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Da reserva do possível e da proibição de ... - Revista do TCE

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evista <strong>do</strong> tribunal <strong>de</strong> contas DO ESTADO <strong>de</strong> minas gerais<br />

julho | agosto | setembro 2010 | v. 76 — n. 3 — ano XXVIII<br />

<strong>Da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível e <strong>da</strong> proibição<br />

<strong>de</strong> retrocesso social<br />

Julio Pinheiro Faro Homem <strong>de</strong> Siqueira<br />

Gradua<strong>do</strong> em Direito pela FDV. Colabora<strong>do</strong>r Externo <strong>do</strong><br />

Programa <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> <strong>da</strong> FDV. Secretário-Geral <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Direitos Humanos. Advoga<strong>do</strong>.<br />

Resumo: Trata-se <strong>de</strong> artigo que analisa, brevemente, o discurso <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível para<br />

os direitos sociais, a partir <strong>da</strong> teoria <strong>do</strong> mínimo existencial, confrontan<strong>do</strong>-o com o postula<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> proibição <strong>de</strong> retrocesso social, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a importância <strong>de</strong>sses direitos para o<br />

exercício, por to<strong>da</strong>s as pessoas, <strong>de</strong> suas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Palavras-chave: Reserva <strong>do</strong> possível. Direitos sociais. Proibição <strong>de</strong> retrocesso social.<br />

Abstract: This article makes a brief analysis of the speech of the reserve of the possible for the<br />

fun<strong>da</strong>mental social rights, consi<strong>de</strong>ring the minimum existential theory, comparing it with the<br />

rule of the social setback prohibition principle, in or<strong>de</strong>r to show the importance of those rights<br />

for the exercise of liberties by all people.<br />

Keywords: Reserve of the possible. Fun<strong>da</strong>mental social rights. Social setback prohibition<br />

principle.<br />

1 Introdução<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer, em geral, que os direitos sociais, econômicos e culturais inauguraram as bases<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> social <strong>do</strong> bem-estar, a fim <strong>de</strong> aumentar a presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>saparecer o Esta<strong>do</strong> mínimo. Diz-se em geral porque não se po<strong>de</strong> dizer que ganharam<br />

reconhecimento <strong>de</strong> uma só vez e nem se po<strong>de</strong> arguir que tiveram tal reconhecimento <strong>de</strong> uma<br />

forma generaliza<strong>da</strong>, já que, por exemplo, o marco <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> social <strong>do</strong> bem-estar é a Gran<strong>de</strong><br />

Depressão <strong>de</strong> 1929, embora se pu<strong>de</strong>sse notar, já em fins <strong>do</strong> século XIX, na Alemanha <strong>de</strong> Bismarck,<br />

indícios <strong>de</strong>sse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, e, ain<strong>da</strong> neste senti<strong>do</strong>, a Carta Constitucional mexicana<br />

<strong>de</strong> 1917 já trouxesse, ain<strong>da</strong> que timi<strong>da</strong>mente, o reconhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s direitos<br />

sociais como fun<strong>da</strong>mentais.<br />

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O fato é que os direitos chama<strong>do</strong>s sociais complementam as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ligan<strong>do</strong>-se a elas <strong>de</strong><br />

forma intrínseca, já que têm gran<strong>de</strong> importância para sua viabilização e consequente exercício.<br />

Outro não é o entendimento <strong>da</strong> <strong>do</strong>utrina especializa<strong>da</strong>. Carlos Weis (2006, p. 100), por exemplo,<br />

comentan<strong>do</strong> sobre a quarentenária Convenção Americana <strong>de</strong> Direitos Humanos (CADH), afirmou<br />

que, apesar <strong>de</strong> a teoria tradicional <strong>do</strong>s direitos humanos preconizar que as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m<br />

uma abstenção estatal, “o que se vê é o texto americano filiar-se à corrente mo<strong>de</strong>rna, segun<strong>do</strong><br />

a qual o importante é garantir a observância <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os direitos humanos, pouco importan<strong>do</strong><br />

a natureza <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s necessárias para garantir sua efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima”. No mesmo senti<strong>do</strong>,<br />

José Joaquim Gomes Canotilho (2003, p. 473): os direitos sociais “an<strong>da</strong>m estreitamente<br />

associa<strong>do</strong>s a um conjunto <strong>de</strong> condições — econômicas, sociais e culturais — que a mo<strong>de</strong>rna<br />

<strong>do</strong>utrina <strong>do</strong>s direitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong>signa por pressupostos <strong>de</strong> direitos fun<strong>da</strong>mentais”.<br />

Diante <strong>de</strong>sse vínculo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência existente entre os direitos às liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os direitos<br />

sociais, são estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>is postula<strong>do</strong>s que vêm sen<strong>do</strong> constantemente trata<strong>do</strong>s na <strong>do</strong>utrina<br />

nacional e estrangeira: o <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível e o <strong>da</strong> proibição <strong>de</strong> retrocesso. Estu<strong>do</strong> este<br />

que não preten<strong>de</strong> esgotar a matéria, e sim <strong>de</strong>spertar a reflexão e fornecer uma resposta<br />

