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Os experimentos de Joule e a primeira lei da termodinâmica

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3603-2 Passosinventores tentassem registrar patentes <strong>de</strong> máquinasque pretendiam produzir trabalho do na<strong>da</strong>, o chamadomoto perpétuo, conforme registram Kuhn [5] e Hogben[6]. Em 1775, a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Parispassou a recusar a publicação em seus anais <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições<strong>de</strong> invenções <strong>de</strong> motos perpétuos [3]. Apesar <strong>da</strong>aparente ingenui<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando vistas com o olhar dosdias <strong>de</strong> hoje, muitas <strong>da</strong>quelas tentativas <strong>de</strong> criação domoto perpétuo acabaram por contribuir para o estabelecimento<strong>da</strong> <strong>primeira</strong> <strong>lei</strong> [3].No presente artigo, preten<strong>de</strong>-se resgatar alguns dosaspectos históricos, com ênfase nos resultados <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>e <strong>de</strong> Mayer para o equivalente mecânico do calor. Asprincipais formulações para a <strong>primeira</strong> <strong>lei</strong> são apresenta<strong>da</strong>sno Anexo, como indicador <strong>de</strong> caminhos que po<strong>de</strong>mser pesquisados visando a futuras contribuiçõesao ensino <strong>da</strong> <strong>termodinâmica</strong>. Dentre os vários trabalhosconsultados e estu<strong>da</strong>dos <strong>de</strong>stacamos o estudo<strong>de</strong> Kuhn [5] sobre a “simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scobertasconcernentes à conservação <strong>da</strong> energia, o curso <strong>de</strong> <strong>termodinâmica</strong><strong>de</strong> Poincaré [7], alguns dos artigos <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>[8], e os <strong>da</strong>dos históricos apresentados no capítulo I dolivro <strong>de</strong> Bejan [4] e na <strong>primeira</strong> parte do livro <strong>de</strong> Hogben[6], <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à conquista <strong>da</strong> energia. O objetivo<strong>da</strong> pesquisa, Passos [9-11], é tentar mostrar a ponte entreo ensino atual <strong>da</strong> <strong>termodinâmica</strong> e as suas origens,buscando, sempre que possível, os textos originais dospioneiros <strong>da</strong> <strong>termodinâmica</strong>.2. Um longo processo <strong>de</strong> amadurecimento“A produção mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> energia começa com o empregodo vapor em meados do século XVII” [6]. Asmáquinas térmicas que então passaram a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>se utiliza<strong>da</strong>s inicialmente para bombear água<strong>da</strong>s minas <strong>de</strong> carvão, foram aos poucos substituindo asro<strong>da</strong>s d’água e os rotores eólicos em várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sindustriais. Mas o advento <strong>da</strong> máquina a vapor e aconsequente revolução técnica que originou a revoluçãoindustrial também se beneficiou do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>mecanismos ocorrido durante os três séculos anterioresem que o vento e a água, além <strong>da</strong> força animal, reinaramcomo fontes absolutas <strong>de</strong> energia, conforme se lê emHogben [6]. Foi preciso preparar o terreno para o florescimento<strong>de</strong> novas idéias e a cristalização do princípio<strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> energia como <strong>lei</strong> geral e invariante<strong>da</strong> natureza.Kuhn [5] mostra que já existia um conjunto <strong>de</strong> diferentesprocessos <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong>vido à proliferação <strong>de</strong>inúmeros fenômenos <strong>de</strong>scobertos ao longo do séculoXIX, como a pilha <strong>de</strong> Volta, em 1800, que permitiuobter eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> reações químicas. Em1822, Seebeck <strong>de</strong>scobriu o efeito que leva o seu nome querelaciona o efeito térmico a um sinal elétrico (tensão)quando as extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> dois fios <strong>de</strong> materiais distintosestão em contato com meios a temperaturas diferentes[12]. Em 1834, Peltier verificou um efeito, quetambém leva o seu nome, reverso ao <strong>de</strong> Seebeck, quepermite transferir calor <strong>de</strong> um ponto frio a um pontoquente, como um refrigerador, por meio <strong>da</strong> aplicação<strong>de</strong> uma tensão elétrica [12]. Também foi <strong>de</strong>scoberta arelação do magnetismo com a eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outrosfenômenos.Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XVIII, Lavoisier eLaplace publicaram em 1783 [13], o resultado <strong>de</strong> seusestudos sobre a fisiologia <strong>da</strong> respiração em um tratadosobre o calor (“Mémoire sur la Chaleur”), on<strong>de</strong> relacionavamo oxigênio inspirado com o calor perdidopelo corpo, conforme Kuhn [5], que permitiram que as<strong>primeira</strong>s idéias sobre o balanço <strong>de</strong> energia começassema ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s. <strong>Os</strong> conceitos <strong>de</strong> Lavoisier sobre abioquímica e relacionados à oxi<strong>da</strong>ção do sangue foramretomados pelo médico alemão Julius Robert Mayer(1814-1878). Em 1840. Mayer estava a serviço <strong>da</strong> marinhaholan<strong>de</strong>sa, na ilha <strong>de</strong> Java [14], quando percebeuque o sangue <strong>de</strong> seus pacientes, no clima maisquente, era mais escuro do que no clima mais frio <strong>da</strong>Europa, e associou esta diferença <strong>da</strong> cor a maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> oxigênio no sangue, nas condições tropicais<strong>da</strong> ilha, causa<strong>da</strong>s pela menor combustão dos alimentospara manter o calor do corpo [15]. Destas observaçõesMayer concluiu que a energia mecânica dos músculosprovinha <strong>da</strong> energia química dos alimentos, sendo intercambiáveisa energia mecânica, o calor e a energiaquímica [15]. Mayer consi<strong>de</strong>rou que a oxi<strong>da</strong>ção interna<strong>de</strong>ve balancear-se com respeito à per<strong>da</strong> <strong>de</strong> calorpelo corpo bem como com respeito à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> físicaque o corpo <strong>de</strong>sempenha, conforme Kuhn [5]. Eis aí oprincípio <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> energia e <strong>da</strong> equivalênciados processos <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong> energia.Um <strong>da</strong>do interessante sobre o pioneirismo do avanço<strong>da</strong> engenharia do vapor, termo bastante frequente emKuhn [5], é o fato, conforme <strong>de</strong>scrito por Hogben [6,p. 59], <strong>de</strong> “Boulton e Watt terem vencido a <strong>de</strong>sconfiançacontra a máquina a vapor graças a uma curiosacláusula <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> do seu produto que consistia, enquantovigorasse a patente - entre 1769 e 1800 - naconcordância <strong>de</strong> que os compradores <strong>da</strong> máquina pagassemum prêmio igual à terça parte <strong>da</strong> economia <strong>de</strong>combustível consegui<strong>da</strong> pela substituição <strong>da</strong> máquina<strong>de</strong> Newcomen pela <strong>de</strong> Watt”. O que significava basearo lucro dos dois sócios no custo <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> energia[6]. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>terminar com precisão ocusto <strong>da</strong> energia produzi<strong>da</strong> fez com que a <strong>de</strong>terminação<strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> conversão, como o equivalente mecânicodo calor, passasse a ser uma exigência dos novos temposem que a máquina a vapor passou a ter um importantepapel na economia. Porém medir não é, e nunca foi,tarefa fácil: vários sistemas, instrumentos e métodostiveram <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvidos, além <strong>de</strong> meios para seevitar a frau<strong>de</strong>, como um contador mecânico fixo aoeixo <strong>da</strong> máquina que servia para contar o número <strong>de</strong>cursos do êmbolo e que era mantido em caixa fecha<strong>da</strong>

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