <strong>para</strong> os Estados Unidos, Sigma Insurance <strong>para</strong> mercados emergentes.<br />

36 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A c e s s o a s e r v i ç o s<br />

financeiros<br />

Produtos e serviços financeiros reduzem riscos e<br />

custos de transação e criam estabilidade. Crédito<br />

e seguros reduzem a vulnerabilidade e permitem<br />

que as empresas obtenham oportunidades.<br />

Serviços de poupança e transações bancárias<br />

ajudam a administrar recursos de forma<br />

mais eficaz. O acesso a serviços financeiros<br />

básicos é crucial, especialmente <strong>para</strong><br />

empreendedores potenciais – e, por extensão,<br />

<strong>para</strong> empreendimentos maiores e mais bem<br />

estabelecidos comprarem desses empreendedores<br />

ou venderem <strong>para</strong> eles.<br />

O crédito permite que pequenas e médias<br />

empresas entrem no mercado, aumentem<br />

a produção, incrementem a tecnologia e<br />

modifiquem ou melhorem os seus produtos e<br />

serviços. 10 Sem o fácil acesso a crédito, por<br />

exemplo, torna-se difícil <strong>para</strong> produtores rurais<br />

adquirirem os equipamentos de irrigação de<br />

pequeno porte, mas de alta eficiência, que a<br />

Amanco oferece no México, mesmo que essa<br />

tecnologia possibilite triplicar suas colheitas.<br />

De acordo com a Conferência das Nações<br />

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, “o<br />

aspecto financeiro é identificado em muitas<br />

pesquisas de negócios como o fator mais<br />

importante <strong>para</strong> a sobrevivência e o crescimento<br />

de pequenas e médias empresas, tanto nos<br />

países em desenvolvimento quanto nos países<br />

desenvolvidos.” 11<br />

O acesso ao crédito em países em<br />

desenvolvimento ainda é muito menor do que<br />

em países desenvolvidos. O volume de crédito<br />

em relação ao Produto Interno Bruto é de<br />

85% em países de renda alta, 30% em países<br />

de renda média-alta, 25% em países de renda<br />

média-baixa e de apenas 12% em países de baixa<br />

renda. 12 Mesmo com um crescimento acelerado,<br />

o microcrédito alcançou apenas 82 milhões de<br />

famílias ao final de 2006. 13<br />

O alcance de serviços de seguros é ainda<br />

menor entre os pobres. Os prêmios dos seguros,<br />

em relação ao Produto Interno Bruto, excedem<br />

9% nos Estados Unidos, mas são inferiores a 3%<br />

nas Filipinas, Nigéria e China (FIG. 2.3).<br />

Negócios de seguros facilitam os outros<br />

negócios. Aqueles que podem pagar por um<br />

seguro, e assim controlar o risco de perdas, têm<br />

Superar restrições de<br />

mercado pode ser uma<br />

oportunidade de negócios.<br />

Quadro 2.4.<br />

Microseguros<br />

na Índia<br />

A falta de acesso dos pobres a seguros, por<br />

exemplo, pode equivaler a um enorme mercado<br />

<strong>para</strong> empresas que encontram maneiras de superar<br />

os obstáculos. Um estudo recente realizado pela<br />

Unidade do Relatório de Desenvolvimento Humano<br />

do PNUD descobriu que 5 milhões de pessoas<br />

na Índia – apenas 2% dos pobres do país – têm<br />

seguros. O estudo estimou o tamanho do mercado<br />

potencial em $1,4-$1,9 bilhões (<strong>para</strong> seguros de<br />

vida e outros). Modelos de negócios inovadores<br />

estão emergindo <strong>para</strong> capturar esse grande<br />

mercado. Na Índia, a Innovative Rainfall-Indexed<br />

Insurance é uma instituição piloto subvencionada<br />

pelo Banco Mundial e fundada pelo Krishna Bhima<br />

Samruddi Bank. Os pagamentos dos seus seguros<br />

dependem unicamente das condições do tempo,<br />

sem qualquer exigência de avaliação de perdas.<br />

Fontes: PNUD 2007<br />

mais liberdade <strong>para</strong> fazer investimentos de longo<br />

prazo. Além disso, os bancos são mais propensos<br />

a conceder crédito <strong>para</strong> consumidores<br />

segurados. A falta do seguro é uma das<br />

razões pelas quais os produtores encontram<br />

dificuldades <strong>para</strong> se alinharem a contratos com<br />

recuperação de investimentos de longo prazo.<br />

No Brasil, a VCP desejava incluir produtores<br />

rurais pobres na produção de madeira <strong>para</strong> a<br />

fabricação de papel. Mas as árvores só estariam<br />

prontas <strong>para</strong> o corte após sete anos. Sem o<br />

seguro contra desastres naturais os pequenos<br />

produtores corriam o risco de perder todo o seu<br />

investimento.<br />

Serviços de poupança e de transações<br />

bancárias reduzem os custos e expandem os<br />

mercados ao longo do tempo ao permitir o<br />

comprometimento das pessoas através da<br />

credibilidade. Sem serviços bancários acessíveis,<br />

negociar com os pobres torna-se muito<br />

dispendioso. A significativa inconstância de suas<br />

rendas apresenta riscos <strong>para</strong> os negócios. Além<br />

disso, a precariedade dos serviços financeiros<br />

reduz a demanda porque os pobres não<br />

conseguem financiar compras sem poupanças<br />

e sem crédito – ainda que pudessem arcar com<br />

os custos dessas compras no decorrer do tempo.<br />

Em Uganda, apenas 15% das famílias possuem<br />

poupança em instituições formais. No Zâmbia, as<br />

taxas são tão elevadas que a maioria das pessoas<br />

teria de aceitar um retorno negativo sobre as<br />

suas poupanças <strong>para</strong> poderem usufruir desse<br />

serviço na formalidade. 14<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

37


1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

Ver, por exemplo, o workshop conjunto do Departamento de Desenvolvimento<br />

Internacional do Reino Unido – Banco Asiático de Desenvolvimento sobre Fazendo<br />

Mercados Funcionarem Melhor <strong>para</strong> os Pobres em Manila 2005 (www.dfid.gov.uk/<br />

news/files/trade_news/adb-workshop.asp).<br />

PNUD 2004.<br />

UNFPA 2007.<br />

PNUD 2008.<br />

Relatório do Banco Mundial sobre Infra-estrutura.<br />

Países de baixa renda tiveram uma Renda Nacional Bruta per capita de $905 ou<br />

menos em 2004; países de renda alta tiveram uma Renda Nacional Bruta per capita<br />

de $11,116 ou mais (Banco Mundial 2005).<br />

Escribano e outros 2005.<br />

PNUD 2007. Refere-se a 1995-2005.<br />

Banco de dados dos Indicadores Mundiais de Telecomunicações da União<br />

Internacional de Telecomunicações.<br />

Jenkins e outros 2007.<br />

Ruffing 2006.<br />

PNUD 2004.<br />

Associated Press 2006.<br />

CGAP 2007.<br />

38 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


PARTE<br />

II<br />

C i n c o e s t r a t é g i a s<br />

que funcionam<br />

CAPÍTULO 2. OBSTÁCULOS NO CAMINHO<br />

39


Figura II.1. Matriz<br />

estratégica da Iniciativa<br />

Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Obstáculos<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Nota: As áreas em azul escuro indicam as combinações obstáculo-estratégia encontradas em mais de um em quatro casos onde a restrição aparece. As áreas<br />

em azul mesclado indicam as combinações encontradas em menos de um <strong>para</strong> cada quatro, mas mais de 1 em 10 casos onde o obstáculo aparece. As áreas<br />

em azul claro indicam as combinações encontradas em menos de 1 em 10 casos onde o obstáculo aparece.<br />

Fonte: Análises do autor sobre os dados, como descrito no texto.<br />

40 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Como mostra a parte I, amplas oportunidades<br />

existem <strong>para</strong> se fazer negócios com os pobres,<br />

e elas podem gerar, <strong>para</strong> as empresas, lucros<br />

e crescimento numa perspectiva de longo<br />

prazo, e <strong>para</strong> os pobres, a capacitação de que<br />

necessitam <strong>para</strong> poderem melhorar suas vidas.<br />

Entretanto, capitalizar essas oportunidades<br />

implica em assumir desafios complexos. Cinco<br />

grandes obstáculos são encontrados no caminho:<br />

informação limitada sobre o mercado, ambientes<br />

de regulamentação ineficazes, infra-estrutura<br />

inadequada, falta de conhecimento e habilidades e<br />

acesso restrito a serviços financeiros.<br />

Apesar da existência desses obstáculos,<br />

muitos modelos de negócios inclusivos estão<br />

tendo sucesso. Exemplos dos estudos de caso<br />

incluem empresas que empregam pobres nas<br />

indústrias têxteis e turísticas; empresas que<br />

compram café, algodão, caju, redes de fibra<br />

de coco, além de outros insumos e produtos<br />

agrícolas, de produtores pobres; empresas<br />

que oferecem serviços básicos – como água,<br />

saneamento e serviços de saúde – <strong>para</strong> os<br />

pobres; e empresas que fornecem serviços<br />

como eletricidade, crédito e telecomunicações,<br />

aumentando a produtividade dos pobres.<br />

As soluções que permitem o sucesso dessas<br />

empresas são tão variadas quanto os ambientes<br />

nos quais elas operam. Não obstante, a análise<br />

dessas soluções revela diversos padrões. Os<br />

modelos de negócios inclusivos aqui analisados<br />

foram bem-sucedidos diante de restrições de<br />

mercado significativas, usando sempre, <strong>para</strong><br />

contornar ou eliminar essas restrições, uma ou<br />

mais das cinco estratégias básicas:<br />

Adaptação de produtos e processos. Por<br />

exemplo, usando tecnologia sem fio <strong>para</strong><br />

evitar os obstáculos apresentados pela falta de<br />

linhas terrestres.<br />

Investimento na remoção de restrições<br />

do mercado. Por exemplo, conduzindo<br />

pesquisas de mercado, treinando, informando<br />

e incorporando opções de financiamento nas<br />

ofertas de produtos e serviços.<br />

Fortalecimento do potencial dos pobres.<br />

Por exemplo, contratando pobres como<br />

distribuidores ou varejistas em suas<br />

comunidades, desenvolvendo produtos e<br />

serviços em parceria com eles e atuando por<br />

meio de suas redes sociais <strong>para</strong> desenvolver<br />

sistemas informais de regulamentação<br />

contratual.<br />

Combinação de recursos e capacidades<br />

com outras instituições. Por exemplo,<br />

trabalhando com organismos públicos<br />

<strong>para</strong> treinar produtores rurais na gestão<br />

de qualidade; estabelecendo parcerias<br />

com organizações não governamentais<br />

<strong>para</strong> aumentar a conscientização sobre<br />

os aspectos determinantes da oferta de<br />

produtos ou serviços; e mobilizando os bancos<br />

conjuntamente <strong>para</strong> a criação de uma agência<br />

de rating.<br />

Engajamento no diálogo político com o<br />

governo. Por exemplo, estabelecendo um<br />

diálogo com os responsáveis pela formulação<br />

de políticas <strong>para</strong> identificar e enfrentar<br />

obstáculos específicos – trabalhando<br />

individualmente ou em conjunto com outras<br />

empresas <strong>para</strong> uma advocacia mais focada,<br />

ou participando de comitês de consultoria do<br />

setor privado patrocinados pelo governo.<br />

Outros autores já discutiram algumas dessas<br />

estratégias dentro desse contexto. Em especial,<br />

a superação de obstáculos através de modelos<br />

de negócios inteligentes e o empenho no<br />

engajamento de organizações parceiras e<br />

dos pobres são tópicos bastante abordados<br />

1<br />

. Por outro lado, as abordagens sobre o<br />

investimento na melhoria das condições de<br />

mercado e engajamento no diálogo político são<br />

contribuições novas. A Figura II.1 faz a ligação,<br />

de forma sistemática, dos obstáculos encontrados<br />

nos ambientes de mercado com as estratégias<br />

que podem trazer soluções eficazes.<br />

Qualquer uma dessas estratégias, ou mesmo<br />

todas, podem ser aplicadas <strong>para</strong> cada obstáculo<br />

– mas os estudos de caso contidos neste relatório<br />

sugerem que os modelos de negócios inclusivos<br />

da atualidade estão aplicando cada uma delas<br />

com mais freqüência <strong>para</strong> alguns obstáculos do<br />

que <strong>para</strong> outros.<br />

P a r t e I I . C i n c o e s t r a t é g i a s q u e f u n c i o n a m<br />

41


A Smart Communications é a operadora líder de telefonia móvel nas<br />

Filipinas. Ao mudar a antiga concepção de que “telefones celulares<br />

são apenas <strong>para</strong> pessoas de classes privilegiadas que estão sempre em<br />

movimento” 1,a companhia encontrou uma oportunidade de negócios<br />

importante, focando no potencial não explorado da população de<br />

Quadro II.1. Comunicações inteligentes:<br />

remessas internacionais via celular nas<br />

Filipinas<br />

baixa renda, da qual faz parte a comunidade de trabalhadores filipinos no exterior (as Filipinas são o terceiro<br />

maior recebedor de remessas). A Smart lançou uma variedade de serviços flexíveis e de baixo custo, adaptados<br />

às necessidades específicas dos pobres, incluindo a venda de pequenos pacotes de recarga pré-pagos e o<br />

primeiro sistema internacional de remessas com a tecnologia de serviços de mensagens curtas (SMS).<br />

Estratégias<br />

Matriz<br />

Estratégica:<br />

Smart<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Simplificação de<br />

exigências<br />

Falta de<br />

documentação<br />

legal<br />

Engajamento<br />

com o governo de<br />

forma coletiva<br />

Regulamentação<br />

inadequada <strong>para</strong><br />

serviços bancários<br />

móveis<br />

Obstáculos<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Viabilização de<br />

recargas pelo<br />

celular<br />

Infra-estrutura<br />

de transportes<br />

deficiente<br />

Incentivo ao<br />

engajamento dos<br />

microempreendedores<br />

Infra-estrutura<br />

de transportes<br />

deficiente<br />

Utilização de redes<br />

de distribuição<br />

existentes<br />

Infra-estrutura<br />

de transportes<br />

deficiente<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Simplificação de<br />

exigências, venda de<br />

unidades menores a<br />

preços acessíveis<br />

Falta de acesso a<br />

contas bancárias<br />

e crédito<br />

A Smart enfrentou três grandes desafios e os superou com<br />

estratégias bem-sucedidas.<br />

O primeiro desafio era a falta de capacidade dos pobres em<br />

responder às exigências necessárias <strong>para</strong> um contrato de serviço<br />

de celular: muitos não possuíam carteiras de identidade ou<br />

contas bancárias.<br />

42 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Sendo assim, a Smart introduziu no país o primeiro serviço de celulares<br />

pré-pagos que não exigia qualquer documentação e o primeiro<br />

serviço móvel de transferência de <strong>valores</strong> que não exigia que o<br />

beneficiário tivesse uma conta bancária. Os cartões pré-pagos com<br />

pequenas quantidades de recarga não exigiam que os beneficiários<br />

financiassem despesas futuras, portanto o acesso a crédito não era<br />

necessário.<br />

Filipinas: A Smart introduziu a<br />

telefonia móvel, que facilitou o serviço<br />

bancário <strong>para</strong> os consumidores pobres.<br />

Foto: Smart.<br />

O segundo desafio era vender e distribuir créditos de celular<br />

<strong>para</strong> milhões de filipinos pobres por todo o país, um arquipélago de<br />

7.100 ilhas, com localidades de difícil acesso. A Smart iniciou as atividades<br />

através de redes de distribuição já existentes – pequenas lojas e outros<br />

negócios. Ela também fortaleceu o potencial dos pobres ao oferecer<br />

a microempreendedores a oportunidade de revenda de créditos <strong>para</strong><br />

recarga de celular. Dessa forma, a Smart construiu um sistema nacional de<br />

distribuição com mais de 800.000 empreendedores, que se beneficiam<br />

com uma comissão de 15%. Por fim, a empresa adaptou os seus processos<br />

de vendas: em vez de adquirir créditos em cartões pré-pagos, os usuários<br />

podiam recarregar os seus cartões usando a tecnologia SMS.<br />

O terceiro desafio da Smart foi lidar com a legislação inadequada<br />

<strong>para</strong> serviços bancários móveis, que ainda não existiam. Juntamente com<br />

outras operadoras e bancos, a Smart se engajou em diálogos políticos com<br />

o governo <strong>para</strong> que fossem feitas emendas na regulamentação <strong>para</strong> esses<br />

serviços.<br />

Os serviços da Smart surtiram efeitos positivos na economia Filipina, já que a<br />

conveniência, o baixo custo, a segurança e a facilidade têm encorajado cada<br />

vez mais filipinos que trabalham no exterior a usarem canais formais <strong>para</strong> o<br />

envio de remessas. O foco da Smart no mercado de baixa renda também<br />

trouxe rápido crescimento <strong>para</strong> a empresa: de 191.000 assinantes em 1999<br />

<strong>para</strong> aproximadamente 24,2 milhões em 2006, com 99% dos lucros da<br />

empresa provenientes dos cartões pré-pagos.<br />

1 Entrevista com Ramon Isberto, Public Affairs Group Head, PLDT e Smart, Makati, Filipinas, novembro de 2007.<br />

P a r t e I I . C i n c o e s t r a t é g i a s q u e f u n c i o n a m<br />

43


1<br />

London e Hart 2004. Em um estudo exploratório de 24 empreendimentos,<br />

com e sem sucesso, de inclusão dos pobres, London e Hart identificaram<br />

três estratégias que companhias bem-sucedidas usaram e que podem<br />

ser resumidas como a capacidade de se ajustar socialmente: colaborando<br />

com parceiros incomuns, co-inventando soluções específicas e<br />

fortalecendo a capacidade local. A colaboração com parceiros locais<br />

não tradicionais e a adaptação de produtos às condições e preferências<br />

locais foram mencionadas em muitos estudos de estratégias <strong>para</strong> se<br />

fazer negócios com os pobres (por exemplo, Prahalad 2004; Mair e<br />

Seelos 2006). Baseando-se em análises detalhadas de 50 casos, Wheeler<br />

e outros (2005) mostraram que empreendimentos sustentáveis em<br />

países em desenvolvimento, muitas vezes, envolvem redes informais<br />

que incluem empresas, organizações sem fins lucrativos, comunidades<br />

locais e outros atores.<br />

44 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


3<br />

A d a p t a ç ã o d e<br />

produtos e processos<br />

Quênia: A M-PESA<br />

desenvolveu um serviço de<br />

transferência monetária via<br />

celular com o objetivo de<br />

tornar as transações financeiras<br />

mais rápidas, baratas e seguras.<br />

Foto: Vodafone<br />

A Tsinghua Tongfang (THTF) levou os computadores <strong>para</strong><br />

produtores rurais chineses que jamais haviam visto ou usado um. Para<br />

compensar a falta de conhecimento em informática, a companhia criou softwares<br />

de uso intuitivo (Quadro 3.1). Através de inovações como essa, a THTF e muitas<br />

outras empresas vêm mostrando como os modelos de negócios inclusivos podem<br />

contornar obstáculos adaptando produtos e processos.<br />

Enquanto outras estratégias de inovação exigem o preenchimento de lacunas<br />

do mercado ou o engajamento de outros stakeholders, a adaptação de produtos<br />

ou processos permite que uma empresa contorne obstáculos agindo por conta<br />

própria. Por essa razão, tal estratégia é freqüentemente usada <strong>para</strong> lidar com<br />

problemas que são muito difíceis de resolver, como ambientes de regulamentação<br />

ineficazes ou infra-estrutura inadequada. Preencher essas lacunas pode ser muito<br />

caro ou levar tempo demais. Por outro lado, a criação de produtos e processos que<br />

contornem essas restrições de mercado pode, muitas vezes, ser a única opção <strong>para</strong><br />

um modelo de negócio inclusivo. Adaptações raramente são utilizadas <strong>para</strong> suprir<br />

a falta de conhecimento ou habilidades. Isso se deve, em parte, ao fato de que<br />

comunicar e treinar é mais fácil do que adaptar produtos e processos, e os retornos<br />

costumam ser mais imediatos.<br />

CAPÍTULO 3. ADAPTAÇÃO DE PRODUTOS E PROCESSOS<br />

45


Quadro 3.1. Estudo de caso – Tsinghua<br />

Tongfang: eliminando a exclusão digital<br />

Nem todas as inovações usam novas tecnologias.<br />

Muitas adaptações de produtos chegam aos pobres de<br />

forma bem-sucedida através do que, aparentemente,<br />

seria um retrocesso tecnológico. Em contrapartida,<br />

a sua acessibilidade àqueles que devem ser beneficiados permite aumentos no crescimento e na<br />

lucratividade dos negócios.<br />

A Tsinghua Tongfang é uma empresa fabricante de computadores, em Pequim, que identificou um<br />

novo e rico mercado em um setor pouco avançado: o vasto setor de agricultura da China rural. Os 900<br />

milhões de agricultores chineses pouco se beneficiam de avanços tecnológicos que, em outros lugares,<br />

trouxeram grandes progressos <strong>para</strong> a produção agrícola. O cultivo depende de informações correntes<br />

e precisas, como em qualquer outra indústria, se não mais. Mas computadores pessoais e internet ainda<br />

são facilidades raras na China rural e praticamente desconhecidas pela sua população. Em 2003, a THTF<br />

percebeu essa situação como uma oportunidade de alcançar um grande mercado rural que ainda não<br />

havia sido explorado e, ao mesmo tempo, ajudar a diminuir a “exclusão digital”.<br />

A THTF conduziu três rodadas de pesquisa de mercado e identificou vários desafios. Em 2005, um<br />

computador básico custava o equivalente a três meses de salário de um agricultor – um gasto inviável,<br />

antes mesmo de considerar o custo mensal do serviço de internet (que, de qualquer forma, era ilusório<br />

em função do alto custo de arranque de provedores de serviço). De forma geral, mesmo os agricultores<br />

que podiam comprar um computador não saberiam utilizá-lo. Para completar, a qualidade da<br />

informação agrícola disponível on-line era bastante ruim.<br />

A solução <strong>para</strong> a THTF foi desenvolver um produto específico <strong>para</strong> as necessidades dos produtores<br />

rurais, e ajustado aos seus recursos. Consumidores potenciais deixaram claro que o produto mais<br />

atraente precisaria oferecer o que a THTF denominou de “solução sistemática”:<br />

Outra razão é que certas habilidades básicas<br />

podem ser indispensáveis <strong>para</strong> estabelecer<br />

relações com consumidores, empregados ou<br />

produtores.<br />

Existem dois tipos distintos de adaptação:<br />

adaptação tecnológica e criação de processos<br />

de negócios. Os dois, normalmente, andam<br />

lado a lado, mas é importante fazer a distinção<br />

Estratégias<br />

entre eles. A expansão da telefonia móvel em<br />

países em desenvolvimento, por exemplo, é<br />

movida pela tecnologia. As redes sem fio liberam<br />

a transmissão de dados da dependência de redes<br />

de linhas terrestres ou de transportes. Mas a<br />

expansão da telefonia celular em si foi atribuída,<br />

em parte, a uma mudança nos processos de<br />

negócios – a de mover a venda de créditos<br />

em conta <strong>para</strong> cartões pré-pagos, o que torna<br />

desnecessário, <strong>para</strong> os consumidores, possuir<br />

uma conta no banco e libera os fornecedores de<br />

terem de se preocupar com as mensalidades. 1<br />

Obstáculos<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades com<br />

outras instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Líderes empresariais podem desenvolver<br />

adaptações eficazes observando e<br />

compreendendo os seus mercados-alvo.<br />

Napoleon Nazareno, diretor geral da Smart<br />

Communications, nas Filipinas, lembra-se de<br />

como lhe ocorreu a idéia de cartões pré-pagos<br />

com poucos volumes de crédito:”Um dos nossos<br />

vendedores fez o que veio a ser a pergunta<br />

certa: Por que não podemos vender créditos<br />

de telefone em pequenas quantidades – como<br />

sachês <strong>para</strong> sabonetes ou shampoos O nosso<br />

cartão de telefone mais barato, na época, custava<br />

300 pesos – aproximadamente $6. Barato Sim.<br />

Mas ainda muito caro <strong>para</strong> grande parte dos<br />

filipinos”. 2<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

A Smart utilizou, então, uma inovação já<br />

existente no mercado, o modelo sachê, e a<br />

traduziu <strong>para</strong> o seu próprio negócio.<br />

46 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


uma plataforma versátil, durável e de fácil conserto, que agregasse valor não apenas <strong>para</strong> a agricultura, mas<br />

também <strong>para</strong> a educação das crianças e <strong>para</strong> uma capacitação abrangente.<br />

A THTF precisava de um computador simples e de baixo custo que pudesse fazer muitas coisas e agüentar os<br />

rigores do ambiente rural. Então, a empresa criou um.<br />

Ju Li, Vice-Gerente Geral do departamento de computação da companhia disse: “O computador surgiu das<br />

mentes (...) das pessoas da indústria agrícola. Pensar como eles foi o nosso princípio básico. O que fizemos<br />

foi transformar as suas idéias em um produto tangível”. Usando o sistema operacional de livre acesso Linux, a<br />

THTF moldou o seu produto ao novo mercado, contratando vendedores<br />

locais <strong>para</strong> replicar programas mais caros de outras marcas. Para ajudar o<br />

seu produto a funcionar bem em um ambiente hostil, a empresa embutiu<br />

cabos elétricos com materiais repelentes de ratos. Além disso, adaptou<br />

um pacote de programas especializados <strong>para</strong> usuários rurais, incluindo<br />

treinamento <strong>para</strong> as atividades agrícolas e educação a distância, e um<br />

programa de habilidades vocacionais.<br />

A THTF adaptou o seu produto <strong>para</strong> atender os pobres, e o resultado é<br />

que os seus consumidores agora sabem como a tecnologia da informação<br />

pode trazer melhorias <strong>para</strong> o seu trabalho e <strong>para</strong> as suas vidas. Para se<br />

tornar auto-sustentável, a iniciativa de computação rural ainda deve<br />

amadurecer e crescer. Mas a inovação da THTF já pode ser usada por<br />

outras empresas high-tech que buscam maneiras de entrar nos mercados<br />

dos pobres.<br />

O novo modelo eliminou um obstáculo <strong>para</strong> a Smart – a falta de acesso<br />

dos seus consumidores pobres a serviços financeiros – que impedia que<br />

muitos deles pudessem pagar os $6 por um cartão telefônico.<br />

Modelos de negócios que eliminam restrições aparentemente<br />

insuperáveis nos seus mercados-alvo podem expandir-se rapidamente.<br />

De 2000 a 2005, o número de assinantes de telefones celulares nos<br />

países em desenvolvimento mais do que quintuplicou, indo <strong>para</strong> quase<br />

1,4 bilhões. 3 Somente nas Filipinas, os serviços bancários móveis<br />

contavam com 4 milhões de usuários em 2006 – e a indústria estava<br />

apenas começando. 4<br />

China: O custo de um<br />

computador equivale a três<br />

meses de salário de um<br />

agricultor. Foto: PNUD<br />

A l a v a n c a g e m t e c n o l ó g i c a<br />

Empreendimentos em mercados pobres podem<br />

se beneficiar com “saltos” tecnológicos – pular<br />

etapas intermediárias, <strong>para</strong> rapidamente levar<br />

uma área tecnologicamente pobre <strong>para</strong> um<br />

estado muito mais avançado e, dessa forma,<br />

aumentar a produtividade.<br />

Atualmente, a tecnologia de comunicação<br />

e informação está fornecendo a modelos de<br />

negócios inclusivos, adaptações de produtos<br />

e processos extremamente bem-sucedidas.<br />

Mas outras tecnologias também estão sendo<br />

utilizadas <strong>para</strong> enfrentar obstáculos em<br />

indústrias que atendem a necessidades básicas,<br />

como os setores de serviços essenciais e de<br />

saúde. Além disso, tecnologias que reduzem o<br />

uso de recursos oferecem formas de aliar os<br />

objetivos de desenvolvimento humano com os<br />

de sustentabilidade ambiental.<br />

Alavancagem de tecnologias de<br />

informação e comunicação. Tecnologias<br />

usadas <strong>para</strong> processar e transmitir informação<br />

– telefonia, computadores, internet e novas<br />

ferramentas de processamento de dados –<br />

têm sido a chave <strong>para</strong> o sucesso de muitos<br />

modelos de negócios inclusivos. Além disso,<br />

as adaptações que permitem que as empresas<br />

façam negócios com os pobres podem, em<br />

alguns casos, as levar a posições melhores em<br />

mercados de rendas mais elevadas.<br />

Uma adaptação bem-sucedida de tecnologia<br />

de informação e comunicação é a dos serviços<br />

bancários móveis (m-banking), que permitem<br />

o acesso a serviços financeiros a milhões de<br />

pessoas, mesmo vivendo muito distantes de<br />

agências bancárias – abertura de poupanças,<br />

CAPÍTULO 3. ADAPTAÇÃO DE PRODUTOS E PROCESSOS<br />

47


Quadro 3.2. Banco móvel:<br />

O banco móvel, ou m-banking, oferece serviços financeiros sem agências e sem fios<br />

através de celulares ou dispositivos similares <strong>para</strong> milhões de<br />

pessoas que antes não tinham acesso a bancos. Ele permite<br />

aos consumidores gastarem os créditos dos seus telefones<br />

celulares com serviços de remessas, compras a varejo e pagamentos de contas, e usá-los quase como<br />

contas de depósito. Com o m-banking, não é preciso haver uma agência bancária ou uma rede com fios.<br />

Livre dessas restrições de infra-estrutura, o m-banking está se espalhando rapidamente nos países em<br />

desenvolvimento.<br />

A Celtel mostrou como o m-banking pode funcionar sob circunstâncias difíceis de insegurança pósconflito.<br />

Em 2003, a República Democrática do Congo começou a oferecer o serviço de m-banking, logo<br />

após a assinatura do tratado de paz, quando a insegurança ainda reinava e as estruturas bancárias estavam<br />

debilitadas. O serviço, denominado Celpay, usa tecnologia de serviços de mensagens curtas (SMS) <strong>para</strong><br />

permitir que os clientes enviem fundos por todo o país. Uma forma eficiente de se fazer pagamentos em<br />

um país dividido pela guerra. O Celpay mostrou-se tão eficiente que até mesmo o governo usa o serviço<br />

<strong>para</strong> pagar os seus soldados.<br />

Os usuários estão encontrando meios próprios de expandir ainda mais os benefícios do m-banking. O<br />

Sente é uma prática informal de enviar e receber dinheiro que alavanca os quiosques de telefones públicos<br />

e redes de confiança em Uganda. Em vez de mandar dinheiro diretamente de telefone <strong>para</strong> telefone,<br />

alguém com acesso a um aparelho pode enviar créditos <strong>para</strong> o operador de um quiosque telefônico<br />

através da rede de telefonia celular. Convertendo os créditos de celular em dinheiro, o operador entrega<br />

a quantia a uma pessoa da família que não tem acesso a um telefone ou a uma agência bancária. Dessa<br />

maneira, o operador de confiança do quiosque e o seu aparelho celular substituem um caixa automático<br />

de banco.1 O receptor final pode economizar<br />

o custo de um dia de trabalho, além do custo<br />

da viagem <strong>para</strong> chegar até um centro de banco<br />

móvel. Além disso, o sistema elimina a necessidade<br />

de carregar dinheiro vivo – um benefício valioso<br />

em áreas sem segurança. O Sente é um exemplo<br />

de como os negócios e as inovações locais podem<br />

se ajudar mutuamente. Em breve, poderá haver<br />

investimentos de fornecedores de tecnologia <strong>para</strong><br />

tornar a prática mais segura e conveniente.<br />

1. Chipchase 2006.<br />

Senegal: Os pastores rastreiam as manadas<br />

de gado usando celulares e aparelhos com<br />

sistemas de posicionamento global (GPS).<br />

Foto: IDRC/Sy, Djibril<br />

realização de pagamentos e empréstimos,<br />

e recebimento de remessas, tudo sem pisar<br />

dentro de um banco (Quadro 3.2).<br />

De forma geral, a telefonia móvel oferece a<br />

infra-estrutura <strong>para</strong> fornecer outros serviços<br />

de bases de dados. O data highway pode,<br />

freqüentemente, substituir estradas precárias<br />

e a falta de redes logísticas. A telemedicina,<br />

por exemplo, está propiciando melhor acesso<br />

a serviços de saúde de qualidade a pessoas<br />

em áreas remotas: na Índia rural, a Narayana<br />

Hrudalayanaya estabeleceu centros de “telesaúde”<br />

conectados via satélite a facilidades<br />

centralizadas, permitindo que os médicos<br />

ajudem os pacientes a distância.<br />

Softwares inovadores e sistemas de<br />

reconhecimento de voz facilitam os negócios com<br />

analfabetos. Na Índia, o ICICI Bank e o Citibank<br />

desenvolveram caixas automáticos biométricos,<br />

com sistemas de identificação por impressão<br />

digital e voz, alcançando usuários que não tinham<br />

acesso a sistemas bancários. Na África do Sul,<br />

bem como em outros lugares, sistemas simples de<br />

reconhecimento através de cartões inteligentes<br />

também estão facilitando os processos de<br />

pagamento <strong>para</strong> vendedores e consumidores<br />

(Quadro 3.3).<br />

Os exemplos citados nesta seção mostram<br />

tecnologias de informação e comunicação<br />

sendo usadas <strong>para</strong> enfrentar quatro dos cinco<br />

grandes obstáculos da matriz estratégica do<br />

Desenvolvendo Mercados Inclusivos:<br />

A biometria permite que os negócios evitem<br />

problemas de segurança, documentação legal<br />

e validação de contratos em ambientes de<br />

regulamentação deficientes.<br />

48 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Redes sem fio estão substituindo a falta de<br />

infra-estrutura física e redes logísticas.<br />

Softwares de fácil utilização estão<br />

preenchendo as lacunas de conhecimento e<br />

habilidades dos consumidores.<br />

O m-banking e os cartões inteligentes<br />

compensam o acesso restrito a serviços<br />

financeiros.<br />

Além disso, a tecnologia de informação e<br />

comunicação pode ser usada <strong>para</strong> a obtenção<br />

de informações sobre o mercado – por exemplo,<br />

através de pesquisas eletrônicas. As atuais<br />

aplicações em uso certamente serão seguidas<br />

por muitas outras tecnologias que ajudarão os<br />

modelos de negócios inclusivos no futuro.<br />

Aplicação de soluções setoriais específicas.<br />

Existem outras tecnologias com tanto potencial<br />

quanto as tecnologias de informação e<br />

comunicação já existentes Embora nada<br />

se compare à habilidade da tecnologia de<br />

informação e comunicação de responder a uma<br />

ampla variedade de desafios, muitos outros tipos<br />

de tecnologias estão capacitando modelos de<br />

negócios inclusivos em setores específicos, como<br />

por exemplo:<br />

Novas tecnologias energéticas superam<br />

as limitações de serviços essenciais<br />

fornecidos por redes públicas. Em muitas<br />

áreas, o alto custo <strong>para</strong> se construir<br />

uma rede elétrica privou os pobres do<br />

acesso à eletricidade. Entretanto, soluções<br />

alternativas geram energia localmente<br />

<strong>para</strong> famílias ou comunidades inteiras, sem<br />

grandes investimentos em infra-estrutura<br />

interurbana. Recursos renováveis – como<br />

luz solar, vento, água, ou biomassa – podem<br />

ser usados. No sudeste do Mali, a Électricité<br />

de France colaborou com parceiros locais<br />

e internacionais <strong>para</strong> estabelecer duas<br />

companhias rurais de energia que produzem<br />

eletricidade através de facilidades fotovoltaicas<br />

e geradores a diesel <strong>para</strong> 24 vilarejos e 40.000<br />

habitantes. O acesso à energia, por sua vez,<br />

permite a aplicação de mé<strong>todos</strong> de produção<br />

mais eficientes e o uso de outros produtos<br />

e serviços, pre<strong>para</strong>ndo o terreno <strong>para</strong> mais<br />

modelos de negócios inclusivos.<br />

Sistemas purificadores permitem que a água<br />

disponível localmente seja tratada <strong>para</strong> o<br />

consumo doméstico, podendo ser usada<br />

<strong>para</strong> beber e cozinhar. Dessa forma, tornase<br />

desnecessário o uso de tubulações <strong>para</strong> a<br />

distribuição. A Procter & Gamble está vendendo<br />

sachês com uma solução purificadora de<br />

água chamada PUR, em colaboração com<br />

organizações sem fins lucrativos, e em vários<br />

países em desenvolvimento – como Haiti,<br />

Vietnã e Paquistão. As organizações sem fins<br />

lucrativos compram o produto por $0,04 a<br />

unidade (o custo da produção) e o revendem<br />

por $0,05 <strong>para</strong> pequenos empresários que,<br />

por sua vez, vendem <strong>para</strong> os moradores por<br />

menos de $0,10. No final de 2006, a Procter &<br />

Gamble já havia vendido 57 milhões de sachês<br />

e fornecido 260 milhões de litros de água<br />

potável em todo o mundo. A companhia agora<br />

vende o produto nos Estados Unidos por $2,50<br />

a unidade.<br />

Tecnologias de saneamento podem tratar o<br />

esgoto no local. Na Índia, a Sulabh utiliza um<br />

líquido sanitário que seca os dejetos em vez de<br />

removê-los. Duas fossas são instaladas e usadas<br />

alternadamente, <strong>para</strong> a secagem. A água que<br />

vaza através das paredes das fossas é filtrada<br />

naturalmente e não polui a água do solo.<br />

Os dejetos sólidos secam e formam massas<br />

que podem<br />

Quadro 3.3. Cartões<br />

inteligentes: pagamentos<br />

high-tech permitem à<br />

Amanz’abantu levar água<br />

aos pobres da África do Sul<br />

Para reforçar o<br />

reconhecimento<br />

constitucional<br />

da África do<br />

Sul de que a<br />

água é um<br />

direito humano, o governo do país contratou a<br />

Amanz’abantu <strong>para</strong> fornecer água <strong>para</strong> as populações<br />

rurais e periféricas. Antes da chegada da companhia,<br />

os habitantes – na maioria mulheres – precisavam<br />

andar durante muitas horas <strong>para</strong> obter água de rios<br />

ou de outras fontes. Agora, elas recebem cartões<br />

inteligentes com microprocessadores contendo<br />

dados que permitem o acesso à água potável de<br />

torneiras coletivas. Elas dispõem de <strong>valores</strong> em<br />

dinheiro nos cartões utilizando as máquinas de leitura<br />

em lojas nos vilarejos.<br />

O sistema de cartões inteligentes da Amanz’abantu<br />

permitiu ao governo garantir o acesso, livre e<br />

equi<strong>para</strong>do, a 25 litros de água por dia por pessoa,<br />

e o acesso a uma quantidade de água extra por<br />

custos muito baixos. (Em Uganda, a Associação dos<br />

Operadores Privados de Água alcançou o mesmo<br />

resultado com uma solução menos avançada<br />

tecnologicamente: torneiras coletivas operadas com<br />

moedas).<br />

CAPÍTULO 3. ADAPTAÇÃO DE PRODUTOS E PROCESSOS<br />

49


posteriormente ser removidas<br />

pelos usuários. Dessa forma, não há<br />

necessidade <strong>para</strong> uma rede de esgotos.<br />

A tecnologia e a biotecnologia na<br />

medicina oferecem novas maneiras<br />

de superar obstáculos de infraestrutura<br />

e logística. Em 1980, houve<br />

um grande avanço na adaptação de<br />

vacinas <strong>para</strong> doenças transmissíveis<br />

com altos índices de mortalidade – o<br />

sarampo, a rubéola, a coqueluche, a<br />

difteria, o tétano, a tuberculose – nos<br />

países em desenvolvimento. Vacinas<br />

antigas exigiam o transporte direto,<br />

com manutenção da cadeia fria, até o<br />

local de uso. Porém, as novas vacinas,<br />

desenvolvidas com tecnologia de<br />

secagem a frio, agüentam melhor o calor.<br />

Juntamente com outras adaptações,<br />

como coquetéis de vacinas <strong>para</strong> uma<br />

única aplicação, essas inovações<br />

aumentaram os índices de vacinação. 5<br />

Alcance da sustentabilidade ambiental<br />

A tecnologia ajuda as empresas a fazer<br />

negócios em condições adversas. Além<br />

disso, pode ajudá-las a agir de forma mais<br />

sustentável <strong>para</strong> o meio ambiente. Fontes<br />

renováveis de energia, por exemplo,<br />

fornecem eletricidade sem causar mais<br />

ameaças ao clima mundial.<br />

A Sadia, empresa brasileira de<br />

alimentos, incluiu a sustentabilidade<br />

ambiental no seu plano de geração de<br />

renda. O seu Programa Suinocultura<br />

Sustentável Sadia fornece, a mais de 3.500<br />

produtores, biodigestores que utilizam<br />

bactérias <strong>para</strong> fermentar os dejetos<br />

dos porcos em reservatórios lacrados.<br />

Convertendo o gás metano resultante<br />

em dióxido de carbono, os biodigestores<br />

reduzem a emissão de gases do efeito<br />

estufa. No âmbito do Mecanismo de<br />

Desenvolvimento Limpo, essa redução nas<br />

emissões gera créditos de carbono que<br />

podem ser vendidos <strong>para</strong> outras empresas.<br />

Estima-se que a venda desses créditos<br />

é o bastante <strong>para</strong> cobrir os gastos com<br />

os biodigestores. Além disso, os gases<br />

produzidos no processo podem ser usados<br />

como energia – reduzindo os custos de<br />

operação <strong>para</strong> os produtores. O derivado<br />

do processo de fermentação também pode<br />

ser aproveitado como fertilizante ou como<br />

ração <strong>para</strong> os criadores de peixes.<br />

Criação de processos de negócios<br />

Embora a tecnologia prometa criar novas<br />

formas de lidar com desafios e facilitar a<br />

prosperidade dos modelos de negócios,<br />

ela não oferece certeza de sucesso. Efeitos<br />

semelhantes podem, muitas vezes, ser obtidos<br />

através da criação de processos de negócios<br />

que potencializem recursos e capacidades<br />

existentes <strong>para</strong> contornar os obstáculos.<br />

Adequação ao fluxo de renda dos pobres<br />

Formas inteligentes de pagamento e<br />

procedimentos de afixação de preços permitem<br />

que os modelos de negócios inclusivos<br />

ajustem-se aos fluxos de renda dos seus<br />

consumidores e fornecedores, os quais são<br />

limitados por salários baixos e inconstantes<br />

e pela falta de acesso a serviços financeiros.<br />

Salários baixos e inconstantes não significam<br />

incapacidade de consumo ou de investimento –<br />

apenas uma restrição sobre grandes gastos em<br />

compras futuras. Sem poupança, crédito ou<br />

seguro, os pobres têm opções limitadas <strong>para</strong><br />

administrar os seus recursos financeiros.<br />

Muitos trabalhadores pobres recebem<br />

os seus salários diariamente e compram<br />

apenas o que precisam <strong>para</strong> cada dia. Os<br />

produtores rurais recebem os seus ganhos<br />

após as colheitas, que dependem de ciclos<br />

específicos e podem ocorrer apenas uma<br />

vez ao ano. Modelos de negócios inclusivos<br />

necessitam de procedimentos de pagamentos<br />

que se adaptem a esses padrões de fluxos.<br />

Uma solução, já bastante testada,<br />

<strong>para</strong> adaptar as ofertas de produtos<br />

ao comportamento de compra dos<br />

consumidores pobres – de sabonetes a<br />

telefones celulares – é a venda em pequenas<br />

quantidades. 6 Todos os tipos de bens de<br />

consumo, de shampoos a especiarias, são<br />

hoje vendidos em pequenas embalagens ou<br />

“sachês”.<br />

50 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Índia: Os sanitários da Sulabh, operados com moedas,<br />

fornecem saneamento de baixo custo <strong>para</strong> consumidores<br />

pobres. Foto: Sulabh<br />

Além do exemplo da telefonia móvel, esse<br />

modelo tem sido usado <strong>para</strong> fornecer água<br />

(com torneiras comunitárias operadas<br />

através de cartões inteligentes ou moedas)<br />

e saneamento (os sanitários operados com<br />

moedas da Sulabh). Funcionando através de<br />

pré-pagamentos, esses modelos de negócios<br />

livram os fornecedores do risco de não receber<br />

pelos seus serviços.<br />

Para compras maiores, que não podem ser<br />

facilmente divididas em pacotes de pequenas<br />

quantidades, estão sendo desenvolvidas<br />

soluções que se aproximam do leasing e<br />

de parcelamentos. O produtor de cimento<br />

do México, Cemex, oferece um sistema de<br />

pagamento, Patrimônio Hoy, que permite<br />

às famílias de baixa renda comprar casas<br />

através de parcelamento – dando-lhes<br />

acesso suplementar a serviços, cimento e<br />

outros materiais de construção através de<br />

um programa de poupança em grupo. No<br />

Brasil, a Microsoft oferece um esquema de<br />

microleasing, o FlexGo, <strong>para</strong> computadores<br />

que usam o seu sistema Windows.7 Os<br />

consumidores pagam uma parcela do custo<br />

total e levam o computador <strong>para</strong> casa. Eles<br />

pagam o restante na compra de cartões<br />

pré-pagos de vendedores locais que ativam<br />

o computador por um determinado tempo,<br />

deixando-o em um estado de acesso limitado<br />

quando esse tempo é excedido. Quando<br />

o computador é quitado, a tecnologia de<br />

limitação de tempo é desativada.<br />

Pagamentos flexíveis dão aos consumidores<br />

a opção de pagar em épocas diferentes. Em<br />

Mali, no sistema de eletrificação rural da<br />

Électricité de France, os consumidores podem<br />

pagar um preço fixo, tanto mensal quanto<br />

anual, pela sua eletricidade. A opção anual pode<br />

facilitar o pagamento <strong>para</strong> os produtores rurais<br />

que recebem os seus ganhos uma vez ao ano.<br />

Esquemas de crédito também devem ser<br />

adaptados aos fluxos de renda. Produtores<br />

de baixa renda têm dificuldades <strong>para</strong><br />

realizar investimentos na produção que<br />

são pagos apenas em longo prazo. Em vez<br />

de desembolsarem grandes quantias, com<br />

resultados incertos, eles preferem investir<br />

em opções de prazos menores – mesmo que<br />

sejam menos lucrativas. Modelos de negócios<br />

inclusivos enfrentam esse desafio adequando<br />

os mé<strong>todos</strong> dos serviços de crédito aos fluxos<br />

de renda. Em Gana, a Companhia Integrada<br />

Tamale Fruit oferece aos produtores de mangas<br />

empréstimos <strong>para</strong> os seus investimentos<br />

iniciais. Os empréstimos têm vencimentos<br />

que variam de três a seis anos após o plantio,<br />

quando as árvores começam a dar frutos. No<br />

Brasil, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) age<br />

como uma espécie de fiador dos empréstimos<br />

concedidos aos seus fornecedores de eucalipto,<br />

que levam sete anos <strong>para</strong> colher a primeira<br />

safra. Os empréstimos são fornecidos pelo ABN<br />

Amro, sem garantias reais. A VCP garante a<br />

compra da colheita por pelo menos o valor da<br />

dívida mais os juros.<br />

Simplificação de exigências. A falta de<br />

conhecimento e habilidades é outro grande<br />

obstáculo que os modelos de negócios inclusivos<br />

enfrentam. Uma solução comum é “des-habilitar”<br />

– simplificar os processos ou tornar os produtos<br />

mais fáceis de usar.<br />

CAPÍTULO 3. ADAPTAÇÃO DE PRODUTOS E PROCESSOS<br />

51


Um exemplo é o da instituição de<br />

microfinanças Edu-Loan, fornecedor<br />

de empréstimos <strong>para</strong> a educação póssecundária,<br />

que enfatizou a acessibilidade<br />

e simplificou toda a documentação <strong>para</strong><br />

que seus clientes sul-africanos pudessem<br />

compreender claramente todo o processo do<br />

empréstimo. Outro exemplo é o da fabricante<br />

de computadores chinesa Tsinghua Tongfang<br />

(ver o Quadro 3.1), que adaptou os seus<br />

softwares ao perfil dos produtores rurais –<br />

pré-instalando programas de agricultura <strong>para</strong><br />

poupar os usuários da complexa tarefa de fazêlo<br />

por conta própria.<br />

As empresas podem ainda tratar a falta<br />

de documentação dos pobres simplificando as<br />

exigências <strong>para</strong> apresentação dos mesmos. 9<br />

Serviços que demandam relacionamentos de<br />

longa duração – como os serviços essenciais,<br />

banking ou telecomunicações – normalmente<br />

exigem muita documentação. Mas os pobres<br />

podem não possuir sequer documentos de<br />

identidade, menos ainda documentos provando<br />

que têm emprego fixo ou que possuem<br />

imóveis. Diferentemente das instituições<br />

tradicionais de crédito, fornecedores de<br />

microcrédito como o Mibanco, no Peru, não<br />

exigem essa documentação <strong>para</strong> garantir<br />

empréstimos. Os clientes potenciais precisam<br />

apenas apresentar uma identificação oficial,<br />

provar que têm um endereço fixo e mostrar<br />

que têm uma renda significativa. Consultores<br />

de negócios locais avaliam a confiabilidade dos<br />

clientes e, por fim, aprovam o empréstimo. Até<br />

agora, o modelo forneceu crédito <strong>para</strong> mais de<br />

300.000 clientes, representando um portfólio<br />

que passa dos 1,63 bilhões.<br />

Evitamento de incentivos adversos.<br />

Alguns modelos de microcrédito eliminaram<br />

por completo a necessidade de documentação<br />

ou de garantias e, em vez disso, baseiam-se<br />

em incentivos criados através de empréstimos<br />

grupais, como faz o Forus Bank, na Rússia.<br />

Devedores que não quitam as suas dívidas<br />

não apenas perdem a oportunidade de pedir<br />

mais empréstimos <strong>para</strong> si, mas também evitam<br />

que outros membros do seu grupo obtenham<br />

empréstimos futuros. Já que o não pagamento<br />

resulta em vergonha e exclusão social, o<br />

incentivo <strong>para</strong> pagar é alto. Os índices atuais<br />

de pagamentos realizados por empréstimos<br />

grupais no Grameen Bank excedem 98%. 9 (O<br />

capítulo 5 discute outros mé<strong>todos</strong> <strong>para</strong> que as<br />

empresas reforcem o engajamento comunitário<br />

como um meio de evitar obstáculos).<br />

O seguro de clima oferecido na Índia pela<br />

MFI Basix é outro exemplo de adaptação<br />

<strong>para</strong> lidar com incentivos adversos. Os<br />

seguros tradicionais <strong>para</strong> colheitas, nos quais<br />

os assegurados pagam por títulos baseados<br />

em avaliações de perdas, falhou em muitos<br />

países, principalmente por causa do alto<br />

custo de monitoramento e das inspeções<br />

de propriedades rurais. Tais inspeções são<br />

necessárias porque os sistemas tradicionais<br />

dão um incentivo aos titulares <strong>para</strong><br />

aumentar ou inventar perdas na colheita. O<br />

seguro oferecido pela Basix contorna esse<br />

problema baseando os seus pagamentos<br />

em informações amplamente disponíveis<br />

dos índices pluviométricos. 10 Esse seguro<br />

diminui, significativamente, a burocracia e a<br />

necessidade de administração.<br />

Flexibilização das operações.<br />

Aprimoramentos inteligentes podem ajudar<br />

os modelos de negócios inclusivos, mesmo<br />

nas circunstâncias mais desencorajadoras,<br />

incluindo condições prolongadas de<br />

instabilidade política e insegurança. Na<br />

Guiné, uma associação de produtores de caju<br />

buscava evitar as falhas administrativas que<br />

países vizinhos, como a Costa do Marfim,<br />

haviam sofrido devido à combinação de<br />

instabilidade política e unidades de capital<br />

intensivo. Usando tecnologia eficaz e de<br />

baixo custo, a associação estabeleceu<br />

unidades de pequeno porte próximas das<br />

vilas dos produtores. Essa decisão evitou o<br />

custo inicial de investimento em instalações<br />

centrais maiores e tornou o processo de<br />

produção mais independente dos efeitos<br />

de conflitos políticos (como bloqueios de<br />

estradas). Além disso, no pior dos cenários,<br />

esse modelo facilitaria o processo de<br />

desinvestimento.<br />

Provisão <strong>para</strong> os grupos. Muitas vezes<br />

as comunidades acessam recursos através<br />

de esforços conjuntos, especialmente <strong>para</strong><br />

despesas significativas, como bens duráveis<br />

e serviços dependentes de infra-estrutura.<br />

De tratores a bicas d’água, telefone e redes<br />

de televisão, o uso compartilhado pode<br />

amortizar os custos e tornar as compras mais<br />

acessíveis. Fornecer infra-estrutura <strong>para</strong> um<br />

grupo também gera economias nas conexões<br />

<strong>para</strong> as residências individuais.<br />

O acesso compartilhado pode ser<br />

organizado de duas formas:<br />

Um membro da comunidade faz a compra<br />

e cobra dos outros uma taxa de acesso.<br />

Nesse modelo, amplamente empregado,<br />

o empreendedor é o único cliente da<br />

empresa.<br />

52 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 3.1. Resumo: Abordagens <strong>para</strong> adaptar produtos e processos<br />

Obstáculos<br />

Estratégia 1<br />

Adaptação de produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Evitamento de incentivos adversos (seguros<br />

baseados em indicadores regionais evitam<br />

exigências de relatórios)<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Alavancagem de TIC (sistemas de<br />

reconhecimento evitam a necessidade de<br />

documentação legal e fraudes)<br />

Simplificação de exigências (redução da<br />

necessidade de documentação legal)<br />

Evitamento de incentivos adversos (a pressão do<br />

grupo substitui os sistemas de reforço formais)<br />

Flexibilização das operações (unidades menores<br />

de produção reduzem os riscos de insegurança)<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Alavancagem de TIC (a comunicação sem fio<br />

substitui o transporte e as instalações físicas – no<br />

m-banking e na telemedicina, por exemplo)<br />

Aplicação de soluções setoriais específicas<br />

(produção de energia fora de redes, sistemas<br />

de purificação de água, tratamento de esgoto<br />

localizado)<br />

Provisão <strong>para</strong> grupos (gerando economias na<br />

infra-estrutura de conexão e redução de custos<br />

individuais)<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Alavancagem de TIC (projeção de interfaces<br />

inteligentes <strong>para</strong> simplificar a interatividade)<br />

Simplificação de exigências (adequação dos<br />

processos de acordo com os níveis de habilidades<br />

dos usuários)<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Alavancagem de TIC (m-banking)<br />

Adequação ao fluxo de renda dos pobres<br />

(venda em pequenas quantidades, parcelamento,<br />

pagamentos flexíveis, crédito ajustado ao fluxo de<br />

renda)<br />

Um exemplo é a “Mamans GSM”, na<br />

República Democrática do Congo, que<br />

compra aparelhos celulares e créditos e<br />

aluga-os <strong>para</strong> outros. Na África do Sul a<br />

SharedPhone desenvolveu um aplicativo<br />

SIM que permite ao revendedor estabelecer<br />

uma carga mínima e limitar a duração da<br />

chamada (mostrado de forma precisa pelo<br />

sistema). 11<br />

Os usuários são cobrados individualmente<br />

pelo que consomem. Esse modelo requer<br />

um método transparente e eficiente de<br />

contabilidade e cobrança. Em Uganda,<br />

a solução técnica desenvolvida pela<br />

Associação dos Operadores Privados<br />

de Água foram os quiosques operados<br />

por moedas nas pequenas cidades. Na<br />

Índia, a Sulabh apresentou a solução<br />

eficiente dos sanitários com tarifas de<br />

uso em áreas públicas. Nas Filipinas,<br />

a Manila Water combinou adaptação<br />

técnica com engajamento comunitário,<br />

responsabilizando os grupos de usuários<br />

pelos pagamentos e ao mesmo tempo<br />

fornecendo-lhes informação sobre o<br />

uso individual através de medidores de<br />

consumo.<br />

CAPÍTULO 3. ADAPTAÇÃO DE PRODUTOS E PROCESSOS<br />

53


Na Índia, os e-Choupals, ou quiosques<br />

de internet, são um modelo <strong>para</strong> o<br />

fornecimento de recursos compartilhados<br />

voltado <strong>para</strong> produtores. Para tornar a<br />

pesagem e o pagamento da soja mais<br />

eficiente, a ITC Limited, companhia de<br />

produtos agrícolas do país, instalou os<br />

quiosques nos vilarejos dos fornecedores.<br />

Um quiosque atende a uma média de 600<br />

produtores rurais, em 10 vilarejos, dentro<br />

de um raio de aproximadamente cinco<br />

quilômetros. Eliminando a necessidade de<br />

levar a soja até o mercado e excluindo os<br />

intermediários, os quiosques aumentaram<br />

o poder de barganha dos agricultores e ao<br />

mesmo tempo permitiu à ITC revender o<br />

produto a preços mais favoráveis – benefício<br />

que torna a atividade da ITC mais lucrativa<br />

mesmo fornecendo os quiosques de graça.<br />

A companhia pretende atuar com essa rede<br />

em 100.000 vilarejos ao longo da próxima<br />

década. 12<br />

Não é de se surpreender, portanto, que as<br />

soluções criativas apresentadas nesse capítulo<br />

foram as que mais chamaram a atenção da<br />

comunidade empresarial na busca de modelos<br />

de negócios que incluem os pobres. Entretanto,<br />

adaptação não é a única estratégia <strong>para</strong> lidar<br />

com ambientes de mercado desfavoráveis.<br />

Na verdade, não é, sequer, a estratégia<br />

mais comum entre os 50 estudos de casos<br />

incluídos neste relatório. Existem outras quatro<br />

estratégias que são, no mínimo, tão importantes<br />

quanto <strong>para</strong> os modelos de negócios inclusivos:<br />

investimento na remoção de restrições do<br />

mercado, fortalecimento do potencial dos<br />

pobres, combinação de recursos e capacidades<br />

com outras instituições e engajamento no<br />

diálogo político com o governo (figura 3.1).<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

Um exemplo: “A introdução de serviços pré-pagos têm sido um dos principais fatores que contribuem<br />

<strong>para</strong> a expansão explosiva do setor de telefonia móvel nos países menos desenvolvidos, onde mais da<br />

metade da população vive com menos de um dólar por dia. Os cartões pré-pagos dão aos assinantes<br />

mais controle sobre os seus gastos com celulares, liberando as operadoras de tarefas demoradas de<br />

checagem de crédito, que são essenciais na opção do serviço por assinatura” (ITU 2006).<br />

Citado em Ganchero 2007.<br />

Hammond e outros 2007, p. 22.<br />

Porteous e Wishart 2006.<br />

PNUD 2001, p. 27.<br />

A venda em pequenas quantidades não torna o produto necessariamente mais barato. Ao contrário,<br />

muitas vezes leva a um aumento de preço se com<strong>para</strong>do com a relação preço-quantidade de embalagens<br />

maiores. Porém, esse modelo aumenta o poder de compra pelo ajuste do preço ao fluxo de renda do<br />

comprador.<br />

Para mais informações sobre o sistema pré-pago do FlexGo da Microsoft ver<br />

www.microsoft.com/presspass/press/2006/may06/05-21EmergingMarketConsumersPR.mspx.<br />

Sujeito às exigências do banco central quanto a regulamentações <strong>para</strong> obtenção de informações sobre<br />

o cliente, lavagem de dinheiro e o combate ao financiamento do terrorismo.<br />

Website do Grameen Bank (www.grameeninfo.org/bank/atagrlance/GBGlance.htm).<br />

Entretanto, onde não existe infra-estrutura confiável, como estações meteorológicas, essa informação<br />

pode não estar disponível. O seguro baseado em índices regionais tem inconveniências, como a<br />

confiabilidade da informação. Danos causados pelo clima podem variar muito devido a diferenças<br />

topográficas que não são relatadas nos dados climáticos.<br />

Website do SharedPhone (www.sharedphone.co.za).<br />

Annamalai e Rao 2003, pp. 1–2 (www.echoupal.com).<br />

54 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


4<br />

I n v e s t i m e n t o n a<br />

remoção de restrições<br />

do mercado<br />

Mauritânia: Em um ambiente<br />

desértico, a Tiviski investiu em<br />

infra-estrutura e treinamento,<br />

construindo instalações <strong>para</strong><br />

a fabricação de laticínios e<br />

desenvolvendo programas<br />

<strong>para</strong> os pastores.<br />

Foto: Tiviski<br />

Nancy Abeiderrahmane fez investimentos incomuns <strong>para</strong> o<br />

ambiente de negócios da Mauritânia. Todo empreendimento no setor de laticínios<br />

precisa de uma linha de refrigeração e instalações de armazenamento. Mas nem<br />

<strong>todos</strong> necessitam oferecer treinamento ou seguros <strong>para</strong> os seus fornecedores.<br />

Ao treinar os pastores em temas de administração e estabelecer um sistema<br />

de seguros contra a volatilidade da produção e a perda de animais, Nancy<br />

removeu do seu mercado de atuação obstáculos com relação a conhecimento e<br />

habilidades, infra-estrutura e acesso a financiamento – fornecendo as condições<br />

que o seu negócio precisava <strong>para</strong> ter sucesso, às quais empresas em mercados<br />

desenvolvidos normalmente já têm garantidas. (Quadro 4.1).<br />

Como mostra o capítulo 2, os mercados pobres caracterizam-se por cinco<br />

grandes obstáculos que obstruem a entrada e o crescimento dos negócios:<br />

informação de mercado limitada, ambiente regulatório ineficiente, infra-estrutura<br />

inadequada, falta de conhecimentos e habilidades e acesso restrito a produtos e<br />

serviços financeiros entre os fornecedores e consumidores potenciais. Para serem<br />

bem-sucedidos, muitos modelos de negócios inclusivos investem na remoção<br />

desses obstáculos.<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

55


Quadro 4.1. Estudo de caso –<br />

Tiviski: dinheiro bem gasto<br />

A maioria dos três milhões de habitantes da árida Mauritânia são<br />

pastores nômades. A idéia de ali fundar um negócio na área de laticínios<br />

tomou forma quando Nancy Abeiderrahmane, uma empreendedora<br />

local, visitou uma pequena fábrica de produção de leite na Europa. Ela<br />

enxergou imediatamente o potencial econômico <strong>para</strong> o processamento<br />

de leite em Nouakchott, na Mauritânia, uma cidade onde o leite de camelo era vendido de porta em<br />

porta, em condições primitivas e anti-higiênicas. Nancy fala da oportunidade de estabelecer a primeira<br />

fábrica de laticínios de camelo na África, algo que ninguém havia feito antes: “As ONGs não queriam<br />

fazê-lo (negócios de laticínios), os governos também não, e você realmente precisa de alguém que, de<br />

alguma forma, acredite que aquilo poderá ser lucrativo”.<br />

Nancy enfrentou muitos desafios. A venda do leite requer um grande mercado e economia de escala<br />

