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INPE – 15222-TDI/1315<br />

ESTUDO DAS IRREGULARIDADES IONOSFÉRICAS<br />

EQUATORIAIS UTILIZANDO GPS<br />

Fabiano da Silveira Rodrigues<br />

Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada<br />

pelos Drs. Eurico Rodrigues de Paula e Mangalathayil Ali Abdu, aprovada em 03 de<br />

fevereiro de 2003<br />

INPE<br />

São José dos Campos<br />

2008


Publicado por:<br />

esta página é responsabilidade do SID<br />

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)<br />

Gabinete do Diretor – (GB)<br />

Serviço de Informação e Documentação (SID)<br />

Caixa Postal 515 – CEP 12.245-970<br />

São José dos Campos – SP – Brasil<br />

Tel.: (012) 3945-6911<br />

Fax: (012) 3945-6919<br />

E-mail: pubtc@sid.inpe.br<br />

Solicita-se intercâmbio<br />

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Publicação Externa – É permitida sua reprodução para interessados.


INPE – 15222-TDI/1315<br />

ESTUDO DAS IRREGULARIDADES IONOSFÉRICAS<br />

EQUATORIAIS UTILIZANDO GPS<br />

Fabiano da Silveira Rodrigues<br />

Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada<br />

pelos Drs. Eurico Rodrigues de Paula e Mangalathayil Ali Abdu, aprovada em 03 de<br />

fevereiro de 2003<br />

INPE<br />

São José dos Campos<br />

2008


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação<br />

Rodrigues, Fabiano da Silveira<br />

Estudo das irregularidades ionosféricas equatoriais utilizando<br />

GPS / Fabiano da Silveira Rodrigues. – São José dos Campos: INPE,<br />

2003.<br />

175p. ; (INPE-15122-TDI/1315)<br />

I<br />

I<br />

1. Spread F. 2. Sistema de Posicionamento Global. 3. Ionosfera.<br />

4. Propagação de ondas. 5. Densidade eletrônica ionosférica.<br />

I. Título.<br />

CDU 523.6


"Imagination is more important than knowledge."<br />

[Albert Einstein]


A meus pais,<br />

que se esforçaram ao máximo para a minha educação,<br />

dedico.


AGRADECIMENTOS<br />

Em primeiro lugar, o agradecimento muito especial à minha noiva, Danieli Balbueno<br />

Contreira, que sempre esteve junto comigo nos momentos mais decisivos da minha vida<br />

pessoal e acadêmica.<br />

Meus sinceros agradecimentos ao Orientador, Dr. Eurico Rodrigues de Paula, pela<br />

orientação, motivação e, sobretudo, amizade. Meus agradecimentos também ao Dr. M.<br />

A. Abdu, pela co-orientação e por disponibilizar os dados de CET utilizados nesta<br />

dissertação.<br />

Agradeço ao Dr. K. N. Iyer que, durante o período que esteve como pesquisador<br />

visitante na DAE/INPE compartilhou conosco ao máximo o seu conhecimento sobre<br />

cintilações equatoriais, o que rendeu valiosos resultados a este trabalho.<br />

Um agradecimento especial aos Drs. T. Pedersen e K. M. Groves do Laboratório de<br />

Pesquisas da Força Aérea Norte-Americana (AFRL) pelo incentivo à minha visita ao<br />

AFRL e por valiosos comentários. Agradeço também sugestões e comentários dados por<br />

Dr. T. Beach (AFRL), Dr. P. M. Kintner (Cornell University), Dr. B. G. Fejer (Utah<br />

State University) e Dr. K. Makita (Takushoku University, Japão).<br />

Meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas envolvidas na coleta e gerenciamento<br />

dos dados utilizados nesta dissertação, principalmente à Lucia de Almeida Terra Limiro,<br />

Maria Goreti dos Santos Aquino, Amita Muralikrishna, José Jorge dos Santos<br />

Vasconcellos, Sérgio Gripp (INPE/Cuiabá), Acácio Cunha Neto (INPE/São Luís), Prof.<br />

Walter Castro (FUA/Manaus), Jaquiel Fernandes (Palmas) e bolsistas/estagiários da<br />

URS/INPE em Santa Maria-RS.<br />

Os procedimentos para obtenção do Conteúdo Eletrônico Total através das observáveis<br />

GPS tiveram base nos estudos realizados pelo Dr. I. J. Kantor, valiosos no<br />

desenvolvimento desta dissertação.


Meus agradecimentos a todos os colegas em São José dos Campos, especialmente, aos<br />

grandes amigos Christiano Garnett M. Brum, Clézio M. De Nardin, Daniel B. Pretto,<br />

Fernando Bertoni, José Henrique Fernandez, Marcos V. T. Heckler e Mariangel<br />

Fedrizzi pelo companheirismo e apoio. Agradeço também aos colegas de Santa Maria,<br />

residindo agora em São José dos Campos, que me auxiliaram na vinda para o INPE.<br />

E, finalmente, o agradecimento de mais um ex-orientando ao Dr. Nelson J. Schuch por<br />

apresentar-me à carreira cientifica e ao INPE durante o período de Iniciação Cientifica.<br />

Esta dissertação foi desenvolvida no INPE com recursos financeiros da Fundação de<br />

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, Projeto N o 00/13325-5. A<br />

apresentação de alguns resultados desta dissertação no “Ionospheric Effects Symposium<br />

- 2002”, em Alexandria-VA, EUA foi financiada pela Força Aérea Norte-Americana. A<br />

apresentação de resultados preliminares no “Jicamarca Observatory - 40th Anniversary<br />

Workshop”, em Lima no Peru foi financiada pela NSF (“National Science Foundation”)<br />

dos EUA e pelo Instituto Geofísico do Peru - IGP. A participação no Congresso<br />

Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica 2001 foi parcialmente financiada<br />

pela Takushoku University do Japão.


RESUMO<br />

Sinais transmitidos por satélites do Sistema de Posicionamento Global (GPS) foram<br />

utilizados para estudar irregularidades ionosféricas equatoriais no Brasil. Dados de<br />

cintilação nos sinais GPS (L1=1,575 GHz) foram utilizados para estimar a ocorrência de<br />

irregularidades ionosféricas com escalas de tamanho em torno de 400 metros. Dados de<br />

cintilação também foram comparados com observações do fenômeno da camada F<br />

espalhada ou Equatorial Spread F (ESF) realizadas por outros tipos de instrumentos tais<br />

como radar VHF de espalhamento coerente, digissonda e fotômetro. Os dados de<br />

cintilação também foram utilizados para estimar as características da ocorrência de<br />

irregularidades sobre São José dos Campos (-18 o latitude dip), localizada próximo ao<br />

pico da Anomalia Equatorial. A variação com a hora local e sazonal das irregularidades<br />

foram determinadas através dos dados de cintilação. O resultado obtido é similar ao<br />

padrão sazonal de ocorrência do ESF determinado por medidas de ionossondas. O<br />

decaimento das irregularidades que causam cintilação, entretanto, é muito mais rápido<br />

devido às menores escalas de tamanhos das irregularidades envolvidas. Cintilações mais<br />

fortes foram observadas durante os meses de equinócio, o que indica um efeito da maior<br />

densidade eletrônica da ionosfera. Efeitos da atividade solar sobre a ocorrência e<br />

magnitude dos sinais GPS também foram estudados. A magnitude e a ocorrência das<br />

cintilações tende a aumentar com o aumento da atividade solar. Dados coletados em<br />

várias estações sobre o território brasileiro foram utilizados para estimar a variação<br />

latitudinal da ocorrência e intensidades das cintilações. Os resultados mostram que as<br />

intensidades das cintilações são maiores na região próxima ao pico da Anomalia<br />

Equatorial. Receptores GPS de dupla-freqüência foram utilizados para estimar o<br />

Conteúdo Eletrônico Total (CET) da ionosfera e plasmasfera. Medidas de CET em São<br />

Luís (-1.73 o dip latitude) foram utilizadas para estudar os efeitos das irregularidades<br />

ionosféricas sobre a variabilidade dia-a-dia do CET vertical (CETV) na região<br />

equatorial. A ocorrência de irregularidades ionosféricas foi estimada a partir do desvio<br />

RMS (“Root-Mean-Square”) do CET. Por fim, a distribuição latitudinal do CETV,<br />

desde aproximadamente –30 o até +10 o foi obtida a partir de medidas simultâneas de<br />

CET em São José dos Campos e São Luís. Estes perfis latitudinais do CETV foram<br />

utilizados para estudar o comportamento da ionosfera durante a ocorrência ou não de<br />

um evento de ESF. A partir dos perfis latitudinais também foi possível observar o pico<br />

sul da Anomalia Equatorial que localiza-se entre –10 o e –20 o de latitude inclinação<br />

magnética (latitude dip). A ocorrência da Anomalia Equatorial pode explicar, em parte,<br />

a variação latitudinal da magnitude das cintilações, as quais dependem também de<br />

fatores tais como altura e espessura da camada de irregularidades, além da densidade<br />

ambiente do plasma ionosférico.


GLOBAL POSITIONING SYSTEM STUDIES OF EQUATORIAL<br />

IONOSPHERIC IRREGULARITIES<br />

ABSTRACT<br />

Signals transmitted by the Global Positioning System (GPS) satellites were used to<br />

study equatorial ionospheric irregularities over Brazil. GPS (L1=1.575 GHz)<br />

scintillation data were used to infer the occurrence of ~400m scale-size irregularities<br />

and compared with equatorial Spread F (ESF) observations carried out by several other<br />

instruments like VHF coherent backscatter radar, digisonde and airglow photometer.<br />

GPS scintillation was also used to infer the characteristics of the intermediate scale-size<br />

ionospheric irregularities occurrence over São José dos Campos (-18 o dip latitude)<br />

located close to the Equatorial Anomaly crest. Local time and seasonal variations of the<br />

irregularities were inferred by using GPS scintillation data. Results agree quite well<br />

with the well-known seasonal pattern of ESF in Brazil determined from ionosonde<br />

observations. However, the time decay of GPS scintillation irregularities was much<br />

shorter due to their smaller scale-sizes. Stronger scintillations were observed during<br />

equinoctial months when the ionospheric background density is much higher. Solar<br />

cycle effects on GPS scintillation occurrence and magnitude were also determined.<br />

Scintillation magnitude and occurrence tend to increase with solar cycle. Latitudinal<br />

dependence of GPS scintillation occurrence and magnitude was estimated from several<br />

stations distributed over the Brazilian Territory. Dual - frequency GPS receivers were<br />

also used to estimate the Total Electron Content (TEC) that accounts contributions from<br />

ionosphere and plasmasphere electron densities. TEC measurements at São Luís (-1.73 o<br />

dip latitude) were used to study the ionospheric irregularity effects on the day-to-day<br />

variability of the vertical TEC (VTEC) over the magnetic equatorial region. The<br />

occurrence of ionospheric irregularities was also estimated from the RMS (Root-Mean-<br />

Square Deviation) of VTEC. Finally, latitudinal distributions of VTEC, from about –30 o<br />

to about +10 o dip latitude were estimated from simultaneous VTEC measurements<br />

performed at São Luís and São José dos Campos. VTEC latitudinal distributions were<br />

successfully used to study the behavior of the ionosphere during ESF and non-ESF<br />

conditions. The Equatorial Anomaly occurrence may partially explain the observed<br />

latitudinal variation of scintillation magnitudes since they also depend on the height and<br />

thickness of the irregularities layer, besides the background electron density.


SUMÁRIO<br />

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ............................................................................. 17<br />

CAPÍTULO 2 - O SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL (GPS) ......... 21<br />

2.1 - Introdução ......................................................................................................... 21<br />

2.2 - Características do sinal GPS................................................................................ 22<br />

2.2 - Posicionamento através do GPS .......................................................................... 24<br />

2.2 - Receptores GPS ................................................................................................. 26<br />

CAPÍTULO 3 – A IONOSFERA ............................................................................ 29<br />

3.1 - Introdução .......................................................................................................... 29<br />

3.2 - Fenômenos da ionosfera equatorial e de baixas latitudes....................................... 31<br />

3.2.1 - Princípio da teoria do dínamo atmosférico ........................................................ 32<br />

3.2.2 - O pico de pré- reversão da deriva vertical E×B do plasma io nosférico .............. 32<br />

3.2.3 - Anomalia Equatorial ou Anomalia de Appleton ................................................ 35<br />

3.2.4 - O Fenômeno da camada F espalhada .............................................................. 37<br />

CAPÍTULO 4 - EFEITOS DA IONOSFERA EM SINAIS GPS .......................... 43<br />

4.1 – Cintilações ionosféricas ....................................................................................... 43<br />

4.1.1 - O índice de cintilação (S 4 ) ............................................................................... 45<br />

4.1.2 - O índice S 4 calculado pelos receptores SCINTMON ...................................... 48<br />

4.1.3 - Morfologia global das cintilações ..................................................................... 50<br />

4.2 - Refração ionosférica............................................................................................ 52<br />

4.2.1 - Determinação do CET a partir de medidas de código ....................................... 58<br />

4.2.2 - Determinação do CET a partir de medidas de fase............................................ 61<br />

4.2.3 - Obtenção do CET vertical ............................................................................... 64<br />

CAPÍTULO 5 - INSTRUMENTAÇÃO, DADOS E METODOLOGIAS ............ 67<br />

5.1 - Instrumentação e dados ...................................................................................... 67<br />

5.1.1 - Monitores de cintilação – SCINTMON .......................................................... 67<br />

5.1.2 - Receptores TurboRogue ICS- 4000Z .............................................................. 71<br />

5.2 - Metodologias ..................................................................................................... 73<br />

5.2.1 - Estudos das irregularidades ionosféricas através das cintilações ........................ 73<br />

5.2.2 - Estudo das irregularidades ionosféricas sobre São José dos Campos ................ 74<br />

Pág.


5.2.3 - Cálculo do CET .............................................................................................. 75<br />

CAPÍTULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSÕES I: OBSERVAÇÕES DA<br />

CINTILAÇÃO IONOSFÉRICA E DO ESF UTILIZANDO MULTIPLAS<br />

TÉCNICAS .............................................................................................................. 79<br />

6.1 - Observações do ESF utilizando múltiplas técnicas ............................................... 79<br />

6.2 - Descrição da campanha de observações em São Luís ......................................... 81<br />

6.2.1 - Conjunto de dados .......................................................................................... 82<br />

6.2.2 - Interpretação das observações ........................................................................ 85<br />

6.2.3 - Dificuldades na comparação entre plumas e cintilações ..................................... 87<br />

6.2.4 - Análise de dois dias típicos .............................................................................. 87<br />

6.2.5 - Exemplo da variabilidade dia - a- dia do ESF ..................................................... 90<br />

6.3 - Campanha de São Martinho da Serra ................................................................. 93<br />

6.3.1 - Conjunto de observações ................................................................................ 94<br />

6.3.2 - Interpretação das observações ........................................................................ 96<br />

6.3.3 - Comparação entre os dados de luminescência e de cintilação ............................ 97<br />

6.3.4 - Extensão latitudinal das bolhas iono sféricas ...................................................... 99<br />

CAPÍTULO 7 - RESULTADOS E DISCUSSÕES II: ESTUDO ESTATÍSTICO DAS<br />

CINTILAÇÕES ....................................................................................................... 101<br />

7.1 - Observações de cintilação em São José dos Campos ......................................... 101<br />

7.2 - Variação temporal diária .................................................................................... 105<br />

7.3 - Sazonalidade ...................................................................................................... 107<br />

7.4 - Efeito do fluxo solar ........................................................................................... 110<br />

CAPÍTULO 8 - RESULTADOS E DISCUSSÕES III: MEDIDAS DE CET E<br />

CINTILAÇÕES ....................................................................................................... 117<br />

8.1 - Medidas do CET ............................................................................................... 119<br />

8.2 - Flutuação de CET e cintilações ........................................................................... 119<br />

8.3 - Variação diária do CET vertical .......................................................................... 122<br />

8.4 - Estimativa da ocorrência de irregula ridades através de medidas do CET .............. 125<br />

8.5 - Desvio RMS do CET em São Luís e São José dos Campos ............................... 127<br />

8.6 - Variação sazonal do CETV em São Luís ............................................................ 129<br />

8.7 - Desvio RMS do CETV sobre São Luís .............................................................. 135<br />

8.8 - Distribuição latitudinal do CETV ......................................................................... 136<br />

8.8.1 - Distribuição latitudinal do CETV durante dias com ocorrência de ESF ............. 139<br />

8.9 - Geração de mapas da distribuição latitudinal do CETV ....................................... 140<br />

8.9.1 - Procedimentos para a geração dos mapas de CETV ........................................ 141<br />

8.10 - Distribuição do CETV para os dias 22 e 23 de Setembro de 2001 ................... 143


8.10.1 - Condições de ESF para os dias em estudo .................................................... 144<br />

8.10.2 - Análise da distribuição latitudinal do CETV .................................................... 145<br />

8.10.3 - Mapas da distribuição do CETV ................................................................... 150<br />

CAPÍTULO 9 - CONCLUSÕES ............................................................................. 153<br />

CAPÍTULO 10 - SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ....................... 159<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 161<br />

APÊNDICE A - DESCRIÇÃO DO ARQUIVO SUMÁRIO ................................ 171<br />

APÊNDICE B - DESCRIÇÃO GERAL DOS PROCEDIMENTOS PARA<br />

OBTENÇÃO DOS ARQUIVOS TEC .................................................................... 173


CAPÍTULO 1<br />

INTRODUÇÃO<br />

Esta dissertação trata do estudo das irregularidades ionosféricas através da utilização<br />

dos sinais transmitidos pelos satélites do Sistema de Posicionamento Global (GPS).<br />

As irregularidades ionosféricas são perturbações na densidade do plasma ionosférico e<br />

se originam através de processos de instabilidade de plasma do tipo Rayleigh-Taylor<br />

(RT) que ocorrem na ionosfera equatorial. A instabilidade RT dá origem às<br />

irregularidades na camada F ionosférica com um amplo espectro de escalas de tamanho<br />

desde alguns centímetros até centenas de quilômetros. Este fenômeno, de<br />

irregularidades na ionosfera e sua manifestação nos dados coletados pelos mais diversos<br />

tipos de equipamentos para observação da ionosfera, é conhecido como camada F<br />

espalhada ou simplesmente Equatorial Spread F (ESF). Este nome tem origem no<br />

espalhamento causado pelas irregularidades ionosféricas nos traços de ionogramas<br />

equatoriais e de baixas latitudes.<br />

Atualmente, vários esforços na área de Aeromomia têm sido realizados para uma<br />

melhor compreensão dos processos eletrodinâmicos envolvidos na geração das<br />

irregularidades ionosféricas. Os sinais GPS têm sido empregados por grupos de<br />

pesquisas ionosféricas para observação da ionosfera equatorial, de modo a determinar a<br />

ocorrência das irregularidades ionosféricas. Recentemente, também têm-se utilizado os<br />

sinais GPS para estudar o comportamento do Conteúdo Eletrônico Total ionosférico (e<br />

plasmasférico) durante eventos de ESF.<br />

Neste contexto, esta dissertação tem como objetivos principais um melhor<br />

conhecimento, por parte do autor e do próprio Grupo de Ionosfera da Divisão de<br />

Aeronomia, com as técnicas que empregam o GPS para estudos ionosféricos e o<br />

17


emprego destas técnicas para o estudo das irregularidades ionosféricas que ocorrem<br />

freqüentemente no Território Brasileiro.<br />

Do ponto de vista científico, esta dissertação contribui em um melhor conhecimento das<br />

técnicas que empregam o GPS para estudos ionosféricos; resulta no primeiro estudo<br />

(com caráter de dissertação) do INPE de irregularidades com escalas de tamanho (~ 400<br />

metros) capazes de causar cintilação em sinais com freqüência na Banda L e fornece os<br />

primeiros resultados de uma análise do comportamento do CET em longitudes<br />

brasileiras durante eventos de ESF.<br />

Do ponto de vista de aplicação, os resultados podem e já estão sendo utilizados em<br />

estudos para a implementação de Sistemas de Aumentação para o GPS em regiões<br />

equatoriais e de baixas latitudes (Klobuchar et al., 2002; Doherty et al., 2002). Estes<br />

sistemas têm como objetivo uma melhor performance do posicionamento GPS através<br />

da minimização do erro ionoférico para a futura aplicação do GPS em pousos e<br />

decolagens de aeronaves.<br />

A apresentação desta dissertação está organizada da seguinte forma: O Capítulo 2<br />

consiste de uma breve introdução sobre o GPS e sobre os sinais transmitidos pelos<br />

satélites deste sistema, com os quais serão estudadas as irregularidades ionosféricas.<br />

No Capítulo 3 é realizada uma revisão de conceitos fundamentais de ionosfera e de dois<br />

fenômenos típicos da ionosfera equatorial: o fenômeno do ESF e a Anomalia Equatorial<br />

também conhecida como Anomalia de Appleton.<br />

O Capitulo 4 discute dois efeitos da ionosfera sobre os sinais GPS: a cintilação e a<br />

refração ionosférica. Estes dois efeitos são utilizados para identificar a ocorrência de<br />

irregularidades na linha de visada do sinal GPS e para estudar o comportamento do<br />

Conteúdo Eletrônico Total (CET) durante eventos de ESF.<br />

18


No Capítulo 5 são descritos os dados utilizados neste trabalho, assim como a<br />

metodologia empregada para a sua redução e análise.<br />

Os resultados são apresentados e discutidos nos Capítulos 6, 7 e 8. No Capítulo 6 são<br />

apresentados e discutidos resultados referentes à comparação entre observações do ESF<br />

realizadas por diferentes técnicas. No Capítulo 7 são apresentados resultados da análise<br />

estatística de dados de cintilação coletados em São José dos Campos, de setembro de<br />

1997 à junho de 2002. No Capítulo 8 são apresentados os resultados do cálculo do CET<br />

através do uso de dados de GPS. Os valores de CET são utilizados no estudo do<br />

comportamento do CET vertical na região equatorial e de baixas latitudes e implicações<br />

na geração das irregularidades ionosféricas.<br />

As principais conclusões deste trabalho são apresentadas no Capítulo 9. No Capít ulo 10<br />

são sugeridos trabalhos futuros. Os Apêndices A e B descrevem em maiores detalhes os<br />

dados utilizados e procedimentos de análise.<br />

19


CAPÍTULO 2<br />

O SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL (GPS)<br />

2.1 Introdução<br />

O Sistema de Posicionamento Global ou GPS (abreviação do inglês “Global Positioning<br />

System”) é um sistema de posicionamento ou navegação por satélite com cobertura<br />

global pelo qual um usuário pode determinar sua posição e tempo em qualquer ponto da<br />

superfície terrestre ou próxima a ela. O GPS foi desenvolvido pelo Departamento de<br />

Defesa dos Estados Unidos da América (EUA) com objetivo de ser o principal sistema<br />

de navegação das forças armadas Norte-Americanas. Com o passar dos anos e<br />

desenvolvimento da tecnologia associada, usuários civis também tiveram acesso ao<br />

GPS. Atualmente, o GPS tem sido utilizado para os mais diversos fins, como por<br />

exemplo, navegação, posicionamento geodésico, agricultura, controle de frotas, dentre<br />

outros (Monico, 2000). Apesar de originalmente ter sido desenvolvido para<br />

posicionamento na superfície, o GPS também tem sido utilizado no posicionamento de<br />

satélites de baixa órbita (Rush, 2000).<br />

O GPS consiste de três segmentos: (1) segmento espacial; (2) segmento de controle e<br />

(3) segmento usuário. O segmento espacial do GPS consiste de uma constelação de 24<br />

satélites distribuídos em 6 planos orbitais igualmente espaçados, com quatro satélites<br />

em cada plano e a uma altitude aproximada de 20.200 km. Os planos orbitais são<br />

inclinados 55 o em relação ao equador geográfico e o período orbital é de<br />

aproximadamente 12 horas siderais. Isto significa que a posição dos satélites se repete, a<br />

cada dia, com aproximadamente 4 minutos de adiantamento em relação ao dia anterior.<br />

Essa configuração garante que, no mínimo, 4 satélites estejam sempre visíveis em<br />

qualquer local da superfície terrestre. O segmento de controle rastreia cada satélite GPS<br />

e envia periodicamente ao satélite, a previsão das suas futuras posições e correções de<br />

relógio do satélite. Dentro do segmento usuário estão incluídos os usuários civis e<br />

21


militares. A Figura 2.1 mostra a ilustração de um satélite GPS e a constelação de<br />

satélites GPS em torno da Terra.<br />

(a)<br />

(b)<br />

Fig. 2.1 – (a) Ilustração de um satélite GPS e (b) da constelação de satélites GPS.<br />

FONTE: Dana (2002).<br />

2.2 Características do sinal GPS<br />

Cada satélite GPS transmite duas ondas portadoras chamadas “Link 1” e “Link 2” ou L1<br />

e L2 (Spilker Jr. e Parkinson, 1996). Estas duas portadoras são geradas simultaneamente<br />

a partir de uma freqüência fundamental de 10,23 MHz. L1 e L2 correspondem à<br />

freqüência fundamental multiplicada por 154 e 120, respectivamente. Desta forma, L1<br />

corresponde à freqüência de 1,57542 GHz, enquanto que L2 corresponde à 1,22760<br />

GHz.<br />

Além da portadora, cada satélite gera uma mensagem de navegação e um conjunto<br />

próprio de códigos, que consiste de uma seqüência pseudo-aleatória conhecida como<br />

PRN (Pseudo Random Noise) e que é modulado sobre as portadoras. Cada satélite GPS<br />

é identificado pelo seu código PRN transmitido. A modulação de códigos permite<br />

realizar medidas de distâncias a partir da estimativa do tempo de propagação da<br />

modulação. O tempo de propagação da modulação pode ser obtido por correlação<br />

22


cruzada entre o código no sinal recebido e uma réplica do código gerada no receptor<br />

GPS. Os códigos PRN consistem de uma seqüência de estados +1 e –1 que<br />

correspondem aos valores binários 0 e 1. A modulação é feita por um deslocamento de<br />

1<strong>80</strong> o na fase da portadora quando ocorre a mudança de estado (“biphase modulation”).<br />

Este processo de modulação é ilustrado na Figura 2.2.<br />

Fig. 2.2 - Ilustração da modulação do código sobre a onda portadora.<br />

FONTE: Adaptado de Hofmann-Wellenhof et al. (1994, pag. 77).<br />

Dois códigos formam a seqüência PRN: O código C/A (“Coarse/Aquisition” ou<br />

“Clear/Access”) que possui uma freqüência de 1,023 MHz e é repetido a cada<br />

milisegundo e o código P (“Precision” ou “Protection”) que possui freqüência de 10,23<br />

MHz e é repetido a aproximadamente cada 266,4 dias. Existe ainda o código W<br />

utilizado para criptografar o código P, transformando-o no código Y, não disponível aos<br />

usuários civis. A criptografia do código P só é utilizada quando o procedimento “Anti-<br />

Spoofing” (AS) é acionado. O objetivo principal do AS é evitar que o código P seja<br />

fraudado, mediante a geração de uma réplica do mesmo. Já a mensagem de navegação<br />

consiste de 1500 bits transmitidos em 30 segundos e que contém informações sobre o<br />

23


elógio do satélite, a sua órbita, suas condições operacionais e outras informações.<br />

Pode-se observar que existem três tipos de sinais envolvidos no GPS: as portadoras (L1<br />

e L2), os códigos C/A e P(Y) e a mensagem de navegação (D). Esta estrutura permite<br />

medir a fase da portadora e sua variação e o tempo de propagação da modulação.<br />

As portadoras moduladas podem ser representadas pelas seguintes equações:<br />

L1(t) = a 1 P(t) D(t) cos[ω 1 t + φ(t)] + a 1 C/A(t) D(t) sen[ω 1 t + φ(t)] (1.1)<br />

e<br />

L2(t) = a 2 P(t) D(t) cos[ω 2 t + φ(t)] (1.2)<br />

onde a i cos[ω i t + φ(t)] é a portadora não modulada, D(t) contém a mensagem de<br />

navegação, P(t) e C/A(t) representam as seqüências de pulsos dos códigos P e C/A,<br />

respectivamente. O termo a 1 C/A(t) D(t) sen[ω 1 t + φ(t)] indica que o código C/A é<br />

modulado em quadratura de fase (deslocamento de 90 o ) com o código P(t). O índice<br />

i=1,2 representa a portadora L1 ou L2, ω i é a freqüência angular da portadora e φ(t) é o<br />

ruído da fase.<br />

Todos os satélites transmitem na mesma freqüência e utilizam a técnica CDMA (“Code<br />

Division Multiple Access”) na qual cada satélite é identificado pelo seu código<br />

característico. Além disso, o sinal é espalhado em freqüência (“spread spectrum”) de<br />

forma a evitar efeitos de interferência eletromagnética.<br />

2.3 Posicionamento através do GPS<br />

A posição de um certo ponto no espaço pode ser determinada através das distâncias<br />

deste ponto até posições conhecidas no espaço. Para explicar este raciocínio, a Figura<br />

2.3(a) ilustra o caso unidimensional. Se a posição do satélite S 1 e a distância medida x 1<br />

até ele são conhecidas, a posição do usuário somente pode estar em dois pontos, um à<br />

esquerda e outro à direita, distantes x 1 de S 1 . Para se determinar a posição do usuário, a<br />

