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ENGENHARIA FORTE SE FAZCOM A PARTICIPAÇÃO DE TODOSFaça parte do Senge-PR, o seu sindicato.Aqui, o seu direito é nosso dever.Plano de Saúde Unimed e odontológico Dental Uni?O Senge conta com planos com preços diferenciados ecobertura para os associados e seus dependentes.// ASSESSORIA JURÍDICAVenha para o Senge, seu direito é nosso dever!O filiado ao Sindicato dos Engenheiros conta com assessoria jurídicanas áreas trabalhista, previdenciária e administrativa.Se você é engenheiro, saiba que não está sozinho.Faça parte do Senge-PR.Nós lutamos pelo seu direito.


SINDICATO DOS ENGENHEIROSNO ESTADO DO PARANÁFiliado àDiretor-PresidenteCarlos RobertoBITTENCOURTVice-PresidenteValter FANINIDiretor-SecretárioLEANDRO José GrassmannDiretor-Secretário AdjuntoANGELA DoubekDiretor FinanceiroLidio Akio SASAKIDiretor Financeiro AdjuntoJorge Irineu DEMÉTRIODiretoresANA PAULA Conter Lara;CÍCERO Martins Junior;CLAUDINEI Pedroso Ribas;CLEVERSON de Freitas;CLODOMIRO Onésimo da Silva;EDILENE Pires da SilvaAndreiu; ELOI Rufato Junior;Hélio Sabino DEITOS; JOSÉRICA<strong>RD</strong>O Vargas de Faria;MARCOS VALÉRIO de FreitasAndersen; MÁRCIO DA SILVA;MARY STELA Bischof;MAURÍCIO Camilo CesconettoRodrigues; RAUL HenriqueBrianese; SANDRA Cristina Linsdos Santos; TELÉSFORO Liz deOliveira, THEODÓZIO StacheraJúnior, ULISSES KaniakSedeRua Marechal Deodoro, 630,22.º andar.Centro Comercial Itália (CCI).CEP 80010-912Tel./fax: (41) 3224 7536.senge-pr@senge-pr.org.brwww.senge-pr.org.brDiretores RegionaisManoel Genildo PEQUENO(Campo Mourão)NELSON Müller Junior(Cascavel)José Quirilos ASSIS Neto(Foz do Iguaçu)Ricardo S. Farias FREGONESE(Francisco Beltrão)NILTON Camargo Costa(Londrina)SAMIR Jorge (Maringá)RUDMAR Luiz Pereirados Santos (Pato Branco)MARGOLAINE Giacchini(Ponta Grossa)Campo MourãoAv. Capitão Índio Bandeira, 1400,sala 607, Centro, 87300-000.Tel: (44) 3523 7386.campomourao@senge-pr.org.brCascavelR. Paraná, 3056, sala 703, Centro,85801-000. Tel: (45) 3223 5325.cascavel@senge-pr.org.brFoz do IguaçuR. Almirante Barroso, 1293,loja 9, Centro, 85851-010Tel: (45) 3574 1738.fozdoiguacu@senge-pr.org.brFrancisco BeltrãoR. Fernando de Noronha,15 BairroNossa Senhora AparecidaCep 85.601-820.Tel: (46) 3523 1531.franciscobeltrao@senge-pr.org.brLondrinaR. Senador Souza Naves, 282, sala1001, Centro, 86010-170.Tel: (43) 3324 4736.londrina@senge-pr.org.brMaringáTr. Guilherme de Almeida, 36,cj.1304, Centro, 87013-150.Tel: (44) 3227 5150.maringa@senge-pr.org.brPato BrancoAv. Tupi, 2715, Gl. Itacolomy,sala 7. Centro, 85505-000.Tel: (46) 3025 3234.patobranco@senge-pr.org.brPonta GrossaAssociação dos EngenheirosAgrônomos dos Campos Gerais(AEACG).R. Julia Wanderley, 1376CEP: 84010-170. Tel: (42) 3222-1520pontagrossa@senge-pr.org.brPublicação do Sindicato dosEngenheiros no Estadodo ParanáEdiçãoJoão Pedro de Amorim Jr.(MTB 3.197/PR)RedaçãoJoão Pedro de Amorim Jr. eAlexsandro Teixeira Ribeiro(MTB 9.177/PR)Capa e DiagramaçãoAndressa KondlatschColaboraram nesta ediçãoCamila Marins(MTB 47.474/SP),jornalista da FisengeFotografiaJoka MadrugaFale conoscocomunica@senge-pr.org.brAcessewww.senge-pr.org.br/senge-pr/sengeprArtigos assinados são de responsabilidadedos autores. O Senge-PR permite a reprodução do conteúdodesta publicação, desde quea fonte seja citada.Fotolitos/ImpressãoExklusiva Gráfica e EditoraTiragem 15 mil exemplaresEdição de dezembro de 2014 afevereiro de 2015


EDITORIALFoto: Joka MadrugaSegurança hídrica é temamundial que estampa a capadesta terceira edição da RevistaDiferencial. Convidadoa fazer parte de um grupode trabalho para auxiliar nadefinição de políticas públicasnesse setor para o Paraná,o Senge-PR se colocou àdisposição para contribuir damelhor forma, sempre comvistas a garantir a qualidadede vida da população paranaense.Nesta edição você ficará sabendoda importante vitóriaque o Senge-PR obteve aoter reconhecido pela JustiçaFederal, o pedido para que asatividades de comercializaçãoe armazenamento de agrotóxicossejam exclusivas deengenheiros agrônomos. Foiuma conquista não apenas emnome dos profissionais de engenhariamas, sobretudo, emdefesa do meio ambiente e dasaúde pública.Nosso sindicato tambémacompanha de perto o processode revisão dos PlanosDiretores de cidades polo deregiões metropolitanas, previstono Estatuto das Cidades.Neste contexto, defendemosque o planejamento sejainclusivo e que contempleos cidadãos metropolitanos,conforme você poderá lernesta publicação.Outra defesa permanente doSenge que você verá nas páginasseguintes é pela Democratizaçãoda Comunicação.Queremos a ampla aberturados meios de comunicaçãopara que haja maior participaçãoda sociedade, afinal oscanais de rádio e TV são concessõespúblicas e não podemser objeto de controle e deinteresse exclusivo de gruposfechados. Um bom exemplode mídia não exclusivista é aRádio Yandê, a primeira rádioweb indígena do Brasil, quecuja história você vai conhecerem mais uma reportagemdesta edição.Um convite ao debate sobrea Reforma Política está numaentrevista exclusiva com oministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, GilbertoCarvalho.O Senge-PR foi ao Rio de Janeiroe subiu o Morro DonaMarta, na zona Sul carioca.Uma reportagem especiallevará você a um passeio naFavela Santa Marta para saberda vida e das dificuldadesde quem luta por espaço nagrande cidade.Desejo a todos uma boa leituraCarlos Roberto Bittencourtpresidente do Senge-PRRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná5


ÍNDICESegurança HídricaGrupo de trabalho com participaçãodo Senge quer evitar que Paranáenfrente crise de abastecimento de água1608111223RT SOBRE VENDA DEAGROTÓXICOS É DEENGENHEIROSSEGURANÇA PARAQUE O VENENO NÃOCHEGUE À MESACREA PREMIA SENGECOM CERTIFICAÇÃOOURO DE QUALIDADEREFORMA POLÍTICA,A REFORMA DASREFORMAS2628 3139O PAPEL DA MULHERNA ENGENHARIAPLANEJAMENTOMETROPOLITANO ÉNECESSÁRIO E URGENTECOMUNICAÇÃOPARA TODOSALDEIAGLOBAL424447LIDERANÇASEM FORMAÇÃOROGAI POR NÓS,SANTA MARTA!GENTRIFICAÇÃORevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná7


RESPONSABILIDADESOBRE AGROTÓXICOSÉ DE ENGENHEIROSAGRÔNOMOS,NÃO DE TÉCNICOSPor João Pedro de Amorim Jr.Decisão do TRF derrubaliminar concedida àAssociação dos TécnicosAgrícolas que garantia, desde26 de fevereiro de 2013,que esse tipo de trabalhofosse executado por técnicosagropecuários no Estado.Em decisão inédita, o TribunalRegional Federal da 4ª Regiãodeterminou que, no Paraná,somente engenheiros agrônomospodem prestar assistênciae ser responsáveis técnicos porempresas de comercialização earmazenamento de agrotóxicos.O acórdão, assinado pelo desembargadorFernando Quadrosda Silva, é favorável aoSindicato dos Engenheiros noEstado do Paraná e ao Crea-PR e derruba liminar concedidaà Associação dos TécnicosAgrícolas que garantia, desde26 de fevereiro de 2013, que8Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


ARTIGOSEGURANÇAPARA QUE OVENENO NÃOCHEGUE À MESAMarcos AndersenA utilização indiscriminadade agrotóxicos obrigou as autoridadesda saúde a criar umsistema de monitoramento deresíduos nos alimentos. Criadopela Anvisa em 2001, o Programade Análise de Resíduosde Agrotóxicos em Alimentos(PARA) busca avaliar e promovera qualidade dos alimentosem relação ao uso de agrotóxicose afins.Os resultados do Programapermitem verificar se os alimentosvendidos no varejoFoto: Joka MadrugaMarcos Andersen, diretor do Senge-PR, é engenheiroagrônomo formado pela UFPR. Foi secretáriomunicipal de Agricultura e de Habitação,em Caxias do Sul (RS) entre 1999 e 2004, Consultordo Ministério de Desenvolvimento Agrário(2005-2006) e diretor Agrocomercial da Ceasa.Pós-graduado em Vigilância Sanitária, atualmenteé responsável pela área de saneantes da Divisão deVigilância Sanitária da Secretaria de Estado daSaúde (DVS/SESA ).apresentam níveis de resíduosde agrotóxicos dentro dos limitesestabelecidos pela Anvisa;conferir se os agrotóxicosestão registrados no país e seforam aplicados corretamente;estimar a exposição da populaçãoaos resíduos em alimentosde origem vegetal e avaliar orisco dessa exposição à saúde.Os relatórios anuais do programatêm se constituído emum dos principais indicadoresdo uso irregular de agrotóxicosem alimentos consumidospela população. Os resultadospermitem refinar a avaliaçãoda exposição aos resíduos deagrotóxicos e subsidiam a reavaliaçãode ingredientes ativospara a tomada de decisão sobrea restrição e o banimento deagrotóxicos perigosos para asaúde da população.Além disso, o Programa recomendaaos consumidores queadquiram alimentos certificadose, portanto, rastreáveis atéo produtor rural, e que esteadote as Boas Práticas Agrícolas,reduzindo os resíduosde agrotóxicos e prevenindoagravos à saúde.O último resultado publicadoé de 2012, e considera amostrasde produtos coletados emtodo o país. Segundo os dadosdo último resultado publicadopelo programa, referentesa amostras coletadas naqueleano, do total de 210 amostrasde abacaxis 41% apresentaramresultado insatisfatóriono que diz respeito à concentraçãode agrotóxicos. De 211amostras de morango, 15%apresentaram níveis de resíduosde agrotóxicos acima dolimite e 59% tiveram resultadoinsatisfatório.Na pesquisa também foramanalisadas amostras de arroz,cenoura, laranja, maçã, pepino,abobrinha, alface, feijão,fubá de milho, tomate e uva.Todos os alimentos monitoradosapresentam algum resíduode agrotóxico, tanto acima dolimite quanto em relação aouso indevido desses produtosque acabam sendo consumidospela população.Os agrotóxicos podem causarvários danos à saúde, principalmenteem exposições prolongadas,como neoplasias,dificuldades de aprendizagem,cefaleias, enjoos, tonturas einúmeros outros. Apesar deo programa ter identificadoalimentos contaminados quechegam à mesa dos consumidores,ainda faltam políticas eações que possam evitar queisso ocorra.Cada vez mais os países desenvolvidostêm estimuladoa produção de alimentos semagrotóxicos. No Brasil os programascomo PRONAF Agroecologiae o Plano Nacionalde Agroecologia e ProduçãoOrgânica são iniciativas paraincrementar a produção de alimentossem agrotóxicos.Infelizmente os resultadosainda são inexpressivos. Faltauma politica massiva de assistênciatécnica e de pesquisaapropriadas a cada região e aossistemas de produção local.Os engenheiros agrônomostêm papel de protagonistasnesta caminhada por alimentossaudáveis e seguros, semcontaminar o ambiente, e tendoos agricultores familiarese camponeses como parceirosprincipais neste novo modo defazer agricultura.Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná11


SENGE RECEBECERTIFICAÇÃO OURO DOPRÊMIO CREA DE QUALIDADEO presidente do Senge-PR, engenheiro agrônomo Carlos Roberto Bittencourt, recebeu a premiação do sindicato como o melhor na categoria Comunicação. Foto: Sylvio VeraSindicato dos Engenheirosno Estado do Paranátambém foi parceiro dedestaque do Crea-PR naregional Curitiba. E, peloquarto ano consecutivo,Senge-PR levou o prêmiomaior na categoriaComunicação.O Senge-PR recebeu a CertificaçãoOuro na sétima ediçãodo Prêmio Crea de Qualidade(PCQ), iniciativa do ConselhoRegional de Engenhariae Agronomia que premia asorganizações profissionaisparceiras que comprovem altodesempenho em suas gestões.O Sindicato dos Engenheirosno Estado do Paraná tambémfoi parceiro de destaque doCrea-PR na regional Curitibae, pelo quarto ano consecutivo,Senge-PR levou o prêmio maiorna categoria Comunicação.“Esta premiação marca aparticipação e o trabalho dasnossas entidades de classe aolongo do ano. O PCQ é umainiciativa que contempla a dedicaçãodaqueles que conduzemnossas entidades, incentiva aparticipação dos profissionaise engrandece as ações do Conselho,ao mesmo tempo em querecompensa aqueles que procuraramfazer a entidade crescer,agregar profissionais e trazerresultados”, ressalta o presidenteem exercício do Crea-PR, engenheiro agrônomoOrley Jayr Lopes.A premiação do PCQ encerrouo 40° Encontro Paranaense deEntidades de Classe (EPEC),realizado em 7 de novembro de2014, em Foz do Iguaçu.Neste ciclo, o PCQ alcançounovo patamar de participação,com 62 entidades de classe,representando um aumentode mais de 100% desde a primeiraedição do prêmio, em2008. Destaque também parao aumento na pontuação totaldas entidades de classe, que foi16% superior a alcançada noano passado.12Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


