era feito dentro dos mares e termos de seu senhorio de Guiné, em que seoferecia dissenção” 31 . Quanto a João de Barros declarou que D. João II“com a nova do sítio e lugar que lhe Colom disse da terra deste seudescobrimento ficou mui confuso e creo verdadeiramente que esta terradescoberta lhe pertencia, e assim lho davam a entender as pessoas do seuconselho” 32 .De acordo com o que <strong>Colombo</strong> escreveu no seu diário no dia 9 deMarço de 1493 D. João II recebeu-o bem “mas que entendia que en lacapitulaçion que havia <strong>entre</strong> los reys e el que aquella conquista lepertencia. A lo qual respondió el almirante que no avia visto lacapitulaçion ni sabia outra cosa, sino que los reys le avían mandado queno fuesse a la Mina ni en toda Guinea” 33 .Fernando <strong>Colombo</strong> e Bartolomeu de las Casas souberam que<strong>Colombo</strong> não foi apoiado por D. João II alegando que lhe apresentaraexigências excessivas, quer no pedido do financiamento da coroa para arealização da sua viagem, quer na solicitação de grandes honrarias comorecompensa do esperado sucesso do seu empreendimento. Temos dereconhecer que as promessas de doação das terras descobertas dadas por D.João II estavam longe de poderem corresponder às exigências feitas por<strong>Colombo</strong> aos Reis Católicos e satisfeita em Santa Fé em 1492.Na conjuntura em que D. João II recusou apoio a <strong>Colombo</strong>autorizou a realização de uma viagem para ocidente a Fernão Dominguesdo Arco, “morador na ilha da Madeira”, prometendo-lhe a 30 de Junho de1484 a doação de “uma ilha que ora vai buscar”, isto é, estaria naeminência de iniciar uma viagem de descobrimento 34 . <strong>Colombo</strong> referiu-se aessa intenção de descobrimento no seu diário da primeira viagem no dia 9de Agosto de 1492 ao escrever que “se acuerda que estando en Portugal elaño de 1484 vino uno de la madera al rey a le pedir una caravela para ir aesta tierra que via, el qual jurava que cada año la via y siempre de unamanera” 35 .31 Crónica de D. João II na edição de M. Lopes de Almeida das Crónicas de Rui de Pina,Porto, Lello § irmão, Porto, 1977, p. 1016.32 Ásia de Joam de Barros: dos feitos, que os Portugueses fizeram no descobrimento econquista dos mares e terras do Oriente, década 1 (livro III, cap. XI), edição de AntónioBaião, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, p. 114.33 Cristóbal Colón, Textos y documentos completos, edição prólogo e notas de ConsueloVarela, 2.ª edição, Madrid, Alianza Universidad, 1984, p. 136.34 Descobrimentos portugueses: documentos para a sua história, edição de João Martins daSilva Marques, volume III, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1971, p. 278 e Damião Peres,História dos Descobrimentos Portugueses, 2.ª edição, Coimbra, edição do autor, 1960(1961), p. 329.35 Cristóbal Colón, Textos y documentos completos, edição prólogo e notas de ConsueloVarela, 2.ª edição, Madrid, Alianza Universidad, 1984, p. 18.18
<strong>Encontros</strong> e <strong>desencontros</strong> <strong>entre</strong> Cristóvão <strong>Colombo</strong> e D. João II:Foi contra o apoio dado pelo rei a Fernão Domingues do Arco queFernando <strong>Colombo</strong> e Las Casas se referiram ao indicarem que <strong>Colombo</strong> seteria mostrado muito irritado com tal atitude, pois alegaram que ele teriamandado fazer uma exploração secreta do Atlântico para encontrar terras aocidente que o genovês se tinha proposto encontrar. Ora nem a realizaçãoda tal viagem está atestada como tendo sido realizada nem o está a irritaçãode <strong>Colombo</strong>, como o revela a circunstância de antes de 20 de Março de1488 ter pedido a D. João II um salvo-conduto para regressar a Portugal, oqual lhe foi concedido nesta data com palavras de muito apreço, como jásalientámos.O planisfério português anónimo de 1502 conhecido por “mapa deCantino”, feito dez anos depois da viagem de <strong>Colombo</strong> que descobriu aAmérica, revela um surpreendente mundo novo a ocidente, que não era aÍndia por ele procurada e mostra como era a Índia verdadeira, onde chegaraVasco da Gama em 1498. Estavam então esclarecidas as questõescolocadas pelas duas opções estratégicas dos descobrimentos que sedebatiam em 1474 na carta de Toscanelli 36 .36Este estudo teve uma versão preliminar publicada em italiano na comunicação«Sull’incontro fra <strong>Colombo</strong> e il re Giovanni II: origine e divergenza di due strategie», inCristoforo <strong>Colombo</strong> dal Monferrato alla Liguria e alla Penisola Ibérica - nuove ricerche edocumenti inediti: Atti del II Congresso Internazionale Colombiano, Cucaro, AssociazioneCentro Studi Colombiani Monferrini, 2009, p. 241-248 e em estudos que já publicamossobre as relações de <strong>Colombo</strong> com Portugal em «<strong>Colombo</strong> em Portugal», Oceanos, 10,Lisboa, Abril de 1992, p. 27-30 e «O encontro de D. João II com Cristóvão <strong>Colombo</strong> em1483», Oceanos, 17, Lisboa, Março de 1994, p. 104-108, ambos reunidos em Ao encontrodos Descobrimentos: temas de História da Expansão, Lisboa, Editorial Presença, 1994.XXII-19