24


distância até outro satélite S 2 com posição conhecida deve ser medida. Na Figura 2.3 (a)<br />

a posição de S 2 e da distância x 2 determinam a posição do usuário U.<br />

A Figura 2.3(b) ilustra o caso bidimensional. Para determinar a posição do usuário, três<br />

satélites e três distâncias são necessárias. Conhecendo-se a posição do satélite S i e a<br />

distância x i do usuário até ele, as possíveis posições do usuário são definidas pelo traço<br />

da circunferência de raio x i ao redor da posição do satélite S i . Dois satélites e duas<br />

distâncias fornecem duas possíveis soluções já que duas circunferências se interceptam<br />

em dois pontos. Uma terceira circunferência é necessária para determinar exatamente a<br />

posição do usuário.<br />

x 1<br />

x 1 x 2<br />

S 1 U<br />

S 2<br />

(a)<br />

x 2<br />

S 2<br />

x 1<br />

S 1<br />

S 3<br />

U<br />

x 3<br />

(b)<br />

Fig. 2.3 – Posicionamento (a) unidimensional e (b) bidimensional de um usuário U.<br />

Por razões similares, quatro satélites e quatro distâncias são necessárias para o caso de<br />

posicionamento tridimensional como o realizado pelo GPS. Neste caso, conhecendo-se<br />

25


a posição do satélite S i e a distância x i do usuário até ele, as possíveis posições do<br />

usuário são definidas pela superfície da esfera de raio x i ao redor da posição do satélite<br />

S i . A intersecção de duas superfícies esféricas define uma circunferência. A intersecção<br />

desta circunferência com uma terceira superfície esférica define dois pontos. Destes dois<br />

pontos, apenas um situa-se próximo à superfície terrestre e define a posição do usuário.<br />

Um quarto satélite é necessário para corrigir a diferença de tempo entre os relógios do<br />

satélite e receptor.<br />

No GPS, as distâncias (x i ) entre os satélites e o usuário são estimadas através do tempo<br />

de propagação do sinal desde o satélite até o receptor. As posições dos satélites são<br />

conhecidas pelo usuário através das informações enviadas no sinal GPS.<br />

2.4 Receptores GPS<br />

Um receptor GPS genérico consiste das seguintes seções: (1) antena; (2) préamplificador;<br />

(3) oscilador de referência; (4) sintetizador de freqüência; (5)<br />

“downconverter”; (6) seção de freqüência intermediaria (FI); (7) processamento de<br />

sinais; e (8) processamento aplicado (Van Dierendonck, 1996).<br />

Nem todos os receptores GPS são dedicados à navegação. Alguns são dedicados à<br />

transferência de tempo ou simplesmente coletam dados. Desta forma, a última função<br />

do receptor é denominada de processamento aplicado, cobrindo um amplo conjunto de<br />

aplicações.<br />

A antena pode consistir de um ou mais elementos e eletrônica associada e pode ser ativa<br />

ou passiva, dependendo da exigência de performance. Sua função é receber os sinais<br />

GPS rejeitando sinais que sofreram multi-caminho e interferência. O multi-caminho<br />

acontece quando um sinal reflete em um obstáculo e então chega à antena.<br />

26


O pré-amplificador consiste de uma proteção, filtro e amplificador de baixo ruído. O<br />

oscilador de referência fornece a referência de tempo e freqüência para o receptor. O<br />

oscilador de referência pode ser considerado a peça principal do receptor, já que as<br />

medidas GPS são baseadas no tempo de chegada do código PRN e também na<br />

informação de fase e freqüência dos sinais GPS.<br />

A saída do oscilador de referência é utilizada no sintetizador de freqüência, do qual se<br />

derivam os osciladores locais (OL’s) e relógios utilizados pelo receptor. Um ou mais<br />

destes OL’s são utilizados pelo “downconverter” para converter as entradas de<br />

radiofreqüência (RF) em freqüências intermédias (FI) que são então processadas pela<br />

seção de FI do receptor. O objetivo da seção de FI é fornecer uma melhor filtragem do<br />

sinal e aumentar a amplitude do sinal até um nível operacional. A seção de FI pode<br />

conter também um circuito de controle automático de ganho (AGC) para controlar o<br />

nível operacional, fornecer uma faixa de amplitude operacional adequada e suprimir<br />

interferência do tipo pulso.<br />

A seção de processamento de sinal é a alma de um receptor GPS realizando funções tais<br />

como:<br />

• Distribuir o sinal nos canais para processamento simultâneo de vários satélites;<br />

• Gerar os códigos PRN de referência dos sinais de vários satélites;<br />

• Adquirir os sinais dos satélites;<br />

• Rastrear o código e portadora dentro dos sinais;<br />

• Demodular os dados dos sinais;<br />

• Extrair medidas de fase do código PRN (pseudo-distância) dos sinais;<br />

• Extrair medidas de freqüência e fase dos sinais;<br />

• Extrair informação da razão sinal-ruído (SNR) dos sinais;<br />

• dentre outras.<br />

27


As saídas da seção de processamento de sinais são as pseudo-distâncias, medidas de<br />

fase e freqüência, SNR’s, informações de cada um dos satélites rastreados, etc.. Estas<br />

saídas são então utilizadas pela seção de processamento aplicado que também controla a<br />

seção de processamento de sinais e utiliza suas saídas para realizar tarefas que variam<br />

de aplicação para aplicação. Apesar do GPS ser, em primeiro lugar, um sistema de<br />

navegação por satélite, as aplicações de um receptor GPS são diversas, como por<br />

exemplo :<br />

• Navegação;<br />

• Transferência de tempo e freqüência;<br />

• Medidas de conteúdo eletrônico total (CET);<br />

• Medidas de cintilações de fase e amplitude;<br />

• Receptores para estações diferenciais GPS (DGPS);<br />

• Monitoramento da integridade do sinal GPS;<br />

• dentre outras.<br />

A ligação comum entre estas aplicações é que elas usam as mesmas medidas, de uma<br />

forma ou de outra. Contudo, devido às diferentes exigências de largura de banda e<br />

precisão impostas para cada tipo de aplicação, os requisitos da seção de processamento<br />

de sinais também são diferentes.<br />

28


CAPÍTULO 3<br />

A IONOSFERA<br />

3.1 Introdução<br />

A ionosfera é uma região atmosférica localizada entre aproximadamente 65 e 2000 km<br />

de altitude e é caracterizada por apresentar uma alta densidade de íons e elétrons capaz<br />

de afetar a propagação de ondas de rádio. Os íons e elétrons livres na ionosfera são<br />

criados principalmente por processo de fotoionização. A fotoionização ionosférica<br />

consiste na absorção de radiação solar, predominantemente na faixa do extremo ultravioleta<br />

e raios-x, por elementos atmosféricos neutros (Rishbeth e Garriott, 1969).<br />

Quando a energia dos fótons incidentes sobre o elemento neutro é maior que o seu<br />

potencial de fotoionização, ocorre a perda de elétrons deste elemento tornando-o um íon<br />

positivo e dando origem a elétrons livres. Ionização também pode ser produzida por<br />

colisão com partículas energéticas carregadas de origem solar ou galáctica que penetram<br />

na atmosfera, mais facilmente em regiões de altas latitudes e na região da Anomalia<br />

Magnética do Atlântico Sul (AMAS).<br />

O perfil vertical típico de densidade eletrônica da ionosfera durante o dia e também<br />

durante a noite tem formas semelhantes às mostradas na Figura 3.1. Uma explicação<br />

qualitativa para a presença de um pico de ionização no perfil é o resultado do produto<br />

entre uma crescente intensidade de radiação ionizante com a altura e uma decrescente<br />

quantidade de elementos ionizáveis. A Figura 3.2 procura ilustrar a formação da<br />

ionosfera e presença de um pico de ionização. Parâmetros do perfil de densidade, tais<br />

como a altura do pico de máxima densidade, densidade máxima, conteúdo eletrônico<br />

total e vários outros parâmetros variam de acordo com vários fatores tais como hora<br />

local, latitude, estação do ano, ciclo solar, atividade magnética, dentre outros. Todos<br />

estes fatores, juntamente com características químicas da atmosfera que também<br />

29


apresentam uma alta variabilidade fazem com que o perfil não seja sempre tão simples<br />

como mostrado na Figura 3.1.<br />

<strong>80</strong>0<br />

Noite<br />

Dia<br />

Altitude (km)<br />

400<br />

200<br />

Região F<br />

100<br />

Região E<br />

Região D<br />

10 2 10 3 10 4 10 5 10 6<br />

Densidade Eletrônica (cm-3)<br />

Fig. 3.1 - Perfis verticais típicos da densidade eletrônica. No perfil noturno observa-se<br />

mais facilmente a distinção entre as regiões E e F.<br />

FONTE: Adaptado de Baumjohann e Treumann (1997, p. 63).<br />

Intensidade<br />

de Radiação<br />

Altitude<br />

Taxa de Produção<br />

Iônica<br />

Densidade<br />

Neutra<br />

Fig. 3.2 - Ilustração da formação da ionosfera.<br />

FONTE: Baumjohann e Treumann (1997, p. 58).<br />

A ionosfera pode ser dividida em 3 camadas ou regiões principais: D, E e F. A região D<br />

existe somente durante o dia e localiza-se abaixo de aproximadamente 90 km de<br />

altitude. Esta região é fracamente ionizada e não pode ser considerada um plasma<br />

30


(Baumjohann e Treumann, 1997). A ionosfera superior que compreende alturas acima<br />

de 90 km é altamente ionizada e apresenta duas regiões distintas: a região E, que<br />

apresenta um pico de ionização em torno de 120 km de altura e a região F, com um pico<br />

de ionização em torno de 300 km. A diferença entre estas duas regiões é melhor<br />

observada nos perfis noturnos, como mostra a Figura 3.1. Durante o dia, a lacuna de<br />

densidade entre a região E e a região F é parcialmente preenchida. A região F se divide<br />

em duas sub-regiões: a região F1 localizada em torno de 200 km e a região F2<br />

localizada em torno de 300 km de altura. Na ionosfera superior, além do critério de<br />

quase-neutralidade, outros requisitos são atendidos para que se considere esta porção da<br />

ionosfera como um plasma (Bittencourt, 1995; Baumjohann e Treumann, 1997). A<br />

dinâmica da região mais baixa da ionosfera (camada D) é controlada principalmente<br />

pela atmosfera neutra fazendo com que a física de plasmas não seja a abordagem mais<br />

adequada para esta porção da ionosfera (Kelley, 1989). Recentemente, observou-se uma<br />

terceira sub-camada na região F, a camada F3 cuja formação e dinâmica ainda estão<br />

sendo estudadas (Balan et al., 1997, Batista et al., 2002).<br />

3.2 Fenômenos da ionosfera equatorial e de baixas latitudes<br />

A ionosfera pode ser classificada quanto à sua região de latitude em ionosfera de altas<br />

latitudes, médias latitudes ou baixas latitudes. Na ionosfera de altas latitudes o campo<br />

magnético é aproximadamente vertical e os campos elétricos e correntes que governam<br />

o movimento horizontal do plasma ionosférico estão acoplados à magnetosfera e ao<br />

vento solar através do campo magnético terrestre. A precipitação de partículas<br />

energéticas da magnetosfera ocorre na ionosfera de altas latitudes dando origem ao<br />

fenômeno das auroras.<br />

Na ionosfera de baixas latitudes, o campo magnético é quase horizontal e o movimento<br />

vertical do plasma dá origem a instabilidades na ionosfera equatorial. Esta região<br />

também é sensível a mudanças nas correntes magnetosféricas e a distúrbios magnéticos<br />

originados em altas latitudes. Já a ionosfera de médias latitudes é uma zona de transição<br />

31


entre as ionosferas de baixas e altas latitudes e é a ionosfera que mais se aproxima dos<br />

modelos ionosféricos clássicos.<br />

Alguns fenômenos intimamente relacionados à ionosfera equatorial e de baixas latitudes<br />

são brevemente descritos nas próximas seções.<br />

3.2.1 Principio da teoria do dínamo atmosférico<br />

De acordo com Rishbet e Garriot (1969), a teoria do dínamo explica o surgimento de<br />

campos elétricos e correntes na atmosfera e seu mecanismo pode ser resumido da<br />

seguinte forma: O Sol e a Lua produzem forças de marés na atmosfera. Estas forças<br />

causam movimentos de gases neutros da atmosfera que, em primeira ordem, podem ser<br />

considerados movimentos horizontais. O movimento destes gases neutros através das<br />

linhas de campo geomagnético produzem correntes em níveis onde a condutividade<br />

elétrica é apreciável (região E). Devido às variações horizontais e verticais de<br />

condutividade, as correntes não podem fluir livremente em todas as direções. Desta<br />

forma, são geradas cargas de polarização que, por sua vez, modificam o fluxo de<br />

corrente. Os campos eletrostáticos associados com estas cargas são transmitidas à região<br />

F equatorial através das linhas de campo geomagnéticas que são altamente condutoras.<br />

Na região F, estes campos eletrostáticos dão origem às derivas eletromagnéticas (E×B).<br />

3.2.2 O pico de pré-reversão da deriva vertical E×B do plasma ionosférico<br />

O atual conhecimento sobre a variação diária da deriva zonal e vertical do plasma<br />

ionosférico equatorial (causada principalmente pela ação de campos elétricos criados<br />

pelos dínamos da região E e F) deve-se, em grande parte, às medidas de deriva que são<br />

medidas indiretas de campo elétrico. Um grande banco de dados das derivas verticais e<br />

zonais da região F foi obtida através de medidas realizadas com o radar de<br />

espalhamento incoerente de Jicamarca, no Peru. As medidas realizadas em Jicamarca<br />

32


deram origem a diversas publicações (por exemplo, Fejer et al., 1979; Fejer, 1981; Fejer<br />

et al., 1999) que reportam o comportamento da deriva vertical sob diversas condições<br />

magnéticas e solares e para diversas épocas do ano.<br />

40<br />

20<br />

Solstício de Inverno<br />

0<br />

-20<br />

1968-1971 Alta Ativ. Solar<br />

1975-1976 Baixa Ativ. Solar<br />

Deriva Vertical [m/s]<br />

-40<br />

20<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

20<br />

0<br />

-20<br />

Equinócio<br />

Solstício de Verão<br />

-40<br />

08<br />

12<br />

16<br />

20<br />

Hora Local<br />

24<br />

04<br />

08<br />

Fig. 3.3 - Variação sazonal da deriva vertical medida em Jicamarca (derivas positivas<br />

para cima) durante períodos de alta (1968-1971) e baixa (1975-1976)<br />

atividade solar.<br />

FONTE: Fejer (1981, p. 378).<br />

A Figura 3.3 mostra a variação média da deriva vertical do plasma ionosferico medido<br />

em Jicamarca em várias estações do ano, para condições magnéticas calmas e durante<br />

anos de atividade solar alta e baixa. A deriva é positiva (para cima) durante o dia e<br />

negativa durante a noite e é causada pela ação dos dínamos das regiões E e F (Kelley,<br />

1989). Nota-se na Figura 3.3 que existe um forte aumento da deriva vertical, logo após o<br />

pôr-do-sol. Este aumento é conhecido como pico pré-reversão do campo elétrico zonal<br />

ou da deriva vertical e é responsável por muitas peculiaridades da ionosfera equatorial.<br />

33


O pico pré-reversão pode ser explicado através da ação do vento neutro uniforme na<br />

região F, como procura ilustrar a Figura 3.4. Próximo ao terminador noite-dia, um<br />

campo elétrico E z gerado pelo dínamo da região F (-U×B) é mapeado até as regiões E<br />

conjugadas através das linhas de campo magnético dando origem a um campo elétrico<br />

E θ dirigido para o equador. Este campo elétrico gera uma corrente Hall J θφ dirigida para<br />

oeste. Como nenhuma corrente flui na região E noturna, um acúmulo de cargas<br />

negativas se desenvolve no terminador, dando origem ao campo E φ e a corrente J φφ que<br />

tenta cancelar J θφ , como mostrado na Figura 3.4. Este campo E φ é mapeado de volta à<br />

região F e causa primeiramente uma deriva E×B do plasma para cima e logo após uma<br />

deriva para baixo.<br />

Fig. 3.4 – Modelo simplificado para explicação do pico de pré-reversão causado por um<br />

vento uniforme U.<br />

FONTE: modificada de Farley et al. (1986).<br />

34


3.2.3 Anomalia Equatorial ou Anomalia de Appleton<br />

A Anomalia Equatorial ou Anomalia de Appleton consiste em uma região de alta<br />

densidade eletrônica ionosférica, observada em aproximadamente 20 graus Norte e Sul<br />

de latitude magnética. Este aumento da densidade eletrônica em baixas latitudes tem<br />

origem na deriva vertical E×B do plasma da camada F equatorial. Como visto<br />

anteriormente, o campo elétrico zonal existente na ionosfera equatorial é dirigido para<br />

leste durante o dia, criando uma deriva vertical E×B/B 2 . Logo após o pôr-do-sol, este<br />

campo elétrico dirigido para leste é acentuado (pico pré-reversão) e o plasma da região<br />

F deriva até elevadas altitudes. Enquanto isso, o plasma de baixas altitudes decai<br />

rapidamente devido à diminuição da intensidade de radiação solar incidente (Kelley,<br />

1989).<br />

Após a subida do plasma até elevadas altitudes na região equatorial, o plasma inicia um<br />

movimento de descida ao longo das linhas de campo magnético. Este movimento ocorre<br />

devido à ação da gravidade (g) e gradiente de pressão (∇p). Este fenômeno de elevação<br />

do plasma e posterior descida ao longo das linhas de campo magnético até baixas<br />

latitudes é conhecido como Efeito Fonte. Um esquema das forças agindo no plasma é<br />

ilustrado na Figura 3.5.<br />

A Figura 3.6 mostra um mapa global da distribuição densidade eletrônica ionosférica<br />

integrada, ou Conteúdo Eletrônico Total (CET) medido por GPS no qual é possível<br />

observar, entre as 21 e 24 LT, um menor valor de CET na região do equador magnético<br />

e um maior valor do CET em latitudes afastadas aproximadamente 15 graus do equador<br />

magnético.<br />

35


E x B<br />

B<br />

3 p, g 3 p, g<br />

E<br />

Equador<br />

20o N<br />

20o S<br />

Fig. 3.5 - Diagrama esquemático mostrando como o plasma é transportado da região<br />

equatorial até elevadas altitudes e subseqüentemente a aproximadamente 20 o<br />

de latitude magnética através da ação de campos elétricos e magnéticos<br />

(E×B), gravidade (g) e gradientes de pressão (∇p).<br />

FONTE: Kelley (1989, p . 193).<br />

Latitude Geográfica<br />

21/11/2001<br />

<strong>80</strong><br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

-60<br />

-<strong>80</strong><br />

UCET<br />

100<br />

<strong>80</strong><br />

60<br />

40<br />

20<br />

00<br />

0 3 6 9 12 15 18 21 24<br />

Receptor GPS Hora Local<br />

Fig. 3.6 – Mapa Global do Conteúdo Eletrônico Total ionosférico.<br />

FONTE: NASA (2001).<br />

36


3.2.4 O Fenômeno da camada F espalhada<br />

O fenômeno equatorial e de baixas latitudes da camada F espalhada (tradução do termo<br />

em inglês “Equatorial Spread F” - ESF) foi o nome dado ao fenômeno de espalhamento<br />

observado nos traços de ionogramas obtidos na região equatorial durante a década de 30<br />

(Booker e Wells, 1938). Com o passar dos anos, adotou-se o termo ESF como sendo o<br />

nome dado aos fenômenos de irregularidades de densidade eletrônica do plasma<br />

equatorial, observado pelos mais diversos tipos de instrumentos de sondagem<br />

ionosférica. É possível observar ESF em dados de ionossondas, radares de<br />

espalhamento coerente, sensores a bordo de foguetes ou satélites, flutuações na fase e<br />

amplitude de sinais transionosféricos (cintilação), dentre outros (ver por exemplo, Basu<br />

e Basu, 1981; Abdu et al., 1981; Abdu et al., 1991; Abdu et al., 1998; Aarons et al.,<br />

1999). Atualmente, o termo ESF está associado a um amplo espectro de irregularidades<br />

de plasma, com escalas de tamanho variando desde dezenas de centímetros até centenas<br />

de quilômetros e ocorrendo desde alturas da região F até alturas em torno de 1500 km<br />

(Fejer, 1996). Cada instrumento ou técnica é sensível a uma determinada escala de<br />

tamanho ou faixa de escalas.<br />

Dungey (1956) foi o primeiro a propor a instabilidade gravitacional Rayleigh-Taylor<br />

(RT) como processo gerador do ESF. Outras teorias também foram apresentadas nas<br />

décadas de 50 e 60. Contudo, Farley et al. (1970) concluíram, a partir das primeiras<br />

medidas realizadas pelo Rádio Observatório de Jicamarca, que nenhuma teoria até então<br />

poderia explicar os dados obtidos. Com isto, a Teoria RT juntamente com todas as<br />

outras teorias apresentadas até então foram temporariamente rejeitadas, pois estas<br />

teorias podiam explicar apenas a geração de estruturas na porção inferior do perfil de<br />

densidade de plasma da camada F. Com os passar dos anos, novos estudos foram<br />

realizados e uma maior quantidade e qualidade de dados foram obtidos de forma que a<br />

Teoria RT foi aprimorada e generalizada, incluindo parâmetros do ambiente ionosférico,<br />

tais como campo elétrico ambiente (E) e a ação de ventos neutros (U) e com isto, muitas<br />

37


das características do ESF podem agora ser explicadas pela denominada teoria RT<br />

generalizada (GRT).<br />

A Figura 3.7 (a) ilustra um perfil vertical típico da ionosfera equatorial para o período<br />

do pôr-do-sol. É possível observar um acentuado gradiente de densidade na porção<br />

inferior da camada F separando duas regiões distintas: uma de baixa densidade e outra<br />

de alta densidade, localizadas respectivamente abaixo e acima de aproximadamente 300<br />

km de altura. Em termos didáticos faz-se uma analogia deste perfil com o caso da<br />

instabilidade hidrodinâmica RT, no qual um fluido mais denso é sustentado por um<br />

fluido menos denso como mostrado na Figura 3.7 (b). Na instabilidade hidrodinâmica<br />

RT uma pequena perturbação surge na superfície de contato dos dois fluidos e com o<br />

auxílio da gravidade, esta perturbação evolui até que o fluido menos denso tende a se<br />

elevar enquanto que o fluido mais denso desce como ilustrado na Figura 3.7 (c).<br />

Contudo, o processo de instabilidade RT generalizada o qual se aplica à ionosfera não é<br />

tão simples como ilustra a Figura 3.7. Processos eletrodinâmicos intrínsecos da<br />

ionosfera equatorial e de médias latitudes, assim como efeitos de acoplamento<br />

ionosfera-magnetosfera em altas latitudes controlam o processo de geração e evolução<br />

das irregularidades ionosféricas (Fejer, 1996, Aarons, 1991). Além disto, irregularidades<br />

de larga-escala quando evoluem através da região F podem gerar ainda, irregularidades<br />

secundárias em uma larga faixa de escalas de tamanho. A geração de irregularidades<br />

secundárias ocorre através de processos não lineares nas bordas das irregularidades de<br />

maior escala (Fejer, 1996).<br />

38


500<br />

400<br />

Altitude (km)<br />

300<br />

200<br />

100<br />

3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5<br />

Densidade Eletrônica (cm - 3 )<br />

(a) (b) (c)<br />

Fig. 3.7 - (a) Perfil vertical ionosférico típico para a região equatorial com um<br />

acentuado gradiente de densidade em torno de 300 km de altura. (b)<br />

Analogia do perfil mostrado em (a) com o caso de um fluido denso sendo<br />

suportado por um fluido de menor densidade e (c) ilustração da evolução da<br />

instabilidade hidrodinâmica RT.<br />

FONTE: Kelley (1989, p. 76 e 122).<br />

Medidas de satélites e foguetes através de regiões de ESF mostram acentuadas<br />

depleções de plasma, chamadas de bolhas ionosféricas, com altos valores de campo<br />

elétrico zonal no seu interior. Radares de espalhamento coerente associam estas regiões<br />

de depleção do plasma com estruturas chamadas de plumas. Estas plumas apresentam<br />

uma subida rápida e a presença de fortes ecos oriundos de irregularidades com escala de<br />

alguns metros no seu interior. O ESF observado em ionogramas equatoriais representam<br />

irregularidades na porção inferior da camada F que podem estar associadas ou não a<br />

bolhas ionosféricas que evoluem até a porção superior da ionosfera. Em contrapartida, o<br />

ESF observado em ionogramas de baixas latitudes são indicativos de irregularidades<br />

imersas em bolhas ionosféricas (Abdu et al., 1983a).<br />

Acredita-se que as condições necessárias para a ocorrência de irregularidades de largaescala<br />

são: 1) presença de uma perturbação inicial de larga-escala, 2) um gradiente<br />

direcionado para cima, do perfil de densidade eletrônica da ionosfera e 3) um aumento<br />

39


do campo elétrico para leste. O início do ESF pode também ser afetado por perturbações<br />

de campo elétrico originadas em altas latitudes durante condições magneticamente<br />

perturbadas. Existem ainda vários processos tais como ventos neutros meridionais e<br />

condutividade das camadas E conjugadas, que podem inibir o crescimento das<br />

irregularidades. O grande número de efeitos potencialmente importantes faz com que os<br />

termos de variabilidade dia-a-dia constituam os problemas a serem melhor analisados<br />

no estudo do ESF (Fejer, 1996; Batista et al., 1999; Abdu, 2001). A questão é descobrir<br />

se o desenvolvimento do ESF é determinado principalmente pela presença de um<br />

mecanismo de “disparo” altamente variável ou se este mecanismo está sempre presente<br />

e a variabilidade de curto período é predominantemente controlada pela taxa de<br />

crescimento da instabilidade RT generalizada (Fejer et al., 1999; Abdu., 2001) que será<br />

introduzida a seguir.<br />

Considerando-se um ambiente que possua duas regiões com densidades de plasma<br />

distintas, uma região mais elevada com densidade N 1 e uma outra região localizada logo<br />

abaixo com densidade N 2 = 0 e, considerando-se uma perturbação senoidal inicial de<br />

densidade ou de campo elétrico que origina-se na interface entre as duas regiões é<br />

possível obter-se uma relação de dispersão para tal perturbação. A partir da relação de<br />

dispersão, deriva-se então a taxa de crescimento (γ) que fornece uma estimativa do quão<br />

favorável são as condições para o desenvolvimento da instabilidade e o quão rápido esta<br />

instabilidade pode evoluir.<br />

Uma demonstração acadêmica da derivação algébrica da taxa de crescimento para uma<br />

instabilidade RT em um plasma sem colisões e considerando-se apenas a ação externa<br />

da força gravitacional é dada por Chen (1974). Kelley (1989) explica em detalhes a<br />

derivação da taxa de crescimento linear local para a instabilidade RT com uma visão<br />

voltada ao plasma ionosférico equatorial. Existem ainda trabalhos com uma abordagem<br />

matemática mais completa voltada à modelagem da instabilidade RT, como por<br />

exemplo, Sultan (1996). A taxa de crescimento generalizada deve incluir efeitos tais<br />

40


como do campo elétrico ambiente (E) e da ação de ventos neutros (U), além da força<br />

resultante da aceleração gravitacional (g).<br />

Segundo Abdu (2001), a forma mais simples de descrever a taxa de crescimento γ, com<br />

base em quantidades locais e assumindo condutividade nula em baixas altitudes é dada<br />

por:<br />

∇n<br />

⎛<br />

γ = ⎜<br />

n<br />

⎝<br />

E<br />

B<br />

g<br />

+<br />

νin<br />

⎞<br />

⎟<br />

− βL<br />

⎠<br />

(3.1)<br />

onde E é o campo elétrico zonal ambiente, B é a intensidade de campo magnético, g é a<br />

aceleração da gravidade, ν in é a freqüência de colisão íon-neutro, n é densidade<br />

eletrônica ambiente, ∇n representa o gradiente vertical de densidade (dn/dz) e β L é a<br />

taxa de recombinação da espécie iônica majoritária.<br />

Contudo, a taxa de crescimento da instabilidade RT é melhor definida quando descrita<br />

em termos de quantidades integradas ao longo das linhas de campo, ou tubo de fluxo.<br />

Mendillo et al. (2001), por exemplo, apresenta γ como sendo:<br />

⎛<br />

γ = ⎜<br />

⎜ E,<br />

N<br />

⎝ ∑P<br />

F<br />

∑P<br />

+ F<br />

∑P<br />

+ E,<br />

S<br />

∑P<br />

⎞ ⎡ ρ ρ<br />

E B g<br />

⎤<br />

⎢<br />

× ρ<br />

ρ<br />

⎟<br />

∇n<br />

−U<br />

⎥<br />

2 m − ⋅<br />

⎟<br />

⎠<br />

⎢ B ν in ⎥ n<br />

⎣<br />

⎦<br />

(3.2)<br />

A equação (3.2) indica que, em princípio, dada uma perturbação inicial, o fator principal<br />

de aumento de γ é um campo elétrico zonal (E) que eleva a camada F até regiões de<br />

baixa freqüência de colisão (ν in ). Além disto, fatores que podem reduzir γ são ventos<br />

transequatoriais (U m ) ou o aparecimento de uma camada E após o pôr-do-sol que<br />

reduziria a condutividade Pedersen da camada F ( ∑ ) com relação à condutividade<br />