à seguinte questão: vincular os direitos sociais à <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível viola o postula<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

proibição <strong>de</strong> retrocesso?<br />

2 Direitos sociais e sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

To<strong>do</strong>s os direitos têm aplicação imediata, tanto no plano internacional (direitos humanos)<br />

quanto no plano nacional (direitos fun<strong>da</strong>mentais). Entretanto, nem to<strong>do</strong>s os direitos, isto é,<br />

nem to<strong>da</strong>s as normas <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> direitos têm a mesma aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. De acor<strong>do</strong> com José<br />

Afonso <strong>da</strong> Silva (2000, p. 13) em conheci<strong>da</strong> monografia, “aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> significa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

que é aplicável”, <strong>de</strong> maneira que, juridicamente, diz-se que a “norma que tem possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser aplica<strong>da</strong>” é “norma que tem capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para produzir efeitos jurídicos”, não se<br />

cogitan<strong>do</strong> “saber se ela produz efetivamente esses efeitos”, posto que isso diria respeito<br />

a uma análise sociológica. Restringe-se, aqui, pois, a análise <strong>da</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s direitos<br />

sociais ao campo jurídico.<br />

Quan<strong>do</strong> se afirma que nem to<strong>da</strong>s as normas <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> direitos têm a mesma eficácia,<br />

quer-se dizer que algumas são, em parte, autoaplicáveis, enquanto outras possuem uma<br />

aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong>. Note-se que não se está a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>, aqui, a antiga classificação <strong>do</strong> direito<br />

norte-americano que divi<strong>de</strong> as normas em self-executing e not self-executing, isto é, normas<br />

autoaplicáveis ou bastantes em si e normas não autoaplicáveis ou que não são bastantes em<br />

si. Isso porque afirmar que <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s normas são autoaplicáveis passa a falsa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

elas produziriam por si sós to<strong>do</strong>s os efeitos que lhes fossem possíveis, e, em relação às normas<br />

não autoaplicáveis, a falsa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que não possuem ou têm eficácia reduzi<strong>da</strong> (SILVA, 2000, p.<br />

75-76). Opta-se, aqui, pelo entendimento <strong>de</strong> que as normas que se chamam autoexecutáveis<br />

têm aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> maior que aquelas às quais se chamam <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong>. As normas<br />

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<strong>do</strong> primeiro grupo são as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o que inclui, também, as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais, que, para seu<br />

tão só e restrito exercício prescin<strong>de</strong>m <strong>de</strong> qualquer intervenção estatal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, é claro, os<br />

indivíduos possuam meios para exercê-las; ao passo que as normas <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> grupo são os<br />

chama<strong>do</strong>s direitos sociais programáticos, que necessitam <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> estatal prestacional,<br />

ou seja, volta<strong>da</strong> para que se possibilite seu exercício.<br />

Doutrina<br />

Assim, os direitos sociais po<strong>de</strong>m ser dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is grupos: as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e os direitos<br />

sociais programáticos. Estes últimos são ti<strong>do</strong>s por aquele tipo <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong>, o que<br />

não significa, entretanto, que a atuação estatal prestacional possa ser diferi<strong>da</strong>, pelo contrário,<br />

ela <strong>de</strong>verá ser imediata, já que cabe aos órgãos estatais maximizar a eficácia <strong>de</strong> to<strong>do</strong> e qualquer<br />

direito <strong>da</strong> pessoa humana (SARLET, 2006, p. 280). A<strong>de</strong>mais, como são os direitos sociais <strong>de</strong><br />

aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> os que suscitam a questão <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, por questões<br />

meto<strong>do</strong>lógicas, afasta-se a análise <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais.<br />

Os direitos sociais <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> estabeleci<strong>do</strong>s por enuncia<strong>do</strong>s prescritivos <strong>de</strong><br />

direitos humanos, ao serem interpreta<strong>do</strong>s, se apresentam como normas programáticas, que<br />

“contêm disposições indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> valores a serem p<strong>reserva</strong><strong>do</strong>s e <strong>de</strong> fins sociais a serem<br />

alcança<strong>do</strong>s”, são normas que “não especificam qualquer conduta a ser segui<strong>da</strong> pelo Po<strong>de</strong>r<br />

Público, apenas apontan<strong>do</strong> linhas diretivas”, geran<strong>do</strong> a “exigibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />

prestação”, ou, até mesmo, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se exigir “<strong>do</strong>s órgãos estatais que se abstenham<br />

<strong>de</strong> quaisquer atos que contravenham as diretrizes traça<strong>da</strong>s” (BARROSO, 2008, p. 109, 255-<br />