Confira a lista dos remidos:Da Metropolitana:Engenheiras Civis Arilde Sutil Gabriel; RosileteBusato; Márcia Regina R C Schuchardte Engenheiro Civil Homero Buba; Engenheirosem Eletrônica Clodomiro Onésimoda Silva, Raul Bertolucci e Salvatore FilippoSciammarella; Engenheiro de Produção CyroJelita Martins; Engenheiros Mecânicos Saulode Tarso Pereira, Rubens Godwin Correia,Luis Eduardo Laffitte Ronconi e José RiujiTateiva; Engenheiro Agrônomo Jorge ZbigniewMazuchowski; Engenheiros QuímicosPéricles Sócrates Weber e Mario José Dallavalli;Engenheiros Florestais Paulo Augustode Andrade Lima e Paulo Romanel; EngenheirosEletricistas Mario Gomes Bettega,Wiliam dos Santos Fontoura, Diógenes daCunha Marquez, Fernando Toledo Krukoski,Telêmaco de Jaguariaíva Carneiro, CarlosYoshikazu Nakaguishi, Renato de ArrudaPenteado Neto, Jackson Prohmann, MitsuroSakagami, Amauri Manfredini Keller;Nelson Sordi, Auro Seiji Mishima, NoboruOmori, Luiz Fernando Steilein, Antonio TadeuPereima, Voldi Costa Zambenedetti, SussumuValter Fukuda, Hugo Orlando Pacola,João Acyr Bonat Junior, Wilson Kawano,Luiz Fernando Dombrowski, Gilmar FranciscoKrefta e Edson José Marcolin.Da Regional Maringá:Engenheiros Agônomos, Alberto Carlos Morise José Croce Filho; Engenheiros Civis,Anthero de Freitas Filho e Sérgio Luiz Ferrari;e Engenheiros Eletricistas, UbirajaraSeyr Junior e Valmir Scatolim.Diretoria do Senge e membros do conselho fiscalCerca de 300 pessoas participaram da confraternização emcomemoração ao Dia do EngenheiroPresidente do Crea-PR, Joel Krüger, e o presidente do Senge,Carlos Roberto BittencourtDa Regional Ponta Grossa:Engenheiro Agrônomo Altair Ganz e EngenheiroEletricista, Henrique Kengo Okoshi.Da Regional Londrina:Engenheiro Agrônomo,Otávio Oliveira da LuzEx-presidente do Senge, Luiz Carlos Correa Soares, juntoao selo dos 80 anos do sindicatoDa Regional Foz do Iguaçu:Engenheiro Agrônomo, Délcio Giuliani.Da Regional Cascavel: EngenheirosAgrônomos Marco Antonio Abreu de Andradee Sérgio Luiz Schuch e o EngenheiroCivil, Gilberto Albuquerque BorboremaDe fora do Estado (Goiás): EngenheiroEletricista, Wilson Radi El Maftoum.Após o jantar, a diversão ficou por conta do tradicional bailedo SindicatoRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná15


O ALERTA DOSISTEMA CANTAREIRACrise de abastecimento da Grande São Paulo faz comque Paraná se mobilize pela segurança hídricaPor João Pedro de Amorim JuniorO convite para a formação do Grupo de Trabalho foi formalizado em reunião do secretário do Meio Ambiente, AntonioCaetano de Paula Junior, com a participação do presidente do Senge-PR e de demais entidades. Foto: Carla Quintas/SemaO esvaziamento do SistemaCantareira, que abastece 9milhões de pessoas na RegiãoMetropolitana de São Paulo,acendeu a luz de alerta nos estadosvizinhos sobre a necessidadeda Segurança Hídrica.No Paraná, por exemplo, aSecretaria Estadual do MeioAmbiente e Recursos Hídricos(Sema) decidiu criar um grupode trabalho multidisciplinarpara a elaboração de um planoestratégico nesta área. O Senge-PRfoi convidado a comporo grupo juntamente como Conselho Regional de Engenhariae Agronomia (Crea-PR), a Associação Brasileira deRecursos Hídricos (ABRH) e aAssociação Brasileira de EngenhariaSanitária e Ambiental(Abes).O objetivo das discussões, segundoo secretário de MeioAmbiente e Recursos Hídricos,Antonio Caetano de PaulaJúnior, é envolver a sociedadecivil na elaboração de uma políticapública sobre segurançahídrica. “Pensar numa políticapública é fundamental para norteara vida dos paranaenses. Epara que o nosso Estado nuncaassista o que São Paulo está vivenciando,com a maior crise deágua da sua história, é necessárioum trabalho conjunto.”Segundo informações da Sema,uma contribuição para o planode prevenção em segurançahídrica foi a aprovação, juntoao Conselho Estadual de RecursosHídricos (CERH), de financiamentosda ordem de R$1,2 milhão, para a elaboraçãodo Plano Estadual e atividadescorrelatas, como eventos e seminários.O dinheiro vem dofundo estadual de recursos hídricos(originário da compensaçãofinanceira pelo uso dosrecursos para geração de energiahidrelétrica) e a sua aplicaçãodepende da elaboração deum termo de referência a serdiscutida no próprio CERH.Na opinião do presidente doSenge-PR, Carlos RobertoBittencourt, é de grande importânciaa união de forçaspara a implantação de políticaspúblicas efetivas que garantamo bem-estar da população.“Há mais de 20 anos o Senge temdado atenção à preservação dasáreas de mananciais no Paraná,em especial na Região Metropolitanade Curitiba. O nosso sindicatoestá preparado a contribuircom o planejamento de forma agarantir o abastecimento de águae também o não desperdício destebem essencial à vida e à saúdepública. Antecipar soluções é fundamentalpara que os paranaensesnão sofram os problemas que hojepenalizam a população do estadovizinho”, afirma Bittencourt.O vice-presidente do Senge-PR, Valter Fanini, lembra quea preocupação com recursoshídricos não é fato novo. “Até2003 foram instituídos por leiinstrumentos de gestão queinstrumentalizam o Estadopara agir na gestão dos re-16Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


cursos hídricos e mananciais.Exemplos disso são a Lei Estadualde Recursos Hídricos (Leinº 12.726, de 26 de novembrode 1999), a Lei Estadual dasÁreas de Mananciais da RegiãoMetropolitana de Curitiba( Lei Estadual nº 12.248, de11 de julho de 1998) e o Planode Monitoramento e Fiscalizaçãoda Ocupação das Áreas deMananciais da RMC. Os instrumentosprevistos nas leisnão foram implementados atéhoje. Foram engavetados e ogoverno se comporta como senada existisse”, afirma Fanini.Dentro do Planejamento Estratégicodo Senge para ospróximos três anos, há umGrupo de Trabalho de RecursosHídricos e Saneamento quedará atenção especial à segurançahídrica. O GT do Senge,formado por diretores do sindicatoprofissionais das áreasde engenharia civil e engenhariaagronômica, tem a missãode fomentar a discussão e intervirnos debates de políticaspúblicas para a revisão dos rumosde tais políticas de formaa contemplar os interesses dasociedade.Integrante do Grupo de Trabalhode Recursos Hídricos doSenge e responsável por um estudosobre o tema para o Crea-PR, Luiz Carlos Correa Soares,destaca que as entidades estarãounidas neste processo.“Estamos desenvolvendo um estudocompleto, que abrange os399 municípios sobre a atualsituação do Paraná, no que dizrespeito à segurança hídrica, saneamentoe energia, e que vem aoencontro da proposta do Estado,através da Sema. Estamos unidospara trabalhar em conjunto ecada vez melhor”.Ação, reação e inércia – Muitose falou e escreveu e aindase fala e escreve sobre o SistemaCantareira, o ícone da crisede abastecimento de água deSão Paulo. Inúmeros artigosindicam que o problema já eraprevisto. E apontam uma contribuiçãonefasta para o quadrode desbastecimento: a devastaçãodo entorno da represa,com áreas em que a mata originaldeu lugar a pastos ou aplantações de eucaliptos.Reportagem especial sobre otema feita pelo Jornal Folha deSão Paulo apontou ainda que,somado ao problema do descontroleda ocupação das áreasvizinhas à represa, entre janeirode 2010 e janeiro de 2014,foram quase mil milímetros amenos do que chove, em média,nas represas da região.Foco de interesse nacional,Cantareira foi ainda tema doembate político nas últimaseleições e figurou até mesmocomo questão de vestibular naprimeira fase da Fuvest, queseleciona alunos para a USP eSanta Casa. Aos vestibulandosa resposta foi que crise da águana Grande São Paulo é de natureza“ecológica” e “política”“já que a reposição de água dosreservatórios depende de fatoresnaturais, assim como do planejamentogovernamental sobre o usodesse recurso”.Fato é que em momentos decrise, apontar culpados antesde sair à busca de soluções viroupraticamente ato reflexo.Senge-PR e Crea-PRparticiparão de grupo detrabalho para elaboraçãode plano estratégico desegurança hídricaDicas de boas práticaspela segurança hídricaNa esfera política isso acontececomo tentativa de amenizara culpa da gestão ou paratransferir a responsabilidadea fatores externos ou a opositoresde legendas concorrentes.A se valer a respostada questão da Fuvest, a faltade planejamento foi a gotad’água, ou melhor a falta dela,que agravou a crise de abastecimentopotencializada porum período de seca extrema.• Projeto Cultivando Água Boa - ItaipuSiga o link: www.cultivandoaguaboa.com.br/o-programa• Rede Brasil de Organismos de BaciasHidrográficas – RebobSiga o link: www.rebob.org.brRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná17


SEGURANÇA HÍDRICAPARA UM PLANETASOB PRESSÃOComunidade Científica recomenda que o uso da águaseja racional, equitativo e com justiça social paragarantir o abastecimento das próximas geraçõesPor João Pedro de Amorim JuniorO Mundo hoje enfrenta a chamada“Crise da Água”, emque mais de 1 bilhão de pessoasnão têm acesso a redesde abastecimento de qualidade.No Brasil, onde os recursoshídricos são abundantes,as grandes ameaças estão napoluição, na destruição da coberturavegetal em áreas demananciais e no aumento indiscriminadodo consumo deenergia. São males resultantesda falta de planejamento.Para contribuir com a reversãodeste quadro preocupante,a Comunidade Científica temapresentado sugestões aosgovernos e à sociedade organizadatendo a SegurançaHídrica como uma das pautaspara a sustentabilidade.Com a indispensável participaçãode cientistas brasileiros,em 2012, foi levado à Rio +20 o documento “SegurançaHídrica para um Planeta SobPressão – Transição para a sustentabilidade:desafios interligadose soluções” como uma dasrecomendações produzidaspela comunidade científicapara a Conferência das naçõesUnidas sobre DesenvolvimentoSustentável.A recomendação leva a assinaturado Programa Internacionalda Geosfera-Biosfera(IGBP), uma rede de cientistasde todo o mundo responsávelpor pesquisas obre asMudanças Globais e o SistemaTerrestre, com o objetivo deentender e fornecer respostassobre as alterações ambientaisem curso no Planeta.Responsável pela revisãocientífica do documento comointegrante do escritório regionaldo IGBP no Brasil, opesquisador do Centro de Ciênciasdo Sistema Terrestre/INPE, Dr. Fabiano Scarpa,fala dos desafios pela garantiado abastecimento de água.Para ele, o que ocorre em SãoPaulo é uma consequência dafalta de gestão dos recursoshídricos. Na entrevista a seguir,Scarpa defende, entreoutros pontos, que a sociedadeorganizada amplie a participaçãoem Comitês de BaciasHidrográficas e em outrosfóruns de decisão sobre os recursoshídricos.18Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


1. Como representantedo escritório regional doIGBP (International Geosphere-BiosphereProgramm)o senhor assinaa versão em portuguêsdo documento “SegurançaHídrica para um PlanetaSob Pressão – Transiçãopara a sustentabilidade: desafiosinterligados e soluções”,uma das nove recomendaçõesproduzidas pelacomunidade científicapara a Conferência Rio+20, realizada em 2012.Produzido há dois anos,o documento permaneceatualíssimo, principalmentelevando em contao preocupante quadro deestiagem que enfrenta oEstado de São Paulo. Dasrecomendações de políticaspúblicas apresentadasno documento qual é (ouquais são) a(s) mais urgente(s) para contribuir coma modificação do quadrode crise que vemos hoje?Resposta: A água é um recursonatural precioso paraque tenhamos uma vida comqualidade. Isso inclui abastecimento,uso na agricultura egeração de energia. O documentoelaborado propõe o usoracional, equitativo e com justiçasocial, de modo que a águaesteja disponível para esta eas próximas gerações, ou seja,propõe o uso sustentável dosrecursos hídricos. No entanto,a realidade é bem diferente. Omundo hoje enfrenta a chamada“crise da água”. Mais de umbilhão de pessoas no mundonão têm acesso a água de qualidade.O Brasil é um país quepossui recursos hídricos emabundância, mas estão ameaçadospor uma série de problemas:poluição, destruição dacobertura vegetal, que protegecorpos d’água de processoserosivos, aumento no consumode energia e uso indiscriminado,tanto por parte das indústriasquanto da população emgeral. O que ocorre em SãoPaulo hoje é uma consequênciade tudo isso: Boa parte davegetação das margens dosmananciais está muito alterada,o que contribui para o assoreamentodos rios que abastecemos reservatórios. A secaé uma parte do problema, masnão explica tudo. Programasde restauração vegetal devemser ampliados. Para resumir,falta boa gestão dos recursoshídricos. As pessoas precisamaprender a fazer bom uso daágua que consomem. Alémdisso devem demandar dosgovernantes políticas públicaspara a garantia da segurançahídrica e punições a empresasque poluem e fazem uso excessivodesse bem tão raro.2. O documento de orientaçãoà Rio + 20 faztambém um chamado àparticipação de toda a sociedadeorganizada em defesada segurança hídrica.Aponta ainda que a capacitaçãoé necessária paratodos os níveis de gestãohídrica, de tomadores dedecisão de alto nível a gestoresde recursos hídricos,implementadores e técnicos(que muitas vezes sãoos principais elaboradoresde políticas públicas),passando por membros dasociedade civil, organizaçõesnão governamentaise grupos de usuários daágua. Além disso, em nívellocal, existe falta decapacidade para introduziruma abordagem maisintegrada da gestão dosrecursos hídricos. De queforma uma entidade comoo Sindicato dos Engenheirosdo Paraná, por exemplo,pode contribuir nesteprocesso?Vivemos em um país democrático.Isso quer dizer que a participaçãoda sociedade, organizaçõesnão governamentaise sindicatos é fundamental. Asociedade precisa ter uma açãomais proativa e frequentar asreuniões dos comitês de baciashidrográficas, por exemplo.Acredito que uma boa gestãoFoto: Fabiano ScarpaScarpa: O problema do desabastecimento em São Paulo teria sido minimizado sepolíticas públicas de proteção dos recursos hídricos tivessem sido implementadas.”Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná19