F<br />

P<br />

41


E , N F E,<br />

S<br />

integrada total ( ∑<br />

P<br />

+∑P<br />

+ ∑P<br />

), que é a somatória da condutividade Pedersen da<br />

F<br />

camada F equatorial integrada ao longo da linha de campo magnético ( ∑ P ) e da<br />

E,<br />

S E,<br />

N<br />

condutividade Pedersen das camadas E conjugadas ( ∑<br />

P e ∑<br />

P ), também integradas<br />

ao longo da linha de campo magnético.<br />

42


CAPÍTULO 4<br />

EFEITOS DA IONOSFERA EM SINAIS GPS<br />

Para o estudo das irregularidades ionosféricas, serão utilizados dois efeitos ionosféricos<br />

sobre ondas eletromagnéticas: a cintilação e a refração. A ocorrência de cintilação em<br />

um sinal transionosférico é um indicador da presença de irregularidades ionosféricas na<br />

linha de visada deste sinal, enquanto que, a partir do efeito de refração sobre estes sinais<br />

é possível obter-se o Conteúdo Eletrônico Total (CET) ao longo do caminho percorrido<br />

pelo sinal.<br />

4.1 Cintilações ionosféricas<br />

Em 1946 foram observadas, pela primeira vez, flutuações irregulares de curto período<br />

de tempo na intensidade da radiação na banda de rádio (64 MHz) emitida pela estrela<br />

Cygnus (Hey et al; 1946). Inicialmente, considerou-se que as flutuações eram inerentes<br />

à fonte de emissão. Observações posteriores indicaram que não existia correlação entre<br />

flutuações registradas em duas estações espaçadas 210 km, enquanto que observou-se<br />

boa correlação para uma separação de 4 km. Isto sugeriu que o fenômeno seria<br />

produzido localmente, provavelmente pela atmosfera terrestre. Observações<br />

subseqüentes confirmaram as especulações e isto marcou a primeira observação do<br />

fenômeno de cintilação ionosférica. Atualmente, as cintilações podem ser definidas<br />

como flutuações da amplitude ou fase de uma onda de rádio, resultado da sua<br />

propagação através de uma região na qual existem irregularidades de densidade<br />

eletrônica, e conseqüentemente de índice de refração.<br />

Após o lançamento do primeiro satélite artificial em 1957, tornou-se possível observar<br />

cintilações ionosféricas em sinais emitidos por rádio-transmissores a bordo de satélites.<br />

O interesse no estudo deste fenômeno tem continuado com dois objetivos principais, um<br />

43


científico e outro prático. Do ponto de vista científico, os dados de cintilação fornecem<br />

informações sobre a ocorrência das irregularidades ionosféricas, cuja climatologia ainda<br />

não é totalmente compreendida. Do ponto vista prático, o estudo da cintilação está<br />

diretamente relacionado a problemas de estabilidade de enlaces de comunicação e<br />

navegação por satélite.<br />

O estudo de teorias que explicassem as cintilações iniciou com a consideração de que o<br />

meio pelo qual o sinal de rádio se propaga seria equivalente à uma tela de difração<br />

(“diffracting screen”) com irregularidades aleatórias de densidade que não se deformam<br />

e que se movem com direção e velocidade fixas. Se a região de difração é<br />

suficientemente fina, as variações na frente de onda emergente estarão presentes<br />

somente na fase e não na amplitude do sinal. À medida em que a onda se propaga além<br />

da região de difração, as flutuações em amplitude começam então a surgir.<br />

Inicialmente, esta aproximação foi utilizada em diversos casos tais como os de uma tela<br />

de difração unidimensional e de uma tela de difração bidimensional. Logo em seguida,<br />

considerou-se o caso de uma tela de difração espessa tri-dimensional. Referências de<br />

trabalhos que consideraram diferentes aproximações para a tela de difração podem ser<br />

encontradas no Apêndice A de Kelley (1989). Os casos prévios foram então revistos por<br />

Salpeter (1967) que estendeu a teoria a importantes regimes que não haviam sido<br />

considerados e derivou condições suficientes para validação da aproximação de uma<br />

tela fina de difração (“thin phase screen”).<br />

Para o caso de espalhamento fraco causado por uma tela fina de difração, o espectro de<br />

potência das flutuações de densidade deve ser multiplicado por uma função que depende<br />

da altura da camada de irregularidades e da freqüência da onda incidente o que<br />

produziria o espectro de potência das cintilações observadas. Sob estas aproximações, o<br />

espectro de potência da cintilação é uma versão linearmente filtrada do espetro de<br />

potência das flutuações de densidade. A função multiplicadora, conhecida como filtro<br />

de Fresnel age como um filtro passa alta (Kelley, 1989) e apresenta mínimos em pontos<br />

44


proporcionais à raiz quadrada de números inteiros de freqüência. Recentemente,<br />

Bhattacharyya et al. (2001) encontrou tais mínimos de Fresnel, em espectros de<br />

potência de cintilações em sinais VHF. Os mínimos de Fresnel não são observados<br />

quando a camada de irregularidades é espessa.<br />

Para uma ampla revisão matemática da teoria de cintilações, aconselha-se consultar Yeh<br />

e Liu (1982). Uma revisão sobre o estudo das cintilações com enfoque à sua aplicação<br />

no estudo das irregularidades ionosféricas pode ser encontrada em Aarons (1982). É<br />

importante salientar que a maioria das teorias consideram apenas o caso de<br />

espalhamento fraco. Teorias para explicar matematicamente o caso de espalhamento<br />

forte ainda estão em desenvolvimento.<br />

Nas próximas seções será dado enfoque à relação entre a magnitude das cintilações,<br />

representadas pelo índice S 4 , utilizado nesta dissertação, e parâmetros físicos das<br />

irregularidades que causam as cintilações.<br />

4.1.1 O Índice de cintilação (S 4 )<br />

O índice de cintilação S 4 tem sido amplamente utilizado para quantificar a magnitude<br />

das cintilações em amplitude de sinais transionosféricos e é definido em termos da<br />

intensidade (I) do sinal recebido, como mostra a Equação (4.1), (Yeh e Liu, 1982):<br />

2<br />

S<br />

4<br />

=<br />

2<br />

< I > − 2<br />

< I ><br />

2<br />

< I ><br />

(4.1)<br />

É possível mostrar, a partir da Teoria para Cintilação Fraca, que o índice S 4 está<br />

relacionado ao desvio de densidade do plasma ionosférico (∆N) ao longo do caminho de<br />

propagação do sinal e à espessura da camada de irregularidades ionosféricas (L), pela<br />

seguinte expressão (Yeh e Liu, 1982):<br />

45


⎡ ⎛ 2 ⎞ ⎛ 2 ⎞⎤<br />

2 2 2 2 2k ⊥ ⊥<br />

∫∫⎢<br />

⎜ k L ⎟ ⎜ k ⎛ L ⎞<br />

S<br />

⎜ − ⎟⎟<br />

4 ≅ 8π<br />

re<br />

λ L 1−<br />

sen cos k ⎥ Φ∆<br />

⎢ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ N ,<br />

2<br />

⎣ k⊥L<br />

⎝<br />

2k<br />

⎠ ⎝<br />

k ⎝ 2 ⎠⎠⎥⎦<br />

ρ<br />

2<br />

( k⊥<br />

0) d k⊥<br />

(4.2)<br />

onde r e é o raio do elétron, λ é o comprimento de onda do sinal e ( k 0)<br />

Φ ρ é o<br />

∆N ⊥<br />

,<br />

espectro tridimensional da flutuação de densidade ∆N com k z = 0 e k ⊥ está na direção<br />

perpendicular à propagação da onda. A integral na Equação (4.2) indica que a<br />

contribuição para a cintilação, das irregularidades de diversos números de onda (k), é<br />

ponderada por uma função filtro espacial, isto é, a expressão em colchetes na Equação<br />

(4.2).<br />

A Equação (4.2) não é facilmente interpretável e trabalhos de modelagem das<br />

cintilações, como o realizado por Basu e Basu (19<strong>80</strong>) apresentam equações mais<br />

simples nas quais, tanto as cintilações em amplitude quanto em fase são expressas em<br />

quantidades que podem ser obtidas experimentalmente. Contudo, apesar de explicar<br />

muitas das características das cintilações, estas equações não podem explicar fenômenos<br />

mais complexos observados e, por esta razão, modelos computacionais têm sido<br />

desenvolvidos (por exemplo, Fremouw e Secan, 1984; Secan et al., 1995). Fremouw e<br />

Secan (1984) já incluem o efeito de foco que ocorre nas cintilações e que dá origem a<br />

valores de S 4 > 1 (Singleton, 1970).<br />

A Equação (4.3) abaixo foi utilizada por Basu e Basu (19<strong>80</strong>) para modelagem das<br />

cintilações equatoriais e inclui os principais parâmetros responsáveis pela cintilação em<br />

amplitude.<br />

2 2 2<br />

2 ?zsec?<br />

S4 = 8 p (re?)<br />

L sec? < ?N > k oF<br />

4p<br />

(4.3)<br />

46


Além da dependência do S 4 com relação ao desvio RMS médio (∆N) de densidade ao<br />

longo do caminho de propagação do sinal e com relação à espessura da camada de<br />

irregularidades (L), Basu e Basu (19<strong>80</strong>) também deixaram evidente a dependência do<br />

índice S 4 com relação à altura (z) da camada, ao ângulo de zênite (θ) do sinal na altura<br />

da camada de irregularidades e ao comprimento de onda do sinal (λ). F é um fator<br />

relacionado à geometria das irregularidades e k o se refere ao menor número de onda que<br />

contribui para a cintilação.<br />

De acordo com Kintner et al. (2001), a magnitude da cintilação depende da distribuição<br />

espacial e da amplitude das irregularidades de densidade. Contudo, a escala de tempo do<br />

desvanecimento (“fading”) depende da velocidade das irregularidades e de uma escala<br />

espacial conhecida como comprimento de Fresnel, o qual, em primeira ordem, depende<br />

somente do comprimento de onda do sinal GPS e da distância às irregularidades<br />

ionosféricas. A escala de Fresnel tem origem no filtro de Fresnel citado anteriormente<br />

(Seção 4.1).<br />

De acordo com Salpeter (1967), para o caso de espalhamento fraco, o espectro de<br />

potência horizontal da intensidade do sinal tem a seguinte forma:<br />

f 1 (k) = 4F f<br />

(k) sin<br />

⎛ 2 2 ⎞<br />

2⎜<br />

k rF<br />

⎟<br />

⎜ ⎟<br />

⎝<br />

4p<br />

⎠<br />

(4.4)<br />

onde k é o número de onda horizontal, r F é o comprimento de Fresnel ( r F<br />

= ?d<br />

, onde<br />

d é a distância até a camada espalhadora e λ é o comprimento de onda do sinal), e<br />

F f<br />

(k) é a densidade espectral de potência das irregularidades que causam o<br />

espalhamento. Tipicamente,<br />

F f<br />

(k) decresce rapidamente com o aumento de k (Basu e<br />

Basu, 1993), de forma que o primeiro máximo na função sin 2 domina o espectro de<br />

47


potência. Isto significa que o espectro de potência mostrará um número de onda<br />

dominante dado por:<br />

k =<br />

2p<br />

r F<br />

(4.5)<br />

Ou,<br />

λ = 2<br />

(4.6a)<br />

F<br />

r F<br />

Mas como<br />

r F<br />

= λd<br />

, tem-se que:<br />

λ = 2λd<br />

(4.6b)<br />

F<br />

Considerando que a camada de irregularidades se encontra a uma distância d = 350 km<br />

e que o satélite encontra-se no zênite, pode-se dizer que as irregularidades que mais<br />

contribuem para a cintilação em sinais GPS (L1 = 1,57542 GHz) são as irregularidades<br />

com escalas de tamanho de aproximadamente λ F = 400 metros.<br />

4.1.2 O Índice S 4 calculado pelos receptores SCINTMON<br />

De acordo com Beach (1998), o procedimento computacional para o cálculo do S 4<br />

realizado pelo programa de redução de dados dos receptores SCINTMON, que serão<br />

realizados neste estudo, pode ser resumido da seguinte forma: utiliza-se um filtro passabaixas<br />

com freqüência de corte em 0,1 Hz, de modo a obterem-se valores médios locais<br />

do canal de potência em banda larga P k e do canal de ruído em banda larga N k , onde k é<br />

o número da amostra numérica. Estes valores filtrados de P k e N k são denotados por<br />

k e k , respectivamente. Definiu-se então a variância da intensidade de sinal para<br />

o intervalo de um minuto a partir de:<br />

48


σˆ<br />

2<br />

=<br />

1<br />

M<br />

M<br />

( P − < P > )( P − < P )<br />

∑ ><br />

k = 1<br />

k<br />

k<br />

k −1<br />

k−1<br />

(4.7)<br />

Onde M = 3000 é o número de amostras por minuto enquanto que P 0 e < P 0 > são<br />

definidos como os valores finais de potência e potência média do intervalo de 1 minuto<br />

anterior. Além disso, determina-se a potência média sobre o mesmo período a partir de:<br />

Ŝ =<br />

1<br />

M<br />

M<br />

( < P > − < N )<br />

∑ ><br />

k=<br />

1<br />

k<br />

k<br />

(4.8)<br />

A partir destas definições o índice de cintilação para o devido intervalo de 1 minuto<br />

torna-se (Beach, 1998):<br />

S<br />

4<br />

=<br />

ˆ 2<br />

σ<br />

Sˆ<br />

(4.9)<br />

Pode-se observar pela Equação (4.9) que o índice S 4 também pode ser interpretado<br />

como o desvio padrão normalizado pela potência média do sinal. A Figura 4.1 mostra<br />

um exemplo de sinal amostrado por um receptor SCINTMON e os valores de S 4<br />

calculados para este caso. Observa-se que os valores de S 4 aumentam à medida em que<br />

a flutuação do sinal (cintilação) também aumenta. O índice S 4 apresentado neste<br />

exemplo foi calculado por um dos receptores SCINTMON utilizados neste trabalho e<br />

que serão descritos posteriormente.<br />

49


WBP(dB)<br />

27/12/2000 - PRN 27 São Luís<br />

44<br />

42<br />

40<br />

38<br />

36<br />

34<br />

32<br />

30<br />

28<br />

1,0<br />

0,8<br />

S4<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

21 22 23 24 25 26 27 28 29<br />

Hora Universal<br />

Fig. 4.1 - Exemplo de cintilação e correspondentes valores de S 4 calculados para<br />

intervalos de 1 minuto.<br />

4.1.3 Morfologia global das cintilações<br />

De acordo com Aarons (1982) e Basu et al. (1988), existem três regiões principais de<br />

ocorrência das cintilações, como ilustra o diagrama da Figura 4.2. A primeira região é a<br />

região equatorial no período após o pôr-do-sol. A segunda região compreende o lado<br />

noturno da região da oval auroral e o lado diurno do vértice polar (“polar cusp”). Por<br />

fim, a terceira região corresponde à região mais interna da calota polar. Nesta região, é<br />

possível observar cintilações em qualquer hora local.<br />

As regiões de maior intensidade das cintilações correspondem as regiões de pico (norte<br />

e sul) da anomalia equatorial, localizadas a aproximadamente +20 o e –20 o de latitude<br />

magnética. A geração das irregularidades equatoriais (ESF) e a ocorrência de um<br />

máximo secundário de ionização durante o período após o pôr-do-sol se combinam de<br />

forma a resultar o máximo na atividade de cintilação nesta região. A cintilação em<br />

sinais na faixa de GHz é mais fraca no equador magnético (Basu et al., 1988).<br />

50


As cintilações em altas latitudes também são mais fracas que as cintilações observadas<br />

na Anomalia Equatorial. A região da calota polar é mais ativa em termos de cintilação<br />

do que a região da oval auroral. As cintilações observadas no equador magnético são<br />

causadas por irregularidades de plasma ionosférico geradas por processos de<br />

instabilidade RT. Na região da calota polar, as principais fontes de cintilação são a<br />

convecção de estruturas de plasma geradas no lado diurno do vértice polar e a<br />

ocorrência de irregularidades de plasma geradas por processos relacionados à<br />

precipitação de partículas. Na região da oval auroral noturna, a atividade de cintilações<br />

é mais forte que na calota polar.<br />

A Figura 4.2(b) representa a atividade de cintilações em sinais da Banda L durante os<br />

anos de atividade solar mínima. Durante o mínimo solar ilustrado na Figura 4.2(b),<br />

observa-se uma drástica redução da intensidade das cintilações em todas as regiões. A<br />

extensão latitudinal das cintilações também é reduzida. Segundo Basu et al. (1988) a<br />

variação da densidade eletrônica ambiente com fluxo solar é o principal fator<br />

controlador da atividade de cintilações em todas as regiões.<br />

Máximo Solar<br />

Banda L<br />

20 dB<br />

15 dB<br />

10 dB<br />

5 dB<br />

2 dB<br />

1 dB<br />

Mínimo Solar<br />

Meio-Dia<br />

18<br />

Meia-Noite<br />

Meio-Dia<br />

18<br />

Meia-Noite<br />

(a) (b)<br />

Fig. 4.2 - Morfologia global das cintilações em sinais da Banda L durante anos de solar<br />

máximo (a) e mínimo (b).<br />

Fonte: Basu et al. (1988, p. 376).<br />

51


4.2 Refração ionosférica<br />

Considerando uma onda eletromagnética monocromática no espaço com comprimento<br />

de onda λ e freqüência f, a velocidade de fase é dada por:<br />

υ f = λf<br />

(4.10)<br />

Para o GPS, as portadoras L1 e L2 se propagam com esta velocidade. Para um grupo de<br />

ondas com freqüências pouco diferentes, a propagação da energia resultante é definida<br />

pela velocidade de grupo dada por:<br />

υ g<br />

df 2<br />

= − λ<br />

dλ<br />

(4.11)<br />

Esta é a velocidade de propagação dos códigos apresentados no Capítulo 2 e que são<br />

modulados sobre as portadoras L1 e L2 do GPS. A relação entre velocidade de fase e<br />

velocidade de grupo pode ser obtida através da diferencial total da Equação (4.10)<br />

resultando em:<br />

d f<br />

υ = fdλ + λdf<br />

(4.12)<br />

A Equação (4.12) pode ser escrita da seguinte forma:<br />

df 1 dυ<br />

= f<br />

dλ<br />

λ dλ<br />

f<br />

−<br />

λ<br />

(4.13)<br />

Substituindo a Equação (4.13) na Equação (4.11) tem-se:<br />

52


υg<br />

dυ<br />

= −λ f<br />

dλ<br />

+ f λ<br />

(4.14)<br />

ou finalmente, a equação de Rayleigh:<br />

υ<br />

g<br />

= υ<br />

f<br />

dυ<br />

− λ f<br />

dλ<br />

(4.15)<br />

A diferenciação na Equação (4.14) implicitamente contém a dispersão, que é definida<br />

como a dependência da velocidade de fase em relação ao comprimento de onda ou<br />

freqüência. Velocidade de fase e grupo são iguais em um meio não dispersivo e<br />

correspondem à velocidade da luz no vácuo. A propagação de ondas em um meio<br />

depende do índice de refração n. Geralmente, a velocidade de propagação é obtida de:<br />

c<br />

υ =<br />

n<br />

(4.16)<br />

Aplicando esta expressão à velocidade de fase e grupo é possível obterem-se fórmulas<br />

para os respectivos índices de refração, n f e n g :<br />

υ f<br />

=<br />

c<br />

nf<br />

(4.17)<br />

υ g<br />

=<br />

c<br />

ng<br />

(4.18)<br />

A diferenciação da velocidade de fase com respeito a λ resulta em:<br />

53


dυf c dnf<br />

(4.19)<br />

= −<br />

dλ<br />

2<br />

n dλ<br />

f<br />

A substituição das equações (4.17), (4.18) e (4.19) na Equação (4.15) resulta em:<br />

c<br />

n<br />

g<br />

=<br />

c<br />

n<br />

f<br />

c<br />

+ λ<br />

n<br />

2<br />

f<br />

dn f<br />

dλ<br />

(4.20)<br />

ou<br />

c<br />

ng<br />

=<br />

c<br />

n f<br />

⎛<br />

⎜1<br />

+ λ<br />

⎝<br />

1<br />

nf<br />

dn f<br />

dλ<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(4.21)<br />

A Equação (4.21) pode ser modificada resultando em:<br />

n<br />

g<br />

= n<br />

f<br />

⎛<br />

⎜1− λ<br />

⎝<br />

1<br />

n<br />

f<br />

dn f<br />

dλ<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(4.22)<br />

onde aplicou-se a aproximação (1 + ε) -1 = 1-ε. Desta forma:<br />

n<br />

g<br />

= n<br />

f<br />

dn f<br />

− λ<br />

dλ<br />

(4.23)<br />

A Equação (4.23) é a equação modificada de Rayleigh. Um forma um pouco diferente é<br />

obtida diferenciando a relação c = λf com respeito à λ e f, ou seja:<br />

dλ df<br />

(4.24)<br />

= −<br />

λ f<br />

54


e substituindo o resultado na Equação (4.23):<br />

n g = n f + f<br />

dn<br />

df<br />

f<br />

(4.25)<br />

Como citado anteriormente, a ionosfera pode ser considerada um meio dispersivo para o<br />

sinal GPS. De acordo com Seeber (1993), citado por Hoffman-Wellenhof et al. (1994),<br />

o índice de refração de fase pode ser aproximado pela série:<br />

n f<br />

c 2<br />

= 1+<br />

2<br />

f<br />

c3<br />

+<br />

3<br />

f<br />

c4<br />

+<br />

4<br />

f<br />

+ ...<br />

(4.26)<br />

Os coeficientes c 2 , c 3 e c 4 não dependem da freqüência mas do número de elétrons por<br />

m 3 (densidade eletrônica N e ) ao longo do caminho de propagação. Utilizando uma<br />

aproximação na qual é ignorada a expansão após o termo quadrático:<br />

c<br />

n 2<br />

f = 1+<br />

2<br />

f<br />

(4.27)<br />

e diferenciando esta equação:<br />

dn f<br />

c2<br />

= −2<br />

df<br />

3<br />

f<br />

(4.28)<br />

Substituindo as equações (4.27) e (4.28) na Equação (4.25) resulta em:<br />

n g<br />

c<br />

= 1+<br />

2<br />

2<br />

f<br />

− f<br />

2c2<br />

3<br />

f<br />

(4.29)<br />

Ou<br />

55


n g<br />

c 2<br />

= 1 −<br />

2<br />

f<br />

(4.30)<br />

Pode-se observar pelas equações (4.27) e (4.30) que os índices de refração de grupo e de<br />

fase diferem da unidade com sinal oposto. O coeficiente c 2 , que depende da densidade<br />

de elétrons N e , é dado por:<br />

c 2 = −40,<br />

3N e [Hz 2 ] (4.31)<br />

A relação n g > n f e conseqüentemente υ g < υ f ocorre porque a densidade N e é sempre um<br />

valor maior ou igual a zero. Como conseqüência das diferentes velocidades ocorre um<br />

atraso de grupo e avanço de fase, ou seja, o código GPS é atrasado e as fases das<br />

portadoras são avançadas. Então, as distâncias obtidas a partir de medidas do código são<br />

mais longas e as distâncias obtidas a partir de medidas de fase são mais curtas que a<br />

distância geométrica entre o satélite e o receptor. As distâncias obtidas a partir de<br />

medidas de código ou fase são chamadas pseudo-distâncias pois diferem da distância<br />

real.<br />

De acordo com o princípio de Fermat, a distância medida “s” é definida por:<br />

s = ∫ nds<br />

(4.32)<br />

onde a integral precisa ser calculada ao longo do caminho do sinal. A distância<br />

geométrica s o ao longo da linha reta entre o satélite e o receptor pode ser obtida<br />

analogamente ajustando n = 1:<br />

s o = ∫ dso<br />

(4.33)<br />

56


A diferença ∆ IONO entre a distância medida e a distância geométrica é chamado de<br />

refração ionosférica e corresponde à:<br />

∆<br />

IONO<br />

=<br />

nds ∫<br />

− ∫<br />

ds<br />

o<br />

(4.34)<br />

e pode ser rescrita para um índice de refração de fase n f como:<br />

∆<br />

IONO<br />

f<br />

⎛ c ⎞ = ∫ ⎜1<br />

+ 2 ⎟ds<br />

−<br />

2 ∫<br />

⎝ f ⎠<br />

dso<br />

(4.35)<br />

e para o índice de refração de grupo n g como:<br />

∆<br />

IONO<br />

g<br />

⎛ c ⎞ = ∫ ⎜1<br />

− 2 ⎟ds<br />

−<br />

2 ∫ds<br />

o<br />

⎝ f ⎠<br />

(4.36)<br />

Uma simplificação é obtida quando a integração do primeiro termo das equações (4.35)<br />

e (4.36) é realizada ao longo do caminho geométrico. Neste caso ds torna-se ds o e as<br />

equações (4.35) e (4.36) reduzem à:<br />

e<br />

IONO<br />

∆ f<br />

IONO<br />

∆ g<br />

c 2<br />

(4.37)<br />

= ∫ ds<br />

2 o<br />

f<br />

c 2<br />

(4.38)<br />

= −∫ ds<br />

2 o<br />

f<br />

As equações (4.37) e (4.38) podem ser escritas como:<br />

57


e<br />

IONO<br />

∆<br />

f<br />

IONO<br />

∆ g<br />

40, 3<br />

(4.39)<br />

= −<br />

2 ∫ N eds<br />

o<br />

f<br />

40, 3<br />

(4.40)<br />

=<br />

2 ∫ N eds<br />

o<br />

f<br />

onde a Equação (4.31) foi substituída. Definindo o Conteúdo Eletrônico Total (CET)<br />

como:<br />

CET<br />

= ∫ N e ds o<br />

(4.41)<br />

e substituindo esta definição nas equações (4.39) e (4.40) resulta em:<br />

e<br />

IONO 40,<br />

3<br />

∆ = − CET<br />

f<br />

2<br />

f<br />

IONO 40,<br />

3<br />

∆ g = CET<br />

2<br />

f<br />

(4.42)<br />

(4.43)<br />

4.2.1 Determinação do CET a partir de medidas de código<br />

Além da refração ionosférica, outros fatores também afetam as medidas de pseudo–<br />

distância ou observáveis do GPS. A Tabela 4.1 apresenta uma lista destes fatores<br />

associados ao satélite, propagação do sinal e receptor (Fedrizzi, 1999). Maiores detalhes<br />

sobre estes fatores podem ser encontrados em Hofmann-Wellenhof et al. (1994) e<br />

Monico (2000).<br />

58


Tabela 4.1 – Principais fatores que afetam as observáveis do GPS.<br />

FONTES<br />

Satélite<br />

Propagação do Sinal<br />

Receptor<br />

EFEITOS<br />

Erro no relógio do satélite<br />

Erro orbital<br />

Atraso instrumental<br />

Refração ionosférica<br />

Refração troposférica<br />

Múltiplo caminho<br />

Perdas de ciclo<br />

Erro no relógio do receptor<br />

Centro de fase da antena<br />

Atraso instrumental do receptor<br />

De acordo com Fedrizzi (1999), considerando os efeitos e erros listados na Tabela 4.1, a<br />

pseudo-distância ρ pode ser escrita para as portadoras L1 e L2 na seguinte forma:<br />

e<br />

IONO TROP R S<br />

ρ 1 = R + c∆δ<br />

+ ∆ g , L1<br />

+ ∆ + dρ<br />

1 + dρ<br />

1 + mρ1<br />

IONO TROP R S<br />

ρ 2 = R + c∆δ + ∆ g , L2<br />

+ ∆ + dρ<br />

2 + dρ<br />

2 + m ρ2<br />

+ ε<br />

+ ε<br />

ρ1<br />

ρ2<br />

(4.44)<br />

(4.45)<br />

onde:<br />

R é a distância geométrica entre o receptor e o satélite;<br />

c∆δ = c(δ S -δ R ) é o erro devido aos desvios do relógio do satélite (δ S ) e receptor<br />

(δ R ) em relação ao tempo GPS;<br />

∆ IONO é o erro devido à refração ionosférica;<br />

∆ TROP é o erro devido à refração troposférica;<br />

d R e d S são os erros devido aos atrasos instrumentais do receptor e satélite,<br />

respectivamente;<br />

59


m é o erro devido ao múltiplo caminho; e<br />

ε é o erro devido ao ruído do receptor.<br />

Os termos relacionados à distância geométrica satélite-receptor, ao efeito da troposfera e<br />

aos erros nos relógios dos satélites e receptores afetam de forma semelhante as<br />

observáveis, nas portadoras L1 e L2. Subtraindo a Equação (4.44) de (4.45), obtém-se:<br />