256; FERRARI, 2001, p. 172-181). Pelo que a <strong>do</strong>utrina vem enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> sobre o conceito <strong>de</strong><br />

normas programáticas, a melhor expressão a ser utiliza<strong>da</strong> não é norma programática, e sim<br />

norma-diretriz, porque não se refere propriamente a programas, mas a normas-diretrizes que<br />

possuem eficácia limita<strong>da</strong> à atuação <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público, que <strong>de</strong>ve ser imediata, por imperativo<br />

constitucional, a fim <strong>de</strong> serem concretiza<strong>do</strong>s direitos (BARROSO, 2008, p. 170-171). Assim,<br />

as normas constitucionais institui<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> direitos sociais <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> indicam<br />

a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> efetuar uma cobrança em relação ao Po<strong>de</strong>r Público, em suas<br />

três esferas, para que este, por meio <strong>de</strong> políticas públicas a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s e sujeitas ao <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

controle faça com que sejam concretiza<strong>do</strong>s esses direitos (FACCHINI NETO, 2006, p. 45);<br />

enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> por a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> políticas públicas um comportamento estatal tanto positivo<br />

(concretização) quanto negativo (não violação <strong>de</strong> direitos).<br />

Os direitos sociais têm a ver com as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> indivíduo. Como a to<strong>do</strong>s são assegura<strong>da</strong>s<br />

as mesmas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser <strong>da</strong><strong>da</strong>s, também, as mesmas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Contu<strong>do</strong>,<br />

o que se verifica é que, mesmo os indivíduos ten<strong>do</strong> o direito <strong>de</strong> exercer essas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o<br />

real exercício <strong>de</strong> algumas não ocorre ou ocorre com <strong>de</strong>ficiência, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mais varia<strong>do</strong>s<br />

fatores, <strong>do</strong>s quais se po<strong>de</strong> citar o status social, a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, o nível cultural.<br />

Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>ficiência ou ausência, <strong>de</strong>ve haver um meio <strong>de</strong> <strong>da</strong>r oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s aos indivíduos<br />

para que possam chegar ao exercício <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s que lhes são assegura<strong>da</strong>s. Tal é o papel <strong>do</strong>s<br />

direitos sociais, procuran<strong>do</strong>, pois, reduzir <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s socioeconômicas.<br />

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3 A questão <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível<br />

É interessante que, mesmo assim, esse grupo <strong>de</strong> direitos sociais tem si<strong>do</strong> por boa parte <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>utrina associa<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, ou, como afirma Canotilho (2003, p. 481),<br />

“os direitos sociais só existem quan<strong>do</strong> e enquanto existir dinheiro nos cofres públicos”. Tal<br />

associação <strong>de</strong>corre, como lembra Prieto Sanchís (1995, p. 15), <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> que quan<strong>do</strong> falamos<br />

nesses direitos “nos referimos a bens ou serviços economicamente avaliáveis”. De fato, isso é<br />

o que ocorre, mas é preciso que se tenha atenção para o correto uso <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia, ou seja, <strong>de</strong> que<br />

os direitos sociais <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> “estão sujeitos à <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível no senti<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>quilo que o indivíduo, <strong>de</strong> maneira racional, po<strong>de</strong> esperar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (KRELL, 2002, p. 52),<br />

ou melhor, o mínimo que ao indivíduo <strong>de</strong>ve ser disponibiliza<strong>do</strong> <strong>de</strong>sfrutar não entra na conta <strong>da</strong><br />

<strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, mas apenas o que lhe sobejar.<br />

A expressão <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível foi cria<strong>da</strong> pelo Tribunal Constitucional alemão e a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pelos<br />

autores alemães, como se po<strong>de</strong> extrair <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Martins (2005, p. 663-664), com<br />

o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>limitar a razoabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> exigência <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />

prestações sociais, a fim <strong>de</strong> impedir o uso <strong>do</strong>s recursos públicos disponíveis em favor <strong>de</strong> quem<br />

<strong>de</strong>les não necessita, ou seja, foi cria<strong>da</strong> com o objetivo <strong>da</strong> promoção razoável <strong>do</strong>s direitos<br />

sociais, a fim <strong>de</strong> que se realizasse a justiça social através <strong>da</strong> concretização <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. No<br />

Brasil, no entanto, a i<strong>de</strong>ia ganhou conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> contornos novos (TORRES, 2009, p. 106).<br />

A <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível à brasileira, como lembra Fernan<strong>do</strong> Facury Scaff (2004, p. 148), utilizase<br />