só seja possível com demandasde grupos sociais organizados.Isso certamente sensibiliza ostomadores de decisão e leva ainvestimentos em capacitaçãotécnica e formulação de políticaspúblicas para que problemascomo este enfrentado emSão Paulo não se repitam.3. A sua experiência detrabalho junto a RedeBrasileira de PesquisasSobre Mudanças ClimáticasGlobais (Rede Clima)e ao Instituto Nacionalde Ciência e Tecnologiapara mudanças climáticas(INCT para MudançasClimáticas) permiteenumerar os motivos quelevam a esta crise de ausênciade chuvas e o consequenteproblema noabastecimento em SãoPaulo?Eventos climáticos extremosde seca e chuva são esperadosem projeções futuras das mudançasclimáticas globais. Nãoé possível afirmar com precisãoque este evento da seca emSão Paulo seja resultado disso.Mas o problema teria sidomuito minimizado se políticaspúblicas de proteção dos recursoshídricos tivessem sidoimplementadas. Entre as medidasmais importantes estão arestauração da vegetação queprotege os cursos de rios (esseé um procedimento oneroso eque exige capacitação técnica)e educação ambiental para queos cidadãos tenham atitudesmais conscientes em termosde sustentabilidade e para quepossam exigir do poder públicoa garantia da preservaçãodos recursos hídricos.4. Há outros estados comriscos semelhantes? O Paranáestá nesta lista?Estas secas extremas já ocorreramem estados da regiãoamazônica, do nordeste, doCentro Oeste e da região sul.Em 2012 quatro municípiosde Santa Catarina decretaramestado de emergência por umaseca severa: Irani, Jaborá, Ipirae Herval do Oeste. Houvegrandes prejuízos pela perdade cultivares agrícolas. A hidrelétricade Machadinho chegoua parar de funcionar. Nestemesmo ano, no Paraná, 34%dos municípios entraram emestado de emergência. Sim, oParaná está na lista e já sofreucom isso. O fenômeno podeocorrer novamente e trazer osmesmos danos.5. O que é possível e necessáriofazer para mudareste quadro?A preservação da coberturavegetal e a restauração ecológicade ecossistemas degradadosem todo o territórionacional é imprescindível paraque se possa garantir o abastecimentode lençóis freáticos ea proteção dos cursos d´água.Além disso, a conscientizaçãoe participação da sociedade éimprescindível para a formulaçãode políticas públicas quegarantam a segurança hídricae redução do lançamento depoluentes6. No Paraná, por exemplo,notícia recente publicadadá conta de que, nosúltimos 14 anos, só foramaplicados 3% do orçamentoprevisto em recursoshídricos. De R$ 412,5 milhõessó foram investidosR$ 13 milhões, segundomostram os relatóriosdo governo do Estado de2000 a 2014. Em que medidaa ausência de investimentospode por em riscoa segurança hídrica?Se os investimentos não foremaplicados adequadamenteisso pode trazer consequênciasnefastas em termos de crisehídrica. Mais uma vez reforçoaqui a participação da sociedadeorganizada. É precisoacompanhar o que está sendofeito. Por exemplo, se estiveremtranspondo águas de umabacia para abastecer outra estãoadotando uma medida paliativae isso não vai resolver oproblema no longo prazo.7. Em 20 de agosto de2014, o governo federallançou o Programa Nacionalde Segurança Hídrica(PNSH), que tem o objetivode garantir a oferta dolíquido para uso humanoe para as atividades produtivas- além de reduziros riscos associados aeventos climáticos, comoFabiano Micheletto Scarpa é pesquisador do Centro de Ciências do Sistema Terrestre/INPE e membro do escritórioregional da América Latina do International Geosphere-Biospphere Programme (IGBP). É graduado em Biologiapela Universidade Estadual de Campinas (1999), mestre em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas(2002). Recebeu o título de doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas em junho de 2007.Foi membro da Rede Brasileira de Pesquisas Sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e do Instituto Nacionalde ciência e tecnologia para mudanças climáticas (INCT para Mudanças Climáticas).20Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


secas e cheias. De que formao INPE está inseridoou pode contribuir nesteprocesso?O INPE possui muitas atividadesque estão diretamenteassociadas à manutenção dadisponibilidade hídrica. Hágrupos de pesquisas diretamenteenvolvidos com monitoramentode bacias hidrográficas.Além disso, a Instituiçãomonitora e gera sistemas dealerta para desmatamento naAmazônia. Também produzperiodicamente, em parceriacom a SOS Mata Atlântica,um Atlas sobre o estado deconservação deste bioma brasileiro,que é crucial para a segurançahídrica da região maispopulosa da Nação.Um órgão criado pelo Ministérioda Ciência, Tecnologia eInovação (MCTI), O CentroNacional de Monitoramentode Desastres Naturais (Cemaden),está mapeando e monitorandoáreas de risco dedeslizamentos e enchentes em795 municípios espalhados portodas as regiões do Brasil8. O PNSH pretende identificaras demandas do setoraté 2020 e o alcancedas intervenções previstasvai até 2035. O senhoracha que já é possível enumeraralgumas dessas demandas?Quais?Entre os mais importantes estão:Conscientização, atravésde Programas de Educaçãoambiental, Preservação dosecossistemas naturais, Restauraçãoecológica de ambientesdegradados e Redução Drásticado lançamento de poluentesem aquíferos e cursos d´água.9. Para alcançar os objetivosdo programa, a Agên-IGBPO Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP) existe desde 1987 sob a coordenaçãodo Conselho Internacional paraa Ciência (International Council for Science– ICSU). Trata-se de uma rede de cientistasde todo mundo encarregada de realizar pesquisasinterdisciplinares sobre as MudançasGlobais e o Sistema Terrestre com o objetivode entender e fornecer respostas sobre as alteraçõesambientais em curso no Planeta.O IGBP é dirigido por um comitê científicocomposto por membros nomeados pelo ICSUe administrado por uma secretaria sediada naAcademia Real das Ciências da Suécia, emEstocolmo. É financiado pelas contribuiçõesde cerca de 50 países e opera localmente atravésde Comitês Nacionais sobre mudançasglobais ou de Escritórios Regionais.No Brasil, o Escritório Regional do IGBPestá sediado no Instituto Nacional de CiênciasEspaciais (INPE), em seu Centro deCiência do Sistema Terrestre (CCST). Tema coordenação científica do pesquisador Dr.Jean Ometto, chefe do CCST.O Escritório Regional auxilia o IGBP executaro seu Plano de Ciência e Estratégias deImplementação, e principalmente com a funçãode aumentar a capilaridade e sinergia doIGBP e outros programas globais na Américado Sul e em outros países do mundo emdesenvolvimento.O Escritório Regional do IGBP foi criadoem 2006 com a missão de difundir a agendacientífica do IGBP em consonância aoprojeto científico do Centro de Ciências doSistema Terrestre, no INPE. Centrado natemática das mudanças ambientais globais esustentabilidade do sistema terrestre, visa aconsolidar laços científicos com a comunidadeassociada aos estudos do sistema terrestrena América Latina através da promoção deatividades de coordenação e disseminação daagenda científica.Em sintonia com a sua missão, este articulauma rede de informações, em termos regionaise globais, através da participação e daorganização de reuniões científicas, fóruns dediscussão, oficinas de trabalho e publicação dematerial de divulgação científicaRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná21


cia Nacional de Águas(ANA) e o Ministério daIntegração Nacional identificarama necessidadede obras como barragens,sistemas adutores, canaise eixos de integração. Aintenção é que os empreendimentossejam executadospelo ministériopor meio de parcerias nosâmbitos federal e estadual.Obras como barragens,por exemplo, têm impactonegativo com a degradaçãodos recursos hídricos.O senhor acha que elasseriam solução neste processo?Quais outras alternativas?Não são a solução. Aqui emSão Paulo há um plano detransposição da bacia do rioParaíba para o Sistema Cantareira.Essa obras são umpaliativo. São medidas emergenciais.Para assegurar águade qualidade no longo prazo énecessário preservar as formaçõesvegetais originais, reduzira degradação da vegetaçãonatural, investir em restauraçãoecológica e em programasde conscientização.10. O senhor consideraque houve avanços pelasegurança hídrica no Brasildesde a Eco92? Quaispoderia citar? E o quemais é necessário fazer?Houve avanços. Entre os bonsexemplos estão a Lei dasÁguas- nº 9.433/97, que instituiua Política Nacional deRecursos Hídricos e criou oSistema Nacional de Gerenciamentode Recursos Hídricos(SINGREH) e a criaçãoda Agência Nacional de Águas(ANA), que regula o uso daágua em território nacional.Brasil será sede do 8º Fórum Mundialda Água, em 2018“Segurança hídrica significa garantir que ecossistemas de águadoce, costeira e outros relacionados sejam protegidos e melhorados;que o desenvolvimento sustentável e a estabilidade políticasejam promovidos; que cada pessoa tenha acesso à água potávelsuficiente a um custo acessível para levar uma vidasaudável e produtiva, e que a população vulnerável seja protegidacontra os riscos relacionados à água.”As aspas acima são do primeiro pronunciamento intergovernamentalsobre a segurança hídrica, que consta naDeclaração Ministerial do 2º Fórum Mundial da Água,realizado em Haia, Holanda, em abril do ano 2000. Aideia do Fórum, surgiu em 1996 no âmbito do ConselhoMundial de Água, para discutir os principais assuntos relacionadoscom a gestão de recursos hídricos. O I Fórumaconteceu em 1997, em Marraquech, Marrocos. A cadatrês anos, se reúnem no Fórum Mundial da Água representantesgovernamentais, de organizações internacionais,de ONGs, de instituições financeiras e de indústrias,além de cientistas, especialistas em assuntos hídricos, empresáriose acadêmicos.Em sua mais recente edição, em Marselha, em 2012, contoucom a participação de 35.000 pessoas, provenientes demais de 140 países. A próxima edição ocorrerá em 2015,em Daegu e Gyeongbuk, na Coreia do Sul. Além das discussõestemáticas, o evento conta, também, com Exposiçãodestinada ao público em geral, além de representaroportunidade de negócios para empresas do setor.Em 2018, o Brasil será sede do 8º Fórum Mundial daÁgua, que será realizado na cidade de Brasília. A escolhado Conselho Mundial da Água (CMA) foi divulgada em26 de fevereiro de 2014. Em nota do Itamaraty, o Governobrasileiro manifestou satisfação. “O FMA é, hoje, oprincipal ambiente de diálogo internacional entre diferentes setoresenvolvidos com a temática dos recursos hídricos, contandocom ampla participação da sociedade civil. A eleição de Brasíliacomo sede do Fórum Mundial da Água é reconhecimentoda relevância do país no que se refere ao tratamento do temano cenário internacional. A realização do 8º FMA, em marçode 2018, representará oportunidade de promover amplo debatesobre os desafios e oportunidades ligados à questão da água emâmbito nacional e internacional.”Acesse a íntegra darecomendação à Rio+20:22Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