IONO IONO<br />

ρ2 − ρ1<br />

= ∆ g , L2<br />

− ∆ g , L1<br />

R<br />

+ d ρ<br />

s<br />

+ dρ<br />

+ mρ<br />

+ ερ<br />

(4.46)<br />

onde:<br />

IONO 40,<br />

3 IONO 40,<br />

3<br />

∆ g , L1<br />

= CET e ∆ CET<br />

2<br />

g , L2<br />

= , de acordo com a Equação (4.43);<br />

2<br />

f L1<br />

f L2<br />

m ρ = m ρ2 - m ρ1 ;<br />

ε ρ = ε ρ2 - ε ρ1 ;<br />

d R ρ = d R ρ2 - d R ρ1 ; e<br />

d S ρ = d S ρ2 – d S ρ1<br />

A Equação (4.46) pode ser escrita da seguinte forma:<br />

ρ2<br />

− ρ1<br />

=<br />

1 R<br />

CET + dρ<br />

+ d ρ<br />

s + m ρ<br />

S<br />

+ ε<br />

ρ<br />

(4.47)<br />

onde S é um fator de conversão dado por:<br />

2 2<br />

1 f L1<br />

f L2<br />

16<br />

S = = 9,<br />

52 × 10<br />

40,<br />

3 2 2<br />

f L1<br />

− f L2<br />

[elétrons / m 3 ]<br />

60


onde f L1 e f L2 representam as freqüências das portadoras L1 (1,57542 GHz) e L2<br />

(1,2276 GHz), respectivamente. Rearranjando a Equação (4.47) obtém-se:<br />

CET ? = S[(? 2 −?<br />

1)<br />

−d<br />

? − m?<br />

− e?<br />

] [elétrons/m 2 ] (4.48)<br />

onde d ρ = d R ρ + d S ρ.<br />

A Equação (4.48) nos diz como obter o valor de CET a partir da diferença de pseudodistância,<br />

medida a partir dos códigos em L1 e L2. Nos diz também que este valor de<br />

CET terá influências: (1) do atraso instrumental no satélite e receptor; (2) dos efeitos de<br />

multi-caminho e (3) dos efeitos do ruído do receptor. Estes efeitos podem ser<br />

minimizados determinando-se o atraso instrumental do instrumento durante a fabricação<br />

do receptor, realizando-se uma boa instalação da antena de forma a evitar obstáculos<br />

próximos e utilizando-se componentes eletrônicos de baixo ruído na fabricação do<br />

receptor.<br />

4.2.2 Determinação do CET a partir de medidas de fase<br />

O CET também pode ser obtido a partir de medidas de fase. De acordo com Fedrizzi<br />

(1999), as pseudo-distâncias de fase (Φ) em unidades de distância, podem ser obtidas a<br />

partir de:<br />

Φ = λφ = R + c∆δ + λN<br />

(4.49)<br />

onde<br />

φ é a diferença de fase (em ciclos) entre a portadora (L1 ou L2) gerada no<br />

receptor e a portadora transmitida pelo satélite GPS;<br />

λ é o comprimento de onda do sinal (L1 ou L2);<br />

R é a distância geométrica entre o satélite e o receptor;<br />

61


c∆δ , como explicado anteriormente, é o erro devido aos desvios do relógio do<br />

satélite (δ S ) e receptor (δ R ) em relação ao tempo GPS; e<br />

N é um número conhecido como ambigüidade e resulta do desconhecimento do<br />

número total de ciclos contidos na trajetória do sinal desde o satélite até o receptor.<br />

Considerando os efeitos da ionosfera, troposfera, atrasos instrumentais, multi-caminho,<br />

ruído e ambigüidade, a Equação (4.49) pode ser reescrita da seguinte forma, para L1 e<br />

L2:<br />

e<br />

IONO TROP<br />

R S<br />

Φ1 = R + c∆δ<br />

+ ∆ + ∆ + λ<br />

f L1<br />

1N1<br />

+ dφ<br />

1 + dφ<br />

1 + m<br />

,<br />

φ1<br />

IONO TROP<br />

R S<br />

Φ 2 = R + c∆δ + ∆ + ∆ + λ<br />

f L2<br />

2 N 2 + dφ<br />

2 + dφ<br />

2 + m<br />

,<br />

φ2<br />

+ ε<br />

+ ε<br />

φ1<br />

φ2<br />

(4.50)<br />

(4.51)<br />

IONO IONO<br />

onde observa-se que ∆ = −∆<br />

f g , de acordo com as Equação (4.42) e (4.43).<br />

Subtraindo a Equação (4.51) de (4.50) obtém-se:<br />

Φ1<br />

− Φ2<br />

=<br />

1 R<br />

CETφ<br />

+ λ1N1<br />

− λ2N<br />

2 + dφ<br />

+ d<br />

S<br />

φ + mφ<br />

+ εφ<br />

S<br />

(4.52)<br />

onde, similarmente à Equação (4.46):<br />

m φ = m φ1 - m φ2;<br />

ε φ = ε φ1 - ε φ2;<br />

d R φ = d R φ1 - d R φ2; e<br />

d S φ = d S φ1 – d S φ2.<br />

Desta forma, o CET para as observáveis de fase é dado por:<br />

62


CET<br />

f<br />

= S[ (F − F ) − (? N − ? N ) − d − m − e ]<br />

(4.53)<br />

1<br />

2<br />

1<br />

1<br />

2<br />

2<br />

f<br />

f<br />

f<br />

onde d φ = d R φ – d S φ.<br />

O CET φ , devido à ambigüidade, é um valor relativo enquanto que o CET ρ representa um<br />

valor absoluto, contudo, bastante ruidoso como ilustra a Figura 4.3.<br />

Fig. 4.3 – Exemplo de cálculo do CET a partir das pseudo-distâncias (ρ 2 -ρ 1 ) e<br />

portadoras de fase diferenciais (Φ 1 -Φ 2 ). Pode-se observar que ρ 2 -ρ 1<br />

representa um valor absoluto de CET, altamente ruidoso, enquanto que Φ 1 -<br />

Φ 2 apresenta menos ruído, contudo, representa um valor de CET relativo.<br />

FONTE: Jakowski (1996, p.379).<br />

A Figura 4.3 mostra que as medidas de CET φ são medidas relativas e não representam o<br />

valor real de CET. Contudo, é necessário transformar as medidas de CET φ em valores<br />

absolutos através das medidas de CET ρ , obtendo-se ao final medidas absolutas com<br />

menor ruído. O CET φ nivelado é obtido, somando-se a ele o valor médio de diferença<br />

63


entre CET φ e CET ρ , ou seja, CET φ (nivelado) = < CET ρ - CET φ >, onde < > indica<br />

cálculo da média para um determinado intervalo de tempo.<br />

4.2.3 Obtenção do CET vertical<br />

Em geral, existe o interesse em estudar-se o CET sobre um certo local e para isto<br />

determina-se o CET vertical ou CETV a partir das medidas oblíquas. Considerando uma<br />

ionosfera estratificada, o CETV pode ser tomado como a projeção do CET na vertical<br />

do ponto sub-ionosférico situado no caminho de propagação do sinal, entre o satélite e o<br />

receptor (Hofmann-Wellenhof et al. 1994; Jakowski , 1996; Fedrizzi, 1999), ou seja:<br />

CETV = CET cos?<br />

(4.54)<br />

onde,<br />

⎡ r<br />

cos? = ⎢1<br />

−<br />

⎢⎣<br />

2<br />

e<br />

( r + h )<br />

e<br />

cos<br />

2<br />

(E) ⎤<br />

⎥<br />

2<br />

⎥⎦<br />

m<br />

1<br />

2<br />

χ é o ângulo zenital no ponto sub-ionosférico;<br />

r e é o raio da Terra;<br />

E é o ângulo de elevação do satélite;<br />

h m é a altura média do pico da ionosfera (entre 350 e 400 km).<br />

A Figura 4.4 ilustra os parâmetros listados acima.<br />

64


Trajetória do<br />

sinal (s)<br />

Satélite<br />

GPS<br />

CETV<br />

χ<br />

Receptor<br />

E<br />

hm<br />

r e<br />

Centro da Terra<br />

Fig. 4.4 – Geometria da trajetória do rádio-sinal, para sinais transionosféricos.<br />

FONTE: Jakowski (1996, p.373).<br />

65


CAPÍTULO 5<br />

INSTRUMENTAÇÃO, DADOS E METODOLOGIAS<br />

5.1 Instrumentação e dados<br />

A seguir, são descritos os dois tipos de receptores GPS e os dados utilizados neste<br />

trabalho.<br />

5.1.1 Monitores de cintilação – SCINTMON<br />

Atualmente, a Divisão de Aeronomia – DAE/INPE, em colaboração com a<br />

Universidade de Cornell (EUA), mantém 13 receptores GPS instalados em 8 pontos de<br />

observação distribuídos no Território Brasileiro. Estes receptores são monitores de<br />

cintilação em amplitude (SCINTMON) da portadora L1 transmitida pelos satélites GPS<br />

(Beach e Kintner, 2001). A Figura 5.1 mostra a distribuição dos receptores SCINTMON<br />

sobre o Território Brasileiro e a Tabela 5.1 indica as coordenadas das estações GPS<br />

cujos dados foram utilizados. Os valores de declinação e latitude dip foram calculados<br />

através de programa computacional do “International Geomagnetic Reference Field –<br />

IGRF 2000”. A latitude dip é dada por arctan [tan(I) / 2], onde I é a inclinação<br />

magnética (Rishbeth e Garriot, 1969).<br />

O receptor SCINTMON foi implementado a partir de uma placa ISA de<br />

desenvolvimento (GEC Plessey GPS Builder-2 TM ) e é capaz de amostrar<br />

simultaneamente sinais de até 11 satélites. Somente são coletados dados de satélites<br />

com elevação maior que 10 graus. A potência em banda larga (“Wide Band Power” -<br />

WBP) de L1 (1,57542 GHz) transmitida pelos satélites GPS é amostrada a uma taxa de<br />

50 Hz.<br />

67


O programa computacional de controle do SCINTMON permite ao usuário definir um<br />

modo de operação no qual o sistema opera de forma automática. O usuário apenas deve<br />

definir o horário de início e fim da gravação dos dados. Como as irregularidades<br />

formam-se no período do anoitecer e permanecem até aproximadamente meia-noite<br />

local, com exceção de períodos magneticamente perturbados quando pode-se observar<br />

cintilações durante toda a noite até o amanhecer, definiu-se o período de observação<br />

entre as 18:00 e 06:00 horas locais para todas as estações de observação.<br />

20 o N<br />

25 o lat dip<br />

0 o lat dip<br />

Manaus<br />

São Luís<br />

BRASIL<br />

Cuiabá<br />

Cachoeira Paulista Macaé<br />

São José dos Campos<br />

Palmas<br />

São Martinho da Serra<br />

0 o<br />

20 o S<br />

25 o lat dip<br />

40 o S<br />

90 o O<br />

70 o O<br />

50 o O<br />

60 o S<br />

30 o O<br />

Fig. 5.1 - Distribuição dos receptores SCINTMON sobre o Território Brasileiro.<br />

A cada noite de observação são gerados dois arquivos pelo SCINTMON: o primeiro é<br />

um arquivo binário de extensão “.fsl” que contém a informação de amplitude do sinal<br />

68


captado de todos os satélites rastreados pelo sistema durante a noite e o segundo é um<br />

arquivo texto (ASCII) de extensão “.n”, com informações gerais sobre os satélites<br />

rastreados. A partir dos arquivos “.fsl” e “.n” é gerado um terceiro arquivo sumário<br />

(extensão “.sum”) que contém informações à taxa de 1 minuto sobre a posição dos<br />

satélites, potência do sinal recebido e índice de cintilação (índice S 4 ) além de outras<br />

informações referentes ao sinal GPS. O Apêndice A informa maiores detalhes sobre o<br />

conteúdo do arquivo sumário.<br />

Tabela 5.1 – Coordenadas das estações GPS.<br />

ESTAÇÃO LAT. GEOG. LONG. GEOG. DECLINAÇÃO DIP LAT.<br />

MAGNÉTICA<br />

Macaé 22,25 o S 41,77 o O 22,00 o O -19,<strong>80</strong><br />

S. Martinho da Serra 29,28 o S 53,82 o O 12,90 o O -18,57<br />

S. J. dos Campos 23.07 o S 45,86 o O 20,03 o O -18,01<br />

Cachoeira Paulista 22.57 o S 45.01 o O 20,54 o O -18,12<br />

Palmas 26,36 o S 51,98 o O 15,36 o O -17,27<br />

Cuiabá 15,45 o S 56,07 o O 14,98 o O -6,56<br />

São Luís 02,57 o S 44,21 o O 20,74 o O -1,73<br />

Manaus 03,08 o S 59,97 o O 13.96 o O +5.79<br />

As Figuras 5.2 e 5.3 mostram exemplos de dados obtidos com o SCINTMON e<br />

gravados nos arquivos sumário para os satélites rastreados pelo receptor instalado em<br />

SJC.<br />

69


Fig. 5.2 - Os diversos painéis mostram os valores de potência em banda larga de sinal<br />

recebido (WBP em decibéis) para todos os satélites rastreados na noite de<br />

01/12/2001 para 02/12/2001. O PRN (identificação) de cada satélite é<br />

indicado no canto superior direito de cada painel.<br />

Fig. 5.3 - Os diversos painéis mostram os valores do índice S 4 , calculado para todos os<br />

sinais mostrados na Figura 5.2. Valores de S 4 acima de 0.2 estão associados à<br />

irregularidades.<br />

70


5.1.2 Receptores TurboRogue ICS-4000Z<br />

Conforme descrito no Capítulo 4, através do uso de receptores GPS de dupla freqüência,<br />

pode-se estimar o número de elétrons livres ou Conteúdo Eletrônico Total (CET) ao<br />

longo do caminho percorrido pelo sinal, desde sua transmissão pelo satélite GPS até a<br />

sua chegada ao receptor.<br />

O Grupo de Ionosfera, através de apoio da FAPESP, possui dois receptores de dupla<br />

freqüência, especialmente desenvolvidos para estimativa do atraso ionosférico<br />

(receptores TurboRoque ICS-4000Z da Allen-Osborne Associates). O Turbo Rogue é<br />

um receptor otimizado para medidas do CET ionosférico, capaz de rastrear<br />

simultaneamente e digitalmente independente até 8 satélites. Este receptor é capaz de<br />

fornecer medidas de pseudo-distâncias e pseudo-fases mais exatas, corrigindo<br />

automaticamente desvios de fase (Allen Osborne Associates, 1995).<br />

O primeiro receptor está instalado em São Luís (SLZ) onde também estão instalados<br />

dois receptores SCINTMON. O segundo receptor encontra-se instalado em São José dos<br />

Campos (SJC), onde também encontra-se instalado um receptor SCINTMON. Existem<br />

ainda dois receptores SCINTMON instalados no Centro Espacial de Cachoeira Paulista<br />

(CP), localizado a aproximadamente 110 km de SJC. SLZ está localizado sob o equador<br />

magnético enquanto que SJC situa-se próximo ao pico da Anomalia de Appleton.<br />

Os receptores TurboRogue adquirem dados 24 horas por dia a uma taxa de amostragem<br />

de 1Hz. Inicialmente, os dados são gravados em arquivos binários com<br />

aproximadamente 30 Megabytes de informação por dia. Nestes arquivos binários estão<br />

contidos diversos tipos de informações, tais como, identificação da estação de<br />

observação, tempo GPS, canal utilizado, satélite rastreado, azimute do satélite, elevação<br />

do satélite, tipo de observação, taxa de amostragem, razão sinal-ruído, atraso entre os<br />

71


códigos e fases das portadoras L1 e L2 e outras informações que não serão utilizadas<br />

neste trabalho (AOA, 1995).<br />

O Apêndice B detalha os procedimentos de conversão e preparação dos dados para<br />

posterior cálculo dos valores de CET. A Figura 5.4 mostra um exemplo da variação<br />

diária do CET vertical sobre SLZ medida pelo receptor TurboRogue. Períodos com<br />

ausência de dados correspondem à períodos quando não eram observados satélites com<br />

elevação maior que 50 o .<br />

(a)<br />

(b)<br />

Fig. 5.4 – (a) Variação diária do CET vertical sobre São Luís obtido a partir de medidas<br />

de código (•) e fase (•). (a) Ângulos de elevação (•) e azimute (•) dos<br />

satélites cujos dados foram utilizados.<br />

72


5.2 Metodologias<br />

As metodologias empregadas para análise dos dados de cintilação e CET são resumidas<br />

nas próximas seções.<br />

5.2.1 Estudos das irregularidades ionosféricas através das cintilações<br />

Para o estudo das irregularidades que causam cintilações no sinal GPS foram utilizadas<br />

as informações contidas nos arquivos sumários. O cronograma de atividades<br />

compreendia o desenvolvimento de rotinas computacionais em Matlab para extração das<br />

informações dos arquivos sumário, posterior geração de gráficos e análise.<br />

As rotinas computacionais desenvolvidas fazem a extração de informações tais como:<br />

data da observação, hora universal (UT), números de satélites rastreados e seus<br />

correspondentes PRN´s, elevação e azimute de cada satélite, valor de S 4 e informação<br />

sobre a perda de sinal do satélite pelo receptor naquele intervalo de minuto. Logo após a<br />

extração destas informações, as rotinas computacionais fazem a seleção dos dados para<br />

períodos, elevações de satélites e condições geomagnéticas necessárias ao estudo a ser<br />

realizado.<br />

No Capítulo 6, a ocorrência de irregularidades que causam cintilação no sinal GPS foi<br />

comparada com a manifestação de irregularidades ionosféricas observadas em radares<br />

de espalhamento coerente, digissonda e fotômetro. Estas medidas servem para mostrar o<br />

que é observado em cada instrumento durante um evento de ESF, já que as técnicas<br />

empregadas por cada instrumento são distintas. Para a comparação de dados foram<br />

utilizados apenas dados dos satélites de máxima elevação a cada minuto. Este<br />

procedimento foi adotado para que a região ionosférica mais próxima do zênite fosse<br />

observada, já que todos os demais instrumentos têm suas antenas (digissonda e radar) ou<br />

lentes (fotômetro) apontadas na direção zenital.<br />

73


5.2.2 Estudo das irregularidades ionosféricas sobre São José dos Campos<br />

No Capítulo 7 são apresentados resultados de um estudo estatístico das irregularidades<br />

ionosféricas que causam cintilação no sinal GPS. Para este estudo foram utilizados<br />

dados coletados durante aproximadamente 5 anos (Set/1997 à Jun/2002) pelo receptor<br />

SCINTMON instalado em SJC. Para os dias em que não foram coletados dados em SJC,<br />

foram utilizados os dados coletados em Cachoeira Paulista (CP). Novamente, foram<br />

utilizadas as informações gravadas nos arquivos sumários e rotinas computacionais<br />

desenvolvidas durante o decorrer deste trabalho.<br />

Com base nestes dados foi possível realizar estudos sobre (i) variação temporal de<br />

ocorrência das irregularidades ionosféricas que causam as cintilações, (ii) sua variação<br />

sazonal, e (iii) os efeitos da atividade solar sobre a ocorrência das irregularidades e<br />

intensidade das cintilações<br />

Esta análise foi realizada para cada mês do período entre Setembro de 1997 a Junho de<br />

2002, com exceção dos meses que não apresentavam dados. Também foi feita uma<br />

seleção de dados para que fossem estudados apenas dias geomagneticamente calmos.<br />

Foram considerados dias geomagneticamente calmos aqueles dias nos quais o índice Kp<br />

não atingiu 4 em nenhum dos seus 8 valores diários e também não excedeu este valor<br />

nos dois primeiros valores de Kp do dia seguinte. Lembrando que as observações<br />

iniciam-se as 18:00 LT e estendem-se até o amanhecer do dia seguinte (06:00 LT), esta<br />

seleção faz com que somente dados coletados durante períodos sem nenhuma<br />

perturbação magnética durante as observações ou mesmo 18 horas antes do início das<br />

observações.<br />

Para este estudo também foram utilizados apenas dados de satélites com elevação maior<br />

que 45 o . Este procedimento foi adotado para que se estudasse apenas irregularidades<br />

74


locais, ou seja, que estivessem dentro de um raio de distância de aproximadamente 400<br />

km, considerando-se que as irregularidades se encontrem em uma altura de 400 km.<br />

5.2.3 Cálculo do CET<br />

Para o estudo CET vertical foram desenvolvidos programas computacionais que<br />

realizam o cálculo do CET vertical a partir das medidas oblíquas de diferença de<br />

pseudo-distâncias e de pseudo-fases.<br />

Conforme a Equação 4.48 e 4.53 do Capítulo 4, o CET é dado pela diferença da pseudodistância<br />

ou pseudo-fases medida pelo receptor com influências de (1) atraso<br />

instrumental (receptor e satélite), (2) multi-caminho e (3) ruído do receptor. Os erros<br />

causados por multi-caminho foram minimizados com a utilização de uma antena<br />

especial do tipo “Choke-Ring”. Os erros causados por ruído do receptor foram<br />

minimizados com a utilização de receptores especialmente desenvolvidos para<br />

calibração ionosférica. Para minimizar os efeitos de atraso instrumental foram utilizados<br />

os valores de atraso instrumental de cada receptor fornecidos pelo fabricante e os<br />

valores diários de atraso dos satélites fornecidos pelo Instituto Astronômico da<br />

Universidade de Berna, Suíça.<br />

Após a obtenção do CET oblíquo, realizou-se a conversão para o CET vertical (CETV)<br />

conforme explicado na Seção 4.2.3 do Capítulo 4. Considerou-se a altura média do pico<br />

da ionosfera (h m ) como sendo 400km. Este é o mesmo valor utilizado pela maioria dos<br />

autores de trabalhos relacionados ao cálculo do CET a partir de observáveis GPS.<br />

Para as medidas de CET obtidas através das pseudo-fases foram corrigidas as perdas de<br />

ciclo (“cycle slips”), que são descontinuidades na medida da fase (Hofmann-Wellenhof<br />

et al., 1994; Mônico, 2000). Logo em seguida, nivelou-se o CET obtido pelas medidas<br />

de pseudo-fases (valores relativos) através da média do CET vertical obtido por medidas<br />

75


de pseudo-distâncias (valores absolutos mas ruidosos). Também calculou-se a hora local<br />

do ponto sub-ionosférico a partir dos valores de elevação e azimute e h m = 400 km.<br />

Para a obtenção das curvas de variação diária do CET somente foram utilizados dados<br />

de satélites com elevação maior que 50 o . Este procedimento procura minimizar os<br />

efeitos de gradientes latitudinais de densidade causados pela Anomalia de Appleton<br />

sobre o cálculo do CET vertical. A Figura 5.5 procura ilustrar este possível efeito da<br />

Anomalia de Appleton quando calcula-se o CET a partir de dados de satélites de baixa<br />

elevação. Por exemplo, quando utiliza-se sinais de satélites de baixa elevação captados<br />

pelo receptor de SLZ é possível que se esteja medindo o CET de uma região próxima à<br />

Anomalia Equatorial ao invés de medir-se o CET na região equatorial.<br />

Na Figura 5.6 (a) é mostrada a curva de variação do CET vertical obtida a partir de<br />

dados de todos os satélites com elevação maior 20 o . A Figura 5.6 (b) mostra a mesma<br />

variação obtida apenas de dados de satélites dentro de um cone de elevação de 50 o .<br />

Observa-se que, ao utilizar-se satélites de baixa elevação, a dispersão de valores de<br />

CET, tanto aqueles obtidos a partir da pseudo-distância quanto os obtidos a partir da<br />

pseudo-fase, para um mesmo horário é muito grande. Existe também uma maior<br />

dificuldade para o nivelamento do CET fase devido ao maior número de perdas de<br />

ciclos que ocorrem em sinais transmitidos por satélites de baixa elevação. Atribui-se a<br />

maior dispersão de dados mostrada na Figura 5.6 (a) ao fato de que cada satélite de<br />

baixa elevação mede o CET em pontos distintos e muito distantes do ponto sub -<br />

ionosférico zenital. Um satélite com elevação de 20 o mede o CET ionosférico em um<br />

ponto afastado aproximadamente 1.100 km da estação receptora GPS. Se considerarmos<br />

dois satélites com azimutes opostos eles estarão medindo o CET em pontos separados<br />

por aproximadamente 2.200 km!<br />

Deve-se levar em conta que a restrição à utilização de dados de satélites de alta elevação<br />

faz com que hajam períodos em que o CET não possa ser calculado devido a ausência<br />

76


destes satélites. A Figura 5.6 (b) mostra alguns períodos sem valores de CET vertical<br />

devido a este fato.<br />

Utilizando dados de CET coletados simultaneamente em São José dos Campos e São<br />

Luís foi possível também realizar uma análise da distribuição latitudinal do CET<br />

vertical. Também foi implementada uma rotina que estima o desvio de CET causado<br />

pelas irregularidades ionosféricas. O Capítulo 8 descreve estas análises com maiores<br />

detalhes.<br />

Fig. 5.5 – Ilustração do efeito da Anomalia de Appleton no cálculo do CET vertical.<br />

77


Fig. 5.6 – Exemplo do efeito causado por satélites de baixa elevação no cálculo do CET<br />

vertical. Em (a) foram utilizados dados de satélites com elevação maior que<br />

20 o . Em (b) foram utilizados apenas dados de satélites com elevação maior<br />

que 50 o .<br />

78


CAPÍTULO 6<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES I: OBSERVAÇÕES DA CINTILAÇÃO<br />

IONOSFÉRICA E DO ESF UTILIZANDO MULTÍPLAS TÉCNICAS<br />

6.1 Observações do ESF utilizando múltiplas técnicas<br />

Neste capítulo, dados de cintilação ionosférica em sinais GPS são comparados com<br />

observações de ESF realizadas por outros instrumentos tais como ionossonda digital<br />

(Digissonda), radar de espalhamento coerente e fotômetro. O objetivo desta comparação de<br />

dados é uma melhor compreensão das informações fornecidas pela técnica de cintilação e sua<br />

relação com observações do ESF realizadas por outras técnicas. Foram utilizados dados<br />

coletados durante duas campanhas de observação, uma realizada no Observatório Espacial<br />

de São Luís - SLZ (2,58 o S, 44,21 o O, -1,73 o latitude dip) e outra realizada no Observatório<br />

Espacial do Sul – OES/INPE (29,28 o S, 53,82 o O, -18,57 o latitude dip), em São Martinho da<br />

Serra - RS.<br />

Durante a campanha de São Luís, realizada no período de 11 a 20 de novembro de 2001,<br />

foram operados, simultaneamente, um radar VHF (30 MHz) de espalhamento coerente, uma<br />

Digissonda (DGS-256) e dois receptores SCINTMON. Foram utilizados dois receptores<br />

SCINTMON, para que em um posterior estudo seja possível calcular a velocidade zonal das<br />

irregularidades utilizando a técnica de receptores espaçados. O período escolhido para a<br />

análise dos dados coincidiu com a campanha de observação de bolhas ionosféricas, realizada<br />

pelo Laboratório de Pesquisas da Força Aérea Norte-Americana (AFRL) em conjunto com<br />

o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e o INPE, na cidade de Corumbá - MS. Durante esta<br />

campanha vários outros instrumentos foram operados em diversos pontos do Território<br />

Brasileiro e comparações entre os dados coletados serão realizadas em trabalhos futuros.<br />

79


As condições geomagnéticas para o período da campanha de São Luís, expressas através<br />

dos índices Kp e Dst, são mostradas na Figura 6.1. Durante todo o período, o índice Kp não<br />

excedeu 4 e o Dst não excedeu –50 nT. Desta forma, o período das observações pode ser<br />

considerado geomagneticamente calmo.<br />

Fig. 6.1 – Índices (a) Kp e (b) Dst para o período da campanha de observações realizada no<br />

Observatório Espacial de São Luís, entre os dias 11 e 20 de Novembro de 2001.<br />

A outra campanha de observações, realizada no OES/INPE, ocorreu entre os dias 08 e 19<br />

de Março de 2002. Durante esta campanha foram operados dois receptores SCINTMON e<br />

um fotômetro zenital (6300 nm) para observação de bolhas ionosféricas. A exemplo da<br />

campanha de São Luís, também foram utilizados dois monitores de cintilação, de forma que a<br />

velocidade zonal das irregularidades ionosféricas pudesse ser calculada em um posterior<br />

estudo. Esta campanha foi realizada em conjunto com a Universidade de Takushoku do<br />

Japão, que gentilmente contribuiu com as observações de luminescência atmosférica. A Figura<br />

6.2 mostra as condições geomagnéticas (índices Kp e Dst) para o período da campanha no<br />

OES. Neste período, o Kp atingiu 5 somente no dia 19/03/2002 e o Dst não excedeu –50<br />

<strong>80</strong>


nT. As condições geomagnéticas podem ser consideradas calmas para todo o período com<br />

exceção do dia 19, que pode ser considerado um dia moderadamente perturbado.<br />

Fig. 6.2 - Índices (a) Kp e (b) Dst para o período da campanha de observações realizada no<br />

Observatório Espacial do Sul, entre os dias 08 e 19 de Março de 2002.<br />

6.2 Descrição da campanha de observações em São Luís<br />

Nesta seção são apresentados os resultados de medidas simultâneas do ESF através de três<br />

técnicas distintas: (1) cintilações em sinais GPS; (2) medidas com radar VHF de<br />

espalhamento coerente e; (3) medidas de ESF em ionogramas.<br />

Há vários anos, Basu et al. (1978) compararam a ocorrência de cintilações e plumas sobre o<br />

Rádio Observatório de Jicamarca, no Peru. Naquele trabalho foram utilizados sinais<br />

transmitidos por satélites geoestacionários para o estudo das cintilações. O uso de satélites<br />

geoestacionários permitiu que estudassem um ponto sub-ionosférico fixo, localizado próximo<br />

à área sondada pelo radar de Jicamarca. No presente trabalho utilizam-se dados de cintilação<br />

em sinais GPS (Banda L), que estão em constante movimento sobre distintas órbitas para<br />