<strong>para</strong> a coleta, processamento e embalagem. As fontes de leite da Mauritânia eram muito dispersas,<br />

a indústria de laticínios não tinha regulamentação nem infra-estrutura <strong>para</strong> armazenamento ou<br />

processamento. Os pastores e os produtores de leite estavam espalhados por toda a região e não<br />

tinham apoio veterinário formal ou outros serviços <strong>para</strong> o cuidado dos animais. Além disso, no ambiente<br />

desértico, as facilidades de transporte terrestre eram quase inexistentes.<br />

Ela conseguiu enfrentar <strong>todos</strong> esses problemas preenchendo lacunas de infra-estrutura da Mauritânia e<br />

engajando os pobres. O seu plano <strong>para</strong> a coleta e venda de leite de camelo encontrou um financiador,<br />

o banco de desenvolvimento “Caísse Centrale de Coopération Economique” (atual Agência Francesa<br />

de Desenvolvimento), que lhe emprestou um milhão de francos <strong>para</strong> começar. Esse investimento<br />

inicial permitiu que Nancy construísse instalações <strong>para</strong> a coleta, processamento e armazenamento,<br />

capacitando a Tiviski Dairy <strong>para</strong> operar ao longo de um vasto campo de fornecimento e entregar o leite<br />

em condições seguras no mercado.<br />

Obstáculos<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Muitos negócios inclusivos investem no<br />

conhecimento e na capacitação dos seus<br />

consumidores, produtores, empregados<br />

ou microempreendedores alvo através de<br />

treinamento, marketing e educação. Como<br />

mostra a matriz, investimentos são feitos com<br />

menos freqüência <strong>para</strong> tornar os ambientes<br />

reguladores mais eficazes, já que as empresas<br />

não têm legitimidade <strong>para</strong> estabelecer ou<br />

reforçar as regulamentações. Elas podem<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

apenas fazer cumprir aquelas já existentes, ou<br />

criar regras <strong>para</strong> a própria organização.<br />

Investir <strong>para</strong> remover restrições em<br />

mercados pobres pode criar valor <strong>para</strong> a<br />

empresa e <strong>para</strong> a sociedade. No âmbito<br />

privado, os investimentos podem aumentar<br />

a qualidade e a produtividade de uma firma<br />

e estimular a demanda de mercado. Além<br />

disso, pode levar ao desenvolvimento de<br />

novas capacidades, incrementar a reputação<br />

corporativa e melhorar a competitividade. 1<br />

No âmbito público, a remoção de restrições<br />

do mercado cria benefícios que são<br />

compartilhados além dos negócios. Por<br />

exemplo, uma firma que oferece educação e<br />

treinamento <strong>para</strong> os seus empregados ajuda a<br />

criar uma força de trabalho mais capacitada,<br />

um recurso que é compartilhado na medida<br />

em que os trabalhadores partem <strong>para</strong> outros<br />

empregos e oportunidades de negócios. Da<br />

mesma forma, uma firma que colhe e analisa<br />

informações sobre o mercado pode se tornar<br />

a principal beneficiária dos seus esforços.<br />

Porém, conforme começa a ser bem-sucedida,<br />

outros irão aprender e imitar a sua abordagem,<br />

o que aumenta as escolhas do consumidor e<br />

reduz os preços – trazendo benefícios <strong>para</strong><br />

consumidores ainda mais pobres.<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Sob a perspectiva tradicional do<br />

planejamento de negócios, a questão seria<br />

saber se investir na remoção de obstáculos<br />

no mercado existente poderia gerar valor<br />

econômico o suficiente <strong>para</strong> ser considerado<br />

rentável.<br />

56 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A Tiviski também investiu em programas de apoio <strong>para</strong> os pastores – a força vital da companhia<br />

– dando-lhes treinamento, cuidados veterinários e rações a preços justos. Em seguida, com os<br />

empréstimos da Proparco, da Corporação Financeira Internacional e de um banco local, além do fluxo<br />

de caixa da própria empresa, a Tiviski não tardou a investir os 4 milhões necessários <strong>para</strong> a construção<br />

de uma usina de processamento de alta temperatura. Atualmente, a empresa exporta queijo de camelo<br />

<strong>para</strong> Nova York.<br />

A disposição de Nancy em arriscar um grande investimento inicial trouxe recompensas <strong>para</strong> ela e muitos<br />

outros Mauritanos. A Tiviski é lucrativa. Ela emprega diretamente 200 pessoas e apóia indiretamente<br />

1.000 famílias. A atividade pastoril está se tornando mais bem aceita como uma ocupação. Leite de<br />

camelo seguro e disponível em maior escala está trazendo saúde <strong>para</strong> muitos. Um meio de vida<br />

tradicional está sendo preservado. E mais, o negócio é ambientalmente sustentável. “Nossa experiência é<br />

muito simples e pode ser facilmente reproduzida” diz Nancy. Além disso, “você tem a satisfação de estar<br />

fazendo uma grande diferença <strong>para</strong> muita gente”.<br />

Mauritânia: A Tiviski oferece<br />

treinamento, cuidados<br />

veterinários e também<br />

fornece rações a preços justos<br />

<strong>para</strong> os pastores. Foto: Tiviski<br />

Entretanto, sob a perspectiva dos modelos de negócios inclusivos, surge uma<br />

segunda questão: É possível aumentar o investimento na criação de valor social<br />

<strong>para</strong> acionar fontes alternativas de financiamento e reduzir o custo de capital<br />

da empresa Este capítulo aborda as duas questões.<br />

F o c o n a g e r a ç ã o d e v a l o r<br />

A remoção de restrições nos mercados pobres<br />

é rentável quando gera valor tangível (através<br />

do aumento de produtividade, qualidade ou<br />

demanda de mercado), assegurando benefícios<br />

suficientes <strong>para</strong> a empresa. Mas remover<br />

obstáculos também pode ser rentável ao criar,<br />

ou desencadear, <strong>valores</strong> intangíveis ou de<br />

longo prazo.<br />

Realização de pesquisa de mercado. Colher<br />

informações sobre o mercado cria valor tangível.<br />

A Construmex, um empreendimento do gigante<br />

da construção mexicana, a CEMEX, foi concebida<br />

<strong>para</strong> disponibilizar um produto de “remessa em<br />

espécie”, permitindo que os emigrantes mexicanos<br />

nos Estados Unidos comprassem materiais de<br />

construção <strong>para</strong> os seus familiares no México.<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

57


Marrocos: A Lydec<br />

está fornecendo infraestrutura<br />

adequada em<br />

Casablanca. Foto: Lydec<br />

os direitos de propriedade sobre essa<br />

informação – ao menos no começo. Mais<br />

tarde, após o sucesso da empresa, outros<br />

poderão observar e se beneficiar replicando<br />

as mesmas iniciativas.<br />

Investimento em infra-estrutura.<br />

Empresas que dependem de infra-estrutura<br />

de distribuição provavelmente terão de<br />

investir no preenchimento de lacunas na<br />

infra-estrutura. Investimentos assim são<br />

menos comuns <strong>para</strong> estradas do que <strong>para</strong><br />

infra-estrutura própria, como dutos, linhas<br />

terrestres ou redes de energia.<br />

Apesar do conhecimento que a CEMEX<br />

tinha sobre os seus consumidores de baixa<br />

renda no México, no início sabia-se pouco<br />

sobre os emigrantes, que são o público-alvo<br />

da Construmex. A empresa estabeleceu<br />

então uma parceria com consulados<br />

mexicanos de grandes cidades nos EUA<br />

<strong>para</strong> realizar uma pesquisa de mercado,<br />

incluindo levantamentos, entrevistas e<br />

grupos de foco. Em troca, ela forneceu a<br />

esses consulados doações materiais <strong>para</strong><br />

restaurar e melhorar as instalações dos<br />

mesmos. O investimento valeu à pena:<br />

desde 2001 a Construmex já serviu a mais<br />

de 14.000 emigrantes mexicanos e gerou<br />

$12,2 milhões em vendas de material de<br />

construção, com expectativas semelhantes<br />

<strong>para</strong> os anos futuros.<br />

Além de apresentar um valor tangível,<br />

o investimento em informação sobre<br />

o mercado permite à empresa manter<br />

Após ganhar a concessão <strong>para</strong><br />

servir a zona leste metropolitana em<br />

Manila, a Manila Water precisou investir<br />

significativamente <strong>para</strong> melhorar e expandir<br />

a infra-estrutura de tubulação. Em 2005,<br />

a empresa já havia instalado quase 1.300<br />

quilômetros de dutos e investido mais<br />

de $340 milhões. Os investimentos não<br />

foram em vão: a sua base de consumidores<br />

duplicou, o consumo de água que não gera<br />

receitas caiu, o serviço está disponível de<br />

forma consistente e a qualidade da água é<br />

excelente.<br />

Promoção do desempenho dos<br />

fornecedores. Aumentar o conhecimento,<br />

as habilidades e o acesso a financiamento<br />

dos empregados e fornecedores também<br />

gera valor tangível. Com o aumento de<br />

produtividade, qualidade e confiança, o valor<br />

deles torna-se maior <strong>para</strong> as empresas.<br />

Muitos modelos de negócios inclusivos<br />

do banco de dados do Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos apresentam<br />

investimentos desse tipo. Na Guiana, a<br />

Denmor, um fabricante de roupas, investe<br />

mais de $250.000 por ano treinando os<br />

seus empregados de baixa renda <strong>para</strong><br />

adquirirem habilidades básicas que os<br />

capacitam <strong>para</strong> a leitura e <strong>para</strong> a vida.<br />

Guiana: Empregados de baixa renda da Denmor são<br />

pagos <strong>para</strong> comparecer a sessões de treinamento<br />

oferecidas pela companhia, onde adquirem habilidades<br />

básicas, necessárias <strong>para</strong> a realização de tarefas como a<br />

contagem de peças de vestuário e a leitura de etiquetas.<br />

Foto: Banco Interamericano de Desenvolvimento<br />

58 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Os empregados devem aprender a escrever<br />

os seus nomes, contar e ler etiquetas e<br />

especificações das roupas. A empresa paga<br />

pelo tempo de participação de cada um deles<br />

em sessões de treinamento com convidados,<br />

representantes do Ministério de Serviços<br />

Sociais e outras agências como a Organização<br />

Pan-Americana da Saúde. O resultado: a mãode-obra<br />

da Denmor é altamente motivada e os<br />

níveis de retenção e produtividade são altos.<br />

Em Gana, o Barclays Bank valeu-se dos<br />

tradicionais coletores de dinheiro, conhecidos<br />

como coletores Susu, <strong>para</strong> oferecer uma<br />

variedade de produtos e serviços financeiros,<br />

incluindo poupança e empréstimos, <strong>para</strong><br />

os cidadãos de baixa renda. O Barclays<br />

oferece aos coletores Susu treinamento sobre<br />

administração de inadimplência, crédito<br />

financeiro e gestão de risco. O Barclays<br />

também promove a educação dos seus usuários<br />

com relação à gestão financeira e seguros.<br />

Com o decorrer do tempo esses treinamentos<br />

irão trazer benefícios ao Barclays, pois mais<br />

usuários irão saber o valor da poupança e<br />

canalizar as suas economias <strong>para</strong> o banco<br />

através dos coletores Susu.<br />

Ao investir na remoção de restrições de<br />

conhecimento e habilidades, algumas empresas<br />

dividem os custos com os seus empregados ou<br />

fornecedores através de taxas de programas.<br />

Essas taxas podem ser nominais e, em grande<br />

parte, simbólicas, quando a intenção principal é<br />

aumentar o comprometimento do participante<br />

no programa. Mas podem também ter um valor<br />

significativo, recuperando alguns dos custos<br />

do programa. Algumas empresas as recuperam<br />

diretamente através do aumento da produtividade<br />

e da qualidade, podendo utilizar contratos <strong>para</strong><br />

assegurar os seus benefícios. É comum oferecer<br />

aos empregados programas de educação e<br />

treinamento se eles se comprometerem a<br />

trabalhar <strong>para</strong> a empresa durante um prazo<br />

específico. Do mesmo modo, os contratos com<br />

os fornecedores são, freqüentemente, feitos<br />

<strong>para</strong> ajudar a obter o maior retorno possível de<br />

alguma assistência que a companhia venha a lhes<br />

oferecer. Para colher os frutos dos empréstimos<br />

sem juros oferecidos aos produtores rurais no<br />

seu sistema de produção, a Companhia Integrada<br />

Tamale Fruit, em Gana, exige que os agricultores<br />

vendam as suas mangas através da companhia até<br />

que os empréstimos sejam quitados (Quadro 4.2).<br />

Quadro 4.2. Companhia Integrada Tamale Fruit: investindo <strong>para</strong><br />

remover restrições do mercado e assegurar colheitas de qualidade<br />

A Companhia Integrada<br />

Tamale Fruit, um<br />

exportador sediado em<br />

Gana, investiu de forma<br />

significativa na remoção<br />

de obstáculos relativos à falta de conhecimento,<br />

habilidades e acesso a financiamento dos seus<br />

fornecedores.<br />

A companhia empresta tudo o que é necessário<br />

<strong>para</strong> a produção da manga – equipamentos,<br />

sementes, fertilizantes, serviços de irrigação<br />

e assistência técnica – aos agricultores da<br />

sua rede de fornecedores que, normalmente,<br />

precisariam investir aproximadamente $7.000<br />

ao longo de cinco anos antes de ver os retornos<br />

das suas colheitas. O custo dos empréstimos<br />

é pago, sem juros, no início do quinto ano. Cerca de 30% das vendas são destinados ao<br />

pagamento do empréstimo.<br />

A companhia também fornece treinamento aos agricultores terceirizados, cuja capacidade<br />

<strong>para</strong> pagar os empréstimos depende da habilidade de realizar boas colheitas. Como o<br />

analfabetismo os impede de atender os padrões internacionais, a companhia começou a<br />

treiná-los em práticas agrícolas mais aprimoradas.<br />

Outra habilidade importante <strong>para</strong> o sucesso do projeto era a capacidade dos agricultores<br />

de se auto-representar. A companhia os organizou em uma associação, a Organic Mango<br />

Outgrowers Association, que age como um intermediário entre os produtores rurais e a<br />

companhia, servindo de porta-voz e advogada dos produtores e permitindo um diálogo<br />

mais eficiente com a empresa. Planeja-se também uma transição <strong>para</strong> uma estrutura de<br />

financiamento baseada em taxas pagas pelos membros da associação.<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

59


Conscientização e treinamento dos<br />

consumidores. Investir no conhecimento e<br />

na habilidade do consumidor é outro fator<br />

que pode gerar <strong>valores</strong> tangíveis <strong>para</strong> a<br />

empresa, dependendo do relacionamento com<br />

o consumidor e da presença de competidores.<br />

Essa é uma estratégia comum dos modelos<br />

de negócios inclusivos do banco de dados<br />

do Desenvolvendo Mercados Inclusivos<br />

<strong>para</strong> estimular a demanda de mercado. Em<br />

alguns casos, quando a intenção é gerar o<br />

conhecimento da marca, os investimentos são<br />

apenas em marketing; em outros, eles ajudam<br />

os consumidores a entender uma proposta de<br />

valor essencial. Para estimular a demanda pelas<br />

suas instalações sanitárias nas comunidades<br />

de baixa renda da Índia, a Sulabh preparou<br />

campanhas de conscientização sobre saneamento<br />

e higiene. Cerca de 10 milhões de pessoas usam<br />

as instalações; em 2005, a receita da empresa foi<br />

de $32 milhões, com uma margem de lucro de<br />

15%. Da mesma forma, <strong>para</strong> estimular a venda<br />

do seu sabonete Lifebuoy, a Unilever aumentou<br />

a conscientização sobre os benefícios <strong>para</strong> a<br />

saúde trazidos pelo ato de lavar as mãos. Cerca<br />

de 70 milhões de consumidores da Índia rural<br />

beneficiaram-se com o Programa Unilever de<br />

Educação <strong>para</strong> a Saúde – o maior programa<br />

privado de educação higiênica do mundo – e,<br />

hoje, o Lifebuoy é líder em <strong>todos</strong> os mercados<br />

asiáticos nos quais opera. 2<br />

Promover a educação dos consumidores<br />

pode melhorar a reputação de uma empresa,<br />

estabelecendo a confiabilidade da marca. Do<br />

mesmo modo, em um mercado com pouca ou<br />

nenhuma competição, pode ajudar a solidificar<br />

a vantagem de uma empresa como a primeira<br />

atuante na área. Entretanto, quanto mais<br />

competidores existirem em um mercado, menor<br />

será a probabilidade de uma empresa desfrutar<br />

Madagascar: Mulheres que participam de<br />

um treinamento em administração financeira.<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

de <strong>todos</strong> os benefícios do seu investimento na<br />

educação do consumidor. Essa desvantagem<br />

pode ser contornada em setores que exigem<br />

relacionamentos de longo prazo entre as<br />

empresas e seus clientes. Neles, a empresa<br />

pode restringir aos seus próprios clientes o<br />

acesso ao conhecimento – e a serviços que<br />

aumentam as habilidades. Uma companhia de<br />

serviços financeiros, por exemplo, pode criar<br />

programas que ofereçam educação financeira<br />

<strong>para</strong> os seus consumidores de créditos ou<br />

mesmo conhecimentos básicos de contabilidade<br />

e administração <strong>para</strong> os clientes donos de<br />

pequenos negócios.<br />

O K-REP Bank, no Quênia, treina os clientes<br />

que pedem empréstimos em noções de finanças,<br />

prática de negócios e uso responsável de<br />

crédito. Além de agregar valor <strong>para</strong> o cliente,<br />

o treinamento aumenta a probabilidade de<br />

que o empréstimo será quitado. Similarmente,<br />

o Barclays oferece treinamento não apenas<br />

<strong>para</strong> os coletores Susu, através dos quais<br />

a companhia fornece os seus serviços de<br />

microfinanciamento, mas também <strong>para</strong> os<br />

clientes dos coletores. Outras indústrias também<br />

podem fazer uso da educação e do treinamento<br />

de consumidores de baixa renda <strong>para</strong> ajudálos<br />

a usar os produtos e serviços de forma<br />

mais eficaz. O Patrimonio Hoy, um programa<br />

da empresa líder em produção de cimento<br />

no México, a CEMEX, oferece serviços de<br />

projeção de casas e assistência na fase de obras<br />

agregados à venda de materiais de construção<br />

<strong>para</strong> os consumidores de baixa renda. Com<br />

esse programa, que assegura resultados<br />

duráveis e atrativos, a CEMEX previne-se contra<br />

processos, agrega valor à sua marca e fomenta a<br />

propaganda boca a boca.<br />

Criação de produtos e serviços financeiros.<br />

Para algumas indústrias, remover obstáculos ao<br />

acesso dos consumidores a serviços financeiros<br />

pode gerar <strong>valores</strong> tangíveis <strong>para</strong> os modelos de<br />

negócios inclusivos, permitindo que pessoas de<br />

baixa renda tornem-se clientes. Oferecer crédito<br />

aos consumidores é especialmente benéfico<br />

<strong>para</strong> a expansão da base de consumidores se<br />

os competidores não oferecem o mesmo tipo<br />

de serviço. Exemplos incluem a Casas Bahia,<br />

no Brasil, a CEMEX, com o seu programa<br />

Patrimônio Hoy de microempréstimo <strong>para</strong><br />

construção, e o líder varejista mexicano Banco<br />

Azteca, da Elektra (cujo modelo está sendo<br />

copiado pela Wall-Mart no México).<br />

60 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Na Indonésia, os motoristas de táxi não são<br />

considerados merecedores de crédito, o que<br />

impede que efetuem empréstimos <strong>para</strong> abrir um<br />

negócio no seu ramo de atuação. Em decorrência<br />

disso, a companhia de táxi Rajawali desenvolveu<br />

um programa de compra de táxis em que ela<br />

mesma garante o pagamento a uma instituição<br />

financeira local dos empréstimos individuais<br />

<strong>para</strong> os motoristas, os quais pagam uma quantia<br />

diária e têm um prazo de quitação de cinco<br />

anos. Com um índice de inadimplência nulo e o<br />

aumento de responsabilidade entre os motoristas,<br />

a companhia beneficiou-se de forma significativa;<br />

os 2267 motoristas participantes do programa<br />

aumentaram as suas rendas e também ganharam<br />

segurança e oportunidade. 3<br />

Obtenção de benefícios intangíveis<br />

Além de criar <strong>valores</strong> tangíveis, remover limites<br />

de conhecimento, habilidades, infra-estrutura e<br />

acesso a produtos e serviços financeiros pode<br />

também criar <strong>valores</strong> intangíveis ou de longo<br />

prazo – como imagem de marca, moral dos<br />

empregados, reputação corporativa e potencial<br />

<strong>para</strong> desenvolver novas capacidades e fortalecer<br />

a competitividade dos negócios. Capturar esse<br />

valor aumenta a rentabilidade do investimento<br />

voltado <strong>para</strong> remoção de restrições do mercado.<br />

Levando em consideração aspectos intangíveis e<br />

de longo prazo, a firma indiana Tata Sons Limited<br />

investiu significativamente <strong>para</strong> melhorar as<br />

condições do mercado nas cidades onde opera,<br />

fornecendo manutenção de estradas, água potável<br />

e eletricidade, iluminação pública, serviços de<br />

saúde, saneamento, educação, entre outros.<br />

Jamshed Irani, o diretor da Tata, explica: “A<br />

Índia está muito longe de alcançar uma fase de<br />

desenvolvimento econômico onde o governo é o<br />

único responsável pelas necessidades básicas da<br />

população. Não temos seguridade social e serviços<br />

adequados de saúde e educação. Portanto, o setor<br />

corporativo deve preencher essas lacunas.” 4<br />

Fornecendo esses serviços, a Tata também<br />

adquire experiência que a capacitará <strong>para</strong> se<br />

engajar em novas atividades comerciais. Um<br />

exemplo é a Jamshedpur Utilities & Services<br />

Company, uma subsidiária de propriedade<br />

exclusiva da Tata Steel que se pre<strong>para</strong> <strong>para</strong><br />

explorar oportunidades comerciais na área de<br />

serviços municipais ainda não explorados, como<br />

água e saneamento. Como explica o Diretor<br />

Administrativo Sanjiv Paul: “Se a Índia tem que<br />

avançar nesses serviços, mais cedo ou mais tarde,<br />

eles também precisarão ser privatizados no resto<br />

do país, e estaremos, então, em uma posição<br />

<strong>para</strong> expandir os nossos serviços.” A Autoridade<br />

de Desenvolvimento de Haldia concedeu à<br />

Jamshedpur um contrato <strong>para</strong> o fornecimento<br />

de infra-estrutura do abastecimento de água; a<br />

companhia tornou-se parceira da Veolia Water<br />

Nicarágua:<br />

Foto:Banco<br />

Interamericano de<br />

India, <strong>para</strong> poderem juntas disputar Desenvolvimento<br />

contratos em projetos lançados pelo<br />

governo e organizações privadas. Para<br />

o futuro próximo, a companhia tem como alvo<br />

cidades que incluem Bengaluru, Déli, Kolkata e<br />

Mumbai. 5<br />

Outro exemplo vem da indústria de<br />

mineração na África do Sul. O governo pósapartheid<br />

se deu conta de que o prospecto<br />

do país <strong>para</strong> a estabilidade política e o<br />

crescimento econômico dependia da criação<br />

de oportunidades econômicas <strong>para</strong> grupos<br />

historicamente em desvantagem, a saber, os<br />

negros. Através do programa Black Economic<br />

Empowerment, o governo passou a exigir que as<br />

empresas atendessem objetivos de propriedade,<br />

emprego e poder de compra dos negros como<br />

condição <strong>para</strong> que pudessem se qualificar<br />

<strong>para</strong> contratos públicos. Uma companhia<br />

mineradora, a Anglo American, contribuiu <strong>para</strong><br />

o aumento da participação econômica dos<br />

negros, gerando conhecimento e habilidades nos<br />

pequenos negócios afiliados ao Black Economic<br />

Empowerment e aumentando o seu acesso a<br />

financiamento. A companhia criou um fundo<br />

de empreendimentos interno, o Anglo Zimele,<br />

<strong>para</strong> oferecer esses serviços de forma comercial.<br />

Atualmente, o fundo é muito lucrativo. 6<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

61


Polônia: Quase um terço do financiamento inicial <strong>para</strong> uma<br />

cooperativa de telefonia rural veio de governos locais.<br />

Criação de valor social<br />

Conforme foi discutido anteriormente, investir<br />

na remoção de obstáculos relacionados à<br />

falta de informação sobre o mercado e à<br />

limitação de conhecimento, habilidades,<br />

infra-estrutura e acesso a financiamento<br />

gera valor nos âmbitos privado e público. A<br />

Denmor e a Companhia Integrada Tamale Fruit<br />

não estão apenas aumentando a eficácia dos<br />

seus empregados e fornecedores, mas estão<br />

também desenvolvendo capital humano que irá<br />

gerar outras oportunidades econômicas <strong>para</strong><br />

as mesmas. A Sulabh e a Unilever não estão<br />

unicamente aumentando a demanda pelos seus<br />

produtos, mas estão também fortalecendo a<br />

conscientização sobre questões importantes<br />

de saúde pública e reduzindo a incidência de<br />

doenças. A Construmex possui um modelo<br />

de negócios que outras firmas – não apenas<br />

do setor de materiais de construção – podem<br />

copiar, de forma que criem novas opções <strong>para</strong><br />

emigrantes que desejam ajudar suas famílias<br />

nos seus países de origem.<br />

O valor social criado por investimentos<br />

desse tipo abre portas <strong>para</strong> o compartilhamento<br />

de custos com outras fontes voltadas <strong>para</strong><br />

o financiamento do bem-estar social. Esse<br />

aspecto pode ser extremamente importante<br />

<strong>para</strong> estabelecer a confiança, que atrai<br />

empreendedores e investimentos de grandes<br />

companhias, e que possibilita, além disso,<br />

investimentos potencialmente rentáveis<br />

<strong>para</strong> aqueles que ainda não estão totalmente<br />

certos de que existam possibilidades menos<br />

convencionais de se extrair valor dos negócios.<br />

Fontes de recursos <strong>para</strong> fins sociais<br />

incluem doadores internacionais, fundos<br />

de investimento social sem fins lucrativos,<br />

filantropos e governos. Eles dividem com o<br />

setor privado os custos da geração de valor<br />

social de duas formas: através de subvenções<br />

e por meio de redução de custos ou ‘patient<br />

capital.’<br />

Uso de subvenções, subsídios e doações.<br />

Subvenções, subsídios e doações são alocações<br />

de capital que não precisam ser quitadas. As<br />

subvenções são geralmente oriundas de fontes<br />

externas, mas no caso de grandes empresas<br />

elas também podem ser disponibilizadas<br />

internamente através da responsabilidade<br />

social corporativa e departamentos de<br />

filantropia. Fontes externas comuns são os<br />

governos nacionais, estaduais ou locais e<br />

doadores bilaterais, como a Agência Francesa<br />

de Desenvolvimento. Doadores multilaterais,<br />

como o Banco Mundial, algumas vezes também<br />

oferecem subvenções.<br />

Subvenções e subsídios governamentais<br />

são comuns em muitos contextos de negócios,<br />

cobrindo desde pesquisas básicas até a<br />

promoção das exportações. Atualmente,<br />

eles estão sendo oferecidos às empresas<br />

que investem na remoção de restrições<br />

nos mercados pobres – e iniciativas que<br />

contribuem <strong>para</strong> o desenvolvimento dos<br />

modelos de negócios inclusivos, tais como<br />

estudos de viabilidade econômica, projetos<br />

piloto e programas de treinamento.<br />

62 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


O objetivo de alguns é gerar incentivos <strong>para</strong><br />

investimentos únicos relativos a recursos<br />

compartilhados, como estradas ou redes elétricas.<br />

Outros buscam promover modelos de negócios<br />

que aumentarão o bem-estar da população no<br />

longo prazo, aumentando a sua renda, melhorando<br />

a sua saúde e assim por diante. Eles também<br />

podem visar os dois objetivos. Contudo, ambos os<br />

tipos de incentivos são investimentos na criação<br />

de valor social.<br />

Em Moçambique, o governo da província de<br />

Cabo Delgado forneceu fundos do Estado <strong>para</strong><br />

duas organizações não governamentais formarem<br />

uma subsidiária, com fins lucrativos, chamada<br />

VidaGás, que fornece gás de petróleo liquefeito<br />

(GPL), como substituto <strong>para</strong> o querosene <strong>para</strong><br />

famílias em áreas rurais, urbanas e periurbanas. O<br />

GPL é uma alternativa eficiente, limpa e de baixo<br />

custo, que promove a melhoria das condições de<br />

saúde. Na Polônia, os governos locais de áreas<br />

rurais contribuíram com 30% do investimento<br />

inicial <strong>para</strong> o estabelecimento da DTC Tyczyn, uma<br />

cooperativa de telefonia rural, sendo o restante<br />

do investimento proveniente da venda de ações,<br />

tarifas de conexões dos inscritos e empréstimos<br />

bancários em condições preferenciais.<br />

Em relação à cooperação bilateral, um<br />

exemplo de doação de recursos <strong>para</strong> modelos<br />

de negócios inclusivos é o programa de parceria<br />

público-privada da Agência de Desenvolvimento<br />

do Governo Alemão, a GTZ. O programa financia<br />

investimentos direcionados a fins diversos, de<br />

atividades centrais das empresas até a remoção<br />

de restrições nos mercados pobres. Entre as<br />

histórias de sucesso do programa estão o<br />

investimento inicial <strong>para</strong> o fornecimento de<br />

equipamento médico aos hospitais públicos da<br />

Tanzânia, o fortalecimento institucional <strong>para</strong><br />

ajudar os agricultores de tomate de Gana a<br />

fazer negócios com a Unilever, e a pesquisa e o<br />

treinamento no Vietnã <strong>para</strong> promover o cultivo<br />

sustentável de cacau na cadeia de valor da Mars.<br />

Outra organização que oferece subvenções<br />

é o Departamento <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Internacional do Reino Unido (Quadro 4.3).<br />

Como menciona o DFID e o Fundo de<br />

Desenvolvimento do Capital das Nações Unidas<br />

(UNCDF), as melhores práticas de concessão<br />

de subvenções, normalmente, são aquelas que<br />

“servem ao propósito do desenvolvimento<br />

institucional e do mercado sem distorcer o<br />

mesmo ou diminuir os incentivos, visando o alto<br />

desempenho institucional”. 7 De acordo com o<br />

Fórum de Finanças <strong>para</strong> o Desenvolvimento,<br />

‘subsídios “inteligentes” são aqueles direcionados,<br />

por exemplo, ao custeio envolvido na fase<br />

de instalação dos negócios, à pesquisa e ao<br />

desenvolvimento, aos custos de produtos com impacto<br />

significativo e alto grau de risco, ao fortalecimento<br />

institucional, à capacitação de consumidores, e aos<br />

custos voltados <strong>para</strong> a aumento do acesso a capital’. 8<br />

O economista de Harvard, Dani Rodrik, adiciona<br />

à lista de subsídios inteligentes aqueles direcionados<br />

ao custeio de treinamento em habilidades técnicas,<br />

vocacionais e lingüísticas. 9 No Banco Rand Merchant,<br />

da África do Sul, 20% de uma subvenção concedida<br />

pela Agência Francesa de Desenvolvimento foi <strong>para</strong><br />

o apoio educacional dos candidatos a empréstimos<br />

<strong>para</strong> a compra de casa própria, com enfoque nos<br />

direitos e deveres de proprietários de bens imóveis.<br />

Tal educação ajuda os clientes pobres a tirar maior<br />

proveito dos seus investimentos, torna o pagamento<br />

dentro do prazo mais provável e – quando a compra<br />

da moradia é bem-sucedida – pode encorajar outros<br />

clientes a comprar suas casas.<br />

Rodrik observa que subsídios de transação direta<br />

nem sempre são inteligentes – eles podem facilmente<br />

“invadir o cerne dos processos do mercado, impondo<br />

o risco de distorção de preços e incentivos” – mas<br />

afirma que, com devida atenção no processo de<br />

concepção, os<br />

subsídios podem<br />

criar efeitos<br />

demonstrativos<br />

bem-vindos. 10<br />

Os fundos de<br />

desafio do<br />

Departamento<br />

<strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento<br />

Internacional do Reino Unido, incluindo o Fundo<br />

de Desafio <strong>para</strong> o Desencadeamento de Negócios<br />

e o Fundo de Desafio <strong>para</strong> o Aprofundamento<br />

Financeiro, oferecem subsídios <strong>para</strong> fases de préabertura<br />

de negócios e <strong>para</strong> investimentos, incluindo<br />

aqueles direcionados à remoção de restrições nos<br />

mercados pobres. Casos bem-sucedidos incluem:<br />

O serviço de transações financeiras via<br />

celular da M-PESA (Vodafone), no Quênia, que<br />

registra mais de 6.000 novos clientes por dia. 1<br />

O cartão de crédito agrícola da Standard<br />

Chartered, no Paquistão, que permite aos<br />

agricultores obter sementes e outros insumos no<br />

início do plantio e quitar as suas dívidas somente<br />

na época da colheita.<br />

A rede de agentes de microseguros da TATA-<br />

AIG, na Índia, que durante os seus primeiros<br />

três anos de atividade vendeu mais de 34.000<br />

apólices. 2<br />

1. Business Week 2007. 2. Roth e Athreye 2005.<br />

Quadro 4.3. Oferecendo subsídios<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento de modelos<br />

de negócios inclusivos: os fundos<br />

de desafio do Departamento <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Internacional do<br />

Reino Unido<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

63


Aqui segue um bom exemplo: um subsídio da<br />

Agência de Mali <strong>para</strong> o Desenvolvimento da<br />

Energia Elétrica Residencial e Eletrificação<br />

Rural, sustentado por capital doado<br />

internacionalmente, irá pagar por até 70%<br />

da expansão de companhias fornecedoras<br />

de energia rural, permitindo que as mesmas<br />

reduzam as tarifas quase pela metade e<br />

aumentando, dessa forma, o acesso à energia<br />

da população de Mali. Se a margem de lucro<br />

das companhias exceder 20%, o subsídio será<br />

reduzido.<br />

Doadores bilaterais e multilaterais podem ter<br />

aplicações complexas e exigências de relatórios<br />

sobre impactos sociais. Empreendedores e<br />

empresas buscando financiamento devem<br />

avaliar os custos transacionais dessas<br />

exigências. Contudo, fundos provenientes<br />

de doadores geralmente trazem consigo<br />

benefícios como assistência técnica, contatos<br />

e credibilidade. Tanto as pequenas quanto<br />

as grandes empresas podem se beneficiar de<br />

financiamentos oriundos de doadores de fundos.<br />

Ao investir na remoção de restrições dos<br />

mercados pobres ou, de forma mais geral, <strong>para</strong><br />

o desenvolvimento de modelos de negócios<br />

inclusivos, grandes companhias podem<br />

também levantar recursos internos <strong>para</strong><br />

ações de filantropia, estratégia organizacional<br />

e responsabilidade social corporativa. Na<br />

região de Banda Aceh, na Indonésia, onde as<br />

moradias, fábricas e infra-estrutura básica<br />

foram totalmente devastadas pelo tsunami em<br />

2004, a Lafarge, companhia de construção<br />

francesa, escolheu investir na infra-estrutura<br />

local e ao mesmo tempo reconstruir a sua<br />

usina de cimento <strong>para</strong> colocá-la novamente em<br />

funcionamento. A companhia construiu 500<br />

casas, escolas e mesquitas que beneficiaram<br />

os habitantes locais e os seus empregados. Ao<br />

mesmo tempo em que a Lafarge fortaleceu a sua<br />

México:<br />

Foto: Banco Interamericano de<br />

Desenvolvimento<br />

imagem local, a iniciativa também demonstrou as<br />

vantagens do uso de materiais à base de cimento<br />

na construção de moradias.<br />

Nas empresas, os profissionais responsáveis<br />

pelos fundos voltados <strong>para</strong> ações de filantropia,<br />

estratégia organizacional e responsabilidade<br />

social corporativa podem, muitas vezes, ajudar a<br />

desenvolver modelos de negócios inclusivos. Na<br />

verdade, alguns têm a incumbência específica de<br />

investir na remoção de obstáculos do mercado.<br />

Problemas de saúde pública, por exemplo,<br />

podem comprometer a produtividade e aumentar<br />

os custos com a demissão de funcionários.<br />

Companhias como as mineradoras Lonmin 11<br />

e a Anglo American 12 , que operam na África<br />

subsaariana, onde o HIV/AIDS é disseminado,<br />

vêm construindo programas robustos de<br />

responsabilidade social corporativa <strong>para</strong> fornecer<br />

orientação, testes e tratamento <strong>para</strong> os seus<br />

empregados.<br />

A isenção de taxas também é um fator<br />

crucial <strong>para</strong> os negócios. O Programa de<br />

Investimento Estratégico (isento de taxas) do<br />

governo da África do Sul induziu companhias<br />

como a Aspen Pharmacare a investir em<br />

instalações manufatureiras <strong>para</strong> a produção de<br />

medicamentos genéricos anti-retrovirais <strong>para</strong><br />

atender os portadores do HIV. A companhia<br />

agora segue com o programa nacional de<br />

combate à AIDS na África do Sul, respondendo<br />

a aproximadamente 60% das suas necessidades<br />

médicas atuais.<br />

Financiamento a custos reduzidos ou patient<br />

capital. Ao contrário dos doadores de fundos,<br />

os investidores que oferecem financiamento<br />

a custos mais baixos ou “patient capital”<br />

esperam retornos – grandes ou pequenos – dos<br />

seus investimentos nos modelos de negócios<br />

inclusivos. No Equador, a Hogar de Cristo, uma<br />

organização sem fins lucrativos que constrói<br />

moradias e fornece hipotecas <strong>para</strong> os pobres,<br />

recebeu um grande montante de empréstimo<br />

a juros baixos do Banco Interamericano de<br />

Desenvolvimento <strong>para</strong> diversificar a sua linha<br />

de habitação com estrutura de aço, expandir o<br />

seu programa de microcrédito e fortalecer a sua<br />

gestão financeira com o intuito de reduzir os<br />

maus empréstimos. 13 Muitos investidores estão<br />

dispostos a aceitar o custo de oportunidade<br />

associado a retornos menores e de longo<br />

prazo que os modelos de negócios inclusivos<br />

podem apresentar em função da economia, das<br />

incertezas ou da necessidade de investir na<br />

remoção de restrições de mercado. Eles querem<br />

gerar valor social além do valor financeiro. Por<br />

isso, investem em empresas com a convicção de<br />

que modelos lucrativos podem gerar valor social<br />

de forma mais eficaz e sustentável.<br />

64 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 4.1. Resumo: Abordagens <strong>para</strong> investir na remoção de restrições do mercado<br />

Obstáculos<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Estratégia 2<br />

Investimento na remoção de restrições<br />

do mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

produtos<br />

e serviços<br />

financeiros<br />

Combinando<br />

Uso de subvenções, subsídios e doações<br />

Financiamento a custos reduzidos ou patient capital<br />

Realização de pesquisa de<br />

mercado<br />

Criação de produtos ou serviços<br />

financeiros<br />

Investimento em infraestrutura<br />

Promoção do desempenho dos<br />

fornecedores<br />

Conscientização e treinamento<br />

dos consumidores<br />

Obtenção de benefícios<br />

intangíveis<br />

Financiamentos a custos baixos e patient<br />

capital podem vir de fontes diversas, incluindo<br />

corporações, fundações, organizações nãogovernamentais,<br />

agências governamentais e fundos<br />

de investimento mistos que podem incorporar<br />

capital de todas essas proveniências. 14<br />

Fontes diferentes podem estabelecer<br />

exigências distintas <strong>para</strong> a magnitude dos retornos<br />

financeiros e sociais esperados e <strong>para</strong> o equilíbrio<br />

entre ambos. Geralmente, quanto menor o retorno<br />

financeiro esperado, maior é o retorno social<br />

esperado – e mais rigorosas são as exigências <strong>para</strong><br />

os relatórios de impacto social e desempenho.<br />

As expectativas sobre quando os retornos<br />

financeiros e sociais devem começar a se<br />

materializar também variam. Algumas fontes<br />

de “patient capital” estabelecem prazos maiores<br />

que outras. Similarmente ao que ocorre com<br />

os investimentos tradicionais, os investidores<br />

preocupados com padrões de desempenho<br />

social têm preferências diferentes quanto às<br />

características dos negócios nos quais irão investir,<br />

tais como tamanho, tipo de indústria, região ou<br />

país-sede, entre outras.<br />

Exemplos de como os modelos de negócios<br />

inclusivos têm lucrado com “financiamentos<br />

mistos” incluem:<br />

uma parceria público-privada <strong>para</strong> a<br />

produção de redes de dormir tratadas com<br />

inseticida <strong>para</strong> a prevenção da malária.<br />

Através de um empréstimo a juros baixos e<br />

de longo prazo <strong>para</strong> pagamento, do Fundo<br />

Acumen, a Sumitomo transfere tecnologia<br />

e produtos químicos <strong>para</strong> a A to Z Textile<br />

Mills, que compra resina <strong>para</strong> as redes da<br />

ExxonMobil que, por sua vez, concedeu doações<br />

ao Fundo das Nações Unidas <strong>para</strong> a Infância<br />

(UNICEF) <strong>para</strong> a compra de redes duráveis<br />

<strong>para</strong> as crianças mais vulneráveis. A A to Z<br />

agora produz oito milhões de redes por ano e<br />

emprega cerca de 5000 pessoas (um aumento<br />

de 1000 desde a sua “descoberta” pelo Fundo<br />

Acumen), sendo 90% delas mulheres sem<br />

experiência;<br />

CAPÍTULO 4. INVESTIMENTO NA REMOÇÃO DAS RESTRIÇÕES DE MERCADO<br />

65


Egito: A Sekem<br />

emprega um<br />

total de 2850<br />

funcionários<br />

e pequenos<br />

produtores<br />

locais e beneficia<br />

aproximadamente<br />

25000 pessoas com<br />

as suas iniciativas de<br />

desenvolvimento.<br />

Foto: Sekem<br />

Além de tornar o empreendimento<br />

possível, o patient capital também<br />

permitiu que a empresa experimentasse<br />

e aprimorasse o seu produto até que a<br />

sua avaliação de custos e preços fosse<br />

precisa <strong>para</strong> o mercado local;<br />

uma holding privada, no Quênia,<br />

envolvida na produção de qualidade<br />

e a baixo custo de derivados<br />

farmacêuticos da artemisinina –<br />

um dos principais ingredientes<br />

usados <strong>para</strong> o tratamento da<br />

malária. A Advanced Bio Extracts<br />

Ltd. foi fundada com patient capital<br />

da Novartis, que também forneceu<br />

assistência administrativa e estratégica,<br />

recebendo retornos bem abaixo do<br />

mercado. 15 O patient capital sustentou<br />

o empreendimento especialmente no<br />

período de uma crise na colheita e ajudou<br />

a fábrica a obter uma classificação<br />

mundial de qualidade. O resultado: um<br />

empreendimento bem-sucedido que gera<br />

externalidades positivas <strong>para</strong> a saúde<br />

e <strong>para</strong> a economia local – a empresa<br />

compra a matéria-prima de 7.500<br />

produtores locais, que ganham mais<br />

com essa colheita do que com o cultivo<br />

do milho 16 ;<br />

uma companhia egípcia cujo foco<br />

é a agricultura biodinâmica. A<br />

Sekem, em colaboração com empresas<br />

parceiras na Alemanha e nos Países<br />

Baixos, obteve assistência financeira<br />

da Comissão Européia, Fundação<br />

Ford, Agência Norte-Americana <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Internacional, Fundo<br />

Acumen e Organização Alemã <strong>para</strong><br />

as Finanças e o Desenvolvimento. A<br />

Corporação Financeira Internacional<br />

disponibilizou um empréstimo de $5<br />

milhões e assistência técnica <strong>para</strong> ajudar<br />

a fortalecer as conexões da cadeia de<br />

fornecimento com os produtores rurais.<br />

A Sekem cresceu, com uma receita de<br />

$19 milhões em 2005, empregando um<br />

total de 2850 funcionários e pequenos<br />

produtores locais. A empresa também<br />

beneficia cerca de 25.000 pessoas com<br />

as suas iniciativas de desenvolvimento. 17<br />

Em vez de grandes projetos de companhias<br />

multinacionais e empresas bem<br />

estabelecidas, o financiamento a custos<br />

baixos e o patient capital têm visado<br />

especialmente empreendimentos menores<br />

em estágios iniciais de desenvolvimento<br />

e empresas sociais financeiramente<br />

sustentáveis. Muitas vezes, eles<br />

trazem consigo assistência técnica: em<br />

administração, planejamento de negócios,<br />

entre outros, ou fornecem instruções <strong>para</strong><br />

contatos comerciais e financiadores <strong>para</strong><br />

estágios mais avançados do negócio.<br />

1<br />

2<br />

Porter 1998.<br />

IRC 2007.<br />

3 Ganchero, Elvie Grace e Chrysanti Hasibuan-Sedyono. 2007. Rajawali’s Express Taxi: Working with Taxi<br />

Drivers as Business Partners in Indonesia. UNDP, p. 9<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

17<br />

The Indian Express 2005.<br />

Tata website (www.tata.com) e Madhukar 2006.<br />

Wise e Shytlla 2007.<br />

Departamento de Economia e Assuntos Sociais da Organização das Nações Unidas e Fundo das Nações<br />

Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento do Capital 2006, p. 109.<br />

Departamento de Economia e Assuntos Sociais da Organização das Nações Unidas e Fundo das Nações<br />

Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento do Capital 2006, pp. 49–51.<br />

Rodrik 2004.<br />

Gibson, Scott, e Ferrand 2004, p. 20.<br />

Lonmin website (www.lonmin.com/main.aspxpageId=111).<br />

Arnst 2004.<br />

Constance 2007.<br />

WEF e o Global Foundation Leaders Advisory Group 2005, p. 3.<br />

Novogratz 2007.<br />

Advanced Bio-Extracts Limited 2007.<br />

Para mais exemplos egípcios ver Iskandar 2007.<br />

66 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


5<br />

F o r t a l e c i m e n t o<br />

d o p o t e n c i a l<br />

dos pobres<br />

Quênia: A HealthStore<br />

Foundation engajou,<br />

nas favelas, enfermeiros<br />

e trabalhadores locais<br />

da área de saúde em<br />

microfranquias de lojas e<br />

clínicas farmacêuticas com<br />

fins lucrativos.<br />

Foto: cortesia do Fundo Acumen<br />

Construir modelos de negócios inclusivos pode ser<br />

intimidante, especialmente <strong>para</strong> firmas sem experiência em mercados<br />

pobres. Entretanto, alguns dos melhores recursos <strong>para</strong> superar esses desafios<br />

podem ser encontrados, justamente, entre os pobres.<br />

Para alavancar o potencial dos pobres – trabalhando com eles e atuando<br />

através de suas redes sociais – é necessário ter uma compreensão profunda do<br />

contexto local. Quando os pobres assumem tarefas em um modelo de negócios,<br />

os custos de transação diminuem enquanto eles são beneficiados com novas<br />

oportunidades de renda. Além disso, os pobres são eficientes e confiáveis<br />

<strong>para</strong> estabelecer o elo entre suas comunidades e os mercados. Eles têm o<br />

conhecimento e os incentivos <strong>para</strong> tal. As suas fortes redes sociais, não raro,<br />

podem suprir lacunas do mercado e compensar a falta de condições adequadas<br />

(Quadro 5.1).<br />

Como mostra a matriz estratégica, o fortalecimento do potencial dos pobres<br />

se aplica na maioria dos cinco grandes obstáculos discutidos no capítulo 2 – mas<br />

é usado principalmente <strong>para</strong> enfrentar a falta de informação sobre o mercado.<br />

CAPÍTULO 5. FORTALECIMENTO DO POTENCIAL DOS POBRES<br />

67


Quadro 5.1. Estudo de caso – HealthStore Foundation:<br />

oferecendo serviços de saúde em áreas remotas<br />

A malária afeta aproximadamente 300<br />

milhões de pessoas ao redor do mundo.<br />

Cerca de 70%-90% de doenças e mortes<br />

infantis em países em desenvolvimento são<br />

causadas por doenças contagiosas como a malária – e que podem ser tratadas com drogas genéricas<br />

baratas. Todos os dias, mais de 25.000 crianças morrem por causa da falta desses remédios. 1<br />

Quando Scott Elétron, fundador da HealthStore Foundation, observou o mercado de medicamentos<br />

no Quênia, verificou um sistema falido, com suprimentos de remédios inadequados e de baixa<br />

qualidade. Ao mesmo tempo, enxergou uma oportunidade <strong>para</strong> “evitar mortes e doenças<br />

desnecessárias no mundo em desenvolvimento através da melhoria sustentável do acesso a<br />

medicamentos essenciais e serviços de saúde básicos”. 2 Se medicamentos ruins estavam sendo<br />

vendidos <strong>para</strong> gerar lucro, pensou Scott, vender medicamentos de boa qualidade também poderia ser<br />

lucrativo.<br />

O maior desafio de Scott era distribuir remédios <strong>para</strong> as áreas remotas do Quênia. Enquanto 80%<br />

dos médicos do país vivem nas cidades, 70% dos habitantes moram em áreas rurais. A necessidade<br />

de medicamentos era maior nessas áreas, mas poucas clínicas ou farmácias existiam ali, e estradas<br />

precárias dificultavam o acesso aos vilarejos. O objetivo de Scott era fornecer a essas regiões estoques<br />

de remédios baratos e de boa qualidade e estabelecer clínicas localizadas a não mais do que uma hora<br />

de caminhada das localidades que deveriam ser servidas.<br />

Para alcançar esses objetivos, o empreendimento de Scott precisaria construir o seu próprio mercado,<br />

promovendo a conscientização das comunidades rurais do Quênia e encontrando formas inovadoras<br />

de validar contratos. Sem meios de comunicação confiáveis ou sistemas que fizessem valer as leis, a<br />

única maneira de estabelecer um mercado <strong>para</strong> os seus remédios – aumentando a conscientização<br />

sobre saúde, assegurando tratamentos eficazes e garantindo lucratividade <strong>para</strong> as lojas da HealthStore<br />

Foundation – seria através da construção de uma relação de confiança com as comunidades.<br />

A solução de Scott foi engajar membros das comunidades em microfranquias, <strong>criando</strong> redes locais<br />

de distribuição de remédios. Tendo como proprietários as enfermeiras ou trabalhadores locais da área<br />

de saúde das comunidades, que conhecem as necessidades dos seus clientes, as franquias com fins<br />

lucrativos permitem à HealthStore Foundation distribuir satisfatoriamente os medicamentos baratos e<br />

fornecer serviços básicos de saúde <strong>para</strong> muitas comunidades remotas.<br />

Obstáculos<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Trabalhar com as comunidades pobres<br />

é um processo de aprendizado mútuo. As<br />

empresas aprendem sobre as preferências,<br />

necessidades e capacidades locais; aprendem<br />

a desenvolver processos que funcionam<br />

no mercado e colaborar com os pobres. Os<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

pobres, por sua vez, recebem informações<br />

novas, aumentam as suas habilidades,<br />

assumem novos papéis e ganham<br />

autoconfiança. 1<br />

A prática do desenvolvimento produziu<br />

um rico conjunto de mé<strong>todos</strong> e abordagens<br />

<strong>para</strong> engajar os pobres, principalmente<br />

porque os especialistas dessa área há muito<br />

compreenderam a necessidade de se ter<br />

dois diferenciais <strong>para</strong> o trato bem-sucedido<br />

com as comunidades pobres: inserção local<br />

e confiança. A inserção local viabiliza o<br />

acesso às redes locais, recursos e informação,<br />

tornando as operações eficazes e gerando<br />

confiança. E a confiança é um diferencial<br />

fundamental onde impera a pobreza,<br />

mas praticamente sem valor nos países<br />

desenvolvidos onde o sistema formal e a<br />

prática de contratos funcionam.<br />

A inserção local e a confiança são<br />

igualmente importantes <strong>para</strong> o sucesso dos<br />

modelos de negócios inclusivos. 2 Experiências<br />

pessoais e relacionamentos são cruciais<br />

<strong>para</strong> as tomadas de decisão dos pobres. Até<br />

serem convencidos de que podem confiar,<br />

eles tendem a ser desconfiados em relação a<br />

forasteiros dentro dos seus mercados.<br />

68 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Com a recomendação de organizações religiosas, a HealthStore Foundation recruta franqueados de<br />

personalidade forte, com senso <strong>para</strong> os negócios e boas relações com a comunidade. A fundação fornece<br />

empréstimos iniciais e apoio contínuo, incluindo treinamento, logística, financiamento e marketing. Em<br />

contrapartida, os franqueados contribuem com uma taxa, mantêm os padrões da empresa e atendem suas<br />

comunidades.<br />

O modelo provou ser eficaz. Apenas em 2005, mais de 400.000 pacientes de baixa renda foram tratados em<br />

11 distritos do Quênia através das 63 lojas. Millicent, a primeira franqueada a abrir uma clínica <strong>para</strong> crianças<br />

e famílias das favelas de Kibera, em 2004, ganhou a confiança da sua comunidade e atualmente fatura<br />

entre $1.000 - $1.280 por mês. O seu negócio foi tão bem-sucedido que ela pôde levar a sua família <strong>para</strong><br />

tirar férias pela primeira vez, educou o seu filho em uma escola privada e está planejando comprar uma<br />

casa.<br />

Dora, outra enfermeira franqueada,<br />

também está fazendo uma grande<br />

diferença na sua comunidade,<br />

e, ao mesmo tempo, ganhando<br />

autoconfiança e uma renda decente.<br />

Durante os recentes conflitos no Quênia,<br />

o valor do empreendimento de Dora –<br />

e de Scott – <strong>para</strong> os pobres da região,<br />

foi dramaticamente revelado: “Eles<br />

persuadiram os delinquentes a poupar a<br />

minha clínica. Disseram que precisavam<br />

dos serviços médicos e que eu estava ali<br />

<strong>para</strong> ajudá-los. No final das contas, <strong>todos</strong><br />

iriam se prejudicar por não ter uma<br />

farmácia e uma pequena instalação de<br />

serviço de saúde.”<br />

1. WHO 2007.<br />

2. Compromisso de missão da HealthStore<br />

Foundation.<br />

3. CARE Newsletter, janeiro de 2008.<br />

Nos mercados pobres, os<br />

indivíduos e organizações locais possuem conhecimento e relacionamentos sólidos que<br />

lhes dão vantagens em relação àqueles que vêm de fora. Os moradores locais não precisam<br />

cultivar confiança e relacionamentos nem se inserir no ambiente <strong>para</strong> compreendê-lo ou<br />

pesquisar as necessidades e práticas locais. Assim, os modelos de negócios inclusivos podem<br />

basear-se em mé<strong>todos</strong> já testados na prática, como mé<strong>todos</strong> participativos de avaliação<br />

rural, que utilizam o conhecimento local <strong>para</strong> a avaliação de situações, organização e<br />

tomada de decisões comunitárias, <strong>para</strong> poderem entender os seus mercados-alvo e construir<br />

relacionamentos com fornecedores e consumidores.<br />

Inserção dos pobres como indivíduos<br />

Empresas que incluem os pobres nas suas<br />

cadeias de valor beneficiam-se de elementos<br />

preciosos: conhecimento local e relações de<br />

confiança. Por outro lado, o pobre beneficiase<br />

através de novas fontes de renda e<br />

habilidades. Modelos de negócios inclusivos<br />

podem gerar esse benefício mútuo por meio<br />

do (a):<br />

envolvimento dos pobres em pesquisas<br />

de mercado;<br />

realização de treinamento <strong>para</strong> que os<br />

pobres tornem-se instrutores;<br />

construção de redes logísticas locais;<br />

identificação de fornecedores de serviço<br />

locais;<br />

promoção da inovação através da co-criação<br />

com os pobres.<br />

Envolvimento dos pobres em pesquisas de<br />

mercado<br />

Desde os anos 80, muitas ferramentas e técnicas<br />

foram criadas <strong>para</strong> colher informações sobre<br />

os pobres. Um exemplo é a avaliação rural<br />

participativa, que usa a comunicação oral em vez<br />

da escrita e reduz a distância entre eles e seus<br />

entrevistadores.<br />

CAPÍTULO 5. FORTALECIMENTO DO POTENCIAL DOS POBRES<br />

69


mercado com o envolvimento da comunidade.<br />

No agronegócio, informações atualizadas<br />

sobre quem produz o que são importantes<br />

tanto <strong>para</strong> os compradores quanto <strong>para</strong><br />

os vendedores. Sem um mecanismo <strong>para</strong><br />

equilibrar variações locais na produção,<br />

os preços podem ser altamente voláteis.<br />

Os agentes de serviços dos centros de<br />

informações rurais da empresa chinesa<br />

de computadores Tsinghua Tongfang<br />

coletam informações dos produtores rurais<br />

que lá comparecem <strong>para</strong> obter notícias<br />

sobre a previsão do tempo ou contatos de<br />

fornecedores. Os agentes obtêm, dessa forma,<br />

dados sobre a produção atual e futura e<br />

inserem as informações no site do Centro de<br />

Informação Rural de Pequim, ajudando outros<br />

produtores rurais a equilibrarem a produção<br />

e alcançarem maior lucratividade. Além disso,<br />

o site também pode ajudar compradores de<br />

produtos agrícolas – varejistas ou produtores<br />

de ração animal – a descobrir onde comprar<br />

insumos.<br />

China: Informações sobre o<br />

planejamento da produção de<br />

agricultores estão disponíveis no<br />

site do Centro de Informação Rural<br />

de Pequim, permitindo que outros Avaliações desse<br />

produtores rurais adaptem seus tipo mostram que<br />

próprios planos.<br />

os habitantes de<br />

vilarejos podem<br />

descrever os bens<br />

e características de famílias locais com precisão<br />

surpreendente, produzindo estimativas tão<br />

exatas quanto às de avaliações formais; mas elas<br />

são menos demoradas e mais baratas. 3<br />

Da mesma forma, levantamentos em<br />

favelas podem captar com muita eficiência<br />

informações sobre a realidade de mercados<br />

pouco conhecidos. Em 2005, o Centro de<br />

Estudos Urbanos de Bangladesh e a Agência<br />

Norte-Americana <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Internacional realizaram uma ampla pesquisa<br />

<strong>para</strong> identificar as principais favelas (por<br />

tamanho da população e número de moradias)<br />

e <strong>para</strong> registrar recursos como fontes de água,<br />

saneamento e fornecimento de energia. Uma<br />

equipe treinada de investigadores de campo<br />

entrou nas favelas e identificou informanteschave<br />

– líderes comunitários, professores,<br />

comerciantes e membros de organizações<br />

não-governamentais – que compartilharam<br />

seus conhecimentos sobre cada habitante e<br />

características das favelas. 4<br />

A tecnologia da informação e comunicação<br />

pode, em alguns casos, ser usada <strong>para</strong> tornar<br />

mais eficiente essa obtenção de informações de<br />

Realização de treinamento <strong>para</strong> que os<br />

pobres se tornem instrutores<br />

Investimentos em treinamento e educação são,<br />

com freqüência, necessários <strong>para</strong> que modelos<br />

de negócios inclusivos tenham sucesso –<br />

mas podem ser bastante caros. Entretanto,<br />

treinar pessoas da comunidade <strong>para</strong> torná-los<br />

instrutores e educadores pode expandir os<br />

benefícios do investimento muito além de um<br />

círculo inicial de instrutores. Os instrutores<br />

locais falam a linguagem local e desfrutam<br />

da confiança da comunidade. Além disso,<br />

capacitar pobres <strong>para</strong> que sejam instrutores<br />

lhes confere um poder e status especial na<br />

comunidade a que pertencem.<br />

O treinamento “campesino a campesino”<br />

aumentou com êxito as práticas agrícolas.<br />

Novos mé<strong>todos</strong> agrícolas ou de pecuária são<br />

disseminados entre o grupo de aprendizagem,<br />

com um instrutor do campo guiando o resto.<br />

Essa abordagem provou ser eficaz, não<br />

somente porque os produtores rurais levam a<br />

sério o conselho de seu colega, mas também<br />

porque as práticas são adaptadas às condições<br />

locais. O treinamento passa a ter, dessa<br />

maneira, um componente inovador inerente<br />

ao processo, na medida em que os produtores<br />

rurais são encorajados a experimentar e<br />

com<strong>para</strong>r alternativas.<br />

Treinamentos dirigidos pela comunidade<br />

também estão sendo aplicados com sucesso<br />

na área de serviços bancários.<br />

70 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Bancos comerciais sul-africanos, como o<br />

