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Os experimentos de Joule e a primeira lei da termodinâmica

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<strong>Os</strong> <strong>experimentos</strong> <strong>de</strong> <strong>Joule</strong> e a <strong>primeira</strong> <strong>lei</strong> <strong>da</strong> <strong>termodinâmica</strong> 3603-3à chave, conforme citado por Hogben [6, p. 59].Sobre o significado <strong>da</strong> energia e do princípio <strong>da</strong> conservação<strong>da</strong> energia, é interessante reler a passagemque Poincaré escreveu em seu livro Ciência e Hipótese,em 1902 [16, p. 143]: “não nos resta mais que umenunciado para o princípio <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> energia;existe alguma coisa que permanece constante” -“sob esta forma ele se acha protegido <strong>da</strong> experiênciae se reduz a uma espécie <strong>de</strong> tautologia”. No mesmoartigo, <strong>de</strong>screvendo sobre a <strong>termodinâmica</strong>, Poincarérepete o prefácio do seu livro <strong>de</strong> <strong>termodinâmica</strong> <strong>de</strong>1892, Poincaré [7], perguntando : “por que o primeiroprincípio ocupa um lugar privilegiado entre to<strong>da</strong>s as<strong>lei</strong>s <strong>da</strong> física?”. Ele respon<strong>de</strong> que rejeitar o primeiroprincípio implicaria aceitar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do movimentoperpétuo.Ao se tentar vislumbrar o que existia, quais eram asidéias dominantes e as condições <strong>de</strong> trabalho para umpesquisador, há um século e meio, não se <strong>de</strong>ve esquecer<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong>idéias. Um exemplo que ilustra bem este contexto é anota explicativa <strong>de</strong> Clausius [17] , na qual reconheceuque apesar <strong>de</strong> a obra <strong>de</strong> Carnot [18] ser a referência maisimportante <strong>de</strong> seu trabalho ain<strong>da</strong> não havia conseguidouma cópia <strong>da</strong> mesma e que se familiarizara com elaatravés dos trabalhos <strong>de</strong> Émile Clapeyron (1799-1864)e Thomson (Lor<strong>de</strong> Kelvin) (1824-1907). Tais dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>socorriam apesar <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica entrea França e a Alemanha.3. O princípio <strong>da</strong> equivalênciaA forma como estu<strong>da</strong>mos ou ensinamos <strong>termodinâmica</strong>,hoje, quase não nos permite compreen<strong>de</strong>r a importância<strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta do princípio <strong>da</strong> equivalência mecânica docalor ou <strong>da</strong> “equivalência <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> calor” [17], ouo “equivalente mecânico <strong>da</strong> caloria”, conforme Nussenzveig[19]. Após uma retrospectiva histórica conclui-seque o seu papel transcen<strong>de</strong>u a mera <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>um coeficiente <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e foi <strong>de</strong>terminantepara o <strong>de</strong>senvolvimento do princípio <strong>de</strong> conservação<strong>da</strong> energia na sua forma geral.Com a adoção do sistema internacional <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s – SI e a utilização <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Joule</strong> (J) paraenergia o fator <strong>de</strong> conversão entre a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> energia<strong>de</strong> origem térmica e a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> origemmecânica praticamente foi apagado dos livros <strong>de</strong> <strong>termodinâmica</strong>.No entanto, este problema esteve no centro<strong>da</strong>s atenções <strong>de</strong> importantes pesquisadores ao longo<strong>da</strong> <strong>primeira</strong> meta<strong>de</strong> do século XIX e, segundo Kuhn [5],doze pessoas entre 1830 e 1850, <strong>de</strong> forma mais ou menosin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e em vários países <strong>da</strong> Europa, ocuparamsedo problema <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> energia. Nesta