CENÁRIOS PARA UMAREFORMA POLÍTICAPor Camila MarinsFoto: Wilson Dias/ABrO embate eleitoral mostrouque, mais do que mudanças,a população brasileirabusca o aprofundamentoda democracia. A chamada“Reforma das Reformas”poderá abrir a porta paraoutros avanços de que oPaís precisa.Mais do que mudanças, a populaçãobrasileira busca oaprofundamento da democracia.O segundo turno daseleições foi emblemático paraa demarcação de dois projetospolíticos para o país. De umlado o retrocesso bravamentederrotado. De outro, um projetocomprometido com mudanças.Após 12 anos de governo,houve muitos avanços, principalmenteem relação à diminuiçãoda desigualdade sociale à ampliação de políticas dedistribuição de renda. No entanto,é preciso mais. Dadosdo Departamento Intersindicalde Assessoria Parlamentar(Diap) apontam que a composiçãoeleita para o CongressoNacional é a mais conservadoradesde os tempos da redemocratização.Se em 1984 o povobrasileiro clamava por “DiretasJá!”, passamos da hora de afir-mar, sem medo: “ConstituinteJá”. Confira a entrevista com oministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, GilbertoCarvalho.- Dentre os pactos nacionaisapresentados pelapresidenta Dilma está areforma política. Qual aimportância desta reformapara o país?A presidenta Dilma tem ditoque a reforma política é a “reformadas reformas” e ela temtoda a razão. Ela é a chave parapodermos seguir avançando eaprofundar as transformaçõessociais dos últimos 12 anos,com a aprovação de outras reformas,como a tributária, porexemplo. Há uma crise de representaçãono nosso sistemapolítico, no qual a sociedade,em especial a juventude, não seRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná23


vê representada no parlamento.As manifestações de junhode 2013 deram esse recado deforma bem clara. Isso leva auma descrença nas instituiçõese na política como forma detransformação da realidade. Etambém faz com que as vozesde amplos setores não sejamouvidas no Congresso. Nasúltimas eleições, a bancada sindicalfoi diminuída quase pelametade, segundo levantamentodo Diap. Em contrapartida,as bancadas empresarial e ruralistacresceram e ganharamforça. Essa realidade é particularmenteperversa quandovemos a sub-representação demulheres, negros, indígenas eoutras minorias no parlamento.- De onde vêm essas distorções?Isso se deve às distorções donosso sistema político e eleitoral,em especial o financiamentoempresarial de campanha.Os candidatos, parlamentarese o próprio Executivo passama ter uma dependência do capitalfinanceiro, da indústria,da elite, através desse perversofinanciamento empresarial decampanha. O poder econômicopassa a colonizar o poder político,a democracia. Sabemosque o empresário não doa. Oempresário faz um investimentoquando ele entrega o dinheiropara uma campanha eleitoral,porque ele quer o retorno,por isso temos que nos libertardesse sistema. Isso é essencial,pois deturpa a representaçãodo povo no Congresso e é ogerme da corrupção. Inclusive,já se formou uma maioriano Supremo Tribunal Federalem torno deste entendimento.Também precisamos, por meioda reforma política, aprofundaros mecanismos de participaçãodireta da sociedade nasdecisões de governo.- Por que a imprensa esetores conservadores fazemcríticas tão intensas?Não temos como negar que osistema como ele existe hojeprivilegia determinados grupossociais, políticos e econômicos,que não querem perderou sequer ver diminuída a influênciae o controle que detémsobre o processo eleitoral e ademocracia brasileira. Por issoas reações contrárias e por issoa reforma política, especialmenteo fim do financiamentoempresarial, não avançou nosúltimos anos.- Teremos um dos congressosmais conservadoresdesde a redemocratização.Como avançar nareforma política?“Há uma crise de representaçãono nosso sistema político, noqual a sociedade, em especial ajuventude, não se vê representada noparlamento.”- Gilberto CarvalhoA chave para avançarmos éconstruirmos um intenso processode participação e mobilizaçãodo povo brasileiro.A presidenta Dilma tem ditoisso: “não haverá reforma políticasem participação popular”.Vários setores vêm construindouma saída para esseimpasse, como a forte unidadeconstruída em torno do plebiscitorealizado em setembro,que conseguiu alcançar maisde sete milhões de brasilei-24Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


os pregando a convocação deuma Assembleia ConstituinteExclusiva para a reforma política.Outras entidades, comoOAB e CNBB, estão firmes nacoleta de assinaturas para umprojeto de lei de iniciativa popularque vai na mesma linha:reforma política com o fim dofinanciamento empresarial decampanha.- É possível a realizaçãode uma Constituinte Exclusiva?Alguns setoresacreditam que a possibilidadede uma constituintepode abrir brechas para aretirada de direitos. Quala sua avaliação?É possível. Claro que há riscos,mas creio que uma AssembleiaConstituinte exclusiva e limitadaem seus poderes (nãopoderia mexer em outras regrasda Constituição, comodireitos sociais e trabalhistas,por exemplo, para não haverretrocessos) é viável do pontode vista político e jurídico.E realizar a reforma políticaatravés de representantes eleitosexclusivamente para issotem uma vantagem, que é a deque estes representantes nãoserão afetados nem terão seusinteresses e mandatos em jogocom as mudanças das regraseleitorais. Isso propiciaria umambiente de debate qualificadosobre o tema. Mas tudoisso deve ser debatido com asociedade e penso que agoradevemos juntar nossos esforços,nos unificarmos em tornodo recolhimento de milhões deassinaturas para a apresentaçãodo Projeto de Lei de IniciativaPopular que estabelecea Reforma Política Democrática.Outra iniciativa unitáriaimportante é demandar aoSupremo Tribunal Federalque conclua o julgamento sobrea inconstitucionalidade dofinanciamento empresarial decampanha. O placar já está 6a 1 pela inconstitucionalidadedesta prática.- Qual a importância daparticipação popular?A participação popular écentral neste processo. Nãoconseguiremos avançar nasreformas que o país precisa,inclusive na reforma política,sem a mobilização e o engajamentoda sociedade brasileira.A presidenta tem dito que énecessário algo como o ocorridono período das “Diretas,Já!”, e se pegarmos a históriabrasileira, inclusive a históriamais recente, veremos que asimportantes transformações eavanços na democracia foramconquistados por meio da organizaçãoe mobilização dopovo brasileiro. Não seria diferentecom a reforma política.- O governo pretende lançaralguma campanha didáticapara a sociedadesobre o tema?A presidenta Dilma tem enormesdesafios neste momento,dentre eles estão a montagemda equipe de governo e a retomadado diálogo com o Congressoe com a sociedade noperíodo pós-eleitoral. Nesseprocesso, teremos de construiras estratégias do governo paraavançarmos na reforma política,e o envolvimento da sociedadeserá essencial. Essa ideiade promover uma campanha éinteressante e temos que considerar.VALORIZE SUA FORMAÇÃOSEU TRABALHO, SEU FUTUROVENHA PARA O SENGE-PRSENGE-PR: Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paranásenge-pr.org.brRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná25


ARTIGOO PAPEL DA MULHERNA ENGENHARIAAngela DoubekFoto : Joka MadrugaAngela Doubek, Diretora Secretária Adjunta do Senge-PR é engenheiracivil e especialista em Gestão Ambiental e Recursos Hídricos.Trabalha na Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).Ingressou na diretoria do Senge em 2011 e tem se destacadocomo líder sindical, sobretudo na empresa, estando à frente na defesados direitos de engenheiros, geólogos e geógrafos da Sanepar.A engenharia clássica teveorigem na área militar, tendosido responsável pelo aparecimentode armamentos, fortificações,estradas, pontes,canais, instrumentos. No finaldo século XVIII instalou-seno Brasil o curso de fortificações,artilharia, etc., na RealAcademia de Artilharia, Fortificaçãoe Desenho. Em 1810surgiu a Academia Real Militare em 1831 a AcademiaMilitar e de Marinha, com ocurso de Engenheiro de Pontese Calçadas.Até 1946 existiam no Brasil15 instituições de ensino deengenharia. Na década de 70já existiam mais de 100 instituiçõesde ensino superiorcom mais de 300 cursos deengenharia. Atualmente noBrasil, existem cerca de 200instituições com mais de 600cursos de engenharia.Hoje, mais de 200 anos após osurgimento da Engenharia noPaís a maioria das suas modalidadescontinua sendo umaciência predominantementemasculina.As mudanças que ocorreramna estrutura familiar mundialnão foram suficientes para queos papéis de “homens e mulheres”fossem distribuídos deuma maneira mais igualitáriapara ambos. As responsabilidadesdomésticas e de educaçãodas crianças, assim comocom os idosos, ainda cabembem mais às mulheres dos queaos homens.Em 1945 formou-se em Curitibaa primeira engenheira:Enedina Alves Marques. Mulher,negra e pobre.No início de sua carreira, foifuncionária da Secretaria deViação e Obras Públicas, ondeatuou como engenheira fiscalde obras do Estado do Paraná;foi chefe de hidráulica; chefeda divisão de estatísticas; chefedo serviço de engenharia dasecretaria de educação e cultura.Atuou no levantamentotopográfico da Usina CapivariCachoeira. Deixou sua contribuiçãono levantamento derios, na construção de pontese na Usina Parigot de Souza.Conquistando aos poucos oreconhecimento profissional.Com competência liderou peões,técnicos e engenheiros.Gerenciou obras e trabalhosburocráticos. Fez-se respeitare valorizar.Enedina foi a precursora dasengenheiras do Paraná!26Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


A desigualdade de gênero foicriada culturalmente ao longodo tempo. Existem muitaspiadinhas em relação à qualificaçãofeminina. Dizem que asmulheres conseguem boas notaspor serem bonitas, atraentesou frágeis, mas nunca porseu próprio mérito.Quando a mulher alcança umcargo mais alto, homens usamdesses artifícios para diminuírema sua condição. Damesma forma, quando um homemcomete um erro, logo éesquecido. Sendo uma mulher,o erro vai acompanhá-la constantemente.Um dos estereótipos da funçãoé que “mulher não se sujanem coloca a mão na massa”.Em contraponto a isso, vemosas mulheres assumindomuito mais as funções na áreada construção civil, desde serventede pedreiro até mestrede obras.As características necessáriasao desempenho da engenhariasão: comprometimento, criatividade,empreendedorismo,capacidade de trabalhar emequipe, de conviver com mudançase tomar decisões. Sãocaracterísticas ligadas diretamenteao “ser”, e não ao “sa-ber”, ou seja, as qualidadesalmejadas são relacionadas àpersonalidade, não necessariamenteà sua formação.Para combater esse processodiscriminatório, é necessárioimplantar ações socioeducativas,tanto com homens quantocom mulheres. Assim comoessa desigualdade de gênerofoi adquirida pela construçãode valores ao longo da história,existe a necessidade de“desconstruir” tais atitudes ereconstruir outras novas.Então, qual o papel da mulherna engenharia?O papel da mulher na engenhariaé exatamente o mesmodo homem!Diretora Secretária Adjuntado Senge-PR, Angela Doubeké engenheira civil e especialistaem Gestão Ambiental eRecursos Hídricos. Trabalhana Companhia de Saneamentodo Paraná (Sanepar). Ingressouna diretoria do Senge em2011. Apesar da recente participaçãocomo dirigente dosindicato, Angela tem se destacadocomo líder sindical, sobretudona empresa, estandoà frente na defesa dos direitosde engenheiros, geólogos egeógrafos da Sanepar.O Salário Mínimo Profissional é umdireito de todos os profissionais deengenharia, agronomia, química emedicina veterinária garantido pela LeiFederal 4.950 A/66. O piso equivale a 6salários mínimos vigentes para seis horasde trabalho e a 8,5 salários mínimos parauma jornada de oito horas.Se a sua empresa não cumpre a lei,procure o Senge-PR.PISO SALARIALDE ENGENHARIA EAGRONOMIA É LEI


PLANEJAMENTO METROPOLITANOÉ NECESSÁRIO E URGENTEDesenvolvimento integrado nos grandes centrosdepende da inclusão dos cidadãos metropolitanosPor João Pedro de Amorim JuniorFanini: O desenvolvimento metropolitano é estratégico e depende da integração de políticas urbanas com a participação do Estado, dos municípios e da sociedade.Foto: Andressa Katriny/CMCída por agrupamentos de municípioslimítrofes (que fazemfronteiras), com o objetivo deintegrar a organização, o plametrópolesfossem uma ilha.contrastes nocivos ao meio urbano?”,questiona o vice-presidentedo Senge-PR, engenheiroValter Fanini, defensor deque o planejamento das cidadesleve em conta os municípiosvizinhos e a população comumdesses grandes centros.“Como constituir relações harmoniosasde uso e ocupação do solo quando ozoneamento definido por um municípionão dialoga com outro ao seu lado?”No contexto das grandes cidadesbrasileiras, dividir problemasem vez de multiplicarsoluções tem sido uma contaque tem como produto o caosurbano.A causa disso tudo está naausência de planejamento somadaa medidas paliativas degestão com foco apenas no territóriodas chamadas cidadespolo. Em outras palavras, aspolíticas urbanas são adotadaspelos núcleos de maior concentração,ignorando o mundo queos cerca, como se as cidades aindativessem as cercas da épocada Idade Média ou como se asO grande desafio, neste momento,está em incluir as regiõesmetropolitanas no processode planejamento. Estaé uma defesa permanente doSindicato dos Engenheiros doParaná (Senge-PR) que estásendo trabalhada em Curitiba,mas que cujo entendimento éválido para todo o territórioparanaense.“Como constituir relações harmoniosasde uso e ocupação do soloquando o zoneamento definidopor um município não dialogacom outro ao seu lado, gerandoNo conceito do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística(IBGE), Região Metropolitana“é uma região estabelecida porlegislação estadual e constitu-28Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


nejamento e a execução defunções públicas de interessecomum”.O vice-presidente do Sengeconsidera que, diante da constataçãode que Curitiba é partede um contexto urbano metropolitano,e que é provável queem 2020 esta parte seja menorque 50% do todo, é necessáriodar respostas urgentes a“O desenvolvimento metropolitano dependede planejamento e da integração de políticasurbanas com a participação do Estado, dosmunicípios e da sociedade” - FaniniNo Paraná, são três as regiõesmetropolitanas institucionalizadas:a de Curitiba, criada em1973, e de Londrina e Maringá,ambas criadas em 1998.Dados do Censo de 2010 apontaramoito cidades paranaensescom mais de 200 mil habitantes:(Curitiba, Londrina, Maringá,Ponta Grossa, Cascavel, SãoJosé dos Pinhais, Foz do Iguaçue Colombo), que as colocacom ‘porte’ de metropolitanas,ao menos no número de habitantes.Destas, duas (São Josédos Pinhais e Colombo), fazemparte da chamada Grande Curitiba,que conta no total 29 municípiose uma população de 3,2milhões de habitantes.Na opinião de Fanini, é necessáriorespeitar os limites para ocrescimento sustentável da metrópolee das cidades no entorno.“Os limites naturais, legais ede acessibilidade entre os municípiosdevem ser atendidos paraque haja desenvolvimento. Curitibaapresenta hoje tendência decrescimento ao norte e ao sul, poisos setores leste e oeste apresentamcontentores naturais, como o relevoe a hidrologia”, observa.questões determinantes aodesenvolvimento. “Entre essasquestões está a forma de planejaro sistema viário e operar otransporte público de passageirose também como continuar preservandoas áreas de mananciais queabastecem a capital, sendo que istoimpõe enormes restrições de ocupaçãode crescimento econômico epopulacional aos municípios vizinhossem que haja nenhuma formade compensação.”Fanini destaca ainda a necessidadeda constituição de ummodelo conjunto de gestãopara o sistema de coleta e destinaçãode resíduos sólidos, jáque não existe nenhuma possibilidadede solução na escalanível municipal para estaquestão.Além disso, na opinião do engenheiro,é necessário pensarem como tratar a hidrografiaregional urbana, como porexemplo, se as soluções dedrenagem de um município,ou o uso da bacia hidrográficaalteram o regime hidrológicode rios e córregos provocandomaiores inundações nosmunicípios vizinhos. E comoconstituir um processo de distribuiçãomais equitativa dariqueza produzida na RMC,já que alguns municípios possuemenormes vantagens locacionaisenquanto outros sãoobrigados a preservar a totalidadede seu território comomanancial de água para abastecimentopúblico.No caso de Curitiba, a políticahabitacional também deve serfoco de atenção, já que todas aspossibilidades de constituiçãode novos corredores de expansãourbana adentram o territóriode municípios vizinhos.Para Fanini, o planejamentometropolitano precisa ser integrado,de forma que sejamcriadas soluções urbanas queatendam principalmente os municípiosque vivem à sombrada Capital. “O desenvolvimentometropolitano é uma questão estratégicae fundamental para aqualidade de vida da população.É tarefa que depende de planejamentoe da integração de políticasurbanas com a participação doEstado, dos municípios e da sociedade”,afirmou.As propostas do Senge-PR paraa real integração metropolitanaforam apresentadas na 8ª audiênciapública sobre o Plano Diretor(PD) de Curitiba, na últimareunião do ano, realizada nodia 6 de novembro, na Câmarade Vereadores.Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná29