Nedbank e o Rand Merchant Bank, possuem<br />

programas de orientação comunitária <strong>para</strong><br />

instruir clientes de baixa renda sobre os seus<br />

produtos. Com a colaboração da Agência<br />

Francesa de Desenvolvimento, os dois bancos<br />

oferecem produtos financeiros inovadores,<br />

voltados <strong>para</strong> o mercado de habitação de<br />

baixa renda. O Nedbank e o Rand Mercantile<br />

Bank treinam instrutores comunitários sobre<br />

os serviços e estes repassam o conhecimento<br />

apreendido <strong>para</strong> clientes em potencial. O<br />

programa instrui clientes-alvo ao mesmo<br />

tempo em que edifica a confiança, ajudando<br />

a diminuir a distância, criada pelo apartheid,<br />

entre os financistas brancos e os clientes<br />

negros.<br />

Construção de redes logísticas locais<br />

Engajar os pobres pode ajudar as empresas<br />

a receber, distribuir e vender em mercados<br />

com infra-estrutura física e sistemas<br />

logísticos inadequados. As empresas<br />

podem abordar, por exemplo, pequenos<br />

comerciantes ou outros fornecedores locais<br />

<strong>para</strong> oferecer um produto novo. Nas Filipinas,<br />

a RiteMed mobilizou pontos de venda de<br />

produtos farmacêuticos e os convenceu da<br />

oportunidade de negócio em vender remédios<br />

genéricos em grandes quantidades, mesmo<br />

com margens de lucro mais baixas. As vendas<br />

da RiteMed chegaram a $20 milhões em<br />

2006. No México, a rede de distribuição de<br />

material de construção da CEMEX também<br />

inclui mais de 2.000 pequenos e médios<br />

varejistas locais nas áreas urbanas e rurais.<br />

O sistema de microfranquia é outra forma<br />

de fortalecer redes de distribuição locais.<br />

O princípio da microfranquia é idêntico ao<br />

da franquia comum: um modelo de negócio<br />

padronizado que pode ser facilmente<br />

replicado. Para fazer a franquia funcionar em<br />

escala micro, o modelo precisa viabilizar um<br />

pequeno investimento inicial (que pode ser<br />

feito através de um sistema de microcrédito<br />

que evite sobrecarregar os franqueados<br />

com dívidas antecipadas). O benefício <strong>para</strong><br />

os franqueados é o estabelecimento de um<br />

negócio, contratado sob empreitada integral,<br />

que comprovadamente requer menos risco<br />

e experiência do que um modelo startup.<br />

Além disso, a microfranquia também oferece<br />

serviços de suporte, desde o desenvolvimento<br />

de produtos ao gerenciamento e treinamento<br />

da rede de fornecedores. Um exemplo desse<br />

modelo é o sistema lucrativo de microfranquias<br />

da HealthStore Foundation no Quênia (ver<br />

Quadro 5.1).<br />

Identificação de fornecedores de serviço locais<br />

Provedores de serviço e manutenção em<br />

mercados pobres devem responder com rapidez<br />

às necessidades dos clientes, no entanto cobrem<br />

freqüentemente populações dispersas em<br />

áreas com infra-estrutura física e rede logística<br />

inadequadas. Somente provedores locais<br />

conseguem fazer isso com sucesso.<br />

A Lydec trabalha com “representantes<br />

de rua” <strong>para</strong> administrar as operações do<br />

fornecimento de água e eletricidade nas favelas<br />

de Casablanca. Os representantes, que são<br />

membros da comunidade local, são responsáveis<br />

pela coordenação do trabalho diário e pelo<br />

fornecimento de suporte técnico a uma média<br />

de 20 moradias cada um. Eles também geram a<br />

cobrança do pagamento das moradias por eles<br />

atendidas.<br />

Serviços de saúde dependem, mais do que<br />

quaisquer outros, de uma provisão regular e<br />

confiável. A alta taxa de mortalidade infantil<br />

nos países em desenvolvimento é, na maioria<br />

dos casos, causada por falta de atenção médica<br />

e acesso limitado a serviços de saúde. No Mali,<br />

o projeto Pésinet tem um sistema de aviso<br />

que monitora a saúde infantil e detecta, com<br />

antecedência, doenças potencialmente fatais,<br />

como a malária e o sarampo. Combinando<br />

inovação técnica com o engajamento da<br />

comunidade, a empresa oferece um modelo<br />

eficiente <strong>para</strong> o monitoramento de problemas<br />

de saúde. A Pésinet identifica e treina<br />

representantes locais – a maioria mulheres – na<br />

periferia de Bamako.<br />

Madagascar: Treinamentos campesino a campesino<br />

podem expandir práticas agrícolas com sucesso.<br />

Foto: Adam Rgers/UNCDF<br />

CAPÍTULO 5. FORTALECIMENTO DO POTENCIAL DOS POBRES<br />

71


pobres)”. 5 Três ferramentas, em particular, são<br />

promissoras: o método do usuário-líder, imersão<br />

e workshops de inovação.<br />

Benin: Um farmacêutico<br />

recebe visitantes em uma Os pais cadastram-se<br />

clínica de saúde.<br />

no programa e pesam<br />

Foto: UNICEF/Julie Pudlowski<br />

seus filhos duas vezes<br />

por semana com as<br />

“senhoras Pésinet”,<br />

que enviam a informação eletronicamente <strong>para</strong><br />

um médico associado. Quando a leitura do peso é<br />

mais baixa do que o normal, o médico pede que a<br />

criança seja levada ao seu consultório <strong>para</strong> exame.<br />

Um médico pode cuidar de cerca de 2.000 crianças.<br />

O projeto é financeiramente sustentável e atende<br />

pelo menos 1.200 crianças por uma taxa mensal de<br />

inscrição de apenas US$1,05.<br />

Promoção da inovação através da co-criação<br />

com os pobres<br />

Os pobres podem contribuir em <strong>todos</strong> os estágios<br />

das cadeias de valor – e podem ser inovadores ao<br />

desenvolverem novos modelos de negócios.<br />

Integrar os consumidores pobres no processo<br />

de inovação ajuda a:<br />

obter informações sobre os consumidores e a<br />

forma como utilizam um produto;<br />

descobrir informações “ocultas” – que os<br />

consumidores possuem, mas que não revelam<br />

porque não têm consciência da sua importância<br />

ou sentem-se inseguros <strong>para</strong> expressá-las;<br />

identificar necessidades e soluções.<br />

Nas palavras de Ted London – Diretor da<br />

Iniciativa Base da Pirâmide, do Instituto William<br />

Davidson da Universidade de Michigan – uma<br />

abordagem integrativa de desenvolvimento<br />

de negócios pode “combinar o conhecimento<br />

desenvolvido no topo da pirâmide com a<br />

sabedoria e a experiência da base, de forma que<br />

melhor se encaixe no ambiente local e permita a<br />

co-descoberta de novas oportunidades (<strong>para</strong> os<br />

O conceito do usuário-líder, desenvolvido<br />

pelo Professor Eric von Hippel, Chefe de<br />

Inovação e Empreendedorismo da Sloan Escola<br />

de Administração do Instituto de Tecnologia<br />

de Massachusetts, é amplamente aplicado em<br />

inovação dirigida ao consumidor. Usuários<br />

líderes têm necessidades que se tornarão<br />

relevantes a outros usuários e – como percebem<br />

os benefícios significativos <strong>para</strong> si próprios ao<br />

satisfazerem suas necessidades – desenvolvem<br />

idéias sobre como satisfazer necessidades<br />

usando ou adaptando os produtos existentes. 6<br />

A Haier, por exemplo, empresa chinesa de<br />

utensílios domésticos, descobriu que seus<br />

clientes estavam usando as máquinas de lavar<br />

Haier não apenas <strong>para</strong> lavar roupas, mas<br />

também <strong>para</strong> lavar vegetais. Então, a empresa<br />

adaptou as máquinas de lavar <strong>para</strong> torná-las<br />

melhor na lavagem de vegetais.<br />

Com origem na pesquisa antropológica e<br />

na prática do desenvolvimento, o método de<br />

imersão envolve a integração prolongada nas<br />

comunidades pobres como participante, e não<br />

como mero observador. Representantes de<br />

empresas e facilitadores de projetos visitam<br />

uma favela ou um vilarejo rural durante dois<br />

ou três meses, estabelecem relações e se<br />

utilizam delas <strong>para</strong> desenvolver um modelo<br />

de negócio apoiado por uma rede social. 7 As<br />

empresas Intel, Motorola e Nokia empregam<br />

“antropólogos usuários” ou “pesquisadores do<br />

comportamento humano” que permanecem nos<br />

locais e conduzem vários tipos de entrevistas<br />

com usuários em potencial a fim de mapear<br />

possíveis funções <strong>para</strong> um produto. De acordo<br />

com o New York Times, “Influenciada pelo<br />

estudo (de um antropólogo) sobre a prática de<br />

compartilhar telefones celulares com a família<br />

ou com vizinhos, a Nokia começou a fabricar<br />

telefones com cadernos de endereços <strong>para</strong><br />

até sete usuários por telefone”. 8 A imersão<br />

foi considerada no Protocolo da Base da<br />

Pirâmide, conduzido pelo Professor Stuart<br />

Hart da Johnson School da Universidade de<br />

Cornell, <strong>para</strong> compreender as condições do<br />

mercado-alvo e “co-criar” modelos de negócios<br />

inclusivos. 9<br />

Os workshops sobre inovação podem ser<br />

uma maneira eficiente de engajar consumidores<br />

pobres no desenvolvimento de um negócio<br />

que já tenha inserção local e uma boa rede de<br />

relacionamentos na comunidade.<br />

72 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Um workshop bem planejado pode gerar<br />

uma interação criativa entre a empresa e<br />

os consumidores, que podem contribuir<br />

através do seu conhecimento sobre as formas<br />

de utilização de um produto (ou produtos<br />

relacionados). Tal conhecimento, combinado<br />

com a opinião técnica da empresa, pode<br />

levar a novas soluções. 10 Por exemplo, o<br />

K-REP Bank, um provedor de microcrédito<br />

queniano, usa as reuniões com seus clientes<br />

<strong>para</strong> obter feedback e desenvolver melhorias<br />

nos serviços. Algumas das mais promissoras<br />

inovações do Banco K-REP, inclusive os<br />

diferentes tipos de empréstimos com planos<br />

flexíveis e as freqüentes reuniões de grupos,<br />

surgiram a partir dessas interações com os<br />

clientes.<br />

Como diz o provérbio, a necessidade é a<br />

mãe da invenção. Com poucos recursos e acesso<br />

limitado a bens e serviços, os pobres precisam<br />

ser criativos <strong>para</strong> viver. A inclusão de suas idéias<br />

no desenvolvimento de um negócio – de forma<br />

que encoraje e valorize as suas contribuições –<br />

pode ser extremamente útil durante o processo<br />

de criação. Para os pobres isso significa não<br />

apenas poder usufruir de melhores produtos,<br />

mas também ter suas vozes ouvidas.<br />

Desempenho por meio de redes<br />

sociais existentes<br />

Uma comunidade é mais do que a soma de<br />

suas partes. Onde a pobreza prevalece, as<br />

regras informais estabelecidas e impostas<br />

pelas comunidades costumam ser mais<br />

eficazes do que as regras formais. Além disso,<br />

uma comunidade pode contribuir <strong>para</strong> que<br />

seus moradores ajudem-se e compartilhem<br />

recursos, pode facilitar a cooperação <strong>para</strong><br />

a provisão de bens comuns (como poços,<br />

moinhos ou escolas) ou ainda viabilizar<br />

estruturas <strong>para</strong> serviços de poupança e<br />

mecanismos de crédito ou seguros.<br />

Modelos de negócios inclusivos podem se<br />

beneficiar ao colaborar com comunidades pobres<br />

<strong>para</strong>:<br />

alavancagem de mecanismos de aplicação de<br />

contratos informais;<br />

expansão do compartilhamento de risco;<br />

coordenação de investimentos <strong>para</strong> o<br />

provimento de bens comuns.<br />

Bangladesh: Um grupo de mulheres da comunidade fornece<br />

instruções sobre nutrição, saúde e matemática fundamental com<br />

o objetivo de contribuir <strong>para</strong> o desenvolvimento de habilidades<br />

profissionais básicas. Foto: Shehzad Noorani/ Banco Mundial<br />

CAPÍTULO 5. FORTALECIMENTO DO POTENCIAL DOS POBRES<br />

73


Alavancagem de mecanismos de<br />

aplicação de contratos informais<br />

Redes sociais facilitam a realização de<br />

atividades individuais e coletivas através<br />

da confiança, da reciprocidade e do<br />

estabelecimento de regras comuns. Esses<br />

fatores podem ajudar no cumprimento de<br />

contratos onde o ambiente regulatório é<br />

ineficaz. Novos modelos de negócio podem<br />

criar incentivos <strong>para</strong> que <strong>todos</strong> os participantes<br />

atuem “de acordo com as regras”.<br />

O microcrédito deve seu sucesso, em<br />

grande parte, aos incentivos que cria através<br />

do empréstimo em grupo. Tendo em vista<br />

que <strong>todos</strong> os mutuários de um grupo de<br />

crédito sabem que o acesso ao crédito<br />

dependerá do cumprimento das regras por<br />

parte dos outros membros, apenas pessoas<br />

consideradas confiáveis têm permissão <strong>para</strong><br />

fazer parte do grupo – e o grupo assegura<br />

que os membros paguem seus empréstimos<br />

em dia. Dessa maneira, o grupo de crédito<br />

assume tarefas de filtragem, monitoramento<br />

e execução. Ao dar crédito a grupos em vez<br />

de indivíduos, o sistema de microcrédito criou<br />

incentivos alternativos que tornou os índices<br />

de inadimplência menores do que aqueles<br />

alcançados através do empréstimo tradicional<br />

ou baseados em garantia. 11<br />

A metodologia de grupos foi traduzida <strong>para</strong><br />

vários outros modelos de negócios.<br />

A Manila Water, por exemplo, usou-a <strong>para</strong><br />

facilitar o processo de cobrança e <strong>para</strong> coibir<br />

o roubo de suas tubulações. A empresa<br />

formou cooperativas em comunidades<br />

pobres <strong>para</strong> assumirem a responsabilidade<br />

pelas conexões de água. Foram instalados<br />

“medidores-mestres” <strong>para</strong> medir o consumo<br />

de água da comunidade e submedidores<br />

<strong>para</strong> medir o consumo de cada família.<br />

Enquanto a comunidade como um todo<br />

paga o valor marcado no “medidor-mestre”,<br />

cada família paga a sua própria conta ao<br />

representante da comunidade com base<br />

na leitura do seu submedidor. Resultado:<br />

nenhum membro da comunidade tem<br />

interesse em permitir roubos. Esse sistema<br />

criou um benefício adicional porque alguns<br />

custos administrativos foram transferidos<br />

<strong>para</strong> a comunidade, permitindo à empresa<br />

cobrar menos. A Manila Water fornece água<br />

<strong>para</strong> 140.000 famílias de baixa renda – 10<br />

vezes mais desde que assumiu a licença – e<br />

alcançou um lucro de US$37 milhões sobre a<br />

receita de US$108 milhões.<br />

Expansão do compartilhamento de risco<br />

As comunidades normalmente desenvolvem<br />

alguma forma de compartilhamento de risco,<br />

seja através de poupanças em comum ou de<br />

acordos <strong>para</strong> apoiar uns aos outros em caso<br />

de necessidade.<br />

Colômbia: A Federação Nacional de Cafeicultores tem<br />

mais de 566.000 associados, sendo a maioria produtores<br />

de pequena escala. Foto: Luis Felipe Avella<br />

74 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 5.1. Resumo: Abordagens <strong>para</strong> alavancar o potencial dos pobres<br />

Obstáculos<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégia 3<br />

Fortalecimento do potencial dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Envolvimento dos pobres em pesquisas de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Alavancagem de mecanismos de aplicação<br />

de contratos informais<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Construção de redes logísticas locais<br />

Identificação de fornecedores de serviço locais<br />

Promoção da inovação através da co-criação com os<br />

pobres<br />

Coordenação de investimentos <strong>para</strong> o provimento de<br />

bens comuns<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Realização de treinamento <strong>para</strong> que os<br />

pobres se tornem instrutores<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Expansão do compartilhamento de risco<br />

Empresas que incluem os pobres como<br />

produtores podem expandir esses mecanismos<br />

de compartilhamento de risco e torná-los<br />

mais eficazes. Uma forma de fazer isso é<br />

ajudando a expandir tais mecanismos <strong>para</strong><br />

além da comunidade local, o que protege<br />

os participantes mesmo em caso de perda<br />

<strong>para</strong> a comunidade como um todo. Assim, é<br />

possível contribuir <strong>para</strong> que os produtores<br />

possam investir, melhorando a produção<br />

e, conseqüentemente, beneficiando o<br />

fornecimento da empresa.<br />

Juan Valdez é uma rede de lojas de<br />

café presente na Colômbia e em outros<br />

países, pertencente à Federação Nacional de<br />

Cafeicultores da Colômbia. As lojas são pontos<br />

de venda com os melhores preços de café<br />

colombiano da Federação. Graças aos bons<br />

preços e à eliminação de intermediários, os<br />

produtores ganham 25% a mais do que o preço<br />

colombiano padrão <strong>para</strong> o mesmo café. Para<br />

garantir um preço mínimo aos associados, a<br />

Federação fica com parte da receita da Juan<br />

Valdez nos períodos de alta dos preços do<br />

café, como reserva contra as baixas desse<br />

volátil mercado. Durante a “crise do café”, no<br />

início dos anos 90, esse mecanismo de seguro<br />

compensou um déficit da produção de US$1.5<br />

bilhões.<br />

Coordenação de investimentos <strong>para</strong> o<br />

provimento de bens comuns<br />

Sem coordenação, os bens comuns são<br />

insuficientemente fornecidos em decorrência<br />

da “tragédia dos bens comuns” – o que ocorre<br />

quando a comunidade como um todo usa<br />

bens comuns, mas nenhum membro está<br />

disposto a arcar com os custos. Um modelo<br />

de negócio inclusivo pode investir parte da<br />

sua receita proveniente da venda de produtos<br />

na disponibilização de bens comuns. Ou<br />

então, pode solicitar à comunidade esse<br />

tipo de investimento (como no modelo de<br />

compartilhamento de risco de Juan Valdez). O<br />

sistema de fair trade, por exemplo, conforme<br />

ilustrado no modelo de comércio justo do<br />

algodão no Mali, requer que cada cooperativa<br />

gaste parte da renda adicional, obtida graças<br />

ao selo fair trade, em projetos que beneficiem<br />

a comunidade.<br />

CAPÍTULO 5. FORTALECIMENTO DO POTENCIAL DOS POBRES<br />

75


No Paquistão, o projeto da Saiban oferece<br />

aos pobres lotes de terra a preços acessíveis.<br />

Os serviços fornecidos inicialmente são<br />

limitados ao básico: abastecimento de água<br />

comunitária e transporte público <strong>para</strong><br />

o centro da cidade. Posteriormente, as<br />

prestações mensais acumuladas são usadas<br />

<strong>para</strong> financiar mais serviços (conexões de<br />

água de casa em casa, esgoto, eletricidade,<br />

pavimentação de estradas). O projeto<br />

auto-financiado cria incentivo <strong>para</strong> que os<br />

habitantes se organizem e acumulem, com<br />

rapidez, fundos suficientes <strong>para</strong> a obtenção<br />

de infra-estruturas necessárias. 12<br />

Outro exemplo de coordenação de<br />

investimentos <strong>para</strong> a obtenção de bens<br />

comuns – com resultados que beneficiam<br />

tanto as empresas quanto os membros de<br />

comunidades pobres – é a organização<br />

não governamental criada pela Tiviski,<br />

companhia de laticínios da Mauritânia.<br />

Financiada pela receita arrecadada da venda<br />

de leite da empresa, a organização oferece<br />

ração animal, crédito e cuidados veterinários<br />

<strong>para</strong> os pastores de camelos que antes não<br />

tinham esses serviços, o que, por sua vez,<br />

limitava o crescimento da companhia.<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

The World Bank Participation Sourcebook (Banco Mundial)1996, p. 8.<br />

Hart e London 2005, p. 28-33.<br />

Chambers, 1994.<br />

Centre for Urban Studies, 2006.<br />

London, 2007.<br />

Von Hippel, 1986.<br />

Corbett, 2008.<br />

Corbett, 2008.<br />

Simanis e outros, 2008.<br />

Gruner e Homburg, 2000.<br />

Mendoza e Thelen, a ser lançado.<br />

Siddiqui, 2005.<br />

76 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


6<br />

Combinação de recursos<br />

e c a p a c i d a d e s c o m<br />

o u t r a s i n s t i t u i ç õ e s<br />

México: Com a<br />

colaboração de consulados<br />

e clubes de emigrantes,<br />

a empresa Construmex<br />

ajuda famílias no México<br />

a construir ou comprar<br />

casas decentes através de<br />

transferências de fundos<br />

feitas por parentes que<br />

moram nos Estados Unidos.<br />

Foto: Cemex<br />

Como <strong>todos</strong> os modelos de negócios, modelos inclusivos, com<br />

freqüência, têm sucesso com o engajamento de outras empresas em parcerias e<br />

colaborações mutuamente benéficas. A CEMEX, por exemplo, trabalha junto a uma<br />

rede de mais de 2.000 varejistas locais de pequeno e médio porte <strong>para</strong> distribuir<br />

material de construção comprado da Construmex por emigrantes mexicanos<br />

vivendo nos Estados Unidos; os materiais são <strong>para</strong> suas famílias que moram em<br />

mais de 1.200 localidades no México. A empresa tem também um acordo com a<br />

DOLEX, uma das maiores operadoras de transferência de remessas nos Estados<br />

Unidos, <strong>para</strong> facilitar os pagamentos de seus clientes, que podem efetuá-los em<br />

mais de 800 pontos de venda.<br />

Para modelos de negócios inclusivos, uma estratégia tão importante quanto<br />

a parceria de outras empresas é a criação de sociedades com parceiros não<br />

comerciais. Esses parceiros podem ser igrejas, cooperativas de produtores rurais,<br />

instituições microfinanceiras, organizações não-governamentais com missões<br />

de desenvolvimento humano e organizações de serviços públicos como escolas,<br />

hospitais, prefeituras e agências do governo nacional.<br />

Normalmente, a colaboração é concedida <strong>para</strong> tentar resolver quase <strong>todos</strong> os<br />

obstáculos.<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

77


Quadro 6.1. Estudo de Caso –<br />

Construmex: “Hazla, Paisano!”<br />

Muitos pobres não podem permitir-se planejar o futuro.<br />

Entretanto, no México, a Construmex está tornando<br />

possível, <strong>para</strong> milhares de pobres e suas famílias, a compra da casa própria.<br />

A Construmex possibilita que emigrantes mexicanos vivendo nos Estados Unidos usem a renda<br />

obtida no exterior <strong>para</strong> comprar, construir ou reformar casas no seu país de origem. Em 2006,<br />

quando o negócio foi desenvolvido, bilhões de dólares em remessas foram enviados <strong>para</strong> o<br />

México por mexicanos expatriados. Ainda assim, 25 milhões de pessoas estavam vivendo sem<br />

moradias adequadas no México. A carência sinalizou um déficit evidente no mercado imobiliário<br />

do país. A CEMEX – uma das três maiores produtoras de cimento do mundo, e de longe a maior<br />

empresa de construção do México – enxergou uma oportunidade.<br />

A CEMEX tinha um mercado consagrado de consumidores mexicanos de baixa renda. Já tinha<br />

tido sucesso com o seu projeto de microempréstimo <strong>para</strong> construção, o Patrimonio Hoy.<br />

Como observou Hector Ureta, diretor <strong>para</strong> soluções sociais: “Graças a essas iniciativas, nós nos<br />

engajamos [com clientes de baixa renda], <strong>criando</strong> valor <strong>para</strong> a comunidade, <strong>para</strong> a nossa cadeia<br />

de <strong>valores</strong>, [e <strong>para</strong>] distribuidores de pequeno e médio porte assim como <strong>para</strong> a empresa”.<br />

Contudo, os desafios <strong>para</strong> satisfazer as necessidades dos que emigraram <strong>para</strong> os Estados Unidos<br />

eram complexos. Na realidade, esses emigrantes tinham muito menos dinheiro líquido do que<br />

a empresa esperava inicialmente – e uma história de abusos, fraudes e ameaças violentas fez<br />

com que fossem cautelosos com <strong>todos</strong> os planos de remessas voltados <strong>para</strong> moradia. A CEMEX<br />

precisava ganhar a confiança desse público, além de aprender sobre as suas necessidades e<br />

aspirações.<br />

Ao definir um modelo de negócio <strong>para</strong> a Construmex, a CEMEX obteve ajuda ao colaborar com<br />

organizações já existentes. A Construmex uniu-se aos consulados mexicanos em várias cidades<br />

dos Estados Unidos <strong>para</strong> aprender mais sobre as prioridades dos clientes e a satisfação deles<br />

com relação aos seus produtos.<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

O que não é perceptível na matriz é que a<br />

colaboração, muitas vezes, é aplicada em<br />

conjunto com outras estratégias, ou como<br />

um facilitador <strong>para</strong> as mesmas, que é o<br />

caso quando as empresas atuam junto a<br />

organizações de desenvolvimento da própria<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

comunidade <strong>para</strong> engajar os pobres ou <strong>para</strong><br />

organizar uma ação coletiva de engajamento em<br />

um diálogo político.<br />

Modelos de negócios inclusivos podem<br />

engajar organizações de duas formas. A<br />

primeira consiste em combinar capacidades<br />

complementares. Toda empresa procura<br />

configurar um conjunto de capacidades em<br />

uma “competência principal” que a permitirá<br />

competir de forma lucrativa, enquanto outras<br />

capacidades necessárias podem ser buscadas<br />

externamente. 1 Tais engajamentos abrangem<br />

desde elos secundários entre os fornecedores<br />

e revendedores ao envolvimento profundo de<br />

parcerias estratégicas.<br />

Obstáculos<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Uma segunda forma de engajar outras<br />

empresas ou organizações é através da<br />

combinação de recursos. Com a intenção de<br />

expandir o negócio ou de promover objetivos<br />

comuns, essa prática é menos comum por causa<br />

do risco de perda de vantagem competitiva<br />

<strong>para</strong> aqueles que “pegam carona”. Contudo,<br />

existem exemplos de sucesso – desde pequenas<br />

iniciativas coletivas que alcançam objetivos<br />

específicos (empresas regionais unindo-se <strong>para</strong><br />

fornecer programas de treinamento ou serviços<br />

<strong>para</strong> funcionários) a colaborações muito<br />

maiores (como as de empresas farmacêuticas<br />

combinando recursos <strong>para</strong> pesquisa e<br />

desenvolvimento).<br />

78 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Através de parcerias com clubes de emigrantes em vários estados mexicanos, a empresa desenvolveu<br />

iniciativas que visam melhoria das condições de vida das comunidades, <strong>para</strong> construir confiança – e a<br />

sua marca – com seu mercado-alvo. A empresa também beneficiou-se com uma iniciativa de fundos de<br />

equi<strong>para</strong>ção do Ministério de Desenvolvimento Social do país, que fornece doações em apoio à infraestrutura<br />

das comunidades. Essas colaborações de benefício mútuo pre<strong>para</strong>ram a empresa tanto <strong>para</strong><br />

negociar de forma eficaz com seu mercado-alvo quanto <strong>para</strong> satisfazer suas necessidades, ajudando a<br />

Construmex a ser uma iniciativa viável e permitindo inúmeros benefícios aliados ao desenvolvimento.<br />

O slogan da Construmex “Hazla, paisano!” significa “Você pode, companheiro!”. A empresa segue<br />

em frente com essa crença. Com a simples ação de permitir que pessoas pobres tenham acesso<br />

justo a moradias estáveis e seguras, a Construmex está construindo não só casas, mas também autoestima,<br />

segurança e esperança no futuro. No final de 2006 a Construmex já havia recebido mais de<br />

18.000 pedidos <strong>para</strong> despacho de material de construção. As mulheres somaram 23% da clientela. Os<br />

clientes da Construmex estarão mais aptos a economizar dinheiro no futuro porque suas casas não<br />

precisarão de muita reforma. Além disso,<br />

os esforços da Iniciativa voltados <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento das comunidades estão<br />

fortalecendo o alicerce dos locais onde ela<br />

atua.<br />

A Construmex está prestes a se tornar<br />

sustentavelmente rentável. Nos primeiros<br />

quatro anos foram alcançados US$12.2<br />

milhões com a venda de material de<br />

construção, e esse número aumenta<br />

conforme o negócio cresce. “Nossas<br />

iniciativas sociais nos permitem estabelecer<br />

o elo que faltava: uma relação direta com<br />

nossos clientes de baixa renda”, diz Ureta.<br />

Combinação de capacidades complementares<br />

Os estudos de caso do Instituto York de Pesquisa<br />

e Inovação <strong>para</strong> a Sustentabilidade mostram<br />

que, nos países em desenvolvimento, empresas<br />

sustentáveis prosperam dentro de uma rede<br />

densa de organizações – incluindo empresas<br />

com e sem fins lucrativos e agências de<br />

desenvolvimento. 2 Modelos de negócios inclusivos<br />

podem prosperar unindo-se a essas organizações<br />

e beneficiando-se de suas capacidades, visando<br />

especialmente à:<br />

obtenção de informação sobre o mercado;<br />

alavancagem das redes logísticas existentes;<br />

difusão de informação;<br />

realização de treinamento <strong>para</strong> desenvolver<br />

habilidades necessárias;<br />

efetivação de vendas, fornecimento de<br />

serviços;<br />

promoção do acesso a produtos e serviços<br />

financeiros.<br />

Obtenção de informações sobre o<br />

mercado. Onde não há dados publicados<br />

<strong>para</strong> ajudar uma empresa a entender e<br />

avaliar o potencial do seu mercado-alvo, as<br />

organizações que já trabalham com esse<br />

mercado terão conhecimento qualitativo<br />

sobre suas habilidades, preferências e outras<br />

características. Elas podem também ter dados<br />

quantitativos importantes. Administrações<br />

públicas, bancos de desenvolvimento e outras<br />

organizações doadoras podem, eventualmente,<br />

fornecer informações estatísticas relevantes<br />

ou estudos sobre setores industriais. A CEMEX<br />

firmou parcerias com consulados mexicanos<br />

nas principais cidades norte-americanas<br />

<strong>para</strong> realizar pesquisas de mercado com os<br />

mexicanos que emigraram <strong>para</strong> aquele país<br />

(Quadro 6.1).<br />

Empresas e organizações da sociedade<br />

civil podem fornecer informações sobre o<br />

panorama competitivo, particularmente sobre<br />

parceiros e aliados potenciais.<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

79


Quadro 6.2 Como encontrar um<br />

parceiro – sem um parceiro<br />

A seguir encontra-se uma breve descrição de algumas<br />

Iniciativas e instituições de agenciamento. Esta lista<br />

não é completa; existem inúmeras outras organizações<br />

intermediadoras, sobretudo nas esferas nacional, regional e<br />

local.<br />

Agências multilaterais de desenvolvimento<br />

Programa Vínculos de Negócios (Business Linkages) e<br />

Iniciativa Negócios Populares (Grassroots Business) do IFC<br />

Redes Locais do Pacto Global<br />

Programa Vínculos de Negócios (Business Linkages) da<br />

UNCTAD<br />

Iniciativa Desenvolvendo Negócios Sustentáveis do PNUD<br />

Programa “Industrial Subcontracting & Partnership<br />

eXchange-SPX” da UNIDO<br />

Agências bilaterais de desenvolvimento<br />

Fundo de Desafio <strong>para</strong> o Desencadeamento de Negócios<br />

do DFID<br />

Programa de Parceria Público Privada da GTZ<br />

SNV – Organização dos Países Baixos <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento e Aliança <strong>para</strong> Negócios Inclusivos do<br />

WBCSD<br />

Aliança Global <strong>para</strong> o Desenvolvimento da USAID<br />

Organizações não-governamentais<br />

Ashoka<br />

Enablis<br />

Endeavor<br />

Parceria de Negócios Estratégicos <strong>para</strong> o Crescimento na<br />

África<br />

Iniciativa Empresarial <strong>para</strong> o Desenvolvimento Rural na<br />

Tailândia<br />

TechnoServe<br />

Youth Business International<br />

Associações ou redes de empresas<br />

IBLF e Esquema de Credenciamento de Agentes<br />

Facilitadores de Parcerias do Instituto de Desenvolvimento<br />

Ultramarino (PBAS)<br />

Câmaras de comércio globais, nacionais e regionais<br />

(como a Confederação de Indústrias na Índia, e a Rede de<br />

Informações Comerciais)<br />

Iniciativa de Empresas Nacionais na África do Sul<br />

Empresas Filipinas <strong>para</strong> o Progresso Social (PBSP)<br />

Conselhos Empresariais Regionais <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Sustentável do WBCSD<br />

Aliança Empresarial Contra a Fome Crônica do Fórum<br />

Econômico Mundial<br />

Entidades públicas nacionais e parcerias público-privadas<br />

Business Trust (África do Sul)<br />

Iniciativas nacionais <strong>para</strong> o desenvolvimento econômico<br />

e o desenvolvimento sustentável (como o Conselho<br />

Nacional <strong>para</strong> o Trabalho e o Desenvolvimento Econômico<br />

da África do Sul<br />

Água e Saneamento <strong>para</strong> os Pobres Urbanos (WSUP)<br />

Em 1997, o Grameen Bank, instituição<br />

microfinanceira de Bangladesh, e a Telenor,<br />

empresa norueguesa de telecomunicações,<br />

formaram uma joint venture – a GrameenPhone<br />

– <strong>para</strong> fornecer telecomunicações e novas<br />

fontes de renda aos habitantes de Bangladesh.<br />

O Grameen tinha infra-estrutura, operações e<br />

reputação local; a Telenor trouxe habilidade<br />

técnica e capacidade de investimento. A idéia<br />

era desenvolver um sistema de microfranquia<br />

em que os clientes do Grameen pudessem<br />

comprar telefones e alugá-los <strong>para</strong> outras<br />

pessoas. Entre os clientes de microcrédito,<br />

o Grameen identificou nos vilarejos<br />

100.000 “senhoras do telefone” que, como<br />

microfranqueadas, são hoje responsáveis<br />

por 10% do rendimento da GrameenPhone. 3<br />

Como escreveu Nicholas Sullivan, os telefones<br />

celulares tornaram-se as “novas vacas”,<br />

competindo com os bens produtivos nos quais<br />

grande parte das mulheres investem seus<br />

empréstimos.<br />

Nem sempre é fácil encontrar um bom<br />

parceiro <strong>para</strong> um novo modelo de negócio,<br />

especialmente em mercados em que a<br />

informação é rara. “Agentes facilitadores de<br />

parcerias” podem desempenhar um papel<br />

intermediário importante: eles reúnem<br />

informações sobre organizações de diferentes<br />

setores que estão abertos <strong>para</strong> trabalhar em<br />

colaboração, ajudam a encontrar o parceiro<br />

certo <strong>para</strong> empreendimentos específicos e<br />

fornecem orientação sobre como projetar e<br />

gerenciar parcerias (Quadro 6.2).<br />

Alavancagem das redes logísticas<br />

existentes.<br />

Nos locais onde a infra-estrutura física é<br />

inadequada, recolher e distribuir produtos<br />

requer soluções logísticas. Modelos de negócios<br />

inclusivos podem alavancar redes logísticas<br />

existentes de outras organizações. Onde o setor<br />

pró-lucro é muito ausente, as organizações<br />

não-governamentais e os organismos públicos,<br />

normalmente, apresentam tais redes.<br />

No caso do setor de saúde, por exemplo,<br />

desafios ainda maiores do que problemas<br />

logísticos podem ser superados. A organização<br />

não-governamental Médicos Sem Fronteiras<br />

leva ajuda às pessoas afetadas por epidemias,<br />

conflitos armados, desastres naturais ou<br />

causados pelo homem e possui uma extensa<br />

rede na África Subsaariana. A empresa<br />

farmacêutica Sanofi-aventis estabeleceu uma<br />

parceria com os Médicos Sem Fronteiras <strong>para</strong><br />

distribuir os remédios contra doença do sono<br />

por ela fabricados.<br />

Fonte: Adapted from Nelson 2007.<br />

80 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


México: Foto: Banco<br />

Interamericano de<br />

Desenvolvimento<br />

Suas capacidades eram complementares: a<br />

Sanofi-aventis forneceu remédios e suporte<br />

financeiro, e os Médicos Sem Fronteiras usaram<br />

suas capacidades médicas e logísticas <strong>para</strong><br />

administrar o fornecimento dos remédios em<br />

locais remotos. A colaboração ajudou 14 milhões<br />

de pacientes em 36 países.<br />

Difusão de informação. Trabalhar em<br />

colaboração com outras organizações pode abrir<br />

canais de comunicação, especialmente em locais<br />

com poucos meios de comunicação e baixo<br />

índice de alfabetização. Escolas, universidades,<br />

serviços de saúde e administração pública<br />

são algumas das organizações que têm essa<br />

capacidade.<br />

Em Madagascar, a empresa Bionexx cultiva<br />

a artemisia annua, uma planta medicinal usada<br />

no tratamento da malária. A empresa acha<br />

difícil aumentar a produção tendo em vista<br />

que os agricultores não vêem valor no cultivo<br />

dessa planta. Para aumentar a consciência<br />

sobre os seus benefícios e superar a relutância<br />

dos agricultores, a Bionexx estabeleceu uma<br />

parceria com a rádio religiosa local <strong>para</strong> difundir<br />

informação. 5<br />

Engajar governos em campanhas<br />

colaborativas de conscientização pública não<br />

só fornece informação como também pode<br />

aumentar a credibilidade de uma empresa. Na<br />

Polônia, a Danone confiou na alta capacidade<br />

do governo em comunicar os benefícios<br />

<strong>para</strong> a nutrição infantil do produto Milk<br />

Start, fabricado por ela, e que tem como<br />

alvo as famílias de baixa renda. Com a ajuda<br />

de parceiros, a empresa lançou atividades<br />

sociais <strong>para</strong> aumentar a conscientização<br />

sobre a saúde infantil, contando com a<br />

participação de agentes comunicadores,<br />

escolas e representantes do governo, os<br />

quais traçaram 12 princípios claros e simples<br />

<strong>para</strong> uma nutrição saudável. Em uma das<br />

iniciativas, os 12 princípios foram adotados<br />

através do programa “Estamos Crescendo<br />

com Saúde” do gabinete do Governador da<br />

região de Swietokrzyskie. Professores da<br />

região distribuíram pacotes educacionais com<br />

amostras do Milk Start, durante reuniões de<br />

pais e alunos.<br />

Realização de treinamento <strong>para</strong><br />

desenvolver habilidades necessárias<br />

Em geral, as organizações aptas a treinar<br />

pessoas de vilarejos rurais ou favelas urbanas<br />

são as organizações não-governamentais<br />

ou programas públicos com missões de<br />

desenvolvimento rural, saúde e higiene,<br />

planejamento familiar ou alfabetização<br />

e capacitação. A colaboração com essas<br />

organizações pode ajudar a conquistar a<br />

confiança daqueles que serão treinados.<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

81


Madagascar:<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

Quadro 6.3. Instituições de<br />

microfinanças – agentes varejistas<br />

rurais<br />

Em muitos países,<br />

as instituições de<br />

microfinanças estão entre<br />

as organizações com as mais extensas redes sociais.<br />

Grupos de crédito e poupança estão presentes<br />

mesmo nos vilarejos mais distantes e essa capacidade<br />

não passou despercebida por outras empresas.<br />

Na Índia, por exemplo, a BASIX, instituição de<br />

microcrédito, oferece não apenas serviços de crédito<br />

e poupança, mas também seguros de saúde, colheita<br />

e animais, serviços financeiros como transferência de<br />

fundos e serviços de desenvolvimento agrícola e de<br />

negócios. Serviços de desenvolvimento institucional,<br />

como a facilitação do diálogo político, também são oferecidos. Entre seus clientes<br />

estão os pobres rurais e urbanos, em sua maioria mulheres. 1<br />

Trabalhar com uma instituição de microcrédito <strong>para</strong> usufruir de um canal logístico pode ser<br />

vantajoso, tendo em vista que os serviços financeiros fornecidos podem agregar a coleta ou a<br />

entrega de outros produtos e serviços. Um exemplo é a colaboração entre a BASIX e a Pepsico <strong>para</strong><br />

o cultivo de batata <strong>para</strong> a linha de chips da Frito Lay’s. Em 2006-2007, mais de 1.100 produtores<br />

rurais partici<strong>para</strong>m dessa iniciativa, que trouxe aumentos significativos na taxa de rendimento da<br />

colheita. Espera-se que a BASIX gerencie o processo de aquisição de 4.000 toneladas de batatas<br />

<strong>para</strong> a Frito Lay’s em 2008.<br />

1. BASIX 2007<br />

A Amanco, por exemplo, trabalha com<br />

organizações não-governamentais locais na<br />

Guatemala e no México <strong>para</strong> ensinar aos<br />

produtores rurais sobre o seu sistema de<br />

irrigação. As organizações demonstram o uso<br />

e os benefícios desse sistema; e os produtores<br />

que o adotam são treinados <strong>para</strong> usá-lo.<br />

Considerando que os agricultores conhecem<br />

bem os serviços de extensão das organizações<br />

não-governamentais, eles recebem com<br />

prazer as demonstrações e aceitam bem as<br />

informações transmitidas. O modelo ajudou<br />

a Amanco a ter bons resultados – com as<br />

vendas líquidas da América Latina e Caribe<br />

alcançando US$688 milhões em 2005 – e a<br />

beneficiar produtores rurais, microempresas<br />

locais e o meio ambiente.<br />

Em Fiji, onde há uma grande população<br />

sem acesso a serviços financeiros formais,<br />

o Banco ANZ e o PNUD estão colaborando<br />

<strong>para</strong> melhorar a situação. O Banco ANZ está<br />

implantando um serviço de banco rural, com<br />

seis bancos móveis que viajam regularmente<br />

<strong>para</strong> 250 vilarejos. E o PNUD fornece os<br />

serviços necessários <strong>para</strong> a realização de<br />

treinamento: o PNUD desenvolveu um<br />

Programa de Instrução Financeira <strong>para</strong><br />

comunidades rurais; treinou organizações<br />

intermediárias, incluindo autoridades<br />

locais, organizações não-governamentais e<br />

representantes da comunidade; e forneceu<br />

treinamento e consultoria técnica <strong>para</strong><br />

os funcionários do ANZ. A parceria é<br />

um sucesso, com 54.000 contas rurais<br />

abertas nos primeiros 18 meses e 400<br />

microempréstimos aprovados em um ano.<br />

Atualmente, o modelo está sendo replicado<br />

em outros países das Ilhas do Pacífico. 6<br />

Efetivação de vendas, fornecimento<br />

de serviços.<br />

A qualidade das vendas e do fornecimento<br />

de serviços depende, basicamente, da<br />

disponibilização dos mesmos. Muitas<br />

vezes, é mais vantajoso depender de redes<br />

de organizações que já existem do que<br />

construir uma nova (Quadro 6.3).<br />

Em Gana, o Barclays Bank encontrou<br />

uma forma de trabalhar com a Associação<br />

dos Coletores Susu, que beneficiou os dois<br />

parceiros. O Susu é um sistema tradicional<br />

em muitos países africanos, através do qual<br />

o coletor recolhe regularmente a poupança<br />

de famílias que pagam uma pequena<br />

taxa pelo serviço. Eles também oferecem<br />

pequenos empréstimos de curto prazo. Gana<br />

tem aproximadamente 4.000 coletores Susu<br />

que atendem entre 200 a 850 clientes por<br />

dia. Os coletores guardam o dinheiro com<br />

segurança nas agências do Barclays, que,<br />

por sua vez, beneficia os coletores e seus<br />

clientes através do rendimento dos juros.<br />

82 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


O banco também garante treinamento em<br />

administração financeira aos coletores,<br />

capacitando-os <strong>para</strong> fornecer os serviços aos<br />

clientes. Em contrapartida, o Barclays tem<br />

acesso a esses clientes. O banco beneficiase<br />

do bom relacionamento que os coletores<br />

têm com os clientes, além do conhecimento<br />

que possuem sobre os mesmos. O programa<br />

aumenta o fluxo de caixa do banco sem a<br />

necessidade de expandir sua rede. Além disso,<br />

a venda de serviços adicionais, como crédito<br />

<strong>para</strong> pequenos negócios, torna-se viável<br />

através dos coletores.<br />

Um dos maiores bancos do setor privado<br />

na Índia, o ICICI, engajou organizações<br />

não-governamentais de microcrédito como<br />

agentes de serviços <strong>para</strong> construir a carteira<br />

de microcrédito do banco. As organizações<br />

identificam mutuários de microcrédito<br />

em potencial, tomam decisões de crédito,<br />

desembolsam empréstimos em nome do banco<br />

e monitoram e mantêm os empréstimos.<br />

Como pagamento, é permitido cobrar uma<br />

taxa de serviços dos mutuários. Dois anos<br />

após promover o modelo, o ICICI já tem mais<br />

clientes varejistas de microcrédito do que a<br />

maior instituição de microfinanças da Índia,<br />

que começou a operar há 12 anos. 7<br />

Promoção do acesso a produtos e<br />

serviços financeiros Em mercados em<br />

que o acesso financeiro ainda escapa ao<br />

pobre, os negócios que exigem crédito ou<br />

seguro devem facilitar esse acesso. A maioria<br />

conta com a capacidade dos fornecedores de<br />

serviços financeiros existentes <strong>para</strong> oferecer<br />

soluções financeiras integradas. Entre os<br />

fornecedores existentes estão as instituições<br />

de microfinanças, os bancos comerciais e as<br />

agências do governo.<br />

A empresa brasileira Votorantim Celulose<br />

e Papel (VCP) uniu-se aos fornecedores<br />

de crédito existentes <strong>para</strong> oferecer aos<br />

plantadores de eucalipto uma opção de crédito<br />

que se ajustasse ao fluxo de renda desses<br />

produtores. O eucalipto pode ser colhido sete<br />

anos após o plantio. Ao financiar a plantação<br />

de árvores com a colaboração do Banco ABN<br />

AMRO Real, o empréstimo e os juros iniciais<br />

são quitados quando a VCP compra a madeira<br />

dos produtores – que podem assim plantar sem<br />

reservas financeiras antecipadas e sem precisar<br />

usar suas propriedades como garantia. Maurik<br />

Jehee, analista de crédito do<br />

ABN AMRO Real, explica os<br />

objetivos do banco: “Além da<br />

preocupação ambiental (o projeto) tem um<br />

aspecto social interessante e potencial de<br />

desenvolvimento regional. Além do mais, traz<br />

novos clientes potenciais <strong>para</strong> uma região<br />

onde o banco tem pouca penetração”. Até<br />

2012, sete anos após o início do programa,<br />

a expectativa é de se alcançar um volume<br />

de financiamento de US$30 milhões e de<br />

beneficiar entre 20 e 25 mil produtores.<br />

O grupo hospitalar indiano Narayana<br />

Hrudayalaya criou, em parceria com a Biocon<br />

Foundation e o fornecedor de serviços<br />

financeiros ICICI Lombard Ltd., um esquema<br />

de seguros <strong>para</strong> servir pacientes de baixa<br />

renda. Uma pessoa precisa pagar 15 rúpias<br />

(aproximadamente US$3) por mês. O seguro<br />

inclui três dias de cuidados hospitalares grátis<br />

e serviços ambulatoriais pela metade do preço.<br />

Os pacientes podem receber os serviços em<br />

hospitais rurais gerenciados por instituições<br />

de caridade e pelo governo.<br />

A Colômbia tem um exemplo interessante<br />

de como os governos locais – em colaboração<br />

com o setor privado – podem facilitar o acesso<br />

a produtos e serviços financeiros e remover<br />

obstáculos, tais como a falta de informação<br />

e habilidade. O “Cultura E” é um programa<br />

conduzido pelo governo da cidade de Medelín<br />

que desenvolve cedezos, ou centros locais de<br />

desenvolvimento de negócios. Localizados<br />

nos bairros mais pobres, os cedezos contam<br />

com uma rede de microcrédito, que inclui o<br />

Banco de las Oportunidades, fundado pelo<br />

governo, e outras 14 instituições privadas de<br />

microfinanças. Esses centros encaminham os<br />

empreendedores às instituições que melhor<br />

se adaptam às suas necessidades e recursos,<br />

enquanto “feiras de crédito” fornecem<br />

informações sobre os serviços financeiros<br />

e não-financeiros oferecidos por diferentes<br />

instituições.<br />

Costa Rica: Organizações fornecem treinamento <strong>para</strong><br />

alfabetizadores e capacitação em informática.<br />

Foto: Banco Interamericano de Desenvolvimento<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

83


Os cedezos também promovem a cultura do<br />

empreendedorismo através de iniciativas<br />

inovadoras, como a competição pelo capital<br />

semente. Todo ano, empreendedores de todas<br />

as partes da cidade são convidados a apresentar<br />

seus planos comerciais e solicitar capital semente<br />

financiado pelo governo <strong>para</strong> poderem abrir<br />

novos negócios. Os empreendedores que não<br />

possuem conhecimento <strong>para</strong> elaborar um plano<br />

de negócio podem receber ajuda das equipes<br />

dos cedezos e participar de reuniões oferecidas<br />

por organizações não-governamentais <strong>para</strong> o<br />

preenchimento de formulários que são de fácil<br />

utilização. Novos empreendedores também<br />

recebem orientação <strong>para</strong> incubar suas idéias<br />

de novos negócios em um espaço físico até se<br />

tornarem independentes. 8<br />

União de recursos<br />

Quando modelos de negócios inclusivos de<strong>para</strong>mse<br />

com desafios que já foram enfrentados por<br />

outras empresas, pela sociedade civil ou por<br />

organizações governamentais, a colaboração pode<br />

ser uma forma eficaz de adquirir capacidades<br />

desses atores. Mas o que acontece se ninguém<br />

tiver as capacidades necessárias E se contornar<br />

os obstáculos não for o suficiente, dando-se a<br />

necessidade de removê-los Nesses casos, o<br />

sucesso depende do preenchimento de lacunas e<br />

da criação das condições favoráveis ao mercado.<br />

Em alguns casos, uma empresa pode investir de<br />

forma privada <strong>para</strong> preencher lacunas nas áreas<br />

de conhecimento, habilidade, infra-estrutura<br />

ou acesso a produtos e serviços financeiros<br />

(como discutido no capítulo 4). Em outros, o<br />

investimento é muito grande <strong>para</strong> ser assumido<br />

por uma só empresa, e somente diversos parceiros<br />

unindo seus recursos poderiam vencer o desafio.<br />

Organizar uma ação coletiva <strong>para</strong> remover<br />

obstáculos é muitas vezes desafiador, já que isso<br />

pode gerar um incentivo <strong>para</strong> outros “pegarem<br />

carona” nos benefícios gerados pelo investimento<br />

sem oferecer qualquer contribuição. Logo, <strong>para</strong><br />

reunir recursos, é preciso haver uma estrutura<br />

de controle que assegure que cada membro<br />

contribua com o que for acordado. Isso pode ser<br />

feito através de intermediários como associações<br />

de negócios ou pela criação de uma corporação<br />

responsável por esse controle.<br />

Esta seção discute como modelos de negócios<br />

inclusivos podem estabelecer parcerias com<br />

outras empresas ou organizações da sociedade<br />

civil <strong>para</strong> o (a):<br />

obtenção de informação sobre o mercado;<br />

preenchimento de lacunas na infra-estrutura<br />

do mercado;<br />

auto-regulamentação;<br />

geração de conhecimento e habilidades;<br />

ampliação do acesso a produtos e serviços<br />

financeiros.<br />

Obtenção de informações sobre o mercado<br />

Agências de rating fornecem informações<br />

(sobre clientes) que ficam disponíveis a todas<br />

as instituições de crédito, reduzindo o custo do<br />

fornecimento de crédito e permitindo aos bancos<br />

conceder empréstimos menores e oferecer taxas<br />

de juros mais baixas. Contudo, esse serviço<br />

raramente está disponível <strong>para</strong> pequenas e<br />

médias empresas em países em desenvolvimento<br />

– essa é uma das razões pela qual, geralmente,<br />

o crédito não está suficientemente disponível<br />

a esses grupos alvo. Para preencher a lacuna,<br />

o ICICI Bank, a Standard Chartered e outros<br />

bancos nacionais, na Índia, criaram uma joint<br />

venture, a Small and Medium Enterprises Rating<br />

Agency. 9 A agência providencia tudo que seja<br />

necessário às instituições de crédito <strong>para</strong> o<br />

atendimento de pequenas e médias empresas,<br />

dando a elas uma avaliação confiável sobre a<br />

capacidade de financiamento de tais empresas.<br />

A união de recursos também pode ser uma<br />

estratégia de sucesso <strong>para</strong> o preenchimento de<br />

lacunas sobre as informações de mercado. A<br />

Aliança Empresarial contra a Fome Crônica do<br />

Fórum Econômico Mundial procura fortalecer<br />

as cadeias de valor – visando aumentar<br />

o fornecimento de alimentos, a renda da<br />

população e a nutrição em regiões onde há fome<br />

– através de um engajamento global e local, e<br />

do compromisso de empresas do setor privado<br />

com comunidades e parceiros locais. Essa<br />

aliança conecta informações de produtos em<br />

potencial (coletadas na comunidade) a estudos<br />

mais amplos sobre a demanda de mercado local,<br />

regional e nacional (analisados por um think<br />

tank local especializado), com o objetivo de<br />

identificar produtos comercialmente viáveis <strong>para</strong><br />

investimento e desenvolvimento em um distrito<br />

piloto específico.<br />

84 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


No distrito de Siaya, no Quênia, os parceiros<br />

dessa aliança estão liderando 14 iniciativas<br />

piloto, várias em parceria com o projeto<br />

Millennium Villages, <strong>para</strong> expandir a capacidade<br />

de produção e as oportunidades de mercado<br />

<strong>para</strong> produtores rurais locais e varejistas de<br />

pequena escala. Esses projetos são conduzidos<br />

por empresas locais e multinacionais<br />

que trabalham com organizações nãogovernamentais,<br />

membros da comunidade e<br />

governos locais e nacionais. Com freqüência,<br />

intervenções semelhantes falham porque<br />

ocorrem de maneira isolada. Ao engajar<br />

múltiplos parceiros ao longo da cadeia de<br />

<strong>valores</strong>, essa aliança tem maior probabilidade de<br />

fazer uma diferença duradoura na tentativa de<br />

remover restrições e expandir oportunidades.<br />

Preenchimento de lacunas na infraestrutura<br />

do mercado. Normalmente,<br />

como a infra-estrutura física básica situa-se<br />

nos domínios do setor público, as empresas<br />

colaboram com os governos <strong>para</strong> atender certas<br />

necessidades como a construção de estradas,<br />

portos ou redes de eletricidade. Entretanto,<br />

empresas ou indústrias sediadas numa mesma<br />

região, em alguns casos, compartilham a<br />

necessidade de uma infra-estrutura mais<br />

especializada: como linhas de refrigeração,<br />

plantas de tratamento de esgotos ou instalações<br />

de processamento e empacotamento. Para<br />

preencher lacunas, essas empresas podem<br />

unir recursos através de uma ação coletiva ou<br />

garantir a um fornecedor um valor acordado<br />

sobre as vendas.<br />

Em Tamil Nadu, estado do sul da Índia,<br />

o governo local firmou joint venture com a<br />

associação de exportação local, a Tirupur<br />

Exporters Association, e uma organização<br />

de financiamento do setor privado, a IL&FS,<br />

<strong>para</strong> criar uma companhia de água – a New<br />

Tirupur Area Development Corporation – com<br />

o objetivo de tentar resolver problemas da<br />

rede de água e esgoto de uma cidade com uma<br />

economia baseada na produção têxtil e com<br />

cerca de 80.000 pessoas vivendo em favelas.<br />

O programa foi iniciado através de um diálogo<br />

com múltiplos grupos interessados, no qual<br />

a indústria local estava representada, <strong>para</strong> a<br />

identificação de falhas de infra-estrutura e<br />

seleção das prioridades. O governo assumiu<br />

o papel de coordenador, contribuindo <strong>para</strong><br />

que <strong>todos</strong> os interessados unissem seus<br />

recursos. Os stakeholders estabeleceram como<br />

prioridade o fornecimento de água potável.<br />

Assim, os parceiros incluíram no escopo a<br />

implementação de um serviço de fornecimento<br />

de água consistente e de alta qualidade; um<br />

sistema de esgoto tratado; e saneamento de<br />

baixo custo <strong>para</strong> a indústria, que pagou altas<br />

taxas de utilização, e <strong>para</strong> as favelas, que<br />

pagaram taxas bem mais baixas. Para executar<br />

essa melhoria na infra-estrutura, a companhia<br />

instalou (e hoje opera) o sistema de água<br />

e esgoto, que é financiado exclusivamente<br />

pelo seu rendimento comercial. As empresas<br />

têxteis beneficiaram-se com a melhoria dos<br />

serviços de água, e os domicílios particulares<br />

– especialmente os pobres rurais – com o<br />

aumento de cobertura.<br />

Filipinas: A Manila Water fornece água tratada em áreas onde<br />

não havia fornecimento. Foto: Manila Water<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

85


Antes do programa existiam 43.000 conexões<br />

de água <strong>para</strong> moradias. O programa instalou<br />

8.000 novas conexões com capacidade <strong>para</strong> mais<br />

17.000 domicílios.<br />

Auto-regulamentação. A auto-regulamentação<br />

pode melhorar o ambiente regulatório sem que<br />

haja a necessidade da implementação de políticas,<br />

e pode ser eficaz quando os governos não podem<br />

solucionar problemas – entre países, por exemplo,<br />

ou em situações de conflito.<br />

Em Serra Leoa, as empresas DeBeers<br />

e Rapaport uniram-se a organizações de<br />

desenvolvimento internacional e governos <strong>para</strong><br />

formar a “Aliança Diamantes da Paz”, que planeja<br />

mé<strong>todos</strong> <strong>para</strong> a compra de diamantes, de forma<br />

correta e competitiva, <strong>para</strong> os mineradores de<br />

pequena escala. A aliança ajudou no crescimento<br />

da exportação de diamantes legais de US$1.5<br />

milhões, em 1999, <strong>para</strong> US$70 milhões em 2003,<br />

permitindo o retorno de rendas substanciais<br />

<strong>para</strong> Serra Leoa. 10 Foram alocados fundos <strong>para</strong><br />

a construção de escolas, mercados e outras<br />

estruturas públicas. Pela primeira vez, as taxas<br />

dos diamantes do país e os royalties foram<br />

monitorados, os mineradores foram informados<br />

do valor das pedras, a degradação ambiental<br />

foi ponderada e a exploração de mineradores –<br />

especialmente crianças – foi reduzida. 11<br />

A auto-regulamentação pode ser eficiente<br />

em se tratando de fronteiras nacionais, sendo<br />

especialmente útil onde os pobres estão<br />

fazendo parte de uma cadeia de <strong>valores</strong> global,<br />

como produtores ou empregados. Padrões<br />

comuns podem ajudar uma indústria a evitar<br />

uma “corrida ao fundo do poço” no que diz<br />

respeito às suas responsabilidades sociais e<br />

ambientais – sem esses padrões, a situação<br />

complica-se principalmente onde os preços<br />

são altamente competitivos. A indústria do<br />

vestuário desenvolveu um código internacional<br />

e um mecanismo de controle independente<br />

<strong>para</strong> gerenciar padrões sociais na cadeia de<br />

fornecimento. O sistema da Produção Mundial de<br />

Vestuário com Responsabilidade (WRAP) certifica<br />

o cumprimento do código de conduta que cobre<br />

práticas trabalhistas e legislação aduaneira.<br />

Seguindo esse mesmo princípio, as associações<br />

de fabricantes de vestuário <strong>para</strong> exportação<br />

desenvolveram códigos de conduta e programas<br />

educativos <strong>para</strong> as companhias-membro em<br />

Bangladesh, El Salvador, Guatemala, Honduras e<br />

Malásia. 12<br />

Geração de conhecimento e habilidades<br />

Onde duas ou mais empresas possuem negócios<br />

similares e sem a exclusividade daqueles que<br />

contribuem <strong>para</strong> as suas cadeias de valor,<br />

elas têm o interesse comum em tornar esses<br />

colaboradores mais capacitados. Esse interesse<br />

compartilhado é comum nos mercados<br />

de commodities com vários participantes.<br />

Além disso, nesses mercados, o treinamento<br />

de fornecedores por conta própria pode<br />

ser contrário ao interesse do próprio<br />

comprador: um fornecedor que se beneficia<br />

com treinamento proporcionado por um<br />

comprador pode vender <strong>para</strong> outro comprador<br />

que lhe ofereça um preço melhor. A solução<br />

<strong>para</strong> os compradores é, então, compartilhar<br />

conhecimentos e habilidades uns com os outros<br />

– muitas vezes engajando-se em parcerias com<br />

organizações da sociedade civil.<br />

A Fundação Mundial do Cacau é um<br />

exemplo disso. Composta por mais de 50<br />

empresas, incluindo ADM, Cargill, ECOM,<br />

Hershey, Kraft, Nestlé e Starbucks, a Fundação<br />

trabalhou com a Agência Norte-Americana<br />

<strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional <strong>para</strong><br />

ajudar os produtores de cacau em vários países,<br />

incluindo Camarões, Costa do Marfim, Gana,<br />

Libéria e Nigéria, através do Programa de<br />

Colheitas Sustentáveis. As organizações locais<br />

de produtores de cacau possuem um papel<br />

de intermediação importante <strong>para</strong> os seus<br />

membros, trazendo o cacau <strong>para</strong> o mercado<br />

e dando suporte através de treinamento,<br />

aquisição de produtos e crédito. Contudo,<br />

essas organizações normalmente sofrem com a<br />

falta de pessoal treinado. A Fundação Mundial<br />

do Cacau está tornando-as mais eficazes e<br />

contribuindo <strong>para</strong> que a relação comercial dos<br />

produtores seja mais lucrativa. As empresas<br />

participantes da Fundação +beneficiam-se<br />

de uma melhor qualidade do produto e da<br />

confiança no fornecimento.<br />

Ampliação do acesso a produtos e<br />

serviços financeiros. Empresas podem<br />

compartilhar o custo da expansão do acesso<br />

a produtos e serviços financeiros <strong>para</strong> áreas<br />

remotas.<br />

Os quatro principais bancos da África do<br />

Sul – Absa, First National Bank, Nedbank e<br />

Standard Bank – firmaram uma parceria entre<br />

eles e o Banco Postbank, do governo, <strong>para</strong><br />

disponibilizar serviços bancários, de baixo custo<br />

e fácil utilização, a uma distância de não mais<br />

de 15 quilômetros de <strong>todos</strong> os sul-africanos.<br />

Os serviços incluem caixas automáticos e<br />

cadernetas de poupança chamadas “Mzansi”.<br />

Apesar de comercializarem as contas sob<br />

um esquema de competitividade, os bancos<br />

compartilham os custos de desenvolvimento<br />

de marca estimados em cerca de 15 milhões<br />

de Rands – ou US$12 milhões. 13 A parceria<br />

atendeu 3.3 milhões de pessoas de 2004 a<br />

2006. 14<br />

86 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 6.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> combinar recursos e capacidades com<br />

outras instituições<br />

Obstáculos<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Estratégia 4<br />

Combinação de recursos e capacidades<br />

com outras instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a<br />

obtenção de informação sobre o mercado<br />

União de recursos <strong>para</strong> a coleta de<br />

informação sobre o mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Auto-regulamentação<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a<br />

alavancagem das redes logísticas existentes<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a efetivação<br />

de vendas e o fornecimento de serviços<br />

União de recursos <strong>para</strong> o preenchimento de<br />

lacunas na infra-estrutura do mercado<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a difusão de<br />

informação<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a realização<br />

de treinamento <strong>para</strong> desenvolver habilidades<br />

necessárias<br />

União de recursos <strong>para</strong> a geração de<br />

conhecimento e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Combinação de capacidades <strong>para</strong> a promoção<br />

do acesso a produtos e serviços financeiros<br />

União de recursos <strong>para</strong> a ampliação do acesso<br />

a produtos e serviços financeiros<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

Competência específica é “uma área de conhecimento especializado que é resultado da<br />

harmonização entre tecnologias diversas e a atividade de trabalho”. (Prahalad e Hamel 1990).<br />

Wheeler e outros 2005.<br />

Mair e Seelos 2005<br />

Sullivan 2007<br />

PNUD Madagascar 2007<br />

Liew 2005<br />

Ivatury e Abrams 2005, p.14 citado em UNDESA/UNCDF 2006, p.86<br />

Noguera 2008-09-15 Jenkins 2007<br />

Jenkins 2007<br />

USAID 2006<br />

Lartigue e Koenen-Grant 2003<br />

Business for Social Responsibility 2004<br />

13 Business Day 2005<br />

14<br />

The Banking Association, South Africa, website (www.banking.org.za).<br />

CAPÍTULO 6. COMBINAÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES<br />

87


88 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


7<br />

E N G A J A M E N T O N O<br />

DIÁLOGO POLÍTICO<br />

COM O GOVERNO<br />

Filipinas: A Smart e<br />

as autoridades filipinas<br />

estão engajadas em um<br />

diálogo <strong>para</strong> adaptar<br />

a regulamentação<br />

do sistema bancário<br />

móvel que irá beneficiar<br />

milhões de filipinos.<br />

Foto: Smart<br />

A história da CocoTech mostra que o apoio a políticas públicas,<br />

independente de como ele acontece – nesse caso, através de pesquisa e uma<br />

ordem presidencial – pode fazer uma grande diferença <strong>para</strong> o sucesso de<br />

modelos de negócios inclusivos (quadro 7.1). Em alguns dos estudos de caso,<br />

o desenvolvimento de políticas, reformas e apoios ainda é extremamente<br />

necessário. No México, por exemplo, o projeto piloto da Amanco, que vende<br />

equipamento de irrigação em pequena escala <strong>para</strong> pequenos produtores rurais,<br />

conta com a habilidade dos mesmos <strong>para</strong> obter subsídios públicos; a Amanco<br />

contou com empreendedores sociais <strong>para</strong> negociar, caso a caso, os subsídios em<br />

nome dos produtores rurais. Em Gana, é difícil e arriscado <strong>para</strong> o Barclays Bank<br />

aumentar o número de coletores <strong>para</strong> oferecer serviços de microcrédito, já que<br />

as regulamentações atuais cobrem apenas os coletores Susu, que pertencem à<br />

Associação de Coletores Ghanaian Susu, uma entidade autorizada.<br />

Limitações de regulamentação estão claramente na esfera do governo. Embora<br />

todas as restrições de mercado descritas no capítulo 2 possam ser consideradas<br />

como sendo de responsabilidade do governo, muitas empresas apresentadas neste<br />

relatório encontraram maneiras criativas de contornar e remover obstáculos<br />

através de iniciativas privadas como, por exemplo, a adaptação de produtos <strong>para</strong><br />

funcionar com energia solar, o investimento em educação e treinamento <strong>para</strong><br />