<strong>do</strong> argumento <strong>de</strong> que “as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas são infinitas e os recursos financeiros para<br />

atendê-las são escassos”. Não se po<strong>de</strong> a<strong>do</strong>tar, contu<strong>do</strong>, esse entendimento, porque “ninguém<br />

tem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, porém i<strong>de</strong>ias sobre as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, isto é, as pessoas têm “priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

graus <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>” (WALZER, 2003, p. 88). Assim, não se po<strong>de</strong> confundir priori<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são, <strong>de</strong> fato, infinitas, mas nem por isso to<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vem ser<br />

atendi<strong>da</strong>s, mesmo porque há aquelas supérfluas e aquelas prioritárias. Deste mo<strong>do</strong>, os recursos<br />

financeiros <strong>de</strong>vem ser emprega<strong>do</strong>s para aten<strong>de</strong>r o que é prioritário, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, caso haja sobra,<br />

aten<strong>de</strong>r o que é supérfluo. Esta é, pois, a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira razão <strong>de</strong> ser <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível.<br />

A<strong>de</strong>mais, as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s prioritárias, melhor referi<strong>da</strong>s como exigências mínimas, possuem um<br />

conteú<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em escolhas genéricas e objetivas, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se quaisquer <strong>de</strong>sejos,<br />

interesses ou condições particulares, ou seja, é tu<strong>do</strong> aquilo que é imprescindível para qualquer<br />

pessoa, seja qual for seu status social (ZIMMERLING, 1990, p. 41; RAWLS, 2002, p. 97-98), mesmo<br />

que seja certo o fato <strong>de</strong> que alguns indivíduos têm maior acesso aos meios necessários para atingir<br />

essas exigências básicas, ao passo que outros não têm essa sorte (RAWLS, 2002, p. 221-222; AÑÓN<br />

ROIG, 1994, p. 28-29). Este mesmo entendimento tem Amartya Sen (2000, p. 10) quan<strong>do</strong> escreve<br />

que “o <strong>de</strong>senvolvimento consiste na eliminação <strong>de</strong> privações <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> que eliminam as escolhas<br />

e as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s pessoas <strong>de</strong> exercer pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>mente sua condição <strong>de</strong> agente”.<br />

Utilizar um discurso basea<strong>do</strong> na <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível para justificar a <strong>de</strong>ficiente ou a ausente<br />

concretização <strong>de</strong> direitos sociais <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> tem si<strong>do</strong> comum. Ora, esse tipo<br />

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<strong>de</strong> vinculação só po<strong>de</strong> gerar <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> conclusão: ou o Esta<strong>do</strong> não possui dinheiro em seus<br />

cofres ou esse dinheiro existe, sen<strong>do</strong>, porém, mal-emprega<strong>do</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que aquilo que é básico<br />

e <strong>de</strong>veria ser concretiza<strong>do</strong> não o está sen<strong>do</strong> (KRELL, 1999, p. 241-242).<br />

Doutrina<br />

A <strong>do</strong>utrina, em geral, quan<strong>do</strong> trata genericamente sobre a <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, afirma que<br />

“o i<strong>de</strong>al seria que houvesse disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> financeira para cumprir to<strong>do</strong>s os objetivos <strong>da</strong><br />

Constituição” (MARMELSTEIN, 2008, p. 318). A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que “um direito não existe se não<br />

houver um maquinário institucional para protegê-lo”, isto é, “se to<strong>do</strong>s os ci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong>vem<br />

gozar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> mínimo <strong>de</strong> direito, então esses custos não po<strong>de</strong>m ser individualmente<br />

suporta<strong>do</strong>s” (IMMORDINO e PAGANO, 2004, p. 85). Desta feita, to<strong>do</strong>s aqueles direitos que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>da</strong>m <strong>de</strong> uma concretização, como é o caso <strong>do</strong>s direitos sociais, e que se <strong>de</strong>stinem a to<strong>da</strong><br />

a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não apenas a alguns indivíduos, <strong>de</strong>vem ser financia<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s, conforme as<br />

regras pertinentes ao sistema jurídico <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> país.<br />

O maquinário institucional a que se referem Immordino e Pagano é o governo, que arreca<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> as verbas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s ao financiamento <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> direitos e que, na boa expressão<br />

<strong>de</strong> Ronald Coase (1960, p. 17) “é, em certo senti<strong>do</strong>, uma superfirma, <strong>de</strong> um tipo bastante<br />

especial, já que capaz <strong>de</strong> influenciar o uso <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> produção por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

administrativas”, <strong>de</strong> maneira que fica “claro que o governo tem po<strong>de</strong>res que po<strong>de</strong>m facilitar a<br />

obtenção <strong>de</strong> certas coisas por um menor custo <strong>do</strong> que as empresas priva<strong>da</strong>s”. Portanto, o papel<br />

<strong>do</strong> governo é gerir e aplicar corretamente to<strong>do</strong> o dinheiro arreca<strong>da</strong><strong>do</strong> a título <strong>de</strong> financiamento<br />

<strong>do</strong> aparato estatal e, principalmente, <strong>do</strong>s direitos. Assim, se a <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível for utiliza<strong>da</strong><br />

apenas com o propósito <strong>de</strong> justificar os erros <strong>de</strong> gestão social <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público, então é um<br />

postula<strong>do</strong> flagrantemente contrário aos direitos <strong>da</strong> pessoa humana.<br />