REGIÕES METROPOLITANAS NO PARANÁA expressão “Região Metropolitana”aparece na legislação brasileiraem 1967,através do artigo n.º 164 da ConstituiçãoFederal, em que se defineque a União, medianteLei Complementar, poderia estabelecerregiões metropolitanas,constituídas por municípios que,independentemente de sua vinculaçãoadministrativa, integrem amesma unidade socioeconômica,visando a realização de serviçoscomuns.No ano de 1973 foi aprovada aLei Complementar n.º 14, que, emseu artigo n.º 1, estabelece “[...]na forma do artigo 164, da Constituição,as Regiões Metropolitanasde São Paulo, Belo Horizonte,Porto Alegre, Recife, Salvador,Curitiba, Belém e Fortaleza”. Noano de 1974, a Lei Complementarn.º 20 incorpora a Região Metropolitanado Rio de Janeiro.A Região Metropolitana deCuritiba (RMC) é formada por29 municípios: Adrianópolis,Agudos do Sul, Almirante Tamandaré,Araucária, Balsa Nova,Bocaiúva do Sul, Campina Grandedo Sul, Campo do Tenente,Campo Largo, Campo Magro,Cerro Azul, Colombo, Contenda,Curitiba, Doutor Ulysses, FazendaRio Grande, Itaperuçu, Lapa,Mandirituba, Piên, Pinhais, Piraquara,Quatro Barras, Quitandinha,Rio Branco do Sul, RioNegro, São José dos Pinhais, Tijucasdo Sul e Tunas do Paraná.Segundo dados do IBGE a GrandeCuritiba tem 3.168.980 habitantesnuma área de 15.419 km².Esta população cresceu 3,5 vezesmais desde a década de 70, passoude 907 mil habitantes para quase3,2 milhões de habitantes de hoje.A Região Metropolitana deLondrina, a primeira do interiorbrasileiro, foi instituída pelaLei Complementar nº 81, de 17de junho de 1998. Inicialmenteeram oito os municípios quecompunham a área metropolitanade Londrina (Londrina, BelaVista do Paraíso, Cambé, Ibiporã,Jataizinho, Rolândia, Sertanópolise Tamarana.) Além destes,passaram a integrar a região ascidades de Alvorada do Sul, Arapongas,Assaí, Centenário do Sul,Florestópolis, Guaraci, Jaguapitã,Lupionópolis, Miraselva,Pitangueiras, Porecatu, PradoFerreira, Primeiro de Maio, RanchoAlegre, Sabáudia, Sertanejae Uraí. Hoje, a grande Londrinaconta com 25 municípios na RegiãoMetropolitana, com uma populaçãoestimada (IBGE 2013) de1.043.328 habitantes, dos quais537.566 na cidade polo.A Região Metropolitana deMaringá (RM Maringá) foicriada pela lei Estadual n. 83/98.Também constituída inicialmentepor oito municípios (Maringá,Sarandi, Mandaguari, Paiçandu,Ângulo, Iguaraçu, Mandaguaçue Floresta) a Grande Maringápassou a abranger as cidades deMarialva, Dr. Camargo, Itambé,Astorga, Ivatuba, Bom Sucesso,Jandaia do Sul, Cambira, PresidenteCastelo Branco, Flórida,Santa Fé, Lobato, Munhoz deMello, Floraí, Atalaia, São Jorgedo Ivaí, Ourizona e Nova Esperança.São 26 no total, compopulação estimada de 764.906habitantes, dos quais 391.698 emMaringá.REGIÕES METROPOLITANAS:CURITIBALONDRINAMARINGÁ30Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


COMUNICAÇÃOPARA TODOSPor Alexsandro T. RibeiroRealizado anualmente, o Curso do NPC debateu a mídia dos trabalhadores e seu papel na disputa pela hegemoniaFotos: Alexsandro T. RibeiroCriar um marco regulatório dacomunicação social no País e ampliara participação da sociedade nos meios éuma das principais reformas esperadaspor alguns setores da sociedade civil.Hostilizado nos meios de comunicaçãode massa, o tema vem seguindo semmuita visibilidade e avanços, salvoraras exceções, como o Projeto de Leide Iniciativa Popular, idealizado peloFórum Nacional pela Democratizaçãoda Comunicação (FNDC) que propõe aregulamentação do setor no País.A democratização e aberturaampla dos meios de comunicaçãoà participação da sociedade,quer seja na escolha da programaçãoou na produção doconteúdo, tem se tornado temarecorrente nas defesas das entidadessindicais e dos movimentossociais.Os meios de comunicação demassa desempenham papel fundamentalnas sociedades atuais.Não há informação que não sejamediada. Quer seja pela TV, rádios,internet, telefonia celularou qualquer outro dispositivode comunicação, os indivíduosprecisam cada vez mais de informaçãopara se orientar emsuas decisões e para o exercícioda cidadania. Em meio a essecenário, quem detém o poderRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná31


de informar e orientar a população?Mais de 75% dos brasileiros indicarama televisão como meiode comunicação predileto, ecerca de 8% preferem o rádio,segundo dados da PesquisaBrasileira de Mídia, publicadaneste ano pela Secretaria deComunicação Social (Secom) daPresidência da República. Essessão meios que utilizam espectrospúblicos, e que, portanto,são administrados sob concessõescedidas pelo poder público.O que deveria ser de todos, públicoe plural, no entanto, nãoocorre na prática, conformeaponta a jornalista e coordenadorado Coletivo Intervozese da executiva do FórumNacional pela Democratizaçãoda Comunicação (FNDC), BiaBarbosa. “Temos um quadroextremamente concentradodos meios de comunicação,controlado por grandes gruposeconômicos, que no Brasil muitasvezes se confundem comgrupos familiares, e com gruposque exercem poder políticodireto nos parlamentos e poderesexecutivos”.Em mesa temática sobre a democratizaçãodos meios, na20.ª edição do curso anual paratrabalhadores do Núcleo Piratiningade Comunicação, no Riode Janeiro, com a participaçãodo jornalista e sociólogo VenícioArtur de Lima e do professorda Escola de Comunicaçãoda UFRJ, Marcos Dantas, Biacriticou a falta de liberdade deexpressão na comunicação devidoao forte controle privadosdos meios. “O quadro do sistemamidiático brasileiro é de total ausênciado exercício da liberdade deexpressão do conjunto da populaçãobrasileira, hoje quem exerceessa expressão são aqueles quecontrolam diretamente a propriedadedos meios de comunicação demassa”.Segundo a pesquisa Donos daMídia, realizada pelo Institutode Estudos e Pesquisas em Comunicação(Epcom), 41 gruposde abrangência nacional dominammais de 550 veículos decomunicação no Brasil. No Paraná,três grupos se destacamno setor: Grupo Paranaense deComunicação (GRPCOM), formadopela Rede Paranaense deComunicação com 8 emissorasfiliadas à Rede Globo, três jornaisdiários - Gazeta do Povo,Jornal de Londrina e Tribuna-, o portal de notícias ParanáOnline, pelas rádios 98 FM eMundo Livre FM e pelo canalde TV multiplataforma ÓTV;seguido do Grupo RIC - Petrellide Comunicação, afiliado àrede Record e com cinco rádiosda Rede Jovem Pan e, em terceiro,a Rede Massa, afiliada aoSBT, atuante na TV e em rádiosAM e FM.A questão fundamental com aconcentração midiática, aforaas relações econômicas de formaçãode oligo e monopólio, éa verticalização e a falta de pluralidadeda informação, na medidaem que a mediação é controladapor poucas empresas ou“Acho que para compreender o impasse, ao invés dequem é contra a democratização da comunicação,vamos pensar em quem é à favor” -Venício Lima, jornalista e sociólogopor grandes grupos com propriedadecruzada. De acordocom Marcos Dantas, isso ficamais nítido em épocas eleitorais.Para o professor da UFRJ,na disputa presidencial foi nítidaa diferença dos posicionamentosnos meios massivos decomunicação ante a pluralidadede versões e manifestações nainternet, cujo marco civil foiaprovado em abril deste ano.“Vimos como funcionou nos meiosdurante as eleições e também comoo debate da internet foi extremamenteimportante para neutralizaro oligopólio das mídias. Nãoapenas pela contra-informação,mas sobretudo pela aglutinação,pois se você abre o jornal, liga aTV e pega a revista, as informaçõesque estará recebendo, inclusiveno entretenimento, têm apenasum viés. E se você acha que as coisasnão são como estão apresentadas,você é massacrado por umadeterminada abordagem. Na internetaconteceu o contrário”.A quem interessa? - Se porum lado é fácil identificar aquem interessa a falta de regulamentaçãono setor, ou seja, osempresários, políticos e grupos32Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


Bia Barbosa: há uma concentração dos meios decomunicação de massa, dominados pelo capitalprivado e por políticos.Disputar o gosto do consumidor é tão importantequanto criar novos espaços de comunicação,afirma Marcos Dantas, professor da UFRJdo setor, o jornalista e sociólogoVenício Lima propõe a inversãoda questão. A quem interessa ademocratização da comunicação?“Acho que para compreendero impasse, ao invés de quemé contra, vamos pensar em quemé a favor. Quando se pensa nisso éque se vê com mais clareza porquenão acontece. São aqueles atoresnão atores, que não conseguem iralém nem na representação parlamentar,nem na atuação direta dequem influencia na formulação depolíticas públicas. Uma reflexãoimportante sobre a democratizaçãoda comunicação no Brasil épensar em quem é que está do ladodessa batalha, e que batalha é essa,pois não há um acordo das prioridades”.A crítica é um alerta à importânciado tema para a populaçãoe para a sociedade civil. SegundoLima, entidades e instituiçõescom histórico combativo,como a Ordem dos Advogadosdo Brasil (OAB), o movimentoestudantil e as universidades,têm deixado de lado a defesa dacomunicação para todos.Mesmo com um capítulo exclusivona Constituição, aindafalta regulamentação paraa comunicação no PaísUm dos principais entraves naluta contra a concentração damídia e pela democratização dosmeios de comunicação é a faltade uma legislação que busqueregular o setor. A comunicaçãotem um espaço de destaque naConstituição Federal de 1988,com um capítulo composto por5 artigos dedicados à liberdadede expressão, às restrições demonopólio e oligopólio, à regionalizaçãoda produção cultural,às diretrizes de outorga dasconcessões, permissões e autorizaçõespara serviços de radiodifusão,dentre outras questões.Hoje, 26 anos após a promulgaçãoda Carta Magna, o capítuloda comunicação, no entanto, seguesem efeito pela falta de leisque o regulamentem.De acordo com Venício Lima,a regulamentação do que estáprevisto na Constituição de1988 é o primeiro passo fundamentalpara a democratizaçãoda mídia. “Em termos de democratizaçãoda comunicação, de regulamentação,precisa-se cobrir oque existe na Constituição. Regulare cumprir o que está previstocom alguns pontos preferenciais”.Outro ponto seria a instituiçãode Conselhos Estaduais deComunicação Social, com competênciasde interferir na construção,variação e acompanhamentodos planos estaduais decomunicação, com repercussão,por exemplo, na distribuiçãode recursos oficiais de publicidadeem âmbito regional. “Emalguns estados os conselhos estãoprevistos nas constituições, comona Bahia e em Alagoas, e na LeiOrgânica do Distrito Federal.Porém, a maioria não é ativa.Precisa resgatar esses conselhos einstalar nos estados em que não éprevisto, torná-los presentes”.Lima também destaca a necessidadede alterar a regra de distribuiçãode publicidade, comvistas a incentivar pequenosveículos de comunicação. Hoje,a distribuição das verbas oficiaisde publicidade do governofederal, à cargo da Secretariade Comunicação Social da Presidênciada República (Secom),atende ao critério “mídia técnica”,que privilegia a distribuiçãopor valor de investimentoproporcional à audiência ouRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná33


