11.07.2015 Views

uma empresa, várias gerações - Gazeta Das Caldas

uma empresa, várias gerações - Gazeta Das Caldas

uma empresa, várias gerações - Gazeta Das Caldas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESPIROTECNIA BOMBARRALENSE – quatro <strong>gerações</strong> a dFoi um ribatejano da Moitado Norte (Vila Nova da Barquinha)que em 1934 fundou nosarredores do Bombarral <strong>uma</strong>fábrica de foguetes que vaihoje na terceira geração, masse se tiver em conta que o seupai também já era pirotécnico,pode dizer-se que esta actividadeé assegurada por quatro<strong>gerações</strong>.Francisco Martins Júnior(1909-1982) tinha seguramentevisão para o marketing se talconceito já existisse nessa altura.À sua <strong>empresa</strong> chamoulheAlta Pirotecnia do Oeste.“Alta” para se distinguir dasdemais existentes no país, e“Oeste” porque, vindo de longee recém-chegado ao Bombarral,terá intuído certamenteque havia <strong>uma</strong> entidadeoestina. Ou, pelo menos, percebeuque o seu mercado eraregional e não meramente local.O seu pai, Francisco Martins,fora um homem dos sete ofícios.Teve <strong>várias</strong> actividades,mas quedou-se pela pirotecniacom quem trabalhava emsociedade com os seus setefilhos na Moita do Norte.“Mas um dia zangaram-se todos e cada um foi paraseu lado. Um para o Porto,outro para Torres Novas,outro para o Entroncamento,outros ficaram na Moita,e outro para o Bombar-ral... enfim foram espalhara arte da pirotecnia, da pól-vora e dos rastilhos pelopaís todo”. Quem o conta éAntónio Rabaça Martins, filhode Francisco Martins.Do seu pai, conta que fezduas ou três visitas ao Bombarrale achou que era um bomsítio para iniciar o negócio porquenão havia mais nenh<strong>uma</strong>Francisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarn<strong>uma</strong> <strong>empresa</strong> de referência no país no estrangeiro.indústria desse tipo na região.“Comprou um terreno demil metros quadrados aquino Pinhal do Concelho ecom a madeira dos própri-os pinheiros construiu seiscasinhas onde começou afabricar foguetes”.No início, a Alta Pirotecniado Oeste arrancou logo comtrês empregados e a coisa nãodeve ter corrido mal porquepassado poucos anos, as seisbarracas onde se fabricavamfoguetes deram lugar a noveedifícios em tijolo.Deve dizer-se desde já que<strong>uma</strong> pirotécnica não é <strong>uma</strong> fábricaqualquer. Não tem nadaa ver com a ideia de um pavilhãoou nave no interior do qualse realiza um processo produtivoonde entra matéria-primapor um lado e sai produto acabadopelo outro.Neste “métier” as restriçõesao nível de segurança obrigamUma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,os foguetes eram assim transportados em carrinhas.a que pessoas e máquinas laboremafastadas <strong>uma</strong>s boasdezenas de metros entre sipara evitar a propagação de incêndioou de explosões emcaso de acidente.Por isso, a fábrica do “senhorRabaça” - como é conhecidono Bombarral o empresárioAntónio Rabaça Martins –mais parece um aldeamentoturístico, com muros e casaspintadas de branco, tanquescom água cristalina e muitasárvores e flores espalhadaspelos diversos pátios. Há tambémcontrafortes para seguraros edifícios em caso de acidentee um ruído de fundo de máquinasque não incomoda demasiado.O pior ali é mesmo aestrada municipal de acesso àfábrica, que aguarda há anospor um pouco mais de alcatrão.“CRESCI NO MEIO DAPÓLVORA”António Rabaça Martinssenta-se num gabinete rodeadode calendários e cartazesdo Sporting. Uma paixão quepassou para o filho e netos.Mas atenção. Também já fezespectáculos para o Benfica. Epara qualquer clube que lhoscompre. Negócios são negócios.Tendências clubísticas sãooutra coisa.E conta a sua história:“O meu pai veio para cá jáhomem, casado e com dois filhos.Eu e a minha irmã maisnova já nascemos no Bombarral.Desde miúdo que me lembroda fábrica e com dez anosjá vinha para cá ajudar o meupai. Cresci no meio da pólvora.”E desde sempre teve a percepçãode que iria suceder aopai à frente da pirotécnica?