CAPÍTULO 7. ENGAJAMENTO NO DIÁLOGO POLÍTICO COM O GOVERNO<br />

89


Quadro 7.1. Estudo de Caso –<br />

CocoTech: resgatando a insuficiente<br />

indústria do coco<br />

O Doutor Justino Arboleda (nas Filipinas <strong>todos</strong> o conhecem<br />

por “Bo”) é fundador e presidente da CocoTech, uma<br />

companhia que produz geotêxteis a partir de resíduos de<br />

cascas de coco. Bo tem o perfil do empreendedor local com<br />

boas idéias, mas sem recursos, e que possui, por convicção, um modelo de negócio inclusivo de<br />

sucesso.<br />

Após ter cumprido os estudos de doutorado em ciências e engenharia agrícola no exterior, Bo retornou<br />

a Bicol, sua terra natal, onde a plantação de coco é a principal indústria. Ele ficou impressionado com as<br />

dificuldades enfrentadas pelos produtores de coco. As inundações e deslizamentos de terra regulares<br />

tornaram-se ameaças recorrentes às safras e às terras de cultivo. Bo também observou que os seis<br />

bilhões de quilos de casca de coco produzidos a cada ano nas Filipinas – o segundo maior produtor de<br />

coco do mundo – eram uma fonte importante de resíduos e de emissões de gases do efeito estufa.<br />

Como agrônomo, Bo sabia que a agricultura e o meio ambiente andam de mãos dadas. Ao encontrar<br />

uma utilidade <strong>para</strong> a casca de coco – apesar de ainda não saber o que poderia ser feito <strong>para</strong> agregar<br />

valor a ela – ele acreditava ter identificado uma oportunidade <strong>para</strong> aumentar a renda dos produtores<br />

rurais, enquanto reduzia os riscos de desastres naturais.<br />

Havia muitos desafios a enfrentar <strong>para</strong> o desenvolvimento de processos de utilização produtiva <strong>para</strong><br />

os resíduos dos cocos. As atividades de pesquisa e desenvolvimento do governo concentravam-se,<br />

principalmente, no arroz e no milho, e pouca atenção era dada a outros produtos agrícolas. O fato de<br />

o governo não ter fornecido capital inicial ou apoio <strong>para</strong> identificar mercados deixou as cooperativas<br />

agrícolas pouco entusiasmadas com o empreendimento de Bo.<br />

A solução encontrada por Bo foi persuadir os responsáveis por pesquisa e desenvolvimento do<br />

governo (após vários meses de tentativas) a dirigir um estudo sobre as possíveis utilizações da casca<br />

do coco. O estudo revelou que a fibra de coco poderia ser transformada em redes; além disso, é<br />

biodegradável, e poderia ajudar a vegetação a se fixar no solo <strong>para</strong> prevenir a erosão; o produto<br />

também seria muito mais barato que os materiais sintéticos importados, usados nas obras públicas em<br />

geral.<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

aumentar o nível de capacitação da mãode-obra,<br />

a alavancagem de redes sociais<br />

<strong>para</strong> o cumprimento de contratos e a<br />

colaboração com outras empresas <strong>para</strong><br />

auto-regulamentação. Entretanto, <strong>para</strong><br />

algumas empresas, é possível contornar e<br />

remover obstáculos do mercado apenas em<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

pequena escala. Para outras, não é possível de<br />

forma alguma. Para essas empresas, a melhor<br />

estratégia é o engajamento no diálogo político<br />

<strong>para</strong> conseguir superar os obstáculos existentes<br />

no mercado.<br />

Com o poder de usar ferramentas políticas<br />

tais como a legislação, a regulamentação e a<br />

tributação, os governos exercem uma autoridade<br />

particular sobre os sistemas de mercado. Eles têm<br />

o poder de usar a arrecadação de impostos <strong>para</strong><br />

fornecer bens públicos, organizando a provisão<br />

de serviços coletivos como educação e saúde<br />

pública. Além disso, <strong>para</strong> eliminar restrições<br />

de mercado no longo prazo – <strong>para</strong> que todo<br />

o sistema, incluindo os modelos de negócios<br />

inclusivos, possam proliferar em larga escala –<br />

são necessárias inovações nas políticas públicas e<br />

ações governamentais.<br />

Obstáculos<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Contudo, os governantes nem sempre estão<br />

conscientes das dinâmicas e restrições do<br />

mercado com que se de<strong>para</strong>m os modelos de<br />

negócios inclusivos, especialmente quando lidam<br />

com novos atores (como mulheres indígenas) ou<br />

novos produtos e serviços (como redes de casca<br />

de coco ou transações móveis). Além disso, a<br />

complexidade e a incerteza tornam extremamente<br />

difíceis a obtenção de respostas políticas corretas.<br />

E respostas permanecem corretas somente até<br />

<strong>para</strong>rem de funcionar ou até que o mercado sofra<br />

alguma mudança.<br />

90 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Bo apresentou estes benefícios das redes de fibra de coco às unidades do governo local, que, por fim, o<br />

ajudaram a encontrar parceiros na comunidade, os quais se tornaram os seus primeiros clientes.<br />

Uma vez pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> produzir redes de fibra de coco, outro desafio <strong>para</strong> a CocoTech era criar um<br />

mercado <strong>para</strong> elas. Apesar de existir uma grande e não atendida demanda internacional <strong>para</strong> redes<br />

de fibra de coco, os baixos preços e custos elevados de transporte limitavam a sua lucratividade. Seria<br />

necessário um mercado doméstico. Na convicção de que a solução seria o endosso do governo <strong>para</strong><br />

os produtos de casca de coco (e com base nos resultados positivos do estudo feito), Bo escreveu<br />

e advogou um memorando presidencial, que finalmente foi assinado, dando ordem <strong>para</strong> o uso de<br />

produtos de fibra do coco em <strong>todos</strong> os empreendimentos de infra-estrutura do governo.<br />

A CocoTech cresceu de um pequeno empreendimento na comunidade, com uma aplicação inicial de<br />

US$7.000 e 5 funcionários em 1993, <strong>para</strong> uma empresa de médio porte, com 25 funcionários, e receita<br />

maior que US$300.000 em 2006. Membros de mais de 6.000 famílias, a maioria mulheres, envolveramse<br />

na fabricação dos produtos. Em 2005, Bo ganhou a competição World Challenge. Ele diz: “O mais<br />

significativo <strong>para</strong> mim era o fato de que, através do prêmio, seria muito mais fácil promover os produtos<br />

de fibra de coco no mundo, ajudando assim a reduzir a pobreza nos países produtores de coco através<br />

da geração de novos empregos.<br />

Filipinas: A CocoTech está transformando<br />

resíduos de casca de coco em redes<br />

biodegradáveis capazes de prevenir a erosão<br />

do solo.<br />

Os formuladores de políticas dependem<br />

continuamente de boa informação: específica,<br />

contextual, abrangente, informação em tempo<br />

real que sugira resultados prováveis de uma<br />

decisão e transações comerciais inevitáveis.<br />

Dani Rodrik, economista de Harvard, pediu<br />

“cooperação estratégica entre os setores<br />

públicos e privados que, por um lado, serve<br />

<strong>para</strong> obter informação sobre oportunidades<br />

e obstáculos aos negócios e, por outro, gera<br />

iniciativas políticas como resposta”. 1 Nas<br />

palavras de Rodrik, a formulação de políticas<br />

eficazes é um processo de descoberta. 2<br />

As empresas podem desempenhar um<br />

papel nessa descoberta, ajudando governos a<br />

identificar gargalos e a melhorar o contexto de<br />

mercado <strong>para</strong> modelos de negócios inclusivos.<br />

O envolvimento das empresas na formulação de<br />

políticas pode carregar uma série de percepções<br />

com relação à corrupção e rent-seeking – e, em<br />

alguns casos, mais do que apenas a percepção<br />

dessas externalidades negativas. No entanto,<br />

mesmo correndo o risco de criar controvérsia, a<br />

empresa precisa engajar-se em debates políticos<br />

com <strong>todos</strong> os outros stakeholders relevantes.<br />

Isso se deve ao fato de que empreendedores e<br />

gerentes que desenvolvem modelos de negócios<br />

inclusivos são, provavelmente, as mais eficazes<br />

fontes de informação sobre quais políticas ou<br />

instrumentos políticos tendem a contribuir ou<br />

prejudicar.<br />

Empreendedores e gerentes que<br />

desenvolvem modelos de negócios<br />

inclusivos estão mais bem posicionados<br />

<strong>para</strong> enxergarem as restrições que as suas<br />

empresas encontram nos mercados pobres.<br />

Os mesmos empreendedores e gerentes têm<br />

fortes incentivos <strong>para</strong> fornecer aos governantes<br />

informações detalhadas sobre as dinâmicas e os<br />

efeitos dos obstáculos. Apesar de as empresas<br />

poderem, em alguns casos, atuar por conta<br />

própria <strong>para</strong> remover as restrições de mercado<br />

no curto prazo, melhorias nas políticas são<br />

necessárias <strong>para</strong> complementar, ampliar e até<br />

substituir tais investimentos no longo prazo.<br />

CAPÍTULO 7. ENGAJAMENTO NO DIÁLOGO POLÍTICO COM O GOVERNO<br />

91


Peru: Legisladores e responsáveis pelas diretrizes políticas<br />

têm um papel a ser desempenhado na redução de restrições de<br />

mercado. Foto: Banco Interamericano de Desenvolvimento<br />

Por fim, os empreendedores e gerentes que<br />

desenvolvem modelos de negócios inclusivos<br />

podem também sugerir mudanças específicas<br />

que facilitem esses modelos –podendo avaliar<br />

os efeitos positivos de tais mudanças sobre<br />

os seus clientes, funcionários, fornecedores e<br />

outros parceiros do negócio.<br />

Os estudos de caso da Iniciativa<br />

Desenvolvendo Mercados Inclusivos revelam<br />

muitos empreendedores e gerentes engajandose<br />

em diálogos políticos com os governos,<br />

sobretudo com relação ao ambiente regulatório,<br />

mas as discussões também abrangem outras<br />

áreas. Em geral, os estudos de caso ilustram<br />

modelos de negócios inclusivos que se<br />

engajam em diálogos políticos de forma<br />

individual, através de contatos pessoais<br />

do empreendedor com o governo, ou<br />

através de contatos da empresa dentro do<br />

governo – e que tratam, principalmente, de<br />

assuntos específicos aos interesses de curto<br />

prazo do modelo de negócio. Entretanto,<br />

alguns influenciam políticas através de<br />

efeitos demonstrativos, simplesmente ao<br />

fazer negócios bem-sucedidos. Há ainda<br />

os modelos de negócio que trabalham<br />

em cooperação com outros <strong>para</strong> engajar<br />

os governos na remoção de restrições<br />

específicas e sistêmicas dos mercados.<br />

ENGAJAMENTO INDIVIDUAL<br />

O engajamento individual de um<br />

empreendedor ou uma empresa com o<br />

governo pode ser uma estratégia eficaz <strong>para</strong>,<br />

ocasionalmente, influenciar políticas em prol<br />

de interesses específicos.<br />

Com freqüência o objetivo é<br />

relativamente limitado – por exemplo, <strong>para</strong><br />

encorajar o governo a fornecer bens ou<br />

serviços públicos, a empresa precisa operar<br />

em determinados lugares. Em Madagascar,<br />

a empresa Faly Export, de exportação<br />

de lichia e frutas tropicais, mobilizou<br />

autoridades locais e regionais <strong>para</strong> envolvêlas<br />

na manutenção de estradas, pois a<br />

má qualidade das mesmas complicava a<br />

distribuição do produto. Paralelamente, a Faly<br />

engaja comunidades locais na manutenção:<br />

a empresa fornece aos membros da<br />

comunidade os equipamentos necessários e<br />

os remunera com sementes de milho. 3<br />

92 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Os governos também podem apoiar<br />

empresas ao colher e fornecer informações<br />

sobre o mercado, realizando, por exemplo,<br />

pesquisas domiciliares ou estabelecendo<br />

prioridades nas pesquisas. As empresas, por<br />

sua vez, podem comunicar ao governo essas<br />

prioridades de pesquisa mostrando o valor<br />

social que poderia resultar das informações<br />

de mercado – uma melhor provisão de bens e<br />

serviços ou surgimento de novas oportunidades<br />

de mercado. O Doutor Justino Arboleda, da<br />

empresa CocoTech, convenceu o governo das<br />

Filipinas no caso do uso produtivo da casca de<br />

coco, que poderia melhorar significativamente<br />

a vida dos produtores de coco (ver quadro 7.1).<br />

Com base nisto, o governo decidiu pesquisar<br />

oportunidades de comercialização <strong>para</strong> as<br />

cascas que eram descartadas como resíduos.<br />

Essa pesquisa resultou no desenvolvimento de<br />

redes de fibra de coco cuja produção emprega<br />

dezenas de famílias que hoje fazem parte da<br />

cadeia de suprimento da CocoTech; novas<br />

empresas de fibra de coco já estão sendo<br />

criadas.<br />

Algumas vezes, o engajamento individual<br />

de empreendedores e empresas nas políticas<br />

públicas pode ter amplas implicações, mudando<br />

as estruturas do mercado e, em alguns<br />

casos, abrindo mercados completamente<br />

novos. A Tiviski, produtora de laticínios de<br />

camelo na Mauritânia, teve grande sucesso<br />

vendendo produtos no mercado interno; Nancy<br />

Abeiderrahmane, a fundadora da empresa,<br />

agora quer levar o produto <strong>para</strong> o mercado<br />

Europeu. O queijo de camelo da Tiviski, em<br />

especial, alcançaria um preço alto com clientes<br />

gourmet nesse mercado de alta renda. A Tiviski<br />

ainda não pode abranger a União Européia,<br />

embora os produtos agrícolas de países menos<br />

desenvolvidos como a Mauritânia possam<br />

entrar livres de impostos. Na verdade, como<br />

não há na Europa uma indústria de laticínios<br />

de camelo, não existem padrões e mecanismos<br />

de garantia de qualidade regulamentados<br />

<strong>para</strong> esse tipo de produto. Como resultado da<br />

solicitação de Abeiderrahmane, uma delegação<br />

da União Européia está agora trabalhando<br />

<strong>para</strong> estabelecer as instituições reguladoras<br />

necessárias que abrirão um novo mercado<br />

exportador lucrativo <strong>para</strong> a Tiviski e outros<br />

produtores.<br />

Na República Democrática do Congo, a<br />

instabilidade política e a falta generalizada de<br />

leis e regulamentações – na polícia, no judiciário,<br />

no setor financeiro e de telecomunicações<br />

– geraram riscos desanimadores <strong>para</strong> os<br />

investidores. Com o Acordo Lusaka, de 1999,<br />

a subida de Joseph Kabila ao poder, em 2001,<br />

e o Diálogo Intercongolês, em 2002, a Celtel,<br />

empresa de telecomunicações, identificou<br />

alguns sinais de esperança e uma abertura <strong>para</strong><br />

engajar o governo em estruturas políticas. A<br />

agenda corporativa da Celtel coincidiu com<br />

a do governo de Kabila <strong>para</strong> promover paz,<br />

reunificação e crescimento pós-guerra. A Celtel<br />

investiu no estabelecimento de relações sólidas<br />

com autoridades políticas e de regulamentação.<br />

Em 2003, uma nova lei de telecomunicações<br />

foi aprovada. Enquanto sob a lei anterior um<br />

operador de linha fixa reivindicou os direitos<br />

de monopólio, a nova lei criou uma estrutura<br />

mais clara <strong>para</strong> as concessões do Estado e<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento de telecomunicações,<br />

estimulando a competição necessária <strong>para</strong><br />

aumentar o acesso e diminuir os preços. Além<br />

disso, foi criada uma agência reguladora<br />

<strong>para</strong> os correios, telefones e serviços de<br />

telecomunicação.<br />

Nigéria: Membros da comunidade colaboram <strong>para</strong> engajar o governo<br />

em um diálogo sobre as questões que os afetam.<br />

Foto: Adam Rogers/UNCDF<br />

CAPÍTULO 7. ENGAJAMENTO NO DIÁLOGO POLÍTICO COM O GOVERNO<br />

93


Engajamento através de efeitos<br />

d e m o n s t r a t i v o s<br />

Efeitos demonstrativos também podem<br />

influenciar a política quando marcos<br />

regulatórios ou serviços e bens públicos são<br />

ausentes ou inadequados. Tais efeitos dependem<br />

de canais que permitam ao governo tomar<br />

conhecimento sobre a experiência de uma<br />

empresa. A comunicação pode ser direta ou<br />

intermediada por terceiros como uma agência<br />

de desenvolvimento.<br />

Quando a Électricité de France criou as<br />

Companhias de Serviço de Energia Rural no<br />

Mali, o país não tinha regulamentação <strong>para</strong> a<br />

provisão de energia. O sucesso da empresa,<br />

somado ao apoio do Banco Mundial, convenceu<br />

o governo a estabelecer novas regulamentações.<br />

O novo marco legal permite o fornecimento<br />

de energia a partir de operadores particulares,<br />

tanto através de grandes concessões rurais, em<br />

que o operador privado tem o monopólio da<br />

distribuição de energia, como da candidatura<br />

espontânea, em que o operador interessado<br />

em fornecer eletricidade a pequenas áreas<br />

rurais pode solicitar a autorização da Agência<br />

de Mali <strong>para</strong> o Desenvolvimento da Energia<br />

Elétrica Residencial e Eletrificação Rural. Em<br />

2006, quando o novo marco legal tornou-se<br />

operacional, a agência de energia do Mali<br />

assinou mais de 50 contratos com pequenas<br />

operadoras. Dentre elas, duas ou três já estão<br />

operando.<br />

Efeitos demonstrativos podem ainda<br />

levar o governo a tomar medidas <strong>para</strong><br />

permitir aos pobres um melhor acesso<br />

a serviços financeiros. Como parte da<br />

Iniciativa de Parcerias de Angola, a<br />

Chevron, a ProCredit Holding, a Agência<br />

Norte-Americana <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Internacional e vários outros doadores<br />

associaram-se <strong>para</strong> estabelecer o<br />

NovoBanco, um banco comercial que<br />

concede empréstimos a micro e pequenos<br />

empreendedores e promove os serviços<br />

de poupança entre a população pobre de<br />

Angola. Em cerca de três anos de operação,<br />

o banco emitiu mais de $27 milhões em<br />

empréstimos a aproximadamente 5.000<br />

micro e pequenos empreendedores nas duas<br />

principais cidades de Angola. O NovoBanco<br />

já é lucrativo e está se expandindo por<br />

outras partes do país. De acordo com uma<br />

avaliação recente da Iniciativa de Parcerias<br />

de Angola, o “sucesso do NovoBanco<br />

demonstrou o potencial do setor de micro<br />

e pequenas empresas do país e estimulou o<br />

governo e outros bancos a acelerarem seus<br />

próprios planos <strong>para</strong> o estabelecimento de<br />

pequenos fundos de crédito”. 4 O aumento da<br />

disponibilidade de financiamento permite<br />

que as pequenas empresas angolana<br />

tornem-se parceiros qualificados tanto <strong>para</strong><br />

a Chevron quanto <strong>para</strong> outras grandes<br />

empresas.<br />

E n g a j a m e n t o C o l a b o r a t i v o<br />

Além das estratégias de engajamento individual<br />

e de efeitos demonstrativos, as empresas estão<br />

cada vez mais engajando-se de forma coletiva<br />

com o governo, ou em colaboração com outros<br />

grupos de stakeholders <strong>para</strong> agirem sobre<br />

restrições específicas ou sistêmicas que afetam<br />

o sucesso de modelos de negócios inclusivos.<br />

De acordo com o Fórum Econômico Mundial,<br />

a “natureza sensível” dos engajamentos<br />

<strong>para</strong> influenciar políticas do governo “torna<br />

a colaboração uma estratégia altamente<br />

apropriada <strong>para</strong> esse fim. As empresas deveriam<br />

buscar mais oportunidades <strong>para</strong> fortalecer suas<br />

influências ao lado de outras indústrias, tanto<br />

aquelas com interesses comuns sobre questões<br />

específicas quanto as que trabalham em clusters<br />

geográficos”. 5 O Departamento de Economia<br />

e Assuntos Sociais da Organização das Nações<br />

Unidas e o Fundo das Nações Unidas <strong>para</strong><br />

o Desenvolvimento do Capital acrescentam<br />

que “mudanças políticas são mais prováveis<br />

de acontecer quando há uma quantidade<br />

expressiva de instituições com preocupações<br />

e interesses comuns querendo agir em<br />

conjunto”. 6<br />

Uma estrutura que facilita tal cooperação é o<br />

Big Business Working Group do Business Trust<br />

da África do Sul, que traz líderes empresariais<br />

com funções consultivas, juntamente com<br />

representantes do governo, <strong>para</strong> debates<br />

presididos pelo Presidente Thabo Mbeki. Essa<br />

estrutura tem o propósito de estimular relações<br />

94 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura 7.1 Resumo: Abordagens <strong>para</strong> se engajar no diálogo político com o governo<br />

Obstáculos<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Estratégia 5<br />

Engajamento no diálogo<br />

político com o governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Engajamento individual<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Engajamento através de efeitos<br />

demonstrativos<br />

Engajamento colaborativo<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

de confiança e o diálogo franco sobre questões<br />

enfrentadas pelo país e respostas apropriadas<br />

de ambas as partes. Os tópicos abordados<br />

vão desde a disciplina fiscal <strong>para</strong> pequenas e<br />

médias empresas até lacunas encontradas no<br />

mercado de trabalho e áreas de capacitação.<br />

Um exemplo de uma aliança de negócios<br />

inclusivos é a WBCSD-SNV Alliance, que<br />

engajou o governo do Equador em 2007 e<br />

criou uma poderosa rede de apoio, atuando<br />

junto a conselheiros do presidente <strong>para</strong><br />

introduzir a inclusão econômica na agenda do<br />

desenvolvimento social. A estratégia nacional<br />

de implementação girou em torno de quatro<br />

tipos de modelos de negócios inclusivos:<br />

feiras comerciais inclusivas, um programa de<br />

desenvolvimento voltado <strong>para</strong> a nutrição, um<br />

programa de desenvolvimento com interações<br />

on-line e modelos que priorizam cadeias de<br />

<strong>valores</strong> na agricultura. Ao todo, o governo<br />

disponibilizou linhas de crédito que totalizaram<br />

$87 milhões <strong>para</strong> quatro anos, com o objetivo<br />

de criar cerca de 250.000 empregos diretos e<br />

indiretos. 7<br />

Outro exemplo de esforço colaborativo<br />

conduzido pelo setor privado é o Grupo<br />

Estratégico <strong>para</strong> o Desenvolvimento do ICICI<br />

Bank na Índia. Reconhecendo as ligações<br />

estreitas entre o desenvolvimento do<br />

mercado e o desenvolvimento econômico<br />

do povo indiano, o ICICI Bank incrementa<br />

seu modelo de negócios inclusivos com uma<br />

abordagem dedicada à informação voltada<br />

<strong>para</strong> as ações e políticas públicas. Em cada<br />

uma das localidades onde está presente, o<br />

Grupo mantém um profissional capacitado,<br />

encarregado de identificar desigualdades em<br />

larga escala na infra-estrutura de mercado.<br />

Para equilibrá-las, o profissional busca<br />

parcerias com outras empresas e governos<br />

locais e estaduais.<br />

O Fundo de Assistência às Pequenas<br />

Empresas na Colômbia e no Peru,<br />

juntamente com a Agência Norte-Americana<br />

<strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional e<br />

instituições financeiras internacionais,<br />

engajaram os governos desses países <strong>para</strong> a<br />

regulamentação de emendas que proíbem os<br />

fundos de pensão públicos e as companhias<br />

de seguros de investir em private equity.<br />

Ao colaborar com fundos de pensão e<br />

órgãos reguladores, a aliança identificou<br />

barreiras de regulamentação e cobrou várias<br />

modificações. Empresas de pequeno e médio<br />

porte podem hoje acessar as fontes formais<br />

de capital anteriormente indisponíveis. 8<br />

CAPÍTULO 7. ENGAJAMENTO NO DIÁLOGO POLÍTICO COM O GOVERNO<br />

95


Nas Filipinas, atores dos setores<br />

público e privado estão colaborando entre<br />

si de forma inovadora <strong>para</strong> adaptar as<br />

regulamentações sobre os bancos móveis.<br />

No setor de telecomunicações, questões<br />

relacionadas à competição, sistemas de<br />

pagamento, apropriada atenção ao cliente,<br />

proteção ao consumidor, depósito de fundos,<br />

comércio eletrônico, lavagem de dinheiro<br />

e combate ao financiamento do terrorismo<br />

demandam transações complexas entre o<br />

acesso e a regulamentação. Como informou<br />

a revista The Economist, “Em vez de tentar<br />

desenvolver as melhores regulamentações<br />

antecipadamente(...) o órgão regulador<br />

está trabalhando junto aos bancos e<br />

operadores por trás dos dois esquemas de<br />

banco móvel do país”. 9 Isso permite aos<br />

responsáveis pelas diretrizes políticas a<br />

observação do processo e a tomada dessas<br />

experiências como exemplo <strong>para</strong> o plano de<br />

regulamentação em evolução. 10 Até então,<br />

houve expansão e reforço da regulamentação<br />

<strong>para</strong> o combate à lavagem de dinheiro e ao<br />

financiamento do terrorismo, e colaboração<br />

<strong>para</strong> que a atenção ao cliente seja dispensada<br />

por agentes do varejo; os esforços também<br />

têm permitido aos bancos oferecer contas<br />

de cartões pré-pagos através de pagamentos<br />

diretos (em vez de depósitos). 11<br />

Essas medidas criaram um regime mais eficaz,<br />

com custos de regulamentação mais baixos,<br />

tornando possível <strong>para</strong> operadores, como a<br />

Smart e a Globe, a expansão do acesso aos<br />

pobres.<br />

Num contexto global, o Visa<br />

Internacional ajudou a firmar um acordo<br />

entre empresas de serviços financeiros,<br />

órgãos reguladores e doadores internacionais<br />

<strong>para</strong> discutir a qualificação de crédito<br />

global e serviços bancários móveis. Os<br />

parceiros uniram suas fontes de pesquisa,<br />

conhecimentos específicos e influências<br />

<strong>para</strong> esclarecer as necessidades com<br />

relação a políticas e regulamentações <strong>para</strong><br />

esse mercado em rápido desenvolvimento.<br />

Operadores de telecomunicações móveis<br />

e fornecedores de aparelhos possuem<br />

interesses similares: a Vodafone, a Nokia e a<br />

Nokia Siemens Networks estão conduzindo<br />

pesquisas e se engajando nos diálogos<br />

públicos com o governo <strong>para</strong> descobrirem<br />

como as políticas e regulamentações<br />

poderiam permitir formas inovadoras de<br />

fornecer transações financeiras através da<br />

telefonia móvel.<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Rodrik 2004, p.38.<br />

Rodrik 2004, p.38.<br />

PNUD Madagascar 2007.<br />

Chevron´s Angola Parnership Initiative: A Case Study. p. 9;<br />

Fórum Econômico Mundial 2008, p.16.<br />

6 Departamento de Economia e Assuntos Sociais da Organização das Nações Unidas e o Fundo das Nações<br />

Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento do Capital 2006, p.158.<br />

7 World Business Council for Sustainable Development and SNV Netherlands Development Alliance 2007.<br />

8 Hoff e Hussels 2007.<br />

9 The Economist 2007.<br />

10 The Economist 2007.<br />

11 Lyman e Porteous 2008.<br />

12 Jenkins 2007.<br />

96 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


8<br />

ENTRANDO EM AÇÃO<br />

Índia: Um grande<br />

agronegócio tomou a<br />

iniciativa de fornecer aos<br />

agricultores locais acesso a<br />

informações de mercado,<br />

implantando uma rede de<br />

quiosques de internet, que<br />

irá ajudá-los a melhorar<br />

suas rendas.<br />

Foto: ITC Limited<br />

O valor da inclusão em mercados dos quais bilhões de pessoas ainda<br />

são excluídas não pode ser subestimado. Esse valor irá beneficiar as empresas,<br />

os pobres e a sociedade em geral. As empresas podem lucrar e criar potencial<br />

<strong>para</strong> o crescimento em longo prazo ao desenvolverem novos mercados; <strong>criando</strong><br />

novas tecnologias, produtos, serviços e processos; expandindo a mão-de-obra; e<br />

reforçando a cadeia de suprimentos. Os pobres podem integrar cadeias de <strong>valores</strong><br />

em vários estágios, da produção de matérias-primas ao consumo do produto final.<br />

Eles podem beneficiar-se com melhor acesso aos bens e serviços que atendem às<br />

suas necessidades básicas e aumentam a sua produtividade. Além disso, podem<br />

melhorar suas rendas e escapar da pobreza por conta própria.<br />

Oportunidades <strong>para</strong> a criação de <strong>valores</strong> mútuos existem em muitos setores,<br />

da agricultura à fabricação de produtos, do setor de telecomunicações ao setor<br />

financeiro. Alguns modelos de negócios inclusivos já alcançaram crescimento em<br />

larga escala, mas muitas oportunidades ainda estão <strong>para</strong> serem descobertas.


Figura 8.1. Matriz<br />

estratégica<br />

da Iniciativa<br />

Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos e<br />

o resumo das soluções<br />

Adaptação de<br />

produtos e<br />

processos<br />

Investimento<br />

na remoção de<br />

restrições do<br />

mercado<br />

Estratégias<br />

Fortalecimento<br />

do potencial<br />

dos pobres<br />

Combinação<br />

de recursos e<br />

capacidades<br />

com outras<br />

instituições<br />

Engajamento<br />

no diálogo<br />

político com o<br />

governo<br />

Informação de<br />

mercado<br />

Alavancagem<br />

tecnológica<br />

Foco na<br />

geração de<br />

valor<br />

Inserção dos<br />

pobres como<br />

indivíduos<br />

Combinação<br />

de capacidades<br />

complementares<br />

Engajamento<br />

individual<br />

Obstáculos<br />

Ambiente<br />

regulatório<br />

Infra-estrutura<br />

física<br />

Conhecimento<br />

e habilidades<br />

Acesso a<br />

serviços<br />

financeiros<br />

Alavancagem<br />

de tecnologias<br />

de informação e<br />

comunicação<br />

Aplicação<br />

de soluções<br />

setoriais<br />

específicas<br />

Alcance da<br />

sustentabilidade<br />

ambiental<br />

Criação de<br />

processos de<br />

negócios<br />

Adequação<br />

ao fluxo de<br />

renda dos<br />

pobres<br />

Simplificação<br />

de exigências<br />

Evitamento<br />

de incentivos<br />

adversos<br />

Flexibilização<br />

das operações<br />

Provisão <strong>para</strong><br />

grupos<br />

Realização<br />

de pesquisa de<br />

mercado<br />

Investimento<br />

em infraestrutura<br />

Promoção do<br />

desempenho do<br />

fornecedor<br />

Conscientização e<br />

treinamento dos<br />

consumidores<br />

Criação<br />

de produtos<br />

e serviços<br />

financeiros<br />

Obtenção<br />

de benefícios<br />

intangíveis<br />

Criação de<br />

valor social<br />

Uso de<br />

subvenções<br />

Financiamento<br />

com custos<br />

reduzidos ou<br />

patient capital<br />

Envolvimento<br />

dos pobres em<br />

pesquisas de<br />

mercado<br />

Realização<br />

de treinamento<br />

<strong>para</strong> que os<br />

pobres se tornem<br />

instrutores<br />

Construção de<br />

redes logísticas<br />

locais<br />

Identificação<br />

de fornecedores<br />

de serviço locais<br />

Promoção da<br />

inovação através<br />

da co-criação com<br />

os pobres<br />

Engajamento das<br />

comunidades:<br />

desempenho por<br />

meio de redes<br />

sociais existentes<br />

Alavancagem<br />

de mecanismos<br />

de aplicação de<br />

contratos informais<br />

Expansão do<br />

compartilhamento<br />

de riscos<br />

Obtenção de<br />

informação sobre o<br />

mercado<br />

Alavancagem<br />

das redes logísticas<br />

existentes<br />

Difusão de<br />

informação<br />

Realização<br />

de treinamento<br />

<strong>para</strong> desenvolver<br />

habilidades<br />

necessárias<br />

Efetivação<br />

de vendas,<br />

fornecimento de<br />

serviços<br />

Promoção do<br />

acesso a produtos e<br />

serviços financeiros<br />

União de<br />

recursos<br />

Obtenção de<br />

informação sobre o<br />

mercado<br />

Preenchimento<br />

de lacunas na<br />

infra-estrutura do<br />

mercado<br />

Autoregulamentação<br />

Geração de<br />

conhecimento e<br />

habilidades<br />

Ampliação do<br />

acesso a produtos e<br />

serviços financeiros<br />

Engajamento<br />

através<br />

de efeitos<br />

demonstrativos<br />

Engajamento<br />

coletivo<br />

Conforme mostrado neste relatório,<br />

os ambientes nos quais os pobres se<br />

encontram contribuem <strong>para</strong> a falta de<br />

oportunidades. Problemas de acesso à<br />

informação sobre o mercado impedem<br />

que muitas empresas considerem o fato<br />

de trabalhar com populações pobres. As<br />

empresas de<strong>para</strong>m-se com um ambiente<br />

regulatório em que as regras não são eficazes,<br />

não oferecem apoio ou nem mesmo são<br />

acessíveis. Falta infra-estrutura adequada,<br />

incluindo estradas e redes de eletricidade,<br />

água e telecomunicações. Falta educação<br />

em vários níveis, incluindo habilidades,<br />

treinamento e outros conhecimentos. O<br />

acesso ao crédito e seguros também é<br />

restrito. Assim como <strong>para</strong> os pobres, essas<br />

condições limitam as oportunidades <strong>para</strong> os<br />

empreendedores. O contexto desfavorável<br />

dificulta o desenvolvimento de negócios<br />

<strong>para</strong> a população local. E os empresários<br />

de fora acham duro lidar com os desafios,<br />

especialmente quando estão acostumados<br />

com mercados que funcionam bem nas suas<br />

regiões de origem.<br />

Todavia, o presente relatório também<br />

mostrou que há estratégias que podem<br />

funcionar. Os empreendedores dos estudos<br />

de caso da Iniciativa Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos descobriram soluções e<br />

estabeleceram negócios de sucesso com os<br />

pobres. Eles usaram suas próprias capacidades<br />

e recursos <strong>para</strong> superar as limitações, muitas<br />

vezes em colaboração com organizações<br />

públicas, privadas e não-governamentais –<br />

além da própria população pobre.<br />

Os empreendedores deste relatório<br />

exemplificam possibilidades reais. Suas<br />

empresas contribuem <strong>para</strong> o alcance dos<br />

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,<br />

98 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


o que pode se tornar ainda mais significativo se<br />

outros seguirem os seus exemplos:<br />

Nancy Abeiderrahmane mudou o cenário<br />

da indústria de laticínios na Mauritânia<br />

e estabeleceu uma empresa lucrativa. Ao<br />

possibilitar rendas mais elevadas aos seus<br />

1.200 funcionários e fornecedores locais,<br />

a maior parte deles pastores nômades,<br />

ela está contribuindo <strong>para</strong> o Objetivo de<br />

Desenvolvimento do Milênio número 1 –<br />

erradicar a miséria e a fome – e ao mesmo<br />

tempo preservando o modo de vida dos<br />

nômades.<br />

No Brasil, a empresa de cosméticos<br />

de Antonio Luiz da Cunha Seabra está<br />

comprando ingredientes naturais de<br />

comunidades locais, contribuindo <strong>para</strong> a<br />

renda deles e promovendo o Objetivo de<br />

Desenvolvimento do Milênio número 1.<br />

Bindheshwar Pathak, um empreendedor<br />

indiano, oferece sistemas sanitários limpos<br />

e baratos <strong>para</strong> 1,2 milhões de moradias e<br />

opera 6.500 instalações de banheiros pagos<br />

<strong>para</strong> uso público. Até 2006, a empresa de<br />

Pathak contribuiu <strong>para</strong> que 60.000 pessoas,<br />

dos quais 95% são mulheres e crianças,<br />

deixassem de viver como limpadores de<br />

excrementos. A empresa contribui <strong>para</strong> o<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio<br />

número 3 – promover a igualdade entre os<br />

sexos e a autonomia das mulheres; e por<br />

reduzir a proporção de pessoas sem acesso<br />

a saneamento básico contribui <strong>para</strong> parte<br />

do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio<br />

número 7 .<br />

Dora Nyanja, uma enfermeira franqueada<br />

em Kibera, no Quênia, administra a clínica<br />

Child and Family Wellness <strong>para</strong> fornecer<br />

um serviço de saúde melhor e com preço<br />

accessível aos moradores das favelas.<br />

Somente em 2006, as 66 lojas e clínicas<br />

Child and Family Wellness do Quênia<br />

beneficiaram quase 400.000 pacientes de<br />

baixa renda, contribuindo <strong>para</strong> o Objetivo<br />

de Desenvolvimento do Milênio número 6<br />

– combater o HIV/AIDS, a malária e outras<br />

doenças.<br />

Stephen Saad, um empreendedor<br />

farmacêutico, está fazendo a parte dele <strong>para</strong><br />

alcançar o Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio número 6, na África do Sul. No<br />

período de 2001 a 2006, Saad reduziu<br />

o custo mensal dos medicamentos antiretrovirais,<br />

de $428 <strong>para</strong> $13, <strong>para</strong> os<br />

pacientes portadores do HIV. A sua empresa<br />

está se pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> ser fornecedora<br />

do programa nacional de tratamento antiretroviral<br />

da África do Sul, com a produção<br />

de aproximadamente 60% do que o país<br />

necessita atualmente.<br />

Joshua e Winifred Kalebu criam,<br />

desenvolvem e gerenciam esquemas<br />

inovadores e accessíveis de fornecimento<br />

de água comunitária em Uganda. A<br />

empresa lucra enquanto alcança parte do<br />

Objetivo de Desenvolvimento do Milênio<br />

número 7 – aumentando a proporção de<br />

pessoas com acesso sustentável à água<br />

potável segura.<br />

Nas Filipinas, Napoleon Nazareno dirige<br />

uma empresa que fornece cartões de<br />

telefone pré-pagos a baixo custo e<br />

oferece serviços de transferência de<br />

fundos usando a tecnologia de serviço<br />

de mensagens curtas. Com uma rede<br />

cobrindo mais de 99% da população,<br />

a empresa de Nazareno atende 24,2<br />

milhões de pessoas, reduzindo a “exclusão<br />

digital”, e alcança parte do Objetivo de<br />

Desenvolvimento do Milênio número<br />

8 – gerando benefícios através de novas<br />

tecnologias.<br />

As soluções encontradas por esses<br />

empreendedores e os seus modelos de<br />

negócios inclusivos podem inspirar outras<br />

pessoas. Há espaço <strong>para</strong> muito mais modelos<br />

de negócios e mercados inclusivos; e também<br />

<strong>para</strong> uma criação de valor muito maior. Nas<br />

palavras de Mahatma Gandhi: “A diferença<br />

entre o que fazemos e o que somos capazes<br />

de fazer seria suficiente <strong>para</strong> resolver a maior<br />

parte dos problemas do mundo”.<br />

A matriz estratégica e o resumo das soluções<br />

(figura 8.1) lista as maneiras de se aplicar as<br />

cinco estratégias essenciais <strong>para</strong> mitigar os<br />

cinco grandes obstáculos enfrentados por<br />

modelos de negócios inclusivos. Mais de<br />

uma solução – e mais de uma estratégia –<br />

geralmente são aplicados simultaneamente<br />

<strong>para</strong> superar um obstáculo.<br />

Este relatório convida as empresas <strong>para</strong> a<br />

ação.<br />

A mensagem que fica é: faça como as<br />

empresas desses exemplos fizeram. Elas<br />

encontraram e concretizaram uma gama<br />

de oportunidades <strong>para</strong> elas mesmas e <strong>para</strong><br />

os pobres. O relatório também convida<br />

<strong>todos</strong> os outros atores da sociedade <strong>para</strong> a<br />

ação, governos, comunidades, associações<br />

corporativas – organizações internacionais,<br />

organizações não-governamentais e outras<br />

organizações de desenvolvimento – com uma<br />

convicção: <strong>todos</strong> nós podemos ajudar a gerar<br />

mais modelos de negócios inclusivos.<br />

CAPÍTULO 8. ENTRANDO EM AÇÃO<br />

99


O que as empresas podem fazer –<br />

promover a inclusão dos pobres como<br />

consumidores, produtores, funcionários e<br />

empreendedores<br />

Criar capacidade e espaço <strong>para</strong> inovação<br />

dentro da organização. Proporcionar, por<br />

exemplo, novas experiências <strong>para</strong> funcionários<br />

e gerentes através de viagens de estudo,<br />

trabalhos voluntários ou seminários inovadores<br />

com a comunidade local. Apreender novas<br />

idéias através de competições ou esquemas de<br />

incentivos. Criar processos de desenvolvimento<br />

de negócios que encorajem tomadas de<br />

risco e experimentações e que alavanquem<br />

conhecimento de todas as unidades funcionais<br />

– em particular, aquelas já engajadas com os<br />

pobres.<br />

Desenvolver ferramentas de investimento<br />

– tais como fundos especializados,<br />

procedimentos de rating ou investimentos<br />

– que permitam às empresas e investidores<br />

comerciais identificar e financiar modelos<br />

de negócios inclusivos que garantam maior<br />

retorno <strong>para</strong> os pobres, <strong>para</strong> os investidores e<br />

<strong>para</strong> a sociedade como um todo.<br />

Aprofundar o compromisso com as<br />

comunidades <strong>para</strong> compreender melhor as<br />

necessidades do fornecedor e do consumidor<br />

pobre, <strong>para</strong> criar canais de distribuição<br />

inovadores, <strong>para</strong> compartilhar custos e <strong>para</strong><br />

alavancar o conhecimento local e as redes<br />

sociais. Construir relações com firmas locais de<br />

pequeno e médio porte. Engajar-se em diálogos<br />

com organismos da comunidade, organizações<br />

não-governamentais locais e pessoas.<br />

Promover a capacitação <strong>para</strong> uma<br />

colaboração eficaz mesmo com parceiros<br />

não tradicionais e com propósitos originais.<br />

Contratar funcionários de outros setores;<br />

estabelecer programas de transferência<br />

intersetorial, engajar-se em iniciativas de<br />

colaboração.<br />

Engajar-se em diálogos políticos <strong>para</strong><br />

melhorar o campo de ação. Fornecer aos<br />

governos informação sobre as restrições do<br />

mercado de forma transparente e responsável,<br />

individual ou coletivamente, fazendo parte de<br />

uma associação corporativa, uma iniciativa<br />

política ou estabelecendo diálogo com<br />

stakeholders. Usar influência <strong>para</strong> fazer lobby<br />

visando melhorias na educação e nos serviços<br />

básicos em geral, nos aspectos relacionados à<br />

autonomia do pobre, e também <strong>para</strong> proteger<br />

os direitos humanos e a qualidade do meio<br />

ambiente.<br />

O que os governos podem fazer –<br />

promover capacitação e condições <strong>para</strong><br />

o melhor funcionamento dos mercados<br />

Remover obstáculos do ambiente de<br />

mercado. Criar regulamentações que<br />

facilitem a competitividade das empresas,<br />

reduzam a burocracia, assegurem um<br />

mercado financeiro funcional e inclusivo<br />

e permitam aos pobres o acesso ao<br />

sistema legal. Modernizar os sistemas de<br />

transporte, eletricidade, água e a infraestrutura<br />

de transmissão de informações.<br />

Promover melhorias no sistema de<br />

educação e formação profissional.<br />

Estabelecer instituições provedoras de<br />

informação que reúnam e compartilhem<br />

informações sobre o mercado e atuem<br />

como intermediadores entre empresas<br />

locais e regionais, organizações nãogovernamentais<br />

e outros organismos e<br />

iniciativas relevantes.<br />

Fortalecer a capacitação <strong>para</strong><br />

o empreendedorismo através<br />

de treinamento, organização,<br />

desenvolvimento de capacidades e<br />

consultoria técnica.<br />

Fortalecer o capital humano <strong>para</strong><br />

o engajamento em atividades<br />

econômicas produtivas através de<br />

sistemas de educação e saúde eficazes.<br />

Melhorar a conscientização e a<br />

educação do consumidor <strong>para</strong> fortalecer<br />

a demanda por produtos pró-pobres.<br />

Apoiar e financiar modelos de negócios<br />

inclusivos através de medidas de<br />

incentivo calibradas cuidadosamente.<br />

Fortalecer a capacidade institucional<br />

do governo <strong>para</strong> colaborar com o setor<br />

privado. Iniciar, por exemplo, programas<br />

de intercâmbio de experiências; contratar<br />

funcionários do setor privado; engajar-se<br />

em iniciativas de colaboração; permitir<br />

que entidades governamentais se engajem<br />

em colaborações com o setor privado e<br />

facilitar as parcerias intersetoriais.<br />

Estabelecer plataformas <strong>para</strong><br />

engajar empresas como parceiras<br />

no desenvolvimento econômico.<br />

Engajar empresas, associações de<br />

desenvolvimento econômico e grupos de<br />

interesse na discussão sobre questões<br />

concretas, tais como água e tratamento<br />

de resíduos, através da criação de planos<br />

de desenvolvimento regional, setorial e<br />

nacional.<br />

100 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


O que as comunidades podem fazer –<br />

atuar no processo de desenvolvimento<br />

de negócios<br />

Identificar oportunidades que possam<br />

ser interessantes <strong>para</strong> as empresas<br />

Por exemplo, coletar e compartilhar<br />

informações sobre a comunidade e<br />

seus membros através de pesquisas<br />

comunitárias.<br />

Identificar produtos que as<br />

comunidades possam produzir de<br />

forma competitiva. Desenvolver<br />

associações de produtores e cooperativas<br />

<strong>para</strong> compartilhar custos, agregar valor<br />

à produção e aumentar o poder de<br />

barganha.<br />

Desenvolver redes de pequenas<br />

empresas (como varejistas) <strong>para</strong> agregar<br />

valor e fortalecer as redes de distribuição,<br />

diversificar o estoque e estabelecer<br />

relações com fornecedores corporativos<br />

maiores.<br />

Criar associações comunitárias que<br />

trabalhem de forma transparente,<br />

tais como representações coletivas<br />

na comunidade, ou cooperativas de<br />

produtores e consumidores que facilitem<br />

o diálogo entre a comunidade e a<br />

empresa.<br />

O que as organizações nãogovernamentais<br />

e outras instituições<br />

podem fazer – facilitar relações e boas<br />

práticas de comércio<br />

Promover parcerias com empresas<br />

<strong>para</strong> facilitar o engajamento com a<br />

comunidade; o que é correto e sensível<br />

aos <strong>valores</strong> locais e contribui <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento humano. É preciso<br />

ser um “agente confiável” <strong>para</strong> engajar<br />

empresas na busca de oportunidades <strong>para</strong><br />

a comunidade.<br />

Agir como uma plataforma <strong>para</strong> a<br />

colaboração entre empresas e diálogos<br />

que visem melhores práticas.<br />

Promover a abertura <strong>para</strong> colaborações<br />

com o setor privado.<br />

Facilitar um diálogo público-privado<br />

eficaz, legítimo e transparente,<br />

fornecendo orientação, ferramentas e<br />

processos – e agir como um agente de<br />

guarda desse diálogo.<br />

O que doadores e organizações<br />

internacionais podem fazer – catalisar<br />

e expandir novas abordagens.<br />

Aumentar a conscientização<br />

entre empresas e praticantes do<br />

desenvolvimento sobre as oportunidades<br />

de inclusão dos pobres nos negócios.<br />

Fornecer “patient capital” e outras formas<br />

apropriadas de financiamento <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento de modelos de negócios<br />

inclusivos.<br />

Criar modelos <strong>para</strong> a concessão de<br />

doações que sejam inovadores e<br />

impactantes tais como fundos de desafio<br />

ou prêmios por inovações que eliminem<br />

barreiras ao desenvolvimento humano;<br />

tornar as recompensas suficientemente<br />

atraentes <strong>para</strong> criar incentivos que<br />

gerem esforços e experimentações sérias.<br />

Estabelecer formas eficazes e eficientes de<br />

avaliação de modelos bem-sucedidos e de<br />

aprendizagem compartilhada.<br />

Facilitar o diálogo intersetorial Fornecer<br />

plataformas comuns de aprendizagem,<br />

troca de experiências e tomadas de<br />

decisão. Oferecer capacitação e serviços de<br />

intermediação<br />

O que <strong>todos</strong> os outros podem fazer –<br />

assumir atitudes e comportamentos<br />

de aprendizagem, conscientização e<br />

consumo voltados <strong>para</strong> expansão de<br />

negócios inclusivos.<br />

Instituições acadêmicas e de pesquisa<br />

podem trabalhar <strong>para</strong> melhorar a<br />

nossa compreensão sobre o tamanho<br />

e a estrutura dos mercados onde vivem<br />

os pobres, como operam os modelos de<br />

negócios inclusivos, quais são os mecanismos<br />

de investimento eficazes e como os processos<br />

de diálogo entre empresas e governos podem<br />

ser realizados de maneira responsável,<br />

legítima e eficiente. Elas também podem<br />

identificar novas tecnologias <strong>para</strong> catalisar<br />

modelos de negócios inclusivos.<br />

Empresas e instituições de ensino<br />

na área de políticas públicas podem,<br />

juntamente com outros parceiros do setor<br />

de educação, transmitir conhecimento<br />

sobre modelos de negócios inclusivos e as<br />

oportunidades que os mesmos podem criar,<br />

motivando os estudantes a entrarem nesse<br />

campo. Oportunidades de aprendizagem<br />

intersetorial podem ser oferecidas e de<br />

forma a encorajar os estudantes no estudo e<br />

desenvolvimento de projetos sobre modelos<br />

de negócios inclusivos.<br />

Associações corporativas e agentes<br />

intermediadores de parcerias podem<br />

reunir informações sobre modelos de<br />

negócios inclusivos de diferentes setores<br />

que estejam abertos <strong>para</strong> trabalhar em<br />

colaboração, ajudando a encontrar o parceiro<br />

certo <strong>para</strong> empreendimentos específicos e<br />

fornecendo orientação sobre como criar e<br />

gerir parcerias.<br />

CAPÍTULO 8. ENTRANDO EM AÇÃO<br />

101


Associações corporativas podem<br />

coordenar ações coletivas do setor<br />

privado <strong>para</strong> eliminar obstáculos.<br />

Associações de indústrias, por exemplo,<br />

podem implementar programas de<br />

treinamento conjunto ou conduzir<br />

pesquisas de mercado através de<br />

parcerias.<br />

A mídia pode aumentar a<br />

conscientização sobre as<br />

oportunidades <strong>para</strong> as empresas em<br />

fase de desenvolvimento. Ao apresentar<br />

iniciativas bem-sucedidas, a mídia pode<br />

ajudar a aumentar a conscientização,<br />

estimular a compreensão mútua e<br />

remover barreiras entre stakeholders.<br />

As pessoas podem apoiar modelos<br />

de negócios pró-pobres ao comprar<br />

de empresas que compram dos pobres<br />

ou ao contribuir, através de doações ou<br />

ações voluntárias, com organizações nãogovernamentais<br />

que promovem modelos<br />

de negócios inclusivos.<br />

A Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos atua como uma plataforma <strong>para</strong> facilitar o<br />

engajamento de <strong>todos</strong> os atores da sociedade em prol do aumento do número de modelos de<br />

negócios inclusivos. Ela reúne informações relevantes, destaca bons exemplos, desenvolve<br />

estratégias operacionais práticas e cria espaço <strong>para</strong> o diálogo. Este relatório e o processo<br />

colaborativo que conduziu a ele são apenas os primeiros passos em direção às metas da<br />

Iniciativa. A plataforma on-line, www.growinginclusivemarkets.org, dá acesso a todas as<br />

informações existentes e estudos de caso reunidos pela iniciativa e será continuamente<br />

enriquecida com informações e ferramentas atualizadas.<br />

Em 2007, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, emitiu um Apelo à Ação<br />

relativo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio com objetivo de estimular um esforço<br />

internacional <strong>para</strong> acelerar o progresso e ajudar a fazer de 2008 um ano decisivo na luta<br />

contra a pobreza. O setor privado tem sido fortemente encorajado a aderir a esse esforço<br />

conjunto. A Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos reforça o convite <strong>para</strong> a adoção<br />

de uma abordagem de negócios cuja expansão e replicabilidade podem ajudar a reduzir a<br />

distância entre os obstáculos de hoje e as promessas de amanhã.<br />

Juntem-se a nós nesta empreitada!<br />

102 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Anexos


Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

Visão Geral<br />

Empresa Localização Tipo de empresa Setor página<br />

Corporação multinacional<br />

Empresa nacional de grande<br />

porte<br />

PME Local 1<br />

Organização sem fins<br />

lucrativos<br />

Agricultura e/ou alimentos<br />

Habitação<br />

Energia<br />

Saúde<br />

TIC 2<br />

Serviços financeiros<br />

Água e saneamento<br />

Têxtil<br />

Turismo<br />

Outras (tratamento de<br />

resíduos, transportes)<br />

A to Z Textiles<br />

Amanco<br />

Amanz’ Abantu<br />

ANZ Bank<br />

Aspen Pharmacare<br />

Associação dos Operadores<br />

Privados de Água<br />

Barclays’ Susu<br />

Collectors Initiative<br />

Cashew Production<br />

Celtel and Celplay<br />

Coco Technologies<br />

Construmex<br />

Danone<br />

Denmor Garments<br />

DTC Tyczyn<br />

Edu-Loan<br />

Fair Trade Cotton<br />

Forus Bank<br />

Huatai<br />

Integrated Tamale<br />

Fruit Company<br />

Juan Valdez<br />

K-REP Bank<br />

Lafarge<br />

LYDEC<br />

Manila Water Company<br />

Tanzânia<br />

México<br />

África do Sul<br />

Fiji<br />

África do Sul<br />

Uganda<br />

Ghana<br />

Guiné<br />

República<br />

Democrática<br />

do Congo<br />

Filipinas<br />

México<br />

Polônia<br />

Guiana<br />

Polônia<br />

África do Sul<br />

Mali<br />

Rússia<br />

China<br />

Ghana<br />

Colômbia<br />

Quênia<br />

Indonésia<br />

Marrocos<br />

Filipinas<br />

1. Pequenas e médias empresas. 2. Tecnologia de informação e comunicação<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

105


Empresa Localização Tipo de empresa setor Página<br />

Corporação multinacional<br />

Empresa nacional de grande<br />

porte<br />

PME Local<br />

Organização sem fins<br />

lucrativos<br />

Agricultura e/ou alimentos<br />

Habitação<br />

Energia<br />

Saúde<br />

TIC<br />

Serviços financeiros<br />

Água e saneamento<br />

Têxtil<br />

Turismo<br />

Outras (tratamento de<br />

resíduos, transportes)<br />

Mibanco<br />

Money Express<br />

M-PESA<br />

Mt. Plaisir Estate<br />

Hotel<br />

Narayana Hrudayalaya<br />

Natura<br />

Nedbank and<br />

RMB/FirstRand<br />

NTADCL<br />

PEC Luban<br />

Pésinet<br />

Peru<br />

Senegal<br />

Quênia<br />

Trinidad e<br />

Tobago<br />

Índia<br />

Brasil<br />

África do Sul<br />

Índia<br />

Polônia<br />

Mali e Senegal<br />

Petstar<br />

Procter & Gamble<br />

Rajawali<br />

RiteMed<br />

Rural Electrification<br />

Sadia<br />

Sanofi-aventis<br />

SEKEM<br />

SIWA<br />

Smart Communications<br />

Sulabh<br />

The HealthStore<br />

Foundation<br />

Tiviski Dairy<br />

Tsinghua Tongfang (THTF)<br />

VidaGás<br />

Votorantim Celulose<br />

e Papel<br />

México<br />

Várias regiões<br />

Indonésia<br />

Filipinas<br />

Mali<br />

Brasil<br />

África<br />

Subsaariana<br />

Egito<br />

Egito<br />

Filipinas<br />

Índia<br />

Quênia<br />

Mauritânia<br />

China<br />

Moçambique<br />

Brasil<br />

106 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A to Z Textiles<br />

África Subsaariana > Tanzânia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média<br />

empresa local<br />

Setor<br />

Saúde/Têxtil<br />

Autor(es)<br />

Winifred Karugu<br />

Triza Mwendwa<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A malária, transmitida através da picada de mosquitos, mata milhões<br />

de pessoas <strong>todos</strong> os anos. Em 2004, a A to Z Textile Mills, da Tanzânia,<br />

tornou-se o único produtor africano de redes <strong>para</strong> dormir duráveis e<br />

tratadas com inseticidas capazes de matar os mosquitos por até cinco<br />

anos, sem tratamentos adicionais. O sucesso do empreendimento devese<br />

a uma ampla parceria público-privada. A Sumitomo, uma companhia<br />

japonesa, fornece tecnologia e material químico <strong>para</strong> a A to Z através<br />

de um empréstimo do Fundo Acumen. A Exxon Mobile vende resina<br />

<strong>para</strong> as redes da A to Z e doa fundos <strong>para</strong> a UNICEF comprar as redes<br />

tratadas <strong>para</strong> as crianças mais vulneráveis. A UNICEF e o Fundo Global<br />

de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária agem como compradores<br />

de última instância, garantindo a compra de todas as redes que não<br />

forem compradas através dos canais normais de mercado. A A to<br />

Z torna as redes disponíveis através de marketing direto e móbile<br />

marketing. O governo também as promove, através de marketing social,<br />

com um esquema nacional de voucher que subsidia as redes tratadas<br />

<strong>para</strong> gestantes e crianças com menos de cinco anos de idade. Além do<br />

impacto sobre a saúde pública, a A to Z emprega cerca de 3.400 pessoas<br />

com pouca capacitação, sendo 90% delas mulheres.<br />

Amanco<br />

América Latina e Caribe > México<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Loretta Serrano<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Há décadas os pequenos produtores rurais da América Latina enfrentam<br />

uma realidade ingrata: de baixa produtividade e ineficiência. Esse era o<br />

cenário <strong>para</strong> a decisão da Amanco, uma subsidiária do conglomerado<br />

GrupoNueva, sobre o desenvolvimento de um modelo híbrido de<br />

cadeia de valor <strong>para</strong> servir aos mercados de baixa renda. Como parte<br />

do plano a empresa deixou de vender equipamentos de suprimento de<br />

água e passou a oferecer soluções integradas de irrigação, com preços<br />

por hectare de terra. As soluções incluem serviços <strong>para</strong> aumentar a<br />

produtividade das propriedades e maximizar a eficiência do uso de<br />

água. A companhia desenvolveu parcerias com organizações sociais<br />

pouco convencionais – que possuem um estreito relacionamento com<br />

os clientes de baixa renda – e com outras instituições, que fornecem<br />

microcrédito e canais alternativos de comercialização. Mé<strong>todos</strong> de<br />

irrigação mais eficientes aumentaram a produtividade dos clientes da<br />

Amanco em até 22%, abaixaram os custos com mão-de-obra em 33% e<br />

trouxeram melhoras significativas no uso da água.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

107


Amanz’ Abantu<br />

África Subsaariana > África do Sul<br />

Tipo de companhia<br />

Pequena ou média<br />

empresa local<br />

Setor<br />

Água/Saneamento<br />

Autor(es)<br />

Courteney Sprague<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Nos idiomas Xhosa, Ndebele e Zulu, Amanz’ Abantu significa “água <strong>para</strong> o<br />

povo”. A Amanz’ Abantu Services Ltda., fundada em 1997 como empresa<br />

privada na África do Sul, almejava fornecer água e saneamento <strong>para</strong><br />

comunidades periurbanas e rurais na província do Cabo Oriental, onde<br />

um quarto da população não tinha acesso à água potável. A companhia<br />

fornece água que atende aos padrões de qualidade internacionais em<br />

locais onde as pessoas podem usufruir da água encanada através da<br />

tecnologia de cartões inteligentes. Antes da chegada da Amanz’ Abantu,<br />

os aldeões – principalmente mulheres em áreas rurais – precisavam<br />

caminhar várias horas <strong>para</strong> obter água do rio mais próximo. Além disso,<br />

essas pessoas estavam vulneráveis a doenças. O fornecimento de água<br />

segura dentro de um raio de 200 metros das moradias transformou a<br />

vida dos residentes rurais, capacitando os aldeões <strong>para</strong> a construção<br />

e fornecendo-lhes chances de emprego em um país com índices de<br />

desemprego em torno de 25%. O caso relata a recepção conturbada<br />

do setor privado no envolvimento do fornecimento de água e como a<br />

empresa superou os obstáculos <strong>para</strong> solucionar um problema social e<br />

tornar o negócio lucrativo – $67.000 em 2006.<br />

ANZ Bank<br />

Ásia e Pacífico > Fiji<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Mahendra Reddy<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em Fiji, aproximadamente 340.000 habitantes de vilarejos rurais e<br />

assentamentos não têm acesso a serviços bancários. O PNUD e o ANZ<br />

Bank formaram uma parceria <strong>para</strong> desenvolver serviços bancários<br />

comerciais viáveis e inovadores apoiados por um programa de<br />

capacitação financeira. O investimento envolve seis bancos móveis<br />

que viajam regularmente <strong>para</strong> 150 vilarejos e assentamentos rurais.<br />

A capacidade de mudar as regras exigidas <strong>para</strong> se abrir uma conta<br />

bancária permitiu ao ANZ Bank oferecer produtos, como empréstimos e<br />

poupança, <strong>para</strong> comunidades que não tinham documentação oficializada.<br />

Nos primeiros 5 meses de operação, 17.000 mulheres, homens e<br />

crianças em idade escolar começaram a poupar regularmente, e mais<br />

de 1.500 aldeões adquiriram habilidades valiosas de administração<br />

financeira. Atualmente, o banco está expandindo as suas operações <strong>para</strong><br />

alcançar 140.000 clientes.<br />

108 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Aspen Pharmacare<br />

África Subsaariana > África do Sul<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Courteney Sprague<br />

Stu Woolman<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

É grande a necessidade de tratamento anti-retroviral na África do Sul.<br />

Sem mudanças significativas, as projeções indicam que 3,5 milhões de<br />

sul-africanos morrerão de doenças relacionadas à AIDS até 2010. Em<br />

1997, a Stephen Saad vendeu suas ações da companhia farmacêutica<br />

Covan Zurich e, juntamente com mais dois parceiros e $7 milhões,<br />

fundou a Aspen Pharmacare. Seu objetivo: estabelecer um grande<br />

fabricante farmacêutico capaz de fornecer ao mercado sul-africano<br />

remédios de marcas conhecidas, genéricos legalizados, a preços<br />

acessíveis. Atualmente, a Aspen é a maior produtora de remédios em<br />

forma comprimidos e cápsulas na África, com um lucro de $75 milhões<br />

em 2005. O caso descreve como o modelo de negócios da Aspen e suas<br />

inovações reagiram a um ambiente desafiador, complicado por questões<br />

humanitárias, governamentais e legais.<br />

Associação dos Operadores Privados de Água de Uganda<br />

África Subsaariana > Uganda<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Água<br />