81


comparação com medidas de radar no setor Brasileiro de longitude, juntamente com medidas<br />

de espalhamento em ionogramas.<br />

6.2.1 Conjunto de dados<br />

Para as medidas de radar, utilizou-se o radar VHF (30 MHz) de espalhamento coerente<br />

instalado no Observatório Espacial do INPE em São Luís, radar este sensível à<br />

irregularidades ionosféricas com escalas de tamanho em torno de 5 metros. Mapas RTI (do<br />

inglês “Range-Time-Intensity” ou Altura-Tempo-Intensidade) foram utilizados para análise<br />

dos dados coletados pelo radar de São Luís. A Figura 6.3 mostra o conjunto de 10 mapas<br />

RTI obtidos durante a campanha de observação em São Luís. O número no canto superior<br />

direito de cada mapa se refere ao dia de novembro de 2001, no qual o mapa foi obtido. A<br />

abscissa de cada mapa corresponde à hora universal (UT), enquanto que a ordenada<br />

corresponde à altura. A escala de cores, conforme legenda, corresponde a relação sinal/ruído<br />

da potência do eco (em decibéis) recebido pelo radar. O eco do radar de espalhamento<br />

coerente pode ser considerado como sendo proporcional à média dos quadrados das<br />

perturbações de densidade que o causaram.<br />

A partir dos ionogramas gravados a cada 15 minutos obteve-se a variação temporal da<br />

ocorrência de espalhamento nos traços dos ionogramas. Analisou-se o tipo de espalhamento<br />

observado nos ionogramas (espalhamento em freqüência, espalhamento em altura ou misto) e<br />

a sua intensidade, quando o espalhamento observado era do tipo em altura ou misto.<br />

Os dados de cintilação foram coletados por receptores SCINTMON, descritos no Capítulo<br />

5. Para se estudar a ionosfera local e para que se pudesse comparar com dados da<br />

digissonda e do radar, somente foram analisados dados de S 4 calculados para o sinal do<br />

satélite de maior elevação rastreado a cada intervalo de 1 minuto.<br />

82


Fig. 6.3 - Conjunto de mapas RTI obtidos durante a campanha de observações em São Luís.<br />

83


Fig. 6.4 - Resultados das medidas de cintilação (gráfico de pontos) e de espalhamento nos<br />

ionogramas (gráfico de colunas) realizadas durante a campanha de observação em<br />

São Luís, de 11 a 20 de Novembro de 2001 (LT ~ UT - 3).<br />

A Figura 6.4 mostra o conjunto de dados de espalhamento nos traços dos ionogramas e<br />

dados de cintilação para todo o período da campanha. Para cada dia é mostrada a<br />

intensidade de cintilação (S 4 ), calculada para o sinal transmitido pelo satélite de maior<br />

elevação a cada minuto de observação (gráfico de pontos) e a intensidade e tipo de<br />

espalhamento observado nos ionogramas (gráfico de colunas). Para a região equatorial e<br />

sinais na faixa de GHz, associam-se valores de S 4 maiores que 0,1 a irregularidades<br />

ionosféricas. Para os dados de ESF em ionogramas foram definidos três níveis de intensidade<br />

para o espalhamento em altura (1 = fraco, 2 = médio e 3 = forte) representado pela altura das<br />

colunas nos gráficos. Acima de cada coluna, uma letra indica o tipo de espalhamento (R = em<br />

altura, F = em freqüência e M = em freqüência e altura).<br />

84


6.2.2 Interpretação das observações<br />

Os mapas RTI da Figura 6.3 mostram que, para o período da campanha, os ecos indicando a<br />

presença das irregularidades ionosféricas (5 m) iniciavam-se em torno das 21:45 UT (~18:45<br />

LT) em uma fina camada localizada em aproximadamente 400 km de altura. Logo em<br />

seguida, estas camadas cresciam e os ecos tornavam-se mais intensos. Em algumas noites,<br />

estas irregularidades atingiam alturas que excediam 1000 km. Estas manifestações de<br />

irregularidades observadas por radares são conhecidas como plumas e estão relacionadas às<br />

irregularidades de pequena escala de tamanho imersas no interior de bolhas ionosféricas. A<br />

partir dos dados mostrados nas Figuras 6.3 e 6.4, observa-se que, apenas no dia 19/11/2001<br />

não ocorreu manifestação do ESF observado pelo radar e por cintilações. Neste dia<br />

observou-se apenas fraco espalhamento em altura nos ionogramas, durante um curto período<br />

de tempo (~ 1 hora e meia).<br />

O início do espalhamento nos ionogramas e dos ecos observados pelo radar é quase<br />

simultâneo e ocorre em torno das 22:00 UT (19:00 LT). Contudo, o período de ocorrência<br />

das plumas é muito menor que o período de ocorrência do espalhamento nos ionogramas.<br />

Isto se deve ao fato do decaimento mais rápido das irregularidades de menores escalas de<br />

tamanho, como mostrado por Basu et al. (1978). O ESF em ionogramas está associado à<br />

irregularidades com escalas de tamanho da ordem de quilômetros (Basu e Basu, 1993),<br />

enquanto que o radar de São Luís é sensível a irregularidades de 5 metros.<br />

O início das cintilações não é simultâneo ao início das plumas (e espalhamento nos<br />

ionogramas) e o seu período de ocorrência é coerentemente mais longo que a duração das<br />

plumas e mais curto que a duração do espalhamento nos ionogramas. Segundo Kintner et al.<br />

85


(2001) e Rodrigues et al. (2002a), as irregularidades que mais contribuem para a cintilação<br />

nos sinais GPS têm escalas de tamanho em torno de 400 metros.<br />

Será visto com maiores detalhes na seção 6.2.4 que as cintilações iniciam-se somente após o<br />

completo desenvolvimento das plumas. Durante a fase inicial das plumas, quando as<br />

irregularidades de 5 metros se encontram concentradas em finas camadas de fracos ecos<br />

(conhecidas como “bottom-type”) localizadas em baixas alturas (~400 km) não observa-se<br />

cintilação nos sinais GPS. Estes resultados estão de acordo com os resultados encontrados<br />

por Mullen et al. (1978) citados por Basu et al. (1978) que, a partir de estatísticas utilizando<br />

dados coletados em Huancayo (equador magnético), observaram uma maior intensidade de<br />

cintilação em sinais da Banda L (1,54 GHz) durante a fase de desenvolvimento das plumas<br />

observadas pelo radar de Jicamarca.<br />

Tanto o radar quanto a digissonda são sensíveis a irregularidades na porção inferior da<br />

camada F e por este motivo estes dois instrumentos iniciam a observação de ESF quase que<br />

simultaneamente.<br />

É importante salientar que a ausência de cintilações durante períodos nos quais são<br />

observadas camadas do tipo “bottom-type”, precursora de plumas, é um característica válida<br />

apenas para o caso de sinais com freqüências na faixa de GHz e não aplica-se<br />

necessariamente a sinais na faixa de VHF. De acordo com Abdu et al. (1998), cintilações em<br />

sinais VHF podem ser resultados de irregularidades na porção inferior (estruturas “bottomtype”)<br />

e/ou irregularidades na porção superior (estruturas “topside”) da camada F, enquanto<br />

que cintilações em sinais na faixa de GHz são estritamente associadas às bolhas ionosféricas.<br />

86


6.2.3 Dificuldades na comparação entre plumas e cintilações<br />

Um aspecto importante a ser considerado é que, muitas vezes, a região ionosférica sondada<br />

pelo radar não é a mesma pela qual os sinais GPS se propagam já que neste trabalho foram<br />

utilizados sinais transmitidos por satélites com uma elevação mínima de 50 o . Considerando<br />

que as irregularidades causando cintilações se situem a uma altura de 450 km, isto significa<br />

que os pontos sub-ionosféricos podem se localizar em uma área de até 398 km de raio, ao<br />

redor do ponto de observação. Da mesma forma, levando em conta que o feixe da rede de<br />

antenas para transmissão do radar apresenta uma largura de meia-potência de 10 o , pode-se<br />

dizer que os ecos recebidos pelo radar são produzidos por irregularidades que podem estar<br />

em qualquer ponto dentro de uma área sub-ionosférica de até 40 km de raio.<br />

Apesar da área ionosférica observada pela técnica de cintilação em sinais GPS ser muito<br />

maior que a área sondada pelo radar e pela digissonda, as observações são bastante<br />

consistentes e os resultados são bastante similares àqueles obtidos com satélites<br />

geoestacionários (Basu et al., 1978). Para que se compare com mais detalhes os dados de<br />

cintilação, plumas e espalhamentos nos ionogramas, as Figuras 6.5 e 6.6, mostram<br />

simultaneamente os mapas RTI, dados de cintilação e dados de espalhamento para dois dias<br />

da campanha. Adicionalmente, também são mostradas as elevações dos satélites dos quais<br />

utilizaram-se os dados.<br />

6.2.4 Análise de dois dias típicos<br />

Na Figura 6.5 são mostrados os dados obtidos no dia 16/11/2001 no qual observou-se uma<br />

pluma de grandes proporções. A pluma iniciou-se as ~18:45 LT e, simultaneamente,<br />

observou-se o início do espalhamento em altura nos ionogramas. Subitamente, às ~19:10 LT,<br />

a pluma elevou-se em altura atingindo aproximadamente 1200 km às ~19:30 LT, quando<br />

87


também observaram-se ecos mais intensos. A atividade de cintilações também iniciou-se as<br />

~19:05 LT, em uma correspondência quase que direta ao desenvolvimento da pluma e início<br />

de ecos mais intensos. O índice S 4 aumentou de 0,05 para 0,3 durante a rápida elevação da<br />

pluma. A elevação do satélite do qual utilizou-se os dados era de 60 o a 70 o durante a fase<br />

inicial de geração e desenvolvimento da pluma.<br />

Pode-se observar que, em torno das 23:45 LT a intensidade do espalhamento em altura nos<br />

ionogramas começa a diminuir e então retorna muito forte. Paralelamente, a intensidade das<br />

cintilações também aumenta, o que pode indicar a geração de uma nova bolha ionosférica ou<br />

a passagem de uma bolha gerada em outra longitude sobre o ponto de observação. Porém, o<br />

radar já havia sido desligado durante este período.<br />

No dia 16/11/2002 a camada do tipo “bottom-type” (Hysell e Burchan, 2002) é de curta<br />

duração e o comportamento das cintilações durante a ocorrência deste tipo de camada não<br />

pode ser estudada em detalhes. Contudo, no dia 13/11/2001 cujos dados são mostrados na<br />

Figura 6.6, este tipo de camada dura aproximadamente 1 hora e meia (~18:40 as 20:10 LT).<br />

Neste dia, dispõe-se de um maior intervalo de tempo para observar-se o comportamento das<br />

cintilações durante a ocorrência desse tipo de camada. Novamente, pôde-se observar que as<br />

cintilações somente iniciam após as irregularidades mostradas pelo radar alcançarem uma<br />

elevada altura e os ecos se tornarem mais intensos.<br />

88


Fig. 6.5 - Conjunto de dados obtidos para o dia 16/11/2001: (a) pluma observada pelo<br />

radar; (b) cintilações observadas em sinais GPS e (c) espalhamento nos<br />

ionogramas. A elevação do satélite GPS do qual transmitiu-se o sinal e que foi<br />

calculado o índice S 4 também é mostrada como uma linha tracejada em (b).<br />

A não ocorrência de cintilações durante a camada “bottom-type” pode ser explicada<br />

considerando-se que o índice S 4 é proporcional à altura (z) e espessura (L) da camada de<br />

irregularidades e também ao desvio médio de densidade eletrônica ao longo do caminho de<br />

propagação do sinal (), (Basu e Basu, 19<strong>80</strong>). A camada do tipo “bottom-type” é uma<br />

camada caracteristicamente fina e situada na porção inferior da camada F (Hysell e Burchan,<br />

2002), o que resulta em baixos valores de z e L. Além disso, por se situar na porção inferior<br />

da camada F onde a densidade eletrônica é mais baixa, é coerente esperarmos baixos valores<br />

de . Todos estes fatores contribuem para que não sejam observadas cintilações, pelo<br />

menos em sinais da Banda L, durante camadas do tipo “bottom-type”. É importante salientar<br />

que, mesmo que as irregularidades estejam na mesma altura do pico da camada F 2 , o S 4 não<br />

alcança valores muito altos devido à baixa densidade ionosférica no equador. De acordo com<br />

89


medidas de hmF2, o pico da camada F2 estava a aproximadamente 500 km de altura.<br />

Somente quando a camada de irregularidades mostrada pelo radar atingiu altura semelhante,<br />

iniciaram-se níveis perceptíveis de cintilações.<br />

Fig. 6.6 - Conjunto de dados obtidos para o dia 13/11/2001: (a) pluma observada pelo<br />

radar; (b) cintilações observadas em sinais GPS e (c) espalhamento nos<br />

ionogramas. A elevação do satélite GPS do qual transmitiu-se o sinal e que foi<br />

calculado o índice S 4 também é mostrada como uma linha tracejada em (b).<br />

6.2.5 Exemplo da variabilidade dia-a-dia do ESF<br />

A ausência de cintilações e plumas no dia 19/11/2001, é um exemplo da variabilidade dia-adia<br />

da ocorrência do ESF. Esta variabilidade é um ponto de atual interesse no estudo das<br />

irregularidades ionosféricas e tem sido associada a diversos parâmetros, tais como ação de<br />

90


ventos neutros meridionais juntamente com condutividade integrada ao longo das linhas de<br />

campo, presença / ausência de uma perturbação inicial e atividade magnética.<br />

A Figura 6.7 mostra a variação temporal da altura real do pico da camada F2 (hmF2) e a<br />

altura virtual da base da camada F (h’F) para os dias da campanha, observado pela<br />

Digissonda de São Luís. Observa-se que a diferença de altura entre a base da camada F<br />

(h´F) e o pico da camada F2 (hmF2) tende a diminuir após o pôr-do-sol, indicando um<br />

aumento do gradiente de densidade da porção inferior da camada F. Este gradiente é propício<br />

ao desenvolvimento das irregularidades ionosféricas conforme a expressão da taxa de<br />

crescimento da instabilidade RT generalizada (Equação 3.1).<br />

Contudo, pode-se observar que no dia 19/11/2001 no qual não se observaram plumas, a<br />

base da camada F não se elevou como nos demais dias. Aparentemente, a começar do dia<br />

16/11/2001, a porção inferior da camada F sistematicamente alcançou alturas cada vez<br />

menores. A partir de dados de espalhamento em ionogramas de Cachoeira Paulista (CP),<br />

Abdu et al. (1992) também perceberam uma sistemática diminuição na ocorrência do ESF<br />

durante períodos específicos nos meses de Novembro e Fevereiro.<br />

Abdu et al. (1992) explicaram a diminuição na ocorrência do ESF em termos do gradiente<br />

longitudinal da condutividade Pedersen das camadas E conjugadas. Batista et al. (1986)<br />

mostraram que o gradiente longitudinal da condutividade Pedersen tem um papel importante<br />

na determinação do tempo de início e amplitude da deriva de pré-inversão no horário do pôrdo-sol.<br />

Quanto maior o gradiente, maior é a velocidade de deriva e maior é a probabilidade<br />

de ocorrência do ESF.<br />

91


Fig. 6.7 - Variação temporal da altura virtual da base da camada F (h’F) e da altura real do<br />

pico da camada F2 (hmF2) para os dias da campanha em São Luís.<br />

A magnitude do gradiente de condutividade, por sua vez, depende do grau de alinhamento da<br />

linha do terminador do pôr-do-sol com o meridiano magnético das camadas E conjugadas.<br />

Contudo, ao mesmo tempo em que um perfeito alinhamento do terminador e meridiano<br />

magnético aumentam a deriva vertical de pré-inversão isto também faz com que toda a<br />

camada derive verticalmente com uma mesma velocidade e sem que a camada se<br />

desestabilize, ou seja, sem a criação de um alto gradiente de densidade entre a base e o pico<br />

da camada F. A falta deste alto gradiente de densidade faz com que haja uma diminuição da<br />

taxa de crescimento (γ) da instabilidade RT e uma menor probabilidade de ocorrência das<br />

irregularidades ionosféricas. A ausência de cintilações na noite de 19/11/2001 também pode<br />

ser explicada nestes termos, ou seja, devido à falta de um alto gradiente de densidade,<br />

92


causado pela possível deriva vertical uniforme da camada F causada por um alinhamento<br />

perfeito do meridiano magnético e terminador do pôr-do-sol. Outro fator que deve ser<br />

considerado na inibição das irregularidades no dia 19, é a fraca subida da base da camada F,<br />

fazendo com que o termo (g/ν ie ) não contribua para a taxa de crescimento (γ).<br />

6.3 Campanha de São Martinho da Serra<br />

Na seção anterior, medidas do ESF realizadas com monitores de cintilação, radar e<br />

digissonda foram analisadas. Medidas de ESF no equador resultam da manifestação de<br />

irregularidades nas mais diversas fases da sua evolução, desde a geração até o seu<br />

desaparecimento.<br />

Medidas de cintilação em baixas latitudes são, em geral, causadas por irregularidades de<br />

escalas de tamanho intermediária (100-10.000 m) e de transição (10-100 m) imersas em<br />

bolhas ionosféricas completamente desenvolvidas (Basu e Basu, 1993; Abdu et al., 2000).<br />

Nesta seção são apresentados resultados de medidas de cintilações em sinais GPS juntamente<br />

com medidas de bolhas ionosféricas utilizando um fotômetro zenital. As observações foram<br />

realizadas durante o período de 08 a 19 de março de 2002, no OES/INPE. Durante a<br />

campanha de observações realizada em SLZ, cujos resultados foram apresentados na seção<br />

anterior, utilizaram-se valores de S 4 calculados para o satélite de maior elevação a cada 1<br />

minuto para comparação com observação de ESF realizadas por radar e Digissonda. Os<br />

resultados mostraram uma boa relação entre o completo desenvolvimento das plumas e o<br />

aumento da atividade de cintilações. Nesta seção, cintilações em sinais GPS serão analisadas<br />

juntamente com a ocorrência de bolhas ionosféricas observadas por um fotômetro zenital.<br />

As bolhas ionosféricas são regiões de depleção do plasma ionosférico e podem ser<br />

identificadas por súbitos decréscimos na intensidade de emissão do oxigênio atômico (OI)<br />

93


observada em 630 nm (Sobral et al., 19<strong>80</strong>; Sahai et al., 2000; Takahashi et al., 2001). Em<br />

regiões equatoriais e de baixas latitudes, a emissão do OI 630 nm ocorre devido a processos<br />

químicos de troca de carga e de recombinação dissociativa de íons O + 2 (Sahai et al., 2000;<br />

Takahashi et al., 2001):<br />

O + + O 2 → O + O 2 + ;<br />

O 2 + + e → O*( 1 S, 1 D) + O;<br />

O*( 1 D) → O( 3 P) + hν (630 nm)<br />

A intensidade da emissão depende de mudanças na altura da porção inferior da camada F e<br />

também de mudanças na densidade eletrônica desta camada. As bolhas ionosféricas são<br />

caracterizadas por uma drástica diminuição da densidade eletrônica na camada F. Com isto,<br />

observam-se acentuadas quedas na intensidade de luminescência atmosférica observadas por<br />

fotômetros ou câmaras imageadoras durante a ocorrência das bolhas.<br />

Instrumentos ópticos para observação da luminescência atmosférica têm sido amplamente<br />

utilizados para identificar a ocorrência das bolhas ionosféricas em campanhas de observação<br />

de cintilações (por exemplo, Basu et al., 1983; Basu et al., 1996; Aarons et al., 19<strong>80</strong> e<br />

1999). Neste estudo, dados de cintilação em sinais GPS serão comparados com regiões de<br />

depleção de luminescência atmosférica observadas por um fotômetro zenital.<br />

6.3.1 Conjunto de observações<br />

A Figura 6.8 mostra os dados de cintilação coletados durante a campanha no OES.<br />

Novamente, são analisados os dados de S 4 dos satélites de maior elevação a cada 1 minuto.<br />

A Figura 6.9 mostra as variações temporais da intensidade de luminescência atmosférica (630<br />

nm) durante as noites de observação da campanha.<br />

94


Fig. 6.8 – Conjunto de dados de cintilação coletados durante a campanha realizada no<br />

OES/INPE.<br />

95


Fig. 6.9 - Conjunto de dados de luminescência atmosférica coletados durante a campanha<br />

realizada no OES/INPE. Nos dias 10 a 13, 15 e 17 de março não foram<br />

coletados dados devido as condições climáticas desfavoráveis.<br />

Nos dias 10 a 13 e nos dias 15 e 17 de Março, não foi possível operar o fotômetro devido a<br />

condições climáticas desfavoráveis (nuvens e chuvas). Nos dias 18 e 19 de março, apesar do<br />

céu estar nublado, operou-se o fotômetro, contudo, observa-se um nível de ruído nos dados,<br />

principalmente no dia 19.<br />

6.3.2 Interpretação das observações<br />

A Figura 6.8 mostra que não foram observadas cintilações sobre o OES somente nos dias 09<br />

e 11 de março de 2002. Observa-se também que a intensidade das cintilações sobre o OES<br />

é muito mais forte que a intensidade das cintilações observadas em São Luís (SLZ). No OES,<br />

muitas vezes o índice S 4 excede 1 (efeito de foco). Esta alta intensidade de cintilação também<br />

indica uma alta densidade eletrônica da camada F que pode ser associada à Anomalia<br />

Equatorial.<br />

Em todos os dias em que foram realizadas medidas de luminescência atmosférica,<br />

observaram-se bolhas ionosféricas, com exceção do dia 09/03/2002. Neste dia, também não<br />

observaram-se cintilações nos sinais GPS no OES. No dia 11/03/2001 somente realizaram-se<br />

medidas de cintilações as quais não ocorreram sobre o OES neste dia. Uma inspeção nos<br />

dados de SLZ e São José dos Campos (SJC) para os dias 09/03/2002 e 11/03/2002 (não<br />

mostrados aqui) indica que plumas no radar e cintilações em sinais GPS foram observadas no<br />

equador e sobre SJC. Isto indica que as bolhas foram geradas no equador mas não se<br />

elevaram a uma altura suficiente para que alcançassem a latitude do OES ou que as bolhas<br />

96


foram geradas em longitudes situadas entre as longitudes do OES e SJC e por moverem-se<br />

tipicamente para leste não foram observadas no OES. No dia 09/03/2002 a bolha não foi<br />

observada nem mesmo em SJC.<br />

As latitudes dip do OES e SJC não são muito diferentes, -18,57 o e –18,01 o , respectivamente.<br />

Isto sugere que a ocorrência de cintilação sobre SJC juntamente com a ausência de<br />

cintilações sobre o OES possa estar associada ao fato destas duas estações estarem<br />

separadas longitudinalmente e apresentarem diferentes valores de declinação,<br />

OES e –20.03 o em SJC.<br />

-12.90 o no<br />

6.3.3 Comparação entre os dados de luminescência e de cintilação<br />

A Figura 6.10 mostra simultaneamente dados de luminescência e dados de cintilação para os<br />

dias em que o fotômetro pôde ser operado. Depleções da intensidade de luminescência<br />

atmosférica identificadas como bolhas ionosféricas são indicadas por setas (6). Pode-se<br />

observar que a ocorrência de cintilações, principalmente para o período antes da meia-noite<br />

local, está muito bem relacionada com a ocorrência das bolhas ionosféricas. Uma diminuição<br />

súbita da intensidade de luminescência, que caracteriza uma bolha, ocorre juntamente com o<br />

aumento da atividade de cintilação descrito pelo índice S 4 . Isto é uma evidência de que<br />

cintilações, pelo menos em sinais da Banda L, observadas em baixas latitudes são causadas<br />

por irregularidades imersas em bolhas ionosféricas.<br />

Para o período após a meia-noite local, a passagem de uma bolha ionosférica não implica na<br />

ocorrência de cintilações no sinal GPS. Isto pode ser explicado em termos do<br />

desaparecimento mais rápido das irregularidades de menores escalas de tamanho que causam<br />

as cintilações. Após a meia-noite, somente irregularidades de maior escala de tamanho ainda<br />

97


existem. Estas irregularidades podem causar ESF nos ionogramas ou depleções na<br />

intensidade de aeroluminescência, não causando efeito algum nos sinais GPS.<br />

Basu et al. (1983) realizaram estudos com medidas simultâneas de cintilações (1,54 GHz) e<br />

medidas in situ de densidade eletrônica com o satélite AE-E sobre a Ilha de Ascension (-<br />

14,4 o latitude dip). Eles observaram que as bolhas que ocorrem antes da meia noite local<br />

apresentam um desvio RMS médio da densidade eletrônica local muito maior do que<br />

apresentam as bolhas que ocorrem após a meia-noite local. As medidas de densidade<br />

eletrônica do satélite AE-E foram realizadas a uma altitude de 435 km. Isto explica a fraca<br />

intensidade de cintilações após a meia-noite local.<br />

Fig. 6.10 - Exemplos de observações de depleções na intensidade de luminescência<br />

atmosférica (bolhas ionosféricas) e cintilações para três dias da campanha de<br />

observação no OES/INPE. As setas (6) indicam a ocorrência das bolhas<br />

ionosféricas.<br />

98


Outro ponto interessante a ser observado nos dados de cintilação e luminescência atmosférica<br />

é que várias estruturas são observadas sobre o OES. Estas estruturas podem fazer parte da<br />

mesma bolha, visto que tendem a ramificar-se à medida em que alcançam maiores latitudes<br />

(Takahashi et al., 2001), ou seja, quando as bolhas alcançam maiores alturas no equador. A<br />

correspondência entre as depleções na intensidade da luminescência e aumento do índice S 4 é<br />

boa o suficiente para identificar tais estruturas a partir dos dados de cintilação mesmo estes<br />

dados sendo obtidos de vários satélites movendo-se em distintas órbitas. A diferença no<br />

tempo de início das depleções de luminescência e aumento do S 4 pode ser devido à<br />

localização (azimute) dos satélites. Satélites ao oeste podem observar as irregularidades<br />

primeiro que o fotômetro já que as bolhas se movem, em condições geomagnéticas normais,<br />

para leste. Satélites ao leste irão observar as irregularidades algum tempo depois do<br />

fotômetro.<br />

6.3.4 Extensão latitudinal das bolhas ionosféricas<br />

Combinando dados de cintilação coletados em São José dos Campos, Cuiabá, Manaus e<br />

São Luís, durante o período da campanha de observações em São Martinho da Serra,<br />

analisou-se a extensão latitudinal (em termos de latitude dip) das irregularidades ionosféricas.<br />

Considerando que as irregularidades que causam cintilação nos sinais GPS estão imersas em<br />

bolhas ionosféricas, esta também é uma estimativa da extensão latitudinal das bolhas<br />

ionosféricas.<br />

A Figura 6.11 mostra a intensidade das cintilações sobre o ponto sub-ionosférico (400km)<br />

para todos os dados coletados entre 21 e 03 UT do dia 17/03/2002. Em cada ponto subionosférico<br />

é plotado um círculo de cor correspondente à intensidade da cintilação (S 4 ).<br />

Cintilações mais intensas também são representadas por círculo maiores. Adicionalmente são<br />

mostradas isolinhas de latitude dip.<br />

99


A Figura 6.11 mostra que as cintilações podem ocorrer até mesmo em torno de -27 o de<br />

latitude dip, latitude máxima observada pelos receptores GPS. Observa-se também que a<br />

intensidade das cintilações é maior sobre a região próxima a -17 o de latitude dip. Esta é uma<br />

forte evidência do efeito da Anomalia de Appleton sobre a magnitude das cintilações e que<br />

será analisado novamente no Capítulo 8.<br />

Fig. 6.11 – Distribuição espacial das cintilações sobre o território brasileiro para o dia 17 de<br />

março de 2002, no período das 18 às 24 LT. Cintilações mais intensas são<br />

observadas na região da Anomalia Equatorial, em torno de –18 o latitude dip.<br />

100


CAPÍTULO 7<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES II: ESTUDO ESTATÍSTICO DAS<br />

CINTILAÇÕES<br />

7.1 Observações de cintilação em São José dos Campos<br />

Desde setembro de 1997, o Grupo de Ionosfera da DAE/INPE realiza observações<br />

contínuas das cintilações ionosféricas no sinal GPS (L1 = 1,575 GHz) em São José dos<br />

Campos (SJC), utilizando um receptor SCINTMON. O conjunto de dados coletados em<br />

SJC permite analisar, pela primeira vez, vários aspectos da ocorrência de irregularidades<br />

que causam cintilações no sinal GPS para baixas latitudes do setor Brasileiro de<br />

longitude, tais como:<br />

q<br />

q<br />

q<br />

Variação temporal diária de ocorrência<br />

Sazonalidade<br />

Efeitos da atividade solar sobre a ocorrência das irregularidades e intensidade<br />

das cintilações<br />

A variação do fluxo solar desde 1997 até 2002 pode ser observado na Figura 7.1,<br />

representado pelo índice F10.7, que é o fluxo solar de rádio (10,7 cm) expresso em W<br />

Hz -1 m -2 , multiplicado por 10 22 (Schunk e Nagy, 2000). Observa-se que o período de<br />

1997 ao fim de 2001 consiste de um período de crescente atividade solar, enquanto que<br />

existe uma tendência de decréscimo da atividade solar no período de janeiro à junho de<br />