A<strong>do</strong>tar-se, portanto, a versão <strong>de</strong> que a <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível justifica a não efetivação <strong>do</strong>s direitos<br />

sociais <strong>de</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong> é <strong>da</strong>r a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não se <strong>da</strong>r necessária eficácia a esses<br />

direitos, e, por tabela, porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>stes, as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s não possam ser (corretamente)<br />

exerci<strong>da</strong>s por to<strong>do</strong>s os indivíduos. Esse tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> é irresponsável, porque liga os direitos<br />

sociais “à ditadura <strong>do</strong>s cofres vazios, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se por isso que a realização <strong>do</strong>s direitos<br />

sociais se dá conforme o equilíbrio econômico-financeiro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” (CANOTILHO, 1998, p.<br />

46), o que não tem cunho verídico, compartilhan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> mesma irresignação <strong>de</strong> Américo Bedê<br />

(2005, p. 74): “é possível falar em falta <strong>de</strong> recursos para a saú<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> existem, no mesmo<br />

orçamento, recursos com propagan<strong>da</strong> <strong>do</strong> governo?”. Ao que o próprio autor continua: “se os<br />

recursos não são suficientes para cumprir integralmente a política pública, não significa <strong>de</strong> per<br />

si que são insuficientes para iniciar a política pública”.<br />

4 As exigências mínimas e a proibição <strong>de</strong> retrocesso social<br />

Utilizar os recursos disponíveis para promover as exigências mínimas <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> não<br />

significa dizer que essa promoção tenha <strong>de</strong> ser to<strong>da</strong> ela feita <strong>de</strong> uma só vez, o i<strong>de</strong>al é que<br />

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fosse, mas seria i<strong>de</strong>al, e não real. É aí que entra a discussão sobre a ve<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> retrocesso<br />

social: começa-se com pouco e faz-se com que haja um “aumento contínuo <strong>da</strong>s prestações<br />

sociais” (CANOTILHO, 1998, p. 47). Ora, se os direitos sociais também têm <strong>de</strong> ter aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

imediata, mesmo que diferi<strong>da</strong>, então não se po<strong>de</strong> admitir que eles sejam vincula<strong>do</strong>s à existência<br />

<strong>de</strong> dinheiro nos cofres públicos, porque <strong>da</strong>í limitar-se-ia ain<strong>da</strong> mais sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e não<br />

se <strong>da</strong>ria continui<strong>da</strong><strong>de</strong> às prestações sociais estatais <strong>de</strong> sua concretização. Como “um direito<br />

não existe se não houver uma máquina institucional para protegê-lo” (IMMORDINO e PAGANO,<br />

2004, p. 85), então é preciso que essa máquina trabalhe ininterruptamente, para que to<strong>do</strong>s os<br />

direitos fun<strong>da</strong>mentais sejam basicamente garanti<strong>do</strong>s e concretiza<strong>do</strong>s.<br />

A concretização <strong>de</strong> direitos, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>s em necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas, dá aos indivíduos, além <strong>de</strong> certa<br />

estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, “a confiança nas instituições, restan<strong>do</strong> por influir positivamente na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e, por<br />

fim, por auxiliar na consecução <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” (CONTO, 2008, p. 56). Noutras palavras,<br />

embora partam <strong>de</strong> iniciativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, as políticas públicas são financia<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

e esta, na medi<strong>da</strong> em que percebe que a máquina estatal está trabalhan<strong>do</strong> corretamente, ou<br />

seja, empregan<strong>do</strong> bem os recursos financeiros capta<strong>do</strong>s, auxilia na concretização <strong>de</strong> direitos e<br />

manutenção <strong>de</strong> políticas públicas. Portanto, como to<strong>da</strong> pessoa possui “um direito fun<strong>da</strong>mental<br />

não escrito à garantia <strong>da</strong>s condições materiais mínimas para uma existência digna” (SARLET,<br />

2007, p. 15), o dinheiro <strong>do</strong> erário <strong>de</strong>ve ser emprega<strong>do</strong> primariamente na concretização <strong>da</strong>s<br />

exigências mínimas, e, com uma nova entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> recursos financeiros, <strong>de</strong>ve haver a maximização<br />

<strong>de</strong>ssas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas.<br />