Autor(es)<br />

Winifred N. Karugu<br />

Diane Nduta Kanyagia<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Dos 21 milhões de habitantes de Uganda, mais de 2 milhões vivem em<br />

pequenos municípios com escasso fornecimento de água. A maioria tem<br />

renda baixa e a falta de água agrava ainda mais a miséria e aumenta o<br />

risco de doenças. Inicialmente, as reformas relacionadas ao fornecimento<br />

de água e saneamento foram realizadas pelo governo, com a escavação<br />

de poços nos vilarejos de todo o país. Entretanto, em 2003, Uganda<br />

desenvolveu um novo modelo <strong>para</strong> atender às necessidades de água<br />

dos habitantes de baixa renda dos pequenos municípios a partir de uma<br />

parceria público-privada entre o governo, parceiros de desenvolvimento,<br />

agências locais e operadores privados de água. O governo identifica os<br />

locais, realiza perfurações, facilita a compra de terras nas comunidades<br />

e subsidia a instalação. Os operadores privados distribuem a água,<br />

verificam a segurança e recolhem os rendimentos. O conselho de água<br />

de cada comunidade possui seus próprios recursos e estabelece as<br />

tarifas e as políticas. O modelo propiciou o acesso à água a 490.000<br />

habitantes de 57 pequenos municípios através de sistemas inovadores<br />

como quiosques de água operados com moedas. Em 2006, havia 18.944<br />

conexões, com um movimento de vendas em torno de 2 bilhões em<br />

moeda local ($1,2 milhões) por ano. Os operadores também empregam<br />

mais de 800 trabalhadores.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

109


Barclays ’ Susu Collectors Initiative<br />

África Subsaariana > Ghana<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Robert Darko Osei<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O sistema de coleta Susu, praticado na África há mais de três séculos, é<br />

um arranjo informal <strong>para</strong> mobilizar depósitos de poupança dos clientes.<br />

Os operadores coletam, por dia ou por semana, uma parcela prédeterminada<br />

de dinheiro dos seus clientes. Com aproximadamente 4.000<br />

coletores Susu em atividade em Ghana, e cada um deles servindo de 200<br />

a 850 clientes por dia, o sistema de coleta Susu se tornou reconhecido<br />

(embora informal), atendendo a uma necessidade importante.<br />

Em novembro de 2005, o Barclays Bank Ghana ingressou em uma<br />

iniciativa que misturou o serviço bancário tradicional a finanças<br />

modernas, alavancando o sistema de coletas Susu <strong>para</strong> estender os<br />

serviços microfinanceiros aos mais pobres de Ghana – os pequenos<br />

vendedores dos mercados ou os ambulantes que vendem suas<br />

mercadorias na beira da estrada. O caso analisa como a Iniciativa do<br />

Barclays Ghana expandiu o esquema de coleta Susu e causou impacto<br />

através dos seus objetivos corporativos.<br />

Produção de Caju<br />

África Subsaariana > Guiné<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Ousmane Moreau<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Guiné produz aproximadamente 5.000 toneladas de castanha de caju<br />

por ano. Enquanto isso, o seu vizinho, muito menor, a Guiné-Bissau,<br />

com solo e clima similares, produz 80.000 toneladas. Encorajada pela<br />

crescente demanda pelo caju, a Guiné se propôs a expandir a produção da<br />

castanha – já que é um bom candidato <strong>para</strong> expansão, com 80% dos seus<br />

habitantes dependendo da agricultura de subsistência <strong>para</strong> sobreviver. As<br />

condições climáticas do país, o solo fértil e as longas estações de chuvas<br />

são fatores favoráveis <strong>para</strong> a produção de caju de alta qualidade. Agências<br />

internacionais vêm oferecendo apoio técnico e financeiro <strong>para</strong> ajudar os<br />

produtores da Guiné a aumentarem a sua competitividade no mercado<br />

mundial.<br />

Ao longo dos três últimos anos, a Parceria da Aliança <strong>para</strong> o<br />

Desenvolvimento Global, que engloba várias cooperativas de caju do país,<br />

o governo, a Agência Norte-Americana <strong>para</strong> o Desenvolvimento e a Kraft<br />

Foods, vem ajudando os agricultores na Guiné a produzirem e venderem<br />

caju. O objetivo é reduzir a miséria e assegurar um futuro econômico<br />

melhor <strong>para</strong> o país. Os parceiros colaboram com a oferta de apoio técnico<br />

<strong>para</strong> organizações comunitárias. O caso elucida planos ambiciosos:<br />

reabilitação de 1.600 hectares de antigas plantações de caju, cultivo de<br />

12.000 hectares em novas plantações, melhor fornecimento de sementes<br />

e treinamento de 1.600 associações de produtores rurais.<br />

110 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Celtel e Celplay<br />

África Subsaariana > República Democrática do Congo<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Tecnologia de informação e<br />

comunicação/Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Juana de Catheu<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Celtel International – grupo pan-africano líder em comunicações<br />

móveis, com operações em 15 países – começou a atuar na República<br />

Democrática do Congo em 2000, em plena guerra civil. A companhia<br />

enfrentava um mercado cheio de insegurança, miséria, baixa capacitação<br />

humana e incertezas políticas e regulamentares. A infra-estrutura<br />

era insuficiente ou inexistente e não havia redes bancárias. A base de<br />

clientes potenciais parecia ser muito pequena e poucas eram as formas<br />

de alcançá-los. Apesar desses obstáculos a Celtel conseguiu mais de 2<br />

milhões de clientes no país, permitindo que comunidades, previamente<br />

isoladas pela guerra e pela falta de infra-estrutura, tivessem acesso<br />

a facilidades de comunicação e informação. A Celtel também criou a<br />

Celplay – antiga subsidiária da Celtel e agora parte do FirstRand Banking<br />

Group – como um sistema de banco móvel <strong>para</strong> compensar a falta de<br />

uma rede bancária nacional. O caso descreve cada obstáculo e mostra<br />

como a companhia os superou.<br />

Coco Technologies<br />

Ásia e Pacífico > Filipinas<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Elvie Grace Ganchero<br />

Perla Manapol<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Nas Filipinas, o coqueiro é chamado de “a árvore da vida” devido às suas<br />

múltiplas utilizações. O tradicional foco sobre o coco seco e o óleo do<br />

coco, entretanto, deixa os produtores rurais vulneráveis às flutuações do<br />

mercado. Isso os tornou desproporcionalmente pobres: os produtores de<br />

coco somam 4% dos 89 milhões de filipinos, mas constituem 20% da sua<br />

população pobre.<br />

A Coco Technologies (CocoTech), um empreendimento privado, é<br />

pioneira na aplicação da bioengenharia <strong>para</strong> a fabricação de redes<br />

de fibra, extraída da casca de coco, desde 1993. Atualmente, o seu<br />

modelo de negócio colaborativo envolve mais de 6.000 famílias na<br />

tecelagem e manufatura de redes <strong>para</strong> estabilização de encostas e<br />

controle de erosão. Além de fornecer renda suplementar aos produtores<br />

de coco e oportunidades <strong>para</strong> uma vida melhor a membros de famílias<br />

tradicionalmente não produtivas, a Coco Tech oferece soluções baratas e<br />

ambientalmente responsáveis <strong>para</strong> os seus clientes.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

111


Construmex<br />

América Latina e Caribe > México<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional de<br />

país em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Construção/Habitação<br />

Autor(es)<br />

Loretta Serrano<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Construmex, uma iniciativa do gigante da construção no México, a<br />

CEMEX, foi lançada após o sucesso do Patrimonio Hoy, outro programa<br />

de cunho social da empresa que também é voltada <strong>para</strong> os consumidores<br />

de baixa renda. Desde que foi fundada, em 2001, a Construmex já<br />

ajudou mais de 14.000 emigrantes mexicanos nos Estados Unidos a<br />

construir, comprar ou reformar uma casa no México – <strong>para</strong> eles mesmos<br />

ou suas famílias. Atuando como um intermediário entre os emigrantes<br />

mexicanos nos Estados Unidos e seus beneficiários no México, a<br />

Construmex aumenta a eficácia dos investimentos em habitação.<br />

O caso examina os desafios enfrentados pela Construmex ao servir a<br />

mercados de baixa renda e as inovações necessárias <strong>para</strong> superá-los,<br />

incluindo uma variedade de parcerias firmadas <strong>para</strong> executar uma<br />

transação comercial cujo início se deu em um país e o término em outro.<br />

De 2002 a 2006, a Construmex vendeu $12,2 milhões em materiais de<br />

construção. Desde o final de 2005, 200 casas já foram vendidas. 23%<br />

dos clientes da Construmex são mulheres.<br />

Danone<br />

Europa e CEI > Polônia<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Agricultura/Alimentos<br />

Autor(es)<br />

Boleslaw Rok<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Há três anos, a Danone Polônia – fundada em 1992 como parte do<br />

Grupo Danone, líder mundial da indústria alimentícia – desenvolveu<br />

um produto <strong>para</strong> a refeição matinal com alto valor nutritivo <strong>para</strong><br />

crianças e a preços acessíveis <strong>para</strong> os consumidores de baixa renda. O<br />

Milk Start, um mingau a base de semolina e leite, é enriquecido com<br />

vitaminas e sais minerais. A Danone sabia que <strong>para</strong> tornar a iniciativa<br />

financeiramente sustentável era preciso tornar o produto rentável, ou<br />

pelo menos, fazer com que ele cobrisse os custos de desenvolvimento,<br />

fabricação e distribuição. A equipe do projeto estabeleceu parcerias com<br />

uma organização do estado voltada <strong>para</strong> a saúde e nutrição infantil, com<br />

o maior fabricante polonês de produtos instantâneos e o maior varejista<br />

de alimentos do país. Os parceiros se comprometeram a oferecer o<br />

produto pelo menor preço possível e a maior qualidade nutricional.<br />

A colaboração trouxe muitas inovações, incluindo uma embalagem<br />

unitária econômica <strong>para</strong> abaixar os custos de produção e aumentar a<br />

acessibilidade. O Milk Start foi lançado em 2006 e vendeu mais de 1,5<br />

milhões de sachês ao final deste mesmo ano <strong>para</strong> aproximadamente<br />

33.000 famílias com crianças de até 15 anos de idade.<br />

112 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Denmor Garments<br />

América Latina e Caribe > Guiana<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Têxtil<br />

Autor(es)<br />

Melanie Richards<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Desde julho de 1997 a Denmor Garments, Inc. – um fabricante privado<br />

de vestuário em Coldingen, na Guiana – aumentou o seu número de<br />

empregados de 250 <strong>para</strong> mais de 1.000, sendo 98% mulheres de<br />

comunidades rurais pobres. Além de emprego, a Denmor oferece<br />

treinamento e capacitação <strong>para</strong> tirar as mulheres da miséria. Com<br />

soluções inovadoras, ela superou muitos desafios, especialmente<br />

dificuldades relacionadas ao analfabetismo e más condições de<br />

transporte. Atualmente, a Denmor fabrica vestuário <strong>para</strong> marcas<br />

mundialmente renomadas. A empresa ganhou um prêmio de alto<br />

prestígio na indústria pelo seu padrão de qualidade. O caso detalha a<br />

história da Denmor e a inspiradora história do seu fundador, Dennis<br />

Morgan.<br />

DTC Tyczyn<br />

Europa e CEI > Polônia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Tecnologia de informação e<br />

comunicação<br />

Autor(es)<br />

Boleslaw Rok<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

A existência de infra-estrutura em telecomunicações é crucial <strong>para</strong><br />

o desenvolvimento econômico local. A Cooperativa de Telefonia<br />

Distrital Tyczyn começou a operar em um vale da região rural próxima<br />

à fronteira da Ucrânia, unindo os comitês de telefonia dos vilarejos<br />

e as autoridades públicas locais. A Tyczyn, que é um dos primeiros<br />

operadores independentes na Polônia, quebrou o monopólio do estado<br />

<strong>para</strong> o fornecimento de serviços de telecomunicação. O negócio é uma<br />

cooperativa que oferece uma variedade de serviços – melhores e mais<br />

baratos que os dos seus competidores – <strong>para</strong> os clientes aldeões. O<br />

caso ilustra os desafios superados pela Tyczyn ao ajudar a estabelecer<br />

uma sociedade mais inclusiva em uma das regiões mais pobres da<br />

Europa Central e Oriental. A tecnologia de informação e comunicação se<br />

tornou um veículo <strong>para</strong> a mudança das condições de vida dos pobres e<br />

estabeleceu uma nova infra-estrutura social.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

113


Edu-Loan<br />

África Subsaariana > África do Sul<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Farid Baddache<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

Por várias décadas durante o apartheid, as autoridades públicas da<br />

África do Sul negligenciaram a educação da grande maioria da população<br />

do país – hoje denominada como aqueles em “desvantagem histórica”.<br />

Na nova economia sul-africana existe uma grande necessidade de<br />

trabalhadores capacitados e educados <strong>para</strong> sustentar o desenvolvimento.<br />

Mas a educação pós-secundária não é gratuita e boa parte da população<br />

em desvantagem histórica não tem como pagar por esse serviço e<br />

tampouco se qualifica <strong>para</strong> os mé<strong>todos</strong> tradicionais de financiamento.<br />

A Edu-Loan, uma empresa com fins lucrativos, tem o seu foco voltado<br />

exclusivamente <strong>para</strong> empréstimos que visam a educação pós-secundária<br />

e oferece opções simples <strong>para</strong> a quitação da dívida – com taxas acessíveis<br />

– <strong>para</strong> os aplicantes em desvantagem histórica interessados em aprimorar<br />

seus conhecimentos. Desde que iniciou suas atividades, em 1996, a Edu-<br />

Loan financiou os estudos de aproximadamente 400.000 alunos com<br />

empréstimos que totalizam mais de $140 milhões. O impacto social da<br />

empresa é refletido no seu sucesso comercial: a Edu-Loan oferece aos<br />

seus acionistas 30% de retorno sobre o capital investido. O caso examina<br />

como dois empreendedores sociais vislumbraram uma oportunidade<br />

de negócio rentável em um nicho do mercado que também acarretaria<br />

impacto sobre o desenvolvimento humano.<br />

Fair Trade Cotton<br />

África Subsaariana > Mali<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O algodão é uma das culturas comerciais mais antigas do mundo, cultivado<br />

na África por mais de 5.000 anos. Atualmente é a maior fonte de renda<br />

<strong>para</strong> 20 milhões de pessoas e responsável por até 60% dos lucros da<br />

exportação nacional da África Central e Ocidental. Entretanto, desde 1999,<br />

os produtores africanos vêm sofrendo por causa de sucessivas quedas<br />

de preço – sem garantias <strong>para</strong> os agricultores de que o preço de venda<br />

permitirá um retorno sobre o investimento e a recuperação dos custos<br />

de produção. Os produtores africanos estão vulneráveis, muitas vezes<br />

trabalhando com ferramentas ultrapassadas, em terras pertencentes às<br />

suas famílias, e competindo com produtores de países ricos altamente<br />

subsidiados. Dessa forma, os produtores de algodão da África,<br />

normalmente, não obtêm os benefícios do mercado internacional.<br />

Este caso discute as iniciativas de comércio justo (fair trade) que ajudam<br />

os agricultores pobres do Mali a sustentar a sua produção e obter lucros<br />

significativos. O trabalho da Fair-trade Labeling Organization (uma<br />

organização internacional de comércio justo), o seu membro francês, a Max<br />

Havelaar France, e varejistas de vestuário europeus, como a Armor-Lux<br />

da França, destacam o valor do comércio justo tanto <strong>para</strong> os produtores<br />

quanto <strong>para</strong> os consumidores. Graças a um preço mínimo garantido,<br />

implementado como parte do processo de comércio justo, os produtores de<br />

Mali aumentaram as suas rendas em 70% durante a safra de 2005/2006.<br />

114 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Forus Bank<br />

Europa e CEI > Rússia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Boleslaw Rok<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Criado em 2000 pela Opportunity International, organização de apoio às<br />

microfinanças, o Fundo de Suporte ao Microempreendedorismo (FORA)<br />

busca eliminar a miséria na Federação Russa oferecendo a pessoas<br />

economicamente ativas o acesso a pequenos empréstimos que possam<br />

impulsionar os seus negócios. Oferecendo serviços financeiros <strong>para</strong><br />

os excluídos de bancos comerciais, o FORA possibilitou que pessoas<br />

pobres, especialmente mulheres, se tornassem ativos na economia<br />

através do empreendedorismo, geração de renda e capacitação social.<br />

Em 2005, com o crescimento dos negócios, o FORA, juntamente com a<br />

Opportunity International e outros parceiros, criou o FORUS Bank, <strong>para</strong><br />

acessar capital comercial e alcançar mais clientes. O caso demonstra os<br />

desafios da transição de organizações sem fins lucrativos <strong>para</strong> bancos<br />

comerciais no segmento de microfinanças – alguns especificamente na<br />

Rússia, outros de relevância mundial.<br />

Huatai<br />

Ásia e Pacífico > China<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Outros<br />

Autor(es)<br />

Donghui Shi<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em 2000, a Huatai Paper Company Ltda., maior fabricante de papel de<br />

jornal da China, lançou uma nova estratégia <strong>para</strong> substituir a celulose<br />

tradicional pela celulose de palha. O segredo foi mobilizar os produtores<br />

locais <strong>para</strong> o plantio de árvores de rápido crescimento. Os produtores<br />

recebem apoio da Huatai e do governo local através de tecnologia,<br />

educação e irrigação. Aproximadamente 6.000 famílias já participam,<br />

plantando 40.000 hectares de árvores de rápido crescimento e gerando<br />

uma nova fonte significativa de renda. Ao mesmo tempo, o negócio de<br />

papel de jornal da Huatai cresce enquanto o seu impacto ambiental<br />

diminui assim como a volatilidade dos preços de importação de celulose.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

115


Integrated Tamale Fruit Company<br />

África Subsaariana > Ghana<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Robert Darko Osei<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Companhia Integrada Tamale Fruit – que opera no distrito de Savelugu-<br />

Nanton, na região norte de Ghana, uma área extremamente pobre – cultiva<br />

mangas orgânicas certificadas <strong>para</strong> o mercado local e <strong>para</strong> exportação.<br />

Para aumentar o seu poder no mercado de exportação com maior volume<br />

de produção, a companhia estabeleceu um modelo de negócios que inclui<br />

os produtores locais. Em vez de adquirir grande quantidade de terras – o<br />

que seria inviável tanto fisicamente quanto financeiramente – a Tamale<br />

Fruit produz grandes volumes através de um esquema de terceirização,<br />

que começou em 2001 e atualmente conta com 1.300 produtores<br />

terceirizados. Cada um possui uma propriedade de aproximadamente um<br />

acre, com cerca de 100 mangueiras que suplementam uma propriedade<br />

núcleo de 160 acres. A companhia oferece um empréstimo sem juros <strong>para</strong><br />

os terceirizados que inclui insumos e serviços técnicos; os produtores<br />

rurais começam a pagar o empréstimo somente quando as árvores dão<br />

frutos. Esse arranjo permite que a companhia forneça um grande e estável<br />

volume de mangas orgânicas de qualidade e também que os agricultores<br />

produzam com uma perspectiva de renda de longo prazo. Os lucros da<br />

propriedade núcleo deverão alcançar $1 milhão em 2010. O caso examina<br />

os maiores desafios do esquema de terceirização e as suas implicações<br />

<strong>para</strong> os negócios da companhia.<br />

Juan Valdez<br />

América Latina e Caribe > Colômbia<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Luis Felipe Avella Villegas<br />

Loretta Serrano<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O plantio do café é um meio de vida <strong>para</strong> mais de 566.000 produtores<br />

colombianos associados à Federação Nacional de Produtores de Café<br />

da Colômbia. Cerca de 90% destes produtores de café são de pequeno<br />

porte, com plantações de menos de 5 hectares. Estima-se que 2 milhões<br />

de colombianos dependem diretamente da produção de café. Durante<br />

décadas o mercado de café enfrenta crises devido à instabilidade dos<br />

preços internacionais, com repercussões significativas sobre a qualidade<br />

de vida dos pequenos produtores rurais e suas famílias. O personagem<br />

Juan Valdez – criado em 1959 <strong>para</strong> posicionar o café colombiano<br />

mundialmente, especialmente nos Estados Unidos – foi relançado em<br />

2002, juntamente com a inauguração das Lojas de Café Juan Valdez,<br />

como parte de uma iniciativa da Federação Nacional de Produtores de<br />

Café <strong>para</strong> aumentar os lucros dos produtores, incorporando as vendas<br />

diretas ao seu modelo comercial. Em 2006, a companhia já operava<br />

57 lojas de café na Colômbia, Estados Unidos e Espanha, com vendas<br />

alcançando os $20 milhões.<br />

O caso explora o modelo de negócios inclusivos e sustentáveis das<br />

Lojas Juan Valdez – com uma cadeia de valor atrelada ao comércio justo<br />

que conecta comunidades de produtores, empresas, consumidores e<br />

organizações intermediárias. O caso também analisa os maiores desafios,<br />

inovações e resultados, bem como as possíveis adaptações <strong>para</strong> expandir<br />

e consolidar o negócio.<br />

116 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


K-REP Bank<br />

África Subsaariana > Quênia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Winifred N. Karugu<br />

Diane Nduta Kanyagia<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O K-REP Bank, que começou a operar em 1999, já está entre as mais<br />

bem-sucedidas instituições de microfinanças. O banco oferece produtos<br />

e serviços diversos, incluindo facilidades de microcrédito <strong>para</strong> pessoas<br />

de baixa renda, empréstimos individuais, empréstimos por atacado<br />

<strong>para</strong> fornecedores de microcrédito, facilidades <strong>para</strong> depósitos, cartas de<br />

crédito e garantias bancárias. Os empréstimos de microcrédito, baseados<br />

no modelo do Gramreen Bank, são classificados em três categorias.<br />

Os grupos progridem ao longo das categorias até estarem pre<strong>para</strong>dos<br />

<strong>para</strong> os empréstimos bancários comerciais. O K-REP concedeu 69.000<br />

empréstimos em 2005, indicando um desempenho financeiro satisfatório e<br />

um retorno sobre o patrimônio entre 4% e 12%. O caso destaca os desafios<br />

desse modelo e as inovações usadas pelo K-REP Bank <strong>para</strong> lidar com eles.<br />

Ele também apresenta o perfil de alguns dos consumidores típicos do<br />

banco.<br />

Lafarge<br />

Ásia e Pacífico > Indonésia<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Construção/Habitação<br />

Autor(es)<br />

Farid Baddache<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

A Lafarge, líder mundial em materiais de construção, emprega 80.000<br />

pessoas em 76 países e apresentou vendas de mais de 18 bilhões em<br />

2005. Há muito tempo a empresa atua na Indonésia, mas o tsunami de<br />

dezembro de 2004 devastou a região de Banda Aceh, onde a Lafarge<br />

opera uma fábrica de cimento. O cimento, um produto de baixo valor<br />

agregado, é lucrativo apenas se vendido próximo de onde é extraído – e,<br />

portanto, inseparável das realidades sócio-econômicas locais. Quando<br />

12.000 pessoas morreram na comunidade próxima à fábrica da Lafarge,<br />

a companhia perdeu 193 dos seus 635 empregados. A fábrica parecia<br />

estar arruinada. Esse caso analisa as inovações que foram necessárias<br />

<strong>para</strong> a reestruturação das operações da firma e <strong>para</strong> a reconstrução<br />

da comunidade. É uma história sobre a busca desafiadora de atender a<br />

interesses estratégicos de curto e longo prazo.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

117


LYDEC<br />

Estados Árabes > Marrocos<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Energia, água e saneamento<br />

Autor(es)<br />

Tarek Hatem<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em 1997, as autoridades marroquinas escolheram a LYDEC, um<br />

consórcio do setor privado e subsidiária da SUEZ Environment, <strong>para</strong><br />

administrar as redes de eletricidade, água e saneamento de Casablanca,<br />

sob a supervisão geral da Iniciativa Nacional <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Humano. O objetivo do contrato de 30 anos era fornecer acesso<br />

a serviços essenciais – eletricidade, água e saneamento – <strong>para</strong> os<br />

habitantes de Casablanca, incluindo os pobres que habitam as favelas e<br />

assentamentos ilegais. A LYDEC aumentou significativamente o número<br />

de pessoas com acesso a serviços de eletricidade e água através da<br />

parceria com o governo e do trabalho em conjunto com os usuários<br />

locais, gerido por uma rede de representantes de rua.<br />

Manila Water Company<br />

Ásia e Pacífico > Filipinas<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional de<br />

país em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Água/Saneamento<br />

Autor(es)<br />

Jane Comeault<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

Desde quando iniciou suas operações, em 1997, a Manila Water<br />

Company Incorporated – uma concessionária de água e esgoto da<br />

zona de serviço oeste da Metro Manila – já conectou mais de 140.000<br />

moradias de baixa renda ao sistema de água encanada e forneceu acesso<br />

à água limpa a mais de 860.000 pessoas. Paralelamente, a Manila<br />

Water melhorou os serviços de água e saneamento em toda a sua área<br />

de serviço, aumentando a cobertura, a confiabilidade, o serviço ao<br />

consumidor e a qualidade da água. O caso examina, particularmente,<br />

os desafios e as oportunidades do fornecimento de água e serviços de<br />

saneamento <strong>para</strong> os pobres urbanos e as abordagens inovadoras da<br />

Manila Water <strong>para</strong> expandir a sua cobertura.<br />

118 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Mibanco<br />

América Latina e Caribe > Peru<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Pedro Franco<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O Mibanco, uma instituição de microfinanças, com 74 agências<br />

espalhadas pelo país, foi o primeiro banco comercial no Peru, e o<br />

segundo na América Latina, a fornecer serviços financeiros <strong>para</strong> famílias<br />

de baixa renda e <strong>para</strong> pequenas e microempresas. Desde quando<br />

começou a operar em 1998, o Mibanco já concedeu mais de $1,6 bilhões<br />

em empréstimos, em quantias que vão de $100 a $1.500. Sediado<br />

inicialmente em Lima, o Mibanco espalhou-se por todo o país, inclusive<br />

<strong>para</strong> áreas rurais. Reagindo à crescente competição no mercado de<br />

baixa renda, o Mibanco continua a oferecer novos produtos de crédito. A<br />

instituição apresenta um balanço positivo, com 23,2% de retorno sobre<br />

o patrimônio e uma receita de mais de $5 milhões em 2002. O caso<br />

examina os desafios encontrados pelo Mibanco ao oferecer crédito <strong>para</strong><br />

pessoas que nunca tiveram acesso a serviços bancários formais – e as<br />

inovações que contribuíram <strong>para</strong> o seu sucesso.<br />

Money Express<br />

África Subsaariana > Senegal<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Ousmane Moreau<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O Grupo Chaka, criado em 1994 pelo empreendedor senegalês Meissa<br />

Deguene Ngom, compreende três unidades: a Chaka Computer, o Call Me<br />

e o Money Express. O caso é focado no Money Express e em como ele<br />

beneficia os pobres. Desde a sua criação, o objetivo do Money Express<br />

era ser o líder do mercado de serviços de transferências e remessas <strong>para</strong><br />

os imigrantes do oeste da África na Europa e nos Estados Unidos. Para<br />

enviar dinheiro do exterior, os clientes do Money Express precisam apenas<br />

de um passaporte Senegalês ou do oeste da África. A empresa, que tem<br />

agências espalhadas pelas áreas rurais e urbanas, trabalha em parceria<br />

com redes de bancos menores nos vilarejos do oeste da África. O Money<br />

Express ajuda os receptores a receber o dinheiro através de agentes, que<br />

muitas vezes vão de porta em porta <strong>para</strong> entregar as remessas aos mais<br />

velhos, que não podem sair de suas casas com facilidade. Para muitos dos<br />

clientes que não possuem identificação necessária <strong>para</strong> abrir contas em<br />

bancos comuns, essa é uma proposta de grande valia. Além disso, vários<br />

bancos não possuem a infra-estrutura <strong>para</strong> entregar os fundos em áreas<br />

rurais. O caso descreve como o Money Express rapidamente expandiu-se<br />

pelo oeste da África graças ao seu modelo de negócios de baixo custo, ao<br />

conhecimento do mercado africano e à ênfase no serviço ao cliente e no<br />

desenvolvimento e treinamento dos seus empregados.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

119


M-PESA<br />

África Subsaariana > Quênia<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional de<br />

país em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Serviços financeiros/Tecnologia<br />

de informação e comunicação<br />

Autor(es)<br />

Winifred N. Karugu<br />

Triza Mwendwa<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

O Quênia possui menos de 2 milhões de contas bancárias <strong>para</strong> 32<br />

milhões de pessoas. Para mudar esse quadro, o Safaricom Kenya, um<br />

dos dois fornecedores de serviços móveis do Quênia, desenvolveu uma<br />

solução tecnológica em parceria com a Vodafone. O resultado foi o<br />

M-PESA, um produto de transferência eletrônica de dinheiro <strong>para</strong> tornar<br />

as transferências financeiras mais rápidas, baratas e seguras. O M-PESA<br />

permite que indivíduos e empresas transfiram fundos através do serviço<br />

de mensagens curtas dos aparelhos celulares. Retiradas de dinheiro ou<br />

depósitos são disponibilizados em pontos de varejo <strong>para</strong> o pagamento<br />

de bens e serviços. Após o seu lançamento bem-sucedido em 2005, a<br />

Safaricom planeja recrutar mais instituições financeiras e varejistas <strong>para</strong><br />

o sistema e expandir a iniciativa <strong>para</strong> outros países em desenvolvimento.<br />

MT. Plaisir Estate Hotel<br />

América Latina e Caribe > Trinidad e Tobago<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Ecoturismo<br />

Autor(es)<br />

Melanie Richards<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O MT. Plaisir Estate Hotel é um refúgio idílico <strong>para</strong> o ecoturista e<br />

o primeiro do gênero na Grand Rivière, na costa norte de Trinidad.<br />

Durante os seus 14 anos de operação, o hotel ajudou a transformar um<br />

vilarejo rural pobre em uma vibrante e auto-sustentável comunidade.<br />

Ao mesmo tempo, o hotel aumentou os seus lucros entre 1995 e 2001,<br />

alcançando a marca de $238.000 em 2001. O caso ilustra o histórico<br />

da organização, os desafios enfrentados e as oportunidades criadas ao<br />

construir um negócio viável, capacitando e treinando uma comunidade<br />

<strong>para</strong> se tornar auto-suficiente e sustentável. Ele também destaca a<br />

inspiradora história do seu fundador, Piero Guerrini.<br />

120 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Narayana Hrudayalaya<br />

Ásia e Pacífico > Índia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Prabakar Kothandaraman<br />

Sunita Mookerjee<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Grande parte da sociedade indiana não tem acesso aos serviços básicos<br />

de saúde porque não pode pagar por eles. Seguro saúde, especialmente<br />

<strong>para</strong> os pobres, é algo inexistente. Em 2001, Devi Shetty fundou o<br />

Narayana Hrudayalaya, um hospital de cardiologia nas redondezas de<br />

Bengaluru. A sua missão, impulsionada pela convicção de Shetty de que<br />

os pobres necessitam de saúde <strong>para</strong> que o país possa crescer, é fornecer<br />

cuidados cardíacos de última geração <strong>para</strong> os pobres – alavancando a<br />

tecnologia, modernizando os serviços e estendendo seguros de saúde<br />

inovadores. O hospital jamais nega serviço a pacientes que não podem<br />

pagar. Mesmo assim, tem um lucro impressionante de 20% – antes do<br />

pagamento de juros, impostos e depreciação – que é maior do que o<br />

lucro do principal hospital de mesmo porte no país.<br />

Natura<br />

América Latina e Caribe > Brasil<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Cláudio Boechat<br />

Roberta Mokrejs Paro<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em 2000, a Natura, empresa brasileira de cosméticos, lançou uma<br />

estratégia <strong>para</strong> utilizar matérias-primas extraídas da natureza como<br />

plataforma <strong>para</strong> os seus produtos. Para aumentar a produção local<br />

e garantir a extração sustentável, a empresa criou um novo modelo<br />

de negócios, envolvendo pequenas comunidades, organizações<br />

não-governamentais e governos na promoção do desenvolvimento<br />

local sustentável. Todas as partes envolvidas acordaram, de forma<br />

transparente, uma margem de lucro de 15%-30%. A Natura criou o<br />

programa <strong>para</strong> diferenciar a sua marca no mercado.<br />

A filosofia da Natura é maximizar os benefícios, simultaneamente, <strong>para</strong><br />

o meio ambiente natural, <strong>para</strong> as comunidades e <strong>para</strong> a empresa. Como<br />

parte do seu compromisso com a responsabilidade social, a Natura<br />

estabeleceu relações com as comunidades rurais que extraem a matériaprima<br />

da biodiversidade brasileira tornando-as fornecedoras. Em 2003,<br />

três comunidades do Pará – Campo Limpo, Boa Vista e Cotijuba –<br />

começaram a produzir priprioca, um capim cujas raízes possuem uma<br />

fragrância rara e delicada. O sucesso do negócio possibilitou, em 2006,<br />

a construção de uma nova unidade industrial da Natura <strong>para</strong> a produção<br />

de sabonete.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

121


Nedbank e RMB/FirstRand<br />

África Subsaariana > África do Sul<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Farid Baddache<br />

Objetivo de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingido<br />

Após décadas de violência, segregação e desigualdade durante o apartheid,<br />

a África do Sul esforçou-se de forma significativa <strong>para</strong> trazer igualdade<br />

e estabilidade através de mudanças estruturais na sua economia. Dois<br />

bancos do país, o Rand Merchant Bank e o Nedbank, estão desenvolvendo<br />

produtos financeiros inovadores, voltados <strong>para</strong> o mercado imobiliário de<br />

baixa renda da África do Sul. Os dois projetos, apresentados ao público<br />

em 2007, estão alinhados com o Voluntary Financial Services Charter,<br />

uma estratégia de capacitação econômica <strong>para</strong> os negros criada pelo<br />

setor privado com o apoio do governo. O Rand Merchant Bank financia<br />

programas de habitação de baixo custo que favorecem a diversidade social<br />

nas áreas provincianas. O Nedbank disponibiliza hipotecas <strong>para</strong> indivíduos<br />

de baixa renda. Ambos estão em busca de um mercado que, antes, era<br />

negligenciado – com pessoas antes consideradas pobres demais <strong>para</strong> se<br />

qualificar <strong>para</strong> empréstimos imobiliários tradicionais, mas qualificadas<br />

<strong>para</strong> receber apoio público do governo <strong>para</strong> obtenção de moradia. O caso<br />

examina o desenvolvimento dos dois produtos financeiros, incluindo as<br />

barreiras encontradas e inovações necessárias <strong>para</strong> superá-las, e também<br />

os resultados esperados, lições aprendidas e oportunidades futuras <strong>para</strong><br />

crescimento no mercado imobiliário de baixa renda.<br />

New Tirupur Area Development Corp. Ltd. (NTADCL)<br />

Ásia e Pacífico > Índia<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Água/Saneamento<br />

Autor(es)<br />

Prabakar Kothandaraman<br />

K. Kumar<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em Tirupur, um pequeno município no sudeste de Tamil Nadu,<br />

descargas de efluentes da indústria têxtil poluíram a água subterrânea.<br />

Nos dias de hoje, a água é rara tanto <strong>para</strong> a indústria quanto <strong>para</strong> os<br />

habitantes locais. Como o sistema de fornecimento de água do estado<br />

não era suficiente <strong>para</strong> atender à crescente demanda, o governo de<br />

Tamil Nadu buscou parcerias privadas <strong>para</strong> ajudá-lo nos investimentos,<br />

na engenharia e nos desafios operacionais. Com o apoio de companhias<br />

especializadas em financiamento, engenharia, aquisição e construção,<br />

o governo formou um conglomerado com novos propósitos, o The New<br />

Tirupur Area Development Corporation, LTD. A nova companhia assinou<br />

um acordo de concessão de 30 anos com o governo que inclui 20% de<br />

retorno esperado sobre o investimento. O caso destaca a composição<br />

sofisticada de múltiplos stakeholders da companhia e detalha a sua<br />

inovadora estrutura tarifária, que usa a receita industrial <strong>para</strong> subsidiar<br />

os custos <strong>para</strong> os consumidores de baixa renda.<br />

122 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


PEC Luban<br />

Europa e CEI > Polônia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Energia<br />

Autor(es)<br />

Boleslaw Rok<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A PEC Luban, uma companhia que fornece aquecimento em Luban, na<br />

Polônia, começou a usar palha <strong>para</strong> gerar calor no final de 1990. Isso<br />

gerou uma redução significativa das emissões nocivas provenientes da<br />

queima de combustíveis tradicionais como o carvão. Usando a palha –<br />

uma fonte renovável de energia, gerada a partir da biomassa produzida<br />

localmente – a PEC Luban também aumentou a demanda dos produtores<br />

rurais locais. A biomassa <strong>para</strong> energia, que necessita de muita mão-deobra,<br />

cria pelo menos 20 vezes mais empregos do que qualquer outra<br />

forma de energia. Os resultados competitivos são encorajadores: em<br />

2004/2005, o preço do aquecimento <strong>para</strong> os clientes da PEC Luban era<br />

aproximadamente 5% menor do que a média cobrada por outras firmas<br />

que usavam apenas carvão. O caso detalha as mudanças administrativas<br />

e os mé<strong>todos</strong> de análise de custos da companhia, os quais foram<br />

necessários <strong>para</strong> a transição com operações mais sustentáveis e<br />

inclusivas. Ele oferece um exemplo de superação de desafios técnicos<br />

<strong>para</strong> atender às necessidades energéticas de forma sustentável e apoiar<br />

a comunidade local.<br />

Pésinet<br />

África Subsaariana > Mali e Senegal<br />

Tipo de empresa<br />

Organização sem fins<br />

lucrativos<br />

Setor<br />

Saúde/Tecnologia de informação<br />

e comunicação<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Pésinet, criada em 2002 pela Iniciativas de Bruxelas <strong>para</strong> a África,<br />

consiste em um método de aviso prévio <strong>para</strong> monitorar as condições de<br />

saúde das crianças de famílias de baixa renda. O seu conceito é simples: as<br />

mães inscrevem-se nos serviços da Pésinet através de uma taxa nominal<br />

e os representantes da organização pesam os seus filhos duas vezes<br />

por semana. Os resultados são transmitidos através de tecnologias de<br />

informação e comunicação <strong>para</strong> um médico local, que avalia o quadro<br />

de pesagem e, caso o peso da criança apresente quedas anômalas, um<br />

tratamento médico é recomendado; a mãe é então chamada, juntamente<br />

com a criança, <strong>para</strong> o tratamento. Implementado originalmente em Saint<br />

Louis, no Senegal, o projeto não alcançou a sustentabilidade financeira<br />

necessária. Mas as lições aprendidas e soluções inovadoras do modelo<br />

de negócio – incluindo parcerias estratégicas e melhoramentos técnicos<br />

e financeiros – ajudaram a Pésinet a se relançar com sucesso no Mali em<br />

2007, beneficiando centenas de crianças.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

123


Petstar<br />

América Latina e Caribe > México<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Tratamento de lixo<br />

Autor(es)<br />

Luis Enrique Portales Derbez<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em Toluca, no México, a Promotora Ambiental (unidade da Petstar), firma<br />

mexicana de serviços ambientais, irá construir e operar uma instalação<br />

de reciclagem de garrafas de plástico que converterá as garrafas PET<br />

pós-consumo em embalagens <strong>para</strong> produtos alimentares através de uma<br />

tecnologia que, até então, é usada apenas em países desenvolvidos. As<br />

garrafas PET descartadas e recicladas pela fábrica irão reduzir o volume<br />

de lixo sólido gerado no México e o consumo de novas garrafas PET.<br />

Espera-se que a fábrica aumente as vendas da Petstar em 50%, <strong>criando</strong><br />

63 empregos diretos locais e oferecendo renda <strong>para</strong> aproximadamente<br />

25.000 pessoas ao longo da cadeia de suprimentos. A Petstar está<br />

desenvolvendo um plano de engajamento social voltado especificamente<br />

<strong>para</strong> a questão da coleta individual nos depósitos de lixo, onde os<br />

trabalhadores de reciclagem labutam em condições precárias. O plano<br />

visa impactar, sobretudo, na redução do trabalho infantil dentro da cadeia<br />

de fornecimento. Ao reciclar as garrafas e torná-las reutilizáveis, o projeto<br />

irá apoiar a melhoria da gestão do lixo no México.<br />

Procter & Gamble<br />

Várias regiões<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Água<br />

Autor(es)<br />

Farid Baddache<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a água potável é uma<br />

das maiores necessidades do mundo. Mais de 1 bilhão de pessoas não<br />

têm acesso a ela e estima-se que 1,8 milhões de crianças morrem <strong>todos</strong><br />

os anos por causa de doenças e diarréias causadas por água contaminada.<br />

O Instituto de Ciências de Saúde Procter & Gamble, em colaboração com<br />

os Centros Norte-Americanos de Prevenção e o Controle de Doenças,<br />

desenvolveu o Purifier of Water (PUR), um produto de baixo custo e fácil<br />

utilização <strong>para</strong> purificar a água. Lançado em 2000, esse pó inovador,<br />

vendido em sachês individuais, reduz a ocorrência de bactérias patogênicas.<br />

O resultado: água <strong>para</strong> beber que atende aos padrões da Organização<br />

Mundial da Saúde.<br />

Após uma série de tentativas em vão de transformar essa inovação<br />

em um empreendimento com fins lucrativos em vários países em<br />

desenvolvimento, a P&G está agora promovendo o produto como uma<br />

iniciativa de responsabilidade social corporativa. Até 2007, 57 milhões<br />

de sachês já haviam sido vendidos <strong>para</strong> organizações humanitárias, com<br />

empreendedores locais fazendo a distribuição de forma lucrativa. A<br />

iniciativa também trás <strong>para</strong> a P&G um forte know-how na esfera pública<br />

e uma experiência que irá ajudar a empresa a vender seus produtos nos<br />

mercados de renda mais alta.<br />

124 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Rajawali Express Taxi<br />

Ásia e Pacífico > Indonésia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Transporte<br />

Autor(es)<br />

Elvie Grace A. Ganchero<br />

Chrysanti Hasibuan-Sedyono<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A crise financeira asiática de 1997 provocou um aumento expressivo do<br />

índice de desemprego na Indonésia, forçando as empresas a demitirem<br />

1,4 milhões de trabalhadores. Uma década mais tarde, o desemprego<br />

continuava a subir e a pobreza passou a dominar o contexto da economia,<br />

das relações sociais e da segurança na Indonésia. A Express Taxi, uma<br />

subsidiária do conglomerado Rajawali, e segunda maior operadora<br />

de táxis do país, lançou um programa de compra de táxis em que os<br />

taxistas conseguem, através de um esquema de arrendamento, tornar-se<br />

proprietários dos veículos. A Express Taxi usa a sua reputação e recursos<br />

próprios <strong>para</strong> garantir os empréstimos. Os motoristas são beneficiados ao<br />

receber uma renda maior. A empresa lucra com os taxistas, que cuidam<br />

dos veículos de forma responsável e permitem um fluxo de caixa mais<br />

equilibrado. A comunidade beneficia-se com taxistas que dirigem de<br />

forma mais segura, já que são donos dos próprios carros e têm acesso a<br />

cursos de direção segura oferecidos pela empresa. O caso destaca como<br />

uma empresa pode ajudar no combate à pobreza firmando parcerias<br />

de benefício mútuo com empregados de comunidades urbanas e rurais<br />

pobres.<br />

RiteMed (UniLab)<br />

Ásia e Pacífico > Filipinas<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional de país<br />

em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Elvie Grace A. Ganchero<br />

Christina V. Pavia<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O preço de mercado dos medicamentos nas Filipinas está entre os<br />

mais elevados do mundo – 40% a 70% mais do que os preços de países<br />

vizinhos, de acordo com o Departamento de Saúde das Filipinas. Alguns<br />

medicamentos chegam a custar 10 vezes mais nas Filipinas do que em<br />

outros países. Operando desde 1945, a United Laboratories, Inc. (UniLab)<br />

é a mais antiga companhia farmacêutica das Filipinas e até hoje uma<br />

das maiores. Aproveitando a oportunidade <strong>para</strong> apoiar a campanha<br />

governamental que visa disponibilizar medicamentos a preços mais baixos,<br />

a UniLab criou, em 2002, o RiteMed, uma subsidiária com a missão de<br />

comercializar e distribuir medicamentos genéricos de qualidade <strong>para</strong> os<br />

pobres. A empresa vende produtos genéricos de 20% a 75% mais baratos<br />

que os seus equivalentes de marca, obtendo lucros de $20 milhões em<br />

apenas cinco anos. O caso explora as tensões sociais, legais e estratégicas<br />

que acompanharam a iniciativa e as soluções <strong>para</strong> superá-las.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

125


Rural Electrification<br />

África Subsaariana > Mali<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Energia<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Apenas 10% dos 12 milhões de habitantes do Mali têm acesso à<br />

eletricidade. Essa facilidade é ainda mais precária nas áreas rurais –<br />

com apenas 2%-3% – onde os utensílios e aparelhos funcionam por<br />

meio de baterias de carros e a iluminação é possível com lâmpadas de<br />

querosene. Velas também são usadas <strong>para</strong> a iluminação no dia-a-dia.<br />

A Koraye Kurumba e a Yeelen Kura são duas empresas de serviços de<br />

energia rural que operam no Mali através da Électricité de France – em<br />

parceria com a NUON, companhia de energia alemã, e a francesa TOTAL,<br />

com apoio da Agência Francesa de Eficiência Energética e Ambiental. O<br />

fornecimento de eletricidade de baixo custo dessas empresas, baseado<br />

em sistemas fotovoltaicos domiciliares ou microredes de baixa voltagem<br />

abastecidas por geradores a diesel, desencadeou um grande impacto<br />

sobre o desenvolvimento. Além de melhorar os padrões de vida da<br />

população, novas atividades geradoras de renda foram desenvolvidas.<br />

O acesso à eletricidade também melhorou a qualidade dos serviços de<br />

saúde e educação. Com o apoio de uma nova estrutura institucional e de<br />

doadores internacionais, o modelo –criado <strong>para</strong> assegurar lucratividade,<br />

sustentabilidade e propriedade local – será expandido <strong>para</strong> além dos 24<br />

vilarejos e 40.000 habitantes já atendidos atualmente.<br />

Sadia<br />

América Latina e Caribe > Brasil<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional de<br />

país em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Cláudio Boechat<br />

Nísia Werneck<br />

Letícia Miraglia<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Sadia, um dos maiores produtores de alimentos congelados do mundo,<br />

é líder de mercado no Brasil, com mais de 600 produtos nos segmentos<br />

de carnes, massas, margarinas e sobremesas. A empresa também é<br />

a maior exportadora de produtos de carne do país. O Programa de<br />

Suinocultura Sustentável Sadia foi criado <strong>para</strong> reduzir as emissões de gases<br />

do efeito estufa dos mais de 3.500 produtores presentes na cadeia de<br />

fornecimento da empresa e <strong>para</strong> qualificar essa redução <strong>para</strong> o Mecanismo<br />

de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto, visando à venda dos<br />

créditos de carbono. O programa busca trazer sustentabilidade <strong>para</strong> a<br />

cadeia de fornecimento da Sadia oferecendo receita complementar através<br />

da comercialização dos créditos de carbono e da melhoria das condições<br />

de trabalho <strong>para</strong> os suinocultores. O caso detalha o uso de tecnologia<br />

inovadora e as idéias visionárias do projeto <strong>para</strong> capitalizar créditos<br />

comercializáveis a partir de novas transações de mercado.<br />

126 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Sanofi-aventis<br />

África Subsaariana<br />

Tipo de empresa<br />

Corporação multinacional<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Robert Darko Osei<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em 2001, a Sanofi-aventis, maior companhia farmacêutica da Europa e<br />

a quarta maior do mundo, deu início a uma parceria com a Organização<br />

Mundial da Saúde <strong>para</strong> combater a doença do sono e outras doenças que<br />

afetam as populações mais pobres do mundo. As primeiras conversas com<br />

a Organização Mundial da Saúde mostraram que uma simples doação<br />

de medicamentos não seria o suficiente. Apenas uma ação combinada<br />

– de doação de medicamentos, subsídios <strong>para</strong> custear programas<br />

de distribuição e mais pesquisas e desenvolvimento <strong>para</strong> melhorar<br />

tratamentos e diagnósticos – poderia criar um cenário favorável <strong>para</strong><br />

o controle da doença do sono. Ao longo dos cinco primeiros anos, 36<br />

países africanos beneficiaram-se com essa parceria. Aproximadamente<br />

110.000 vidas foram salvas. O caso examina os desafios específicos e as<br />

oportunidades que surgiram <strong>para</strong> a parceria e as inovações que tornaram<br />

a iniciativa viável. O caso demonstra, sobretudo, o papel de liderança que<br />

uma empresa privada como a Sanofi-aventis pode desempenhar ao aplicar<br />

o seu know-how e os seus recursos.<br />

SEKEM<br />

Estados Árabes > Egito<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Tarek Hatem<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Após viver na Áustria por 21 anos, Ibrahim Abouleish voltou <strong>para</strong> o seu<br />

país, o Egito, <strong>para</strong> fazer algo a respeito das dificuldades que observou<br />

durante as suas visitas. Em 1977, ele fundou a iniciativa Sekem <strong>para</strong><br />

promover o desenvolvimento social e ambiental através de atividades<br />

econômicas e culturais. O grupo Sekem compreende oito negócios: a Libra,<br />

voltada <strong>para</strong> atividades agrícolas, a Mizan, <strong>para</strong> sementes orgânicas, a<br />

Hator, <strong>para</strong> frutas e verduras frescas, a Lótus <strong>para</strong> ervas e condimentos, a<br />

Isis <strong>para</strong> alimentos e bebidas orgânicas (pães, laticínios, óleos, temperos<br />

e chás), a Conytex, <strong>para</strong> a produção de algodão orgânico e fabricação de<br />

tecidos, a Atos, <strong>para</strong> produtos farmacêuticos, e a Ecoprofit (ainda em fase<br />

de desenvolvimento) <strong>para</strong> a gestão sustentável. Os esforços da Sekem<br />

contribuíram muito– no âmbito econômico, social e cultural – <strong>para</strong> a<br />

comunidade egípcia. Com 2.000 empregados e 850 produtores rurais de<br />

pequeno porte terceirizados, a Sekem introduziu a agricultura orgânica<br />

em cerca de 3.500 hectares de terra em 2005, beneficiando diretamente<br />

25.000 pessoas. O caso detalha cada unidade operacional e o seu impacto<br />

no contexto da iniciativa.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

127


SIWA<br />

Estados Árabes > Egito<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Ecoturismo<br />

Autor(es)<br />

Tarek Hatem<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em 1998, a firma de consultoria ambiental EQI, sediada no Cairo, começou<br />

a investir no oásis egípcio de Siwa, através de uma série de iniciativas<br />

comunitárias. A Iniciativa Siwa de Desenvolvimento Sustentável, liderada<br />

pelo setor privado, promove a contratação de trabalhadores locais,<br />

aplicando sistemas tradicionais de construção e gestão ambiental e<br />

utilizando matéria-prima local. Em Siwa, o portfólio de empreendimentos<br />

da EQI inclui três chalés, um programa de artesanato local, a produção<br />

e o cultivo orgânico e projetos artísticos comunitários. Atualmente, 75<br />

habitantes de Siwa são empregados em tempo integral nas empresas da<br />

EQI e, em geral, surgem a cada mês 310 oportunidades de geração de<br />

renda <strong>para</strong> a comunidade. O caso destaca os desafios e as oportunidades<br />

criadas por vários programas que visam amenizar a miséria, melhorar as<br />

condições de vida e atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.<br />

Smart Communications<br />

Ásia e Pacífico > Filipinas<br />

Tipo de Empresa<br />

Corporação multinacional de<br />

país em desenvolvimento<br />

Setor<br />

Tecnologia de informação e<br />

comunicação/Serviços financeiros<br />

Autor(es)<br />

Elvie Grace Ganchero<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A Smart Communications Inc., líder em serviços de telefonia móvel nas<br />

Filipinas, observou que cerca de 8 milhões de filipinos trabalham e vivem<br />

no exterior – o que corresponde a um quarto da mão-de-obra doméstica.<br />

Em 2005, os trabalhadores filipinos no exterior enviaram $10,7 milhões<br />

em remessas. De acordo com estimativas, pelo menos a mesma quantia<br />

foi enviada através de canais informais. Como conseqüência, a Smart foi<br />

pioneira em criar formas mais baratas, rápidas e convenientes de enviar<br />

remessas usando a tecnologia de serviço de mensagens curtas (SMS). Essa<br />

e outras inovações permitem à Smart atender trabalhadores pobres no<br />

exterior e suas famílias, com baixos custos <strong>para</strong> transferências de dinheiro,<br />

entre 1%-8%, com<strong>para</strong>dos às taxas de 10%-35% dos outros bancos.<br />

Trabalhadores no exterior passam a ter mais renda líquida, maximizando<br />

o seu poder de compra <strong>para</strong> alimentar, vestir, educar e fornecer moradia<br />

<strong>para</strong> milhões de famílias filipinas. Para a Smart, os rendimentos de $6<br />

milhões em 2006 encorajaram uma estratégia mais abrangente <strong>para</strong><br />

atender a população de baixa renda, acelerando o seu notável crescimento,<br />

que passou de 191.000 inscritos em 1999 <strong>para</strong> mais de 2,6 milhões em<br />

2000 e cerca de 24,2 milhões no final de 2006.<br />

128 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Sulabh<br />

Ásia e Pacífico > Índia<br />

Tipo de empresa<br />

Organização sem fins<br />

lucrativos<br />

Setor<br />

Água/Saneamento<br />

Autor(es)<br />

Prabakar Kothandaraman<br />

Vidya Vishwanathan<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A maioria dos sanitários feitos na Índia no decorrer do século 20 foram<br />

latrinas secas com um sistema de descarga alimentado por água, devido<br />

ao alto custo dos sistemas de descarga convencionais e da falta de água.<br />

Além disso, muitos deles não possuíam saneamento apropriado. Em 2003,<br />

o Ministério Indiano <strong>para</strong> a Justiça Social registrou 676.000 limpadores<br />

de excrementos no país – a maioria mulheres, que coletavam dejetos<br />

humanos <strong>para</strong> viver.<br />

Desde 1970, a Sulabh International vem trabalhando <strong>para</strong> que pessoas<br />

deixem de viver como limpadores de dejetos na Índia, utilizando uma<br />

tecnologia de saneamento segura e de baixo custo. Ao longo de três<br />

décadas a Sulabh construiu um modelo de negócios comercialmente<br />

viável – com impactos significativos sobre o desenvolvimento do país.<br />

Ela desenvolveu 26 tipos de sanitários <strong>para</strong> diferentes orçamentos e<br />

localidades, treinando 19.000 pedreiros na construção de fossas duplas<br />

de baixo custo e usando materiais disponíveis localmente. A organização<br />

também instalou mais de 1,4 milhões de módulos sanitários e mantém<br />

mais de 6.500 instalações públicas. A tecnologia da Sulabh já livrou<br />

60.000 pessoas de viverem como limpadores e ofereceu programas <strong>para</strong><br />

reintegrá-los à sociedade.<br />

The HealthStore Foundation<br />

África Subsaariana > Quênia<br />

Tipo de empresa<br />

Organização sem fins<br />

lucrativos<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Winifred Karugu<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Para prevenir mortes desnecessárias e doenças como a malária e a diarréia<br />

com o melhoramento sustentável do acesso a medicamentos básicos, um<br />

advogado americano e um farmacêutico queniano fundaram a HealthStore<br />

Foundation, uma franqueadora com fins lucrativos focada no bem-estar de<br />

crianças e famílias, que conta com microfarmácias e clínicas localizadas<br />

em áreas rurais pobres e favelas urbanas do Quênia. A Fundação opera<br />

nos moldes de uma franquia comum, selecionando os franqueados<br />

(enfermeiros e trabalhadores de saúde nas comunidades), oferecendo<br />

uma marca comum, uma rede logística, desenvolvimento profissional,<br />

treinamento e se certificando constantemente do cumprimento de regras<br />

e regulamentações. As lojas e as clínicas franqueadas oferecem acesso<br />

a serviços de saúde altamente necessários e a baixo custo, e ao mesmo<br />

tempo geram renda o bastante <strong>para</strong> remunerar os franqueados e os seus<br />

empregados com salários anuais competitivos.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

129


Tiviski Dairy<br />

África Subsaariana > Mauritânia<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Agricultura/Alimentos<br />

Autor(es)<br />

Mamadou Gaye<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Fundada em 1987 por Nancy Abeiderrahmane, na Mauritânia – uma<br />

árida nação no deserto, onde a maioria dos seus 3 milhões de habitantes<br />

vivem como pastores nômades, cuidando de camelos, ovelhas, cabras e<br />

gado – a Tiviski é a primeira produtora de laticínios e leite de camelo da<br />

África. Atualmente, a companhia também processa leite de vaca e de cabra<br />

<strong>para</strong> o consumo doméstico. A Tiviski recebe todo o seu leite dos pastores<br />

seminômades, permitindo-lhes obter uma renda ao mesmo tempo em que<br />

mantém o estilo de vida tradicional dos pastores. Leite de camelo fresco<br />

e outros produtos derivados substituíram os laticínios importados da<br />

Europa, incrementando a economia da Mauritânia. Os sucessos recentes<br />

apresentaram um desafio inesperado: convencer a Comunidade Européia<br />

de importar os laticínios de camelo da Tiviski. O caso relata a história<br />

inspiradora de uma empreendedora que superou obstáculos logísticos e<br />

culturais <strong>para</strong> estabelecer uma cadeia de valor inovadora como base <strong>para</strong><br />

um empreendimento viável.<br />

Tsinghua Tongfang (THTF)<br />

Ásia e Pacífico > China<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Tecnologia de informação e<br />

comunicação<br />

Autor(es)<br />

Ronglin Li<br />

Tracy Zhou<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

A China possui a maior população agrícola do mundo – 900 milhões de<br />

pessoas. Mas os chineses rurais têm muito menos acesso e conhecimento<br />

sobre computadores do que os seus conterrâneos urbanos. Essa exclusão<br />

digital inibe o desenvolvimento humano nas áreas rurais, impedindo<br />

o desenvolvimento econômico do país. A Tsinghua Tongfang, uma<br />

empresa de tecnologia de ponta em informática sediada em Pequim,<br />

firmou uma parceria com o governo municipal <strong>para</strong> desenvolver o<br />

computador Changfeng, criado <strong>para</strong> o usuário rural. Características<br />

importantes tornaram o produto mais acessível <strong>para</strong> a população rural<br />

do que o computador padrão: um sistema operacional de baixo custo,<br />

softwares específicos e hardware baseado em pesquisas extensas sobre<br />

as necessidades dos usuários rurais, além de inovadores centros de<br />

treinamento <strong>para</strong> os agricultores. O software inclui programas agrícolas<br />

que fornecem aos produtores rurais orientações sobre negócios e<br />

conhecimentos especializados. O caso examina como o setor público<br />

e privado uniram-se <strong>para</strong> gerar benefício mútuo: a Tsinghua Tongfang<br />

penetrou o inexplorado mercado de computação rural e o governo<br />

promoveu os seus objetivos de desenvolvimento digital nas áreas rurais.<br />

130 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


VidaGás<br />

África Subsaariana > Moçambique<br />

Tipo de empresa<br />

Pequena ou média empresa<br />

local<br />

Setor<br />

Saúde<br />

Autor(es)<br />

Courteney Sprague<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

Em um país com apenas 500 médicos <strong>para</strong> quase 20 milhões de habitantes,<br />

iniciativas que promovem o acesso da população rural aos serviços de saúde<br />

têm uma enorme demanda, mas pouca oferta. No norte de Moçambique,<br />

o grande desafio das clínicas de saúde é a falta de energia <strong>para</strong> iluminar<br />

as salas de operação e garantir a refrigeração constante das vacinas. Com<br />

menos de 2% das casas conectadas a uma rede elétrica, muitos dependem<br />

de lenha e carvão <strong>para</strong> cozinhar, aumentando as infecções respiratórias,<br />

complicações na gravidez e degradação das florestas.<br />

Nesse contexto, em 2002, foi formada uma parceria <strong>para</strong> lançar um projeto<br />

piloto <strong>para</strong> levar energia <strong>para</strong> essa região. A parceria contou com a ajuda<br />

de um antigo ministro da educação que se dedicou à saúde infantil, uma<br />

organização sem fins lucrativos que fornece medicamentos (sediada em<br />

Seattle), filantropos dispostos a fornecer financiamento inicial <strong>para</strong> o projeto,<br />

o Ministério da Saúde de Moçambique, o governador da região piloto e a<br />

Fundação <strong>para</strong> o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), uma fundação<br />

comunitária altamente familiarizada com as complexas necessidades de<br />

desenvolvimento do país. Como resultado dessa parceria, a VillageReach e a<br />

FDC introduziram uma cadeia fria moderna e substituíram os refrigeradores<br />

movidos a querosene dos locais mais remotos por refrigeradores eficientes<br />

movidos a gás petrolífero liquefeito. O caso concentra-se no fornecimento de<br />

gás petrolífero liquefeito (GPL), <strong>para</strong> empresas e moradores, pela VidaGás,<br />

uma companhia com fins lucrativos pertencente e operada por duas<br />

organizações não-governamentais na tentativa de desenvolver um modelo de<br />

negócio viável.<br />

Votorantim Celulose e Papel (VCP)<br />

América Latina e Caribe > Brasil<br />

Tipo de empresa<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte<br />

Setor<br />

Agricultura<br />

Autor(es)<br />

Cláudio Boechat<br />

Roberta Mokrejs Paro<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio atingidos<br />