2002.<br />

Para se ter uma visão geral da ocorrência de irregularidades que causam cintilações no<br />

sinal L1 do GPS, calculou-se a porcentagem mensal de ocorrência para cada minuto<br />

101


entre as 18 e as 06 horas locais. Para isto, utilizaram-se as informações gravadas nos<br />

arquivos sumários de dados coletados pelo receptor SCINTMON de SJC.<br />

Fig. 7.1 - Variação do fluxo solar representado pelo índice diário F10.7, desde janeiro<br />

de 1997 até junho de 2002<br />

A freqüência de ocorrência das irregularidades foi calculada a partir da razão entre o<br />

número de minutos em que houve ocorrência de irregularidades e o número total de<br />

minutos de observação. Assume-se uma ocorrência de irregularidade, quando pelo<br />

menos um satélite, dentro do intervalo de 1 minuto e dentro do cone de 45 o de elevação,<br />

apresenta o seu sinal cintilando com S 4 maior que um nível limite. Em geral, existem<br />

dois ou três satélites com elevação maior que 45 o . Foram considerados dois níveis<br />

limites: S 4 > 0,2, englobando cintilação cintilações fracas e fortes e S 4 > 0,5 englobando<br />

apenas casos de fortes cintilações. Com esta metodologia estuda-se a ocorrência das<br />

irregularidades que causam cintilação, independente de quantos satélites são afetados<br />

por estas irregularidades.<br />

Foram utilizados somente dados de satélites com elevação maior que 45 o com o objetivo<br />

de estudar-se a ocorrência das irregularidades na região ionosférica sobre SJC. Também<br />

foram utilizados apenas dados de dias geomagneticamente calmos. Considerou-se um<br />

dia geomagneticamente calmo, aquele dia no qual o valor do índice Kp não atingiu 4 em<br />

qualquer dos seus 8 valores diários e nos dois primeiros valores (6 horas iniciais) do dia<br />

102


seguinte. Isto assegura que não ocorreram perturbações geomagnéticas durante o<br />

período de observação e nem mesmo 18 horas antes do início das observações.<br />

Para dias nos quais não havia dados em SJC, foram utilizados dados gravados pela<br />

estação de Cachoeira Paulista (CP). A estação de CP apresenta o mesmo padrão de<br />

ocorrência de cintilação de SJC pois está localizada a apenas 110 km de SJC.<br />

A Figura 7.2 mostra a ocorrência das irregularidades que causam cintilações fracas (S 4<br />

> 0,2) e fortes (S 4 > 0,5) desde setembro de 1997 à junho de 2002. Na mesma figura é<br />

mostrada a variação do fluxo solar mensal médio. O fluxo solar médio foi calculado a<br />

partir da média aritmética dos valores diários de F10.7 para os dias utilizados na<br />

estatística de ocorrência.<br />

Fig. 7.2 – Freqüência mensal de ocorrência de irregularidades que causam cintilações<br />

fracas ou fortes (a), somente cintilações fortes (b) e variação da média<br />

mensal do fluxo solar (c).<br />

103


Pode-se observar na Figura 7.2 que a ocorrência de irregularidades sobre SJC apresenta<br />

um comportamento sazonal. Observa-se também que a ocorrência de irregularidades,<br />

principalmente aquelas que causam fortes cintilações (S 4 > 0,5), tende a aumentar com o<br />

fluxo solar, principalmente do período de 1997 a 2001. De 2001 a 2002, mesmo com o<br />

aumento do fluxo (valor máximo) de aproximadamente 1<strong>80</strong> para 240, não se observa<br />

um aumento apreciável da ocorrência de irregularidades. Contudo, os gráficos (a) e (b)<br />

da Figura 7.2 apresentam uma visão geral da ocorrência de irregularidades sobre SJC e<br />

de como esta ocorrência variou com o fluxo solar durante o período das observações<br />

desde 1997 até 2002, considerando-se apenas os dias geomagneticamente calmos.<br />

A Figura 7.3 mostra a variação ao longo dos anos e também ao longo das horas de<br />

observação da ocorrência das irregularidades ionosféricas (S 4 > 0,2). Os dados<br />

utilizados nos gráficos da Figura 7.3 são os mesmos que foram utilizados para gerar o<br />

gráfico de cores da Figura 7.2, entretanto, para a Figura 7.3, os dados foram suavizados<br />

utilizando uma média corrida de 15 pontos (ou 15 minutos).<br />

Nas próximas seções serão analisados alguns aspectos dos resultados mostrados nas<br />

Figuras 7.2 e 7.3, tais como: (i) variação temporal ao longo da noite da ocorrência das<br />

irregularidades, (ii) variação da ocorrência das irregularidades ao longo do ano e sua<br />

sazonalidade, e (iii) efeito do fluxo solar sobre a ocorrência das irregularidades.<br />

104


Porcentagem de Ocorrência<br />

Fig. 7.3 - Porcentagem de ocorrência das irregularidades ionosféricas que causam S 4 ><br />

0,2 para os anos de 1997/1998, 1998/1999, 1999/2000, 2000/2001 e<br />

2001/2002.<br />

7.2 Variação temporal diária<br />

Na Figura 7.4 é mostrada a variação temporal média da ocorrência de cintilações ao<br />

longo da noite. Cada curva representa uma temporada (ou período) de ocorrência de<br />

cintilações. Por exemplo, para a temporada 1997-1998 foi calculada a média de<br />

ocorrência (S 4 > 0,2), a cada 15 minutos, com os dados dos meses de setembro de 1997<br />

a abril de 1998. Os dados utilizados neste gráfico são os mesmos utilizados nos gráficos<br />

das Figuras 7.2 e 7.3. Na legenda da Figura 7.4 também é indicado o valor de fluxo<br />

solar médio durante o período de cada temporada (setembro a abril).<br />

105


Fig. 7.4 – (a) Variação temporal média da ocorrência de irregularidades que causam S 4<br />

> 0,2 sobre São José dos Campos para diversas temporadas de ocorrência.<br />

A Figura 7.4 indica que as irregularidades começam a ser observadas em SJC em torno<br />

das 20:00 LT e duram até as 02:00 LT. A máxima ocorrência ocorre em torno das 22:00<br />

LT. Na temporada de mais baixa atividade solar (1997-1998), as irregularidades<br />

começam a ser observadas mais tarde e não duram tanto tempo como nos demais anos.<br />

Este período de ocorrência está de acordo com trabalhos prévios, como por exemplo<br />

(Basu e Basu, 1985; Kil et al., 2002). As irregularidades que causam cintilações em<br />

sinais com freqüência na faixa de GHz estão imersas em bolhas ionosféricas que são<br />

geradas no equador magnético logo após o pôr-do-sol e demoram aproximadamente 1,5<br />

hora (sob condições de atividade solar máxima) para alcançar uma altura no equador<br />

suficiente para mapear na latitude de SJC (Abdu et al., 1998).<br />

A Figura 7.4 também mostra que o período de ocorrência das irregularidades que<br />

causam cintilação no sinal GPS é mais curto que o período de ocorrência das<br />

irregularidades que causam espalhamento nos ionogramas (Abdu et al., 1998; Abdu et<br />

al., 2000). Este resultado está de acordo com as comparações realizadas no Capítulo 6,<br />

onde sugeriu-se que as irregularidades que causam cintilação apresentam um<br />

decaimento mais rápido que as irregularidades que causam espalhamento nos<br />

ionogramas devido a sua menor escala de tamanho. As irregularidades que causam<br />

cintilação nos sinais GPS são observadas até aproximadamente 02:00 LT, enquanto que<br />

106


as irregularidades que causam espalhamento nos ionogramas duram até<br />

aproximadamente o amanhecer local.<br />

É importante salientar que a ocorrência de irregularidades que causam cintilações é<br />

possível de ser observada após 02:00 LT. A geração de irregularidades após o período<br />

normal de sua ocorrência está associada à distúrbios geomagnéticos e conseqüente<br />

dínamo perturbado e penetração de campos elétricos gerados em altas latitudes.<br />

Irregularidades geradas por distúrbios geomagnéticos não são abordadas neste trabalho.<br />

7.3 Sazonalidade<br />

Na Figura 7.5 é mostrada a porcentagem de tempo, entre 20:00 e 01:00 LT, no qual<br />

observou-se a ocorrência de cintilações com S 4 > 0,2 e S 4 > 0,5. Novamente, esta<br />

estatística é calculada somente para satélites com elevação acima de 45 o e para dias<br />

geomagneticamente calmos. A partir desta figura é possível observar mais claramente o<br />

comportamento sazonal da ocorrência das irregularidades que causam cintilação no<br />

sinal de GPS. As irregularidades ocorrem predominantemente nos meses de setembro a<br />

abril.<br />

Esta sazonalidade está de acordo com trabalhos prévios de estatística de ocorrência do<br />

ESF em ionogramas (Abdu et al., 1992; Abdu et al., 1998 e Abdu et al., 2000) e<br />

estatística de ocorrência de bolhas (Sobral et al., 2002) para dados coletados em CP.<br />

Tanto o ESF em ionogramas quanto as bolhas ionosféricas são geradas pelos mesmos<br />

processos de instabilidade de plasma, apesar de envolverem escalas de tamanho<br />

distintas. O espalhamento nos ionogramas pode ser causado por irregularidades<br />

quilométricas locais ou irregularidades localizadas na porção inferior da camada F.<br />

Somente a ocorrência simultânea de ESF nos ionogramas de São Luís (SLZ) e de CP<br />

107


pode ser considerado como evidência da ocorrência de bolhas ionosféricas que se<br />

estendem desde o equador até a latitude magnética de CP.<br />

Fig. 7.5 - Porcentagem do tempo entre as 20:00 e 01:00 LT no qual foram observadas<br />

irregularidades que causam cintilações com S 4 > 0,2 e com S 4 > 0,5 no sinal<br />

GPS em função do mês, para o anos de 1997 a 2002.<br />

A ocorrência de irregularidades durante o solstício de dezembro e meses de equinócio é<br />

explicada em termos da configuração da linha do terminador noite-dia em relação ao<br />

meridiano magnético. Durante estes meses, o vento termosférico sopra através do<br />

terminador noite-dia com um pequena componente meridional. Esta configuração<br />

favorece o surgimento do campo elétrico de pré-reversão devido ao alto gradiente<br />

longitudinal da condutividade Pedersen das camadas E conjugadas (Abdu et al., 1992).<br />

A Figura 7.6 mostra valores de deriva vertical equatorial da camada F em função da<br />

hora local para 4 setores de longitude, conforme modelo empírico baseado em medidas<br />

108


ealizadas pelo satélite Atmosphere Explorer E (AE-E) (Fejer et al., 1995). Os valores<br />

de deriva vertical para o setor Brasileiro seriam próximos àqueles mostrados para o<br />

setor de 320 o Leste. Segundo a Figura 7.6, observa-se um pico pré-reversão apenas no<br />

período de setembro a abril, exatamente quando observa-se a ocorrência das<br />

irregularidades ionosféricas que causam cintilação nos sinais GPS, espalhamento nos<br />

traços de ionogramas e depleções na intensidade de aeroluminescência atmosférica.<br />

Fig. 7.6 - Modelo empírico de deriva vertical do plasma ionosférico em 4 setores de<br />

longitude e para três períodos do ano (-o-). Estes resultados são válidos para<br />

atividade magnética baixa e atividade solar moderada a alta. No setor de 260 o<br />

L, também são mostrados os valores de deriva vertical, medidos pelo radar de<br />

Jicamarca (⎯) para condições magnéticas e solares similares.<br />

Fonte: Fejer et al. (1995, p. 5774).<br />

Como visto no Capítulo 4, um campo elétrico de pré-reversão intenso atua de duas<br />

maneiras na geração do ESF. A primeira maneira estaria relacionada ao aumento do<br />

termo de deriva de plasma (E×B) na taxa de crescimento da instabilidade RT (Equação<br />

109


3.1). A segunda maneira estaria relacionada ao termo de colisão, pois um campo elétrico<br />

intenso faria com que a camada subisse até alturas onde a freqüência de colisão é<br />

pequena, fazendo com que o termo (g/ν in ) também aumentasse a taxa de crescimento<br />

das instabilidades.<br />

7.4 Efeito do fluxo solar<br />

Nas Figuras 7.2, 7.3 e 7.4 observa-se que o fluxo solar também parece atuar de forma a<br />

aumentar a ocorrência das irregularidades que causam cintilações. A Figura 7.7 (a)<br />

mostra a porcentagem mensal do tempo entre às 20:00 e 01:00 LT no qual observa-se a<br />

ocorrência de irregularidades causando cintilações (mesmos valores da Figura 7.5). No<br />

painel (b) é mostrada a média mensal do índice F10.7.<br />

(a)<br />

(b)<br />

Fig. 7.7 – (a) porcentagem mensal do tempo (21:00 - 01:00 LT) no qual são observadas<br />

irregularidades que causam cintilações. (b) Variação do fluxo solar.<br />

Apesar da relação entre F10.7 e a ocorrência de irregularidades não ser exatamente<br />

proporcional, observa-se que a ocorrência aumenta com o fluxo solar, principalmente da<br />

temporada 1997/1998 a 1999/2000 para irregularidades que causam cintilação com S 4 ><br />

110


0,2 e da temporada 1997/1998 a 2000/2001 para irregularidades que causam cintilação<br />

com S 4 > 0,5.<br />

Apesar do fluxo solar aumentar consideravelmente da temporada de 2000/2001 para<br />

2001/2002, a ocorrência das irregularidades não aumenta muito. A Figura 7.4 ilustra<br />

bem este efeito. Com o aumento do fluxo de solar (F10.7) médio de 99 (1997-1998)<br />

para 131 (1998-1999) e, logo em seguida, para 172 (1999-2000), a ocorrência das<br />

irregularidades apresenta um sensível aumento. Contudo, a variação do fluxo solar para<br />

165 (2000-2001) e 208 (2001-2002) não causa uma variação tão apreciável na<br />

ocorrência.<br />

Este efeito pode estar relacionado à saturação da densidade eletrônica ambiente que não<br />

variaria muito após um certo nível de F10.7 e também a um valor limite de ocorrência<br />

de bolhas, ou seja, a ocorrência de bolhas ionosféricas não aumentaria muito após um<br />

certo nível de F10.7. Chen et al., 2000 realizaram um estudo estatístico do efeito de<br />

saturação do foF2 em regiões próximas ao pico da Anomalia de Appleton. A saturação<br />

do foF2 ocorreu quando o número de manchas solares era próximo de 120 (F10.7 ~<br />

150).<br />

Outra explicação possível para que a ocorrência das irregularidades não varie muito de<br />

2000/2001 para 2001/2002 é o movimento do pico da Anomalia Equatorial. A<br />

localização do pico da Anomalia Equatorial tende a se afastar do equador magnético<br />

com o aumento da atividade solar. Com o aumento da atividade solar o pico préreversão<br />

é intensificado e o plasma equatorial é depositado em maiores latitudes. É<br />

possível que, com o aumento do fluxo solar o pico da Anomalia de Appleton se situe em<br />

latitudes maiores que a de SJC, fazendo com que a intensidade e ocorrência das<br />

cintilações observadas diminuam.<br />

Tanto a explicação com base no fenômeno de saturação, quanto a explicação com base<br />

no movimento do pico da Anomalia Equatorial são hipóteses e maiores estudos devem<br />

111


ser realizados no futuro com medidas simultâneas de cintilações, CET e deriva vertical<br />

do plasma no equador.<br />

Abdu et al. (1983b) sugeriram a necessidade de que a camada F atingisse uma altura<br />

mínima para que ocorresse o ESF enquanto Fejer et al. (1999) mostraram que a<br />

velocidade do pico pré-reversão aumenta com o fluxo solar. Com o aumento da<br />

velocidade do pico pré-reversão, existe uma maior probabilidade da camada atingir a<br />

altura mínima para a ocorrência do ESF, explicando a maior ocorrência de<br />

irregularidades durante períodos de alta atividade solar. Além disso, durante período de<br />

atividade solar alta, as bolhas ionosféricas nas quais as irregularidades estão imersas<br />

podem alcançar mais facilmente a latitude de SJC. Isto também faz com que a<br />

porcentagem de ocorrência aumente com o fluxo solar.<br />

A Figura 7.8 mostra um gráfico da distribuição dos valores de S 4 observados durante o<br />

período das 18:00 às 06:00 LT. Para a geração deste gráfico foram utilizados todos os<br />

dados de satélites com elevação maior que 45 o . Os valores de S 4 estão distribuídos por<br />

faixas e por mês, desde setembro/97 até junho/02, juntamente com a variação da média<br />

mensal do F10.7. Este gráfico nos dá informação sobre a probabilidade de se encontrar<br />

valores de S 4 dentro de uma determinada faixa, como por exemplo, de 0,2 a 0,3 ou de<br />

0,3 a 0,4 e assim por diante em um dado mês do conjunto de dados analisados. Este<br />

gráfico também mostra que a ocorrência de cintilações com maior intensidade tende a<br />

aumentar com o fluxo solar. Por exemplo, na temporada de ESF 1997/1998, as<br />

cintilações não excederam 0,4 enquanto que nas temporadas 2000/2001 e 2001/2002<br />

observou-se aproximadamente 2 a 3% das cintilações com valores na faixa de 0,9 a 1,1.<br />

Na Figura 7.9 é mostrado o resultado do cálculo da distribuição cumulativa dos valores<br />

de S 4 observados em SJC em um gráfico do tipo contorno. Diferente da distribuição por<br />

faixas, a distribuição cumulativa calcula a porcentagem de ocorrência do S 4 acima de<br />

determinados valores, por exemplo S 4 >0,2, S 4 >0,3 e assim por diante. Este gráfico<br />

também mostra que maiores magnitudes de S 4 são mais facilmente observadas durante<br />

112


os períodos de maior atividade solar. Em novembro de 1997, valores de S 4 > 0,35<br />

apresentam uma probabilidade de ocorrência menor que 5%, enquanto que em<br />

novembro de 2001, esta mesma probabilidade é observada para S 4 > 0.9.<br />

Fig. 7.8 – (a) Distribuição de índices S 4 observados por faixas de valores e (b) fluxo<br />

solar médio mensal.<br />

As Figuras 7.8 e 7.9 mostram ainda que existem picos de maior intensidade das<br />

cintilações que ocorrem no período de setembro/outubro e março/abril. Estes picos<br />

podem ser causados por dois motivos: (i) durante estes meses, o pico pré-reversão do<br />

campo elétrico é mais intenso (Figura 7.6), fazendo com que a densidade eletrônica na<br />

região da Anomalia de Appleton seja mais pronunciada. (ii) A maior intensidade das<br />

cintilações também pode estar associada à maior densidade eletrônica ambiente que<br />

ocorre nos equinócios. Souza (1992) fez um estudo do CET sobre Cachoeira Paulista e<br />

observou maiores valores da Anomalia de Appleton noturna durante os meses de<br />

113


março/abril e setembro/outubro, o que está de acordo com a explicação para as maiores<br />

intensidades das cintilações.<br />

Fig. 7.9 – (a) Distribuição cumulativa mensal dos valores de S 4 e (b) fluxo solar médio<br />

mensal.<br />

A partir dos dados das Figuras 7.8 e 7.9 e de acordo com a teoria das cintilações pode-se<br />

supor que o desvio RMS de densidade (∆N) ou a largura da camada que contém as<br />

irregularidades (L) aumenta com o fluxo solar. Lembrando que ∆N/N = α.δE ou que<br />

∆N = α.N.δE, (α é uma constante de proporcionalidade) pode-se associar o aumento de<br />

∆N ao aumento da ionização ambiente N ou ao aumento do campo elétrico de<br />

perturbação δE. O aumento da ionização com o fluxo solar é um efeito bastante<br />

conhecido, contudo não existem muitas informações sobre a variação do δE com o ciclo<br />

solar.<br />

114


Na Figura 7.9 é possível observar também que somente no mês de março do ano 2002<br />

ocorreu um aumento da magnitude das cintilações com relação ao ano de 2001. Nesta<br />

época o fluxo solar estava diminuindo e o pico da Anomalia Equatorial tende a ocorrer<br />

em menores latitudes, podendo ocorrer então sobre SJC novamente fazendo com que a<br />

ocorrência de irregularidades aumente. A Figura 7.7 também mostra que a ocorrência<br />

das irregularidades apresentou uma tendência de aumento no mês de março de 2002.<br />

115


CAPÍTULO 8<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES III: MEDIDAS DE CET E CINTILAÇÕES<br />

O Conteúdo Eletrônico Total (CET) derivado de observáveis GPS vem cada vez mais<br />

sendo utilizado por diversos autores para estudos da climatologia ionosférica, criação de<br />

mapas regionais ou globais da distribuição do CET vertical (CETV) (Jakowski, 1996;<br />

Manucci et al., 1998; Kantor et al., 2000) e mais recentemente para estudar a dinâmica<br />

da ionosfera equatorial (Mendillo et al., 2000; Valladares et al., 2001 e Mendillo et al.,<br />

2001). Atualmente, a DAE/INPE também possui um projeto de estudo dos efeitos das<br />

tempestades magnéticas sobre o CETV.<br />

Com o objetivo de aprender um pouco mais sobre a estimativa do CET a partir de dados<br />

de observáveis GPS e estudar o comportamento do CETV sobre o território Brasileiro<br />

durante eventos da camada F espalhada (ESF), a DAE/INPE adquiriu dois receptores do<br />

tipo dupla-freqüência (receptores TurboRogue ICS-4000Z). A descrição destes<br />

receptores e dos dados que eles geram é apresentada no Capítulo 5 desta dissertação.<br />

Neste capítulo são apresentados alguns resultados referentes a medidas do CET a partir<br />

das observáveis GPS. Estes resultados incluem a observação de flutuações de CET<br />

devido a bolhas ionosféricas, variação diária do CETV sobre São José dos Campos<br />

(SJC) e São Luís (SLZ), perfis latitudinais do CET, dentre outras observações.<br />

Os dois receptores ICS-4000Z foram estrategicamente instalados em SLZ, no equador<br />

magnético, e SJC, localizado próximo ao pico da Anomalia de Appleton, que localiza-se<br />

nominalmente em aproximadamente 15 o de latitude dip Norte e Sul. A localização<br />

destes receptores permite estudar o CETV em uma faixa de latitudes dip que varia desde<br />

aproximadamente +10 o até aproximadamente –30 o no caso de serem utilizados dados de<br />

satélites GPS com elevação maior que 20 o .<br />

117


A Figura 8.1 mostra a localização dos dois receptores e os círculos que compreendem a<br />

máscara de 20 o de elevação considerando-se pontos sub-ionosféricos a 400 km de<br />

altura.<br />

Fig. 8.1 – Localização dos receptores GPS em São Luís (SLZ) e São José dos Campos<br />

(SJC). Isolinhas de latitude dip também são mostradas.<br />

A estação GPS de SLZ operou de forma contínua desde janeiro de 2001 até fevereiro de<br />

2002, enquanto que a estação de SJC operou de forma não-sistemática de agosto de<br />

2001 a dezembro de 2001. A estação de SJC começou a operar de forma contínua a<br />

partir de janeiro de 2002 até outubro de 2002. Nos primeiros meses de operação, a<br />

estação de SJC apresentou interrupções na coleta de dados devido a problemas no<br />

receptor. Apesar de poder-se analisar a variação sazonal do CETV em SLZ durante o<br />

118


ano de 2001, casos de medidas simultâneas do CET em SLZ e SJC não foram<br />

freqüentes.<br />

É importante salientar que o CET medido pelo GPS é resultado dos elétrons na<br />

ionosfera mais os elétrons da plasmasfera (localizada em altitudes maiores que 1000<br />

km) e, com isto, o CETV medido pelo GPS não representa apenas o valor da densidade<br />

total ionosférica mas também a densidade plasmasférica. Prótons (H + ) são os íons<br />

positivos predominantes na plasmasfera e por isto, a protonosfera é usada como<br />

sinônimo da plasmasfera (Davies, 1990). Estudos da contribuição da protonosfera no<br />

CET medido pelo GPS ainda estão sendo realizados (por exemplo, Lunt et al., 1999)<br />

para casos limitados.<br />

8.1 Medidas do CET<br />

Como citado anteriormente, desenvolveu-se um pacote de rotinas computacionais para<br />

estimativa do CET. Estas rotinas calculam o CET a partir das observáveis GPS (pseudodistância<br />

e pseudo-fase). O princípio teórico no qual baseou-se para estimativa do CET<br />

foi descrito no Capítulo 4 (Seção 4.2). A metodologia para o cálculo do CET e posterior<br />

CETV foi descrito no Capítulo 5 (Seção 5.2.3). Em resumo, pode-se dizer que o CET é<br />

proporcional à diferença entre as pseudo-distâncias medidas pelo sinal L1 e L2 mais as<br />

correções devido ao atraso instrumental dos satélites e dos receptores.<br />

8.2 Flutuação de CET e cintilações<br />

Nesta seção são apresentados alguns exemplos da detecção de bolhas ionosféricas<br />

utilizando medidas simultâneas de CET e amplitude do sinal (razão sinal ruído do<br />

código C/A em L1). As bolhas ionosféricas causam grandes flutuações no CET<br />

juntamente com a cintilação do sinal GPS. A ocorrência de cintilações associadas a<br />

flutuações do CET, com medidas utilizando receptores GPS, foi mostrada recentemente<br />

119


por alguns autores, como por exemplo (Beach e Kintner, 1999 e Kil et al., 2000). As<br />

cintilações ocorrem devido a irregularidades ionosféricas de menores escalas de<br />

tamanho (< 1 km) imersas nas bolhas ionosféricas.<br />

As Figuras 8.2 e 8.3 mostram dois exemplos nos quais observa-se a cintilação no sinal<br />

L1 do GPS simultaneamente à ocorrência de perturbações de CET associadas a bolhas<br />

ionosféricas. Cada unidade CET ou UCET corresponde a 1x10 16 elétrons/m 2 . Estas são<br />

observações típicas, facilmente encontradas durante o período de ocorrência do ESF no<br />

Brasil (setembro à abril).<br />

Fig. 8.2 – Exemplo de medidas simultâneas do CET vertical (painel superior) e<br />

flutuações na amplitude do sinal GPS (painel central) realizadas em SJC<br />

para o dia 04/12/2001 e satélite PRN 01. No painel inferior também é<br />

mostrada a elevação do satélite.<br />

120


Fig. 8.3 – Mesmo que em 8.1, mas para o dia 30/11/2001 e satélite PRN 13.<br />

As Figuras 8.2 e 8.3 também mostram alguns períodos de tempo com falhas de dados.<br />

Estas falhas ocorrem por que o arquivo de dados apresenta valores incorretos de<br />

elevação, como por exemplo elevações maiores que 90 o . Quando o valor de elevação<br />

está incorreto a rotina computacional desenvolvida neste trabalho desconsidera os<br />

valores de pseudo-distância e pseudo-fase. Estes valores não são considerados porque,<br />

sem os valores de elevação, não é possível calcular o CET vertical.<br />

Uma análise dos dados mostra que estas falhas ocorrem principalmente durante<br />

cintilações, mas também podem ocorrer, com menor freqüência, durante períodos sem<br />

cintilações. Este problema com os dados pode ser uma evidência do efeito das<br />

cintilações na perda de sinal pelo receptor ou um problema no programa de conversão<br />

de arquivos binários para arquivos texto.<br />

121


8.3 Variação Diária do CET Vertical<br />

A partir das observáveis GPS coletadas, determinou-se a variação do CET vertical<br />

(CETV) através da relação dada pela Equação (4.54), que converte o valor de CET<br />

medido obliquamente (com elevação E) para o seu valor equivalente na direção vertical.<br />

Para a determinação da variação diária do CETV somente foram utilizados dados de<br />

satélites com elevação maior que 50 o . Este critério foi adotado para evitar influências na<br />

determinação do CET vertical causadas por gradientes espaciais de densidade. Cabe<br />

lembrar também que o método utilizado para obtenção do CETV considera uma<br />

ionosfera horizontalmente estratificada sem gradientes. A desvantagem de se trabalhar<br />

somente com dados de satélites dentro de um cone de elevação é que existem períodos<br />

do dia nos quais não existem satélites com a elevação mínima. Contudo, os valores de<br />

CET para os intervalos de tempo nos quais não existem satélites com a elevação mínima<br />

podem ser estimados por técnicas de interpolação.<br />

Na Figura 8.4 são mostrados resultados do cálculo da variação do CETV em SLZ e SJC<br />

para o dia 22/09/2001. Nos painéis superiores (a1 e b1) são mostrados valores de CETV<br />

obtidos através de medidas de código e de fase para SJC e SLZ, respectivamente. Nos<br />

painéis inferiores (a2 e b2) são mostrados valores médios do CETV calculados para<br />

intervalos de 30 minutos. Observa-se que existem períodos de tempo nos quais não<br />

existem estimativas do CETV. Isto ocorre devido à ausência de satélites com elevação<br />

maior que 50 o naquele dado intervalo de tempo.<br />

122


Fig. 8.4 – Curvas de variação do CET vertical sobre SJC (a1) e SLZ (b1) para o dia<br />

22/09/2001, obtidas através de medidas de código (•) e fase (•). Em (a2) e<br />

(b2) são mostrados valores médios (30 minutos) do CETV para SJC e SLZ,<br />

respectivamente.<br />

Observa-se que, na Figura 8.4, a curva do CETV para SJC apresenta um pico<br />

secundário entre aproximadamente 20:00 e 23:00 LT. Este pico é causado pelo forte<br />