Trabalha-se, pois, com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mínimo existencial, que, resumi<strong>da</strong>mente, é a essência <strong>do</strong>s<br />

direitos fun<strong>da</strong>mentais, funcionan<strong>do</strong> simultaneamente como sua proteção (HÄBERLE, 2003,<br />

p. 58), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s condições políticas, sociais e econômicas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a que se<br />

pertença. Assim, ao Esta<strong>do</strong> impõe-se que se abstenha <strong>de</strong> violar esse núcleo, seja mediante atos,<br />

seja mediante omissões, a fim <strong>de</strong> não macular a digni<strong>da</strong><strong>de</strong> humana. E é exatamente esta i<strong>de</strong>ia<br />

que parece permitir a “constatação <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> um princípio <strong>da</strong> proibição <strong>do</strong> retrocesso<br />

social” (CONTO, 2008, p. 85).<br />

Pela teoria geral <strong>do</strong> mínimo existencial (BERNAL PULIDO, 2007, p. 408-409), aos indivíduos são<br />

reconheci<strong>do</strong>s direitos minimamente essenciais representa<strong>do</strong>s pelas exigências mínimas, que<br />

<strong>de</strong>vem ser satisfeitas pelo Esta<strong>do</strong>, mediante prestações sociais que efetivem os direitos sociais.<br />

É exatamente aí que se verifica o limite <strong>da</strong> justificativa a partir <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, na<br />

medi<strong>da</strong> em que esta só possa ser arguí<strong>da</strong> para justificar o atendimento <strong>de</strong> preferências, isto é,<br />

<strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s supérfluas, e nunca para justificar a inobservância <strong>do</strong> mínimo existencial. Ora,<br />

se é objetivo fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> social liberal manter uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> justa e igualitária,<br />

então é preciso que às pessoas seja materialmente garanti<strong>da</strong> uma igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

por meio <strong>de</strong> prestações sociais eficientes. Essas prestações sociais implanta<strong>da</strong>s e ofereci<strong>da</strong>s<br />

pelo Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>vem aten<strong>de</strong>r às exigências mínimas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os indivíduos, tenham ou não eles<br />

como as satisfazer por si sós.<br />

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A proibição <strong>do</strong> retrocesso social, como to<strong>do</strong> postula<strong>do</strong> (ÁVILA, 2007, p. 71), relaciona-se com<br />

outras proposições <strong>de</strong>ste tipo, principalmente com o postula<strong>do</strong> <strong>da</strong> proporcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

se apresenta <strong>de</strong> duas formas: “o garantismo negativo (em face <strong>do</strong>s excessos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>) e o<br />

garantismo positivo, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o Esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> proteger <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

direito fun<strong>da</strong>mental” (CONTO, 2008, p. 100). A proporcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> é, pois, um postula<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

otimização, que se perfaz mediante observância <strong>de</strong> seus três níveis (ALEXY, 1994, p. 46):<br />

a<strong>de</strong>quação, necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> e ausência <strong>de</strong> excesso.<br />

Doutrina<br />

O garantismo negativo apresenta-se como a proibição <strong>de</strong> excesso, e o garantismo positivo,<br />

como a a<strong>de</strong>quação e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> mínimo existencial, isto é, como a proibição<br />

<strong>de</strong> proteção <strong>de</strong>ficiente. Essa relação po<strong>de</strong>-se extrair <strong>da</strong>s palavras <strong>de</strong> Bernal Puli<strong>do</strong> (2007, p.<br />

807): “na <strong>do</strong>gmática alemã já é bem conheci<strong>da</strong> a distinção entre duas versões distintas <strong>do</strong><br />

princípio <strong>da</strong> proporcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>: a proibição <strong>de</strong> excesso (Übermaßverbot) e a proibição <strong>de</strong><br />

proteção <strong>de</strong>ficiente (Üntermaßverbot)”. Portanto, é possível explicar a proibição <strong>de</strong> retrocesso<br />

social através <strong>do</strong>s postula<strong>do</strong>s <strong>da</strong> proibição <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong>ficiente e <strong>da</strong> proibição <strong>de</strong> excesso.<br />

Pela proibição <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong>ficiente tem-se que o Esta<strong>do</strong>, mediante suas prestações sociais<br />

(políticas públicas) tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> procurar maximizar o mínimo existencial, ou, por outra,<br />

tornar máxima a efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s direitos minimamente exigíveis, <strong>de</strong> maneira que aquilo que já<br />

foi garanti<strong>do</strong> ou concretiza<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> vir a ser suprimi<strong>do</strong> ou limita<strong>do</strong> por qualquer ato estatal,<br />

isto é, não se po<strong>de</strong>m utilizar medi<strong>da</strong>s retroativas. E, pela proibição <strong>de</strong> excesso, é ve<strong>da</strong><strong>do</strong> ao<br />

Esta<strong>do</strong> utilizar meios <strong>de</strong> caráter retrocessivo, que, embora não atinjam aqueles direitos que já<br />

foram concretiza<strong>do</strong>s, possam promover uma involução social, porque houve uma intervenção<br />

na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> além <strong>do</strong> que era necessário (BARNES, 1994, p. 510).<br />

Portanto, a proibição <strong>do</strong> retrocesso social consiste em que o Esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> se furtar <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> concretizar o mínimo existencial, <strong>de</strong> maximizá-lo e <strong>de</strong> empregar os meios ou<br />

instrumentos cabíveis para sua promoção, sob pena <strong>de</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> vir a experimentar uma<br />

imensa limitação no exercício <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus direitos.<br />