O Brasil sofre com a disparidade entre a riqueza e a miséria, especialmente<br />

nas áreas rurais. Apesar das recentes políticas governamentais de apoio<br />

aos assentamentos rurais através do programa de reforma agrária, o<br />

desencontro entre as demandas sociais e a capacidade do estado de<br />

responder às necessidades da população rural continuam sendo um<br />

problema. A Votorantim Celulose e Papel (VCP), uma grande empresa do<br />

segmento de celulose e papel, conduziu uma grande expansão florestal no<br />

Rio Grande do Sul, e <strong>para</strong> isso desenvolveu um modelo de negócio que inclui<br />

as comunidades locais como parceiras na produção de eucalipto. Através<br />

do Programa Poupança Florestal da VCP, o ABN AMRO Real fornece aos<br />

agricultores os recursos financeiros <strong>para</strong> a plantação do eucalipto (apoiados<br />

pela garantia de compra da madeira pela VCP). A VCP fornece as mudas<br />

e a assistência técnica, comprometendo-se a comprar a madeira após sete<br />

anos a um preço justo. O caso examina o modelo de negócios da VCP – que<br />

visa alcançar objetivos de crescimento desafiadores <strong>para</strong> triplicar a receita<br />

e ao mesmo tempo contribuir <strong>para</strong> a inclusão sócioeconômica de uma<br />

comunidade rural pobre.<br />

Anexo 1. Banco de Estudos de Caso<br />

131


Anexo 2 – Metodologia de pesquisa<br />

dos estudos de caso<br />

Este relatório baseia-se na análise de 50 estudos<br />

de caso. O desenvolvimento da estrutura<br />

analítica e das mensagens do relatório seguiu<br />

uma abordagem indutiva. A questão principal<br />

é: como fazer negócios com os pobres gerando<br />

benefícios tanto <strong>para</strong> eles (os pobres) quanto<br />

<strong>para</strong> as empresas. A abordagem <strong>para</strong> identificar<br />

as estratégias de negócio que funcionam<br />

foi aprender com as empresas que já estão<br />

incluindo os pobres de maneira bem-sucedida.<br />

O objetivo foi identificar padrões e critérios a<br />

partir dos estudos de caso individuais, sem se<br />

ater a qualquer hipótese pré-concebida.<br />

A metodologia de pesquisa pode ser descrita<br />

como uma pesquisa de múltiplos estudos de<br />

caso, seguindo os quatro estágios definidos por<br />

Yin (1994):<br />

Projetar os estudos de caso<br />

Conduzir os estudos de caso<br />

Analisar as evidências<br />

Interpretar as descobertas <strong>para</strong> desenvolver<br />

conclusões, recomendações e implicações<br />

A pesquisa foi guiada pelos princípios gerais da<br />

Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos:<br />

foco nos países em desenvolvimento, ênfase<br />

na essência dos negócios, uma abordagem<br />

do desenvolvimento humano orientada pelos<br />

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e<br />

uma abordagem de parceria multistakeholder.<br />

A pesquisa partiu de uma perspectiva do<br />

setor privado, considerando as oportunidades,<br />

desafios e soluções <strong>para</strong> se fazer negócios com<br />

os pobres no contexto de pequenas, médias ou<br />

grandes empresas, operando na esfera local,<br />

nacional ou global. Embora as microempresas<br />

não sejam o foco principal, muitos dos modelos<br />

de negócio apresentados neste relatório<br />

incluem os pobres como microempreendedores.<br />

A sociedade civil e os governos têm papéis<br />

importantes a desempenhar – mas são<br />

abordados aqui apenas na medida em que<br />

interagem com o setor privado.<br />

A projeção dos estudos de caso. A pesquisa<br />

foi delineada com base em múltiplos estudos<br />

de caso. O protocolo de estudo foi desenvolvido<br />

através de um processo colaborativo entre a<br />

equipe de pesquisa e os autores dos estudos<br />

de caso. Dos 18 autores, apenas três não são<br />

dos países ou da região referente aos casos<br />

que estudaram, mantendo, dessa forma, a<br />

perspectiva do país em desenvolvimento. A<br />

equipe de pesquisa definiu as questões de<br />

pesquisa e os estudos de caso.<br />

As questões de pesquisa foram definidas<br />

com base nos princípios norteadores e com<br />

a colaboração de <strong>todos</strong> os participantes do<br />

projeto de pesquisa (Quadro A2.1).<br />

Os 50 estudos de caso foram selecionados<br />

entre 400 casos possíveis. Os casos<br />

selecionados precisavam descrever modelos<br />

de negócio que incluem os pobres de formas<br />

lucrativas e que claramente promovem o<br />

desenvolvimento humano. Além disso, eles<br />

precisavam representar uma ampla gama de<br />

países, indústrias e tipos de negócio. Os casos<br />

selecionados representam mais de 9 tipos<br />

de indústrias e 13 países que abrangem a<br />

África, Ásia e Pacífico, Europa Oriental e CEI, e<br />

América Latina e Caribe (figura A2.1).<br />

A condução dos estudos de caso. Os<br />

autores dos estudos conduziram suas pesquisas<br />

baseando-se em um protocolo comum. Para<br />

quase <strong>todos</strong> os casos, pesquisas prévias foram<br />

realizadas, inclusive pesquisas de campo.<br />

A triangulação de informações foi obtida<br />

através de entrevistas com uma variedade de<br />

stakeholders e o uso de dados quantitativos. Os<br />

estudos de casos passaram por um processo<br />

de revisão interativa com uma equipe de<br />

coordenadores de pesquisa, <strong>para</strong> assegurar<br />

uma estrutura consistente e a qualidade em<br />

<strong>todos</strong> os 50 casos.<br />

A análise das evidências. O protocolo<br />

comum possibilitou a análise sistemática dos<br />

estudos de caso e a procura por padrões. Cada<br />

caso foi cuidadosamente analisado, destacandose<br />

as informações sobre os benefícios <strong>para</strong> os<br />

negócios bem como <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

humano e os obstáculos e soluções<br />

apresentadas em cada modelo de negócio. Os<br />

resultados foram armazenados em um banco de<br />

dados através de breves descrições.<br />

Com base nessas descrições, categorias<br />

comuns foram desenvolvidas. Obstáculos e<br />

soluções foram agrupados de acordo com<br />

temas em comum.<br />

Anexo 2. Metodologia de pesquisa dos estudos de caso<br />

133


Quadro A2.1. Questões de pesquisa dos<br />

estudos de caso<br />

Tipo 1. Inovações, desafios e oportunidades<br />

Questão 1. Quais foram as inovações mais importantes (do setor privado ou público) que criaram<br />

um cenário “ganha-ganha” entre o modelo da empresa e os interesses dos pobres (Essas inovações<br />

podem estar presentes no âmbito social, financeiro, tecnológico, legal, regulamentar ou outros.)<br />

Questão 2. Quais foram os desafios superados <strong>para</strong> alcançar esse cenário “ganha-ganha” (Esses<br />

desafios podem ser sociais, financeiros, tecnológicos, legais, regulamentares, relacionados a aspectos<br />

culturais ou psicológicos, como opiniões e crenças, ou outros)<br />

Questão 3. Considerando os impactos das inovações, como os resultados de desenvolvimento<br />

<strong>para</strong> os pobres e os benefícios <strong>para</strong> os negócios foram otimizados (Essas inovações podem estar<br />

relacionadas a um empreendimento ou a um fenômeno externo ao negócio como, por exemplo,<br />

uma cadeia de fornecimento.)<br />

Questão 4. Quais oportunidades o empreendedor, a empresa e os seus stakeholders estão<br />

buscando (As motivações do empreendedor podem ser sociais, psicológicas, financeiras ou outras)<br />

Tipo 2. Inovações, adaptações e crescimento<br />

Questão 5. Quais foram, ou poderiam ser, as inovações mais importantes (no setor privado ou<br />

público) que permitiram, ou poderiam permitir, o crescimento do modelo de negócio com<br />

benefícios significativos <strong>para</strong> os pobres e <strong>para</strong> a empresa (Essas inovações podem estar no âmbito<br />

social, financeiro, tecnológico, legal, regulamentar, cultural ou psicológico, como opiniões e crenças,<br />

ou outros)<br />

Questão 6. Quais foram, ou são, as opções de adaptação, replicação ou de crescimento<br />

apresentadas, ou disponíveis, <strong>para</strong> esse modelo de empreendimento (Elas podem ser sociais,<br />

financeiras, tecnológicas, legais, regulamentares, culturais ou psicológicas, como opiniões e crenças<br />

ou outras)<br />

Tipo 3. Modelos de negócio e desenvolvimento<br />

Questão 7. Qual o modelo de negócio empregado nesse caso (A descrição do modelo de negócio<br />

deve incluir as propostas de <strong>valores</strong> <strong>para</strong> <strong>todos</strong> os grupos interessados, incluindo consumidores,<br />

empregados, investidores e os pobres, independente do seu papel)<br />

Questão 8. Qual o modelo de desenvolvimento (Devendo constar como os pobres estão<br />

envolvidos no empreendimento – como empregados, empreendedores, consumidores ou outros<br />

– e em que estão focados os impactos – sobre necessidades não atendidas, capacitação econômica<br />

ou sobre parte do negócio voltado <strong>para</strong> o consumidor ou <strong>para</strong> o mercado business-to-business; e<br />

suas conexões com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, quando relevantes.)<br />

Questão 9. Parcerias ou redes foram elementos importantes <strong>para</strong> vincular o modelo de negócio<br />

ao modelo de desenvolvimento (Podem constar associações formais ou informais com os<br />

pobres, comunidades locais ou similares, agências de desenvolvimento bilaterais ou multilaterais,<br />

governos nacionais ou locais, organizações não-governamentais, pequenas ou médias empresas,<br />

consumidores, instituições acadêmicas, etc.)<br />

Questão 10. Quais os impactos diretos do negócio sobre os pobres e sobre o alcance dos Objetivos<br />

de Desenvolvimento do Milênio (Sempre que possível precisamos de dados quantitativos e<br />

qualitativos, e de descrições qualitativas em relação a aspectos intangíveis, tais como capacitação,<br />

equidade, autoconfiança, entre outros. Liste os benefícios diretos <strong>para</strong> os pobres, tais como geração<br />

de empregos, renda, investimentos, aumento de acesso e disponibilidade. Observe também<br />

qualquer outro impacto mais abrangente, relativo à igualdade entre os sexos, sustentabilidade<br />

ambiental, e a relevância do mesmo <strong>para</strong> Objetivos de Desenvolvimento do Milênio específicos)<br />

Como o foco da pesquisa era identificar meios<br />

de fazer negócios com os pobres, apenas os<br />

obstáculos específicos aos contextos da miséria<br />

foram considerados. A eles nos referimos como<br />

“obstáculos estruturais”, porque surgem a partir<br />

de condições estruturais específicas a vilarejos<br />

rurais ou favelas urbanas onde vivem os pobres.<br />

Obstáculos típicos das empresas como aqueles<br />

relacionados ao foco em um novo grupo de<br />

consumidores ou ao fato de começar um negócio<br />

em um ambiente competitivo foram deixados<br />

de fora. (Os 50 estudos de casos apresentam<br />

uma fonte valiosa de informação sobre obstáculos<br />

típicos ao se fazer negócios com os pobres; os<br />

casos estão disponíveis on-line <strong>para</strong> maiores<br />

análises.) Dessa forma, surgiu um padrão em que<br />

<strong>todos</strong> os desafios estruturais observados poderiam<br />

ser agrupados em cinco áreas de obstáculos<br />

e todas as inovações também poderiam ser<br />

classificadas dentro de cinco soluções estratégicas.<br />

Além disso, o inventário de casos inclui exemplos<br />

<strong>para</strong> cada combinação de uma das cinco áreas de<br />

obstáculos com uma das cinco áreas de soluções<br />

estratégicas.<br />

134 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Tais conexões podem ser observadas em uma<br />

matriz de obstáculos e estratégias. Essa matriz<br />

consiste na estrutura analítica do relatório.<br />

A interpretação dos resultados <strong>para</strong><br />

o desenvolvimento de conclusões,<br />

recomendações e implicações. Para<br />

interpretar o que foi encontrado, os estudos<br />

de casos foram considerados dentro de<br />

um contexto abrangente de teoria do<br />

desenvolvimento e estratégia de negócios, com<br />

o foco sobre consumidores e produtores pobres.<br />

Revisões da pesquisa sobre a interrelação<br />

entre os mercados e a miséria (palavraschave<br />

incluem “crescimento pró-pobres”,<br />

“mercados pró-pobres” e “fazendo os mercados<br />

funcionarem <strong>para</strong> os pobres”) levaram em conta<br />

as áreas de obstáculos identificadas como barreiras<br />

importantes à inclusividade dos mercados. Uma análise<br />

de artigos e publicações atuais sobre as estratégias e<br />

atividades de negócio que incluem os pobres mostrou<br />

que eles têm a tendência de considerar as imperfeições<br />

dos mercados <strong>para</strong> entender e desenvolver modelos<br />

de negócios inclusivos. A análise reúne duas correntes<br />

de pesquisa ao destacar a importância de transformar<br />

as condições dos mercados e apontar as estratégias<br />

que os negócios podem usar <strong>para</strong> lidar com isso. Nesse<br />

sentido, a análise apresentada neste relatório baseia-se<br />

em pesquisas que vêm sendo desenvolvidas – sobre<br />

como incluir mais pessoas no mercado global e, dessa<br />

forma, contribuir <strong>para</strong> o desenvolvimento humano e<br />

o crescimento econômico – e também fornece a sua<br />

contribuição <strong>para</strong> as mesmas.<br />

Figura A2.1. Distribuição dos estudos de caso por região, setor e tipo de empresa<br />

Região<br />

Setor<br />

Tipo de<br />

empresa<br />

Regiões diversas: 1<br />

Europa e CEI: 4<br />

Estados árabes: 3<br />

Ásia e Pacífico: 12<br />

Outros (tratamento de<br />

resíduos, transportes): 2<br />

Habitação: 3<br />

Turismo: 2<br />

Têxtil: 2<br />

Tecnologia de<br />

informação e<br />

comunicação: 5<br />

Organização sem<br />

fins lucrativos: 3<br />

Pequenas e médias<br />

empresas locais: 21<br />

Serviços financeiros: 7<br />

América Latina e Caribe: 10<br />

Saúde: 6<br />

Energia: 4<br />

Empresa nacional de<br />

grande porte: 10<br />

Água e saneamento: 7<br />

África: 20<br />

Agricultura/alimentos: 12<br />

Corporação<br />

multinacional do sul: 9<br />

Corporação<br />

multinacional do<br />

norte: 7<br />

Anexo 2. Metodologia de pesquisa dos estudos de caso<br />

135


A n e x o 3 . S o b r e o s m a p a s<br />

g r á f i c o s d e m e r c a d o<br />

Os mapas gráficos de mercado são ilustrações simples da extensão em que os pobres estão<br />

engajados nos mercados ou quão inclusivos os mercados são em relação aos pobres.<br />

Esses mapas fornecem representações gráficas do acesso de pessoas pobres a bens e serviços<br />

nos setores selecionados – educação, água, microfinanças e outros – e informações sobre como<br />

esses bens e serviços estão sendo fornecidos. Em cada mapa gráfico, uma parcela maior de<br />

consumidores pobres sendo servidos é representada por cores mais fortes na figura; enquanto<br />

cores fracas mostram que a maior parte dos pobres está excluída do mercado.<br />

Quando focados na demanda, os mapas gráficos de mercado mostram a natureza e a extensão<br />

do acesso do consumidor a bens e serviços vitais <strong>para</strong> o desenvolvimento humano nas dimensões<br />

espaciais de um determinado país, assim como a presença (ou não) de uma variedade de atores<br />

no âmbito da oferta. Sob a perspectiva da produção, os mapas gráficos de mercado também<br />

ilustram como os mercados são inclusivos <strong>para</strong> os pobres como produtores (empreendedores ou<br />

fornecedores de mão-de-obra). 1<br />

PARA QUE SERVEM OS MAPAS GRÁFICOS<br />

D E M E R C A D O <br />

O mapeamento geográfico da pobreza tem sido<br />

usado principalmente por atores do setor público<br />

e entidades sem fins lucrativos <strong>para</strong>:<br />

destacar variações geográficas da pobreza;<br />

projetar e orientar intervenções;<br />

localizar e coordenar áreas prioritárias <strong>para</strong><br />

programas e atividades operacionais;<br />

determinar onde é melhor alocar recursos;<br />

monitorar e avaliar operações;<br />

aumentar a transparência e a responsabilidade<br />

social.<br />

A ferramenta é usada <strong>para</strong> operações de redução<br />

da pobreza, <strong>para</strong> provisão de infra-estrutura e<br />

<strong>para</strong> coordenação em crises humanitárias (Quadro<br />

A3.1).<br />

A Iniciativa Desenvolvendo Mercados<br />

Inclusivos está produzindo seus próprios mapas<br />

gráficos de mercado como uma ferramenta<br />

complementar ao mapeamento geográfico da<br />

pobreza.<br />

Os pesquisadores responsáveis pela<br />

elaboração dos mapas gráficos usam os<br />

mesmos bancos de dados em que são baseados<br />

os mapeamentos da pobreza (pesquisas sobre<br />

habitação, mão-de-obra, etc.).<br />

Esse uso criativo da ferramenta de<br />

mapeamento da pobreza poderá provocar o<br />

interesse dos atores do setor privado, pois os<br />

mapas gráficos oferecem uma compreensão<br />

útil sobre as atividades econômicas dos pobres<br />

– especialmente daqueles que moram em áreas<br />

distantes, onde freqüentemente a informação<br />

não está disponível. Os mapas gráficos<br />

podem agregar valor aos negócios de quatro<br />

maneiras:<br />

Avaliando a inclusividade do mercado.<br />

Clarificando estruturas de fornecimento.<br />

Revelando demandas não atendidas dos<br />

pobres enquanto consumidores.<br />

Revelando oportunidades não realizadas<br />

<strong>para</strong> incluir os pobres como produtores.<br />

Anexo 3. Sobre os mapas gráficos de mercado<br />

137


Quadro A3.1. Exemplos de<br />

iniciativas de mapeamento<br />

geográfico da pobreza<br />

A iniciativa da WaterAid <strong>para</strong> o mapeamento<br />

do fornecimento de água e saneamento<br />

A instituição internacional beneficente<br />

WaterAid, sediada na Grã-Bretanha, usa<br />

o mapeamento geográfico <strong>para</strong> ilustrar<br />

a dimensão espacial de fornecimento de<br />

água e saneamento. Os mapas apresentam<br />

informações sobre a disponibilidade e<br />

qualidade dos recursos de água, assim como<br />

o acesso, a demanda e o uso da água e dos<br />

serviços de saneamento. Além de ajudar a<br />

aumentar a responsabilização pública <strong>para</strong><br />

a distribuição de serviços básicos, os mapas<br />

também podem facilitar o desenvolvimento<br />

local de instrumentos de apoio. A WaterAid<br />

usou várias formas de mapeamento do<br />

fornecimento de água e serviços sanitários na<br />

Ásia e na África subsaariana (ODI 2007 e www.<br />

wateraid.org).<br />

A utilização do mapeamento da pobreza pela<br />

Fundação pela Paz e Igualdade<br />

A Fundação pela Paz e Igualdade, nas<br />

Filipinas, pratica o mapeamento da pobreza<br />

<strong>para</strong> localizar áreas prioritárias <strong>para</strong> o seu<br />

programa de redução da pobreza. Em 2003,<br />

baseando-se em informação de indicadores<br />

de desenvolvimento, tais como renda, saúde e<br />

educação, a Fundação ajudou a identificar 28<br />

províncias prioritárias nas Filipinas. Em alguns<br />

casos, ela também conduziu exercícios de<br />

mapeamento da pobreza na cidade, <strong>para</strong> mais<br />

adiante especificar o enfoque geográfico e<br />

temático de suas operações.<br />

(www.peacefdn.org/poverty.php).<br />

Programa Google Earth de longo alcance e<br />

o Alto Comissariado das Nações Unidas <strong>para</strong><br />

Refugiados (ACNUR)<br />

O Alto Comissariado das Nações Unidas<br />

<strong>para</strong> Refugiados (ACNUR) usa o programa<br />

de mapeamento virtual do Google Earth<br />

<strong>para</strong> revelar uma das maiores crises de<br />

deslocamento forçado do mundo e <strong>para</strong><br />

divulgar o trabalho humanitário de ajuda aos<br />

refugiados da Agência. O programa de longo<br />

alcance leva o usuário da internet a uma<br />

viagem virtual pela realidade de áreas distantes<br />

do Chade, da Colômbia, do Iraque e da região<br />

de Darfur, no Sudão. Mapas de satélites, fotos<br />

e vídeos informam o usuário sobre a vida<br />

diária dos refugiados e das pessoas deslocadas<br />

vivendo nessas áreas, sobre o impacto da crise<br />

em países vizinhos e sobre as operações do<br />

ACNUR. O programa deverá também servir<br />

como uma ferramenta de planejamento<br />

logístico do ACNUR <strong>para</strong> melhor coordenar as<br />

operações no local. (Batty 2008 e WWW.unhcr.<br />

org/events/47f48dc92.html)<br />

C O M O S Ã O E L A B O R A D O S<br />

O S M A P A S G R Á F I C O S D E<br />

MERCADO<br />

Existem três etapas principais na elaboração de um<br />

mapa gráfico de mercado: medir o número total de<br />

consumidores pobres possíveis; medir o número<br />

total de consumidores pobres com acesso a bens ou<br />

serviços e identificar e medir as contribuições de<br />

diferentes atores no âmbito do fornecimento.<br />

Etapa 1. Medir a demanda possível de bens e<br />

serviços dentro de um mercado<br />

Inúmeras são as formas de abordagem, já que<br />

métricas diferentes são adequadas dependendo<br />

do mercado a ser examinado. Como ponto<br />

de partida <strong>para</strong> refletir a demanda do pobre,<br />

é preciso considerar o número total de<br />

consumidores pobres potenciais no mercado.<br />

Etapa 2. Medir o acesso a bens e serviços dos<br />

possíveis consumidores pobres<br />

O acesso pode ser interpretado de diversas<br />

maneiras e com referência a diferentes questões<br />

(como acessibilidade econômica ou proximidade<br />

geográfica). Para os mapas gráficos, a medida<br />

de acesso utilizada é o número de indivíduos<br />

ou famílias pobres consumindo ou usando um<br />

determinado bem ou serviço.<br />

Etapa 3. Fornecer informações adicionais<br />

Esta última etapa remaneja as informações da<br />

etapa 2. Ela fornece informações adicionais das<br />

participações relativas de diferentes agentes que,<br />

juntos, constituem o fornecimento total atual.<br />

Os mapas gráficos de mercado podem ser ainda<br />

mais específicos quando levam em conta grupos<br />

exatos de população e mercados em particular.<br />

Várias medições sobre o tamanho de uma população<br />

pobre podem ser usadas, dependendo do limite<br />

de receita usado <strong>para</strong> definir essa população. Para<br />

os mapas gráficos da Iniciativa Desenvolvendo<br />

Mercados Inclusivos, “pessoas pobres” são definidas<br />

como aquelas ganhando menos de $2 por dia em<br />

termos de paridade de poder de compra (uma linha<br />

de pobreza internacional amplamente utilizada).<br />

Sob a perspectiva do desenvolvimento humano,<br />

é importante focar, especialmente, em dois tipos de<br />

mercados:<br />

Mercados de bens e serviços que poderiam<br />

ajudar a satisfazer as necessidades básicas<br />

humanas e, portanto, teriam a capacidade de<br />

melhorar diretamente o bem-estar das pessoas<br />

pobres e dar suporte as suas mais amplas<br />

aptidões humanas (por exemplo, água, moradia<br />

e saúde).<br />

Mercados de bens e serviços que poderiam ser<br />

cruciais <strong>para</strong> oferecer oportunidades <strong>para</strong> o<br />

pobre melhorar seu padrão de vida, aumentar<br />

138 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


sua renda e expandir as suas escolhas (por<br />

exemplo, mercados de trabalho, mercados de<br />

crédito, mercados de seguros ou mercados de<br />

tecnologia da informação e comunicação).<br />

A melhoria do acesso à água potável<br />

segura no Haiti. O acesso à água potável<br />

segura em alguns países é distribuído muito<br />

irregularmente. Essa irregularidade reflete, em<br />

parte, desigualdades absolutas de acesso entre o<br />

pobre e o não pobre. Mas também reflete outros<br />

fatores. Por exemplo, áreas rurais tendem a perder<br />

<strong>para</strong> áreas urbanas com relação ao acesso à água.<br />

Há dois anos, um estudo reportou que em países em<br />

desenvolvimento 8% da população urbana e 30% da<br />

população rural não tinham acesso a fontes de água<br />

potável. 2<br />

Um mapa gráfico de mercado (figura A3.1)<br />

fornece dados sobre o acesso à água da população<br />

pobre do Haiti em diferentes regiões do país. O<br />

acesso à água, nesse caso particular, inclui tanto o<br />

acesso à água encanada de fontes privadas (dentro e<br />

fora de casa, incluindo poços dentro de casa) quanto<br />

à água encanada pública. As sombras mais escuras<br />

representam maior acesso.<br />

Figura A3.1. Mapa gráfico do<br />

acesso à água no Haiti em 2001<br />

Fontes de água disponíveis <strong>para</strong> famílias vivendo<br />

com menos de $2 por dia, em 2001 (%)<br />

Urbanas<br />

Rurais<br />

Mapa gráfico de mercado:<br />

Acesso à água no Haiti (%)<br />

Famílias com renda per capita de<br />

menos de $2 por dia, em 2001<br />

Poço, rio ou lago,<br />

chuva, outros<br />

Nota: O acesso à água inclui tanto o acesso à água encanada de fontes<br />

privadas (dentro e fora de casa, incluindo poços dentro de casa) quanto à<br />

água encanada pública. As sombras mais escuras representam maior acesso.<br />

Fonte: Baseada no Institut Haïtien de Statistique et d’ Informatique 2001.<br />

Mapa produzido por OCHA ReliefWeb.<br />

Água transportada em<br />

caminhões-cisterna,<br />

água engarrafada, água<br />

transportada em balde<br />

Água encanada<br />

Anexo 3. Sobre os mapas gráficos de mercado<br />

139


Os dados sobre os fornecedores de serviços<br />

de água, apresentados no mapa gráfico de<br />

mercado, também revelam outros fatores sobre<br />

o fornecimento de água potável no Haiti. Eles<br />

mostram que o acesso à rede de água encanada<br />

nesse país é geralmente muito limitado: apenas<br />

um terço dos pobres urbanos do Haiti, e menos<br />

de um terço dos pobres rurais, têm acesso a tais<br />

redes.<br />

De forma interessante, o mapa gráfico sugere<br />

que pode haver uma oportunidade de negócio no<br />

mercado de água, mesmo na região mais rica do<br />

Haiti, o oeste, onde está a capital Porto Príncipe.<br />

Estimativas recentes sobre os padrões de pobreza<br />

regional do Haiti revelam que as taxas de pobreza<br />

são mais baixas no oeste (60,8%) e mais altas<br />

no nordeste (94,2%). Contudo, mesmo na parte<br />

menos pobre do oeste, o índice de pobreza é alto,<br />

segundo padrões internacionais. O percentual<br />

de pobres, com base na medida de pobreza<br />

de menos de $2 por dia, excede, no oeste do<br />

Haiti, o de qualquer país da América Latina e do<br />

Caribe. 3 Além disso, estimativas da distribuição<br />

da população pobre no país revelam que a maior<br />

parte deles se concentra no oeste: quase 30% dos<br />

haitianos pobres vivem lá. (Apesar de o nordeste<br />

ser a região mais pobre do Haiti, ele concentra<br />

apenas 4,7% dos haitianos pobres).<br />

No oeste do Haiti, onde vive quase um terço<br />

do total da população pobre do país (e a taxa<br />

de acesso à água encanada é mais alta que em<br />

outras regiões), apenas 18% dos pobres tem<br />

acesso à água encanada.<br />

Contudo, o mapa gráfico do mercado também<br />

mostra que 45% das pessoas de áreas urbanas<br />

no Haiti têm acesso à água transportada por<br />

caminhões-cisterna, água engarrafada e água<br />

transportada em baldes. Em outras palavras,<br />

45% da população urbana do país está disposta<br />

a pagar por água potável segura. Seria possível<br />

<strong>para</strong> uma empresa absorver parte desse<br />

mercado existente introduzindo serviços de<br />

entrega de água eficazes e mais baratos Outras<br />

oportunidades podem existir em outras regiões<br />

do Haiti, até mesmo com taxas de acesso mais<br />

baixas, especialmente em áreas rurais.<br />

O mapa gráfico de mercado ilustra um<br />

aspecto interessante do mercado de água<br />

no Haiti: apesar da falta de fornecimento de<br />

água pública adequada e da falta de grandes<br />

investimentos privados, pequenos fornecedores<br />

de água apresentaram-se <strong>para</strong> preencher a<br />

lacuna e têm obtido sucesso no negócio. Alguns<br />

consumidores têm investido nas suas próprias<br />

fontes de água – por exemplo, ao tirarem água de<br />

poços em associação com organizações baseadas<br />

na comunidade. 4 Todavia, os fornecedores<br />

de serviços privados de pequena escala<br />

desempenham um importante papel no aumento<br />

do acesso à água, que ocorre principalmente nas<br />

áreas da periferia urbana, onde a água é entregue<br />

através de caminhões (em garrafas ou em baldes).<br />

Serviços essenciais são, portanto, fornecidos aos<br />

pobres especialmente em áreas urbanas.<br />

Onde a capacidade do país é muito fraca, e onde<br />

grandes investidores relutam em se engajar por<br />

uma série de razões – como no Haiti – aproveitar<br />

as oportunidades desse “outro” setor privado pode<br />

ser uma forma pragmática de aumentar o acesso à<br />

água potável segura. Os mapas gráficos de mercado<br />

podem ajudar a revelar tais oportunidades.<br />

Serviços bancários via celular na<br />

África do Sul<br />

Telefones celulares podem melhorar o acesso<br />

aos serviços de tecnologia da informação e<br />

comunicação nos países em desenvolvimento. De<br />

acordo com estimativas recentes, o número de<br />

assinantes de telefones celulares em países de<br />

renda baixa e média já é muito mais alto do que em<br />

países de renda alta.<br />

O acesso a telefones celulares poderia contribuir<br />

<strong>para</strong> a redução da pobreza e da desigualdade<br />

ajudando os usuários pobres a interagir de<br />

maneira mais efetiva em mercados de trocas.<br />

Empreendedores rurais, como agricultores e<br />

pescadores, por exemplo, poderiam, através de<br />

aparelhos celulares, aumentar o seu acesso ao<br />

mercado de informação e obter o melhor preço<br />

possível <strong>para</strong> seus bens – assim eles também<br />

poupariam por adquirir tal acesso com custo mais<br />

baixo via celular.<br />

O desenvolvimento dos serviços bancários<br />

móveis (m-banking), que envolve o uso de um<br />

telefone celular ou outro aparelho móvel <strong>para</strong><br />

empreender transações financeiras ligadas a uma<br />

conta do cliente, parece ser algo promissor. O<br />

uso crescente de telefones celulares nos países<br />

em desenvolvimento – e o poder de vários atores<br />

envolvidos no fornecimento de serviços financeiros<br />

através desse canal, especialmente operadores e<br />

redes bancárias – poderiam ajudar a “bancar” os<br />

“sem-banco”.<br />

Os mapas gráficos de mercado trazem<br />

informações esclarecedoras sobre o acesso a<br />

telefones celulares entre os pobres. No caso da<br />

África do Sul, as figuras A3.2 e A3.3 ilustram o<br />

acesso a telefones celulares entre os não pobres<br />

e pobres em áreas de regiões rurais e urbanas, e<br />

em diferentes províncias. As sombras mais escuras<br />

indicam taxas de acesso mais altas dentro do grupo<br />

de renda especificado.<br />

Como mostra o mapa gráfico, as taxas de acesso<br />

a telefones celulares são mais altas <strong>para</strong> os pobres e<br />

<strong>para</strong> os não pobres do oeste da África do Sul (Cabo<br />

Norte, Cabo Oeste) e do leste (Província do Norte,<br />

Limpopo, Mpumalanga e Kwazulu Natal) – numa<br />

faixa que varia de 41% a 80% <strong>para</strong> quase todas as<br />

províncias nessas regiões.<br />

140 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura A3.2. Mapa gráfico do<br />

acesso a telefones celulares<br />

na África do Sul, 2006<br />

Mapa gráfico de mercado: famílias vivendo<br />

com mais de $2 por dia<br />

Famílias com acesso a telefones celulares,<br />

por região, 2006 (%)<br />

Fonte: Baseado no FinScope, 2006.<br />

As estimativas <strong>para</strong> acesso a celulares foram tiradas<br />

da categoria de pesquisa “faça uso pessoal do...<br />

celular pré-pago”. Na África do Sul, como em muitos<br />

outros países africanos, os pré-pagos costumam ser a<br />

mais comum ou única opção.<br />

Mapa produzido por OCHA ReliefWeb.<br />

Acesso a telefones celulares na África do Sul:<br />

Famílias vivendo com mais de $2 por dia.<br />

Parcela de adultos, 2006 (%)<br />

Urbano<br />

Rural<br />

Não possuem<br />

Em contrapartida, o acesso à telefonia celular<br />

no Cabo Leste – província com uma taxa bastante<br />

alta de pobreza 5 – é baixo <strong>para</strong> o não pobre<br />

e o pobre, na faixa de 0% a 20%. Assim, a alta<br />

densidade da população nos centros e áreas em<br />

desenvolvimento nas províncias, com taxas baixas<br />

de acesso a celulares <strong>para</strong> os pobres e os não<br />

pobres (Cabo Leste, Estado Livre e Noroeste), pode<br />

representar uma interessante oportunidade de<br />

negócios <strong>para</strong> provedores de serviços de telefonia<br />

celular.<br />

Os mapas gráficos de mercado também podem<br />

oferecer informações valiosas sobre oportunidades<br />

de negócios <strong>para</strong> os provedores de serviços<br />

financeiros. Eles revelam sobreposições potenciais<br />

entre pessoas com acesso a celulares, mas sem<br />

serviços bancários. Tais sobreposições, por sua vez,<br />

indicam oportunidades <strong>para</strong> habilitar a telefonia<br />

celular no fornecimento de serviços bancários<br />

móveis.<br />

Possuem<br />

As estimativas indicam que, na África do Sul,<br />

pessoas pobres em áreas urbanas e rurais têm<br />

mais telefones celulares do que acesso a serviços<br />

bancários. Nas áreas urbanas, 43% da população<br />

adulta pobre têm acesso a telefones celulares<br />

(ver figura A2.2), mas apenas 32% tem acesso a<br />

serviços bancários. Nas áreas rurais, 31% dos pobres<br />

possuem um telefone celular, mas apenas 19% têm<br />

acesso a serviços bancários.<br />

Essas diferenças sugerem uma oportunidade<br />

real <strong>para</strong> o fornecimento de serviços bancários com<br />

grande rentabilidade <strong>para</strong> usuários de telefones<br />

celulares na África do Sul. Elas mostram também<br />

que tal oportunidade poderá ser maior <strong>para</strong> a<br />

parte mais pobre do mercado. Ao usar dados do<br />

mapeamento da pobreza <strong>para</strong> calcular o tamanho<br />

total da população pobre sul-africana com telefones<br />

celulares, mas sem contas bancárias, uma empresa<br />

Anexo 3. Sobre os mapas gráficos de mercado<br />

141


Figura A3.3. Mapa gráfico do<br />

acesso a telefones celulares<br />

na África do Sul, 2006<br />

Mapa gráfico de mercado: famílias vivendo<br />

com menos de $2 por dia.<br />

Porção de famílias com acesso a telefones<br />

celulares, por região, 2000 (%)<br />

Fonte: Baseado no FinScope, 2006.<br />

As estimativas <strong>para</strong> acesso a celulares foram tiradas<br />

da categoria de pesquisa “faça uso pessoal do...<br />

celular pré-pago”. Na África do Sul, como em muitos<br />

outros países africanos, os pré-pagos costumam ser<br />

a mais comum ou única opção.<br />

Mapa produzido por OCHA ReliefWeb<br />

Acesso a telefones celulares na África do Sul:<br />

Famílias vivendo com menos de $2 por dia<br />

Parcela de adultos, 2000 (%)<br />

Urbano<br />

Rural<br />

Não possuem<br />

Possuem<br />

pode estimar o tamanho da oportunidade<br />

<strong>para</strong> alavancar o acesso à telefonia celular<br />

visando bancar os “sem banco” na África do Sul:<br />

aproximadamente 24% dos pobres urbanos e 21%<br />

dos pobres rurais.<br />

Estimativas dessa interseção em Botswana,<br />

Namíbia e Zâmbia revelam que esse mercado<br />

poderia ser grande também nesses países. (ver<br />

figura A3.4).<br />

Serviços bancários móveis já estão sendo<br />

introduzidos em vários países, inclusive na África<br />

do Sul. Além disso, com o aumento esperado das<br />

taxas de penetração da telefonia móvel – já que<br />

os preços dos aparelhos e serviços declinam,<br />

e os mercados secundários <strong>para</strong> aparelhos se<br />

desenvolvem (como em países com taxas altas<br />

de penetração de telefones celulares, como<br />

nas Filipinas) – oportunidades <strong>para</strong> os pobres<br />

acessarem serviços bancários via celular podem<br />

surgir em muitos outros países.<br />

142 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Figura A3.4. Interseção de pessoas pobres que<br />

possuem telefones celulares mas não têm acesso a<br />

bancos, países selecionados<br />

Parcela de adultos, 2000 (5)<br />

Zâmbia<br />

África do Sul<br />

Namíbia<br />

Botswana<br />

Rural, com menos de US$2 por dia<br />

Urbano, com menos de US$2 por dia<br />

Fonte: Baseado no FinScope 2004a, 2004b, 2005, 2006<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

A análise foi tirada de Acosta e outros, 2008, e também do Banco de dados dos Mapas Gráficos de Mercado<br />

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Anexo 3. Sobre os mapas gráficos de mercado<br />

143


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156 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A P Ê N D I C E -<br />

c a s o s d e e m p r e s a s<br />

brasileiras


CASO Natura Ekos<br />

Essências de perfume promovem o desenvolvimento<br />

sustentável no Brasil<br />

Pre<strong>para</strong>do por:<br />

Cláudio Boechat &<br />

Roberta Paro<br />

Setor: Cosméticos<br />

Classe de Empresa:<br />

Multinacional do Sul<br />

RESUMO<br />

A Natura é uma empresa brasileira de cosméticos<br />

cuja filosofia abrangente sempre foi a maximização dos benefícios<br />

<strong>para</strong> o meio ambiente natural, <strong>para</strong> as comunidades e <strong>para</strong> a empresa,<br />

simultaneamente, através dos negócios. Desde que foi fundada em 1969,<br />

ela tem atingido taxas de crescimento consistentes, construindo uma rede<br />

de 600.000 consultores de vendas diretas e expandindo seu mercado no<br />

exterior. Em 2000, a Natura implementou a estratégia do uso de matériasprimas<br />

extraídas da biodiversidade botânica brasileira como plataforma<br />

<strong>para</strong> seus produtos. Esses insumos são a base da bem-sucedida linha Ekos<br />

da Natura. Para expandir a produção local e garantir, ao mesmo tempo, a<br />

extração sustentável, a empresa construiu um novo modelo de negócios.<br />

Tal modelo compreende pequenas comunidades, ONGs e governos que<br />

promovem o desenvolvimento local sustentável num processo através do<br />

qual a Natura participa e se diferencia no mercado.<br />

Como parte da estratégia <strong>para</strong> a linha Ekos, e do compromisso da Natura<br />

com a responsabilidade social, a empresa estabeleceu relações com<br />

comunidades pobres que extraíam matéria-prima da biodiversidade<br />

brasileira, tornando-as fornecedores. No Pará, três comunidades (Campo<br />

Limpo, Boa Vista e Cotijuba) foram contratadas em 2003 <strong>para</strong> produzir<br />

priprioca, uma espécie de capim cujas raízes fornecem uma fragrância<br />

rara e delicada. O sucesso das vendas da linha Ekos possibilitou, em 2006,<br />

a construção de uma nova unidade industrial da Natura <strong>para</strong> a produção<br />

de sabonete numa região remota da qual é extraída a maior parte dos<br />

insumos da biodiversidade.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

159


Introdução<br />

“Nossa Razão de Ser é criar e comercializar produtos e serviços que promovam o bem-estar/<br />

estar bem. O bem-estar é a relação harmoniosa e agradável de uma pessoa consigo mesmo, com<br />

seu corpo. Estar bem é a relação empática, bem-sucedida, prazerosa, do indivíduo com o outro,<br />

com a natureza da qual faz parte, com o todo.” Relatório Anual Natura, 2005.<br />

Desde seu início em 1969, como laboratório e pequena loja na cidade de São Paulo, a Natura<br />

tem sido impulsionada por suas grandes paixões: cosméticos, como meio de auto-conhecimento<br />

e poder de transformação na vida das pessoas; e relações humanas, que permitem expressar a<br />

vida. Essas idéias seminais movem a Natura ao longo dos anos.<br />

Antônio Luiz da Cunha Seabra, fundador da Natura, teve seu primeiro contato com o mundo<br />

dos cosméticos quando trabalhou <strong>para</strong> uma empresa multinacional aos 16 anos de idade.<br />

Com um pouco de conhecimento, um pequeno investimento de capital (US$9.000 dólares) 1 e<br />

uma garagem como escritório, ele fundou a Natura. Três aspectos do negócio, inovadores na<br />

época, foram particularmente bem recebidos pelo mercado: a incorporação de tratamentos<br />

terapêuticos na produção de cosméticos, uma abordagem de vendas personalizada e produtos<br />

customizados <strong>para</strong> o clima úmido do Brasil e <strong>para</strong> os tipos de pele locais.<br />

A Natura tem atingido taxas de crescimento consistentes. A tab. 1 mostra sua receita bruta<br />

e líquida desde 2002. Aproximadamente 40 por cento da sua receita é gerada a partir dos<br />

cosméticos, e o restante a partir dos produtos de higiene pessoal.<br />

Tabela 1: Receita da Natura entre 2002<br />

-2005 (em R$1000 )<br />

Anos 2002 2003 2004 2005<br />

Receita líquida 993,1 1.238,9 1.769,7 2.282,2<br />

Receita bruta 1.411,2 1.910,2 2.539,6 3.243,6<br />

A abordagem de vendas diretas foi um fator chave <strong>para</strong> o impressionante crescimento da<br />

empresa. Em 1974, a Natura adotou esse modelo e treinou as primeiras Consultoras Natura. No<br />

início de 2006, a empresa contava com aproximadamente 600.000 Consultoras, sendo dez por<br />

cento delas fora do Brasil.<br />

A empresa também investiu em pesquisa e desenvolvimento. Foi construído um grande centro<br />

integrado de pesquisa, fabricação e logística na sua matriz em Cajamar, São Paulo. Em 2005,<br />

mais de 200 milhões de itens foram vendidos <strong>para</strong> 50 milhões de consumidores em mais de<br />

5.000 cidades brasileiras através das vendas diretas. Ao final de 2005, a empresa tinha 4.128<br />

colaboradores no seu quadro de funcionários no Brasil e nos outros países onde opera.<br />

A Natura expandiu-se <strong>para</strong> o Chile em 1982 e <strong>para</strong> a Argentina e o Peru em 1994. Em 2004, a<br />

empresa abriu seu capital e lançou ações no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo<br />

(Bovespa). Em 2005, ela abriu suas portas <strong>para</strong> o público internacional com a Maison Natura em<br />

Paris, na França, e iniciou suas operações no México. Sua expansão geográfica estava prevista<br />

<strong>para</strong> os Estados Unidos e <strong>para</strong> a Rússia em 2007.<br />

1<br />

US$1 = R$2,1 em fevereiro de 2007.<br />

160 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


VISÃO E ESTRATÉGIA<br />

A Natura sempre almejou ser uma marca<br />

internacional, identificada por um vigoroso<br />

conjunto de <strong>valores</strong> e comportamentos<br />

corporativos, assim como por produtos de<br />

qualidade. Desde o final dos anos 90, sua<br />

estratégia tem os alicerces na crença de que a<br />

empresa pode ser uma importante promotora de<br />

transformação social. A estratégia da Natura foi<br />

baseada em quatro pilares:<br />

Compromisso com a sustentabilidade<br />

Qualidade das relações com os stakeholders<br />

Desenvolvimento de conceitos e produtos<br />

A força da marca Natura<br />

Em sua estratégia socioambiental, a Natura<br />

planejava continuar a investir no uso<br />

sustentável da biodiversidade e contribuir<br />

<strong>para</strong> a sua conservação. Dois desafios que<br />

se apresentavam eram o de alinhar esses<br />

princípios com as práticas diárias dos negócios,<br />

e também desenvolver e melhorar as estruturas<br />

organizacionais que apoiavam a expansão atual<br />

e o crescimento futuro. Um exemplo disso, na<br />

prática, é a cadeia de suprimentos da empresa.<br />

Uma parte fundamental da rede de negócios da<br />

Natura é a demonstração do compartilhamento<br />

de crenças e <strong>valores</strong>, e também do alinhamento<br />

com a política de responsabilidade social e<br />

sustentabilidade da empresa, por parte dos<br />

fornecedores, através de um processo de<br />

certificação. Os critérios usados nesse processo<br />

examinam a atual ficha do fornecedor assim<br />

como o seu potencial <strong>para</strong> produção sustentável,<br />

desenvolvimento local, logística, suprimentos<br />

e institucional, e também <strong>para</strong> questões legais<br />

e de regulamentação. O processo ainda leva<br />

em conta se as características da área e da<br />

população local estão alinhadas com a estratégia<br />

de marketing da linha de produtos que está<br />

sendo desenvolvida. Para aumentar os benefícios<br />

sociais do negócio, a empresa buscou selecionar<br />

fornecedores pertencentes a cooperativas ou<br />

projetos voltados <strong>para</strong> a distribuição de renda. A<br />

maior dificuldade foi encontrar fornecedores que<br />

respondiam aos critérios de sustentabilidade da<br />

empresa, particularmente na região Norte e nas<br />

comunidades vizinhas.<br />

Para lidar com o desafio dos fornecedores, a<br />

empresa assumiu as seguintes iniciativas:<br />

Estabeleceu uma política definindo critérios<br />

de seleção dos fornecedores, assim como as<br />

responsabilidades da Natura em relação a<br />

eles.<br />

Estabeleceu, junto com as comunidades<br />

fornecedoras de matérias-primas da<br />

biodiversidade botânica e os processadores<br />

primários, um programa <strong>para</strong> supervisionar<br />

o relacionamento através de visitas regulares<br />

do pessoal da Natura.<br />

Monitorou as áreas de fornecimento das<br />

matérias-primas botânicas através da adoção<br />

de princípios e critérios socioambientais no<br />

processo de certificação.<br />

Promoveu, com as comunidades, projetos de<br />

desenvolvimento local sustentável<br />

Para a Natura, os seus produtos representam<br />

muito mais do que cosméticos ou artigos<br />

de higiene pessoal; eles foram criados <strong>para</strong><br />

integrar várias facetas dos indivíduos (física,<br />

emocional, intelectual e espiritual), alinhando<br />

com a estratégia, os princípios e as crenças<br />

corporativas. Três linhas de produtos surgiram<br />

com base nesse conceito:<br />

Chronos. A primeira linha, Chronos, inclui<br />

os produtos anti-envelhecimento <strong>para</strong> a pele.<br />

Quando foi lançada em 1986, ela usou a<br />

campanha Mulher Verdadeiramente Bonita<br />

<strong>para</strong> transmitir a mensagem de que é possível<br />

se sentir bem e bonita, independentemente da<br />

idade.<br />

Mamãe e Bebê. A linha Mamãe e Bebê foi<br />

lançada em 1994 e inspirou-se na ligação mãe/<br />

filho, oferecendo uma gama de produtos <strong>para</strong><br />

novas mães e seus bebês.<br />

EKOS. A terceira linha foi a Ekos, lançada<br />

em 2000 e descrita em detalhes a seguir.<br />

Em 2006, a Natura já tinha no seu portfólio<br />

aproximadamente 600 produtos, incluindo<br />

maquiagem, tratamentos <strong>para</strong> rosto e corpo,<br />

higiene pessoal, fragrâncias, produtos <strong>para</strong> os<br />

cabelos, proteção solar e uma linha dedicada às<br />

crianças.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

161


Natura Ekos: Uma linha de produtos<br />

que utiliza recursos da biodiversidade<br />

brasileira e o conhecimento tradicional<br />

A linha Natura Ekos foi lançada em 2000, baseando-se no uso sustentável de ativos da biodiversidade<br />

brasileira. Embora a filosofia da Natura tivesse sua essência no compromisso com o desenvolvimento<br />

sustentável, a linha Ekos foi a primeira a ter o foco no uso de ingredientes naturais usados por<br />

comunidades tradicionais. A Natura usou esses ingredientes combinando-os com componentes<br />

cientificamente testados <strong>para</strong> desenvolver os produtos da linha Ekos.<br />

Preservar e disseminar a herança cultural e conscientizar cada consumidor sobre a riqueza da<br />

biodiversidade brasileira foram alguns dos objetivos estabelecidos <strong>para</strong> a linha Ekos. Desde que a<br />

empresa expandiu o uso de ingredientes ativos a partir da biodiversidade brasileira com a linha Ekos,<br />

ela começou a aplicar sistemas de gestão econômica, social e ambiental em suas relações comerciais<br />

com as comunidades locais (fornecedores) com o apoio de organizações não-governamentais.<br />

Extraídos de florestas, campos e savanas, os ingredientes dessa linha são provenientes de áreas de<br />

cultivo e reservas extrativas registradas pelo IBAMA 2 .<br />

Para se certificar que as matérias-primas da flora brasileira seriam extraídas de acordo com<br />

rigorosos padrões sociais e ambientais, a Natura desenvolveu o Programa de Certificação de<br />

Ingredientes Ativos. O processo de certificação é constituído de três fases: a identificação das áreas de<br />

fornecedores potenciais, a pre<strong>para</strong>ção de uma estratégia de certificação e as inspeções de certificação.<br />

Quinze ingredientes foram certificados através desse programa até 2006. Além da certificação<br />

dos insumos, o programa também encorajou a formalização de associações e cooperativas nas<br />

comunidades fornecedoras, permitindo o acesso às oportunidades comerciais.<br />

Cadeia de valor aberta: o modelo de negócio<br />

Ricardo Martello foi o negociador dos ativos da biodiversidade na Natura desde agosto de 2006,<br />

após mais de um ano como coordenador das ações de desenvolvimento sustentável nas comunidades<br />

fornecedoras. Ele comentou, “Acredito que o conceito já existia antes da linha de produtos. Primeiro,<br />

chegamos ao que queríamos alcançar, o que queríamos dizer com o produto. Após definir isto,<br />

buscamos as matérias-primas, as comunidades e as empresas <strong>para</strong> estabelecer a nossa cadeia de<br />

suprimentos.”<br />

Como as matérias-primas da linha eram extraídas da natureza, as relações com as comunidades<br />

locais eram cruciais. A empresa precisava atrair um número suficiente de pequenos fornecedores<br />

<strong>para</strong> colher e/ou plantar as matérias-primas desejadas. Para isso, a Natura estabeleceu parcerias<br />

com fornecedores rurais (comunidades tradicionais e grupos familiares) em várias regiões do Brasil e<br />

constituiu uma rede que compreende processadores, agências governamentais, ONGs, associações de<br />

produtores e cooperativas, <strong>para</strong> a promoção de pesquisa e desenvolvimento, e <strong>para</strong> identificar novos<br />

ingredientes <strong>para</strong> produtos naturais.<br />

2<br />

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis<br />

162 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Para estabelecer uma cadeia de suprimentos<br />

estável e em conformidade com a lei, as<br />

comunidades fornecedoras precisavam<br />

ser organizadas em associações formais.<br />

Contratos de fornecimento precisavam ser<br />

negociados, assinados e encaminhados<br />

através de uma entidade que pudesse<br />

representar as comunidades formalmente. Ela<br />

forneceria recibos e teria uma conta bancária<br />

<strong>para</strong> transações financeiras. Entretanto, a<br />

formalidade, nesse sentido, não era suficiente.<br />

Ela também teria de representar a comunidade<br />

através de governança que estabelecesse um<br />

registro legal, respondesse por suas ações,<br />

registrasse seus membros, assumisse a<br />

tomada de decisão transparente e constituísse<br />

uma estrutura organizacional. A Natura<br />

ajudou algumas comunidades a formarem<br />

tais associações através de treinamento e<br />

orientação <strong>para</strong>, primeiramente, apoiar a<br />

formalização e, mais tarde, suas operações.<br />

“Existe uma qualidade padrão <strong>para</strong> o setor de<br />

cosméticos que não nos permite incorporar<br />

esta matéria-prima diretamente na produção”,<br />

explicou Ricardo. É necessário que haja<br />

pelo menos um processador intermediário;<br />

portanto, a Natura não estabeleceu uma<br />

relação comercial direta com as comunidades.<br />

O processador é o responsável por<br />

desempenhar o processamento primário,<br />

normalmente a extração e filtragem do óleo.<br />

No caso das essências perfumadas é também<br />

necessário usar um segundo processador<br />

<strong>para</strong> refinar ainda mais o óleo. É após esse<br />

estágio que a Natura processa e embala o<br />

produto <strong>para</strong> distribuição e venda.<br />

Figura 1: Relações na cadeia de<br />

suprimentos da linha Ekos<br />

Cadeia de valor<br />

Associações<br />

Processadores<br />

Natura<br />

Consultoras<br />

Natura<br />

Consumidores<br />

Comunidades<br />

Produtoras e<br />

Extratoras<br />

Promoção do<br />

desenvolvimento<br />

sustentável<br />

Os princípios da linha Ekos impunham<br />

duas diretrizes importantes <strong>para</strong> a Natura.<br />

Ricardo Martello destacou a primeira: “um<br />

dos conceitos básicos da Ekos é oferecer<br />

ganhos econômicos <strong>para</strong> todas as partes<br />

envolvidas”. Inicialmente, a Natura tentou<br />

usar o conceito de “preço justo”, pelo qual os<br />

preços de comercialização ao longo da cadeia<br />

de suprimentos são baseados na repartição da<br />

receita proporcionalmente ao valor agregado<br />

por cada um. Entretanto, quando alto ou<br />

baixo demais, o preço pago aos produtores<br />

locais poderia causar um desequilíbrio no<br />

valor da matéria-prima no mercado local.<br />

Isso poderia resultar na instabilidade de<br />

preços locais, desequilibrando outras cadeias<br />

de valor que usam a mesma matéria-prima.<br />

Como alternativa, a Natura decidiu propor o<br />

conceito de uma cadeia de valor aberta. Na<br />

cadeia de valor aberta, os custos e os lucros<br />

são transparentes <strong>para</strong> todas as partes com<br />

uma margem de lucro acordada entre <strong>todos</strong><br />

eles. As margens de lucro variam entre 15%<br />

e 30%.<br />

A segunda diretriz era que toda a cadeia<br />

de valor deveria ser sustentável. Embora<br />

o relacionamento comercial direto com<br />

as comunidades pertencesse ao primeiro<br />

processador, a Natura agia como guardiã<br />

da cadeia de fornecimento como um todo.<br />

Todas as negociações entre as partes eram<br />

monitoradas e influenciadas pela Natura. A<br />

empresa criou muitas maneiras de contribuir<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento sustentável das<br />

comunidades, como será exemplificado pelas<br />

experiências da cadeia de valor da priprioca.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

163


Construindo uma cadeia de valor produtiva<br />

nas comunidades fornecedoras de priprioca<br />

Priprioca é uma planta brasileira, de longo e fino caule, com raízes de bulbo que se espalham debaixo<br />

do solo como uma teia num raio de até 50 cm. Quando cortado ou amassado, o bulbo libera o<br />

perfume que atraiu os pesquisadores. A priprioca seria um dos ingredientes essenciais da linha Ekos,<br />

portanto a Natura partiu <strong>para</strong> a construção de uma cadeia de valor aberta, visando a sua extração e<br />

fornecimento sustentáveis.<br />

Existe uma lenda contada na cultura local: Piripiri era o nome de um guerreiro cujo cabelo<br />

exalava um perfume que seduzia as mulheres. Entretanto, após passar uma noite com elas, Piripiri<br />

desaparecia e deixava apenas o cheiro de seu perfume. Desapontadas, as mulheres perguntaram ao<br />

pajé da tribo, Supi, o que elas poderiam fazer <strong>para</strong> segurar o guerreiro. Ele disse a elas que deveriam<br />

cortar uma mecha do cabelo de Piripiri e enterrá-la. Uma noite, enquanto ele dormia, elas fizeram<br />

justamente isso. Quando elas acordaram, Piripiri havia desaparecido e nunca mais voltou. Mas uma<br />

planta cresceu no local onde elas haviam enterrado a sua mecha de cabelo, e ela tinha o perfume do<br />

guerreiro. Essa planta recebeu o nome de Piripiri-Oca, (priprioca), lar de Piripiri, na língua Tupi.<br />

Mercado Ver-o-Peso, uma herança<br />

cultural da Amazônia. Quando os<br />

pesquisadores da Natura iniciaram a busca<br />

por matérias-primas que preencheriam os<br />

conceitos da linha Ekos, a região amazônica era<br />

o lugar óbvio por onde começar. A priprioca<br />

foi identificada pela Natura, baseando-se em<br />

pesquisa bibliográfica e visitas nas feiras de<br />

rua da região norte. O mercado Ver-o-Peso, (na<br />

fotografia à direita) em Belém, capital do estado<br />

do Pará, foi o lugar onde eles tiveram o primeiro<br />

contato com a priprioca.<br />

O Mercado Ver-o-Peso foi criado em 1688 <strong>para</strong><br />

fins de arrecadação de impostos e está sempre<br />

cheio e agitado. Ele compreende 26.500 m 2<br />

onde é possível encontrar 2.000 barracas e<br />

vendedores. O mercado é o centro comercial<br />

de Belém, em que os barcos chegam às docas<br />

trazendo produtos do rio e da floresta.<br />

O plantio da priprioca não é algo complicado.<br />

Após o plantio, a única manutenção a ser feita<br />

é a retirada das ervas daninhas periodicamente.<br />

A planta pode ser colhida após um período<br />

de nove meses a um ano, e as raízes da planta<br />

são então cortadas. Entretanto, a produção de<br />

priprioca <strong>para</strong> fins cosméticos requer a extração<br />

do óleo no mesmo dia da colheita, <strong>para</strong><br />

conservar sua fragrância única. Para a Natura,<br />

isso significava que a fábrica processadora<br />

primária precisaria estar localizada próxima<br />

das áreas de plantio. Sendo assim, a<br />

Brasmazon Beraca, uma empresa de Belém,<br />

foi escolhida <strong>para</strong> desempenhar a primeira<br />

etapa do processamento. A Brasmazon Beraca<br />

passou então a vender o óleo <strong>para</strong> a Givaudan,<br />

uma grande empresa transnacional fabricante<br />

de perfumes, responsável pelo processamento<br />

secundário. Finalmente, a Natura compra as<br />

essências refinadas da Givaudan.<br />

No início, a Natura manteve o seu foco<br />

no desenvolvimento dos fornecedores de<br />

priprioca. Um projeto foi imediatamente posto<br />

em prática <strong>para</strong> conseguir que as comunidades<br />

que produziam e forneciam priprioca ficassem<br />

mais próximas das barracas do Ver-o-Peso.<br />

A Natura descobriu uma pessoa que vendia<br />

ervas <strong>para</strong> o Ver-o-Peso comprando pequenas<br />

quantidades de pequenos produtores.<br />

A escala de produção era pequena, de<br />

aproximadamente 4 toneladas por ano, que<br />

era suficiente <strong>para</strong> suprir o mercado local. A<br />

Natura precisava de 40 toneladas por ano.<br />

164 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


As Comunidades de Priprioca. Em 2003,<br />

a comunidade de Boa Vista foi a primeira a ser<br />

incluída no projeto. Quando ficaram sabendo<br />

do volume de ervas necessário <strong>para</strong> a Natura,<br />

os representantes da comunidade disseram<br />

que não tinham certeza da sua capacidade <strong>para</strong><br />

fornecê-lo. Eles se comprometeram a fornecer<br />

uma parte e concordaram que a Natura deveria<br />

procurar outros grupos <strong>para</strong> fornecer o resto.<br />

Boa Vista apoiou inclusive a transferência de<br />

tecnologia <strong>para</strong> o plantio da priprioca e forneceu<br />

tanto as mudas quanto o conhecimento <strong>para</strong><br />

outros produtores. Com base em pesquisas<br />

feitas por um professor da universidade local,<br />

foram identificadas outras comunidades cujas<br />

estruturas formais e perfil operacional se<br />

encaixariam bem na cadeia de suprimento. Duas<br />

outras comunidades foram então trazidas <strong>para</strong><br />

o projeto naquele mesmo ano: a Ilha de Cotijuba<br />

e a comunidade de Campo Limpo. Ambas as<br />

comunidades estavam localizadas na Grande<br />

Belém. Um total de 49 famílias passou a produzir<br />

priprioca <strong>para</strong> a Natura: 23 em Boa Vista, 16 em<br />

Campo Limpo e 10 em Cotijuba.<br />

Cada uma das três comunidades tinha<br />

características únicas. O principal aspecto<br />

em comum era a agricultura familiar. Boa<br />

Vista fornecia pequenas quantidades de ervas<br />

aromáticas <strong>para</strong> o Ver-o-Peso, mas também colhia<br />

açaí. Cotijuba tinha atividades como ecoturismo,<br />

e várias famílias envolvidas no projeto priprioca<br />

também desempenhavam outras atividades<br />

ligadas ao turismo. Muitos dos pequenos<br />

produtores rurais de Campo Limpo também<br />

trabalhavam com outras plantas, principalmente<br />

legumes.<br />

Quando o projeto priprioca foi apresentado <strong>para</strong><br />

as três comunidades, alguns grupos relutaram<br />

em participar, devido às suas frustrantes<br />

experiências prévias com outras empresas.<br />

Porém, a Natura identificou um número<br />

suficiente de famílias entusiasmadas (um total de<br />

49) <strong>para</strong> alcançar a produção anual necessária<br />

de 40 toneladas. Após os primeiros meses,<br />

outras famílias desejaram se juntar ao verem<br />

os benefícios e a seriedade da proposta, mas<br />

apenas aquelas que aceitaram o desafio desde<br />

o início puderam participar. Naquele momento,<br />

as técnicas de plantio eram novas demais, e<br />

a Natura não estava suficientemente certa<br />

sobre o resultado total <strong>para</strong> permitir que mais<br />

famílias entrassem no processo. Contudo,<br />

mais famílias podem vir a se juntar no futuro.<br />

Todas as negociações relacionadas com o<br />

preço e a demanda envolveram as quatro<br />

partes na cadeia: a Natura, a Beraca, a<br />

Givaudan e as comunidades. A Natura<br />

insistiu que os interesses da comunidade<br />

fossem respeitados e não teve nenhuma<br />

dificuldade em convencer os outros parceiros.<br />

As comunidades foram representadas por<br />

suas respectivas associações; entretanto,<br />

não houve negociação coletiva entre as três<br />

comunidades.<br />

Em 2003, o primeiro ano, devido ao<br />

conhecimento limitado sobre o cultivo da<br />

priprioca, a área de plantio foi definida pelo<br />

que se sabia sobre a produtividade alcançada<br />

com a coivara 3 . Poucas pessoas em Boa Vista<br />

já haviam trabalhado com a priprioca, mesmo<br />

assim, elas haviam apenas trabalhado com<br />

as pequenas barracas no Ver-o-Peso. Não<br />

havia preço de mercado <strong>para</strong> uma produção<br />

em grande escala. Os contratos iniciais com<br />

cada comunidade estabeleciam um preço<br />

baseado na área plantada e eram válidos por<br />

três anos. O preço sugerido pelos produtores<br />

foi acordado com todas as partes e era mais<br />

alto do que o mesmo pago pelas barracas do<br />

mercado naquela época.<br />

A Natura forneceu as mudas gratuitamente e<br />

ofereceu conselhos sobre práticas de plantio<br />

sustentáveis. Com uma alta produtividade<br />

surpreendente, a produção de priprioca<br />

foi muito maior do que o esperado <strong>para</strong> o<br />

primeiro e o segundo ano. Dessa forma, a<br />

Beraca e a Givaudan precisaram manter<br />

um estoque excessivo. Enquanto a Beraca<br />

contratava quantidades menores das<br />

comunidades, a Natura tentava incorporar<br />

quantidades maiores de matéria-prima<br />

lançando produtos que continham priprioca. A<br />

combinação do alto preço inicial das matériasprimas,<br />

a partir de contratos baseados na área<br />

plantada, com um inesperado aumento da<br />

produtividade levou a um efeito indesejável: a<br />

redução da demanda por priprioca.<br />

3<br />

Coivara é uma prática agrícola tradicional que envolve o corte e a queima da floresta <strong>para</strong> o plantio em revezamento. Em alguns poucos<br />

anos o solo torna-se árido, e novas áreas de plantio são cortadas e queimadas. Em pequena escala, esse procedimento não danifica a<br />

floresta de forma significativa, mas a coivara não é sustentável em escalas industriais. A Natura não empregou esse método, mas ele foi<br />

usado <strong>para</strong> estimar a produtividade esperada por área de terra.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