circulação do veículo. “A alteraçãodos critérios depende apenasde vontade política do poder centralpara que o estado suporte eajude financeiramente os veículosque na disputa do mercado nãoconseguiriam sobreviver, mas quecumprem um papel fundamentalde dar voz a quem não tem voz, ecriar uma pluralidade fundamentalpara o processo democrático”.Incentivo à mídia pública é achave para a democratizaçãoPromover e intensificar a atuaçãodos meios públicos de comunicaçãoperpassa pela defesada democratização da comunicação,segundo Venício Lima.Em 2007, o Governo Federalcriou a Empresa Brasileira deComunicação (EBC), compostapela Agência Brasil, por oitoemissoras de rádio, pela TBBrasil, a TV Brasil Internacional,a Radioagência Nacional epelo Portal EBC.No entanto, a EBC sofre problemasde investimento e carecede mais atenção do governopara a ampliação da estrutura.De acordo com a já citada pesquisasobre os hábitos de consumode mídia pela populaçãobrasileira, os programas daTV Brasil e da Rádio da EBCapenas foram lembrados pelospesquisados após estímulo dosentrevistadores, sendo que 62%dos entrevistados afirmaramnão conhecer a TV Brasil.“Logo após a reeleição, a presidenteDilma deu entrevista para aRecord, Globo, SBT e Band. Masnão para a TV Brasil. Pergunteipara algumas pessoas que conheçolá na TV e recebi a mesma resposta,que foi solicitada a entrevista,mas que não houve resposta. Nomeu modo de ver, se eu tivesse algumpoder de influenciar esse tipode decisão, acho que ela deveriater dado uma coletiva de imprensaliderada pela TV Brasil, que éo canal público. Isso significariaprestigiar a TV pública e mostrarpara o resto da sociedade que elaexiste. Deveria consolidar umamídia pública que poderia, à médioe longo prazo, fazer a disputado gosto da audiência e se tornarreferência alternativa, inclusivede qualidade para a mídia comercial/privada,que predominaentre nós desde que existe televisãono Brasil”.Segundo Marcos Dantas, é necessárionão apenas criar novosespaços e ampliar a participaçãoda sociedade civil nos meiosde comunicação, mas tambémdisputar a audiência com osmeios hegemônicos. “A questãonão é só a regulação econômica,porque a gente pode criar diversidadee pluralidade. A regulaçãoeconômica permite que em umpaís como a Espanha você tenhamais de mil canais de televisão, ouna Inglaterra, por exemplo. Agora,tem uma rede de televisão naEspanha que tem mais de 30%da audiência, na Inglaterra umaque tem mais de 40%. Os outrosatuam em audiência segmentada.Tem que disputar o gosto. A regulaçãoeconômica que a presidentetem falado talvez proporcione oespaço para se diversificar as vozesfalantes, mas terá que disputara audiência”.Lei de Iniciativa Popularpropõe marco regulatóriopara o setorRegulamentar a comunicação,ao contrário do que é defendidopela imprensa hegemônica, nãoé regular e/ou censurar a liberdadede expressão, mas simtornar efetivo o que está previstona Constituição, além de“Temos que criar um jornal ou revista das entidadessindicais, defendendo nossa visão de sociedade e demundo, pautada pelo trabalhador”, defendeVito Giannotti, do NPC.Os diretores do Senge-PR Leandro Grasmann,Claudinei Ribas e Cícero Martins, em visita àFavela Santa Marta, numa das atividadesdo curso do NPC34Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


ampliar a participação da sociedadecivil e garantir o acesso àinformações e notícias de qualidade,é o que defende o FórumNacional pela Democratizaçãoda Comunicação (FNDC).Perpassa pela democratização aregulação de conteúdo e demaispolíticas de comunicação que jáestão em prática, e que não écensura, como afirma a jornalistaBia Barbosa, coordenadorado FNDC. “Política de classificaçãoindicativa para protegeros direitos de crianças e adolescentesna televisão é uma políticade regulação de conteúdo, quenão tem nada a ver com censura,assim como política de fomento àprodução regional, limitação detempo de publicidade da grade deprogramação das emissoras, quesegundo o código das telecomunicaçõesbrasileira está prevista em25% da programação e direito deresposta. Nada disso é censura”.Entidade criada em 1991, oFNDC atua no planejamento,mobilização, formulação deprojetos e promoção da democraciana comunicação. A partirde 2009, após a 1.º ConferênciaNacional de Comunicação(Confecom), o FNDC vemintensificando sua atuação naformulação de uma proposta demarco regulatório para a comunicaçãono Brasil.Segundo Bia Barbosa, o projetoé resultado das principais resoluçõesda Confecom, de 2009,cujas propostas buscam regulamentaros artigos da Constituição.“Se esses artigos saírem dopapel, por si só seria um avançopara a consolidação de um sistemademocrático, pois conseguiríamoscoibir o monopólio, consolidar umsistema público de comunicação,fomentar a comunicação comunitária,consolidar princípios para ofuncionamento da programaçãodas emissoras, além do direito deresposta”.O Projeto de Lei de IniciativaPopular da Mídia Democrática,ou PLIP da Mídia Democrática,foi lançado pelo FNDC emagosto de 2014, e precisa deno mínimo 1,3 milhão de assinaturaspara ser encaminhadoà Câmara dos Deputados.Composto por seis capítulos e33 artigos, o projeto propõe aregulamentação do capítulo dacomunicação da Constituição,além da criação do ConselhoNacional de Comunicação e doFundo Nacional de ComunicaçãoPública.O Conselho, pela proposta doFNDC, atuaria como um órgãoindependente, mantido peloPoder Executivo, com papel deatribuir diretrizes para as políticaspúblicas do setor, de regularos serviços de comunicaçãoeletrônica, nomear defensoresdos direitos do público, bemcomo propor, quadrienalmente,o plano nacional de comunicaçãosocial.De acordo com o PLIP, o conselhoé formado por 28 membros,distribuídos entre representantesdos Poderes Executivo e Legislativo,pela Procuradoria Federaldos Direitos do Cidadão,pelos prestadores de serviçosde comunicação, por entidadesprofissionais ou sindicais dostrabalhadores, pela comunidadeacadêmica e pelos movimentossociais representativos deminorias (mulheres, negro, indígenas,população de lésbicas,gays, bissexuais e transgênerose de juventude).O projeto do Fórum tambémveta a propriedade de emissorasde rádio e TV por políticos,proíbe o aluguel de espaços dagrade de programação e defineregras para impedir a formaçãode monopólio e a propriedadecruzada dos meios de comunicação.De acordo com BiaBarbosa, a proposta reforça aconsolidação da democracianacional, porém, não avançarásem o apoio popular nas assinaturase a pressão no Congresso.“A proposta por um novo marcoregulatório, por medidas de regulaçãoeconômica ou de conteúdoda mídia, continua sendo umponto estratégico para a consolidaçãoda democracia brasileira.Na nossa leitura é um tema queprecisa caminhar junto com a reformapolítica, somando esforçosda sociedade para que seja possíveltornar isso realidade. Semesse apoio será impossível, sobretudocom a formação de um doscongressos mais conservadores dahistória do País”.Para o jornalista e sociólogo Venício Lima,cumprir o que está na Constituição seria um dosprincipais avanços na luta pela democratizaçãoda comunicaçãoRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná35


COMUNICAÇÃO DOS TRABALHADORESE DISPUTA PELA HEGEMONIATranspassar o corporativismo edebater temas de relevância públicanacional, disputando com osmeios comerciais de comunicaçãode massa, o interesse da sociedadena luta pela hegemonia. Essa foi aprincipal discussão no 20.ª CursoAnual do Núcleo Piratininga deComunicação, que reuniu maisde 300 jornalistas e dirigentes deentidades sindicais e da sociedadecivil, no mês de novembro de2014, no Rio de Janeiro.Responsável pela impressão demais de 10 milhões de jornaismensais, a imprensa sindical éum instrumento fundamental nadefesa do posicionamento dostrabalhadores como visão de sociedadeque contemple a justiçasocial e a garantia dos direitosdas minorias. No entanto, apesardo magnitude das suas publicações,a imprensa não atua de formaconjunta, desenvolvendo, emsua maioria, a defesa apenas corporativistada categoria representadapor cada sindicato.De acordo com o fundador doNPC, o comunicador e ex-sindicalistaVito Gianotti, os trabalhadorese as entidades sindicais têmque atuar de forma conjunta, pautandotemas nacionais em seusmeios, e sobretudo criar um veículopróprio que faça contrapontoaos meios massivos comerciaisde comunicação.“Queixamo-nos que os meios de comunicaçãode massa representamapenas a defesa de um lado, o de umaelite dominante. Que ela prejudicaos trabalhadores e as instituições queos representam. Isso não é novidade.O que é novidade é a necessidade denos organizarmos para começarmosa contrapor eles com as posições dostrabalhadores. A comunicação quetemos agora é extremamente frágil.Quantos jornais de publicação diáriaexistem para os trabalhadores e paraa esquerda no Brasil? Nenhum. Seeu quiser saber sobre uma informação,tenho que comprar um dos jornaisdo sistema, da mídia empresariale comercial. Portanto, chega deficar se queixando. Temos que criarum jornal ou revista das entidadessindicais, defendendo nossa visão desociedade e de mundo, pautada pelotrabalhador, e que circule nos mesmosespaços dos meios hoje hegemônicos”O Senge-PR esteve presente na20.ª medição do curso do NPC,representado pelo diretor-secretário,Leandro José Grassmann,pelo diretor e coordenador doSenge Jovem, Cícero Martins Júnior,e pelo diretor Claudinei PedrosoRibas.Segundo Grassmann, o evento foiimportante não apenas por mostrara importância estratégicaque a comunicação desempenhanas relações e no desempenhodas entidades sindicais, mas tambémpor demonstrar o quão fundamentalé o papel a ser desempenhadopelo sindicato para seusrepresentados e para a sociedade,propondo em seus veículos debaterquestões de interesse públicosob um viés contestador, que nãoapenas reforce o ponto de vistadefendido pelos meios de comunicaçãohegemônicos.“Historicamente o Senge-PR atuana defesa de políticas públicas, nafiscalização dos bens públicos, em favorda justiça, da ética na política ena promoção de debates de interessenão apenas dos profissionais de engenharia,mas da sociedade. E issose reflete em nossos meios de comunicação.Portanto, foi bom perceber nocurso que, ao propormos um espaçode discussão de temas que estão paraalém da base de representação profissional,estamos alinhados à atuaçãona defesa, por meio da comunicação,de uma sociedade mais justa, levandoinformação de qualidade, com viésdiferenciado dos meios comerciais àpopulação”.Conheça o projeto de Marco Regulatórioda Comunicação, organizadopelo FNDC, e os pontos de coleta deassinatura distribuídos em váriosestados brasileiros:36Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


ARTIGOCOMUNICAÇÃO DOS TRABALHADORESPARA A DISPUTA DE HEGEMONIA:UMA LIÇÃO HISTÓRICAPor Vito GiannottiFoto: NPCVito Giannotti é coordenador do Núcleo Piratiningade Comunicação e autor de mais de 20 livros nasáreas de comunicação e sindicalismo.O meu novo livro, COMUNI-CAÇÃO DOS TRABALHA-DORES E HEGEMONIA, noseu título deixa claríssimo seuobjetivos: tratar da comunicaçãoda classe trabalhadora e desua luta pela hegemonia. Logode cara diz que sua finalidadenão é falar da comunicaçãono geral, mas centralizar suaatenção nos trabalhadores. Elogo diz sua visão da funçãodesta comunicação, hoje, empleno século XXI: conquistarcentenas, milhares, milhõespara suas propostas, sua visãode mundo. Ou seja, convencerda necessidade de mudar, virarde cabeça para baixo estemundo. Colaborar na construçãode um outro mundo, livre,solidário, a caminho do socialismo.E tudo o que se fala nolivro é centrado na função dacomunicação. O livro olha ohoje e se referencia no ontem.Pensamos na nossa históriaenquanto classe trabalhadora,e no futuro que temos queconstruir.Na história das sucessivas formasde comunicação ao longodos séculos, veremos queestas sempre foram o instrumentode comunicar o olharde alguém sobre determinadofato. Um olhar de um in-divíduo ou grupo social paramostrar e muitas vezes paraconvencer pessoas ou gruposde determinada visão. À medidaque as formas de comunicaçãoavançavam, fica cadavez mais nítido o objetivo delevar outros a pensar de umadeterminada maneira. Paraisto serviam, desde as pedrasdas cavernas, até inscrições emmonumentos, imagens esculpidasaté, mais recentemente,livros. Imagens, monumentose inscrições das mais variadasformas e técnicas próprias decada época sempre servirampara esta finalidade.Quando, na Europa, surgirame se multiplicaram as primeirasfolhas impressas, com o famosomonge Gutemberg, séculosatrás, não se imaginava queestas fossem os antecedentesdos jornais. No século XVIIcomeçaram os primeiríssimosjornais que se firmaram comopublicações regulares com oadvento do sistema capitalista.Muitos pensavam que o jornalseria puramente um instrumentopara informar. Nadamais. Mas, ao contrário, o jornallido em círculos de interessadosfoi o grande instrumentode divulgação das ideias doliberalismo, base do capitalis-Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná37


mo inglês, e dos ideais da RevoluçãoFrancesa de 1789.Jornais para quê? Para informar?Claro, informar sobrenavios que chegavam e partiamdos portos da Europapara o mundo. Informar asdescobertas, os novos produtose também noticiar fatosque se chamavam de amenidades.Mas isso era só o queaparecia. O objetivo de umburguês, dono de uma ou maisfábricas, ao fundar um jornalera bem outro do que informar.Era formar. Formar ascabeças, moldá-las. Como sediria hoje, ganhar “coraçõese mentes” do povo, da massa,dos exércitos. Enfim, da baseda sociedade que os donos dosjornais queriam que aceitassecomo natural, boa, justa e,sobretudo, imutável. O SéculoXIX, século do capitalismoindustrial, precisava se legitimar.Precisava do “consenso”,como Gramsci teorizará noséculo XX.Foi assim que, no século docapital, o jornal passou a terum papel fundamental na difusãodas ideias burguesas, istoé, dos valores. Legitimação daescravidão, naturalização dasguerras coloniais para a Europaviver em paz. E difusãoem alguns países das ideiasrepublicanas da tal RevoluçãoFrancesa. Essa era a modernizaçãoapregoada. Isso eralevar a “civilização” europeiapara o resto do mundo “nãocivilizado”. Foi graças a ele, aojornal, e à força dos exércitosque sempre iam junto com osjornais, que essas ideias e valoresse tornaram dominantes.Ideias dominantes para garantirexércitos dominantes.Tanto é verdade que, logo, osmovimentos dos trabalhadores,os sindicatos e os partidospolíticos que simpatizavamcom os trabalhadores se preocuparamem fazer seus jornais.Para divulgar, difundir asideias de sua classe e seu projetode sociedade e de mundo.Na Inglaterra, país do capitalismo,se organizaram as “uniões”,como os sindicatos eramchamados. Nasceu um sindicato,nasceu logo em seguida ojornal sindical. Na industrializadaAlemanha, na passagemdo século XIX para o séculoXX, em cada cidade com maisde cem mil habitantes existiaum jornal local do PartidoSocial Democrata Alemão(SPD), o maior partido socialistado mundo.Ao ouvir o nome do comunistaitaliano Antônio Gramsci,os que o conhecem, logoo associam com o jornal queele fundou e dirigia, L´OrdineNuovo, e depois com L´Unitá,órgão do partido que ele ajudoua fundar no distante 1921.Ainda hoje, em 2014, o jornalL´Unitá, órgão do partidoque sucedeu à auto-extinçãodo antigo Partido ComunistaItaliano, o chamado PartidoDemocrático, se referenciaem Gramsci. Ostenta no seulogotipo os dizeres: “L ´Unitá– Um jornal fundado por Gramsci”.Este era o peso de umjornal de esquerda, no caso,comunista, no começo do séculoXX.Passando da Europa para oBrasil, veremos que, já em1919, mesmo com uma classeoperária pequena, existiramdois jornais diários: A Plebe,em São Paulo, e A Hora Social,em Recife. E por que essaclasse, tão pequena, resolve fazerjornal? Para disputar suavisão de mundo com a burguesiaque difundia a sua porvários meios. Por que jornais?Porque jornal era o que existia,na época, para disputar ahegemonia, como ensinavame praticavam Lênin, Rosa Luxemburgo,Trotsky, Gramsci etantos outros revolucionáriosda Indochina de Ho Chi Minao Peru de Mariátegui.Mas o jornal, hoje, é apenasum dos muitíssimos meios decomunicação que os trabalhadorespodem usar. Ao longodo livro fala-se muito de rádio,televisão e em três capítulosda rede mundial, a internet,em suas inúmeras aplicaçõesque os trabalhadores podeme devem usar. Cada meio dacomunicação, para os trabalhadores,os de ontem, de hojee de amanhã, deve ser umaarma para vencer a guerra dahegemonia. E, isso, sem ilusõescom os nossos inimigosde classe. Essa é a mensagemcentral do livro.38Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