5 Os três po<strong>de</strong>res estatais e a realização <strong>do</strong>s direitos fun<strong>da</strong>mentais<br />

Fala-se, então, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem ser efetiva<strong>da</strong>s políticas públicas a fim <strong>de</strong> se evitar que haja retrocesso<br />

social e consequente violação <strong>do</strong> mínimo existencial. Essas ações <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> direitos<br />

volta<strong>do</strong>s para a satisfação <strong>da</strong>s exigências mínimas <strong>de</strong>vem ser observa<strong>da</strong>s concomitantemente<br />

pelas três funções (ou po<strong>de</strong>res) estatais, ca<strong>da</strong> uma com suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> se<br />

evitar o retrocesso, ou a involução social. Essa observação leva a uma pergunta crucial para o<br />

entendimento <strong>do</strong> problema aqui trata<strong>do</strong> e que também é posta por Bruce Ackerman (2000, p.<br />

715): “em que senti<strong>do</strong> a separação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res protege os direitos fun<strong>da</strong>mentais?”. A resposta a<br />

esta questão é encontra<strong>da</strong> na prática e manutenção <strong>de</strong> políticas públicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que elas sejam<br />

cogeri<strong>da</strong>s pelos três po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> forma harmônica.<br />

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Ora, como é comum dizer, os três Po<strong>de</strong>res são autônomos, <strong>da</strong>í a separação, e, também,<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, <strong>da</strong>í a harmonia, <strong>de</strong> maneira que se possa dizer haver uma separação<br />

harmônica <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>res estatais que “é elemento lógico essencial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Direito”,<br />

exatamente para haver o “controle <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político”, atuan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> Po<strong>de</strong>r como<br />

“um limite ao exercício <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> outro” (SUNDFELD, 2005, p. 42-43). Os três Po<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong>vem ser sempre atuantes, promoven<strong>do</strong> as finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, isto é, em linhas gerais,<br />

a formação <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> livre, justa, solidária e igualitária, e que assegure o mínimo<br />

existencial <strong>de</strong> seus membros.<br />

Assim que a realização <strong>de</strong> políticas públicas tem <strong>de</strong> estar vincula<strong>da</strong> aos Po<strong>de</strong>res estatais, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que estes <strong>de</strong>vam promover a concretização e manutenção <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s pessoas<br />

humanas que são, em seu favor, minimamente exigíveis.<br />

Nesta esteira, cabe ao Legislativo estabelecer normas jurídicas que reconheçam direitos e<br />

regulamentem, com fulcro na Constituição nacional, seu exercício, a fim <strong>de</strong> que sejam garanti<strong>da</strong>s<br />

as exigências mínimas inerentes à vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> quaisquer pessoas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que elas fruam “a melhor<br />

vi<strong>da</strong> social” (BANDEIRA DE MELLO, 2007, p. 31). Ao Executivo cabe “a realização, em concreto,<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas normas jurídicas” (BANDEIRA DE MELLO, 2007, p. 34), o que ocorre por meio <strong>do</strong><br />

planejamento e <strong>da</strong> execução <strong>de</strong> políticas públicas, “que visem ao cumprimento <strong>da</strong>s promessas<br />

constitucionais” (CONTO, 2008, p. 101). Essas promessas <strong>de</strong>correm exatamente <strong>da</strong> existência<br />

<strong>de</strong> direitos sociais que tenham aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> diferi<strong>da</strong>, o que, muito antes <strong>de</strong> funcionar como<br />

algo que vá atrapalhar o exercício <strong>do</strong>s direitos fun<strong>da</strong>mentais, “torna mais transparente a<br />

vinculação <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> direção política ao fornecer linhas <strong>de</strong> atuação e direção”, já que “o<br />

senti<strong>do</strong> normativo <strong>de</strong> uma constituição concebe-se como prospectivamente orienta<strong>do</strong>, sem<br />

fechar o sistema, pois não é apenas o garanti<strong>do</strong>r <strong>do</strong> existente, mas <strong>de</strong>ve ser o esboço <strong>do</strong> porvir”<br />

(BERCOVICI, 1999, p. 38-39). E ao Judiciário cabe o controle <strong>do</strong>s atos <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is Po<strong>de</strong>res<br />

mediante a justa e legal aplicação <strong>da</strong>s normas jurídicas ao caso concreto, a fim <strong>de</strong> “garantir um<br />

cumprimento racional <strong>do</strong>s respectivos preceitos constitucionais” (KRELL, 2002, p. 22) e que não<br />

haja atuação abusiva ou excessiva, evitan<strong>do</strong>-se a retroação e o retrocesso sociais, toman<strong>do</strong>-se<br />

o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, como aponta Virgílio Afonso <strong>da</strong> Silva (2009, p. 78, nota 33), <strong>de</strong> não incidir no erro<br />