165


Mas uma demanda reduzida precisava ser<br />

equilibrada com um mínimo de impacto sobre<br />

os padrões de renda estabelecidos <strong>para</strong> as<br />

comunidades no primeiro ano. No início, o preço<br />

inicial foi mantido, mas as áreas de plantio<br />

foram reduzidas. Ajustes foram feitos à medida<br />

que o tempo passava, e eles foram sempre<br />

transparentes: a Natura mostrava a evolução<br />

das vendas e do mercado, e as comunidades<br />

compartilhavam seus cenários de produção.<br />

Em 2005, as experiências de dois anos com<br />

novas técnicas de plantio tornaram possível o<br />

estabelecimento de um preço por quilo. Volumes de<br />

compra, em vez de áreas plantadas, foram fixados.<br />

Finalmente, em 2006, as comunidades exigiram um<br />

aumento no preço <strong>para</strong> chegar a uma quantia mínima<br />

de receita total, mais próxima daquela recebida no<br />

primeiro ano. Tendo alcançado o equilíbrio entre<br />

produção e demanda, a empresa previu que a<br />

produção cresceria pela primeira vez em 2007.<br />

Campo Limpo, um caso especial<br />

O estado do Pará está localizado no norte do<br />

Brasil, onde a Natura adquire grande parte das<br />

matérias-primas da linha Ekos.<br />

As comunidades produtivas possuem uma<br />

concepção ampla no Pará que abrange os<br />

seguintes grupos: produtores florestais em<br />

unidades de conservação ou reservas naturais,<br />

agricultores familiares, cooperativas e pequenos<br />

negociantes. Um estudo realizado pelo governo do<br />

Pará 4 identificou algumas dificuldades específicas<br />

enfrentadas pelas comunidades da região:<br />

Baixo nível de organização dentro das<br />

comunidades.<br />

Inexperiência na gestão ambiental, social e<br />

econômica.<br />

Falta de mecanismos <strong>para</strong> a transmissão de<br />

informação.<br />

Conflitos entre os líderes.<br />

Altos níveis de dependência em líderes<br />

individuais, o que se torna um problema<br />

quando, por alguma razão, o líder é afastado.<br />

capital é Belém e sua economia é baseada na extração<br />

mineral (ferro, bauxita, manganês, cal, ouro, estanho),<br />

vegetal (madeira), e também na agricultura, criação de<br />

gado e outros animais, e na indústria moveleira.<br />

Tabela 2: Alguns índices econômicos<br />

e de pobreza do Pará<br />

PIB<br />

PIB per capita<br />

Crescimento anual do PIB<br />

População total<br />

População pobre<br />

Pobreza rural<br />

Pobreza urbana<br />

Índice GINI<br />

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

R$ 34,3 bilhões<br />

6.695.940 pessoas<br />

1.140.000 pessoas<br />

O estado do Pará. A região amazônica<br />

compreende uma área de aproximadamente 5,1<br />

milhões de quilômetros quadrados (cerca de 60%<br />

do território brasileiro) e cobre nove estados. Essa<br />

região possui a menor densidade populacional<br />

do país com aproximadamente 25 milhões de<br />

habitantes distribuídos nessa enorme área.<br />

Com 1,25 milhões de quilômetros quadrados,<br />

o Pará é o segundo maior estado da região. Sua<br />

Os maiores problemas do Pará estão relacionados com<br />

questões ambientais e de gestão da terra. O estado<br />

possui uma das mais importantes reservas ambientais<br />

do mundo, mas também amplas disparidades<br />

socioeconômicas que resultam em inúmeros, e às vezes<br />

violentos, conflitos pela posse de terra.<br />

4<br />

“Programa <strong>para</strong> a Redução da Pobreza e Gestão de Recursos Naturais do Estado do Pará<br />

– Pará-Rural – Um marco <strong>para</strong> a Avaliação Ambiental”<br />

166 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


À primeira vista, Campo Limpo pode ser vista<br />

como uma típica comunidade rural do Pará. A<br />

comunidade nunca havia produzido priprioca<br />

antes da Natura. A mandioca e os legumes eram<br />

os tradicionais plantios em Campo Limpo. A<br />

produtividade era muito baixa, e o plantio era feito<br />

sem nenhuma técnica específica. Mas Luciana<br />

Roncolleta, da Natura, diz: “Acredito que esta seja<br />

a comunidade mais entusiasmada com a idéia.<br />

Embora eles nunca tivessem produzido priprioca<br />

antes, esta comunidade é a que mais segue o<br />

planejamento e que tem a melhor produção”.<br />

Tomadas de decisão na comunidade ilustram esse<br />

fato. Quando os produtores de Campo Limpo<br />

receberam seu primeiro pagamento da Natura, por<br />

exemplo, os membros da comunidade reuniramse<br />

<strong>para</strong> discutir o que fazer com o dinheiro.<br />

Nazareno Mateus, presidente da associação local,<br />

explicou que cada produtor recebeu sua parte<br />

proporcionalmente ao nível de sua produção. Cada<br />

família havia tido um pedido <strong>para</strong> 20 canteiros<br />

de priprioca, mas como a produção foi muito<br />

mais abundante do que a esperada havia uma boa<br />

quantia de dinheiro. As casas eram de taipa 5 e a<br />

maioria do grupo decidiu construir novas casas.<br />

Cada família preparou seu próprio projeto e<br />

contratou os construtores. Agora, as casas são feitas<br />

de tijolos.<br />

A associação de Campo Limpo é bem organizada,<br />

e esse também foi um fator-chave <strong>para</strong> o sucesso.<br />

Todo o dinheiro é contabilizado de forma<br />

transparente e comunicado pelos diretores. As<br />

reuniões são registradas em minutas.<br />

Dois exemplos de como a comunidade<br />

constrói seu sucesso. Certo dia a Natura avisou<br />

que havia algum dinheiro depositado no banco<br />

<strong>para</strong> a associação local. Era a parte devida a Campo<br />

Limpo pelos direitos de imagem das imagens<br />

usadas em filmes <strong>para</strong> promover a priprioca. Como<br />

sempre, os membros foram chamados <strong>para</strong> a “sala<br />

de reuniões” debaixo das mangueiras. Juntos, eles<br />

decidiram comprar um ônibus. “Seria usado <strong>para</strong><br />

transportar nossa colheita, <strong>para</strong> levar as pessoas<br />

em viagens e alugar <strong>para</strong> outras comunidades”,<br />

explicou Nazareno. Eles compraram um ônibus,<br />

e à medida que o tempo passou, perceberam que<br />

era difícil gerenciar o uso do veículo. Ele então foi<br />

alugado à prefeitura local e agora é uma fonte de<br />

renda <strong>para</strong> a associação.<br />

A eletricidade também é algo novo que chegou<br />

à comunidade. Ney e sua irmã Rosilene fizeram<br />

um grande esforço <strong>para</strong> convencer o prefeito<br />

local a levar linhas de transmissão de eletricidade<br />

até a comunidade. Os postes já foram colocados.<br />

Ney agora pretende convencer a empresa de<br />

eletricidade a estender os cabos até a área de<br />

plantio, <strong>para</strong> que a bomba d’água movida a<br />

diesel possa ser eliminada.<br />

A ajuda externa também sempre foi bem-vinda.<br />

Aílson Ney trabalhava <strong>para</strong> a Emater 6 como<br />

especialista em desenvolvimento rural. Sua<br />

contribuição agregou <strong>valores</strong> importantes à<br />

comunidade. Quando visitou Campo Limpo<br />

pela primeira vez, Aílson ficou preocupado<br />

com a falta de diversidade no plantio. Esse<br />

era um grande risco <strong>para</strong> o futuro porque não<br />

havia garantias de que a Natura continuaria a<br />

trabalhar com a comunidade no longo prazo<br />

ou que o negócio da priprioca seria bemsucedido.<br />

Não foi difícil <strong>para</strong> Ney convencer<br />

o gerente local do Banco do Brasil a financiar<br />

a produção de legumes em Campo Limpo e<br />

ajudar na diversificação agrícola da plantação.<br />

A estrutura das famílias, a organização da<br />

comunidade e o histórico dos negócios com a<br />

Natura contribuiu <strong>para</strong> isso. Durante o primeiro<br />

ano, o empréstimo chegou a aproximadamente<br />

R$12.000, com uma carência de dois anos, e<br />

foi pago integralmente antes do prazo. O banco<br />

refinanciou o empréstimo <strong>para</strong> a comunidade<br />

no total de R$13.200. Além da priprioca, a<br />

comunidade agora produz legumes, mandioca e<br />

frutas (mamão e limão).<br />

Em seguida, Campo Limpo começou a produzir<br />

produtos orgânicos. Ney conduziu uma visita<br />

dos membros da comunidade ao laboratório<br />

experimental da Emater <strong>para</strong> que eles<br />

aprendessem sobre a agricultura orgânica. Em<br />

2006, a comunidade já estava se pre<strong>para</strong>ndo<br />

<strong>para</strong> que sua produção orgânica fosse<br />

certificada. Luciana reflete sobre o que ela tem<br />

visto na comunidade: “Eles não ficam esperando<br />

pela Natura. Eles procuraram o escritório local<br />

da Emater e conseguiram agendar uma visita e<br />

um curso”.<br />

A influência das mulheres. A influência<br />

das mulheres em Campo Limpo claramente<br />

impactou no comportamento e no sucesso da<br />

comunidade inteira. As mulheres estão sempre<br />

cuidando das crianças e participam muito da<br />

educação delas. Rosilene, por exemplo, costuma<br />

ir à escola com suas crianças todas as manhãs,<br />

<strong>para</strong> ajudar a professora delas.<br />

As mulheres também são muito ativas<br />

politicamente. Rosilene e Maria de Lurdes,<br />

a esposa de Nazareno, explicaram por que<br />

votaram nos candidatos que escolheram na<br />

última eleição. Elas sabem o que querem do<br />

novo governo estadual e insistem que irão<br />

encontrar uma maneira de fazer com que seus<br />

projetos se realizem.<br />

5<br />

Taipa: construção feita de varas, galhos e cipós cobertos com barro.<br />

6<br />

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) é uma agência oficial do governo que presta serviços nas áreas de ciências<br />

humanas e agrárias e transmite informação e conhecimento tecnológico qualificado nas áreas rurais do estado do Pará.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

167


Durante a caminhada de dois quilômetros até a área de plantio, Maria de Lurdes disse: “Se você chegar na<br />

comunidade e não nos achar, basta caminhar até a área de plantio e você vai nos encontrar trabalhando<br />

lá”. Normalmente, os homens saem de casa muito cedo de manhã e voltam na hora do almoço. À tarde, as<br />

mulheres normalmente os acompanham de volta até o trabalho <strong>para</strong> cuidar de suas próprias plantas. Está<br />

absolutamente claro que elas não permitirão que os homens desanimem ou percam a inspiração.<br />

Fatores-chave do sucesso e<br />

lições aprendidas<br />

O conceito da linha Ekos necessitava de um forte<br />

compromisso das comunidades. A priprioca era<br />

apenas um dos dezessete ingredientes naturais<br />

adquiridos das comunidades locais <strong>para</strong> constituir<br />

a linha Ekos, mas ela exemplifica o processo,<br />

as lições e as inovações desenvolvidas ao longo<br />

do caminho. Lições que a Natura aprendeu a<br />

partir dos relacionamentos com as comunidades<br />

fornecedoras, no processo de criação e<br />

implementação da linha Ekos, são discutidas a<br />

seguir:<br />

Transparência. Um relacionamento consistente<br />

com as comunidades necessitava de altos níveis<br />

de confiança. No que se refere à cadeia de<br />

suprimentos da linha Ekos, Ricardo Martello<br />

afirmou: “Sempre houve muita transparência<br />

nesta cadeia sobre o que estava envolvido, quem<br />

eram os stakeholders, e como a responsabilidade<br />

e o trabalho eram compartilhados nas tarefas”.<br />

A transparência também foi fundamental <strong>para</strong> o<br />

estabelecimento dos preços. O conceito de cadeia<br />

de valor aberta exigiu que <strong>todos</strong> os parceiros<br />

soubessem dos custos ao longo de <strong>todos</strong> os<br />

estágios de desenvolvimento do produto e<br />

garantiu o pagamento justo pelo trabalho. Ricardo<br />

Martello chamou a atenção <strong>para</strong> o fato de que “A<br />

transparência ajuda até mesmo na renegociação<br />

de ajustes”. As comunidades têm custos, tais como<br />

os de mão-de-obra, matérias-primas e fertilizantes<br />

naturais. Quando o peso de cada componente<br />

ficou claro, foi possível recalcular o custo total e<br />

renegociar uma nova distribuição de <strong>valores</strong> entre<br />

as partes.<br />

Desenvolvimento sustentável. Os princípios<br />

e <strong>valores</strong> da Natura incluem um forte senso<br />

de compromisso com o desenvolvimento<br />

sustentável das comunidades. Esse aspecto tem<br />

sido encorajado nas discussões das comunidades<br />

parceiras sobre modelos de desenvolvimento<br />

local sustentável e, da mesma forma, a Natura<br />

tem tentado contribuir com a organização social<br />

das comunidades, indo além dos interesses de<br />

negócios. A empresa queria compreender a<br />

realidade local. ONGs locais foram contratadas<br />

<strong>para</strong> melhor entender as pessoas, assim<br />

como suas necessidades e demandas. A<br />

conclusão principal foi que a complexidade<br />

do relacionamento, a diversidade de situações<br />

e a importância das comunidades como<br />

fornecedores de matéria-prima necessitava de<br />

um departamento específico dentro da empresa<br />

<strong>para</strong> lidar com elas. Também foi concluído<br />

que seria necessário criar parcerias <strong>para</strong><br />

implementar o plano de ação construído após<br />

esse processo de compreensão.<br />

O Programa de Desenvolvimento Sustentável<br />

com as Comunidades Fornecedoras da Natura,<br />

criado em 2005, estabeleceu o objetivo de<br />

promover o desenvolvimento sustentável<br />

nessas comunidades (na região norte do<br />

Brasil) buscando reforços locais, no âmbito<br />

social e ambiental, que vão além da atividade<br />

comercial com a Natura. Diagnósticos<br />

locais foram feitos com o as comunidades<br />

fornecedoras <strong>para</strong> monitorar o progresso do<br />

desenvolvimento sustentável. Para determinar<br />

a maneira apropriada de medição, de acordo<br />

com cada região, múltiplas partes interessadas<br />

foram consultadas; estão entre elas: entidades<br />

públicas, ONGs, empresas do setor privado e<br />

universidades. Em 2005, o Diagnóstico Local<br />

Participativo e o Plano de Desenvolvimento<br />

Comunitário Iratapuru Sustentável (PDCI) foram<br />

concluídos. A Natura contratou uma firma<br />

de consultoria externa <strong>para</strong> desenvolver, em<br />

sistema de colaboração, os dois programas com<br />

a comunidade. O PDCI apresentou ações críticas<br />

<strong>para</strong> serem executadas no curto e médio prazo,<br />

assim como a implementação de estratégias. Em<br />

2005, o Instituto Peabiru, uma ONG local das<br />

comunidades de Boa Vista, Cotijuba e Campo<br />

Limpo, desenvolveu um processo semelhante.<br />

Um fundo de desenvolvimento comunitário<br />

também foi criado a partir de um percentual<br />

da receita gerada pela venda da matéria-prima<br />

produzida pelas comunidades. O dinheiro será<br />

usado <strong>para</strong> financiar projetos que visem ao<br />

desenvolvimento sustentável local, sujeitos à<br />

aprovação de <strong>todos</strong> os parceiros envolvidos na<br />

cadeia de valor.<br />

168 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Práticas de gestão. O Sistema de Gestão da<br />

Responsabilidade Corporativa avaliou riscos<br />

relativos a questões de comportamento ético,<br />

transparência, diálogo aberto com o público e<br />

adoção de metas de sustentabilidade corporativa.<br />

Essa ferramenta de gestão ajudou a identificar<br />

áreas <strong>para</strong> melhoria. As prioridades foram<br />

estabelecidas com base nos resultados, e os<br />

planos de ação postos em prática. Uma Matriz de<br />

Investimento em Responsabilidade Corporativa<br />

ajudou a monitorar as atividades principais da<br />

gestão socialmente responsável. O Sistema de<br />

Gestão Ambiental (baseado nas normas ISO<br />

14001) monitorou as metas e os indicadores<br />

ambientais. Esses dois sistemas alimentaram o<br />

ciclo de planejamento e o mapa estratégico nos<br />

quais o mesmo nível de importância foi atribuído<br />

aos objetivos socioambientais e financeiros.<br />

Em 2005, a empresa começou a implementar<br />

o Sistema de Gestão de Responsabilidade<br />

Corporativa nas suas operações internacionais.<br />

Em termos de estrutura interna, a Natura<br />

criou o Grupo de Gestão de Relações com as<br />

Comunidades. O grupo está encarregado de<br />

identificar e trabalhar com as comunidades<br />

fornecedoras. Essa equipe multifuncional<br />

tem contribuído no desenvolvimento de uma<br />

estratégia <strong>para</strong> identificar e desenvolver<br />

as comunidades fornecedoras de ativos da<br />

biodiversidade, a partir de critérios que permitam<br />

a parceria comercial e a geração de benefícios<br />

<strong>para</strong> <strong>todos</strong> os stakeholders envolvidos.<br />

Técnicas de plantio. A tradicional prática<br />

agrícola, de cortar e queimar, dos índios da<br />

região amazônica não era sustentável em<br />

escala industrial. A Natura ensinou <strong>para</strong> as<br />

comunidades fornecedoras de priprioca uma<br />

nova técnica de plantio: o plantio em canteiros<br />

e uso de fertilizantes naturais. Esse processo<br />

envolveu mais trabalho, mas a mão-de-obra<br />

adequada foi contabilizada nas negociações <strong>para</strong><br />

o estabelecimento dos preços.<br />

Compartilhamento de benefícios. As<br />

empresas farmacêuticas e de cosméticos, assim<br />

como outros setores, têm, há muito tempo,<br />

explorado o conhecimento indígena sobre a<br />

biodiversidade local <strong>para</strong> fins medicinais e<br />

outros propósitos, proporcionando poucos<br />

benefícios aos povos indígenas. O Brasil assinou<br />

uma lei em 2001 <strong>para</strong> apoiar a conservação<br />

e o uso sustentável da biodiversidade. O<br />

compartilhamento de benefícios está entre os<br />

fatores importantes desse compromisso, mas,<br />

além de pouca experiência prática, não existiam<br />

procedimentos suficientes ou condições <strong>para</strong><br />

torná-lo funcional.<br />

A Natura foi pioneira no compartilhamento<br />

de benefícios oriundos de recursos genéticos<br />

durante o desenvolvimento da linha Ekos, cuja<br />

base legal é um pouco mais clara do que <strong>para</strong><br />

outras questões relativas ao compartilhamento<br />

de benefícios (como o conhecimento<br />

tradicional). “A Natura tem sido precursora<br />

no compartilhamento desses benefícios<br />

e, de certo modo, no estabelecimento de<br />

procedimentos <strong>para</strong> o cumprimento da lei. Ainda<br />

há muitos fatores de incerteza e imprecisão.<br />

Vale mencionar que tomamos a iniciativa<br />

de reconhecer tais benefícios formalmente”,<br />

acrescenta Ricardo Martello.<br />

As negociações sobre o patrimônio genético<br />

foram realizadas a partir de uma proposta da<br />

empresa <strong>para</strong> os grupos, com a assistência de<br />

um antropólogo (uma exigência do Ministério do<br />

Meio Ambiente). Quando se chegou a um acordo,<br />

solicitou-se a aprovação do Conselho de Gestão<br />

do Patrimônio Genético (órgão governamental<br />

oficial) e também das ONGs e indústrias (dos<br />

setores farmacêutico e de biotecnologia).<br />

Em 2006, a Natura aprovou o Breu Branco<br />

e o Cupuaçu, com o benefício calculado em<br />

percentual sobre a receita líquida da venda dos<br />

produtos.<br />

Relacões com o governo . A experiência<br />

com a Emater em Campo Limpo destacou a<br />

importância de incluir os órgãos governamentais<br />

nos esforços <strong>para</strong> a promoção do<br />

desenvolvimento sustentável nas comunidades<br />

fornecedoras. A Emater contribuiu com valiosa<br />

assistência técnica oferecida aos produtores e<br />

com a capacidade de se relacionar facilmente<br />

com as comunidades. Na busca de parcerias com<br />

o governo do Pará, a Natura descobriu sinergias<br />

com programas estaduais de desenvolvimento,<br />

como o Pará Rural.<br />

Ao mesmo tempo, a experiência com o<br />

compartilhamento de benefícios demonstrou a<br />

importância de cooperar com outras instituições,<br />

além do governo, <strong>para</strong> ajudar na melhoria e<br />

na aplicação da lei. O uso da biodiversidade<br />

brasileira ainda está sujeita a um sistema<br />

institucional imaturo.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

169


A Fábrica de sabonete: novos horizontes<br />

<strong>para</strong> o aumento da produção<br />

Enquanto os produtos de priprioca e a linha Ekos seguem seus caminhos de crescimento<br />

como cosméticos do portfólio da Natura, a empresa tem buscado contribuir ainda mais<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento sustentável do Pará e os seus estados vizinhos. Em 2006, a Natura<br />

inaugurou uma nova fábrica de massa de sabonete perto de Belém, no município de<br />

Benevides.<br />

Benevides é um exemplo típico de terra desmatada. Sua vegetação está predominantemente<br />

composta por florestas secundárias que substituíram as florestas originais cortadas <strong>para</strong><br />

a produção de madeira, agricultura de subsistência e pastagem. A vegetação original<br />

que cobria a região foi alterada em mais de 95,75% de sua área, mas algumas florestas e<br />

bosques preservados ainda podem ser encontrados ao longo das margens dos rios, tais<br />

como as matas ciliares, florestas de água branca e mangues na parte mais baixa do córrego<br />

Tauá.<br />

Situações semelhantes prevalecem por toda a região onde a floresta foi cortada nos últimos<br />

40 anos. Para as comunidades que anteriormente viviam na floresta amazônica e levavam<br />

um estilo de vida com base na subsistência familiar, era preciso encontrar um novo meio<br />

de vida. A princípio, isso parecia incompreensível <strong>para</strong> as comunidades da floresta. Porém,<br />

pouco a pouco, novas redes sociais foram estabelecidas em torno da atividade agrícola de<br />

subsistência e da criação de gado. O espaço físico aberto permitiu novas fronteiras agrícolas<br />

que pudessem suprir as cidades que surgiram em decorrência da floresta destruída.<br />

Para a Natura, o desenvolvimento de novas redes e meios de vida tinha o potencial <strong>para</strong><br />

aplicação de conhecimento e expansão da vegetação tradicional que crescia na floresta<br />

secundária. Seria natural começar a criar redes produtivas baseadas na agricultura de<br />

subsistência, associações e cooperativas. Novas empresas de processamento e comércio<br />

completariam a rede.<br />

O óleo de palma é um ingrediente essencial <strong>para</strong> a produção de sabonete sem ingredientes<br />

de base animal, que é uma das normas da Natura. Inicialmente, a fábrica de sabonetes da<br />

Natura comprava 14.000 toneladas de óleo de palmeira por ano da Agropalma (uma grande<br />

empresa local).<br />

A idéia era substituir pouco a pouco o fornecimento de óleo de palma por matérias-primas<br />

compradas diretamente dos produtores de Benevides, usando o modelo bem-sucedido<br />

estabelecido com a linha Ekos. “Estamos <strong>criando</strong> as condições <strong>para</strong> inovar nas tecnologias<br />

de processamento <strong>para</strong> diversas outras espécies além da palmeira. Dessa forma, criaremos<br />

novas condições <strong>para</strong> a agricultura e, principalmente, <strong>para</strong> o manuseio sustentável das<br />

florestas primárias e secundárias que restam,” diz José Renato Cagnon, gerente da fábrica<br />

de sabonete. Um amplo estudo <strong>para</strong> catalogar a floresta num raio de 200 km da fábrica<br />

contribuirá na obtenção do conhecimento necessário <strong>para</strong> o estabelecimento de uma<br />

produção estável de óleo de palma, baseada nas atuais condições naturais e sociais instáveis.<br />

Nenhuma família foi contratada diretamente como fornecedora, mas o projeto tem o<br />

potencial de incluir cerca de 5.000 famílias.<br />

Conclusão<br />

A experiência da Natura com a linha Ekos ilustra possibilidades existentes <strong>para</strong> o<br />

estabelecimento de parcerias com as comunidades e <strong>para</strong> a promoção do desenvolvimento<br />

sustentável no norte do Brasil. A Natura reconheceu essas possibilidades e tem buscado<br />

criar e alimentar um negócio que desenvolve redes sociais existentes e contribui <strong>para</strong><br />

um meio de vida sustentável a partir da extração de produtos naturais da floresta que<br />

não sejam a madeira. Dessa forma, o consumo de seus produtos gera benefícios que são<br />

compartilhados ao longo da cadeia de suprimentos e com o meio ambiente natural do qual<br />

as matérias-primas são extraídas.<br />

170 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


REFERÊNCIAS<br />

Financial Times. Website oficial. Disponível<br />

em www.ft.com.<br />

Ghoshal, S, et al. 2002. Natura: The magic<br />

behind Brazil’s most admired company.<br />

London Business School.<br />

Natura. 2005. Relatório Anual.<br />

Natura. Website oficial. Disponível em<br />

www.natura.net.<br />

Natura. Um país encontra sua essência.<br />

Filme Natura. Região amazônica.<br />

Disponível em http://pt.wikipedia.<br />

org/w/index.phptitle=Regi%C3%A3o_<br />

amaz%C3%B4nica&oldid=2056983. 4<br />

de janeiro de 2007.<br />

Uniethos. Natura Ekos, The Brazilian<br />

Biodiversity. Disponível em http://<br />

www.uniethos.org.br/_Ethos/<br />

documents/natura_text.pdf.<br />

Wikipedia. Pará. Disponível em http://<br />

pt.wikipedia.org/w/index.phptitle=<br />

Par%C3%A1&oldid=4440062. 4 de<br />

janeiro de 2007.<br />

Wikipedia. Ver-o-Peso. Disponível em<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ver-opeso.<br />

12 de fevereiro de 2007.<br />

ENTREVISTAS<br />

Ailson (Ney). Extensionista Rural da Emater, Santo Antônio do Tauá. 20 de dezembro de 2006.<br />

Cagnon, José Renato. Gerente de Unidade de Negócios, Natura Cosméticos. Benevides, PA. 20<br />

de dezembro de 2006.<br />

Martello, Ricardo. Negociador de suprimentos, Natura Cosméticos. Cajamar, SP. 01 de<br />

dezembro de 2006.<br />

Mateus, Nazareno Neves. Presidente da Associação de Agricultores de Campo Limpo. Campo<br />

Limpo, PA. 20 de dezembro de 2006.<br />

Mateus, Rosilene e Maria de Lurdes. Agricultores. Campo Limpo, PA. 20 de dezembro de 2006.<br />

Roncolleta, Luciana. Coordenadora de Relacionamento com a Comunidade, Natura Cosméticos.<br />

Cajamar, SP. 31 de outubro de 2006.<br />

CASO. NATURA EKOS<br />

171


P r o g r a m a d e<br />

Suinocultura Sustentável<br />

Sadia (Programa 3S):<br />

trazendo sustentabilidade <strong>para</strong> a cadeia de suprimentos<br />

Pre<strong>para</strong>do por:<br />

Cláudio Boechat, Nísia<br />

Werneck & Letícia Miraglia<br />

Setor: Alimentos<br />

Classe de Empresa:<br />

Multinacional do Sul<br />

RESUMO<br />

O Programa de Suinocultura Sustentável Sadia<br />

(Programa 3S) foi projetado <strong>para</strong> ajudar mais de 3500<br />

produtores de suínos a reduzir as emissões de gases do efeito<br />

estufa emanadas de suas operações. Desenvolvido e gerenciado pelo<br />

Instituto de Sustentabilidade da Sadia, o Programa 3S busca instituir a<br />

sustentabilidade da cadeia de suprimentos da empresa. As reduções nas<br />

emissões qualificam-se <strong>para</strong> o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo<br />

(MDL) do protocolo de Kyoto, sob o qual o Instituto Sadia vende seus<br />

créditos de carbono. A tecnologia de redução das emissões gera receita<br />

suplementar e melhores condições de trabalho <strong>para</strong> os produtores de<br />

suínos da Sadia (produtores rurais), reduzindo, ao mesmo tempo, o<br />

impacto ambiental associado à produção de suínos.<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

173


174 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Visão geral da empresa<br />

Fundada no Brasil em 1944, a Sadia é um dos maiores<br />

produtores do mundo de alimentos frios e congelados.<br />

No Brasil, a empresa lidera <strong>todos</strong> os segmentos de<br />

mercado de seus 680 produtos, incluindo carnes,<br />

massas, margarinas e sobremesas (veja os detalhes na<br />

TAB. 1). Ela é também a principal exportadora do país<br />

de produtos à base de carne. A empresa tem mais de<br />

40.000 funcionários e 12 unidades industriais no Brasil,<br />

que juntas produzem mais de 1,3 milhões de toneladas<br />

de produtos à base de proteína derivados de frango,<br />

peru e carnes suína e bovina. Em 2006, sua receita<br />

totalizou 3,7 bilhões de dólares. A FIG. 1 ilustra a receita<br />

especificada por categoria de produto.<br />

Figura 1: Receita registrada<br />

(2006) por categoria de produto<br />

Outros:<br />

Bovino<br />

4%<br />

4%<br />

Porco<br />

7%<br />

17%<br />

Frango<br />

Pedaços<br />

de frango<br />

US$ 3,7 bilhões<br />

19%<br />

49%<br />

Produtos<br />

industrializados<br />

Fonte: Sadia<br />

Figura 2: Receita Bruta Operacional da<br />

Sadia (1998 - 2006) em milhões de R$<br />

Receita Bruta Operacional<br />

7.317<br />

8.328<br />

4,7%<br />

{<br />

7.940<br />

TOTAL<br />

5.855<br />

51% 56%<br />

4.689<br />

51%<br />

4.017<br />

55%<br />

3.146 3.258<br />

2.654<br />

58%<br />

62%<br />

82%<br />

73% 73%<br />

49% 44%<br />

49%<br />

45%<br />

18% 27% 27% 38% 42%<br />

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />

Mercado<br />

Brasileiro<br />

Mercado<br />

Internacional<br />

Fonte: Sadia<br />

Tabela 1: Classificação por segmento<br />

de produtos no mercado brasileiro<br />

Classificação Participação Fonte Período<br />

no Mercado<br />

Congelados<br />

1º<br />

43,2%<br />

NIELSEN<br />

ON06<br />

Resfriados<br />

1º<br />

30,2%<br />

NIELSEN<br />

ND06<br />

Margarina<br />

1º<br />

38,1%<br />

NIELSEN<br />

ON06<br />

Frangos<br />

1º<br />

14,2%<br />

ABEF<br />

2005<br />

Peru<br />

1º<br />

65,6%<br />

UBA<br />

2005<br />

Porco<br />

1º<br />

12,2%<br />

ABIPECS<br />

2005<br />

ON06 – outubro/novembro 2006 ND06 – novembro/dezembro 2006<br />

Fonte: Sadia<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

175


A Sadia foi considerada a marca mais valiosa do setor de alimentos brasileiro pela quarta vez<br />

consecutiva em pesquisa divulgada pela consultoria inglesa Interbrand em 2005. Seus produtos<br />

podem ser encontrados em mais de 300.000 pontos de venda por todo o Brasil. A Sadia também<br />

exporta <strong>para</strong> aproximadamente 200 clientes estrangeiros em quase 100 países (algumas das marcas<br />

estão mostradas na FIG. 3), principalmente na Europa e no Oriente Médio, mas também <strong>para</strong> Rússia,<br />

Japão, sudeste da Ásia e Américas. A distribuição das vendas internacionais é mostrada na FIG. 4.<br />

Figura 3: Marcas selecionadas da<br />

Sadia no mundo inteiro<br />

Figura 4: Distribuição regional<br />

de vendas<br />

US$1,6 bilhões<br />

Américas<br />

15%<br />

23%<br />

Oriente Médio<br />

Eurásia<br />

21%<br />

26%<br />

Europa<br />

15%<br />

Ásia<br />

Fonte: Sadia<br />

SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA<br />

Valores como a educação, a transparência, o bem-estar, a saúde e a segurança de funcionários e<br />

consumidores sempre foram considerados, desde que o fundador da Sadia, Attilio Fontana, iniciou o<br />

negócio. Reconhecendo a crescente influência de questões sociais e ambientais, a Sadia criou, em 2004,<br />

o Comitê Estratégico de Sustentabilidade, que compreende alguns dos mais altos executivos da empresa.<br />

O Instituto Sadia de Sustentabilidade, que será apresentado neste estudo de caso, também foi criado em<br />

2004 <strong>para</strong> gerenciar o investimento social da companhia.<br />

Atualmente, a Sadia possui um Comitê de Sustentabilidade no seu Conselho que conta com a<br />

participação do Presidente do Conselho.<br />

A Sadia também integra o Laboratório de Alimentos Sustentáveis (Food Lab), um projeto elaborado<br />

<strong>para</strong> repensar os sistemas da cadeia de suprimentos de alimentos da América Latina, América do Norte<br />

e Europa. Empresas, governos e organizações da sociedade civil trabalham juntos <strong>para</strong> desenvolver<br />

produtos alimentícios que, além de serem mais saudáveis, são mais sustentáveis ao longo da cadeia de<br />

suprimentos, do produtor ao consumidor final. A empresa está liderando uma iniciativa brasileira do<br />

Food Lab, chamada Brazilian Business Coalition, <strong>para</strong> engajar as partes interessadas da cadeia produtiva<br />

de alimentos no Brasil.<br />

176 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Impulsionadores do Programa 3S<br />

Em 2004, a Sadia reconheceu a necessidade de olhar mais estrategicamente as implicações<br />

ambientais e sociais do seu negócio. Os principais impulsionadores do Programa 3S estavam<br />

relacionados ao impacto social e ambiental da produção de suínos.<br />

Para atender a demanda por seus produtos, a Sadia faz parceria com cerca de 10.000 produtores de<br />

frangos e suínos no Brasil, chamados pela empresa de integrados. Dos integrados da Sadia, 3.500<br />

são produtores de suínos. Aqueles que possuem mais de 1000 animais, são considerados grandes<br />

produtores, os que possuem entre 600 e 1000 animais, produtores médios e o restante, com menos<br />

de 600 animais, pequenos produtores. Cerca de 90% dos integrados da Sadia são pequenos e<br />

médios, e 10% são grandes produtores.<br />

Certamente, existem impactos ambientais e sociais em toda produção de suínos, mas os pequenos e<br />

médios produtores enfrentavam desafios específicos, tanto sociais quanto ambientais, que poderiam<br />

ter efeitos danosos à Sadia. Esse era um cenário preocupante <strong>para</strong> uma empresa que buscava a<br />

sustentabilidade em todas as suas atividades, incluindo a cadeia de suprimentos.<br />

Desafios ambientais: eliminação de resíduos.<br />

Um número significativo das instalações de<br />

suínos na cadeia de produção da Sadia não<br />

possuía nem mesmo uma licença ambiental.<br />

A legislação brasileira exige o uso de um<br />

mecanismo de remoção de resíduos, de certa<br />

forma ineficiente, que pouquíssimos produtores<br />

usavam. As licenças ambientais também<br />

custavam caro e nem <strong>todos</strong> os produtores<br />

tinham consciência da importância delas ou<br />

sabiam como obtê-las.<br />

Não era incomum, por exemplo, que<br />

pequenos produtores lançassem os resíduos<br />

não tratados (dejetos) diretamente no solo ou<br />

em fontes de água. Tais práticas comprometiam<br />

o ecossistema ao poluir a terra e a água, sem<br />

mencionarmos o mau cheiro. As análises<br />

demonstravam que uma instalação que criasse<br />

300 porcos gerava o equivalente à carga de<br />

poluição de uma cidade de 75.000 habitantes.<br />

Além disso, os resíduos também emitiam gases<br />

causadores do efeito estufa.<br />

Desafios sociais: urbanização. Outro desafio<br />

enfrentado pela Sadia era o potencial limitado<br />

de geração de receita da produção de suínos<br />

<strong>para</strong> o sustento de médios e pequenos<br />

produtores e suas famílias. Tais produtores<br />

tipicamente dependiam que grandes empresas,<br />

como a Sadia, comprassem seus produtos.<br />

Entretanto, o pequeno produtor tinha pouco<br />

poder de negociação em tal relação.<br />

A situação dos pequenos e médios<br />

produtores também levava as gerações mais<br />

jovens a deixarem o interior em busca<br />

de melhores oportunidades nas cidades<br />

maiores (embora não necessariamente as<br />

encontrassem). Na verdade, as grandes<br />

cidades brasileiras enfrentam altas taxas de<br />

desemprego. Com pouquíssimas exceções,<br />

esse êxodo contribuiu <strong>para</strong> as crescentes<br />

estatísticas de pobreza urbana. Portanto,<br />

a diversificação da produção agrícola e da<br />

criação de animais, era essencial <strong>para</strong> garantir<br />

renda adicional e melhorar a qualidade de<br />

vida de gerações presentes e futuras.<br />

Permitir que o ambiente de trabalho se<br />

tornasse mais saudável e agradável também<br />

era importante. Quando os resíduos da<br />

produção de suínos não são bem gerenciados,<br />

comprometem a auto-imagem e a auto-estima<br />

dos produtores e também desencorajam<br />

a participação das gerações mais jovens<br />

nos negócios da família. Além disso, as<br />

comunidades do entorno eram afetadas pela<br />

poluição da água e do solo, assim como pelo<br />

mau cheiro.<br />

Para a Sadia, o risco de apoiar práticas não<br />

sustentáveis em sua cadeia de suprimentos<br />

e de perder produtores pela busca de outros<br />

meios de vida, era agravado pelo risco de<br />

perder produtores <strong>para</strong> os competidores.<br />

As condições desfavoráveis da produção de<br />

suínos também fazem com que os produtores<br />

queiram mudar de uma empresa <strong>para</strong> outra<br />

de tempos em tempos. A Sadia não poderia<br />

permitir o aumento da já alta taxa de<br />

rotatividade de fornecedores, de cerca de 10%<br />

ao ano.<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

177


O desenvolvimento do Programa 3S<br />

No início de 2004, a Sadia decidiu enfrentar o desafio de reduzir o impacto ambiental da produção<br />

de suínos sem custo adicional, aumentando, ao mesmo tempo, a receita dos produtores. No começo<br />

parecia improvável, mas o estudo das tecnologias disponíveis e as oportunidades do mercado de<br />

créditos de carbono mostravam uma realidade promissora considerando a primeira metodologia da<br />

UNFCCC, a AM0006. O que eventualmente se tornaria o Programa Suinocultura Sustentável Sadia<br />

(Programa 3S) envolvia colocar os resíduos dos suínos em biodigestores <strong>para</strong> múltiplos benefícios.<br />

Com os biodigestores, o resíduo dos suínos é fermentado por bactérias dentro de reservatórios<br />

fechados, evitando a emissão de metano. No processo, o gás metano é convertido em CO 2 , que é 21<br />

vezes menos intensivo como gás do efeito estufa. Essa captura de gases causadores do efeito estufa<br />

gera crédito de carbono pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do protocolo de Kyoto,<br />

que pode ser comercializado com outras empresas que precisam dos créditos de carbono. Veja o<br />

Apêndice A <strong>para</strong> uma visão geral do MDL. De acordo com os estudos da Sadia, e considerando a antiga<br />

metodologia AM0006 da UNFCCC, a venda de créditos de carbono poderia ser suficiente <strong>para</strong> cobrir o<br />

custo dos biodigestores.<br />

Além disso, a renda dos produtores aumentaria. Os gases capturados na operação dos<br />

biodigestores podem ser usados como energia, reduzindo assim os custos operacionais dos<br />

produtores. E o subproduto do processo de fermentação pode servir como fertilizante ou como<br />

alimento <strong>para</strong> a criação de peixes. A FIG. 5 ilustra o processo.<br />

Figura 5: O ciclo dos resíduos de<br />

suínos tratados em biodigestores<br />

Resíduos da<br />

Criação de<br />

Porcos<br />

Créditos de Carbono Negociáveis<br />

Biofertilizantes<br />

Energia<br />

Renovável <strong>para</strong><br />

ser usada na<br />

Propriedade<br />

Culturas<br />

Complementares<br />

e Alimentação<br />

dos Porcos<br />

Resíduos<br />

Biofertilizantes<br />

Lago<br />

de Decantação<br />

Criação de<br />

Peixes<br />

Fonte: Os autores<br />

Visão geral do Programa 3S<br />

No final de 2004, a Sadia havia decidido propor um projeto no âmbito do MDL. A empresa criou uma<br />

entidade sem fins lucrativos, chamada Instituto Sadia de Sustentabilidade, <strong>para</strong> gerenciar o Programa<br />

3S e negociar os créditos de carbono. Desde seu início em 2004, além de gerenciar e garantir os<br />

recursos financeiros <strong>para</strong> o Programa 3S, o Instituto assumiu a responsabilidade pelo mesmo e pelo<br />

investimento social da Sadia nas comunidades em que a empresa tem fábricas industriais e unidades<br />

comerciais.<br />

178 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Nos primeiros três trimestres de 2005, o Instituto desenvolveu estudos <strong>para</strong> analisar o Programa<br />

3S e identificou os produtores que poderiam ser participantes potenciais. Eles pediram que <strong>todos</strong><br />

os integrados da Sadia completassem um levantamento sobre suas instalações e produção <strong>para</strong><br />

encontrar aqueles que melhor se encaixavam no Programa.<br />

O Instituto também iniciou negociações <strong>para</strong> torná-lo financeiramente viável. Em dezembro de<br />

2005, apoiando-se na reputação da Sadia, o Instituto obteve uma linha de crédito de 60 milhões<br />

de reais com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) <strong>para</strong> a implementação do Programa<br />

3S. Essa quantia permitiria que o Instituto incluísse 60% dos integrados da Sadia no Programa.<br />

Ele esperava engajar 100% através dos lucros do Programa 3S, tornando-o uma iniciativa autofinanciada<br />

já em meados de 2007. Entretanto, no início do ano de 2007, surgiram desafios de<br />

regulamentação que adiaram essa meta. Se a receita gerada pelos créditos de carbono não for<br />

adequada, o Instituto Sadia buscará alternativas <strong>para</strong> incluir <strong>todos</strong> os integrados no Programa.<br />

O papel do Instituto Sadia era o de fornecer aos suinocultores a informação, através dos<br />

técnicos da empresa, <strong>para</strong> obter os biodigestores, identificar a estrutura necessária em cada<br />

instalação, contratar as empresas responsáveis pela construção do lago de decantação e cuidar da<br />

administração geral do Programa.<br />

Fase 1: A adesão dos produtores<br />

No último trimestre de 2005, <strong>para</strong> gerar interesse pelo Programa 3S, o Instituto organizou<br />

reuniões com os produtores de suínos <strong>para</strong> apresentar a proposta da Sadia e fornecer o máximo<br />

de informação possível. Os técnicos da empresa foram treinados <strong>para</strong> apresentar o Programa 3S<br />

aos suinocultores durante essas sessões de informação em grupo e apresentar a eles uma cópia do<br />

contrato. Alguns dos integrados decidiram aderir ao Programa imediatamente após essas reuniões,<br />

formalizando sua participação através da assinatura do contrato.<br />

A Sadia esperava que cerca de 50% dos produtores participaria do Programa 3S. No início de<br />

2007, 96% já haviam assinado o contrato indicando a sua disposição em participar do programa.<br />

Os outros 4% eram integrados de grande porte que já estão pre<strong>para</strong>dos ou estavam se pre<strong>para</strong>ndo<br />

<strong>para</strong> operar individualmente no mercado de crédito de carbono. Embora 96% dos integrados<br />

quisesse participar do Programa 3S, ele foi implementado em apenas 30% das propriedades.<br />

No início, a Sadia achou que seria mais fácil trabalhar com os integrados em grupos de acordo<br />

com as regiões geográficas. As reuniões iniciais seriam com esses grupos, os quais também teriam<br />

um Documento de Conceito do Projeto em comum (ver o Apêndice 5). Esse modelo simplificaria<br />

e reduziria os custos do processo de aprovação pelo governo brasileiro e pelas Nações Unidas.<br />

Entretanto, o ritmo de avanço, o estágio de desenvolvimento e o cumprimento da legislação<br />

ambiental variavam amplamente entre os produtores, e isso tornou impossível o trabalho com<br />

grupos por região. A Sadia preferiu então trabalhar individualmente com os produtores que<br />

estavam pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> se juntar ao Programa.<br />

Fase 2: A instalação dos biodigestores<br />

Após a adesão dos produtores ao programa, o processo de implementação foi iniciado. O Instituto<br />

Sadia determinou quantos biodigestores seriam necessários, estimou a quantia disponível de<br />

carbono a ser capturado e calculou o tempo que levaria <strong>para</strong> que o produtor reembolsasse o<br />

Instituto pelo investimento. Os biodigestores foram instalados e comissionados pelo Instituto,<br />

e cada produtor recebeu instruções de como operá-los. No final da segunda fase, o impacto<br />

ambiental da produção de suínos já havia sido reduzido, e o produtor tinha fertilizante <strong>para</strong> seus<br />

plantios e comida <strong>para</strong> começar a criar peixes.<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

179


Fase 3: A instalação do equipamento <strong>para</strong><br />

queimar e medir o gás metano e o CO 2<br />

Na terceira fase, o equipamento <strong>para</strong> queimar os<br />

gases e medir a quantidade de gás emitido foi<br />

instalado e comissionado (da mesma forma que os<br />

biodigestores). Dessa maneira, o produtor podia<br />

certificar e negociar os créditos de carbono.<br />

Fase 4: A geração de energia<br />

Alguns integrados instalaram o equipamento<br />

necessário <strong>para</strong> gerar eletricidade a partir da<br />

combustão dos gases. A eletricidade é usada<br />

na propriedade dos produtores, reduzindo seus<br />

custos com energia. A consideração sobre a<br />

viabilidade financeira individual <strong>para</strong> aquisição<br />

desse equipamento seria um segundo estágio do<br />

programa, após a geração de créditos de carbono<br />

gerados a partir do seqüestro do gás metano.<br />

O Instituto Sadia é proprietário de <strong>todos</strong> os<br />

equipamentos instalados nas propriedades dos<br />

suinocultores <strong>para</strong> propósitos do Programa 3S.<br />

Em aproximadamente cinco anos, quando os<br />

produtores terminarem de pagar o Instituto,<br />

os biodigestores e <strong>todos</strong> os equipamentos<br />

relacionados passarão a ser de propriedade dos<br />

integrados.<br />

O modelo financeiro. O Instituto Sadia<br />

negocia os créditos de carbono com a Entidade<br />

Operacional designada no âmbito do MDL. O<br />

Instituto recebe uma porcentagem da receita<br />

<strong>para</strong> cobrir as despesas operacionais e o restante<br />

é repassado ao produtor. Antes de ver qualquer<br />

rendimento dos créditos, o produtor paga pelo<br />

biodigestor; estima-se que o pagamento seja<br />

quitado após cinco anos de prestações. A Sadia<br />

considera que o principal benefício financeiro<br />

<strong>para</strong> os produtores venha da produção de<br />

energia e fertilizante.<br />

Em maio de 2006, a Sadia e o Instituto Sadia<br />

venderam os primeiros créditos de carbono<br />

gerados pelo programa 3S. 290.000 toneladas<br />

foram vendidas pelas próprias fazendas da Sadia<br />

e foram entregues em 2007 ao preço de €11<br />

por tonelada por 50.000 toneladas e o restante<br />

foi baseado no índice europeu de mercado. O<br />

Fundo Europeu de Carbono também comprou<br />

do Instituto aproximadamente 2,5 milhões de<br />

toneladas de carbono, os quais serão capturados<br />

pelos integrados. O preço ainda será definido,<br />

porque o mercado de carbono é extremamente<br />

volátil e os preços variam quase diariamente; o<br />

preço será determinado pelo índice europeu de<br />

mercado.<br />

Desafios e inovações na implementação<br />

do Programa 3S<br />

A idéia dos biodigestores ajudou a Sadia a desenvolver o Programa 3S, e a empresa estava<br />

comprometida em descobrir uma maneira de fazê-lo dar certo. Mas a implementação não aconteceu<br />

sem desafios.<br />

Os desafios tecnológicos: biodigestores<br />

e instrumentação. O primeiro desafio foi<br />

o de identificar os fornecedores <strong>para</strong> os<br />

biodigestores e <strong>para</strong> a instrumentação que mede<br />

as emissões de gás. Esses dois componentes<br />

eram necessários <strong>para</strong> viabilizar o seqüestro de<br />

carbono. As soluções disponíveis eram caras,<br />

tornando-os inacessíveis <strong>para</strong> os pequenos e<br />

médios produtores de suínos.<br />

A principal dificuldade no processo de<br />

introdução do Programa 3S era a necessidade<br />

de encontrar um fornecedor <strong>para</strong> produzir os<br />

biodigestores a um preço razoável <strong>para</strong> tornálos<br />

acessíveis aos produtores. Quando a Sadia<br />

começou a pensar no programa 3S em 2004,<br />

havia apenas uma única companhia no Brasil<br />

capaz de produzir os biodigestores: a Sansuy. Mas<br />

essa empresa tinha um acordo de exclusividade<br />

com uma companhia canadense e não poderia ser<br />

fornecedor do Instituto Sadia.<br />

O Instituto Sadia não conseguiria encontrar<br />

uma empresa alternativa. No entanto, encontrou<br />

um engenheiro disposto a trabalhar no<br />

projeto. Ele tinha conhecimento, mas nenhuma<br />

experiência na produção de biodigestores. A<br />

empresa decidiu investir nesse profissional<br />

e esperava que ele pudesse desenvolver um<br />

protótipo. Um ano se passou, mas ele não<br />

respondeu às expectativas do Instituto.<br />

180 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Enquanto isso, a Sansuy teve muitas<br />

dificuldades em renegociar com a empresa<br />

canadense e decidiu rescindir o contrato. A<br />

Sansuy ficou disponível e, na mesma época,<br />

outro produtor de biodigestores foi identificado:<br />

a Avesuy. Em 2006, a Sadia decidiu firmar uma<br />

parceria com as duas empresas.<br />

O segundo desafio tecnológico foi o de achar<br />

um equipamento <strong>para</strong> medir as emissões de<br />

gás. Ele é necessário <strong>para</strong> medir a quantidade<br />

de metano seqüestrado e a quantidade de CO 2<br />

produzida. Não havia uma tecnologia eficiente<br />

disponível <strong>para</strong> tal propósito, e <strong>todos</strong> os<br />

aparelhos testados eram corroídos rapidamente<br />

(o metano é altamente corrosivo) e <strong>para</strong>vam<br />

de funcionar. Portanto, era necessária uma<br />

manutenção constante, aumentando os custos e<br />

tornando as medidas não confiáveis.<br />

Medidores de alto desempenho continuaram<br />

difíceis de ser encontrados. A Sadia decidiu<br />

então estabelecer uma parceria com a<br />

Universidade do Espírito Santo <strong>para</strong> desenvolver<br />

um equipamento novo. Essa universidade<br />

tinha larga experiência na medição de gás<br />

por trabalhar com a Petrobrás no processo de<br />

extração do petróleo e usava uma tecnologia que<br />

não demonstra sinais de corrosão. A Sadia tem,<br />

até então, obtido resultados satisfatórios dos<br />

testes realizados com essa tecnologia. Porém,<br />

<strong>para</strong> garantir os resultados, a empresa precisará<br />

patrocinar mais pesquisas.<br />

Desafios culturais: a conscientização dos<br />

produtores rurais. Com o Programa 3S, o<br />

Instituto Sadia conseguiu superar os desafios<br />

tecnológicos, mas os problemas estavam apenas<br />

começando. Era ainda necessário convencer e<br />

mobilizar os produtores <strong>para</strong> mudarem seus<br />

mé<strong>todos</strong> de produção de suínos, os quais eles já<br />

estavam acostumados a utilizar e vinham sendo<br />

praticados há várias gerações.<br />

A empresa forneceu informação sobre os<br />

biodigestores, o processo de seqüestro do<br />

carbono e a produção de energia e fertilizantes.<br />

Para a Sadia, era importante que os produtores<br />

rurais tomassem uma decisão com conhecimento<br />

de causa sobre aderir ou não ao Programa<br />

3S. Desde o início, a empresa decidiu que a<br />

participação seria voluntária, e os técnicos da<br />

Sadia seriam responsáveis por comunicar sobre<br />

o programa e seus benefícios aos produtores.<br />

O grupo de técnicos da Sadia já era conhecido<br />

e respeitado pelos integrados. Os técnicos eram<br />

responsáveis pelo acompanhamento da produção<br />

de suínos de cada um dos integrados. Eles<br />

visitavam as granjas <strong>para</strong> verificar uma série de<br />

índices de eficiência e qualidade, o que, de modo<br />

geral, contribuía <strong>para</strong> um bom relacionamento<br />

entre o produtor e a empresa. A credibilidade e<br />

o respeito dos técnicos junto aos produtores os<br />

tornaram valiosos no processo de disseminação<br />

da informação e geração de interesse sobre<br />

os biodigestores. Eles eram o elo principal de<br />

comunicação <strong>para</strong> apresentar o Programa 3S aos<br />

integrados.<br />

Outra medida importante que a Sadia tomou<br />

<strong>para</strong> trazer os suinocultores <strong>para</strong> o Programa 3S<br />

foi a de instalar biodigestores e desenvolver o<br />

processo de seqüestro de carbono, certificação e<br />

comercialização em granjas próprias da empresa.<br />

O sucesso do exemplo ajudou a convencer os<br />

produtores e possibilitou o aprendizado e a<br />

melhoria do processo.<br />

Desafios financeiros. O desafio financeiro era<br />

o de garantir o capital <strong>para</strong> instalar a infraestrutura<br />

necessária <strong>para</strong> o programa. Esperavase<br />

que o programa fosse auto-sustentável no<br />

médio prazo, mas, a princípio, os recursos da<br />

comercialização de créditos de carbono seriam<br />

insuficientes <strong>para</strong> cobrir os custos iniciais.<br />

A ratificação do protocolo de Kyoto em<br />

fevereiro de 2005 triplicou o valor dos créditos<br />

de carbono, melhorando o panorama financeiro<br />

do programa. A comercialização dos créditos<br />

de carbono poderia, eventualmente, cobrir o<br />

investimento, mas levaria algum tempo até que<br />

o programa tivesse acesso a esses fundos. Sob<br />

o MDL a negociação <strong>para</strong> a venda dos créditos<br />

de carbono é fechada antes que o carbono<br />

seja verdadeiramente seqüestrado, mas é pago<br />

somente após o seqüestro ser certificado.<br />

Portanto, os créditos negociados em 2006 só<br />

seriam pagos em 2008. Entretanto, o Instituto<br />

Sadia e os integrados precisariam do dinheiro<br />

mais cedo, caso contrário seria impossível<br />

alcançar o volume de créditos de carbono<br />

que o Programa almejava negociar. Nesse<br />

momento, a reputação da Sadia foi crucial <strong>para</strong><br />

conseguir linhas de crédito que viabilizassem a<br />

concretização do programa.<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

181


Desafios institucionais. O Instituto Sadia<br />

também precisava consolidar um grande número<br />

de instalações <strong>para</strong> o seqüestro de carbono<br />

(biodigestores) <strong>para</strong> alcançar o volume de<br />

créditos de carbono que fosse significativo <strong>para</strong><br />

os interesses do mercado.<br />

O primeiro passo <strong>para</strong> qualificar o projeto de<br />

Seqüestro de Carbono brasileiro é apresentá-lo<br />

à comissão interministerial sobre a mudança do<br />

clima no Brasil. Se o projeto responder a todas<br />

as exigências, a comissão dará a ele uma carta de<br />

aprovação, autorizando o envio do Documento de<br />

Conceito do Projeto (Project Design Development<br />

PDD) <strong>para</strong> as Nações Unidas. Nesse estágio, o<br />

Conselho Executivo da ONU <strong>para</strong> Mudanças<br />

Climáticas permite que a empresa responsável<br />

pelo projeto negocie os créditos, gerados a<br />

partir do seqüestro do carbono, no mercado<br />

internacional.<br />

Ao assinar a carta de aprovação, o governo<br />

brasileiro torna-se responsável pela verificação<br />

da informação fornecida pelos gerenciadores do<br />

projeto. A ONU não tem a responsabilidade de<br />

descobrir se a informação dada é correta ou não.<br />

O Comitê Executivo da ONU possui suas próprias<br />

regras sobre o conteúdo do PDD e a maneira<br />

de como calcular o seqüestro do carbono, entre<br />

outras. A definição dessa regra era muito recente;<br />

na verdade, ela mudou depois que o Programa<br />

3S já estava em fase de desenvolvimento.<br />

O processo era muito complexo <strong>para</strong> os<br />

pequenos e médios produtores; exigia<br />

capacidades técnicas e institucionais que eles<br />

normalmente não têm. Além disso, era muito<br />

difícil encontrar alguém que fosse capaz de<br />

desenvolver um PDD; assim, a Sadia treinou<br />

pessoas (e continua a fazê-lo) num processo<br />

fundamentado no princípio do “aprender<br />

fazendo”.<br />

Era também importante prestar constante<br />

atenção ao mercado de crédito de carbono, já<br />

que ele ainda está em fase de estruturação. Os<br />

compradores estão começando a se mobilizar<br />

e a se organizar, e muitas mudanças ainda<br />

podem acontecer antes que ele se consolide.<br />

Todos esses desafios mostram que os<br />

pequenos produtores (90% dos integrados<br />

da Sadia são pequenos e médios produtores)<br />

nunca conseguiriam sozinhos ter lidado com<br />

o impacto ambiental de suas instalações de<br />

criação de suínos, de modo a gerar receita<br />

através das vendas de créditos de carbono e<br />

energia <strong>para</strong> reduzir os custos de produção.<br />

Eles precisariam de um agente externo <strong>para</strong><br />

estruturar um programa consistente e ajudá-los<br />

na sua implementação.<br />

B e n e f í c i o s e s p e r a d o s e r e s u l t a d o s p a r a o<br />

desenvolvimento a partir do Programa 3S<br />

O Programa 3S, primeiro grande projeto do Instituto Sadia, é um exemplo de prática sustentável<br />

que leva em conta os aspectos sociais, ambientais e econômicos. Através do Programa, pelo menos 3<br />

bilhões de litros de dejetos de suínos serão processados diariamente, um volume equivalente a 5% do<br />

total de resíduos de suínos produzido no Brasil.<br />

Os benefícios do Programa 3S <strong>para</strong> os integrados incluem custos operacionais mais baixos, a<br />

possibilidade de usar uma fonte alternativa de energia e o surgimento de novas fontes potenciais de<br />

geração de renda. Os custos operacionais são reduzidos a partir das fontes de energia e fertilizante<br />

gratuitas. O produtor pode usar o lago <strong>para</strong> piscicultura como um novo empreendimento. Além disso,<br />

o fertilizante orgânico é melhor <strong>para</strong> o meio ambiente. Ao reduzir os custos e criar a possibilidade de<br />

diversificação das fontes de renda, a Sadia espera encorajar os pequenos produtores a se manterem<br />

no negócio e diminuir o êxodo rural.<br />

O Programa 3S também traz benefícios <strong>para</strong> a saúde dos integrados e das comunidades próximas<br />

às suas instalações. Os dejetos de suínos ao ar livre atraíam insetos e roedores que podiam ser<br />

vetores de doenças. O novo processo também contribuiu <strong>para</strong> a qualidade de vida dos integrados e<br />

das comunidades do entorno ao reduzir o mau cheiro. O Programa aumentou a auto-estima, pois os<br />

suinocultores e suas famílias não estavam mais convivendo com ratos e mosquitos, ou com o mau<br />

cheiro e a sujeira que normalmente estão relacionados à produção de suínos.<br />

182 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


As comunidades do entorno de áreas com intensa produção de suínos também se<br />

beneficiaram com o Programa 3S, pois ele ajudará a melhorar a qualidade da água, reduzir a<br />

poluição do solo e controlar o mau cheiro.<br />

Espera-se que o Programa 3S também ajude a disseminar a educação ambiental entre os<br />

suinocultores, educando-os sobre temas importantes relacionados à conservação e ao melhor<br />

uso dos recursos naturais.<br />

O programa também desenvolverá um grupo de pessoas treinadas <strong>para</strong> trabalhar com a<br />

implementação dos projetos MDL. Centros mundiais de pesquisa e organizações ambientais<br />

podem se beneficiar da experiência. Algumas universidades locais já demonstraram interesse<br />

em acompanhar a evolução do projeto e contribuir com idéias <strong>para</strong> sua melhoria.<br />

Para a Sadia, o programa representa a oportunidade de desenvolver uma parceria mais bem<br />

firmada com os produtores de suínos, aumentando a lealdade dos fornecedores.<br />

Próximos passos e atuais desafios<br />

O principal desafio enfrentado pelo Instituto Sadia e seu Programa 3S, no início de 2007, foi<br />

um problema de regulamentação. Em setembro de 2006, o Comitê Executivo do MDL propôs<br />

novas regras <strong>para</strong> a aplicação dos projetos MDL, que foram aceitas em dezembro, tornando<br />

ainda mais difícil a participação de pequenos e médios produtores. Essas novas regras declaram<br />

que <strong>todos</strong> os equipamentos dos projetos MDL precisam ter algumas características em comum,<br />

independente do tamanho ou do tipo de produção. O custo do equipamento designado pelo<br />

Conselho Executivo do MDL pode prejudicar o programa. O Instituto Sadia estava tentando<br />

ganhar a batalha de sobrevivência do 3S de duas maneiras. Primeiro, buscando novos<br />

fornecedores de equipamento, especificamente aqueles que têm biodigestores “três em um”<br />

(biodigestor, flare e medidor). O equipamento poderia, dessa forma, ser mais eficiente e mais<br />

barato. O Instituto estava também tentando convencer o Comitê Executivo do MDL de que as<br />

mudanças discriminam os pequenos produtores e podem excluí-los de projetos MDL. O Instituto<br />

Sadia espera convencer o Conselho Executivo de que as diferenças de escala precisam ser<br />

respeitadas e que o tipo de equipamento exigido <strong>para</strong> o seqüestro do carbono por um pequeno<br />

produtor de suínos não tem de ser o mesmo exigido, por exemplo, <strong>para</strong> ser usado por uma<br />

instalação de processamento de lixo de uma cidade grande.<br />

O projeto 3S foi desenvolvido e planejado na primeira metade de 2004 e começou a ser<br />

implementado no último trimestre de 2005. Nenhum resultado foi mensurado até agora.<br />

