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Lixão do Roger : habitat urbano do homem urubu

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muita ansiedade. São os chama<strong>do</strong>s “guarus”.<br />

Eles trazem <strong>do</strong>s bairros de João<br />

Pessoa o material de maior valor, como<br />

latinhas de alumínio, papel branco, papelão,<br />

plásticos, garrafas PET, ferro,<br />

vidros e borrachas, soma<strong>do</strong>s a uma quantidade<br />

enorme de matéria orgânica.<br />

O “<strong>homem</strong>-<strong>urubu</strong>” passa dias inteiros,<br />

ou noites inteiras, coletan<strong>do</strong> papéis,<br />

plásticos, vidros, metais e alimentos<br />

deteriora<strong>do</strong>s, alguns servin<strong>do</strong> à própria<br />

refeição. To<strong>do</strong>s trabalham no ambiente<br />

insalubre nas piores condições e sem<br />

qualquer proteção, como o uso de luvas,<br />

botas ou máscaras. Durante a coleta não<br />

existe discriminação entre homens e<br />

mulheres, to<strong>do</strong>s possuem seu próprio<br />

“nicho”, que também lhes serve de residência.<br />

Esses “canteiros” são pequenas<br />

áreas delimitadas, onde cada um separa<br />

o material coleta<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> amontoa<strong>do</strong>s<br />

de papéis, papelões, plásticos e<br />

metais.<br />

Respeitan<strong>do</strong>-se o poder constituí<strong>do</strong>,<br />

cada um tem a sua preferência na<br />

cata <strong>do</strong> lixo. Os materiais mais procura<strong>do</strong>s<br />

são os de maior valor de merca<strong>do</strong>,<br />

como papel branco, alumínio, cobre, plástico<br />

fino, garrafas de vidro branco, garrafas<br />

de uísque e garrafas PET.<br />

TABELA DE PREÇOS / 1 Kg<br />

MATERIAL R $<br />

Alumínio 1,00 a 1,30<br />

Jornal 0,15<br />

Saco plástico fino 0,15<br />

Papel branco 0,12 a 0,15<br />

PET 0,12<br />

Garrafas de cerveja<br />

0,10 (4 unid.)<br />

Plástico 0,10<br />

Papelão 0,05<br />

Papel misto 0,05<br />

Ferro 0,03<br />

Quanto aos papéis e papelões,<br />

outro fator a ser considera<strong>do</strong> é a variação<br />

brusca <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s produtos quan<strong>do</strong><br />

estão secos ou molha<strong>do</strong>s, conforme<br />

os dias secos ou chuvosos, varian<strong>do</strong> entre<br />

15 e 30%, ten<strong>do</strong> como agravante o<br />

monopólio <strong>do</strong> atravessa<strong>do</strong>r.<br />

O destino destes materiais, em<br />

sua grande maioria, como o papelão e<br />

papéis de to<strong>do</strong>s os tipos vão para o Recife;<br />

os metais também; o plástico segue<br />

para a indústria Polyutil, no Bairro das<br />

Indústrias, em João Pessoa; e garrafas<br />

PET seguem para a indústria de vassouras,<br />

em Mangabeira e para a indústria<br />

REPET, no município <strong>do</strong> Conde.<br />

Histórias de muitos cata<strong>do</strong>res são<br />

bem diferentes umas das outras, ou até<br />

parecidas, mas uma coisa em comum os<br />

cerca: o lixo.<br />

Em 1997, foram cadastradas 200<br />

famílias, que literalmente moravam em<br />

barracos no Lixão. Essas pessoas foram<br />

retiradas e alojadas em apartamentos<br />

construí<strong>do</strong>s pelo projeto “É pra Morar”,<br />

da Prefeitura Municipal de João Pessoa,<br />

através da Secretaria de Trabalho e Promoção<br />

Social - Setraps. O imóvel de dimensões<br />

reduzidas, conten<strong>do</strong> sala, quarto,<br />

cozinha e banheiro, possui tamanho<br />

insuficiente para abrigar as famílias numerosas.<br />

Os trabalha<strong>do</strong>res receberam os<br />

imóveis sob a condição de não voltarem<br />

a trabalhar no Lixão. Mas, sem a perspectiva<br />

de trabalho na cidade, muitos<br />

venderam os apartamentos e compraram<br />

um “barraco” mais barato, enquanto outros<br />

retornaram a morar no Lixão.<br />

De lá para cá, houve a proibição<br />

da entrada de crianças, mas muitas continuam<br />

catan<strong>do</strong> o lixo; elas afirmam que<br />

quan<strong>do</strong> o fiscal se aproxima, largam tu<strong>do</strong><br />

e correm.<br />

Existe um convênio assina<strong>do</strong> entre<br />

o município de João Pessoa e o Governo<br />

Federal, através da Secretaria<br />

Nacional de Assistência Social, com a<br />

implantação <strong>do</strong> Programa Erradicação<br />

<strong>do</strong> Trabalho Infantil (PETI). Esse programa<br />

visa atender aos menores que trabalhavam<br />

no Lixão <strong>do</strong> <strong>Roger</strong>, fazen<strong>do</strong> com<br />

que permaneçam nas salas de aula, receben<strong>do</strong><br />

uma bolsa-escola no valor de R$<br />

40,00 mensais, para ajudar no orçamento<br />

<strong>do</strong>méstico. Entretanto, o receio de<br />

deixá-los a sós em casa, a insuficiência<br />

<strong>do</strong>s recursos e os atrasos na liberação<br />

das bolsas são apresenta<strong>do</strong>s como justificativas<br />

para o retorno <strong>do</strong> menor à cata<br />

<strong>do</strong> lixo.<br />

A fiscalização <strong>do</strong> trabalho infantil<br />

está sen<strong>do</strong> realizada. Mesmo assim, a<strong>do</strong>lescentes<br />

com tamanho de adultos entram<br />

no Lixão à noite. Auxilia<strong>do</strong>s pela<br />

escuridão, torna-se muito mais difícil para<br />

o fiscal identificar ao longe o menor. Caso<br />

os fiscais venham em direção a eles, os<br />

mesmos driblam entre adultos para não<br />

serem vistos. Após inúmeras denúncias<br />

104<br />

C O N C E I T O S<br />

Janeiro/Junho de 2003

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