lista,encontramos os seguintes nomes: Mayer, <strong>Joule</strong>, Colding,Helmholtz, Sadi Carnot, Marc Séguin, Boltzmann,Hirn, Mohr, Grove, Fara<strong>da</strong>y e Liebig. Apesar <strong>de</strong> Kuhnter incluído Carnot, não é certa a <strong>da</strong>ta em que teria<strong>de</strong>scoberto o equivalente mecânico do calor pois esteresultado que aparece em suas notas póstumas po<strong>de</strong>ter sido obtido entre 1824 e 1832. Benjamin Thompson(Con<strong>de</strong> Rumford) também se ocupou do problema doequivalente mecânico, talvez em 1788.Seguir as pega<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s no tempo sobre os esforçosrealizados para a <strong>de</strong>terminação do equivalentemecânico do calor representa um <strong>de</strong>safio aos que se interessampela história <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> <strong>termodinâmica</strong>,em particular. Segundo Poincaré [7], já em 1892, eramuito difícil saber a quem se <strong>de</strong>via a honra <strong>da</strong> <strong>de</strong>scobertado princípio <strong>da</strong> equivalência entre calor e trabalhomecânico.3.1. O pioneirismo <strong>de</strong> Rumford e o “azar” <strong>de</strong>MayerBenjamin Thompson (1753-1814), o con<strong>de</strong> Rumford,nasceu nos EUA e realizou a maior parte <strong>de</strong> suaspesquisas sobre transferência <strong>de</strong> calor, em Munique-Alemanha, on<strong>de</strong> permaneceu por 14 anos, até 1798 [20].Outros aspectos curiosos <strong>de</strong> sua biografia incluem, aoque tudo indica, ter sido espião a serviço do governoinglês, e ter-se casado com a viúva <strong>de</strong> Lavoisier, mortona guilhotina durante a revolução francesa [20]. Observandoa fabricação <strong>de</strong> canhões quando era diretor doarsenal <strong>de</strong> Munique concluiu que o aquecimento provocadopelo atrito entre a broca e o tubo <strong>de</strong> canhão podiagerar calor, in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente. Tal conclusão <strong>de</strong>rrubavaa teoria do calórico que era <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por váriospesquisadores. O calórico era visto como um fluidoimpon<strong>de</strong>rável contido nos materiais e, portanto, a suaquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser finita. Com o auxílio <strong>de</strong> umajunta <strong>de</strong> cavalos Rumford fez girar um tubo <strong>de</strong> canhão<strong>de</strong> bronze contendo em seu interior uma bucha que,<strong>de</strong>vido ao atrito, liberava o calor que causava o <strong>de</strong>rretimento<strong>de</strong> gelo ou a ebulição <strong>da</strong> água colocados emcontato, em volta do tubo [3, 20, 21]. Eis o comentário<strong>de</strong> Rumford, conforme Goldstein [20], “o calor geradopor atrito, nesses <strong>experimentos</strong>, era ilimitado... o queme pareceu extremamente difícil, ou quase impossível,imaginar qualquer coisa capaz <strong>de</strong> ser provoca<strong>da</strong> e comunica<strong>da</strong>,nesses <strong>experimentos</strong>, exceto pelo movimento”.Ganhava força a associação entre calor e movimento ouvibração <strong>da</strong>s partículas. Mesmo após as observaçõesempíricas <strong>de</strong> Rumford a teoria do calórico ain<strong>da</strong> continuousendo admiti<strong>da</strong> por diversos pesquisadores, comoCarnot [18] e Kelvin. Rumford também <strong>de</strong>terminou,através <strong>de</strong>ssas observações e com os conhecimentos <strong>de</strong>calorimetria <strong>da</strong> época, que o equivalente mecânico docalor valia 5,5 J/cal, conforme <strong>da</strong>do apresentado porPrigogine e Kon<strong>de</strong>pudi [21].Mayer consi<strong>de</strong>rou que era preciso fornecer umaquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> maior <strong>de</strong> calor para provocar uma diferença<strong>de</strong> temperaturas ∆T em uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> massa <strong>de</strong> gása pressão constante do que a volume constante e que ocalor adicional era equivalente ao trabalho realizado so-

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