Efeito Fonte associado ao pico pré-reversão do campo elétrico zonal equatorial, que<br />

ocorre em torno das 18:00 LT e que eleva o plasma da região equatorial. Algum tempo<br />

depois este plasma se difunde ao longo das linhas de campo magnético até baixas<br />

latitudes criando a Anomalia Equatorial. Além do aumento do CETV, também observase<br />

flutuações do CETV neste período. Estas flutuações do CETV são depleções do<br />

plasma causadas por bolhas ionosféricas.<br />

Na Figura 8.5 é mostrada a variação diária do CETV em SJC e SLZ para o dia<br />

09/08/2001. De acordo com os dados de cintilação apresentados no Capítulo 7, agosto é<br />

123


um mês no qual a ocorrência de irregularidades é muito baixa (ver Figura 7.4). Neste<br />

período a camada não atinge elevadas altitudes devido à fraca deriva vertical E×B no<br />

equador. Isto faz com que o valor da taxa de crescimento da instabilidade Rayleigh-<br />

Taylor (γ) não seja tão elevado e o Efeito Fonte não seja observado.<br />

Fig. 8.5 - Mesmo que 8.4 mas para o dia 09/08/2001.<br />

A análise da variação diária do CETV em SLZ e SJC mostra que a Anomalia Equatorial<br />

em termos de CETV não aparece no período diurno. Os exemplos dos dias 22/09/2001 e<br />

09/08/2001 nas Figuras 8.4 e 8.5 mostram que o CETV é maior em SLZ do que SJC<br />

durante o dia.<br />

124


8.4 Estimativa da ocorrência de irregularidades através de medidas do CET<br />

Também foi estudado um método para identificar a ocorrência das irregularidades<br />

ionosféricas, a partir das flutuações de CETV (medido por diferença de fase). Para isto,<br />

estimou-se a flutuação de CETV medido por cada satélite a cada intervalo de 5 minutos<br />

durante todo o decorrer do dia.<br />

Para se ter uma estimativa da taxa da variação ou flutuação do CETV calculou-se o<br />

desvio RMS (“Root-Mean-Square”) a partir de uma interpolação linear, ou seja, para<br />

cada intervalo de 5 minutos (e para cada satélite) calculou-se um reta que ajusta o<br />

conjunto de valores de CETV para aquele intervalo de tempo. Desta forma, o desvio de<br />

CET é dado por:<br />

∑ ( CETVi<br />

− Pi<br />

)<br />

i 1<br />

Desvio RMS = = M<br />

M<br />

2<br />

(8.1)<br />

Onde, CETV i é valor do i-ésimo ponto do conjunto de dados; P i é o valor da reta que<br />

ajusta o conjunto de valores para o ponto i; e M é o número total de pontos dentro do<br />

intervalo de 5 minutos.<br />

Existem várias maneiras possíveis de calcular o desvio de CET ou CETV, entretanto,<br />

adotou-se este método pois alguns autores mencionam que a magnitude das cintilações<br />

depende, além de outros fatores, do desvio RMS de densidade integrada ao longo do<br />

caminho de propagação, dentro da largura L da camada de irregularidades. Cabe<br />

lembrar que o desvio RMS do CETV não é o mesmo desvio RMS de densidade que dá<br />

origem às cintilações, contudo, ambos podem estar relacionados. A ocorrência de<br />

flutuações de CETV indica a ocorrência de flutuações locais de densidade. Contudo, é<br />

possível que se tenha flutuações de CET sem que se observe nenhum efeito de<br />

cintilação.<br />

125


O desvio RMS foi calculado a partir de uma reta que ajusta o conjunto de pontos para<br />

evitar valores de desvio causados por alguma tendência natural do conjunto de dados. A<br />

Figura 8.6 mostra um gráfico no qual são mostrados valores de CETV, as retas<br />

calculadas a cada intervalo de 5 minutos e o desvio RMS resultante.<br />

É importante salientar que, ao tomarmos intervalos de 5 minutos de dados faz-se com<br />

que sejam analisadas flutuações com períodos entre 2 segundos e 10 minutos, segundo o<br />

critério de Nyquist. Considerando uma velocidade média de aproximadamente 100 m/s<br />

(de Paula et al., 2002a), isto significa que o desvio RMS calculado é sensível à<br />

estruturas com escalas de tamanho entre 200 m e 6 km.<br />

Fig. 8.6 - Em (a) é mostrada uma curva de CETV (em cinza) e as várias retas que<br />

ajustam conjuntos de 5 minutos de dados (em preto). Em (b) é mostrado o<br />

valor de desvio RMS resultante (no tempo de início de cada 5 minutos).<br />

126


8.5 Desvio RMS do CET em São Luís e São José dos Campos<br />

Logo após obterem-se os valores de desvio RMS do CETV, os resultados para dados de<br />

SJC e SLZ foram comparados. Para comparação do desvio de CETV em SLZ e SJC, foi<br />

escolhido o dia 22/09/2001. Calculou-se então o desvio de CETV para os dados de<br />

todos os satélites disponíveis durante o dia (12 às 24 LT) e com elevação maior que 50 o .<br />

O resultado é apresentado na Figura 8.7. Nos painéis (a1) e (b1) são mostrados os<br />

valores de CETV para SJC e SLZ, respectivamente. Nos painéis (a2) e (b2) são<br />

mostrados os valores desvio RMS do CETV para SJC e SLZ. De acordo com estes<br />

dados, o desvio RMS de CET é muito maior durante o período noturno quando as<br />

irregularidades ionosféricas se desenvolvem. O desvio de CETV também é muito maior<br />

em SJC do que em SLZ. Na Figura 8.7 (a3) e (b3) também são mostrados os dados de<br />

cintilação coletados por receptores SCINTMON para satélites com elevação maior que<br />

50 o . Estudos de de Paula et al. (2002b) e Rodrigues et al. (2002b) realizados para dados<br />

de cintilação de épocas distintas também mostraram que o S 4 aumenta significantemente<br />

com a latitude dip até a aproximadamente a latitude de SJC.<br />

A Figura 8.8 mostra a porcentagem de ocorrência de cintilações nos sinais GPS, com<br />

dados coletados por três monitores de cintilação instalados em SLZ (-1.73 o latitude dip),<br />

Cuiabá – CBA (-6.56 o latitude dip), e SJC (-18,01 o latitude dip) para o período de<br />

janeiro à março de 2000. A Figura 8.8 representa o resultado principal de uma análise<br />

da variação latitudinal dos valores de S 4 observados no Território Brasileiro e que foi<br />

realizada recentemente por de Paula et al.(2002b). Para esta análise foram utilizados<br />

dados coletados simultaneamente nas três estações (SLZ, CBA e SJC) durante os meses<br />

de janeiro, fevereiro e março de 2000. Para esta estatística foram utilizados todos os<br />

dados disponíveis de satélites com elevação maior que 45 o .<br />

127


Fig. 8.7 – Exemplo da diferença de desvio RMS do CETV observado em SJC e SLZ.<br />

Nos painéis à esquerda são mostrados os valores de CETV (a1), desvio RMS<br />

(a2) e S 4 (a3) para SJC, enquanto que os painéis à direita mostram os mesmos<br />

valores para SLZ.<br />

Observa-se nos dados da Figura 8.8, o claro aumento da porcentagem de cintilações<br />

com o aumento da latitude dip. Em SLZ, praticamente não foram observadas cintilações<br />

com S 4 > 0,3, enquanto que em CBA apenas cintilações com S 4 > 0,5 não foram<br />

observadas. Em SJC, cintilações com S 4 > 0,5 representam mais que 20% do total<br />

observado às 24:00 UT (~21:00 LT).<br />

O aumento do S 4 com a latitude tem sido explicado em termos do CET que aumenta<br />

consideravelmente com a latitude durante o período noturno quando o pico secundário<br />

de densidade causado pela Anomalia Equatorial se desenvolve (Basu et. al, 1988;<br />

Aarons, 1982; de Paula et al., 2002b). As medidas de CETV apresentadas na Figura 8.7<br />

(e demais que serão apresentadas posteriormente) mostram o acentuado aumento do<br />

CETV na latitude de SJC no período das 20:00-24:00 LT. Supondo que a amplitude das<br />

128


irregularidades (∆N/N) se mantenha constante ao longo das linhas de campo é esperado<br />

que ∆N também aumente consideravelmente na latitude de SJC como foi mostrado em<br />

termos de desvio RMS na Figura 8.7. Isto explicaria a ocorrência de cintilações mais<br />

intensas com o aumento da latitude.<br />

Fig. 8.8 – Ocorrência de cintilações de diferentes intensidades para três estações de<br />

observação no Território Brasileiro.<br />

8.6 Variação sazonal do CETV em São Luís<br />

Nesta seção são apresentados resultados da variação sazonal do CETV observado em<br />

SLZ. Nesta estação de observação, os dados de CET foram coletados de janeiro de 2001<br />

até fevereiro de 2002 e, com isto, foi possível determinar o valor médio mensal do<br />

CETV para todo o ano de 2001.<br />

129


Tabela 8.1 – Dias utilizados para o cálculo do CETV médio mensal em SLZ (• indica<br />

dias com 24 horas de dados e ∆ dias com menos de 24 horas de dados).<br />

2001 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez<br />

1 ∆ • • • ∆ ∆ ∆ •<br />

2 • • • • •<br />

3 • • • • • ∆ ∆<br />

4 • • • • • • • •<br />

5 • • • • • • ∆ ∆ ∆<br />

6 • • • • • • • • • •<br />

7 • • • ∆ • • • • • • •<br />

8 • • • • • • • ∆ • ∆<br />

9 • • • ∆ • • • •<br />

10 ∆ • • • • • • • •<br />

11 • • • • •<br />

12 • • • • • • • ∆ •<br />

13 • • • • • • ∆ • ∆<br />

14 • • • • ∆ • • • • •<br />

15 • • • • • • ∆ • ∆ •<br />

16 • • • • • • • • •<br />

17 ∆ • ∆ ∆ • • • • •<br />

18 • • • • • • • •<br />

19 • • • • • • • • ∆<br />

20 • • • • • • • • • • •<br />

21 • • • • • • • • •<br />

22 • • • • • • • • • • •<br />

23 • • • • • • • •<br />

24 • • • • • • • • • •<br />

25 • • • • • • • • • •<br />

26 • • • • • • • • • •<br />

27 • • • • • • • • • •<br />

28 • • • • • • • • • • •<br />

29 • • • • • • • • •<br />

30 • • • • • • • • •<br />

31 • • • • •<br />

Para cada dia, foi gerada uma curva da variação diária do CETV com valores médios a<br />

cada 30 minutos. A partir destas curvas diárias foram calculadas curvas médias mensais<br />

da variação diária do CETV para cada mês do ano de 2001. Para obtenção das curvas<br />

médias mensais foram utilizados todos os dias de dados disponíveis em cada mês. As<br />

curvas médias mensais possuem valores de CETV a cada 30 minutos. Também foi<br />

130


calculado o valor de desvio padrão para cada ponto da curva mensal média. A tabela 8.1<br />

indica os dias, em cada mês de 2001, cujos dados foram utilizados para o cálculo da<br />

curva média. Nesta tabela também são indicados os dias com 24 horas de dados<br />

(indicados pelo símbolo •) e os dias no quais haviam dados para apenas algumas horas<br />

(indicados pelo símbolo ∆).<br />

A Figura 8.9 mostra a variação média do CETV para cada mês de 2001, juntamente<br />

com barras de erro que correspondem ao desvio padrão do CETV. Na Figura 8.10(a) os<br />

dados de CETV da Figura 8.9 são apresentados em grupos de 3 meses para uma melhor<br />

visualização dos valores. Na Figura 8.10(b) os dados de CETV são mostrados em um<br />

gráfico do tipo hora local versus mês para uma melhor visualização da variação sazonal.<br />

Fig. 8.9 – Médias mensais com desvio padrão do CETV sobre São Luís em 2001.<br />

Observa-se nas Figuras 8.9 e 8.10 que a variação diária do CETV sobre SLZ apresenta<br />

um máximo que ocorre no período entre 12:00 e 18:30 LT e um mínimo que ocorre em<br />

torno das 04:30 e 06:00 LT. Observa-se também que a variação diária do CETV alcança<br />

131


valores máximos nos meses de equinócio (setembro-outubro e março-abril), enquanto<br />

que os valores mais baixos ocorrem nos meses de solstício (junho-julho, janeirodezembro).<br />

(a)<br />

(b)<br />

Fig. 8.10 – (a) Variação do CETV médio em São Luís observado em 2001 por grupo de<br />

meses e (b) gráfico do tipo hora local versus mês com os valores mostrados<br />

em (a).<br />

132


Uma primeira análise dos dados mostra que a variação média do CETV se comporta de<br />

acordo com o esperado, com mínimos da variação diária em torno das 06:00 LT e<br />

máximos em torno das 15:00 LT. Estas curvas de variação diária do CETV podem ser<br />

tomadas como valores típicos do CETV para a região equatorial em períodos de<br />

atividade solar máxima. O fluxo solar (F10.7) médio para o ano de 2001 foi 181.<br />

Com base na Figura 8.9, podemos observar que as magnitudes do desvios padrões dos<br />

valores noturnos de CETV não são muito diferentes dos valores diurnos. Contudo,<br />

convém lembrar que o valor médio noturno do CETV é muito menor do que o valor<br />

médio diurno. Para analisarmos os efeitos da presença de irregularidades ionosféricas na<br />

variabilidade do CETV equatorial, o desvio padrão foi normalizado com relação ao<br />

valor médio do CETV para cada intervalo de 30 minutos. Esta normalização nos dá o<br />

valor do desvio em termos de porcentagem, com relação ao valor médio do CETV. Os<br />

resultados desta normalização são apresentados na Figura 8.11.<br />

A Figura 8.11(a) mostra o desvio padrão do CETV como função da hora local e mês<br />

para o ano de 2001. Este gráfico mostra a variabilidade dia-a-dia do CETV em SLZ.<br />

Observa-se que a maior variabilidade do CETV ocorre nos meses de equinócio,<br />

principalmente no período das 01:00 às 03:00 LT e das 07:00 às 24:00 LT. Em todos os<br />

meses da temporada de ESF (setembro à abril), a variabilidade do CETV também é alta<br />

durante a noite.<br />

No painel inferior da Figura 8.11, é mostrado um gráfico do mesmo desvio padrão do<br />

CETV, expresso em porcentagem com relação ao valor de CETV médio. Este gráfico<br />

mostra que nos equinócios e noites do período de ESF a variação do CETV alcança<br />

valores próximos à 50%. Durante o dia, o desvio padrão se mantém dentro de 20%.<br />

Klobuchar (1985) sugeriu que valores típicos de desvio-padrão do CETV estavam entre<br />

20% e 25% para médias mensais diurnas.<br />

133


Fig. 8.11 – (a) Desvio padrão do CETV em função do mês e hora local. (b) Desvio<br />

padrão é expresso em porcentagem com relação ao valor de CETV médio.<br />

Outro fator que pode influenciar na variabilidade dia-a-dia do CETV é a variabilidade<br />

do fluxo solar. A Figura 8.12 mostra a média mensal do F10.7 e do desvio padrão para<br />

cada mês de 2001 (barras verticais). Maiores valores de desvio padrão do F10.7<br />

ocorreram nos meses de equinócio (março-abril e setembro-outubro) o que também<br />

pode explicar a maior variabilidade do CETV nestes meses. O menor desvio padrão do<br />

F10.7 ocorreu em julho, mês no qual também observou-se a menor variabilidade do<br />

CETV.<br />

Estes resultados têm implicação na construção de modelos ionosféricos precisos pois<br />

mostram a dificuldade de prever-se variação diária do CETV devido à sua variabilidade<br />

dia-a-dia intrínseca juntamente com as variações de CETV causadas por fenômenos<br />

como as bolhas ionosféricas.<br />

134


Fig. 8.12 – F10.7 médio mensal para o ano de 2001.<br />

8.7 Desvio RMS do CETV sobre São Luís<br />

Na seção anterior apresentou-se a variabilidade dia-a-dia do CETV e nesta seção<br />

apresenta-se estimativas de flutuações do CETV, causadas por irregularidades<br />

ionosféricas. Na seção 8.5 comentou-se a possibilidade de identificar-se a ocorrência de<br />

irregularidades ionosféricas através das medidas do desvio RMS do CETV. Com<br />

objetivo de ilustrar o método, foi apresentado um exemplo de medidas realizadas em<br />

SLZ e SJC para o dia 22/09/2001.<br />

Nesta seção, estende-se o método a todos os dados de CETV coletados em SLZ durante<br />

o ano de 2001. Calculou-se o desvio RMS do CETV medido por todos os satélites com<br />

elevação maior que 50 o e os valores de desvio RMS resultantes, calculados a cada<br />

intervalo de 5 minutos, foram então agrupados por meses. A Figura 8.13 mostra o<br />

desvio RMS calculado para cada mês de 2001.<br />

Observa-se que o desvio RMS aumenta claramente no período noturno, iniciando-se no<br />

mês de setembro e terminando no mês de abril, seguindo o mesmo padrão do ESF<br />

observado por vários tipos de instrumentos no Setor Brasileiro. O desvio aumenta em<br />

torno das 18:30 LT e se estende até as 5:00 LT do dia seguinte e ocorre durante<br />

períodos mais longos que a cintilação nos sinais GPS pois as escalas de tamanho das<br />

irregularidades sondadas são maiores.<br />

135


O desvio RMS parece ocorrer mais freqüentemente e com maior magnitude no mês de<br />

dezembro, mas isto pode estar associado à variação da atividade solar durante o ano. O<br />

índice F10.7 médio mensal aumentou de aproximadamente 170 em janeiro para 240 em<br />

dezembro.<br />

Fig. 8.13 – Desvio RMS do CETV em São Luís para o ano de 2001.<br />

8.8 Distribuição latitudinal do CETV<br />

O campo elétrico da ionosfera equatorial é um parâmetro de grande importância na<br />

geração de irregularidades ionosféricas, ao mesmo tempo que controla o<br />

desenvolvimento da Anomalia Equatorial. Aparentemente, a sazonalidade do campo<br />

elétrico dita a sazonalidade da ocorrência de irregularidades e, também do surgimento<br />

da Anomalia Equatorial.<br />

136


Abdu et al. (1983b) e Fejer et al. (1999) apontam a deriva vertical do plasma equatorial<br />

como fator decisivo na geração das irregularidades enquanto que Whalen (1998) mostra<br />

que a velocidade desta mesma deriva vertical também está diretamente relacionada à<br />

manifestação dos picos de densidade da Anomalia Equatorial.<br />

Recentemente, alguns trabalhos, como por exemplo, Mendillo et al. (2000), Valladares<br />

et al. (2001) e Mendillo et al. (2001) têm utilizado dados de CET coletados por<br />

receptores GPS ao longo da costa oeste da América do Sul, para estudar a anomalia<br />

equatorial durante eventos de ESF. Uma análise bem sucedida dos dados pode mostrar a<br />

distribuição latitudinal do CET ao longo do dia e a formação da Anomalia Equatorial<br />

noturna. Neste trabalho, com o objetivo de se obter informações a respeito da<br />

distribuição latitudinal do CET sobre a região Brasileira combinaram-se os dados<br />

coletados pelas estações GPS de SLZ e SJC procurando-se desenvolver perfis<br />

latitudinais da distribuição do CETV.<br />

Para a construção dos perfis foram utilizados dados de satélites com elevação maior que<br />

20 o o que resulta na cobertura latitudinal mostrada na Fig. 8.1, desde aproximadamente<br />

+10 o até aproximadamente –30 o latitude dip. Também foram realizadas médias<br />

aritméticas simples do CETV a cada intervalo de 1 o de latitude dip com valores de<br />

CETV coletados em intervalos de tempo de 1 hora.<br />

A Figura 8.14 mostra vários perfis latitudinais do CETV para vários intervalos horários<br />

do dia 16/08/2001. Estes perfis são médias do CETV calculadas para intervalos de 1 o de<br />

latitude dip dentro do intervalo de 1 hora. Os intervalos horários são indicados em cada<br />

painel. Na noite deste dia não foi observada a ocorrência de cintilações, tanto em SLZ<br />

quanto em SJC. As barras verticais nos dados da Figura 8.14 correspondem ao desvio<br />

padrão de cada média. A curva em preto é uma interpolação polinomial (ordem 6) dos<br />

dados de CETV.<br />

137


Fig. 8.14 – Perfis latitudinais do CETV para o dia 16/08/2001. Dados coletados em SJC<br />

(•), em SLZ (*) e interpolação polinomial (⎯).<br />

As medidas de CET realizadas pelo receptor de SLZ (*) cobrem a faixa de<br />

aproximadamente +10 o a –10 o de latitude dip, enquanto que o receptor de SJC (•) cobre<br />

a faixa de aproximadamente –10 o a –30 o latitude dip. A concordância entre os dados<br />

coletados pelas duas estações foi considerada muito boa, levando-se em conta todas as<br />

incertezas que existem no método de medida do CETV utilizando sinais GPS. Os<br />

valores de CETV medidos em latitudes dip próximas (em torno de –10 o ) são bastante<br />

parecidos. Esta observação serve como indicação da boa calibração dos dois receptores<br />

o que é uma das principais preocupações de estudos de CET realizados com dados GPS.<br />

138


8.8.1 Distribuição latitudinal do CETV durante dias com ocorrência de ESF<br />

A Figura 8.14 mostra uma série de perfis latitudinais do CETV para um dia<br />

(16/08/2001) fora da temporada de ocorrência do ESF. Neste dia, a Anomalia Equatorial<br />

não é tão pronunciada e como esperado, não se observa a ocorrência de flutuações do<br />

CET associadas a bolhas ionosféricas. A Figura 8.15 mostra um outro caso para o dia<br />

04/12/2001, no qual observou-se uma Anomalia Equatorial noturna bem pronunciada e<br />

também o fenômeno do ESF.<br />

No exemplo da Figura 8.15 observa-se: (1) o aumento considerável do CETV em<br />

latitudes em torno de –15 o , principalmente no período das 20-24 LT e (2) o alto desvio<br />

padrão do CETV para os dados nestas latitudes. Este aumento do CETV é manifestação<br />

da Anomalia Equatorial noturna e o alto desvio padrão é associado à ocorrência das<br />

bolhas ionosféricas que fazem com que as medidas do CETV variem bastante de satélite<br />

para satélite. Na Figura 8.15 pode-se observar o movimento do pico da Anomalia<br />

Equatorial que, inicialmente surge em torno de ~ -12 o (17-18 LT) e então se move até<br />

~–18 o (20-21 LT) e logo após retorna até ~-13 o (23-24) LT.<br />

A razão entre o CETV no pico da Anomalia e o CETV no equador é de<br />

aproximadamente 3. Mendillo et al. (2001) reportou uma razão média de 2,8 para uma<br />

campanha de medidas realizadas no Peru durante o período de 18 a 30 de setembro de<br />

1998. No estudo de Mendillo et al. (2001) a rede de receptores GPS utilizada<br />

possibilitava uma cobertura desde –24 o até +22 o de latitude dip o que permitiu a<br />

visualização dos dois picos (norte e sul) da Anomalia. Na época das observações de<br />

Mendillo et al. (2001) e das mostradas neste trabalho, o pico mais pronunciado é o do<br />

hemisfério Norte, devido à ação do vento neutro meridional. Contudo, as observações<br />

realizadas com os dados de SLZ e SJC somente permitem o estudo da Anomalia<br />

Equatorial no hemisfério Sul.<br />

139


Fig. 8.15 – Perfil latitudinal do CETV para o dia 04/12/2001 quando a Anomalia<br />

Equatorial é bem pronunciada.<br />

8.9 Geração de mapas da distribuição latitudinal do CETV<br />

Com objetivo de criarem-se mapas da distribuição latitudinal do CETV versus hora<br />

local foram criadas matrizes de dados (latitude dip vesus hora local) e realizadas<br />

interpolações para que se pudesse preencher lacunas de latitudes nas quais não haviam<br />

dados coletados pelo GPS. O valor de CETV para cada grau de latitude, e a cada hora,<br />

consiste de uma média dos valores de CETV daquele ponto (se disponível) mais os<br />

pontos disponíveis em torno dele (latitudes acima e abaixo e horários anteriores e<br />

posteriores). Esta metodologia permite interpolar regiões onde não haviam dados,<br />

permitindo também uma primeira suavização das curvas de CETV.<br />

140


8.9.1 Procedimentos para a geração dos mapas de CETV<br />

A Figura 8.16 ilustra o método de geração dos perfis latitudinais de CETV ao longo de<br />

um dia, o qual será referido como Método de Interpolação e Extrapolação por Médias<br />

Simples ou MIEMS e que pode ser resumido da seguinte forma:<br />

Inicialmente, calcula-se a latitude e longitude geográfica do ponto sub-ionosférico (em<br />

400km) de todos os dados disponíveis. Logo em seguida, calcula-se a latitude dip de<br />

cada ponto sub-ionosférico. Então, são calculadas as médias de CETV para intervalos<br />

de 1 hora e intervalos de 1 grau de latitude dip. Os valores resultantes deste<br />

procedimento inicial são mostrados no painel (a) da Figura 8.16. Observa-se que em<br />

alguns pontos não apresentam valores de CETV (espaços em branco). Isto significa que<br />

não houve passagem de satélite GPS naquela determinada latitude e naquele intervalo<br />

de tempo.<br />

O procedimento seguinte consiste em calcular o valor de CETV para cada coordenada<br />

da grade ou matriz de dados, que é dado por latitude dip e hora local. Cada valor em<br />

uma determinada coordenada será o resultado do valor médio do CETV naquela<br />

coordenada (se disponível) mais os 8 valores disponíveis em torno daquela coordenada.<br />

Os valores resultantes deste procedimento são mostrados no painel (b) da Figura 8.16.<br />

Observa-se que muitos dos pontos da matriz de dados nos quais não haviam dados,<br />

foram estimados. Uma análise mais detalhada também mostra que os valores do perfil<br />

também foram suavizados.<br />

Por último, é aplicada uma média corrida de 3 pontos dos valores de CETV para cada<br />

latitude dip, ou seja, para cada hora de uma determinada latitude dip, e o valor de CETV<br />

vai ser a média do valor naquele horário mais os valores do horário anterior e do horário<br />

posterior (se disponíveis). O valores resultantes deste procedimento são mostrados no<br />

painel (c) da Figura 8.16.<br />

141


Fig. 8.16 – Passos para obtenção da variação do perfil latitudinal do CETV com a hora<br />

local para o dia 16/08/2001: (a) dados brutos, (b) dados interpolados e (c)<br />

dados suavizados.<br />

Mais recentemente, também aplicou-se a técnica de Spline cúbica (“Cubic Spline”) para<br />

a interpolação dos pontos para os quais não haviam dados de CETV. A interpolação<br />

utilizando Spline (Lindfield e Penny, 1995) é um método numérico bastante conhecido e<br />

uma rotina computacional para a sua aplicação já é disponível em programas comerciais<br />

como o Matlab. O resultado foi muito semelhante ao obtido com a metodologia<br />

explicada anteriormente, contudo, a suavização dos dados é menor. A Figura 8.17<br />

mostra o exemplo do perfil obtido ao utilizar-se Spline cúbica para a interpolação de<br />

pontos, e logo em seguida uma média corrida de 3 pontos para o conjunto de dados de<br />

cada latitude dip. Os dados que geraram o gráfico da Figura 8.17 são os mesmos que<br />

geraram os gráficos da Figura 8.16 (b).<br />

142


Fig. 8.17 – Variação diária do perfil de CETV utilizando Spline.<br />

8.10 Distribuição do CETV para os dias 22 e 23 de Setembro de 2001<br />

Devido ao limitado número de dados simultâneos coletados em SLZ e SJC não foi<br />

possível realizar um estudo estatístico da distribuição do CET sobre a região Brasileira.<br />

Contudo, foi possível selecionar alguns dias de interesse ao estudo do ESF nos quais<br />

haviam dados simultâneos em SJC e SLZ, como por exemplo, os dia 22 e 23 de<br />

setembro de 2001.<br />

A noite do dia 22 para o dia 23/09/2001 foi uma típica noite de ocorrência de ESF. De<br />

acordo com os resultados apresentados no Capítulo 7, setembro é o mês no qual iniciase<br />

a ocorrência freqüente das irregularidades ionosféricas. No dia 22, observaram-se<br />

cintilações nos sinais GPS coletados pelas estações de SLZ e SJC. Também foram<br />

observados fortes espalhamentos nos ionogramas registrados por estas duas estações.<br />

Contudo, na noite seguinte de 23 de setembro, não foram observadas cintilações nos<br />

sinais GPS ou espalhamento nos ionogramas tanto em SLZ quanto em SJC. Este é um<br />

típico exemplo da variabilidade dia-a-dia do ESF e a seguir é realizada uma análise do<br />

comportamento do CET em função da latitude para estes dois dias.<br />

143


8.10.1 Condições de ESF para os dias em estudo<br />

As Figuras 8.18 e 8.19 mostram um mapa que compreende o território brasileiro sobre o<br />

qual são mostradas as trajetórias dos pontos sub-ionosféricos dos sinais GPS para os<br />

dias 22 e 23 de Setembro de 2001. Sobre as trajetórias são mostrados os valores de S 4<br />

em uma escala de tons de cinza e tamanho de círculos que representam o índice S 4 .<br />