ALDEIA GLOBALPor Alexsandro T. RibeiroFoto: Alexsandro T. RibeiroCriada para divulgar a cultura indígena e integrar as mais de 300 etniasexistentes hoje no País, a Rádio Yandê, primeira rádio web indígenado Brasil, com pouco mais de um ano de existência, vem se consolidandocom um espaço de direito à voz e ao protagonismo do povo indígena napropagação da própria história.Ter direito a voz para divulgarsua cultura e poder contar aprópria história e versão dosfatos. É com essa motivaçãoque a Rádio Yandê, a primeirarádio web indígena do Brasil,começou suas atividades emnovembro de 2013. Do Tupi,“nós”, a Rádio Yandê é um espaçovirtual que agrega informaçõese cultura de várias etnias.“A rádio de todos”, comoafirma em seu slogan.Com pouco mais de um ano,a rádio já concorreu a váriosprêmios, e atualmente é finalistado Prêmio Brasil Criativo,organizado pelo Ministério daCultura, voltado para os projetosque usam a criatividadecomo solução para o desenvolvimentoda Economia Criativano Brasil.Segundo o seu idealizador,Anápuáka Muniz TupinambáHã-Hã-Hãe, a Rádio Yandê émais um dos instrumentos dopovo indígena na ocupação deRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná39


A rádio atua nos eixos informação,cultura e entreteniespaçose na busca pelo protagonismona sociedade. “A comunicaçãotem um poder muitoforte, e a história indígena semprefoi contada sob a ótica dequem conquistou. Mesmo na academia,muitos intelectuais continuamreproduzindo a versão doVelho Mundo, de Coimbra. Nóscompreendemos que nossa históriadeveria ser contada por nósmesmos, com o nosso olhar”.Segundo o Censo 2010 do InstitutoBrasileiro de Geografiae Estatísticas (IBGE), haviamno Brasil naquele ano cercade 900 mil indígenas em todoo território nacional. Destes,aproximadamente 65% vivemem terras indígenas, e 35% emcidades. Existem atualmente274 línguas faladas e 305etnias, sendo a maior delas aTikúna, no território do Amazonas,com 6,8% da populaçãoindígena, seguida da populaçãode guarani-kaiowá.Para Anápuáka, a apropriaçãodos meios de comunicação pelosindígenas, como jornais, rádios,sites e redes sociais, nãoapenas busca garantir outrasvisões e interpretações do passado,mas também contrapor acobertura contemporânea midiáticarealizada pelos gruposhegemônicos de comunicação.Um dos exemplos recentesdessa atuação, de acordo como indígena, foram as reportagensveiculadas em fevereirode 2014 pela rede Bandeirantesda Bahia, acusando os indígenasda aldeia Tupinambádo distrito de Olivença, nomunicípio de Ilhéus, de invadirem,ameaçarem e expulsaremmoradores da região, além depráticas de roubo e extorsão.“Nós publicávamos nossas versõesantes mesmo dos jornalistasretornarem para as redações dosjornais. Tudo o que eles tinhammontado, nós já havíamos desmentidoem nossos meios, nasredes sociais, nas rádios web.Fomos mais rápidos em produziras notícias do que eles em gerarmentiras. Isso é ter controle dainformação, do conteúdo. Ocuparesses espaços é um dos pontos críticospara a gente virar a mesaem relação às nossas versões ehistórias”, afirma Anápuáká.De etnia Tupinambá PataxóHã Hã Hãe, Anápuáka saiu daAldeia Água Vermelha, no sulda Bahia, aos 13 anos. Graduadoem Gestão em Marketing eJornalismo de Políticas PúblicasSociais, iniciou sua carreiraprofissional trabalhando emrádios, jornais e revistas, produzindomatérias e atuandocom artes gráficas. Hoje, entusiastadas novas tecnologiase da etnomídia indígena (mídiaconstruída por uma etnia),Anápuáka, dedica-se à RádioYandê e a divulgação cultural edefesa das questões indígenas.Com sede no Rio de Janeiro, aRádio Yandê é conduzida porAnápuáka, pela jornalista eespecialista em etnomídia naAmérica Latina, Renata Tupinambáe o publicitário DenilsonBaniwa. Apesar da equipeenxuta, segundo Anápuáka,há mais membros ativos noprojeto em todo o Brasil, ajudandona alimentação da programaçãoda rádio e do portalde notícias.A rádio de todosEtnomídiaindígenaSegundo Anápuáka, etnomídiaindígena é umamídia apropriada por umgrupo étnico, pela qual sebusca preservar uma cultura,diferenciando-se dasapropriações comerciaisdas mídias, buscando reafirmara identidade e culturade um povo. “Chamamosde etnomídia indígena essamídia construída por umaetnia, por um povo, produzidapelo olhar dos própriosíndios, com sua visão. Osparâmetros são simplesmenteculturais. Cada etnia tem ahabilidade de trabalhar suaprópria cultura, e isso se somaao formato de mídia”.Além da Rádio Yandê háoutras iniciativas de comunicaçãovoltadas à divulgaçãoda cultura indígena,como o jornal online CausaIndígena e rádios comunitárias,como a Kiriri, quetransmite em ondas baixapotência direto da AldeiaMirandela na Bahia.E também o site Programade Índio, criado em2009 para disponibilizaro acervo de quase 200programas de rádio realizadosentre 1985 e 1991pelo Núcleo de CulturaIndígena, apresentadospor Ailton Krenak e outraslideranças indígenas,veiculados por emissoraseducativas em vários estadosdo Brasil à época.40Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


mento, sendo o espaço maiorda programação dedicado àdivulgação das músicas indígenas,que chegam à rádioconstantemente, de várias aldeiasdo País. No início do projeto,de acordo com Anápuáka,houve o esforço de ir às aldeiaspara apresentar o projeto, coletarapoio e formar uma redede contatos. Hoje, a divulgaçãose dá no boca a boca, nas pesquisaspela internet e nas indicaçõespelas redes sociais.“Um acaba falando para o outroe é aí que a rádio vem ampliandosua audiência e participação.Tem etnia que a gente ainda nãoconversou, e de repente ele entraonline nas redes sociais e perguntacomo faz para participar, paramandar alguma música. Explicamosque há um procedimento,um processo de autorização comassinatura e créditos, para asseguraros direitos autorais dasetnias. Também primamos pelaqualidade, pedimos que seja gravadoem um formato adequado,e quando recebemos, fazemos umtratamento e retiramos os ruídos.Queremos mostrar o melhor danossa cultura. Após isso, a músicaentra na grade de programação,e as vezes entra no mesmo dia”,explica o jornalista.O recebimento de músicas einformações das aldeias e asmanifestações por e-mail enas redes sociais de agradecimentoe de parabenização pelainiciativa, segundo Anápuáka,reforça o slogan da Yandê, “Arádio de todos”, de uma propostade integração das etniase apropriação do espaço de comunicaçãopelos povos, numaespécie de Aldeia Global, comoidealizada pelo filósofo canadenseMarshall McLuhan, aoanalisar a capacidade das novastecnologias em aproximaras pessoas, reduzindo as distâncias,interligando comunidadese promovendo um espaçoe situações de comunicaçãocom em uma aldeia.“A apropriação da rádio peloindígena se dá a partir do momentoem que ele disser, ‘é minharádio, é rádio de todos nós’.Yandê quer dizer “Nós”. Nóssomos mais fortes juntos. Elescompreendem que o nome da rádiotraduz o sentimento que elestêm, e acabam passando isso prafrente, e resulta que encontramosindígenas que dizem que ouvema rádio, e nós nem fizemos propagandapara eles diretamente”.A proposta agora, segundoAnápuáka, é ampliar a atuaçãoda rádio e do portal cada vezmais, buscando mais programasrealizados pelas etnias, eestreitando os laços entre asaldeias, consolidando uma redede comunicação e comercializandoas músicas e informaçõespara os meios massivosde comunicação, com parte dorecurso destinado às aldeias.“Por ora, precisamos de mais recursose patrocínios para fecharuma programação com a participaçãodas aldeias, e para termosum acervo de conteúdo cultural ede informação que possamos atévender para as agências de comunicação,divulgando em outrosespaços nossas visões, a versão dasnossas fontes. Nessa comercialização,a proposta é passar 60%dos recursos para a aldeia paraum fundo de educação e cultura.Ela só poderá usar esse recursopara isso. Com as músicas, a ideiaé a mesma, repassar os royaltiespara as aldeias”.• Do Tupi, “nós”, a Rádio Yandê é um espaço virtualque agrega informações e cultura de várias etnias. “A rádio de todos”, como afirma em seu slogan.Ter direito à voz para poder contar a própria história,a sua versão dos fatos, é o que defende Anápuáka MunizTupinambá Hã-Hã-Hãe, fundador da rádio web Yandê.Conheça e ouça a rádio YandêNo portal:www.radioyande.comNo Twitter:https://twitter.com/radioyandeNo Facebook:https://pt-br.facebook.com/radioyandeRevista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná41


ARTIGOLIDERANÇASEM FORMAÇÃOCícero Martins JuniorFoto : Joka MadrugaCícero Martins Junior é graduado em engenharia civil pelaUEPG. Foi coordenador geral do DCE na Universidade Estadualde Ponta Grossa, presidente da UJS na cidade e secretáriode organização do PCdoB em Curitiba. É trabalhador da Copel,especializando em gestão e liderança pela Estação Business Schoole coordenador do Senge Jovem Paraná.Compreendendo que o futurodas lutas do sindicato está nosengenheiros e engenheiras emformação, é nos bancos das escolasde hoje que estão tantoos futuros representados e filiadosdo sindicato, quanto aspotenciais lideranças da lutaem favor dos trabalhadores deengenharia e do avanço civilizatórioque vislumbramos.Ir à Universidade e apresentaro Senge, a história, as conquistas,os objetivos, a formade organização, nossa visãosobre o mercado de trabalho ea sociedade é importante. Ir àUniversidade e, além de apresentar-se,propor-se como umespaço e instrumento de formação,organização e atuaçãodos futuros profissionais, desdejá, como sócios-aspirantes,é crucial.Um fator importante do SengeJovem é a percepção de quea vida acadêmica é uma etapaem que os jovens encontramsemais abertos a vislumbrare ponderar diferentes visõesde mundo, na formação de suaprópria consciência. Muitoembora a Universidade e especialmenteos cursos de tecnológicasnão sejam um “campoaberto” para o pensamentoprogressista, a juventude é,por si, uma fase de questionamentoe de aprendizado. Nestesentido a graduação é o momentomais propício para contribuirmoscom este processode formação, que é técnica, mastambém é ideológica e política.Sem qualquer tipo de maniqueísmo,mas com clareza quantoà dinâmica existente em nossasociedade, historicamente aengenharia brasileira é colocadaà margem do processode desenvolvimento nacional,relevante apenas como linhaauxiliar da classe hegemônica,na reprodução e acumulaçãode capital por esta classe.Em outras palavras, no caráterde país periférico do capitalismoglobal, a produção científicae tecnológica no Brasil ficourebaixada à importação de conhecimentoproduzido nos paísescentrais, da Europa ou EstadosUnidos. Aos engenheirosbrasileiros, relegou-se apenasa reprodução das tecnologiasimportadas, e uma espécie demediação dos interesses docapital na exploração do trabalho,tal qual a engrenagem quesimboliza a profissão. No desempenhodeste papel, desde oséculo XIX e durante boa par-42Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


te do século XX, os trabalhadoresde engenharia gozaramde um status diferenciado, e remuneraçãosignificativamentesuperior à média da maioriadas categorias profissionais.Todavia, “tudo que é sólidodesmancha no ar”, e a fase atualdo sistema, neoliberal, já nãonos reserva mais este status deoutrora. Ainda desempenhamosa tarefa de aplicar tecnologiasimportadas e garantir aprodutividade em relações deprodução desregulamentadase precarizadas tanto quantopossível. Só que também a engenhariaé, hoje, vítima de relaçõescada vez mais precarizadasda exploração do trabalho.Na queda na remuneraçãomédia dos engenheiros, nageneralização de tentativasde driblagem da legislaçãoque nos garante o piso profissional,na desvalorização daengenharia brasileira em umdiscurso onipresente na mídiade que há “falta de engenheiros”,favorecendo uma pretensanecessidade de importaçãode profissionais, e o estímuloa uma profusão de cursos paraatendimento exclusivo de nichosde mercado.Todas estas são marcas deum processo de precarizaçãodo trabalho de engenheiros eengenheiras. E todas estas sãoevidências de que é preciso estarpresente junto aos futurosprofissionais para, com eles,construir o sindicato que faráfrente a estes desafios.Nessa tarefa, o Senge Jovemtem importância estratégica.Com os mais de seiscentos estudantesassociados até agora,e as dezenas de estudantese diretores do sindicatoIr à Universidade e, além de apresentarse,propor-se como um espaço e instrumentode formação, organização e atuação dosfuturos profissionais, desde já, como sóciosaspirantes,é crucial.que abraçaram a construçãoe organização das comissõesexecutivas do Senge Jovem,buscamos ser mais do que“profissionais bem colocados”,mas engenheiros cidadãos,críticos e protagonistas natransformação do país que ousamostransformar em Nação.Cícero Martins Junior é graduadoem engenharia civilpela UEPG. Foi coordenadorgeral do DCE na UniversidadeEstadual de Ponta Grossa,presidente da UJS na cidade esecretário de organização doPcdoB em Curitiba.É trabalhador da Copel, especializandoem gestão e liderançapela Estação BusinessSchool e coordenador do SengeJovem Paraná.Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná43