<strong>de</strong> “uma <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> intervenção <strong>do</strong> Judiciário sempre que não houver a realização <strong>de</strong> um direito<br />

social”, já que a omissão legislativa ou mesmo executiva po<strong>de</strong> estar fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> jurídicoconstitucionalmente.<br />

6 Conclusão<br />

Não se po<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ixar-se levar pelo discurso <strong>de</strong> que o postula<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong><br />

possível permite que se justifique a ausência <strong>de</strong> investimentos estatais em prestações sociais<br />

que concretizem ou que potencializem os direitos sociais à falta <strong>de</strong> dinheiro nos cofres públicos.<br />

A <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível trabalha, pelo contrário, com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a falta <strong>de</strong> recursos só po<strong>de</strong><br />

ser arguí<strong>da</strong> em relação às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s supérfluas <strong>do</strong>s indivíduos, isola<strong>da</strong> ou coletivamente<br />

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consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s. No entanto, o que se vê é o caminho inverso, e a realização <strong>do</strong>s direitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais em seu mínimo essencial vai fican<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez distante.<br />

Aplicar o postula<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s prioritárias é possibilitar que o<br />

indivíduo não atinja o mínimo existencial, e isso é inadmissível em se tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> promoção <strong>da</strong><br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pessoa humana e <strong>da</strong> justiça e equi<strong>da</strong><strong>de</strong> sociais.<br />

Doutrina<br />

Neste encalço, cabe afirmar que os direitos sociais, como condições a serem satisfeitas para o<br />

exercício <strong>de</strong> algumas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vem pelo menos ter uma garantia mínima, ou seja, serem<br />

materializa<strong>do</strong>s num grau básico, que é prioritário a to<strong>do</strong> e qualquer ser humano. To<strong>da</strong>via, não<br />

basta que sejam concretiza<strong>da</strong>s apenas as prestações suficientes para se alcançar o mínimo,<br />

é preciso que essas prestações sofram aos poucos um aumento contínuo, maximizan<strong>do</strong>-se o<br />

mínimo, ou, por outra, que este mínimo seja realiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> maneira mais ampla possível.<br />

Por isso a <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível não po<strong>de</strong>, sob hipótese alguma, ser alega<strong>da</strong> para justificar o<br />

comportamento omissivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em relação ao seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> prestativi<strong>da</strong><strong>de</strong> social em relação<br />

ao mínimo existencial. Os <strong>de</strong>sejos, como se sabe, são ilimita<strong>do</strong>s, porém as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas,<br />

não o são, e, <strong>de</strong>sta forma, faz-se preciso consi<strong>de</strong>rar que, sim, os direitos têm custos, mas o<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r, razoável e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente, o dinheiro arreca<strong>da</strong><strong>do</strong> para sua promoção<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>queles parâmetros mínimos.<br />

Aliás, como bem aponta Ana Paula <strong>de</strong> Barcellos (2008, p. 266 e 268), “a limitação <strong>de</strong><br />

recursos existe”, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que, sen<strong>do</strong> assim, “os recursos disponíveis <strong>de</strong>verão ser aplica<strong>do</strong>s<br />

prioritariamente no atendimento <strong>do</strong>s fins consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s essenciais pela Constituição, até que<br />

eles sejam realiza<strong>do</strong>s”; e, se houver algum recurso remanescente, este po<strong>de</strong>rá ser emprega<strong>do</strong><br />

“<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as opções políticas que a <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong>mocrática apurar em ca<strong>da</strong> momento”,<br />

ou seja, po<strong>de</strong>rá ser aplica<strong>do</strong> para aten<strong>de</strong>r a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s supérfluas ou para maximizar as<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas, promoven<strong>do</strong> o aumento contínuo <strong>da</strong>s prestações sociais previsto pelo<br />

postula<strong>do</strong> <strong>da</strong> irredutibili<strong>da</strong><strong>de</strong> social.<br />

A <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível tem si<strong>do</strong> utiliza<strong>da</strong> com fins <strong>de</strong> justificar a limitação <strong>de</strong> recursos para<br />

fornecer à coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, por exemplo, um sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> educação, enquanto<br />

se vê, claramente, a interessante sobra <strong>de</strong> recursos para propagan<strong>da</strong>s <strong>de</strong> governo.<br />

Portanto, <strong>de</strong>ve-se ter muita atenção para o fato <strong>de</strong> que as exigências mínimas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

indivíduos <strong>de</strong>vem ser atendi<strong>da</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> mediante políticas públicas, sem que se possa<br />

justificar a inércia estatal através <strong>da</strong> <strong>reserva</strong> <strong>do</strong> possível, o que, se continuar a ser admiti<strong>do</strong>,<br />

fará com que continuem a existir apenas previsões <strong>de</strong> direitos e promessas não cumpri<strong>da</strong>s.<br />

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