“Sim. Excepto <strong>uma</strong> vez...Foi quando em 1959 acabeina Escola Industrial e Comercialdas <strong>Caldas</strong> da Rai-nha [hoje Secundária RafaelBordalo Pinheiro] o quintoano do curso Industrial deCerâmica. Tive a melhornota do curso e o director,o Dr. Leonel Sotto Mayor,chamou-me e convidou-mepara ser professor de tra-balhos manuais em Vianado Alentejo. Só que o meupai e a minha mãe não medeixaram ir. Eu tinha 17anos e acharam que eu eramuito novo para ir para tãolonge”.O seu futuro definitivo naactividade pirotécnica ficariaali traçado e progressivamentepassa a envolver-se cada vezmais na <strong>empresa</strong>. Mas veioainda a tropa, em 1964, com<strong>uma</strong> comissão em Angola ondeesteve debaixo de fogo <strong>várias</strong>vezes. A sua especialidade nãopodia ser outra – minas e armadilhas.Em 1967 regressa de Áfricae no ano seguinte casa-se comMaria Rosete. Vem decidido amodernizar a <strong>empresa</strong> do paie em 1969 ele próprio inventa<strong>uma</strong> máquina de carregar canudos“que naquela altura jáfuncionava com três moto-res independentes”, conta.Isto representava um grandesalto qualitativo para umfábrica que apenas tinha <strong>uma</strong>máquina de cortar canas paraos foguetes. Num espaço deum ano, António Rabaça Martinsinstala 32 motores na pi-rotecnia, automatizando umprocesso produtivo que atéentão era integralmente manual.“Aquilo foi decisivo paraa expansão da <strong>empresa</strong>pois mais ninguém tinhadisso em Portugal”, diz oempresário, recordando aquelasinovações. É que não erafácil conseguirem-se máquinaspara trabalhar com pólvorae explosivos porque o metalnão pode roçar no metal. Senão,à mínima faísca seria <strong>uma</strong>catástrofe. António Rabaçaconseguiu a proeza de inventarum moinho de galgas sus-Um projecto de 5 milhões deeuros“Se isto avançar, nãoserá só a maior pirotécni-ca do país. Será <strong>uma</strong> dasmaiores da Europa e domundo”. António RabaçaMartins mostra <strong>uma</strong> plantacom o projecto da fábrica quepretende construir no Bombarrale que aguarda há noveanos por <strong>uma</strong> autorização camarária.A localização é precisamenteao lado das portagens daA8 no Bombarral (sentido sulnorte),num terreno compostopor <strong>uma</strong> enorme clareiraverde no meio dos pinhais.Mede 435 metros quadrados etem <strong>uma</strong> zona de segurançatão grande que a fábrica propriamentedita só ocupará trêsmil metros quadrados.O investimento previsto éde 5 milhões de euros e AntónioRabaça diz que a ideia épensas que ficavam a cinco milímetrosdo fundo da bacia.Em 1979 o fundador da fábricaadoece e deixa ao filho asua gestão. Francisco MartinsJúnior morre em 1982, orgulhosoda sua unidade fabril quecomeçara por ter mil metrosquadrados e tinha agora oitovezes mais de área. Na alturatalvez já adivinhasse que o seuneto João Martins (então comdez anos) seguiria o negócioda família, o que viria a acontecerdez anos depois.Carlos Ciprianocc@gazetacaldas.comcriar novos postos de trabalhopois, de outra forma, não valeriaa pena ampliar as instalações.O empresário desespera coma burocracia e queixa-se da desigualdadeentre Portugal e Espanhana transposição das exigentesdirectivas comunitáriassobre segurança de fábricasdeste tipo. “Enquanto cá temos200 metros de segurançaentre os paióis e a auto-estrada, em Espanha nemchega a 20 metros”, desabafa.E isto é apenas um exemploem como tudo é mais complicadoem Portugal do que no paisvizinho onde a legislação é muitomenos rigorosa. Deste modo,conclui, “até é um milagre quea gente consiga competircom os espanhóis”.C. C.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!