ROGAI POR NÓS,SANTA MARTA!A subida a Favela Santa Marta, uma das maisíngremes do Rio de Janeiro, e as dificuldadesde quem luta pelo seu espaçoPor Por Alexsandro T. RibeiroOs focos de luzes no morroDona Marta anunciavam achegada da noite em Botafogo,bairro nobre de classemédia alta da zona sul do Riode Janeiro. No pé do morro,na praça Corumbá, um grupode cerca de 20 pessoas,de vários estados brasileiros,aguardavam as orientações daguia turística para a subida àfavela Santa Marta. “O morroé Dona, mas a favela é Santa”,alertavam alguns moradoresda comunidade sobre a diferençados nomes.“Olha só, vamos todo mundo pegara entrada do morro e nos reunimosna estação do bonde. Lá eufalo um pouco sobre o que vocêsvão conhecer na favela”. Em altoe bom som Roberta Ferreirade Souza, 26 anos, guia turística,dava as coordenadas parao grupo. O trajeto partiu dapraça, passando pela rua Barãode Macaúbas e continuandopela Marechal Francisco deMoura até a estação do bonde,oficialmente conhecido comoPlano Inclinado (box), meiode transporte sobre trilhosque leva os moradores morroacima.Depois da estação não há maisruas. Na favela não circulamcarros ou motos. Há apenasbecos, corredores e escadarias.Degraus que nunca acabam.Alguns becos têm nomes e placasde indicação nas “esquinas”da favela. Nomes que não estãonos mapas turísticos, nemmesmo no quase onipresenteGoogle Maps, que interrompesuas indicações na rua de acessoao Plano Inclinado.Pelos poucos mais de 400 metrosentre a praça e a estação,Fotos: Alexsandro T. Ribeiroo comércio é vivo e coloridono pé do morro. Lojas de importados,bares, mercearias eambulantes atendem os moradoresda favela e dos condomíniosao redor. A circulaçãode consumidores e de pessoasque querem apenas voltar parasuas casas na favela é intensano início da noite, e os sons docomércio, das conversas e doscumprimentos se confundemcom os sons de pagode, rap efunk, que se entrelaçavam vindode vários locais.Reunidos na estação, atentos,os integrantes do grupo ouvemas novas instruções daguia. “Esse é o Plano Inclinado,o meio de transporte dos moradorespara subir o morro. Ele vai atéo final da favela, mas nós iremosaté a estação três, e depois subiremosa pé. Aqui daremos prioridadepara as os moradores que pre-44Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


Plano InclinadoInaugurado na favela Santa Martaem maio de 2008, o Plano Inclinado,também conhecido comoBonde, é um meio de transportesobre trilhos com cerca de 340metros de extensão, segundo aEmpresa de Obras Públicas doRio de Janeiro (Emop). Com doiscompartimentos, um para cargae outro para passageiros, o PlanoInclinado tem capacidade para 20pessoas. O custo total da obra foide R$ 22 milhões. O Plano Inclinadoacompanha a favela do pé domorro até o fim das habitações,instalado à direita da comunidade.Os carros são puxados por contrapesose divididos em dois trajetos.O primeiro vai da estação 1, que éo ponto de partida no pé do morro,até a estação 3. Para continuara subida, os moradores fazembaldeação na estação 3 em outrocarro, e vão até a parada final, naestação 5, no topo do morro, poucoabaixo da instalação da UPP.De acordo com Roberta, o bondeajuda muito os moradores da favela,que antes subiam o morroapenas a pé, enfrentando mais de800 degraus. Porém, por falta deinvestimentos e revisão técnica,o Plano Inclinado está “sucateado”,e às vezes fica semanas semfuncionar. “As pessoas saem de casapensando que tem o bonde, fazemcompras, e quando voltam, não tembonde. Temos um meio de transportecom uma durabilidade muito pequena,mas é o que temos. Mesmo comos problemas, ele ajuda muito. Antigamenteas pessoas construíam casacarregando tijolo pelas escadas. Hojedá para carregar por aqui. Claro quequem mora do outro lado da favelanão ajuda muito, pois tem um grandepercurso para chegar na sua casa”.cisam usar o bonde”. Com umacamiseta amarelo ouro comos dizeres Brazilidade (box),uma calça jeans simples e tênisbranco, a jovem Roberta, comandao grupo morro acima,à vontade, como quem recebebons amigos em casa.Turismóloga formada em umauniversidade particular carioca,por meio de bolsa de estudosvoltada aos moradoresdas favelas, Roberta, nascida ecriada na Santa Marta, poderialevar turistas aos inúmerospontos badalados da capital,como o Pão-de-Açúcar e oCristo Redentor. No entanto,junto com sua tia, Sheila Souza,optou por um nicho nãoconvencional, o de turismo nasfavelas, por meio do projetoBrazilidade, empresa criadapor Sheila e especializada emvisitas ao Santa Marta.“Pra mim o gratificante é poderdesconstruir a ideia que as pessoastêm do morro. Nós valorizamosnossa identidade, nossa memória,contamos a história real da favela.Aqui propomos um trabalholocal, com parcerias com o comérciodaqui do morro. Tentamosajudar todo mundo com esse tipode turismo, em que todos lucram.Têm muitos guias que são de forada favela, e quando vem aqui nãofazem o trabalho de mostrar comoé a comunidade, não contam osproblemas da população e nem osajudam, dizendo para os turistasnão consumirem nada dos comérciosdaqui do morro. Deixam tirarfotos de tudo, não respeitamos moradores, invadindo a nossaprivacidade. Eu me preocupomuito com isso”.Vencido o Plano Inclinado,na estação três, o caminho seguiaà pé, nos becos estreitosInstalado em 2008, o Plano Inclinado auxilia osmoradores na subida ao morro e no transporte decarga. Falta de manutenção e constantes paradaspara reparos, no entanto, prejudica os moradores.As construções irregulares se somam, as casasse fundem, umas sobre as outras, acompanhandoa inclinação do morro Dona Marta.Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná45


que forçam passagem por entreas casas. Mais de 90% dasresidências são de alvenaria.Sem acabamento, os tijolos àmostra, alocados de forma irregular,e os encontros e desencontrosdas paredes, apontama falta de planejamentodas construções. As casas sefundem, umas sobre as outras,acompanhando a inclinação domorro Dona Marta. Na racionalizaçãodo espaço, as paredessão comunitárias, aproveitadaspor várias casas, as lajestransformam-se em pisos paraas residências vizinhas. Asconstruções se unem, e a favelavai se formando na superfícieíngreme do morro como umagrande casa, com mais de 6mil moradores. A integraçãoda comunidade se dá tambémpela sua ocupação.“As pessoas são bem integradas,unidas. Isso é histórico. Num dia,almoço na casa do meu vizinho,no outro, se estou com sede, batona porta de uma família. Souda época que o natal não é só naminha casa, mas na cada de todomundo. Tu vai na casa de todos eas pessoas vão na sua casa. Essaunião tem se estendido entre asfavelas também, principalmentedepois das pacificações. Há umapreocupação dos moradores dasfavelas em se comunicarem. Foidescoberto, por exemplo, que umpolicial que não tem uma condutabacana aqui, quando reclamamosdele, ao invés de passar por umcurso de reciclagem, ele é apenasremovido para outra favela. Apunição dele é mudar de favela.A ideia é o pessoal se comunicar,pois tem muita gente morrendo.Na Copa do Mundo morreu muitogaroto, muito negro, muito moradorde favela, e as pessoas nemficam sabendo. Nem sempre sai namídia como o Amarildo (box)”.Cade o Amarildo?Em julho de 2014, Amarildo Dias de Souza, ajudante de pedreiro, desapareceu durante uma operaçãopolicial na favela da Rocinha, após ter sido detido por policiais militares e conduzido da portade sua casa para a sede da Unidade de Policia Pacificadora (UPP) do bairro. “Cadê o Amarildo?”,estampou inúmeros cartazes, camisetas, faixas, perfis nas redes sociais, repercutindo o desaparecimento,denunciando e cobrando das autoridades justiça contra os demandas policiais nas operaçõesnas favelas do Rio de Janeiro. Em outubro de 2013, 25 policiais militares da UPP da Rocinhaforam presos. A comoção popular e a mobilização nacional no caso Amarildo não se repetiu, noentanto, para os mais de 6 mil outros desaparecidos em todo o estado fluminense, segundo dadosdo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro.BrazilidadeFundada em 2010, a Brazilidade éuma empresa especializada no turismoà favela Santa Marta. Suaidealizadora é Sheila Souza, 40anos. Formada em Turismo, comMBA em Turismo e Negócios ecom experiência em intercâmbiocultural e guiamentos no Rio de Janeiro,Sheila, que nasceu e cresceuna Santa Marta, começou sua atuaçãocomo guia em 1992, com intercâmbiose vivências de turismono morro com grupos nacionais einternacionais.A Brazilidade, que é formada porSheila e sua sobrinha, Roberta,atua sob orientação do Turismo deBase Comunitária”, cuja preocupaçãoé mostrar a realidade da comunidade,levar os turistas ao morro,desenvolvendo também o comérciolocal.“A ideia da Brazilidade é retirar o esteriótipoda favela. Trazer as pessoaspara conhecer nossa realidade, vivero que as pessoas daqui vivem. Fazercom que elas conheçam os pontos bonse ruins, mostrar que hoje não tem só ocolorido da favela, mas nossos problemassociais também. Isso tudo incentivandoa rede de trabalho local. Aquitentamos ajudar todo mundo, com umturismo que todos lucram. Dá um poucomais de trabalho, mas que dá vontadede fazer”, afirma Roberta.Mesmo com o Plano Inclinado, segundo Roberta, asdificuldades de locomoção ainda são grandes paraquem mora do outro lado da favela.Mais de 6 mil pessoas moram na Favela Santa Marta,na zona sul do Rio de Janeiro, em Botafogo, bairronobre de classe média.“Pra mim o gratificante é poder desconstruir aideia que as pessoas têm do morro”, afirma RobertaFerreira de Souza, moradora e guia turística daFavela Santa Marta.46Revista do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná


No topo do favela, passados osinúmeros degraus e as passarelascimentadas, todas construídascom o recurso e trabalhoda comunidade, apesarda escuridão da noite, abre-se,para os turistas a vista para apraia de Botafogo e para o Cristo,à direita do morro DonaMarta. Já para os moradores,a distância das suas casas aopé do morro é diretamenteproporcional às dificuldades.“Construir uma casa aqui emcima é muito caro. Você acabapagando o dobro dela, sópor conta do transporte. Alémdisso, nos últimos anos, temmuita procura por casas aqui”,afirma Roberta.No alto da favela, o termo“gentrificação” na faixa coladaem uma das casas aponta apreocupação de Roberta e deoutros moradores com a valorizaçãoimobiliária e o deslocamentodas pessoas com menorpoder econômico para fora desuas casas. Segundo a turismóloga,os preços dos imóveis nafavela variam de R$ 100 a R$150 mil para as casas próximasao topo, a R$ 1 milhão, para asque estão no pé da favela.“Antes conseguia morar aquino morro locando uma casapor uns R$ 450. Hoje não achapor menos de R$ 800. Praquem ganha salário mínimo,como a maioria dos moradores,é muito difícil. Além disso,tem muita gente com grana,como artistas, procurandopara morar aqui, pois é umaárea central. Tem até uma áreana favela que estão buscandodespejar os moradores. Támudando muito a populaçãoda favela, e estamos preocupadosporque não sabemos atéquando será isso. Estamos lutandopara não ser removidos.Não queremos sair do morro.Lutamos para viver aqui, paraconquistar nossas casas. O quea gente quer é mais atenção dogoverno, para questões comosaneamento e transporte ”.Como diz o dito, “pra descertodo santo ajuda”, mas nasescadarias, um pouco de precauçãoreduzindo o embalo énecessário. No pequeno porémaconchegante Bar do Zequinha– para completar o conceito deTurismo de Base Comunitária- , perto da segunda estaçãodo Plano Inclinado, encerra-sea visita à Santa Marta. Fica ocansaço da subida num copovazio de refrigerante, e parte,junto com cada turista, a experiênciade mais uma realidadeconhecida.No pé do morro, de volta à ruaBarão de Macaúbas, perto daPraça Corumbá, um últimoolhar ao morro.Atrás de Roberta, que se despedecom um sempre presentesorriso, e com a promessa deportas abertas,as luzes acessas nas casas nãoindicam apenas a noite quehavia se instalado em Botafogo,mas sim a vida na FavelaSanta Marta, dos seus mais de6 mil moradores, mesmo comos problemas de acesso, saneamento,e vários outros, fincamos pés no morro, e lutam porjustiça social, por reconhecimentodos seus direitos, e pelasua identidade, pois o “o morroé Dona, mas a favela é Santa”.Faixa na Favela Dona Marta mostra a preocupação com o processo de “elitização” da comunidade que acaba expulsando os moradores para outros núcleos habitacionais.

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