As ferramentas de avaliação estavam sendo desenvolvidas de acordo com os avanços na<br />

implementação. O 3S é um programa de gestão desenvolvido <strong>para</strong> a cadeia de suprimentos<br />

dos produtores de suínos da Sadia, mas a experiência provavelmente será estendida a outros<br />

produtores que fazem negócios com empresa.<br />

Um grande desafio apareceu desde o fim do ano de 2006, com a nova metodologia ACM0010<br />

da UNFCCC. Essa metodologia trouxe mais especificações técnicas <strong>para</strong> controlar o sistema de<br />

equipamentos e as regras <strong>para</strong> monitorar a eficiência do seqüestro do metano. Ela gera mais<br />

custo, o que poderia tornar impraticável a implementação do Programa 3S como um todo.<br />

A expectativa da Sadia era de que os custos do Programa 3S estariam recuperados até 2010,<br />

com base no preço por tonelada de carbono entre 8 a 12€, mas essa previsão estava sendo<br />

revista após as mudanças realizadas pelo Conselho Executivo do MDL. Como já foi mencionado,<br />

os produtores de suínos pagarão pelo equipamento, custos administrativos e operacionais<br />

tais como monitoramento, PDDs, compromisso com resultados, entre outros, e assim não se<br />

espera que os créditos de carbono sejam uma de suas principais fontes de renda; entretanto, a<br />

diversificação da produção e a diminuição dos custos deve melhorar o rendimento deles.<br />

O próximo passo do Programa 3S é encorajar e qualificar as propriedades e os produtores<br />

<strong>para</strong> a piscicultura. A Sadia está desenvolvendo uma “Plataforma Sustentável” na qual ela<br />

dará aos integrados alternativas <strong>para</strong> novas possibilidades de produção. O programa incluirá<br />

treinamento sobre questões ambientais, financeiras e de gestão, formando empreendedores mais<br />

bem pre<strong>para</strong>dos <strong>para</strong> o mercado.<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

183


R e f e r ê n c i a s<br />

Nações Unidas. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Website oficial:<br />

http://unfccc.int/2860.php.<br />

Sadia. Website: disponível em www.sadia.com.br.<br />

Entrevistas<br />

Ferreira, Meire de Fátima. Coordenadora <strong>para</strong> Sustentabilidade, Sadia. Diretor Executivo,<br />

Instituto Sadia. São Paulo. 16 de novembro de 2006.<br />

Dassuw, Ervino. Produtor Rural. Toledo. 14 de novembro de 2006.<br />

Mazzarollo, Agostinho. Produtor Rural. Toledo. 14 de novembro de 2006.<br />

A p ê n d i c e A : u m a v i s ã o g e r a l d o<br />

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo<br />

Para se enquadrar nas Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) do protocolo de Kyoto, o Programa<br />

3S precisa se qualificar pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. De acordo com o artigo 12 do<br />

protocolo de Kyoto, “a finalidade do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo será a de assistir as partes<br />

não incluídas no Anexo I (países em desenvolvimento) <strong>para</strong> alcançar o desenvolvimento sustentável<br />

e contribuir <strong>para</strong> o objetivo principal da Convenção, e ajudar as partes incluídas no Anexo I (países<br />

industrializados) a atingir a conformidade com seus compromissos de limites de emissão e redução<br />

quantificados sob o artigo 3”.<br />

Em outras palavras, através do MDL, os países desenvolvidos juntam-se aos países em desenvolvimento<br />

<strong>para</strong> implementar projetos que geram a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.<br />

Para os países em desenvolvimento, é uma oportunidade de encorajar o desenvolvimento sustentável<br />

através de tecnologia ambientalmente responsável, financiada pela comercialização de créditos de<br />

carbono no mercado internacional. Para os países desenvolvidos, o MDL cria boas oportunidades <strong>para</strong><br />

atingir suas metas de emissão determinadas pelo protocolo de Kyoto.<br />

O primeiro passo <strong>para</strong> implementar um projeto MDL é registrá-lo com o Conselho Executivo do MDL,<br />

apresentando um Documento de Conceito do Projeto (Project Design Development PDD) <strong>para</strong> provar<br />

que o projeto cumpre as exigências do MDL. O PDD fornece uma descrição geral do projeto, apresenta<br />

a metodologia básica proposta, estima a duração do projeto e o período de crédito, demonstra como o<br />

projeto gera redução de emissões que são adicionais ao que ocorreria da forma convencional, apresenta<br />

uma análise dos impactos ambientais, discute o processo de consulta com as partes interessadas e<br />

esboça o plano de monitoramento e verificação. Uma vez aprovado, o PDD é apresentado à Entidade<br />

Operacional designada <strong>para</strong> a validação do projeto.<br />

184 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Setembro de 2007<br />

As informações apresentadas neste estudo de caso foram revisadas e confirmadas pela<br />

empresa <strong>para</strong> assegurar a sua autenticidade. As opiniões expressadas pelo autor no estudo<br />

de caso não refletem necessariamente as da ONU, do PNUD ou de seus Estados Membros.<br />

Copyright @ 2007<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida,<br />

armazenada, ou transmitida, <strong>para</strong> qualquer finalidade e de qualquer forma, eletrônica,<br />

mecânica, fotocópia ou outro meio, sem a permissão prévia do PNUD<br />

Design: Suazion, Inc. (NY, EUA)<br />

Para obter mais informações sobre a Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos, acesse:<br />

www.growinginclusivemarkets.org ou gim@undp.org<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Divisão do Setor Privado, Departamento de Parcerias<br />

One United Nations Plaza, 23rd floor<br />

New York, NY 10017, USA<br />

CASO. programa de suinocultura sustentável sadia (programa 3s)<br />

185


Votorantim Celulose<br />

e Papel (VCP):<br />

Plantando eucaliptos em parceria com pequenos<br />

produtores rurais<br />

Pre<strong>para</strong>do por:<br />

Cláudio Boechat &<br />

Roberta Paro<br />

Setor: Agricultura<br />

Classe de Empresa:<br />

Multinacional do Sul<br />

RESUMO<br />

O Brasil é um país marcado por grandes desigualdades<br />

de renda e pobreza, especialmente nas áreas rurais. Apesar das<br />

recentes políticas governamentais de apoio aos assentamentos rurais<br />

através do programa de reforma agrária, o desencontro entre as demandas<br />

sociais e a capacidade do estado de responder às necessidades da<br />

população de maneira apropriada continua sendo um problema. Foi nesse<br />

contexto que a Votorantim Celulose e Papel (VCP), uma das principais<br />

empresas de celulose e papel no Brasil, conduziu uma expansão florestal<br />

significativa no estado do Rio Grande do Sul. A VCP criou um modelo de<br />

negócios que inclui a comunidade local como parceira na produção de<br />

eucalipto.<br />

Através do Programa Poupança Florestal da VCP, o Banco ABN AMRO<br />

Real forneceu recursos financeiros aos agricultores. A VCP forneceu as<br />

mudas e assistência técnica <strong>para</strong> o plantio de eucalipto e se comprometeu<br />

a comprar a madeira, após sete anos, a um preço justo. O Programa<br />

Poupança Florestal é apoiado por parcerias locais como agências do<br />

governo e universidades. Este caso examina o modelo de negócios da VCP<br />

e como ele contribuiu <strong>para</strong> a inclusão socioeconômica da população rural<br />

pobre.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

187


188 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Introdução<br />

O Poupança Florestal é um programa de plantação de eucalipto desenvolvido pela Votorantim<br />

Celulose e Papel (VCP) no âmbito de uma importante expansão de negócios no Rio Grande do<br />

Sul. O programa oferece aos agricultores da comunidade do entorno da VCP a oportunidade de<br />

se tornarem parceiros na produção de madeira. O Banco ABN AMRO Real fornece aos parceiros<br />

os recursos financeiros (através de empréstimos). A VCP fornece gratuitamente as mudas e a<br />

assistência técnica <strong>para</strong> o plantio de eucalipto e também garante a compra da madeira após sete<br />

anos. A FIG. 1 ilustra os diversos parceiros envolvidos no Programa Poupança Florestal.<br />

Figura 1: Poupança<br />

Florestal - Parceiros<br />

ABN AMRO Real<br />

Floresta<br />

SINDICATOS<br />

Monitoramento<br />

GOVERNO<br />

EMATER<br />

Projeto, capacitação,<br />

assistência técnica<br />

VCP<br />

Projeto, assistência técnica,<br />

mudas, tecnologia, colheita e<br />

compra da madeira<br />

PRODUTOR<br />

Terra e mão de obra<br />

Assentado (5-20 ha.)<br />

Pequeno prod. (


Um modelo inalterável de concentração de<br />

terra. O modelo de distribuição de terra no<br />

Brasil teve início em 1530 com a criação de<br />

um sistema através do qual a Coroa Portuguesa<br />

distribuiu enormes terrenos <strong>para</strong> cultivo em<br />

troca de um sexto da produção. Desde então,<br />

a estrutura de propriedade continua sendo<br />

fortemente concentrada. 1 . O padrão estável de<br />

concentração de terra pode ser observado pelo<br />

Índice Gini. 2 : 0,837 em 1972, 0,854 em 1978,<br />

0,831 em 1992, 0,843 em 1998, e 0,802 em<br />

2000. 3 .<br />

De acordo com o Ministério de<br />

Desenvolvimento Agrário, 45% da área<br />

agrária do país está concentrada em 1% das<br />

propriedades rurais. Esse é um fator significativo<br />

que caracteriza um dos padrões de distribuição<br />

de renda mais desiguais do mundo e prejudica<br />

o desenvolvimento local ao forçar a migração<br />

<strong>para</strong> as cidades. 4 . Por outro lado, a violência e o<br />

conflito nas áreas rurais aumentaram à medida<br />

que os campesinos, deslocados no processo de<br />

modernização tecnológica, buscavam outros<br />

meios <strong>para</strong> sobreviver. 5<br />

A importância econômica da agricultura de<br />

pequena escala. A importância dos pequenos<br />

proprietários de terra, especialmente na<br />

agricultura familiar, é relevante tanto na esfera<br />

econômica quanto social. No contexto brasileiro<br />

de capital escasso, mas mão-de-obra e terra<br />

abundantes, a agricultura familiar de mão-deobra<br />

intensiva é um componente importante<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento local. 6 . De acordo com<br />

o Programa Nacional de Fortalecimento da<br />

Agricultura Familiar (PRONAF), a participação da<br />

agricultura familiar representava 10,1% do PIB<br />

em 2003 ou R$156,6 bilhões (cerca de US$74,6<br />

bilhões). Representando 85,2% do número total<br />

de estabelecimentos rurais e ocupando 30,5%<br />

da área, as pequenas unidades produtivas<br />

foram responsáveis por 37,9% do valor bruto<br />

da agricultura nacional, 50,9% da renda total<br />

advinda da agricultura e 77% da mão-de-obra<br />

nas áreas rurais. A renda total por hectare/<br />

ano era 2,4 vezes maior quando prevalecia o<br />

trabalho familiar. 7 .<br />

Um processo de reforma agrária<br />

impulsionado por conflitos. Historicamente, a<br />

luta pela terra no Brasil tem sido permeada pela<br />

violência, que aumentou durante a década de<br />

1980 à medida que, juntamente com o final do<br />

regime militar, o movimento dos trabalhadores<br />

rurais fazia pressão pela concessão de escrituras<br />

de propriedade. A crescente pressão por terra<br />

levou ao crescimento da violência praticada<br />

pelos grandes latifundiários e pelo governo<br />

numa tentativa de defender suas propriedades<br />

rurais. 8 . O número de mortes de trabalhadores<br />

a partir desses conflitos nas últimas décadas é<br />

periodicamente relatado pela Comissão Pastoral<br />

da Terra: apenas em 2005, 1.304 conflitos<br />

fundiários foram registrados, deixando 38<br />

pessoas mortas. 9<br />

O conflito pela terra e a falta de políticas<br />

robustas de redistribuição de terra acarretaram<br />

importantes movimentos sociais, liderados<br />

pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem<br />

Terra (MST). 10 . Eles empregaram a ocupação<br />

da terra como estratégia principal, forçando o<br />

governo a instituir um processo de distribuição<br />

de terra mais significativo. Entre 1995 e 2001,<br />

584.301 famílias obtiveram escrituras de<br />

terras. 11 . Paralelamente, em 1996, foi instituído<br />

um programa governamental dedicado ao<br />

fortalecimento da agricultura familiar (PRONAF).<br />

1<br />

Buainain e Pires, 2003.<br />

2<br />

O Gini Index varia de 0 a 1, e quanto mais próximo de 1, mais concentrado é o atributo medido.<br />

3<br />

MDA, 2001.<br />

4<br />

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1999 a 2001 5.3 milhões de pessoas deixaram o campo. De<br />

1985 a 1996, 941.000 unidades de produção foram encerradas, das quais 96% eram menores que 100 hectares (Rosseto, 2006).<br />

5<br />

O processo de modernização tecnológica contribuiu <strong>para</strong> um crescimento econômico que marginalizou a população rural, com menor<br />

demanda de trabalho. Ao mesmo tempo, políticas de crédito seletivas favoreceram grandes produtores (Buainain e Pires, 2003).<br />

6<br />

Ver Guanziroli, 1999; Veiga, 2001<br />

7<br />

Buainain e Pires, 2003.<br />

8<br />

Oliveira, 2001.<br />

9<br />

Comissão Pastoral da Terra, 2006.<br />

10<br />

Em 2003, a demanda estimada <strong>para</strong> a reforma agrária compreendia cerca de 3-4 milhões de famílias.<br />

11<br />

Teofilo e Garcia, 2003.<br />

190 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A importância do MST nesse processo foi<br />

amplamente reconhecida, não apenas por ter<br />

trazido a reforma agrária de volta à agenda<br />

política, mas também por ter fortalecido a<br />

demanda por políticas específicas <strong>para</strong> a<br />

agricultura familiar 12 . 13 As ocupações de<br />

terra foram um impulsionador-chave <strong>para</strong> o<br />

programa de reforma agrária. 14<br />

Em 2006, o cenário político não havia<br />

mudado muito. O apoio do governo à reforma<br />

agrária estava sendo criticado por não ter<br />

alcançado as metas estabelecidas 15 , embora<br />

o governo estivesse tomando posição em<br />

relação aos movimentos sociais tais como o<br />

MST. Os conflitos persistiam, com a violência<br />

surgindo tanto do movimento rural quanto do<br />

movimento contra ele; a ação governamental<br />

respondia às crises, em vez de evitá-las.<br />

Entretanto, os direitos de propriedade<br />

eram apenas um dos obstáculos no processo<br />

de geração de oportunidades <strong>para</strong> os pobres<br />

da zona rural. Além de facilitar o acesso<br />

à terra, o Estado precisava assegurar que<br />

as pessoas tivessem outras necessidades<br />

básicas atendidas (incluindo o acesso à água,<br />

eletricidade, educação, saúde, financiamento)<br />

<strong>para</strong> que os assentados pudessem progredir<br />

além do nível da subsistência.<br />

O contexto agrário do Rio Grande do<br />

Sul. No Rio Grande do Sul, os problemas<br />

históricos de disputa pela terra estavam<br />

sendo intensificados. A região tinha a mais<br />

alta concentração e tradição histórica de<br />

agricultura familiar e da pequena propriedade<br />

assim como de produtores politicamente<br />

organizados. 16 . Em 2006, o Movimento<br />

dos Sem Terra passou por um processo de<br />

radicalização evidenciado pela destruição<br />

de viveiros de mudas de eucaliptos de outra<br />

grande empresa de celulose e papel. Face<br />

à multiplicação dos principais meios de<br />

pressão do MST, com ocupações de terra<br />

e o fato de que algumas fazendas estavam<br />

cercadas de acampamentos com cerca de 100<br />

manifestantes sem-terra, a região passava<br />

por um crescente medo de invasões entre os<br />

latifundiários.<br />

Os acampamentos eram formados por<br />

manifestantes sem-terra que já haviam<br />

reivindicado terra, mas que ainda não tinham<br />

suas posses liberadas pelo programa de<br />

reforma agrária. 17. Tipicamente, eles usam lonas<br />

pretas como abrigo e, em alguns casos, fazem<br />

pequenos plantios e criam animais. A situação<br />

dos acampamentos é marcada por uma enorme<br />

instabilidade e estigma.<br />

Outro aspecto único da região era a presença<br />

de centenas de assentamentos geradas pelo<br />

programa de reforma agrária (ver a figura 2).<br />

A região onde a VCP planejava expandir suas<br />

atividades possuía 4648 famílias assentadas<br />

nos últimos 25 anos (em 133 assentamentos).<br />

Entretanto, como o acesso à terra não era seguido<br />

de assistência governamental e disponibilização<br />

de recursos necessários à produção agrícola,<br />

a maioria dos assentados vivia em condições<br />

precárias de plantio e moradia. Em alguns casos,<br />

as situações eram semelhantes às de favelas<br />

urbanas, o que contribuía <strong>para</strong> um cenário de<br />

instabilidade socioeconômica e política.<br />

Figura 2: Região geográfica do<br />

empreendimento da VCP, no extremo sul do Rio<br />

Grande do Sul, e os assentamentos vizinhos<br />

Mesmo tendo a escritura da terra, os pequenos<br />

agricultores tradicionais da região enfrentavam<br />

dificuldades semelhantes <strong>para</strong> estabelecer meios<br />

de sustento. A região do extremo sul do Rio<br />

Grande do Sul, onde a VCP estava se expandindo,<br />

dependia, basicamente, do gado e do arroz e<br />

sofria por causa de instabilidades no preço, do<br />

regime de impostos desfavorável <strong>para</strong> os dois<br />

produtos, de importações de arroz mais baratas<br />

do Uruguai e também de barreiras à exportação<br />

do gado <strong>para</strong> o Uruguai e <strong>para</strong> o estado vizinho<br />

de Santa Catarina. Conseqüentemente, a região<br />

estava entre as mais pobres do Brasil.<br />

12<br />

O relacionamento entre o MST e os novos assentados, ex sem-terra, permanece mesmo depois que a terra é concedida pelo governo,<br />

razão pela qual o Movimento é considerado um importante interlocutor <strong>para</strong> ambos os grupos rurais. As necessidades da agricultura<br />

familiar e de pequena escala também ganham maior visibilidade na medida em que o MST se fortalece.<br />

13<br />

Ver Guanziroli, 1999; Navarro, 2002; Veiga, 2001.<br />

14<br />

Navarro, 2002.<br />

15<br />

Ver Oliveira, 2006.<br />

16<br />

Foi nesta região que a comunidade rural, em protesto contra os efeitos da modernização da agricultura, conduziu a formação do MST<br />

em 1980.<br />

17<br />

Quando pequenos lotes de terra são oficialmente concedidos, eles formam um assentamento.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

191


Um olhar mais profundo sobre o setor<br />

de celulose e papel: uma reputação<br />

prejudicada. O setor de celulose e papel<br />

tinha uma reputação que agravava ainda mais<br />

os conflitos agrários no Brasil. As críticas<br />

surgiam principalmente devido às atividades<br />

do setor nos estados da Bahia e do Espírito<br />

Santo e estavam relacionadas tanto aos<br />

impactos sociais quanto aos ambientais das<br />

plantações de eucalipto em larga escala 18 . Nos<br />

anos 70, como as plantações expandiram-se,<br />

os pequenos agricultores, as comunidades<br />

rurais negras (descendentes das comunidades<br />

de escravos fugidos, os quilombos) e as<br />

comunidades indígenas foram pressionadas<br />

a se transferir <strong>para</strong> áreas agrícolas marginais<br />

ou, ao perderem seus meios de subsistência,<br />

acabaram migrando <strong>para</strong> as áreas urbanas <strong>para</strong><br />

viver em favelas. O processo contribuiu<br />

<strong>para</strong> a alta concentração e valorização da<br />

terra nessas regiões. Na cidade de Aracruz,<br />

apenas uma empresa é proprietária de cerca<br />

de 40% do território, com a incorporação de<br />

244 propriedades. 19<br />

A expansão do plantio de eucalipto<br />

nessas regiões também contribuiu <strong>para</strong> a<br />

redução da Mata Atlântica remanescente.<br />

Além do impacto sobre a biodiversidade<br />

e, conseqüentemente, sobre as condições<br />

de subsistência de algumas comunidades<br />

locais, o não cumprimento da legislação<br />

ambiental e a devastação de florestas<br />

ribeirinhas e de outras áreas sensíveis<br />

trouxeram severos impactos negativos ao<br />

equilíbrio da água regional e ao processo de<br />

erosão.<br />

Votorantim Celulose e Papel (VCP)<br />

A empresa. A VCP está entre as maiores<br />

empresas de celulose e papel da América Latina,<br />

operando no Brasil e internacionalmente. A<br />

empresa produz celulose de eucalipto, incluindo<br />

a celulose branqueada de fibra curta (BHKP).<br />

As características da celulose branqueada de<br />

eucalipto da VCP a tornam apropriada <strong>para</strong><br />

produzir uma variedade de tipos de papel,<br />

incluindo papéis de impressão e escrita,<br />

cartolinas, papéis acetinados, papel sem<br />

carbono, papel térmico e etiquetas. As operações<br />

integradas da empresa vão desde a produção de<br />

madeira à distribuição <strong>para</strong> o consumidor final.<br />

Em 2005, a VCP registrou uma receita<br />

líquida de aproximadamente US$1,3 bilhões.<br />

Desse valor, 38% correspondem à venda de<br />

celulose e 62% à venda de papel. Em relação<br />

aos mercados, 50% da receita foi originada<br />

no mercado nacional e 50% no exterior. Em<br />

2005, as vendas alcançaram 1.493 toneladas,<br />

compostas de 58% de celulose e 42% de papel.<br />

Do total produzido, 66% foram dirigidos ao<br />

mercado externo e 34% ao mercado doméstico.<br />

Com investimentos expressivos em pesquisa<br />

<strong>para</strong> melhoramento genético e expansão da sua<br />

base florestal durante décadas, 100% da celulose<br />

produzida pela VCP é proveniente de florestas<br />

plantadas de eucalipto. Essa característica,<br />

combinada com a diversificação dos<br />

produtos da VCP, confere-lhe um diferencial<br />

competitivo. A empresa negocia ações na<br />

bolsa de <strong>valores</strong> de São Paulo (Bovespa) e na<br />

bolsa de <strong>valores</strong> de Nova York (NYSE) e detém<br />

ações de outras empresas importantes do setor<br />

tais como a Aracruz Celulose, a Suzano Bahia<br />

Sul Papel e Celulose e a Ripasa. A empresa,<br />

cuja matriz está localizada em São Paulo, foi<br />

fundada em 1988, e é uma subsidiária da<br />

Votorantim Participações S. A.<br />

Planejando o empreendimento. Enquanto<br />

planejava a expansão dos negócios em 2003,<br />

a empresa mapeou no mundo inteiro as áreas<br />

geográficas em potencial <strong>para</strong> desenvolver um<br />

novo parque industrial. O extremo sul do Rio<br />

Grande do Sul foi escolhido principalmente<br />

por suas vantagens produtivas: boas condições<br />

logísticas, disponibilidade de terra e mãode-obra,<br />

condições climáticas e topografia<br />

apropriada <strong>para</strong> o eucalipto, bom suprimento<br />

de água e nível educacional relativamente<br />

alto (de parte) da população. 20 A meta era ter<br />

100.000 hectares de eucaliptos plantados<br />

na área até 2011. Na época, a VCP tinha<br />

uma fábrica de celulose na região <strong>para</strong> o<br />

processamento da madeira.<br />

18<br />

Por exemplo, várias organizações da sociedade civil dessas regiões estabeleceram o Rede Alerta Contra o Deserto Verde.<br />

19<br />

Ver Calazans, 2002<br />

20<br />

Embora não intuitiva, a disponibilidade de boas universidades, combinado com um passado próspero da região, resultou em mão-deobra<br />

qualificada no âmbito da gestão e de operações. Entretanto, também existem muitas pessoas marginalizadas, conforme discutido<br />

anteriormente. Este fenômeno está diretamente relacionado com o alto nível de desigualdade no Brasil.<br />

192 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


A visão da VCP <strong>para</strong> os próximos 15 anos, um<br />

tempo relativamente curto <strong>para</strong> um negócio<br />

que funciona em ciclos produtivos de 7 anos,<br />

seria ver a companhia se tornar um dos<br />

maiores fornecedores de celulose de eucalipto<br />

do mundo, com um aumento de 3 vezes em<br />

seu rendimento líquido anual através da<br />

expansão da produção de celulose e papel até<br />

o ano de 2020. Isso significaria um aumento<br />

na renda líquida de US$1 bilhão em 2004<br />

<strong>para</strong> US$4 bilhões em 2020. Em 2004, a VCP<br />

começou a comprar terras no Rio Grande do<br />

Sul.<br />

O modelo tradicional do agronegócio, de<br />

depender o mínimo possível de terceiros<br />

e comprar a terra <strong>para</strong> plantar e colher<br />

a madeira, tinha efeitos potenciais de<br />

concentração de terra que poderiam inflamar<br />

uma região já volátil. Numa tentativa de<br />

incluir os agricultores locais no processo de<br />

negócios, a VCP decidiu que 30% da madeira<br />

usada na produção deveria ser proveniente de<br />

fornecedores terceirizados.<br />

A meta de 30% necessitaria de 30.000<br />

hectares procedentes de parcerias com as<br />

comunidades locais cuja confiança ainda<br />

precisava ser conquistada pela empresa.<br />

Os agricultores locais estavam cautelosos<br />

em relação a esse novo negócio na sua<br />

região e também preocupados por causa<br />

da reputação do eucalipto de secar e<br />

empobrecer a terra. As outras grandes<br />

barreiras <strong>para</strong> o trabalho com os agricultores<br />

locais no plantio do eucalipto eram a falta<br />

de experiência com esse tipo de plantio<br />

na região e a falta de recursos financeiros<br />

disponíveis <strong>para</strong> investir na plantação (sem<br />

mencionar a espera dos sete anos até que a<br />

madeira pudesse ser cortada e o rendimento<br />

da colheita recebido). Como resposta a esses<br />

desafios, a VCP criou o Programa Poupança<br />

Florestal.<br />

P o u p a n ç a F l o r e s t a l : c o n s t r u i n d o<br />

vínculos confiáveis de negócios com<br />

as comunidades locais<br />

Implementado em 2005 pela VCP, o Poupança Florestal é um programa que facilita a participação<br />

dos agricultores vizinhos da empresa na produção de eucalipto. Ao engajar a comunidade, esperavase<br />

que o sentimento de inclusão também contribuiria <strong>para</strong> legitimizar as operações da VCP na<br />

região. Através desse modelo, o produtor pode plantar sem reservas financeiras e não precisa usar<br />

sua propriedade como garantia <strong>para</strong> o empréstimo. Em vez disso, a própria madeira produzida é a<br />

garantia, tendo a esposa do produtor como a avalista do empréstimo <strong>para</strong> assegurar que o agricultor<br />

cumprirá as condições.<br />

O ABN AMRO Real foi o único banco no Brasil que aceitou as condições propostas pela VCP.<br />

Maurik Jehee, analista de crédito do Banco, disse que a intermediação da VCP, a possibilidade de<br />

adquirir novos clientes <strong>para</strong> relacionamentos a longo prazo e o alinhamento com as normas de<br />

sustentabilidade do ABN AMRO Real foram as principais razões <strong>para</strong> aceitar a proposta. “Além<br />

das preocupações ambientais, [o Poupança Florestal] possui um aspecto social interessante e um<br />

potencial de desenvolvimento regional. Além disso, ele traz novos clientes potenciais numa região<br />

onde o banco tem pouca penetração”, disse Jehee. O volume financiado deve chegar a US$30<br />

milhões num período de sete anos (até 2012) e beneficiar de 20.000 a 25.000 produtores.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

193


FINANCIAMENTO<br />

Financiamento fornecido pelo ABN AMRO Real a juros de 9% ao ano (ver a TAB. 1 com a<br />

programação de pagamento do empréstimo de 4 anos)<br />

A madeira garante o empréstimo<br />

A esposa é a avalista do empréstimo<br />

O empréstimo, totalizando R$ 2.371 num período de quatro anos, permite ao agricultor<br />

ter capital suficiente <strong>para</strong> comprar os insumos da produção e remunerar a mão-de-obra<br />

<strong>para</strong> o plantio de eucalipto<br />

A quantia emprestada equivale aos próprios custos da VCP <strong>para</strong> plantar a floresta;<br />

portanto, o agricultor pode contratar a mesma empresa que faz o plantio <strong>para</strong> a VCP ou<br />

aprender como plantar e usar o dinheiro <strong>para</strong> outros fins (por exemplo, um trator)<br />

As tarefas e os gastos de manutenção são monitorados de perto pela VCP<br />

O acordo é feito por 14 anos, o que equivale a dois ciclos de produção do eucalipto<br />

Os riscos de fracasso (na entrega da madeira) devem ser assumidos pelo ABN AMRO Real<br />

e pela VCP; quando a parceria é feita com assentados da reforma agrária, os riscos são<br />

assumidos pela VCP.<br />

Tabela 1: Distribuição dos recursos<br />

financeiros durante o ciclo de produção<br />

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Total<br />

Total 1,689 222 236 363 2,510<br />

Mão-de-obra 1,180 124 135 280 1,719<br />

Insumos 509 98 101 83 791<br />

Observação: Valores corrigidos em 9% ao ano; o empréstimo estará completamente entregue<br />

após quatro anos, pois o quinto, sexto e sétimo ano necessitam de gastos mínimos, embora os<br />

juros continuem a correr. O pagamento não ocorre até que a madeira seja colhida.<br />

Fonte: VCP<br />

Renda alternativa<br />

Para evitar a dependência da produção de<br />

eucalipto e dar incentivo aos produtores<br />

<strong>para</strong> continuar com as culturas tradicionais<br />

(de milho, arroz e criação de gado), a área<br />

plantada é limitada a 30% da propriedade. Isso<br />

também é importante <strong>para</strong> que tenham renda<br />

até o sétimo ano (quando é feita colheita<br />

da madeira). A VCP doa as mudas <strong>para</strong> os<br />

assentados e <strong>para</strong> os pequenos e médios<br />

produtores.<br />

A receita líquida por hectare no final do<br />

sétimo ano é de aproximadamente<br />

R$ 4.878,21 (baseada em uma produção<br />

média esperada de 280 m 3 /hectare);<br />

com<strong>para</strong>tivamente, isso seria o suficiente<br />

<strong>para</strong> comprar um hectare de terra na região<br />

(TAB. 2). Se a produção for menor do que a<br />

esperada, a receita líquida por hectare será<br />

proporcionalmente menor.<br />

194 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Tabela 2: Cálculo da receita<br />

Dívida<br />

(insumos + mão-de-obra)<br />

Preço de venda<br />

Produção média esperada<br />

Renda bruta<br />

(produção + preço)<br />

Renda líquida<br />

Hoje – sem correção<br />

(R$ 2,372/ha)<br />

R$ 18/m 3<br />

280 m 3<br />

R$ 5040/ha<br />

R$ 2668/ha<br />

7 Anos<br />

Corrigido a 9%*<br />

(R$ 4,336/ha)<br />

R$ 33/m 3<br />

280 m 3<br />

R$ 9213/ha<br />

R$ 4878/ha<br />

* correção de 9% <strong>para</strong> ajuste do preço de venda a cada ano; a taxa <strong>para</strong> os juros é a mesma.<br />

Fonte: VCP<br />

Suporte técnico e capacitação<br />

A VCP fornece gratuitamente as mudas<br />

de eucalipto (e também mudas de floresta<br />

nativa <strong>para</strong> reflorestar as áreas sensíveis).<br />

Para garantir a produtividade, a VCP fornece<br />

o mesmo material genético usado em suas<br />

próprias florestas.<br />

A Emater (Empresa de Assistência Técnica<br />

e Extensão Rural) foi contratada pela VCP,<br />

<strong>para</strong> o período de 2005 a 2015, <strong>para</strong> prestar<br />

assistência técnica (gratuita) aos agricultores<br />

nas operações de produção, da fase inicial de<br />

planejamento da propriedade ao plantio da<br />

floresta e a manutenção de todo o ciclo.<br />

Cada plantação é monitorada de perto e<br />

regularmente pela Emater <strong>para</strong> assegurar<br />

que são tomadas as medidas apropriadas de<br />

manutenção em cada fase (por exemplo, o<br />

controle de formigas e ervas daninhas), o que<br />

é uma pré-condição <strong>para</strong> a liberação de uma<br />

nova quantia de empréstimo e também reduz<br />

os riscos de fracasso da colheita. 21<br />

Termos de compra<br />

Após sete anos, a VCP garante a compra<br />

de pelo menos 95% 22 da madeira, por um<br />

preço previamente estabelecido (atualmente<br />

estabelecido a R$18/m 3 , o preço de mercado<br />

regional, corrigido a 9% ao ano, a mesma taxa<br />

do empréstimo).<br />

Se, no momento da colheita, o valor de<br />

mercado da madeira for menor do que o<br />

estabelecido pelo contrato, prevalece o<br />

último, o que representa um baixo risco<br />

<strong>para</strong> o produtor.<br />

A VCP paga pela colheita e pelo transporte<br />

da madeira da propriedade até a fábrica de<br />

celulose.<br />

Agrossilvicultura<br />

A alocação máxima de terra de 30%<br />

<strong>para</strong> o plantio de eucalipto pode ser<br />

concentrada em uma só área ou pode ser<br />

combinada com outras atividades agrícolas,<br />

tais como o cultivo de grãos e a criação<br />

de animais por toda a extensão da terra<br />

(agrossilvicultura).<br />

Exigências contratuais<br />

Cumprimento da legislação ambiental.<br />

Não usar trabalho infantil ou trabalho<br />

forçado. 23<br />

21<br />

O Eucalipto requer um cuidado especial no primeiro ano, e algum também no segundo (controle de ervas daninhas; adição de fertilizantes).<br />

22<br />

Cerca de 5% da madeira pode ser usada <strong>para</strong> o consumo interno (evitando o uso de árvores nativas <strong>para</strong> esse fim), ou vendida em grandes<br />

tamanhos a um preço superior.<br />

23<br />

Existe um compromisso <strong>para</strong> reforçar essa norma entre os sindicatos regionais; o seu cumprimento é verificado pela Emater.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

195


Impactos sobre o desenvolvimento<br />

A inclusão dos assentados e dos pequenos<br />

agricultores. Para tornar comercialmente viável<br />

a plantação de eucalipto dos assentamentos 24<br />

e das pequenas propriedades rurais, o plantio<br />

seria, idealmente, feito em propriedades vizinhas<br />

dentro de um raio de 5 km. Isso facilitaria<br />

<strong>para</strong> a VCP a logística da colheita da madeira -<br />

atividade considerada muito perigosa (no âmbito<br />

da saúde e da segurança) <strong>para</strong> os produtores<br />

rurais desempenharem.<br />

De acordo com o ABN AMRO Real, desde<br />

2005, quando ocorreu a comunicação pública<br />

sobre o programa, até o final de 2006, 312<br />

projetos haviam sido aprovados (representando<br />

7,283 hectares de área plantada de eucalipto), e<br />

outros 55 estavam sendo avaliados pelo banco,<br />

correspondendo a uma área total de 8,409<br />

hectares. Esse número tem muito potencial <strong>para</strong><br />

crescer à medida que mais requerimentos sejam<br />

submetidos e aprovados pela VCP e pelo ABN<br />

AMRO Real. O principal gargalo no processo<br />

de aprovação <strong>para</strong> que os produtores rurais<br />

pudessem se juntar ao programa resultava das<br />

irregularidades encontradas na documentação<br />

de suas propriedades. A regularização da terra<br />

é um processo lento que requer aprovação do<br />

governo.<br />

No final de 2006 25 , cerca de 131 famílias<br />

assentadas haviam assinado acordos com a<br />

VCP aderindo ao Programa Poupança Florestal,<br />

com cerca de cinco a dez hectares cada uma, e<br />

uma área plantada total de aproximadamente<br />

874 hectares. A maioria dos projetos (78%)<br />

corresponde a pequenos produtores e<br />

assentados. Em termos de área plantada,<br />

os pequenos produtores e os assentados<br />

representam 47% do total. A TAB. 3 mostra<br />

detalhes dos fornecedores VCP.<br />

Tabela 3: Distribuição dos projetos por<br />

tipo de produtor<br />

Tipo de produtor<br />

Assentado<br />

Pequeno (500 ha.)<br />

Total<br />

% projetos % área<br />

Número de<br />

projetos<br />

Área (ha.)<br />

42 12 131 873.96<br />

36 35 112 2,549.05<br />

18 35 56 2,549.05<br />

4 18 13 1,310.94<br />

100 100 312 7,283.00<br />

Fonte: ABN AMRO Real<br />

A VCP espera um aumento do interesse<br />

dos assentados em se juntar ao programa<br />

à medida que os mesmos observarem os<br />

impactos positivos sobre seus vizinhos, e<br />

a empresa continuar com as atividades de<br />

comunicação do programa.<br />

Uma fonte de renda alternativa.<br />

Os parceiros do programa recebem<br />

primeiramente o treinamento da Emater<br />

(Empresa de Assistência Técnica e Extensão<br />

Rural) e no primeiro ano recebem o<br />

empréstimo <strong>para</strong> o plantio da floresta.<br />

Ao fornecerem eles mesmos a mão-deobra<br />

(incluindo a do plantio e controle de<br />

formigas e ervas daninhas), as famílias<br />

podem alocar a quantia designada a essas<br />

atividades (que é a mesma paga pela VCP<br />

quando empresas fazem a tarefa) <strong>para</strong><br />

outros fins.<br />

De acordo com as estimativas da VCP,<br />

ao final do processo, o lucro do produtor<br />

deve atingir de cerca de R$2.500 por<br />

hectare 26 (ver os detalhes na TAB. 2),<br />

sem levar em conta a poupança potencial<br />

em mão-de-obra. Criar um modelo de<br />

negócio que permite a participação de<br />

pequenos produtores - numa escala de<br />

produção individual que implica <strong>para</strong> a<br />

empresa custos de iniciação, manutenção<br />

e logística maiores, que reduzem a sua<br />

viabilidade comercial - pode representar<br />

uma importante alternativa de renda <strong>para</strong><br />

aqueles que não têm meios financeiros de<br />

subsistir a partir de suas terras, enquanto<br />

representa oportunidades de trabalho <strong>para</strong><br />

suas famílias.<br />

Conformidade ambiental. A estratégia<br />

de crescimento da VCP também precisou<br />

levar em conta os impactos ambientais<br />

normalmente associados à agricultura:<br />

conformidade com a legislação ambiental,<br />

especialmente no que diz respeito às<br />

reservas legais de terras e áreas de proteção<br />

permanente. Embora a conformidade com<br />

legislação ambiental deva ser uma condição<br />

básica da operação de qualquer negócio<br />

agrícola, essa não era a realidade <strong>para</strong> a<br />

maioria dos casos no Brasil. De acordo com<br />

24<br />

O tamanho médio de um assentamento é de 20 hectares, e subtraindo-se a terra usada <strong>para</strong> a subsistência (milho, feijão, gado e carneiro),<br />

restam cerca de 5 hectares <strong>para</strong> florestas de eucalipto.<br />

25<br />

Informação da ABN AMRO Real, de 05/12/2006.<br />

26<br />

Com<strong>para</strong>tivamente, o salário mínimo no Brasil é de R$350 mensais, e um hectare de terra na região custa cerca de R$2500 a R$3000.<br />

196 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


a VCP, a não conformidade também ocorria<br />

no setor de celulose e papel no Rio Grande<br />

do Sul, mas a VCP incorporou a exigência de<br />

conformidade com as leis ambientais em <strong>todos</strong><br />

os contratos com os agricultores parceiros<br />

como pré-condição <strong>para</strong> o financiamento.<br />

Durante a fase inicial de treinamento, o<br />

agricultor, junto com os técnicos da Emater,<br />

fica responsável pelo planejamento da<br />

plantação e áreas de preservação. Para evitar<br />

a dependência na produção de eucaliptos<br />

ou a inibição dos cultivos tradicionais como<br />

arroz, milho e criação de gado, o programa<br />

estabeleceu que em 50% de cada propriedade<br />

deve-se manter a colheita original. Conforme<br />

exige a lei, nos outros 50%, o mínimo de 20%<br />

da área total deve ser mantida como área de<br />

preservação e também deve haver a proteção<br />

permanente das áreas em torno das nascentes 27<br />

(cerca de 5%). Isso deixa um máximo de 30%<br />

da propriedade com potencial <strong>para</strong> a produção<br />

de eucaliptos. O resultado foi um mosaico<br />

muito diferente da prática da monocultura, que<br />

normalmente utiliza-se de áreas de preservação<br />

e cria múltiplos impactos sociais, econômicos e<br />

ambientais.<br />

Os desafios <strong>para</strong> se aumentar a<br />

escala do Poupança Florestal<br />

Para alcançar a meta de 30.000 hectares de eucaliptos plantados por terceiros no extremo sul<br />

do Rio Grande do Sul, a área real contratada precisa ser muito maior, o que demanda uma ampla<br />

participação da comunidade local.<br />

O relacionamento entre o MST e os novos assentados (ex sem-terra) permanecia mesmo após o<br />

recebimento da terra do governo, e o movimento era visto como um interlocutor relevante <strong>para</strong> os<br />

dois grupos rurais. Por essa razão, em 2004, a VCP convidou Ciro Correia, representante do MST,<br />

<strong>para</strong> uma reunião numa tentativa de estabelecer novos padrões <strong>para</strong> a relação com o MST no Rio<br />

Grande do Sul e discutir o que era necessário <strong>para</strong> que todas as partes se beneficiassem com os<br />

investimentos da VCP na região. A reunião aconteceu com a mediação de Oded Grajew, presidente<br />

do Instituto Ethos, a mais ativa e conhecida organização promotora da responsabilidade social<br />

corporativa no país, e uma das fundadoras do Fórum Social Mundial.<br />

Ciro Correa precisava considerar restrições políticas, pois o MST havia tomado uma atitude de<br />

batalha em sua tentativa de construir novos e mais inclusivos padrões de vida <strong>para</strong> as populações<br />

rurais do país. Ele respondeu que precisava consultar a liderança do MST antes de dar uma<br />

resposta definitiva à parceria proposta pela VCP. Embora o movimento nunca tivesse tornado<br />

pública uma posição oficial, cerca de um mês mais tarde a mensagem era clara: o MST não queria<br />

se envolver.<br />

As razões pelas quais o MST ignorou a proposta e a oportunidade de dialogar não foram<br />

oficialmente declaradas. Entretanto, pode ser deduzida pela clara oposição do movimento às<br />

florestas homogêneas e maciças. O MST defende um modelo de desenvolvimento diferente, que<br />

exclui o agronegócio em grande escala.<br />

Como representante-chave dos assentamentos rurais e da agricultura familiar, o apoio do MST<br />

era importante. Entretanto, já que não havia uma oposição oficial à participação dos membros<br />

do movimento na proposta da VCP, os mesmos podiam optar por aderir ao Programa Poupança<br />

Florestal numa perspectiva individual e não se sentirem em conflito com o MST.<br />

Como a região tradicionalmente produz colheitas anuais, pode haver incertezas em relação a<br />

um compromisso de 14 anos (dois ciclos de sete anos). Ainda assim, o interesse pelo programa<br />

cresceu desde 2005, reforçado pela confiança construída à medida que os assentados vizinhos<br />

constatavam os impactos sobre os produtores VCP.<br />

Presumindo-se que o interesse continue a crescer, o programa tem a burocracia como um<br />

possível obstáculo. Como mencionado anteriormente, as pequenas propriedades normalmente<br />

possuem documentação irregular, e as exigências legais <strong>para</strong> regularização dos documentos das<br />

propriedades podem variar de cidade <strong>para</strong> cidade. O processo de regularização traz custos extras e<br />

atrasos que podem causar dificuldades <strong>para</strong> a participação dos agricultores no Poupança Florestal.<br />

27<br />

O Código Florestal Brasileiro determina a proteção permanente <strong>para</strong> áreas num raio mínimo de 30m ao longo de cursos d’água e<br />

50m ao redor de nascentes.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

197


Os desafios <strong>para</strong> o estabelecimento<br />

d e u m a l i c e n ç a s o c i a l d e o p e r a ç ã o<br />

Além do Programa Poupança Florestal, a VCP teve de estabelecer uma licença <strong>para</strong> operar<br />

na região. Para isso, a empresa precisou trabalhar com a comunidade local, enfrentar as<br />

preocupações ambientais sobre a produção de eucaliptos, fazer parcerias com órgãos<br />

públicos e abrir a maior quantidade possível de linhas de comunicação com os grupos de<br />

interesse.<br />

A priorização dos negócios locais e o<br />

estabelecimento de relações de trabalho<br />

com os assentados. Além de incluir os<br />

agricultores vizinhos como parceiros no<br />

plantio dos eucaliptos através do Poupança<br />

Florestal, a VCP também buscava fortalecer<br />

a sua licença de operação das atividades<br />

na maior área de terra, que corresponde<br />

às suas propriedades (70% da área total<br />

plantada).<br />

A empresa buscou priorizar as empresas<br />

locais na compra de insumos e contratou<br />

pessoas localmente <strong>para</strong> desempenhar<br />

atividades diversas, da gestão às operações.<br />

Todos os terceirizados trabalhando nas<br />

plantações (inclusive nas propriedades<br />

da VCP) são do Rio Grande do Sul; no<br />

total, foram contratadas cerca de 900<br />

pessoas. “Menos de 50 pessoas vêm de<br />

outras regiões, e muitas delas são oriundas<br />

dos acampamentos”, afirmou o Diretor<br />

Presidente da VCP, José Luciano Penido.<br />

Os assentados contratados recebem<br />

uma atenção especial. Além de ter <strong>todos</strong><br />

os seus direitos trabalhistas garantidos,<br />

eles contam com a assistência de uma<br />

equipe de relacionamento constituída<br />

por funcionários da VCP, da Emater e<br />

da mão-de-obra terceirizada. Uniformes<br />

de trabalho apropriados, transporte,<br />

treinamento, tratamento de saúde, comida<br />

quente e instalações sanitárias nos campos<br />

são alguns dos benefícios fornecidos aos<br />

trabalhadores.<br />

A agrofloresta e o eucalipto: controvérsias<br />

e estudos colaborativos. Outro aspecto<br />

relevante do plantio de florestas tipo<br />

mosaico é a possibilidade, se o agricultor<br />

assim desejar, de assistência técnica na<br />

prática da agrofloresta - o plantio de<br />

florestas combinando outros plantios ou<br />

pastagem, na mesma extensão de terra<br />

- ou, mais especificamente, o sistema<br />

agrosilvopastoril, quando inclui a criação<br />

de animais. A prática da agrofloresta busca<br />

produzir e maximizar interações positivas<br />

entre árvores e plantios, e normalmente<br />

é considerada como tendo um papel<br />

importante no desenvolvimento rural<br />

e na produção de sistemas agrícolas<br />

sustentáveis.<br />

Entretanto, as controvérsias em<br />

torno do eucalipto não poderiam ser<br />

ignoradas. Os eucaliptos são árvores de<br />

crescimento rápido, que exigem muito dos<br />

nutrientes do solo e grande quantidade<br />

de água, e há também o debate sobre<br />

a sua sustentabilidade nos sistemas de<br />

agrofloresta 28 . Uma das características<br />

dos eucaliptos é a sua capacidade de se<br />

adaptar a variadas condições de solo e<br />

água devido ao seu longo e profundo<br />

sistema de raízes. Por outro lado, tratase<br />

de uma espécie muito competitiva<br />

em relação às plantas que o cercam,<br />

trazendo, em algumas condições, risco de<br />

desertificação e redução da biodiversidade.<br />

Entretanto, argumenta-se que tais efeitos<br />

negativos podem ser evitados através de<br />

técnicas de gestão apropriadas, por isso<br />

um componente-chave <strong>para</strong> o sucesso<br />

do programa era o de assegurar que as<br />

orientações técnicas 29 estavam sendo<br />

seguidas corretamente e a legislação<br />

ambiental respeitada.<br />

Ciente das críticas que a introdução<br />

dos eucaliptos nas pequenas propriedades<br />

poderia trazer, a VCP estabeleceu -<br />

além das exigências relacionadas à<br />

adequação do solo e às práticas de gestão<br />

da vegetação nativa - parcerias com<br />

universidades <strong>para</strong> o monitoramento dos<br />

impactos do plantio de eucalipto na região.<br />

Entre as parcerias acadêmicas estão<br />

a Universidade Federal de Santa Maria<br />

e a Albert-Ludwigs-Universitat Freiburg<br />

(Alemanha), que desenvolveram um estudo<br />

em conjunto <strong>para</strong> monitorar parâmetros<br />

como solo, atmosfera, água (incluindo a<br />

qualidade da precipitação e a quantidade<br />

dentro e fora da floresta), nutrientes e<br />

condições de luz <strong>para</strong> as plantações de<br />

eucalipto. Interações do eucalipto com<br />

o sorgo, soja e forragem produzida (o<br />

sistema agrosilvopastoril) e a forragem<br />

nativa do sul do Rio Grande do Sul também<br />

são analisadas.<br />

28<br />

Sungsumarn, 1996.<br />

29<br />

Ver Couto e Betters, 1995.<br />

198 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Iniciado em 2005, o estudo pretende fazer<br />

diversas medições durante um período de<br />

sete anos (o ciclo de tempo de crescimento<br />

dos eucaliptos) e introduzir novas tecnologias<br />

de monitoramento <strong>para</strong> florestas plantadas<br />

em combinação com culturas agrícolas,<br />

forragem e criação de animais.<br />

Outras parcerias <strong>para</strong> a fauna e a<br />

flora, assim como <strong>para</strong> o inventário e o<br />

monitoramento da herança arquitetural,<br />

incluem importantes universidades da<br />

região, tais como a Universidade Católica<br />

de Pelotas, Universidade Federal de Pelotas<br />

e Universidade Federal de Santa Maria. A<br />

importância dessas universidades deve-se à<br />

familiaridade que possuem com as questões<br />

locais e a sua relevância na área agrícola.<br />

Existe ainda um projeto com a<br />

Universidade de São Paulo que almeja<br />

construir um sistema abrangente de avaliação<br />

de impacto das atividades da VCP do Rio<br />

Grande do Sul, baseado em indicadores<br />

socioeconômicos de desenvolvimento local e<br />

sustentabilidade.<br />

O impacto econômico da entrada da<br />

VCP na região também exigiu parcerias e<br />

intensas negociações com sindicatos locais e<br />

prefeituras.<br />

O estabelecimento de parcerias com<br />

agências governamentais. Além das<br />

parcerias acadêmicas, a parceria com a<br />

Emater (Empresa de Assistência Técnica e<br />

Extensão Rural) tem sido fundamental <strong>para</strong><br />

a implementação do Poupança Florestal. A<br />

Emater fornece a capacitação, o treinamento<br />

e o monitoramento <strong>para</strong> o programa.<br />

Fernando Roldan Alves é o funcionário<br />

da Emater responsável pela parceria com<br />

a VCP. Segundo ele: “Você pre<strong>para</strong> um<br />

projeto e vai ver o sujeito e ele diz que quer<br />

plantar 6 hectares de árvores de eucaliptos,<br />

e planta. Você marca um dia e vai lá, e<br />

realmente tudo foi plantado. Você chega<br />

lá e pode ver o trabalho que os sem-terra<br />

fizeram 30 . É realmente formidável. Nós não<br />

estávamos acostumados com esse tipo de<br />

ação e não teríamos [a Emater sozinha] os<br />

recursos necessários <strong>para</strong> fazê-lo. Essa é<br />

a verdade. Estes 6 hectares precisam ser<br />

cuidados, coletamos algum material, temos<br />

que controlar isso. Existem 500 hectares lá<br />

e essas pessoas vão vender a terra a preço<br />

barato porque não têm outros recursos<br />

Bom, agora eles podem prosperar. Eles estão<br />

plantando e ganhando dinheiro que acaba<br />

sendo gasto aqui mesmo na região”.<br />

As parcerias com as universidades<br />

mencionadas, juntamente com os órgãos<br />

governamentais e a participação dos<br />

sindicatos (que buscam assegurar o<br />

respeito à legislação trabalhista), facilitam<br />

o monitoramento do impacto social e<br />

ambiental baseado em dados primários.<br />

Entretanto, seria também importante e de<br />

grande valia desenvolver parcerias entre a<br />

empresa e organizações da sociedade civil<br />

que se opõem ao plantio dos eucaliptos da<br />

VCP na região, no sentido de buscar uma<br />

participação construtiva delas no processo de<br />

monitoramento.<br />

Comunicação e conflitos. As críticas com<br />

relação às atividades do setor de celulose e<br />

papel no Rio Grande do Sul (incluindo a VCP)<br />

estão relacionadas à ameaça de um deserto<br />

verde, extinção de espécies, do bioma dos<br />

pampas, falta de água e de emprego e êxodo<br />

rural. Essas críticas podem ser vistas na<br />

mídia local 31 , e muitas delas estão reunidas<br />

numa publicação, chamada “O Latifúndio dos<br />

Eucaliptos”, que foi recentemente divulgada 32 .<br />

Portanto, tem sido vital <strong>para</strong> a companhia<br />

manter os canais de comunicação abertos com<br />

a comunidade e a mídia <strong>para</strong> poder esclarecer<br />

e modificar os planos quando necessário.<br />

Palestras, entrevistas e reuniões com as<br />

comunidades são regularmente realizadas pela<br />

VCP.<br />

Invasões evitadas. Até então, a VCP parece<br />

ter ganhado licença <strong>para</strong> operar. No último<br />

ano, a estratégia de ocupação <strong>para</strong> pressionar<br />

o governo brasileiro a acelerar a reforma<br />

agrária, coordenada pelo MST e outras<br />

organizações que defendem os direitos dos<br />

trabalhadores rurais sem-terra, funcionou<br />

contra todas as empresas que possuem largas<br />

extensões de terra. Terras pertencentes<br />

a várias empresas de celulose e papel<br />

foram invadidas em muitas regiões, exceto<br />

naquelas do sul do país pertencentes à VCP.<br />

A empresa conseguiu evitar invasões devido<br />

a informações recebidas dos assentados, que,<br />

como mencionado anteriormente, mantémse<br />

ligados ao MST mesmo após a aquisição<br />

da terra, e hoje participam do Programa<br />

Poupança Florestal, ou trabalham na VCP<br />

como empregados.<br />

30<br />

Ele está, na realidade, se referindo aos ex sem-terra, que são os atuais assentados.<br />

31<br />

Vargas e Cassol, 2006; Ritzel, 2006.<br />

32<br />

Via Campesina, 2006.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

199


CONCLUSÃO<br />

A estratégia da VCP foi a de desenvolver um modelo de negócios que lidava com a realidade<br />

e as necessidades da região na qual ela queria se expandir. Fornecendo recursos financeiros<br />

em condições justas e assistência técnica gratuita, a empresa contribuiu <strong>para</strong> um ambiente<br />

favorável ao crescimento dos negócios, enquanto criava oportunidades de subsistência <strong>para</strong> a<br />

população pobre da zona rural.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Buainain, A.M. e Pires, D. 2003. “Reflexões sobre Reforma Agrária e Questão Social no Brasil.”<br />

Brasília: INCRA. 47p.<br />

Calazans, M. (coord.) 2002. “Violação de Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais na<br />

Monocultura do Eucalipto.”. Disponível em: www.desertoverde.org/textos/Relat_rio_DESC_ES_I_<br />

Port%5B1%5D..pdf<br />

Couto, L. e Betters, D.L. 1995. “Shot-Rotation Eucalypt Plantations in Brazil: Social and<br />

Environmental Issues.” Disponível em: http://bioenergy.ornl.gov/reports/euc-braz/eucal2a.html<br />

Guanziroli, C. 1999. “Reforma Agrária e Globalização da Economia: O Caso do Brasil.”<br />

Econômica, v.1. n.1.<br />

MDA. 2001. “O Brasil Desconcentrando as Terras: Índice de Gini.” Brasília: Ministério do<br />

Desenvolvimento Agrário.<br />

Navarro, Z. 2002. “Mobilização sem Emancipação — as lutas sociais dos sem-terra no Brasil.” In:<br />

Santos, B. de S. Produzir <strong>para</strong> viver. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.<br />

Oliveira, A.U. de. 2006. “Sociedade brasileira não está acostumada a ver ações políticas de<br />

massas.” Disponível em: http://www.mst.org.br/biblioteca/entrevistas/ariovaldoihu.htm<br />

Oliveira, A. U. de. 2001. “A Longa Marcha do Campesinato Brasileiro: movimentos sociais,<br />

conflitos e Reforma Agrária.” Estudos Avançados. v.15, n. 43, p. 185-206.<br />

Comissão Pastoral da Terra. 2006. “Land Conflicts: Comparison of Land Conflicts 1996-2005.”<br />

Comissão Pastoral da Terra. Disponível em: www.cptnac.com.br/system=news&action=read&id<br />

=1263&eid=6<br />

Ritzel, L. 2006. Polêmica Verde. Jornal Zero Hora, 31 July 2006. Disponível em: www.bracelpa.<br />

org.br/br/clipping/julho/310706/03.html<br />

Rossetto, M. 2006. Reforma Agrária. Ministry of Foreign Relations. Available at:<br />

www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/polsoc/refagra/apresent/index.htm<br />

Sungsumarn, K. 1993. “Why Eucalyptus is Not Adopted for Agroforestry.” Reports Submitted<br />

to the Regional Expert Consultation on Eucalyptus, v.2. FAO Regional Office for Asia and the<br />

Pacific. Bangkok, 4-8 Outubro 1993. Disponível em: www.fao.org/DOCREP/005/AC772E/<br />

ac772e0p.htm<br />

Teofilo, E. e Garcia, P.D. 2003. “Brazil: land politics, poverty and rural development.” Land<br />

Reform: Land settlement and cooperatives. Rome: FAO, p.19-29.<br />

Vargas, A. e Cassol, D. 2006. “Votorantim atinge quilombolas no sul do RS”. Jornal Brasil de<br />

Fato, 22 de maio de 2006. Disponível em: www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/<br />

news_item.2006-05-22.1510081159<br />

Veiga, E. da. 2001. “O Brasil rural ainda não encontrou seu eixo de desenvolvimento.” Estudos<br />

Avançados, v. 15, n. 43. p.101-119.<br />

Via Campesina 2006. “O Latifúndio dos Eucaliptos: Informações básicas sobre as monoculturas<br />

de árvores e as indústrias de papel.” Via Campesina, Rio Grande do Sul. Disponível em: www.sof.<br />

org.br/marcha/paginas/publicacoes/cartilhaeucalipto.pdf<br />

200 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


ENTREVISTAS<br />

Maurik Jehee, Analista de Crédito, ABN AMRO Real. 9 de outubro de 2006 e 11 de dezembro<br />

de 2006.<br />

Fernando Roldan Alves, Assistente Técnico e Coordenador do Poupança Florestal, Emater –<br />

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. 26 de julho de 2006.<br />

Ciro Correa, Coordenador de Produção, Setor de Cooperação e Meio Ambiente, MST –<br />

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 23 de outubro de 2006.<br />

Adalberto Garcia Pereira, Diretor, Tecnoflora – Companhia contratada <strong>para</strong> o planejamento<br />

(Rio Grande do Sul). 28 de julho de 2006.<br />

Mauro Riani Fernández, Coordenador do Poupança Florestal, VCP – Unidade Extremo Sul (Rio<br />

Grande do Sul). 3 de janeiro de 2007 e 2 de abril de 2007.<br />

Arnaldo Geraldo Cardoso, Engenheiro florestal, Agrossilvicultura, VCP – Unidade Extremo Sul<br />

(Rio Grande do Sul). 26-28 de julho de 2006.<br />

Cristiano Antunes Souza, Biólogo, Pesquisa Ambiental, VCP – Unidade Extremo Sul (Rio<br />

Grande do Sul). 26-28 de julho de 2006.<br />

Fausto Rodrigues Alves de Camargo, Engenheiro Florestal, Gerente de Meio Ambiente e<br />

Poupança Florestal, VCP – Unidade Extremo Sul (Rio Grande do Sul). 26-28 de julho de 2006.<br />

Glodoaldo Arantes Ramiro, Coordenador de Pesquisa, VCP – Unidade Extremo Sul (Rio Grande<br />

do Sul). 26-28 de julho de 2006.<br />

João Afiune Sobrinho, Gerente Operacional, VCP – Unidade Extremo Sul (Rio Grande do Sul).<br />

26-28 de julho de 2006.<br />

Luiz Eduardo Alves Sabbado, Engenheiro II, Planejamento Florestal, VCP – Unidade Extremo<br />

Sul (Rio Grande do Sul). 26-28 de julho de 2006.<br />

José Luciano Penido, Diretor Presidente, VCP – São Paulo. 17 de julho de 2006.<br />

José Maria de Arruda Mendes Filho, Diretor Florestal de Operações da Unidade Extremo Sul,<br />

VCP – São Paulo. 17 de julho de 2006.<br />

Luiz Henrique Ribeiro de Arruda Dias, Comunicação e Responsabilidade Social, VCP – São<br />

Paulo. 17 de julho de 2006.<br />

CASO. votorantim celulose e papel (VCP)<br />

201


Ficha técnica da edição brasileira<br />

Tradução:<br />

- Relatório - Milton Meyer<br />

- Casos de empresas brasileiras - Carlos Alberto Barbosa da Silva<br />

Revisão técnica:<br />

Tereza Cristina A. Bicalho de Menezes<br />

Editoração: Célula de Edição de Documentos – CED da Fundação Dom Cabral<br />

Apoio:<br />

Benedito Nunes<br />

Coordenadores:<br />

Cláudio Bruzzi Boechat e Célula de Edição de Documentos – CED<br />

Setembro de 2007<br />

As informações apresentadas neste estudo de caso foram revisadas e confirmadas pela<br />

empresa <strong>para</strong> assegurar a sua autenticidade. As opiniões expressadas pelo autor no estudo<br />

de caso não refletem necessariamente as da ONU, do PNUD ou de seus Estados Membros.<br />

Copyright @ 2007<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida,<br />

armazenada, ou transmitida, <strong>para</strong> qualquer finalidade e de qualquer forma, eletrônica,<br />

mecânica, fotocópia ou outro meio, sem a permissão prévia do PNUD<br />

Design: Suazion, Inc. (NY, EUA)<br />

Para obter mais informações sobre a Iniciativa Desenvolvendo Mercados Inclusivos, acesse:<br />

www.growinginclusivemarkets.org ou gim@undp.org<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Divisão do Setor Privado, Departamento de Parcerias<br />

One United Nations Plaza, 23rd floor<br />

New York, NY 10017, USA<br />

202 CRIANDO VALORES PARA TODOS: ESTRATÉGIAS PARA FAZER NEGÓCIOS COM OS POBRES


Ficha técnica da edição brasileira<br />

Tradução:<br />

- Relatório - Milton Meyer<br />

- Casos de empresas brasileiras - Carlos Alberto Barbosa da Silva<br />

Revisão técnica:<br />

Tereza Cristina A. Bicalho de Menezes<br />

Editoração: Célula de Edição de Documentos – CED da Fundação Dom Cabral<br />

Apoio:<br />

Benedito Nunes<br />

Coordenadores:<br />

Cláudio Bruzzi Boechat e Célula de Edição de Documentos – CED<br />

Setembro de 2007<br />

As informações apresentadas neste estudo de caso foram revisadas e confirmadas pela<br />

empresa <strong>para</strong> assegurar a sua autenticidade. As opiniões expressadas pelo autor no estudo<br />

de caso não refletem necessariamente as da ONU, do PNUD ou de seus Estados Membros.<br />

Copyright @ 2007<br />

Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida,<br />

armazenada, ou transmitida, <strong>para</strong> qualquer finalidade e de qualquer forma, eletrônica,<br />

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New York, NY 10017, USA<br />

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