Nos mapas das Figuras 8.18 e 8.19 são mostrados apenas os dados de cintilação<br />

coletados pelas estações de SLZ e SJC. Contudo, dados das demais estações Brasileiras<br />

podem ser adicionados de forma que uma maior resolução espacial possa ser obtida. No<br />

Capítulo 6 (Figura 6.11) o mesmo tipo de gráfico é mostrado com dados de várias<br />

estações GPS. Nesta análise, é dado enfoque aos dados coletados em SLZ e SJC de<br />

onde também foram coletados os dados de CET.<br />

Fig. 8.18 – Distribuição do índice S 4 medido pelos monitores de cintilação de SJC e<br />

SLZ sobre o Território Brasileiro no dia 22/09/2001 durante o período das<br />

18:00 as 24:00 horas, horário de Brasília (BST).<br />

144


Fig. 8.19 – Mesmo que a Figura 8.18 para o dia 23/09/2001.<br />

8.10.2 Análise da distribuição latitudinal do CETV<br />

Nas Figuras 8.20 e 8.21 são apresentados os perfis horários da distribuição latitudinal do<br />

CETV para os dias 22 e 23/09/2001, respectivamente, para intervalos horários das 18:00<br />

LT até 01:00 LT. No dia 22, quando ocorreu o ESF, é possível observar que a Anomalia<br />

Equatorial começa a surgir em torno de –10 o de latitude dip às 18:00-19:00 LT. O pico<br />

da Anomalia começa então a se mover em direção a latitudes maiores até que atinge<br />

aproximadamente –18 o de latitude dip no período das 20:00-21:00 LT.<br />

Existe uma discordância entre os valores de CETV medidos pela estação de SJC e SLZ,<br />

principalmente nos horários entre 22:00 e 01:00 LT, para as latitudes próximas à –10 o .<br />

Isto mostra o quanto o CETV é variável durante a ocorrência do ESF e como é difícil o<br />

seu monitoramento durante estes períodos. A diferença de CETV medido por SJC e<br />

SLZ pode ser causada pelo fato de que, apesar das estações estarem medindo a mesma<br />

145


latitude dip, as longitudes podem ser diferentes e durante a ocorrência de bolhas os<br />

gradientes longitudinais de densidade são muito altos.<br />

No dia 23 (Figura 8.21), um aumento de CETV começa a ser produzido em torno das<br />

18-19 LT, contudo, este aumento não evolui e a Anomalia Equatorial se torna bem<br />

menos pronunciada do que no dia 22. Neste dia, no qual não ocorreram bolhas<br />

ionosféricas, a concordância entre os dados de CETV das duas estações GPS é muito<br />

boa durante toda a noite. Cabe lembrar que os pontos sub-ionosféricos sondados neste<br />

dia são praticamente os mesmos sondados no dia anterior. Com a ausência das bolhas,<br />

os gradientes longitudinais, assim como os gradientes latitudinais, não se tornam tão<br />

altos fazendo com que a variabilidade espacial do CETV seja visivelmente menor.<br />

Fig. 8.20 – Distribuição latitudinal do CETV para o dia 22/09/2001.<br />

146


Fig. 8.21 – Distribuição latitudinal do CETV para o dia 23/09/2001.<br />

No dia 22, a razão entre o CETV no equador e o CETV no pico da Anomalia alcançou o<br />

valor de 3, enquanto que no dia 23 esta razão não passou de 1,5. Mendillo et al.(2001)<br />

também observaram que a Anomalia Equatorial não é tão pronunciada durante dias nos<br />

quais não ocorre o ESF. Isto é coerente, já que o agente principal da ocorrência do ESF<br />

e da manifestação da Anomalia é o mesmo: o pico de pré-reversão da deriva vertical do<br />

plasma no equador. Um fraco pico pré-reversão explicaria o fraco Efeito Fonte (e fraca<br />

Anomalia) e não-ocorrência de cintilação e de ESF de um modo geral no dia 23.<br />

Mendillo et al. (2001), também propuseram utilizar a razão entre o valor de CETV<br />

medido no maior pico da Anomalia Equatorial (Sul ou Norte) e o valor de CETV<br />

medido no equador para prever a ocorrência do ESF. Eles observaram que em 85% dos<br />

dias em que ocorreram cintilações, a razão entre o CETV na Anomalia e no equador<br />

excedia 4. Batista et al. (1999) propôs um método semelhante utilizando dados de foF2<br />

coletados em Fortaleza (FZ), próximo ao equador magnético e Cachoeira Paulista (CP),<br />

próximo ao pico da Anomalia Equatorial. Se a razão do foF2 (CP/FZ) excedesse 1,5 no<br />

147


horário próximo ao pôr-do-sol, isto serviria como primeiro indicativo da possível<br />

ocorrência de ESF.<br />

A Figura 8.22 mostra, em um mesmo gráfico, as interpolações polinomiais dos perfis<br />

latitudinais para os dias 22 e 23 para comparação do comportamento do CETV durante<br />

estes dois dias.<br />

Fig. 8.22 – Distribuição latitudinal do CETV durante o dia 22/09/2001 (⎯), com ESF, e<br />

dia 23/09/2001 (---), sem ESF.<br />

Pode-se ter uma estimativa do pico de pré-reversão analisando-se os dados de altura<br />

virtual da base da camada F (h’F) obtidos através de ionogramas. A Figura 8.23(a)<br />

mostra a variação de h’F e também da altura do pico (hmF2) da camada F para os dias<br />

22 e 23. A variação de h’F mostra que a base da camada no equador (em SLZ) se eleva<br />

148


apidamente no dia 22 atingindo aproximadamente 500 km de altitude. Contudo, no dia<br />

23 a camada sequer atinge 300 km de altitude. Esta inibição da deriva vertical da<br />

camada inibe também o surgimento completo da Anomalia Equatorial.<br />

Na Figura 8.23(b) também são mostrados os valores de freqüência critica da camada F2<br />

(foF2) medidas pelas ionossondas de SLZ e Cachoeira Paulista (CP), que situa-se a<br />

~110km de SJC. No dia 23, o foF2 sobre CP não aumenta após o pôr-do-sol como nos<br />

dias anteriores.<br />

Os dados de Kp e Dst mostrados na Figura 8.23(c) e (d) indicam a ocorrência de uma<br />

perturbação magnética no período das 9:00 às 15:00 LT do dia 23/09. Tempestades<br />

magnéticas podem inibir a ocorrência de cintilações ou o ESF de um modo geral (por<br />

exemplo, Aarons, 1991; Kumar e Gwal, 2000). Existes casos, contudo, nos quais<br />

perturbações magnéticas podem fazer com que o ESF se manifeste, mesmo após a meianoite<br />

local e em dias fora do período de sua ocorrência (por exemplo, Aarons e<br />

DasGupta, 1984; DasGupta et al., 1985; Kumar e Gwal, 2000).<br />

Os resultados de Aarons (1991) sugerem que os efeitos das tempestades magnéticas na<br />

inibição ou geração de irregularidades ionosféricas equatoriais dependem das formas<br />

das tempestades quando analisadas com dados de Dst e da hora local. Aarons (1991)<br />

propôs que um distúrbio magnético que ocorra no período da tarde (antes do pôr-do-sol)<br />

tende a inibir o desenvolvimento das irregularidades. Esta hipótese está de acordo com o<br />

resultado obtido para o dia 23, que sugere que o distúrbio magnético observado no<br />

período próximo ao meio-dia inibiu o pico pré-reversão e a ocorrência do ESF.<br />

149


Fig. 8.23 – (a) Variação temporal de h’F e hmF2 em São Luís, (b) variação temporal do<br />

foF2 em São Luís e São José dos Campos, (c) variação temporal do índice<br />

Kp e (d) do índice Dst.<br />

8.10.3 Mapas da distribuição do CETV<br />

As Figuras 8.24 (a) e (b) mostram mapas da distribuição do CETV para os dias 22 e 23,<br />

respectivamente, e para o período das 18:00 às 25:00 (01:00) LT. Os valores de CETV<br />

destes mapas foram obtidos utilizando a técnica descrita na Seção 8.9 (MIEMS). Os<br />

mapas mostram, como discutido anteriormente, que no dia 22 a Anomalia Equatorial foi<br />

muito mais pronunciada do que no dia 23 e que os valores de CETV no equador<br />

mantiveram-se altos até mesmo à meia-noite local.<br />

150


(a)<br />

(b)<br />

Fig. 8.24 – Mapas de distribuição do CETV para os dias (a) 22/09/2001 (com ESF) e (b)<br />

23/09/2001 (sem ESF).<br />

151


CAPÍTULO 9<br />

CONCLUSÕES<br />

Quanto à comparação de dados de cintilação e ESF observado por outras técnicas:<br />

Para a comparação de mapas RTI e dados de cintilação em sinais GPS foram utilizados<br />

apenas dados do satélite GPS de maior elevação a cada minuto. Apesar do feixe do<br />

radar e os pontos sub-ionosféricos dos sinais GPS não se localizarem exatamente no<br />

mesmo ponto ionosférico, obteve-se uma boa concordância entre a ocorrência de<br />

plumas e cintilações nos sinais GPS. Ecos mais intensos do radar estavam associados ao<br />

aumento do índice S 4 que representa a intensidade das cintilações. Aparentemente,<br />

estruturas do tipo “bottom-type” mostradas pelo radar podem não causar cintilação nos<br />

sinais GPS.<br />

A ocorrência das plumas se mostrou muito mais curta do que a ocorrência das<br />

cintilações. Isto reforça a teoria de que irregularidade de menor escala de tamanho<br />

decaem mais rapidamente. Também foram comparados dados de espalhamento em<br />

ionogramas com dados de cintilação. Novamente, o fato de que irregularidades de<br />

menor escala de tamanho decaem mais rapidamente pode explicar a maior duração da<br />

ocorrência do ESF observado em ionogramas se comparado com cintilações. Tanto o<br />

radar quanto a digissonda mostraram-se sensíveis a estruturas na porção inferior da<br />

camada F. Contudo, não se observaram cintilações nos sinais GPS durante a ocorrência<br />

destas estruturas.<br />

Também foram utilizados dados dos satélites GPS de maior elevação para comparar a<br />

ocorrência de cintilações e depleções de luminescência atmosférica observadas por um<br />

fotômetro zenital. A concordância entre as depleções observadas pelo fotômetro e as<br />

cintilações foi muito boa durante o período que antecede a meia-noite local. Após a<br />

153


meia-noite local, as bolhas ionosféricas observadas pelo fotômetro não estavam<br />

claramente associadas à ocorrência de cintilações. Mais uma vez, esta observação pode<br />

ser explicada pelo decaimento mais rápido de irregularidades de menor escala de<br />

tamanho. As irregularidades que causam cintilação estão imersas em bolhas ionosféricas<br />

que são depleções de plasma de larga-escala (várias centenas de quilômetros). Estas<br />

bolhas são geradas à oeste do ponto de observação e movem-se para leste. Quando as<br />

bolhas passaram sobre a região sondada pelo fotômetro, as irregularidades menores já<br />

haviam decaído. Basu et al. (1983) mostraram com dados de cintilação e medidas in situ<br />

de densidade eletrônica que o desvio RMS de densidade é maior durante o período<br />

anterior à meia-noite local.<br />

Quanto ao estudo estatístico da ocorrência de cintilações em SJC:<br />

A comparação entre dados de cintilação e observações do ESF por outros instrumentos<br />

mostra que receptores GPS são ferramentas bastante úteis para o estudo das<br />

irregularidades ionosféricas. Com os dados dos monitores de cintilação foi possível<br />

determinar a variação sazonal de ocorrência das irregularidades que causam cintilação<br />

nos sinais GPS, para dados coletados em SJC. Esta ocorrência segue o padrão de<br />

ocorrência do fenômeno de espalhamento da camada F para longitudes Brasileiras<br />

determinado por outros tipos de equipamentos de sondagem ionosférica.<br />

As cintilações em São José dos Campos ocorrem predominante durante os meses de<br />

setembro à abril e durante o período das 20:00 às 01:00 LT. A intensidade das<br />

cintilações também parece ser maior nos meses de setembro/outubro e fevereiro/março.<br />

Esta maior intensidade das cintilações pode estar associada a uma anomalia de Appleton<br />

mais pronunciada durante esses meses, como mostrado por Souza (1992).<br />

Foi possível observar também que o fluxo solar age de forma a aumentar a porcentagem<br />

de ocorrência das irregularidades. Adicionalmente, a intensidade das cintilações<br />

também tende a aumentar com o aumento da atividade solar. Contudo, observa-se que,<br />

154


para valores muito altos de F10.7 ( > ~175) não observa-se um correspondente aumento<br />

da ocorrência das irregularidades e intensidade das cintilações (com exceção do mês de<br />

março). Explicações sugeridas para esta observação envolvem um efeito de saturação da<br />

densidade eletrônica da camada F ou o deslocamento do pico da Anomalia Equatorial<br />

para latitudes além de São José dos Campos.<br />

Quanto ao estudo do CET:<br />

Utilizando dois receptores dupla – freqüência foi possível determinar o Conteúdo<br />

Eletrônico Total vertical sobre São Luís (SLZ) e São José dos Campos (SJC).<br />

Foram apresentados exemplos de cintilações associadas a flutuações do CET causadas<br />

por bolhas ionosféricas. Determinou-se o CET vertical para ambas as estações sendo<br />

possível identificar a ocorrência do fenômeno da Anomalia de Appleton no período<br />

noturno sobre SJC.<br />

Com os dados de SLZ foi possível determinar a variação diária e sazonal do CETV<br />

sobre o equador magnético. Máximos de CETV foram observados nos meses de<br />

equinócio (setembro-outubro e março-abril). Mínimos do CETV foram observados nos<br />

meses durante o solstício de inverno do hemisfério sul (junho e julho).<br />

Uma maior variabilidade dia-a-dia do CETV foi observada nos meses de equinócio. As<br />

bolhas ionosféricas que ocorrem no período noturno durante os meses de setembro à<br />

abril também parecem influenciar na variabilidade do CETV.<br />

Um método baseado no desvio RMS do CETV foi sugerido para uso na identificação da<br />

ocorrência de irregularidades ionosféricas. O calculo do RMS foi realizado para todos<br />

os dados disponíveis de SLZ e alguns casos exemplos de SJC. Os resultados mostram<br />

que o desvio de CETV é maior em SJC do que em SLZ o que pode estar relacionado à<br />

155


maior intensidade de cintilações observada nesta estação. A ocorrência de maiores<br />

valores de desvio RMS seguem o padrão de ocorrência do ESF o que sugere que este<br />

método pode ser utilizado para uma primeira estimativa da ocorrência de<br />

irregularidades.<br />

Combinando dados de CETV coletados simultaneamente em SLZ e SJC foi possível<br />

calcular perfis latitudinais do CETV. A concordância entre os dados coletados pelas<br />

duas estações foi muito boa. Com os perfis obtidos é possível estudar a dinâmica e<br />

intensidade da Anomalia de Appleton no Hemisfério Sul. Também foram sugeridos<br />

métodos para o desenvolvimento de mapas da distribuição latitudinal do CETV que<br />

podem ser utilizados para estudar o comportamento do CET durante fenômenos do ESF<br />

e também de outros fenômenos geofísicos como tempestades magnéticas, eclipses,<br />

dentre outros. Contudo, mostrou-se que durante os períodos de cintilação, a<br />

determinação de perfis latitudinais do CETV é prejudicada devido provavelmente aos<br />

altos gradientes de densidade do plasma ionosférico causado pelas bolhas ionosféricas.<br />

Um estudo de caso mostrou que um desenvolvimento incompleto da Anomalia indica a<br />

não-ocorrência de ESF. O surgimento da Anomalia de Appleton e a ocorrência de<br />

irregularidades ionosféricas estão associados através do pico de pré-reversão do campo<br />

elétrico da região F equatorial. Resultados mostram que a ausência desse pico que pode<br />

ser, em determinadas situações, indiretamente inferido através da análise da altura da<br />

base da camada (h’F), resulta em uma fraca (ou inexistente) Anomalia Equatorial e na<br />

ausência de ESF. A inibição do pico de pré-reversao pode estar associado à ocorrência<br />

de uma tempestade magnética, por exemplo, como mostrado neste trabalho.<br />

A Anomalia de Appleton noturna mostrada pelos perfis de CETV e que se localiza em<br />

torno de –10 o a –20 o pode ser a responsável pela maior intensidade das cintilações<br />

observada nesta região. Contudo, é possível que existam casos em que as cintilações<br />

mais intensas não ocorram exatamente na região do pico da Anomalia Equatorial. Isto<br />

pode ser explicado pelo fato de que as intensidade das cintilações também dependam de<br />

156


fatores tais como altura e espessura da camada de irregularidades, além da densidade<br />

eletrônica.<br />

Por fim, pode-se dizer que obteve-se um maior conhecimento sobre a ocorrência de<br />

cintilações e distribuição do CETV sobre o Território Brasileiro. Estes resultados vêm a<br />

colaborar na melhor compreensão dos fenômenos físicos que ocorrem na ionosfera<br />

equatorial e de baixas latitudes. Estes resultados também podem ser utilizados em<br />

aplicações práticas como no desenvolvimento de Sistemas de Aumentação para o GPS.<br />

157


CAPÍTULO 10<br />

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS<br />

Neste Capítulo são listados alguns temas de pesquisa que não foram abordados nesta<br />

dissertação e que podem ser estudados futuramente:<br />

1) Estudo dos efeitos da atividade magnética sobre a inibição / geração de<br />

irregularidades que causam cintilação nos sinais GPS.<br />

2) Estudo estatístico da região de maior intensidade das cintilações e da localização do<br />

pico da Anomalia Equatorial<br />

3) Estudo da velocidade zonal das irregularidades ionosféricas utilizando o método de<br />

receptores GPS espaçados.<br />

4) Estudo estatístico sobre a distribuição latitudinal do CETV sobre o Território<br />

Brasileiro para períodos com e sem o fenômeno do ESF.<br />

5) Análise dos dados de cintilação e CET coletados durante o experimento de pontos<br />

conjugados (COPEX).<br />

6) Comparação da variação diária do CETV sobre São Luís e São José dos Campos<br />

com valores previstos por modelos, como por exemplo, o “International Reference<br />

Ionosphere - IRI” (versão mais recente).<br />

159


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169


APÊNDICE A<br />

DESCRIÇÃO DO ARQUIVO SUMÁRIO<br />

A Tabela A.1 mostra algumas linhas de dados gravados em um arquivo sumário.<br />

Tabela A.1 – EXEMPLO DE DADOS GRAVADOS NO ARQUIVO SUMÁRIO.<br />

SAO JOSE DOS CAMPOS BRAZIL<br />

ABC-1998 CAMPAIGN<br />

4085.0 -4209.2 -2498.5<br />

2000 3 31 21 2<br />

1<br />

2100 8 104<br />

02 11318.3 -15618.5 -17488.8 -1363 2458 0 0.09 90 9999<br />

07 19999.4 -16823.2 4172.9 2271 2263 0 0.06 40 9999<br />

08 19252.3 -3828.9 -18176.3 -885 3612 0 0.05 9999 9999<br />

10 -1533.4 -26399.5 -650.3 -2016 2305 0 0.06 90 9999<br />

13 19510.3 -17005.2 -5668.0 -1537 2540 0 0.08 94 9999<br />

18 23117.5 -61<strong>80</strong>.0 11411.9 -3773 4663 0 0.04 9999 9999<br />

26 -6198.2 -13952.5 -21722.0 3051 2656 0 0.05 51 9999<br />

27 22290.1 -1129.8 -14684.3 -1603 3194 0 0.05 9999 9999<br />

As cinco primeiro linhas fazem parte de um cabeçalho inicial do arquivo com as<br />

seguintes informações:<br />

1 a linha: Estação de Observação<br />

2 a linha: Informação adicional<br />

3 a linha: Coordenadas ECEF do receptor<br />

4 a linha: Ano Mês Dia Hora Minuto<br />

5 a linha: 1 (fim do cabeçalho)<br />

A partir da sexta linha são gravados conjuntos de dados referentes a análise de um<br />

minuto (3000 amostras) do sinal GPS (L1 = 1,57542 GHz), de cada satélite rastreado<br />

naquele minuto. Logo após, segue uma linha de sub-cabeçalho com as informações:<br />

1 a coluna: Hora (HHMM)<br />

2 a coluna: Número de satélites (n) rastreados naquele minuto<br />

3 a coluna: Potência de ruído<br />

E então, segue-se “n” linhas com as seguintes informações sobre os satélites rastreados:<br />

171


1 a coluna: Identificação do satélite (PRN)<br />

2 a coluna: Coordenada ECEF X<br />

3 a coluna: Coordenada ECEF Y<br />

4 a coluna: Coordenada ECEF Z<br />

5 a coluna: Deslocamento Doppler (Hz) do sinal GPS<br />

6 a coluna: Potência em banda larga (WBP)<br />

7 a coluna: Número que indica quantas vezes o “lock” foi perdido naquele minuto<br />

8 a coluna: Índice de cintilação S 4<br />

9 a coluna: Largura de auto-correlação do sinal<br />

10 a coluna: Não utilizado<br />

172


APÊNDICE B<br />

DESCRIÇÃO GERAL DOS PROCEDIMENTOS PARA<br />

OBTENÇÃO DOS ARQUIVOS TEC<br />

Os procedimentos básicos para a obtenção dos arquivos TEC, com valores de CET<br />

ionosférico a partir dos arquivos binários de dados gravados pelos receptores<br />

TurboRogue ICS-4000Z são listados logo a seguir.<br />

1 o Procedimento: Conversão dos arquivos binários (extensão .bin) gravados pelos<br />

receptores TurboRogue ICS-4000Z para arquivos texto (ASCII). Para esta conversão<br />

utiliza-se o programa CONVERT.EXE. Neste programa seleciona o tipo de saída<br />

TURBO ASCII cuja estrutura é descrita no manual de usuário dos receptores<br />

TurboRogue (AOA, 1995). O novo arquivo terá extensão “.dat” e ao nome do arquivo<br />

será adicionado as letras “sl”, se os dados se referem à estação de São Luís e “sj” se os<br />

dados foram coletados na estação de São José dos Campos. Por exemplo, o<br />

CONVERT.EXE deverá criar para o arquivo binário “100101.bin” gravado pela estação<br />

de São Luís, um arquivo texto com o nome “100101sl.dat”.<br />

2 o Procedimento: Organização dos dados em colunas. Após a conversão dos arquivos<br />

binários em arquivos TURBO ASCII é necessário criar um novo arquivo texto no qual<br />

as informações que interessam ao cálculo do CET estarão organizadas em colunas. Isto<br />

facilitará a leitura dos arquivos de dados pelos programas computacionais de redução e<br />

análise. O novo arquivo é criado com o programa TECEXT_P.EXE, com a mesmo<br />

nome mas com extensão “.col”. Por exemplo, o TECEXT_P.EXE deverá criar para o<br />

arquivo “100101sl.dat”, um novo arquivo texto com o nome “100101sl.col”.<br />

Neste novo arquivo estão contidas as seguintes informações:<br />

1 a coluna: Tempo em segundos desde 6 de janeiro de 19<strong>80</strong><br />

173


2 a coluna: PRN do satélite rastreado<br />

3 a coluna: Azimute do satélite rastreado<br />

4 a coluna: Elevação do satélite rastreado<br />

5 a coluna: Razão sinal-ruído (SNR) do código P no sinal L2<br />

6 a coluna: Retardo de código (em períodos do código P)<br />

7 a coluna: Retardo de fase (em ciclos de L1)<br />

A Tabela A.2 mostra algumas linhas de dados formatados em colunas.<br />

Tabela A.2 – exemplo de dados formatados em colunas pelo programa tecext_p.exe.<br />

1.448333 29 164.9 68.8 704.00000 100.947763 -182.583594<br />

1.448611 29 164.9 68.8 702.00000 101.628933 -182.607059<br />

1.448889 29 164.9 68.8 704.00000 100.528581 -182.590566<br />

1.449167 29 164.9 68.8 703.00000 101.209751 -182.615901<br />

1.449444 29 164.9 68.8 704.00000 100.318990 -182.612160<br />

1.449722 29 164.9 68.8 702.00000 101.366944 -182.621342<br />

1.450000 29 164.9 68.8 699.00000 102.467296 -182.633414<br />

3 o Procedimento: Após as informações terem sido formatadas em colunas pelo<br />

TECEXT_P.EXE, os dados então são lidos pela rotina computacional GERA_E10.m<br />

para que sejam realizadas as seguintes tarefas:<br />

3.1 Cálculo dos valores de CET e CET vertical. As informações de atraso instrumental<br />

dos satélites, disponível em ftp.unibe.ch//aiub/BSWUSER/ORB/, também são<br />

adicionadas no cálculo.<br />

3.2 Divisão dos dados em arquivos diários com estruturas de nome do tipo<br />

“ddmmaaST.e10”, onde ‘mm’ corresponde ao mês, ‘dd’ ao dia, ‘aa’ ao ano e ST à<br />

estação onde os dados foram coletados (‘sj’ para São José dos Campos e ‘sl’ para São<br />

Luís). Neste arquivo somente estão presentes dados de satélites com elevação maior que<br />

10 o .<br />

Os valores de saída então são gravados em colunas nos arquivos diários de extensão<br />

“e.10” na seguinte disposição:<br />

1 a coluna: Hora Universal<br />

174


2 a coluna: PRN do satélite rastreado<br />

3 a coluna: Valor de atraso instrumental do satélite<br />

4 a coluna: Azimute do satélite rastreado<br />

5 a coluna: Elevação do satélite rastreado<br />

6 a coluna: Valor de cosχ conforme equação 4.54 utilizado no cálculo do CET<br />

vertical<br />

7 a coluna: Razão sinal-ruído (SNR) do código P no sinal L2<br />

8 a coluna: CET absoluto na linha de visada do sinal, a partir do código<br />

9 a coluna: CET relativo na linha de visada do sinal, a partir da fase<br />

10 a coluna: CET absoluto vertical, a partir do código<br />

11 a coluna: CET relativo vertical, a partir da fase<br />

4 o Procedimento: Leitura dos arquivos E10 pela rotina GERA_TEC.m. Esta rotina<br />

realiza a correção de perdas de ciclo e nivelamento do CET fase. O CET nivelado é<br />

obtido somando-se aos valores de CET relativo, o valor médio de diferença entre o CET<br />

absoluto e o CET relativo. A estrutura do arquivo de saída, com mesmo nome do<br />

arquivo de entrada e saída TEC é a seguinte:<br />

1 a coluna: Hora Local<br />

2 a coluna: PRN do satélite rastreado<br />

3 a coluna: Valor de atraso instrumental do satélite<br />

4 a coluna: Azimute do satélite rastreado<br />

5 a coluna: Elevação do satélite rastreado<br />

6 a coluna: Valor de cosχ conforme equação 4.54 utilizado no cálculo do CET<br />

vertical<br />

7 a coluna: Razão sinal-ruído (SNR) do código P no sinal L2<br />

8 a coluna: CET absoluto na linha de visada do sinal, a partir do código<br />

9 a coluna: CET oblíquo fase (corrigido e nivelado)<br />

10 a coluna: CET absoluto vertical, a partir do código<br />

11 a coluna: CET vertical fase (corrigido e nivelado)<br />

175


PUBLICAÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS EDITADAS PELO INPE<br />

Teses e Dissertações (TDI)<br />

Manuais Técnicos (MAN)<br />

Teses e Dissertações apresentadas<br />

nos Cursos de Pós-Graduação do<br />

INPE.<br />

Notas Técnico-Científicas (NTC)<br />

São publicações de caráter técnico<br />

que incluem normas, procedimentos,<br />

instruções e orientações.<br />

Relatórios de Pesquisa (RPQ)<br />

Incluem resultados preliminares de<br />

pesquisa, descrição de equipamentos,<br />

descrição e ou documentação de<br />

programa de computador, descrição de<br />

sistemas e experimentos, apresentação<br />

de testes, dados, atlas, e documentação<br />

de projetos de engenharia.<br />

Propostas e Relatórios de Projetos<br />

(PRP)<br />

Reportam resultados ou progressos de<br />

pesquisas tanto de natureza técnica<br />

quanto científica, cujo nível seja<br />

compatível com o de uma publicação<br />

em periódico nacional ou internacional.<br />

Publicações Didáticas (PUD)<br />

São propostas de projetos técnicocientíficos<br />

e relatórios de acompanhamento<br />

de projetos, atividades e convênios.<br />

Publicações Seriadas<br />

Incluem apostilas, notas de aula e<br />

manuais didáticos.<br />

Programas de Computador (PDC)<br />

São os seriados técnico-científicos:<br />

boletins, periódicos, anuários e anais<br />

de eventos (simpósios e congressos).<br />

Constam destas publicações o<br />

Internacional Standard Serial Number<br />

(ISSN), que é um código único e<br />

definitivo para identificação de títulos<br />

de seriados.<br />

São a seqüência de instruções ou<br />

códigos, expressos em uma linguagem<br />

de programação compilada ou interpretada,<br />

a ser executada por um<br />

computador para alcançar um determinado<br />

objetivo. São aceitos tanto<br />

programas fonte quanto executáveis.<br />

Pré-publicações (PRE)<br />

Todos os artigos publicados em<br />

periódicos, anais e como capítulos de<br />

livros.

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